LEITURA E AFETIVIDADE NA ALFABETIZAÇÃO: O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DE LEITORES

READING AND AFFECTIVITY IN LITERACY: THE TEACHER’S ROLE IN THE FORMATION OF READERS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102025005110638


Eliane Targino Rodrigues1
Maria Alzira Leite2


Resumo

Este artigo pretende analisar a importância da leitura no processo de alfabetização e formação crítica dos estudantes. Parte-se de uma abordagem qualitativa, com base em pesquisa bibliográfica fundamentada em autores como Freire (1989, 1993, 1996), Lajolo, Tapia (1982, 2000) e Grosbaum (2000). A leitura é compreendida como prática social e formativa, que ultrapassa a simples decodificação de códigos e contribui para a construção de sujeitos autônomos, críticos e participativos. O estudo discute o papel da escola e, principalmente, do professor como mediador essencial na formação do hábito leitor, além de destacar a importância de estratégias pedagógicas que promovam a motivação e o envolvimento dos alunos. Também é ressaltada a necessidade de ações interdisciplinares e da parceria entre escola e família para garantir um ambiente propício à leitura. Conclui-se que o estímulo à leitura deve ser intencional, constante e articulado com a realidade dos estudantes.

Palavras-chave: Leitura. Alfabetização. Mediação pedagógica. Formação de leitores. Motivação.

1. INTRODUÇÃO

A leitura e a escrita são objetos de conhecimento importantes na vida de todo ser humano. Utiliza-se a leitura em diversos contextos e com variadas finalidades. Lê-se em casa, no trabalho, na escola, na rua. Leitores experientes tendem a adequar sua forma de leitura ao propósito do texto. Durante essa interação, mobilizam saberes prévios, formulam hipóteses, fazem inferências e verificam continuamente suas interpretações ao longo da leitura. 

Na sociedade contemporânea, observa-se que, para muitas pessoas, a experiência de ler e escrever, enquanto prática cultural habitual, está restrita aos espaços escolares. A aprendizagem e aquisição do hábito de leitura vêm restringindo-se ao ambiente escolar e à área de língua materna, desconsiderando as possibilidades educativas de outros contextos, como o ambiente familiar e de trabalho. 

Esse contexto favorece interpretações limitadas, especialmente quando não há o acompanhamento de um leitor experiente. Por não se tratar de um processo natural ou imediato, a leitura precisa ser construída gradualmente pelo sujeito, evidenciando a importância do papel do professor como mediador no desenvolvimento das competências leitoras.

Nesse sentido, é responsabilidade da escola, enquanto instituição social, contribuir para a formação de cidadãos críticos, conscientes e atuantes na sociedade. As discussões sobre políticas públicas voltadas à leitura têm ganhado espaço em diferentes esferas educacionais, ressaltando sua importância na formação cultural, intelectual e política dos estudantes diante das exigências do mundo contemporâneo.

Este artigo procura discutir, à luz de autores como Freire (1989, 1993, 1996), Lajolo, Tapia (1982, 2000) e Grosbaum (2000), a importância da leitura no processo de alfabetização, com destaque para o papel da escola e para o uso de estratégias pedagógicas voltadas à construção da proficiência leitora. Além disso, busca-se compreender a leitura como uma prática social e formativa no ambiente escolar, discutir a importância da atuação docente na construção do hábito leitor e apontar estratégias que contribuam para a motivação dos alunos em relação à leitura.

A relevância do tema justifica-se diante dos desafios persistentes enfrentados pelas escolas, especialmente em contextos de vulnerabilidade social, onde o fracasso escolar ainda é recorrente.

Dessa forma, é importante investir na formação da competência leitora dos estudantes. A leitura passou a ser um requisito básico somente para a apropriação dos saberes escolares, mas também para a participação ativa na vida em sociedade, considerando seu caráter funcional e seu potencial transformador.

