LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA CORONEL MOTA, COMUNIDADE INDÍGENA OLHO D’ÁGUA/RR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7577359


Janismara Oliveira Duarte1
Elen Gomes de Oliveira2
Marcos Vieira Araujo3
Danielle da Silva Trindade4
Raimunda Mota de Carvalho5


RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal promover a leitura na turma do 5º ano da Escola Estadual Indígena Marechal Deodoro da Fonseca. A formação de leitores tem como foco as experiências de leitura de crianças, em particular, as que vivem na comunidade indígena Canavial. Tais experiências vivenciadas a partir de um projeto de práticas de leitura literária. Vale ressaltar que a referida escola não conta com um importante acervo de livros de literatura infanto-juvenil e que todas as atividades desenvolvidas foram através de obras do meu acervo pessoal e outras fotocopiadas. A literatura, é uma fonte inesgotável de expressão da linguagem, fonte esta que todo ser humano pode fazer uso, seja como autor ou leitor. Por meio da literatura foi possível perceber e experienciar sensações variadas das crianças ao adquirir conhecimento, refletir sobre inúmeros assuntos, ou simplesmente pelo prazer de ler. A metodologia foi pesquisa qualitativa, através das práticas de Estágio Curricular Supervisionado, fases 1: diagnóstico da Escola Estadual Indígena Marechal Deodoro da Fonseca e comunidade Indígena Canavial, para posteriormente construir a proposta de intervenção, visto que os alunos na série final do ensino fundamental I apresentam dificuldades de leitura. A seguir, implementação da proposta pedagógica EU QUERO LER E APRENDER.  Como consideração final, observei que as contribuições da pesquisa foram, principalmente, refletir por meio das práticas de leitura oportunizadas pelo professor puderam colaborar com a formação leitora dos alunos indígenas.

Palavras-chave: Leitura. Escola Indígena. Ensino Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Em virtude os problemas terem se acumulado com a pandemia, pode se dizer que com isso houve um atraso na vida escolar dos alunos. Onde ninguém mais liga para a vida escolar de alunos, sendo que muitas das vezes isso acaba sendo uma consequência criada por eles. 

            Aproveitando esse ensejo problemático, apresentamos os alunos da Escola Estadual Indígena Coronel Mota da Comunidade Indígena Olho D’Água, onde buscaremos apresentar como anda esse processo da leitura e escrita dentro e fora da escola. 

            Esta pesquisa tem como relevância, a busca pelo saber sobre a leitura e escrita dos alunos do 7º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Indígena Coronel Mota que fica localizada na Comunidade Indígena Olho D’Água, pois procura saber como anda o processo da leitura, uma vez que essa parte é fundamental para o desenvolvimento da criança ou adolescente.

            Buscou saber o que Objetivo Geral busca responder de forma generalizada, que foi identificar qual o impacto alcançado com a leitura e escrita na Escola Estadual Indígena Coronel Mota? Bem como, buscará responder os seguintes objetivos específicos: 1) Entrevistar os alunos do 7º ano sobre o hábito de ler e escrever; 2) Buscar respostas dadas pelo professor sobre o hábito de leitura e escrita; e por fim, 3) Investigar onde encontrar a origem do problema da escrita e leitura dos alunos através dos membros das comunidades.

METODOLOGIA 

Metodologicamente, consiste de uma pesquisa descritiva que de acordo com Bervian e Cervo (2002, p.66), trata-se da observação, registro, análise e cor relacionamento de fatos sem manipulá-los. Para a realização deste trabalho também foi utilizada inicialmente uma pesquisa bibliográfica que serviu como base para o entendimento dessa pesquisa. A abordagem aqui aplicada foi quantitativa e acompanhada de um estudo de caso.

