LEITURA, LEITURIZAÇÃO E PRODUÇÃO ESCRITA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10650582


Mestranda Marlene Luiza de Assunção¹ 
Dr Francisco Alberto Severo de Almeida² 


Resumo

O presente artigo verifica a situação do hábito de leitura e escrita entre crianças e adolescentes. Considera-se que a crise da leitura não se constitui um problema dos últimos tempos. E nem é um problema provocado exclusivamente pela pandemia, é uma questão que vem reproduzindo juntamente com o analfabetismo no país. Inúmeras são as dificuldades presentes, devido à falta do hábito da leitura entre criança, adolescentes e jovens. Entendendo tais dificuldades, objetivou tecer algumas reflexões e apontar alguns recursos, que contribua para a aquisição deste hábito e conscientizar da importância do exercício da leitura no âmbito estudantil e familiar. Enfatiza a necessidade da leitura como atos de favorecimento de uma participação ativa na sociedade, que possibilita a autonomia do pensamento e a influência na linguagem, prevenindo quanto à manipulação e a alienação. Considerando que as dificuldades para a leitura e escrita existem, tanto em questão de tempo e custo, entende-se que é necessário que a escola prossiga no seu papel de contribuir para a formação de leitores de qualidade através da leiturização.

Palavras chave: Leitura, escrita, leiturização, importância

Summary

This article verifies the status of reading and writing habits among children and adolescentes. It is considered that the reading crisis is not a recent problem. And it is not even a problem caused exclusively by the pandemic, it is an issue that has been reproducing along with illiteracy in the country. There are countless difficulties present, due to the lack of reading habits among children, adolescents and young people. Understanding such difficulties, it aimed to weave some reflections and point out some resources that contribute to the acquisition of this habit and raise awareness of the importance of reading in the student and family context. It emphasizes the need for reading as acts of favoring an active participation in society, which enables the autonomy of thought and the influence on language, preventing manipulation and alienation. Considering that the difficulties for reading and writing exist, both in terms of time and cost, it is understood that it is necessary for the school to continue in its role of contributing to the formation of quality readers through reading.

Keywords: Reading, writing, reading, importance

1.Introdução

 A importância social da leitura revela-se a partir dos valores que essa prática adquiriu nas sociedades urbanas modernas. A habilidade do falante na condução e adequação dos atos discursivos, principalmente em interações públicas, pressupõe seu acesso aos diversos códigos e variedades que compõem o repertório linguístico da comunidade. Dessa forma, o domínio da leitura (por conseguinte da escrita) em sociedades tecnológicas torna-se garantia de sucesso social, uma vez que grande parte dos processos discursivos são determinados pelas condições de uso e pelo acesso à norma padrão.   Ensinar o aluno a ler, e escrever e a se expressar de maneira competente é o grande desafio dos professores de língua portuguesa. Percebe-se que o índice de abandono nas escolas brasileiras, é muito alto, e o resultado, é principalmente pela dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e escrever. Criar condições para o aluno desvendar o mundo e interagir de maneira crítica por meio da leitura, deveria ser o objetivo precípuo das escolas.

 O ensino de Língua Portuguesa é o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade de ensino no país. O eixo dessa discussão centra-se, principalmente, no domínio da leitura e da escrita dos alunos. Nas últimas décadas surgiram várias propostas da reformulação do ensino de Língua Portuguesa indicando fundamentalmente, mudanças no modo de ensinar.  A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e até mesmo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa são exemplos de mudança e configura-se como síntese do que foi estudado e produzido em relação ao movimento de reorientação curricular. A BNCC e os PCNs propõem orientações gerais sobre o básico a ser ensinado e aprendido em cada matéria, devendo ser adaptado à realidade de cada escola e de seus alunos.