O ato de ler tem que ser desenvolvido e sempre alimentado.  Nesse contexto, é importante que a escola seja incentivada a promover condições e situações de aprendizagem que favoreçam a apropriação do conhecimento pelos alunos, contribuindo para enfrentarem suas dificuldades e desenvolvam uma postura crítica diante da leitura.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

2.1 Aspectos teóricos sobre leitura e alfabetização no contexto escolar

A aprendizagem é um processo que envolve maturação. Não se pode afirmar que o aluno aprendeu se ele não conseguir demonstrar, tanto no comportamento quanto intelectualmente, atitudes que correspondam ao objetivo esperado de aquisição dos conhecimentos necessários ao seu desenvolvimento e à sua atuação na vida em sociedade. 

Torna-se necessário que o aluno vivencie na sala de aula de forma integrada e interdisciplinar a linguagem científica para criar de fato um espaço, onde o aluno demonstre atitudes e procedimentos que o levem ao conhecimento e utilização de uma linguagem adequada a cada situação.

Atualmente fala-se muito da aprendizagem com saberes significativos na qual o aluno atua como sujeito que constrói seu próprio aprendizado, diferente de antigamente onde o aluno era visto como um ser passivo segundo modelo de ensino tradicional e o professor como mestre que transmitia os conhecimentos. 

Segundo Moreira & Masini (2006, p.17), a aprendizagem significativa se estabelece quando:

[…] uma nova informação ancora-se em subsunções relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende. Ausubel vê o armazenamento de informações na mente humana como sendo altamente organizado, formando uma hierarquia conceitual na qual elementos mais específicos de conhecimento são relacionados (e assimilados) a conceitos e proposições mais gerais, mais inclusivos (MOREIRA & MASINI, 2006, p.17).

  Para a escola conseguir, realmente um ensino de qualidade, é preciso interiorizar o conhecimento com base na realidade do aluno, buscando conhecer o aluno como todo, pois a forma psicológica com a qual o indivíduo se encontra nem sempre o auxilia na aprendizagem, ou seja, nem todos se encontram em bom estado emocional, pode ocorrer desestrutura familiar ou outro acontecimento que interfira de algum modo o lado emocional da criança. Sobre isso, Grosbaum (2001, p. 15) afirma:

Todo mundo espera que a escola faça diferença na vida de seus alunos. Isso quer dizer que queremos que todo estudante saia da escola diferente de como nela entrou: que saiba mais sobre si e sobre o meio físico e social; que pense a respeito da realidade a sua volta; e que consiga discernir, no ambiente em que vive o justo do inaceitável, Agindo de maneira coerente e consequente (GROSBAUM, 2001, p.15).

O aluno já traz um universo de conhecimentos adquiridos pela vivência cultural e social. A elevação desses conhecimentos é atribuída à escola, onde cabem aos professores observar tais conhecimentos para, a partir desses, buscar no aluno a sistematização do próprio conhecimento. O professor, por sua vez, carrega um conhecimento de toda a sua história, trazendo consigo ideias relevantes ao desenvolvimento da aprendizagem.

A afetividade emocional e os valores são aspectos que devem ser considerados no desenvolvimento do educando, uma vez que o aluno tende a apresentar um desempenho mais satisfatório quando está bem emocionalmente. Por isso, é essencial que o professor esteja atento somente aos conteúdos científicos, mas também ao estado emocional dos estudantes, favorecendo a construção de uma aprendizagem significativa. Como afirma Freire (1986, p. 12), “a prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança … reconhecendo que mudar é difícil, mas é possível”. 

Dessa forma, o ato educativo não prescinde da afetividade nem da seriedade científica, sendo necessário que o professor atue integradamente para que o aluno se aproprie do conhecimento e desenvolva atitudes reflexivas, como pensar e agir.

Observa-se que algumas turmas têm a necessidade de um olhar diferente por parte do professor, pois alguns alunos podem apresentar dificuldades e comprometer o aprendizado de toda a turma, uma vez que seu interesse se atribui à aprendizagem do cotidiano de todo o grupo. Cabe ao educador proporcionar aulas que sejam significativas e compreensivas para todos. É imprescindível a contribuição da organização escolar no tocante à interação entre colegas para a discussão de conteúdo. É no coletivo que poderão formar opiniões e saberes.