Foi realizada inicialmente uma pesquisa bibliográfica, que segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 59),

[…] tem como objetivo encontrar respostas aos problemas formulados, e o recurso utilizado para isso é a consulta dos documentos bibliográficos. Para encontrar o material que interessa a uma pesquisa, é necessário saber como estão organizados os textos, as bibliotecas e os bancos de dados, bem como suas formas de melhor utilização. Na pesquisa bibliográfica, a fonte das informações, por excelência, estará sempre na forma de documentos escritos, estejam eles impressos ou depositados em meios magnéticos ou eletrônicos.

As bibliografias analisadas foram utilizadas para compor a fundamentação teórica necessária à compreensão do tema estudado, as especificidades do segmento mercadológico investigado e o levantamento de dados que possibilitaram realizar as análises correspondentes aos objetivos propostos nesse trabalho. Foram também utilizadas como base fundamental para a construção dos gráficos tabulados. 

Com o intuito de trabalhar com dados objetivos e estatísticos, utilizamos uma abordagem quantitativa que, segundo Beuren et.al (2008, p. 92) “caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados”. 

A técnica de pesquisa deste trabalho norteia-se em um estudo de caso, pois este “se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo” (SEVERINO, 2007). 

Para realização desta pesquisa foram utilizadas amostras intencionais, compostas por três populações, a primeira população é composta pelos alunos. 

A segunda população é composta pelos professores, os quais são responsáveis pela aprendizagem do aluno. A terceira população é membros da comunidade, o qual foi representada por alguns com diversos níveis de referência.

REFERENCIAL TEÓRICO

REFLEXÕES SOBRE LEITURA E ESCRITA

           A aquisição da linguagem escrita é uma das principais tarefas que a sociedade atribui à escola, além de ser um indicador de sua eficácia no que concerne ao cumprimento desse objetivo. Assim, escrita e escola são realidades indissociáveis.

           Sendo um saber processual, isto é, que permite um “continuum”, uma aprendizagem que dá abertura a (re)formulações, a escrita não é exclusiva, tampouco restrita ao conteúdo programático de ensino/ aulas de Alfabetização e Língua Portuguesa, uma vez que atravessa todas as disciplinas oferecidas na instituição escolar, implicando no desempenho dos alunos em termos de aquisição, elaboração e expressão do conhecimento, bem como nas decorrentes consequências no famigerado sucesso escolar.

            Concordamos com Geraldi (2008), quando afirma que a instituição escolar vive e alimenta um paradoxo: ao mesmo tempo se diz formando para o futuro, o faz forçando para que o futuro seja a repetição do passado. Esse jogo ‘redundante’, de acordo com Geraldi (2006), tem uma razão de ser: é por meio da reprodução que se dá a fixação de valores e concepções ideológicas da sociedade, em outras palavras, a interpelação ideológica e o assujeitamento do sujeito por uma ideologia se perpetuam e se legitimam por meio de atividades que inibem a criatividade e valorizam o já posto.

             Ainda segundo Geraldi (2006), na escola, de maneira geral se lê para escrever, ou seja, há uma dependência entre essas duas atividades; não se lê, por exemplo, apenas para saborear o texto, ou, ainda, para escutá-lo em profundidade, seja em que gênero discursivo for. Essa prática pode ser entendida como uma forma de contenção de sentidos, de estancamento pedagógico, na qual o novo, a produção de sentidos polissêmicos e, talvez, inéditos, é negada e inexploradas.

           Não lemos apenas para escrever, lemos para contraler, para estruturar ideias, expectativas, (re) formular horizontes, para aprender a pensar e a questionar o que pensamos. Assim, tanto a leitura quanto a escrita, mesmo sendo processos complementares, não são únicos, cada qual se relaciona de forma diferente com a linguagem. Por isso, não deveriam ser praticados com a finalidade de que um aconteça a partir da instauração do outro; nesse caso, o estudante somente conseguiria escrever se, antes, tivesse conseguido ler, segundo o entendimento de algumas teorias e alguns professores.

               Mas, os rumos podem ser outros se, ao invés de a escola centralizar o ensino ‘no que’ direcionasse suas atenções para os seguintes aspectos: para quê, para quem, com que finalidade, em que condições de produção. A aprendizagem da linguagem pode proporcionar a exploração e conhecimento de si mesmo, de nossa subjetividade, do mundo que nos cerca e dos fenômenos que nele acontecem, o que poderia dar abertura para a criação de outras e novas zonas de sentido.