  Da mesma forma, vários outros autores que serão abordados neste trabalho, procuram com suas obras ajudar o professor de língua materna, no sentido de melhorar o desempenho dos alunos, fazendo com que eles leia, escreva e fale com mais eficiência, atendendo a normal padrão.  Um dos principais assuntos discutido por esses autores é sobre o cuidado que o professor deve ter de não ensinar a língua só como mera representação gráfica da fala pela combinação das Letras do alfabeto. A maior preocupação é a de não deixar que nossos alunos se tornem analfabetos funcionais da língua. Foi pensando em toda essa problemática, que surgiu a proposta de fazer esse estudo, que tem como objetivo tecer algumas reflexões sobre o ensino da leitura e produção de textos na escola, bem como sobre os inúmeros problemas referentes ao desinteresse em crianças, adolescentes e jovens pela leitura. 

 Este artigo foi construído em tópicos bem distintos. No primeiro ressalta a importância os objetivos do ensino da leitura, os cuidados especiais e os métodos para esse ensino, abordando de forma analítica os fundamentos essenciais, compreendendo sua necessidade de introdução nos primeiros momentos da vida e primeiros anos de escolarização. No segundo tópico apresenta uma abordagem com fundamentação teórica sobre leitura, leiturização e produção de textos com o tema ler e escrever, atos que se completam e, para termos uma visão mais profunda do ato de ler e escrever realizamos um trabalho onde a metodologia aplicada é a de caráter exploratório baseado no método indutivo e em pesquisa qualitativa fundamentada no conhecimento científico, por centrar-se em levantamento bibliográfico que dá suporte às ideias trabalhadas, pelos autores Bamberger, Ferreiro, Freire, Foucambert e outros. 

  Ressaltamos ainda, que nossa intenção é de refletir sobre um assunto que é por si complexo, e visa apresentar algumas das possibilidades que o professor tem para melhorar a leitura e a qualidade dos resultados escritos de seus alunos. Entendendo que o processo de leitura é base para a construção do desenvolvimento cognitivo, cabendo desta forma, à família, e a escola repensar seus papéis no desenvolvimento desse hábito nos primeiros anos de vida da criança.

2 A Importância da Leitura
2.1 Conceito de Leitura

 A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que se sabe sobre a língua. Não se trata simplesmente de extrair informações da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra.   Trata-se de uma atividade que implica necessariamente compreensão, na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. Bamberger (2010, p. 10), define a leitura como um dos meios mais eficazes de desenvolver sistematicamente a linguagem e a personalidade do homem. É uma forma exemplar de aprendizagem.   

2.2. Objetivos do Desenvolvimento da Leitura

A habilidade de ler corretamente não consiste apenas na capacidade bem treinada de combinar sons em palavras, unidade de pensamento inédito de grupos armazenados de palavras. (BAMBERGER, 2010, p.23)

  A aprendizagem da leitura compreende um processo de conhecimento dos símbolos, evoluindo, portanto, para a formação de conceito que desencadearão uma ação mental, que pode ser avaliada e interpretada com habilidade. Para desenvolver o hábito da leitura é preciso que haja compreensão, capacidade de avaliar, interpretando o que se lê como um todo e não de forma fragmentada, e isso será possível como um desenvolvimento lógico do raciocínio.  Sobre o ensino eficaz da leitura o autor Bamberger, preocupou-se em enumerar interferências concernentes às dificuldades da leitura, só é possível fazer o que se sabe fazer. As deficiências na leitura justificam-se devido as dificuldades de acesso a livros direcionados para as idades corretas, ou seja, os livros deveriam estar de acordo com a idade da criança e sua capacidade de interpretação, satisfazendo os interesses de cada leitor.   Portanto, conforme análise apresentada por Bamberger, a comprovação dos dados obtidos mostra que a maioria das crianças, adolescentes e jovens não lê, por não terem adquirido o hábito da leitura, não cabendo aí a justificativa da seleção de livros. Logo, a carência para esta habilidade está em não usar todas as potencialidades que lhes são inerentes.