Torna-se indispensável articular teoria e prática, considerando o contexto de vida dos alunos, uma vez que o conhecimento se constrói por meio de consensos estabelecidos em interações coletivas. Nesse processo, é natural que diversos desafios surjam ao longo do caminho formativo.

Nesse contexto, o papel do professor assume dimensões fundamentais. O bom professor é aquele que mobiliza os alunos, instigando-os intelectualmente, sem cair na rigidez autoritária ou no descaso. Como destaca Freire (1996, p. 44), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento […] seus alunos cansam, não dormem”. Por outro lado, o professor autoritário ou indiferente também deixa marcas profundas. “O professor autoritário, o professor licencioso […] o professor incompetente, irresponsável […] nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca” (Freire, 1996, p. 96).

Um bom professor faz a diferença, mas ele sozinho não conseguirá o sucesso da aprendizagem. O aluno precisa ter vontade de aprender. É claro que precisa das intervenções do educador para terem essa vontade. Nesse sentido, o professor deverá intervir de para proporcionar aos alunos a troca de conhecimentos, para então notarem os significados nas atividades, certamente aprenderão mais contribuindo uns com outros no saber e assim sendo protagonista da aprendizagem. 

Sobre isso, Grosbaum (2001, p.68) diz:

Professor é uma peça-chave no processo de aprendizagem de seus alunos, mas não é a única. Os próprios colegas constituem, em determinadas circunstâncias, influência educativa importante na aprendizagem, um papel antes reservado apenas ao professor. Mas por que se diz em algumas circunstâncias? Na verdade, porque é sobretudo em atividades que envolvem colaboração que os alunos conseguem atuar como docentes, ensinando seus companheiros. Se a atividade for competitiva, pouco ou nenhum impacto é observado: um aluno impõe seu ponto de vista aos outros, e ponto final. De igual maneira, nada se ganha quando não há o que trocar. Esse é caso quando todos têm a mesma visão sobre o assunto. Em tarefas de colaboração, por sua vez, o resultado na aprendizagem é evidente: todos progridem mais do que em atividades realizadas individualmente pelos mesmos alunos (Grosbaum 2001, p.68).

O trabalho com propósito de aprendizagem se torna realmente em aprendizagem quando o docente faz sentido à sua aula. Encorajando os alunos a agir em busca de sua aprendizagem. Uma atividade em grupo na qual os educandos se envolvem, se socializam, trocando conhecimentos, fazendo com que toda a turma participe com suas ideias orientadas pelo professor é, de fato, marcante, pois estimula o progresso da turma.

O processo de aprendizagem exige raciocínio lógico, e não há dúvidas de que a aquisição de habilidades ocorre com mais eficácia quando o ambiente escolar é verdadeiramente propício à aprendizagem. No entanto, um ambiente considerado significativo não se resume à presença de cartazes ou livros com múltiplos textos. Embora esses elementos possam contribuir visualmente, sua eficácia depende da mediação pedagógica. Se o professor não souber integrá-los adequadamente às práticas de ensino, arriscam se tornar apenas ornamentos decorativos, sem impacto real no desenvolvimento dos alunos.

2.2 A Leitura como Prática Social e Formativa no Espaço Escolar

Entre todos os povos, por mais diferente que sejam suas características culturais, há algo em comum a todos: a utilização da leitura como instrumento para a construção de vários outros conhecimentos e habilidades que os tornam sujeitos atuantes no mundo, tanto intelectual quanto emocional, psicológica e afetivamente.

A leitura é um processo de compreensão dinâmico e abrangente, que envolve múltiplas dimensões – sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicas, neurológicas, culturais, econômicas e políticas. Nesse sentido, a leitura e a escrita desempenham um papel importante no desenvolvimento integral do aluno, ampliando suas capacidades cognitivas e sua inserção crítica na sociedade.

Grande parte do conhecimento humano é adquirida por meio da leitura,  evidenciando a importância de promover, no ambiente escolar, condições adequadas para que essa habilidade seja desenvolvida com qualidade. Ler com regularidade e continuamente textos de diferentes tipos, gêneros e portadores textuais permite ao aluno interpretar, comparar e reconhecer os elementos fundamentais de um conteúdo, favorecendo o enriquecimento vocabular e a liberdade de expressão, mas também o exercício pleno da cidadania. Como destaca Freire (1989, p. 13), “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”, revelando que o ato de ler está intrinsecamente ligado à prática social e à transformação da realidade.