             Não poderíamos nos esquecer das “histórias de leitura de cada sujeito”. De acordo com Orlandi (2006), há fases, ciclos, em que se podem modificar o gosto pela leitura e pela escrita e o gostar e o querer influenciam sobremaneira nesse processo.

Na sociedade grafo Centrica em que vivemos muitas pessoas, mesmo sendo analfabetas, se envolvem em práticas sociais de leitura e de escrita, seja quando alguém requer que leia para elas o nome de uma avenida, de uma loja ou até mesmo a receita de um medicamento. Dizemos que essas pessoas, mesmo analfabetas, já mostram graus de letramento, porque de uma maneira ou de outra já utilizam a leitura e a escrita em seu cotidiano. Nesse caminho, a noção de letramento surge como uma necessidade de se explicar algo que vai além da alfabetização, ou seja, do domínio da tecnologia da leitura e da escrita. De acordo com Kleiman (2001), o conceito de letramento passou ser pesquisado nos meios acadêmicos para gerar uma distância entre os estudos sobre o impacto social da escrita em relação ao processo de alfabetização e aos poucos foi se ampliando para “descrever as”. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA NA ESCOLA CAMPO

Apresentação da Proposta Pedagógica para a Escola e Comunidade

Iniciou-se a primeira etapa do trabalho do projeto com os alunos do 7° ano onde foi constatada a existência de poucos materiais didáticos na escola estadual Indígena Coronel Mota como: livros para alunos e para mestres insuficientes, revista, alguns jogos pedagógicos, poucos livros para leitura. Cartolina cola, tesoura, lápis de cor, cola colorida, hidrocor, papel A4 e outros materiais didáticos são comprados pelos professores com seus próprios recursos.

Percebeu-se que a escola vem enfrentando dificuldades extremas com relação á ajuda do governo estadual em cumprir com suas obrigações legais a esta escola. Por outro lado, os professores que vem desempenhando um papel muito importante no ensino e aprendizagem dos estudantes no qual lutam para contribuir com aprendizagem e conhecimentos, buscando ajuda com seus próprios recursos financeiros, ou seja, comprando materiais para o seu uso no trabalho.

Desta forma, se o governo cumprisse com as suas obrigações os professores certamente executariam uma educação de qualidade. A seguir na Figura 1, pode ser visto os matérias utilizados.

Figura 1: Materiais didaticos existente na escola.

Fonte: Autoria própria, 2020.

Este projeto de leitura e escrita apresentado em sua metodologia tem a preocupação de contemplar questões relacionadas à produção e interpretação de leitura na escola em que o aluno vive de forma que possa participar e estabelecer relações, interagir, transformar, reelaborar e agir em seu meio, dentro e fora da escola. Partimos da hipótese de que o aluno desenvolve com mais sensibilidade o gosto pela leitura a partir da coletividade entre o aluno e o professor. Não adianta o aluno saber somente fazer a leitura e não fazer a sua interpretação, de acordo com a sua perceptividade, faz-se necessário para colocar em prática no dia a dia dos alunos do 7º ano, mudança de hábito em relação à leitura e ciente que nenhum projeto nesse sentido realizado até o presente momento na escola estadual Indígena Coronel Mota, é de grande importância e interesse pedagógico a implantação desse projeto de leitura e escrita, pois acreditamos que será de melhor veículo aos alunos.

Figura 2: Aplicação da proposta para alunos, professores e alguns pais de família.

Fonte: Autoria própria, 2020.

Com a complementação desse projeto pretendeu-se atender as necessidades de leitura dos alunos. Na prática de leitura desenvolvemos um caminho claro para a sua aprendizagem como: sacolas viajantes, no qual o aluno sorteado leva cinco livros para ler em casa por dois dias e trazer uma resposta crítica ou comentário do livro para a sala de aula. Construção de gibis, produção de texto com ilustrações, produção de narrativas através de pesquisas de campo dentro da comunidade, leituras de textos em jornais, revistas e livros.