 A objetividade do ensino da leitura parte do pressuposto da sua habilidade natural do ser humano e a leitura real, valorizando o seu conhecimento prévio, partindo para a valorização do próprio eu, como ser capaz de se orientar para chegar ao máximo de suas habilidades individuais, atingindo todas as suas potencialidades. O exercício do ensino da leitura tem como objetivo levar a criança, o adolescente e o jovem ao domínio da palavra, a compreensão desta palavra de forma satisfatória, para que tenha a noção da elevação do próprio ser, para uma fundamentação no conhecimento que seja eficiente trazendo contribuições para sua autorrealização tanto cultural, social e individual. A prática da leitura não restringe somente no âmbito estudantil e escolar.

 Considerando que é uma forma de crescimento, de busca de possíveis participações ativas na sociedade de forma crítica, é também um objeto de conquista para a diminuição das tensões, fazendo parte inclusive de momentos de lazer. Logo, o estimulo ao hábito da leitura de forma prazerosa impõe a formação deste hábito de forma constante e fundamental desde os primeiros anos de vida, pois conforme Bamberger (2010, p.22), “ninguém gosta de fazer coisas que encontra dificuldade” Certos cuidados especiais e métodos para o ensino da leitura são de fundamental importância para o seu desempenho. Dentre eles destacam-se:

  • Promover prontidão para a leitura em todos os níveis;

É preciso que, mesmo antes da alfabetização, a criança já tenha contato direto com o livro, pois, é necessária uma interação ativa dos pais nos primeiros anos de vida, com a disposição para contar e ler histórias em voz alta, propiciando a descoberta do prazer da leitura.

  • Superar o dogmatismo metodológico quando se alfabetiza para processar a leitura em unidades de pensamento.

É fundamental a alfabetização de forma que a criança perceba e construa o saber em uma maneira global. Quando a leitura oral é bem feita, os grupos de palavras armazenados são percebidos em uma unidade de pensamento num duplo impulso visualmente e através da pronuncia (BAMBERGE, 2010 p.25)

Torna-se assim de essencial importância, a orientação para uma leitura que armazene um maior número de palavras, deixando de lado as leituras com silabismo e com conotações mecânicas. É necessário trabalhar com métodos preventivos, evitando, assim, possíveis distúrbios na leitura.

  • Desenvolvimento dos dois métodos inerentes a leitura: oral e silenciosa.

A leitura silenciosa contém algumas vantagens, pois é mais usada na vida diária favorecendo à realização mental. Nesse sentido Bamberger diz que:

A leitura silenciosa é o fundamento para uma leitura oral bem sucedida. A partir da pesquisa referente a leitura silenciosa e leitura oral, conclui-se que a leitura silenciosa é a base da educação sendo bastante superior a leitura oral.” A leitura silenciosa é base da educação individual da leitura”. (BAMBERGE, 2010, p.25).

Os elementos principais da leitura silenciosa são a rapidez e a compreensão. Pois a ação mental de associação e maior e, consequentemente, fornece uma percepção visual e uma imagem de significação com mais agilidade, sendo mais prazerosa atendendo as diferenças individuais concernentes à intelectualidade. Concluindo, é um pré-requisito básico para a leitura oral, pois compreende-se melhor quando se lê em silêncio.  Ainda na página 25, o autor diz que se deve praticar algumas leituras em voz alta para promover a educação da fala. Mostrando assim que a leitura oral tem grande importância para o desenvolvimento da criança, sendo um treinamento para possíveis situações especiais e possuindo vantagens, como: corrigir deficiências e vícios de linguagem, educar a variação da voz, corrigir falhas de articulação, melhorar a dicção e educar o ritmo da voz.

 A importância da leitura, oral ou silenciosa fica evidente; e, é fundamental estar ciente que ambas trazem contribuições para o crescimento intelectual da criança, do adolescente e do jovem. Oliveira (2001 pg. 21), em sua pesquisa, evidencia a distinção do processamento da compreensão na leitura em voz alta e silenciosa, destacando que a maior proficiência da compreensão viabilizada por essa prática deve-se a fatores relacionados com a natureza do processamento. 