As ideias defendidas por Freire (1989) quanto à leitura fortalecem a compreensão de que ler não é algo mecânico, mas uma ação consciente que necessita de competências anteriores e elementos intra e extra pessoais no contexto em que o sujeito está inserido. A leitura é uma das habilidades consideradas complexas, que está envolvida no processo de aquisição da linguagem verbal, ao lado da escrita, da fala e da escuta. A leitura é consolidada a partir do domínio da lectoescrita, que envolve duas operações fundamentais: a decodificação e a compreensão.

Decodificar é identificar em uma língua o signo gráfico, a letra, por um nome ou por um som. Compreender é dar sentido ao conteúdo da mensagem escrita no ato da leitura. Nesse processo, o repertório cultural e cognitivo do leitor desempenha um papel essencial, influenciando diretamente a profundidade da compreensão alcançada.

Historicamente, o ato de ler era compreendido somente com simples decifração de códigos. Hoje, no entanto, este conceito demonstra-se inadequado, visto que a leitura é reconhecida como um processo complexo de interação entre o autor, o texto e o leitor. Nessa perspectiva, a escola deve, desde a educação básica, implementar estratégias e técnicas que favoreçam o desenvolvimento das múltiplas habilidades leitoras, contribuindo para que o ensino da leitura seja significativo e de qualidade.

Além da escola, o ambiente familiar exerce influência decisiva na formação leitora dos educandos. Por isso, é fundamental haver uma parceria efetiva entre escola e família, promovendo ações integradas que favoreçam o engajamento dos responsáveis no processo de aprendizagem dos alunos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental trazem a seguinte designação para a leitura: 

A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificar letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p. 69).

No que se refere às concepções contemporâneas sobre leitura, é fundamental que elas sejam efetivamente incorporadas à prática pedagógica, de modo a consolidar um trabalho mais eficaz no ensino desse conteúdo em sala de aula. Como afirma Lajolo (1982, p. 59), “ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto”, mas sim conseguir atribuir-lhe significado, relacioná-lo a outros textos e, de forma crítica, aceitar ou rejeitar as intenções do autor, propondo novas interpretações.

Percebe-se, ao longo de todas as ideias e concepções até aqui discutidas, que há pontos em comuns que levam a compreender a leitura como uma atividade repleta de elementos que integram o leitor de forma dinâmica e articulada, promovendo um processo de interação constante e critico diante do material escrito. Trata-se de um diálogo concreto entre texto, autor e leitor.

Compreender uma língua e usá-la corretamente, explorando-a em suas diferentes situações e possibilidades comunicativas, vai além da simples decodificação de signos ou da escrita ortograficamente correta das palavras. Trata-se, sobretudo, da capacidade de “ler” seus significados culturais e com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem, interpretam e representam a realidade, de forma atuante, indo além dos atos subjetivos, sendo, portanto atores críticos e participativos.

É importante destacar que a leitura, enquanto elemento central do processo de construção do conhecimento, deve ser desenvolvida de maneira sistemática e gradual. Mais do que uma habilidade técnica, a leitura deve ser cultivada como um hábito prazeroso e permanente. Para isso, é importante que o professor seja um modelo de leitor proficiente, demonstrando apreço por diferentes gêneros, fontes e tipos de texto. É por meio da leitura que o estudante amplia sua compreensão das demais áreas do conhecimento, desenvolve raciocínio mais elaborado, organiza melhor suas ideias ao escrever e reduz erros ortográficos. O hábito contínuo da leitura proporciona, de forma natural, o domínio das estruturas linguísticas, amplia o vocabulário e contribui para a formação de sujeitos mais críticos, participativos e autônomos.