Seguindo a sequência do projeto, fiz a busca dos pais dos alunos para o acompanhamento no ensino aprendizagem e o incentivo nos avanços de leitura dos alunos, proporcionando o intercâmbio entre as turmas da escola, melhorando e aprimorando o seu desempenho educacional. ‘‘A criança aprende a partir de seus interesses brincando e interagindo com o conhecimento, de forma livre e autônoma’’. Tendo em vista, percebi como ponto negativo que os alunos liam por obrigação, liam somente o que lhe era determinado pelo professor, sem dá à leitura seu valor real, sem perceber a necessidade de ler no seu dia a dia não tomando assim sua própria autonomia. Mas, hoje no decorrer do projeto de leitura e escrita já leem para buscar informações, conhecimentos, para enriquecer seu vocabulário, para visualizar palavras e perceber sua ortografia e isso foi a maior contribuição deste projeto.

Esse conhecimento sobre a importância a necessidade da leitura, torna-se um processo de desenvolvimento do aluno, uma vez que ele vê como algo prazeroso, se sentindo motivado a ler diariamente e espontaneamente, tendo a chance de vivenciar ricas experiências de enriquecimento através das leituras.

Percebi em destaque que, mesmo não tendo em grande escala os meios tecnológicos muitos alunos estavam deixando de ler ou afastados dos vários livros didáticos para o desempenho de uma boa leitura para que se possa realizar uma boa redação textual, por causa disso o projeto veio especificamente resgatar apreço pela pesquisa através de leituras em livros e revistas existentes na biblioteca da escola com mais frequência, pois utilizamos inúmeras vezes esta biblioteca.

Antes de o projeto ser lançado a turma e a comunidade, a dificuldade de leitura e interpretação de textos do 7° ano era imensa com relação a todas as disciplinas, principalmente na disciplina de Língua Portuguesa e Matemática, isso eram as reclamações de professores.

Os procedimentos metodológicos do projeto de leitura e escrita ajudou de forma lúdica alcançar os objetivos através das motivações para a leitura e a escrita dos estudantes a partir da disseminação entre escola, pais e professores.

Durante o processo de implementação é evidente que os alunos têm avançado nesta primeira etapa do projeto a ter um gosto maior por leituras, com parcerias dos pais, professores e gestor. O projeto está conscientizando os pais, alunos e professores a dar importância e motivação no crescimento da aprendizagem no mundo da leitura a partir das diversas formas metodológicas.

ENTREVISTAS E QUESTIONÁRIOS NA COMUNIDADE OLHO D’ÁGUA E DOS ESTUDANTES, PROFESSORES, LÍDERES COMUNITÁRIOS E MEMBROS DAS COMUNIDADES

Entrevistas com os Estudantes

Esta pesquisa contou com o público de alunos do 7º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Indígena Coronel Mota, da Comunidade Indígena Olho d’água / RR, onde foram contempladas somente 4 perguntas direcionadas com foco nos objetivos.

Quadro 1: Número de questionário.

AnosNúmero de estudantesFaixa etáriaNúmero de questionário entreguesNúmero de questionário respondido
7 A1512 a 16 anos1515
7 B1312 a 15 anos1313

Fonte: Autoria própria, 2022.

Conforme está visível no quadro acima, podemos verificar que ao total participaram 28 alunos da entrevista, sendo todos os alunos de uma faixa etária entre 12e 16 anos. Portanto, contamos 4 perguntas a fim de sondar sobre a leitura, se eles tinham o hábito de leitura. Por isso, apresentaremos todas as respostas por meio de Gráficos, e na pergunta inicial, temos no Gráfico 1 a seguinte resposta.

Gráfico 1: Você sabe ler?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Se observamos o percentual de alunos que não sabem ler é muito grande, ou seja, 36% não sabem ler e consequentemente não sabe escrever, o que tive que eu mesma fazer com eles uma entrevista oral.