  • Velocidade

      Ler é uma das primeiras habilidades que se adquire na escola. Portanto, não é suficiente é necessário que se saiba ler e que se desempenhe esse hábito, ampliando o momento de fixação. A velocidade na leitura de forma ordenada e sistemática amplia os conhecimentos e permite uma compreensão mais rápida e mais precisa de grande variedade de assuntos.

Para além da velocidade, a compreensão é primordial.

  • Compreensão

Um dos fatores preponderantes quando se lê é a compreensão, a capacidade de reconhecer de que o texto está tratando

Decifrar a escrita é fundamental. O contato com o conteúdo do texto deve progredir à proporção que progride a concepção da leitura, avançando da compreensão de palavras para a leitura compreensiva, interpretativa, informativa, crítica, criativa e estética. (Bamberger, 2010 p.26)

 Tendo uma interpretação significativa, o que é mais importante em uma leitura é a forma como se progride na compreensão do texto. Portanto, a qualidade da leitura e sua compreensão eficaz são mais significativas do que a velocidade que eventualmente se desenvolve na aplicação da leitura.  Para se ensinar a ler, é preciso ensinar a decifrar o código da língua escrita, e essa leitura vem acompanhada das explicações de como a escrita funciona, seus usos, de como se juntam os elementos fonéticos para se produzir e compreender a leitura, todavia, é importante que desde pequena a criança aprenda que a leitura é essencial na sua prática da vida diária, reconhecendo-a como uma prática prazerosa e não de imposição.  O objetivo para ensinar a ler é para que incentive o hábito da leitura com o propósito de despertar o interesse, contribuindo para a compreensão do real e para o conhecimento do mundo e de si mesmo, sendo participativa, dinâmica e crítica.

A leitura do real é condição necessária para realizar esta aprendizagem. Ao considerarmos a literatura psicológica dedicada a estabelecer a lista das aptidões ou habilidades necessárias para aprender a ler e escrever vemos aparecer continuamente mesmas variáveis lateralização, discriminação visual, discrição auditiva, coordenação viso-motora e boa articulação (FERREIRO, 2018. P25-26)

 Mediante a consideração de Ferreiro, torna-se pertinente verificar que estas condições implicam em uma boa aprendizagem da leitura escrita. O sujeito que aprende o mundo que o rodeia, a partir de seu próprio mundo, lê o real, aprende através de suas próprias ações e constrói suas próprias categorias de pensamento, ao mesmo tempo em que organiza o seu mundo.  A criança cresce envolvida por estímulos externos e os transforma, interpreta-os, tornando sua conduta compreensível. A criança não vê o objeto como ele é, mas lhe confere um novo significado que compõe um gesto semelhante à realidade. Outro ponto importante nesse processo de leitura e escrita, é ter um professor dinâmico que procura motivar seus alunos, além de trabalhar com o livro didático, manusear também jornais, revistas, histórias em quadrinhos e outros textos, abordando assuntos do interesse dos alunos. Segundo Barbosa (2002, pg. 26) A utilização de materiais diversificados como jornais, revistas, folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, faz o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta.

3. Ler e Escrever, Atos que se completam

 Auxiliar o aluno a se tornar um leitor autônomo e um escritor competente é o compromisso primeiro do ofício do professor. 

Sabemos, porém, que essa tarefa é difícil. Quando falamos que nossos alunos precisam ser capazes de ler e escrever, não podemos separar essas atividades uma das outras. Na verdade, são atividades que se completam. Falar e escutar além de ler são ações que permitem produzir e compreender textos. 

Os bons leitores têm grande chance de escrever bem, já que é a leitura que fornece matéria prima para a escrita. Ramires, (1999, p.300) diz que a leitura é um dos elementos que constituem o processo de produção de um texto, pois na medida em que fornece matéria prima para se definir o que escrever, coloca o leitor em contato com os procedimentos de reorganização do texto. Quem sempre lê tem um vocabulário mais rico e compreende melhor a estrutura gramatical e as normas ortográficas da língua. A linguagem escrita é o principal instrumento da aprendizagem, dentre aqueles que os alunos necessitam se apropriar, para poder aprender o mundo e todo o conhecimento que nele se produz e se produziu. Nesse sentido:

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós professores nos limitamos a dar aos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para fontes de ideias, sem, por assim dizer, lhes “fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre desanimador. (ORTHON, 2011 p.217).