Por isso é fundamental que os adultos e jovens sejam exemplos de leitores para as crianças. Pais, avós, professores e demais membros familiares devem introduzir os livros no cotidiano das crianças, mesmo antes de não saber ler. Essa prática contribui para o desenvolvimento do prazer pela leitura, já que o hábito leitor se constrói por meio da repetição constante e do envolvimento afetivo com os textos.

2.3 Estratégias Pedagógicas para o Desenvolvimento do Hábito Leitor

Muitos alunos apresentam dificuldades no processo de aprendizagem da leitura. Essas dificuldades, na maioria, estão associadas à ausência de motivação e de interesse pelo conteúdo trabalhado em sala de aula. Em muitos casos, os estudantes não são incentivados a ler em seus ambientes familiares, fazendo com que a responsabilidade por esse estímulo recaia quase exclusivamente sobre a escola. 

No contexto escolar, a motivação dos alunos é um aspecto complexo, dinâmico e dependente de múltiplos fatores. Tapia e Fita (2000) destacam que, embora esse processo seja marcado por sua natureza contextual e desafiadora, é possível repensar práticas pedagógicas para manter ou recuperar o interesse dos estudantes pela aprendizagem. Nesse cenário, cabe à sociedade e aos órgãos públicos buscar soluções amplas e estruturais, enquanto aos professores e equipes docentes cabe refletir sobre suas ações pedagógicas e propor estratégias significativas no cotidiano escolar.

A motivação para a aprendizagem da leitura, portanto, não depende somente do aluno, mas está diretamente relacionada ao meio em que ele vive e à forma como esse processo é conduzido. Daí a importância de o professor refletir continuamente sobre sua prática pedagógica, buscando estratégias que favoreçam o engajamento dos estudantes, uma vez que a postura docente é fator decisivo para uma aprendizagem eficaz.

Os docentes devem promover uma ocupação contínua dos espaços de leitura disponíveis na escola, especialmente da biblioteca, organizando atividades culturais que envolvam todos os departamentos da instituição. Essa atuação contribui para demonstrar que a leitura não é uma prática pedagógica exclusiva das aulas de Língua Portuguesa, mas uma competência transversal a todas as áreas do conhecimento. Para isso, é essencial desenvolver propostas interativas que se mostrem tão eficazes quanto as atividades em sala de aula, caracterizando um processo educativo interdisciplinar, no qual todas as disciplinas participem ativamente de ações regulares voltadas à leitura.

A escolha de temas de interesse dos alunos é uma estratégia eficaz de motivação. Em geral, os estudantes demonstram interesse por temas específicos que aparecem em diferentes mídias, como livros, filmes, séries e revistas. Nesse sentido, é interessante realizar um levantamento desses temas, propor discussões a partir deles e indicar obras literárias que dialoguem com essas preferências. Para que isso ocorra eficazmente, é indispensável que o professor seja também um leitor habituado e entusiasta.

Ao refletir sobre o papel do educador na formação de leitores, Lajolo (2000) defende que a leitura deve ser compreendida como uma prática prazerosa e essencial à docência, especialmente em uma sociedade que busca se democratizar. Segundo a autora:

A discussão sobre a leitura, principalmente sobre a leitura numa sociedade que pretende democratizar-se, começa dizendo que os profissionais mais diretamente responsáveis pela iniciação na leitura devem ser bons leitores. Um professor precisa gostar de ler, precisa ler muito, precisa envolver-se com o que lê (LAJOLO, 2000, p. 108).

Além dos textos impressos, os recursos audiovisuais também são aliados importantes na promoção da leitura. Uma proposta interessante é a construção de uma videoteca na escola ou a realização de um levantamento de romances brasileiros adaptados para o cinema, permitindo aos alunos comparar as obras literárias com suas versões cinematográficas, analisando as diferenças e semelhanças entre os suportes.

A dramatização de textos literários configura-se como uma estratégia para despertar o prazer e o interesse dos alunos por determinados autores ou gêneros. Ao vivenciarem os textos de forma corporal e expressiva, os estudantes desenvolvem maior envolvimento com a obra, ampliando sua compreensão estética e crítica da literatura. O texto literário, como ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais, “constitui uma forma peculiar de representação e estilo em que predominam a força criativa da imaginação e a intenção estética. Não é mera fantasia […] nem é puro exercício lúdico sobre as formas e sentidos da linguagem e da língua” (BRASIL, 1998, p. 26).