            As vezes se perguntamos de quem é a culpa. Se é da escola, ou do sistema quem tem que passar o aluno para a próxima serie. Contudo sabemos que esse grave problema está ligado com as raízes nos anos iniciais e com isso o aluno precisa passar a receber atenção assim que o mesmo diagnosticado, seja lá qual for a idade do estudante e o ano e que está matriculado.

O aluno não pode se tornar o centro de uma situação em que ninguém se responsabiliza pela questão ou, pior ainda, e que o professor de língua portuguesa é apontado como o culpado por ela. Não saber ler e nem escrever implica em consequência para o estudo de todas as disciplinas porque se o aluno não sabe ler não compreende os textos e enunciados, o aluno vai ficando para trás em relação ao demais alunos.

A seguir, temos a próxima pergunta no próximo gráfico que diz o seguinte:

Gráfico 2: Você gostar de ler?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

O meu maior desafio enquanto professora e o desestimulo dos alunos para a leitura. Em termos de leitura, as reações dos alunos geralmente são de negação e negligência. Os alunos que estão acostumados a ler livros a cada dois meses para preencher formulários de leitura e, em seguida, fazer questionários, os alunos associam esses livros a tarefas repetitivas e tediosas. 

Este problema começou muito cedo, porque se pensava que os alunos só começavam a ler quando estavam na escola as famílias não desenvolvem o hábito da leitura então, a tarefa de ensinar a ler é atribuída ao professor, e somente ao professor. 

A leitura não é enfatizada na escola, onde atividades com textos geralmente são mecânicas e desprezam a participação crítica do aluno.

Dando continuidade a terceira pergunta feita a eles conforme está escrito no Gráfico 3, podemos ver o que significa os prazeres pela leitura.

Gráfico 3: Você gosta de ler ou ouvir histórias?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Segundo as respostas obtidas a maioria dos alunos gosta de ouvir histórias. A linguagem falada é uma das formas de comunicação mais antigas. Portanto, as histórias desempenham um papel muito importante no desenvolvimento cultural. Além disso, o ato de ouvir e contar histórias promoveu sobremaneira o desenvolvimento do pensamento crítico entre os estudantes.

 Um dos enganos mais comuns que nós professores cometemos quando falamos de leitura para pré-adolescentes é supor que, nessa faixa etária, eles não gostam de ouvir histórias.

            Na quarta e última questão como pode ser visto no Gráfico 4, nos deparamos com o seguinte resultado.

Gráfico 4: Você considera ler uma perca de tempo?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

            Como pode ser visto na última pergunta, mesmo os alunos que não sabem ler e escrever não consideram o ato de ler uma perda de tempo, pelo contrário, eles têm em sua visão algo atrasado na vida deles. Pois, já sabem avaliar as oportunidades perdidas.

Todos sabem que a leitura tem uma importância no desenvolver dos mesmos como capacidade de adquirir um amplo vocabulário, alarga a comunicação mais clara e abrangente, além de facilitar o desenvolvimento intelectual e social. As respostas demonstraram que eles compreenderam que é através da leitura que irão estender o gosto por ler, por descobrir coisas novas todos os dias através da leitura.

ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES 

As escolas devem promover o ensino de diferentes gêneros de leitura em todas as disciplinas.  Quase todo gestor ou responsável da escola ouviu comentários de membros da equipe de que os alunos não conseguem fazer nenhum exercício porque não entendem os enunciados. 

Nesses momentos, nos professores podemos aproveitar a oportunidade para estimular educadores de diferentes áreas a refletirem sobre seu papel na formação de leitores, ao invés de jogar tudo nas costas do professor de português. Se é óbvio que toda disciplina pode ganhar com habilidade de leitura melhorada, então também é necessário provar que todos podem contribuir para que os alunos entendam o que estão lendo. Também buscou-se saber o que os professores que convivem com os alunos do sexto e sétimos anos diariamente pensam sobre o assunto é como lidam com isso.