 Sabemos que só se fertiliza o pensamento através de boas práticas de leitura. Infelizmente durante muitos anos o ensino da linguagem preocupou-se com os aspectos formais da língua e muito pouco com a sua funcionalidade e sua utilidade como um instrumento de comunicação, informação e aprendizagem. Nesse sentido, a preocupação com a aprendizagem das letras e silabas nas séries iniciais era muito grande, pois se acreditava que saber as letras soltas, ou se apropriar de sons permitia ao sujeito, num exercício crescente de aglutinação e combinação destes elementos isolados formar palavras, frases e textos, para finalmente poder interpretá-los. 

 Já na década de 1930, pesquisadores da educação questionavam esta forma de ensino, diziam que o ensino da linguagem trabalhava com elementos mortos. Ao preocupar-se com os aspectos mecânicos e formais esquecia que a língua é viva, que possui uma função social de informar, comunicar, expressão intenções, ações, ideias e sentimentos. 

 Atualmente o ensino da linguagem vem sofrendo uma série de reconstruções e tem tentado respeitar a sua funcionalidade, num primeiro momento, para depois poder preocuparse com a correção da forma, tanto no sentido gramatical quanto ortográfico e caligráfico. A principal função da linguagem e a de permitir ao ser humano fazer histórias, fato este que nos diferencia de outros animais. 

 Nessa chamada era digital, ou era da comunicação a linguagem escrita assume uma importância ainda maior, pois apesar de perder para a linguagem falada e visual, no que se refere à rapidez e diminuição de esforço para transmitir informação, ainda continua sendo a única forma que possibilita um nível maior de reflexão e um exercício de funções cognitivas especificamente humanas como a organização prévia do pensamento.

 Os diferentes modos de escrita nos meios de comunicação virtual, usa uma linguagem que admite ao jovem utilizar-se de uma escrita característica produzindo nova conjuntura sociocomunicativa. Diante desse quadro é imprescindível compreendermos que essa nova construção gráfica apresenta uma nova conjuntura onde não se deve considerar que esteja errada, pois, há aí a questão do entender o que se é transmitido mesmo com as abreviações e aceitando que as formas de leitura e escrita hoje em dia não são as mesmas de décadas atrás, o que se busca é a facilidade na comunicação via internet, entendendo que:

O principal motivo de abreviação de palavras é a facilidade em escrever simplificadamente e a pressa. Essa por sua vez, ligada a outras razões, a economia de tempo, e a necessidade de reproduzir virtualmente o ritmo de uma conversa oral. (FREITAS, 2009).

  Vale ressaltar que apesar da necessidade do domínio das várias linguagens na atualidade, a linguagem escrita continua fazendo parte integrante destas linguagens, até mesmo por meio do computador com uso da escrita virtual. Os novos instrumentos de leitura e escrita requerem uma concentração diferente, uma coordenação viso-motora distinta, uma coordenação motora digital, uma agilidade diferenciada. 

O aprendiz da língua escrita necessita desenvolver condições viso motora, por exemplo, para ler em instrumentos mais estáticos, como livros, o jornal, revistas de papel, e também desenvolver as habilidades requeridas para a leitura em instrumentos eletrônicos, letreiros, legendas filmadas etc., assim como necessitam desenvolver coordenação motora para escrever com lápis, mas também para digitar, manusear aparelhos para enviar mensagens de forma eletrônica, etc. 

  Isso não significa que o professor tenha que ensinar estas coisas de forma segmentada, mas lembrar que a linguagem utilizando os vários portadores de textos vai permitindo aos aprendizes a apropriação de velhos e novos mecanismos, assim como a incorporação do vocabulário que acompanha o uso dos novos recursos de leitura e escrita.