A seguir, irei mostrar o quadro de professores que responderam ao questionário entregues. No total, contam-se 8 professores atuantes no 7º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Indígena Coronel Mota, da Comunidade Indígena Olho d’água / RR, mas, somente quatro responderam.

Quadro 2: Quadro dos professores

N°  Nome do professorEtnia Série que trabalha Escolaridade 
Dalcineide Pereira de Oliveira Wapichana1° ao 5° anoPedagoga-Ensino superior
Iana Oliveira de SouzaWapichana6° ao 9° anoCiências da Natureza/Licenciatura Intercultural
Maria do Carmo Cruz da SilvaWapichana1° ao 9° anoCursando Comunicação e Artes/ Licenciatura Intercultural
Getlaine de Almeida Solon Macuxi6°ao 9° anoCursando Letras

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Como representado na Quadro 2, somente quatro professores responderam ao questionário dos oitos lotados na escola.

ENTREVISTAS COM OS MEMBROS DAS COMUNIDADES

Nas entrevistas com os membros das comunidades, como os adolescentes, professores, foram entrevistados, alguns pais de família e membros das comunidades Olho Dagua também foram, para compreender melhor o que pensam, o que sabem sobre a importância da leitura e escrita e como contribuem para este processo decorrente na comunidade. Abaixo está o Quadro 3, apresentando as informações do número de entrevistados assim como a média de idade, sexo e comunidade em que residem.

Quadro 3: Entrevistas feitas com membros das Comunidades Indígena Olho d’água (pais dos alunos)

N° dos entrevistadosIdadeComunidadeSexo MasculinoSexo Feminino
010636 a 45 anosOlho d’água42

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Como se pode ver na figura acima foram apenas quatro entrevistados da comunidade Olho D’agua, entrevistei apenas quatro porque a maioria dos membros da comunidade tem muita dificuldade em entender o português pois eles falam mais a língua materna wapichana e o inglês e outros são analfabetos nunca frequentaram a escola. Em relação às perguntas foram seis, algumas semelhantes às perguntas feitas para os professores. 

            No primeiro questionário perguntado aos membros da comunidade (Gráfico 5).

Gráfico 5: Qual o nível de escolaridade que você possui?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Como podemos observar no gráfico acima, 57% dos membros da comunidade só tem o ensino fundamental e sequer 14% não frequentou a escola, o que essa realidade interfere diretamente no desempenho escolar dos alunos. Filhos de pais analfabetos ou que não terminaram o ensino fundamental II têm uma chance maior de ter baixo desempenho escolar quando comparados a filhos de pais com cursaram o ensino médio e a família exercer uma grande influência na educação dos filhos falta um pouco mais de participação neste importante processo. 

No que tange ao acompanhamento da educação e no incentivo adequado aos alunos a criarem o hábito de ler, não adianta apenas a escola incentivar a leitura se a própria família não o faz, sendo ela, a principal responsável pelo primeiro contato com a aprendizagem. Afinal, o hábito da leitura não é uma coisa que se aprende da noite para o dia, requer muito esforço, incentivo, motivação e se processa em longo prazo. Esse é um desafio que pais e educadores devem tomar para si.

            A seguir, na segunda pergunta, questiona-os se eles gostam ler? Conforme está no Gráfico 6.

Gráfico 6: Gosta de ler?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Como podemos observar 100 % dos pais membros da comunidade não gostam de ler. o hábito da leitura é um bem que favorece a qualidade de vida, devendo ser semeada desde a infância, no convívio familiar. É um caminho a ser percorrido partindo da conscientização social, pois acredito que a leitura é possível em todas as fases da vida dos alunos. 

Abordar o tema leitura sobre o aspecto de uma compreensão crítica do ato de ler consiste em uma tarefa que envolve, também, a compreensão da importância do ato de ler como uma prática prazerosa que se revela de extrema importância para a formação crítica do sujeito leitor. “Nossos filhos se espelham em nós. Como querer que um filho leia, se os pais não lerem? O cérebro da criança é uma cidade com ruas e avenidas abertas, se não são utilizadas, estimuladas, estimuladas, essas vias se fecham, e se fecham para sempre”, explica Marco Antônio Arruda, neurologista da infância e adolescência.  

Nesse sentido, o meio em que o indivíduo convive, influencia seus comportamentos e gostos. Se o aluno convive com pais leitores, certamente desenvolverá gosto pela leitura. Porém, pode ocorrer o inverso, o aluno que não possuem pais que leem, podem desenvolver o hábito pela leitura por meio da curiosidade ou mesmo por obrigação. 

Neste caso, por ter sido obrigada a ler, por exemplo, na escola por conta de algum trabalho, o gosto se desenvolve e o que antes era obrigação, passa a ser visto como algo prazeroso. Bamberger (1987, p. 70) reforça tal pensamento afirmando que “Os hábitos são mais bem incorporados se têm como base modelos de comportamento tirados do meio, ‘ideais’ apresentados pelos pais, professores e, sobretudo, pelo grupo que o jovem frequenta.”

Na terceira pergunta, questiona a eles como pais, mesmo sabendo que se trata de um uma pergunta feita ao público comunidade. A seguir temos no Gráfico 7.

Gráfico 7: Você incentiva seu filho a ler?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Como podemos ver no gráfico 60 % dos pais membros da comunidade não incentiva o seu filho no hábito da leitura e 40% incentiva. É perceptível a ausência de elementos incentivadores ao hábito de ler nas famílias de alunos da Escola Estadual Indígena Coronel Mota. 

Seja pelo baixo grau de escolaridade dos pais, seja pela ausência de objetivos na prática da leitura. Em estudos sobre a motivação do ato de ler, ou seja, se a família desestimula a leitura porque não vê um objeto claro para esse comportamento, o aluno não tem motivação para encontrá-lo, ou mesmo praticá-lo, pois não viu um propósito especifico para isso, mesmo que seja um ato agradável. Os adultos que nunca pegam o livro para ler. Que tem muito tempo para trabalhar ou pouca discussão ou conversa, sem espaço reflexão ou aprimoramento do conhecimento.

Na quarta questão, temos a última resposta dada por meio do Gráfico 8.

Gráfico 8: De quem é a responsabilidade de formar leitores?

Fonte: Autora da pesquisa, 2022.

Como podemos analisar no gráfico 60% dos membros da comunidade acham que é só a escola que tem responsabilidade em formar leitores. Não e só a escola que tem a obrigação de formar leitores. Mas na minha opinião a escola e família possuem responsabilidades específicas e precisam fazer sua parte, para que juntas, atinjam o objetivo principal, que é educar os discentes, garantindo condições para que tenham um futuro melhor.

A leitura é ferramenta para isso. Só um bom leitor se proporciona mudanças intelectuais e emocionais. Família e escola são parceiras nesse processo. A criança que convive com o livro desde cedo descobre e ama a leitura. Cabe à escola e à família proporcionarem essa descoberta. Ler para se descobrir, para aprender, para se divertir, para encontrar a maturidade afetiva e emocional. O resultado são adultos mais equilibrados, maduros, capazes e com mais chances de terem sucesso e serem felizes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que desde pequenos estes indivíduos estão inseridos em meios letrados e necessitam adaptar-se ao meio em que vivem.  Por conta disso, a escola foi intitulada como aquela que tem a função de preparar o sujeito para a sociedade. Entretanto, é necessário ressaltar que esta, principalmente as originadas de órgão públicas, não são totalmente preparadas para o que lhe foi designado, já que na maioria das vezes não dispõe dos recursos imprescindíveis á aprendizagem.

Em contrapartida, a escola investigada não tem acervo de livros e matérias suficientes que poderiam ser bem aproveitados durante as aulas, proporcionando aos estudantes uma amplitude de conhecimentos. Contudo, muitos deles não sabem e nem nunca tiveram a oportunidade de envolver-se e, ou descobrir o mundo da leitura existente na biblioteca devido ao descaso de matérias suficiente para os alunos e por parte de alguns professores, que anteriormente não buscava incentivar os alunos para tais atividades.