Nesse sentido, preleciona-se em Orlandi (2006, p. 73) que “a função primordial da escola seria, para grande parte dos educadores, propiciarem aos alunos caminhos para que eles aprendam, de forma consciente e consistente.

     A linguagem escrita sendo aprendida através de velhos ou novos instrumentos deve se preocupar em primeiro plano com a aprendizagem do mundo, da convivência, da comunicação para depois preocupar-se com a aprendizagem das regras  No primeiro ciclo do ensino fundamental o ensino aprendizagem da linguagem deve partir da vivencia dos alunos, do repertório linguístico que possuem, da cultura que carregam em sua experiência de vida e das várias utilidades que podem fazer deste instrumento, para que se apropriem paulatinamente do mesmo, aprendendo a formular hipóteses constantemente, testá-las, confirma-las, rejeitá-las e aperfeiçoá-las.

 No segundo ciclo o objetivo é o de aumentar o ritmo de leitura, e escrita, explorar e ampliar o uso da linguagem, agilizar a organização das ideias e a interpretação do que é lido, desenvolver o gosto pela leitura e sentir-se parte do mundo através da informação, da pesquisa e investigação, da diversão e lazer, da revisão, etc. Portanto investigar a linguagem escrita para que possamos ensiná-la é um ato importante do professor e passa pela investigação:

  • dos hábitos de leitura e escrita que fazer parte da vida dos alunos;
  • do nível cultural dos alunos;
  • dos recursos de leitura e escrita existentes na comunidade;
  • do nível de apropriação da língua escrita de seus alunos;
  • das funções da escrita e dos recursos mais utilizados naquela sociedade.

  É preciso investigar tanto os aspectos ligados ao conhecimento notacional (escrita alfabética), por exemplo, quanto a linguagem usada para ler e escreve. Sem falar que na prática da leitura é que se adquire conhecimento, consequentemente se conecta ao mundo, como afirma os autores Rangel e Rojo:

Há um componente social no ato de ler. Lemos para nos conectarmos ao outro que escreveu o texto, para saber o que ele quis dizer, o que quis significar. Mas lemos também para responder às nossas perguntas, aos nossos objetivos. (RANGEL & ROJO, 2010. p. 87)

 Sendo assim, na medida em que auxilia o homem na compreensão e no desvelamento da realidade, a leitura torna um recurso de modernização. Devemos lembrar que esta humanização só será possível se o texto estiver de acordo com o nível de leitura do leitor, pois este tem que compreender o que lê para acrescentar mais conhecimento à sua vida. Para

Martins (1993, p.35), “nós aprendemos a ler a partir do nosso contexto pessoal”. Essa leitura começa com os nossos primeiros contatos com o mundo, como por exemplo as canções de ninar que embala nosso sono. É portando, um processo de descoberta de um universo desconhecido e maravilhoso. Aprendemos a ler, lendo não importa por qual meio de linguagem. Por isso, devemos considerar a leitura como um processo de compreensão formais e simbólicas, pois o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de experiencia do fazer humano.  Freire diz que:

 Assim como um pedreiro não pode prescindir de um conjunto de instrumentos de trabalho, sem os quais não levanta as paredes da casa que está sendo construída, assim também o leitor estudioso precisa de instrumentos fundamentais sem os quais não pode ler ou escrever com eficácia (FREIRE,2003. P 34). 

O que podemos constatar nessa fala é que a leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido, seja ele escrito, sonoro, ou um gesto, um acontecimento, havendo assim, uma interação entre o texto e o leitor. O importante é que essa relação traga prazer de descobertas e reconhecimentos de vivência que tenha sentido para o leitor. Foi através de exemplos de sua própria vida que FREIRE (1982) descobriu a importância do ato de ler.