As ações propostas para o projeto foram discutidas em grupo juntamente com os estudantes da escola estadual Indígena Coronel Mota, com o gestor da escola em discussão e com a professora coordenadora do projeto aqui apresentada. 

A leitura e a escrita estão cada vez mais sendo praticada e difundida sendo formal e informal. A poucos os alunos, estão descobrindo que através da leitura e escrita a possibilidades de alcançar com facilidades a interpretação e autocritica no seu desenvolvimento estudantil, não tendo um impacto maior futuramente.

O conceito do projeto, mais do que uma ideia, deve ser realizado como habito de boas práticas, e devem ser sempre nesta sequência ler, escrever e interpretar, pois caminha na direção do ensino/aprendizagem do aluno/professor.

A responsabilidade da iniciativa do projeto é de suma importância na frente dos alunos do 7° ano, pois caminhar sempre em busca do constante desenvolvimento e melhoria da qualidade de ensino de cada descente.

Acredita-se que o projeto como este, implantado na escola estadual Indígena Coronel Mota, é muito importante, pois ajuda nas dificuldades que os alunos têm com relação à leitura, interpretação de texto e escrita e garante o desenvolvimento, aos alunos uma reflexão mais ampla no seu ensino/aprendizagem.

REFERÊNCIAS 

ASSOLINI, F. E. P. Pedagogia da leitura parafrástica. 1999. 236 f. Dissertação (Mestrado em Ciências – Área Psicologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 1999. 

BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito de leitura. 3 ed. São Paulo: Ática, 1987. 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: p. 144, 1988. 

FERREIRA, S. P. A; DIAS, M.G.B.B. (2002). Compreensão de leitura: estratégias de tomar notas e da imagem mental. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: 1988. 

______. Cartas a Cristina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. 

GERALDI, João Wanderley. A aula como acontecimento. In: GERALDI, J. W. A aula como acontecimento. São Carlos: Pedro & João Editores, 2006. 

_________, João Wanderley. Mediações pedagógicas no processo de produção de textos. In: GERALDI, J. W. A aula como acontecimento. São Carlos: Pedro & João Editores, 2008. 

HEATH, 1983. Ways with words. Cambridge: Cambridge University Press. 

KLEIMAN, Ângela B. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2001. 

ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 2006. 276 p. 

PIAGE (1975. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar Editores 

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2001. 

VYGOTSKY. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: ícone, 1988.


1Janismara Oliveira Duarte
Graduada pelo Curso de Licenciatura Intercultural na Área de Ciências da Natureza
Universidade Federal de Roraima – RR,
janismara@gmail.com
2Elen Gomes de Oliveira
Graduada pelo Curso de Licenciatura Intercultural na Área de Ciências da Natureza
Universidade Federal de Roraima – RR,
elen.altoarraia@gmail.com
3Marcos Vieira Araujo
Especialista em Informática da Educação do Instituto Federal do Amazonas-IFAM
Instituição: Universidade Federal de Roraima
Endereço: Av. Cap. Ene Garcês, 2413 – Aeroporto, Boa Vista – RR, Brasil
E-mail: marcosvieiraaraujo@gmail.com
4Danielle da Silva Trindade
Mestranda do Programa de Graduação Sociedade e Fronteira (PPGSOF)
Professora do Insikiran pela Universidade Federal de Roraima – UFRR
E-mail: daniufrr@gmail.com
5Raimunda Mota de Carvalho
Mestranda em Ciência da Educação pela Universdad Politécnica y Artística Del Paraguay
Instituição: Secretaria de Estado da Educação e Desporto de Roraima – SEED/RR
Endereço: Av. Barão do Rio Branco, nº 1195 – São Francisco, Boa Vista – RR,
CEP. 69.301-130 – Brasil
raimundamota2017@gmail.com