Para ele, a leitura começa na infância, já que “a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra”, sendo que está, implica n continuidade daquela. A leitura, assim dizendo, implica além da compreensão do texto, também a percepção das relações entre texto e o contexto. Além disso, a prática da leitura permite ao leitor a decodificação da palavra escrita ou da linguagem escrita, ampliando e enriquecendo cada vez mais o seu vocabulário e a sua competência linguística. E Souza vem nos dizer que

 O ato de ler enriquece efetivamente, o subcódigo linguístico do leitor, uma palavra desconhecida, um significado diferente, uma regência ignorada uma outra estrutura frásica pode ser acrescida à competência linguística do leitor, após a leitura de um texto escrito qualquer. (SOUZA, 1984, P 46).

 Por mais este aspecto, percebemos que, através do contato com a leitura, o leitor passa a interpretar e compreender as múltiplas expressões que são registradas pela escrita, inclusive passa a perceber melhor o mundo através das observações que são registradas por outras pessoas.  Na verdade, se percebe que a escola, não tem conseguido fazer com que seus alunos leiam com eficiência e de forma significativa.  E porque isso acontece? Kleiman (1993, p.16) aponta motivos que levam os alunos à não ler.” Primeiro porque o aluno acha difícil e segundo não consegue extrair sentido do texto”. Isso em geral, porque a maioria das leituras feitas em sala de aula é para uso do ensino da gramática. 

 Nos livros didáticos também nos deparamos com a prática de encontrar significados das palavras sem levar em conta o contexto. Daí o aluno é levado a crer que a força das palavras reside só no significado para que possa extrair dessa soma a “mensagem” do texto. Kleimam (1993, p.18) diz que “a leitura só como decodificação é uma outra prática considerada pobre e pouco modifica ou acrescenta na visão de mundo do aluno.” Uma outra prática que inibe o aluno é a leitura como avaliação que, ao invés de promover a formação de leitores, faz com que os alunos fiquem preocupados apenas com a pronúncia e a pontuação.

 O propósito da leiturização é transformar os alunos em leitores.  Porém, esse problema só será resolvido quando as pessoas passarem a ser “leiturizadas” ao invés de alfabetizadas. Para Foucambert (1994, p157), a leiturização quer formar o leitor crítico; e trabalhar a leiturização é permitir que um número maior de pessoas tenha acesso à informação, à sua análise crítica e à sua produção e não recepção. A ideia da leiturização favorece ainda a conscientização, o encontro com a escrita como linguagem, mais que simples representação da linguagem oral, é o meio de comunicação paralelo à comunicação oral.

 4. Algumas Considerações

Como observação final deste trabalho, é importante esclarecer que o objetivo da escola deve ser o de formar leitores competentes, capazes de produzir textos coerentes, organizados e claros.  Um escritor competente, aqui é alguém capaz de escrever e não um romancista ou poeta. Qualquer um pode ser escritor se entendermos que escritor é aquele que é capaz de escrever um texto adequado a um determinado fim. E, é justamente nesse sentido amplo da palavra e não no sentido de quem escreve livros de ficção, que o professor de Língua Portuguesa deve encarar o trabalho de produção de textos na escola.

 Incentivar à leitura se faz necessário desde os primeiros momentos da vida da criança. E o hábito de ler histórias antes mesmo das crianças pronunciarem as palavras é de fundamental importância, pois o processo da leitura se constitui na construção processual e contínua, junto à necessária mediação dos pais e professores. É preciso lembrar que não basta falar e escrever, é preciso dominar a linguagem para participar da vida em sociedade; pelo uso da linguagem escolhendo as palavras certas para cada tipo de discurso, as pessoas se comunicam, trocam opiniões, tem acesso a informações e fazem a cultura. Em outras palavras tornam-se cidadãs. 

O que fica com esse estudo, é o compromisso enquanto professor de propiciar um encontro adequado entre alunos e o ensino da língua, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno, procurando sempre garantir uma aprendizagem efetiva e uma leiturização.

Referências

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SOUZA, João Fernandes de A. Artigo: A importância da leitura: UCG, 1981


1 Mestranda. Universidade Estadual de Goiás. luizassuncao2022@outlook.com

2 Pós-doutor. Universidade Estadual de Goiás. severo@ueg.br