Segundo Freire (1993), “ler o mundo pode significar apropriar-se das diversas formas de pensar que ecoam neste planeta e das diversas formas de explicar os fenômenos que ocorrem em nosso cotidiano”. Nessa perspectiva, a leitura ultrapassa os limites do texto escrito e se torna uma prática social e cultural que permite ao sujeito interpretar a realidade à sua volta.

A relação do aluno com a diversidade textual constitui o primeiro passo para um trabalho eficaz no ambiente escolar, voltado à aquisição e ao desenvolvimento da leitura. Quanto mais variados forem os textos e os suportes oferecidos, maior será a chance de envolvimento e identificação por parte dos estudantes.

A leitura, assim compreendida, deve possibilitar a manifestação de sentimentos, pensamentos e histórias por meio das mais diversas modalidades da linguagem. Para isso, é necessário que a escola promova um ambiente leitor dinâmico, que valorize a diversidade textual, o prazer estético e a formação crítica dos estudantes, consolidando a leitura como uma prática cotidiana e transformadora.

3. METODOLOGIA 

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem bibliográfica, pautada na análise e interpretação de contribuições teóricas que discutem a leitura como prática social, formativa e transformadora no contexto escolar.

A escolha da abordagem qualitativa justifica-se pela intenção de compreender os sentidos atribuídos ao ato de ler no processo de alfabetização, bem como refletir sobre o papel da mediação pedagógica e das estratégias motivacionais no desenvolvimento do hábito leitor. Por meio da análise de produções acadêmicas e obras de referência, busca-se ampliar a compreensão sobre os desafios e possibilidades que envolvem a formação de leitores críticos.

A pesquisa fundamenta-se em autores como Paulo Freire (1981, 1993, 1996), Lajolo (1982, 2000), Tapia e Fita (1999, 2000) e Grosbaum (2001), cujas contribuições foram selecionadas por sua relevância no campo da Educação, especialmente no que se refere à leitura, à alfabetização e à formação de sujeitos autônomos e conscientes. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leitura, compreendida como prática social e formativa, constitui um elemento essencial no processo de alfabetização e no desenvolvimento integral dos estudantes. Ao longo deste artigo, discutiu-se a importância de promover, no ambiente escolar, ações que favoreçam o hábito da leitura, valorizando o papel do professor como mediador e da escola como espaço de formação crítica e emancipadora.

A fundamentação teórica evidenciou que a leitura vai além da decodificação de palavras: ela exige compreensão, envolvimento, reflexão e vínculo com a realidade do leitor. Nesse sentido, torna-se fundamental que as práticas pedagógicas estejam alinhadas a estratégias motivadoras, diversificadas e significativas, capazes de despertar o interesse dos alunos e fortalecer sua autonomia como leitores.

Além disso, o estudo demonstrou que a construção do hábito leitor não depende exclusivamente da escola, mas requer a articulação com a família e a comunidade, para que o incentivo à leitura esteja presente em diferentes espaços sociais. A formação de leitores críticos e participativos exige ações intencionais, contínuas e sensíveis às particularidades de cada contexto educacional.

Diante disso, reafirma-se a necessidade de que professores estejam em constante reflexão sobre sua prática e sejam, eles próprios, leitores engajados, capazes de inspirar seus alunos. Espera-se que esta discussão contribua para fortalecer o compromisso da escola com a formação leitora e sirva de subsídio para novas investigações sobre o tema no campo da Educação.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental: Língua Portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 69-70.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 24. ed. São Paulo: Cortez, 1989.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LAJOLO, Marisa. A leitura: escola e sociedade. 9. ed. São Paulo: Contexto, 1982.

GROSSBAUM, Beatriz. Alfabetização: o que é, como se faz. São Paulo: Ática, 2001.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 15. ed. São Paulo: Ática, 2000.

MOREIRA, Marco Antônio; MASINI, Elcie F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Centauro, 2006.

TAPIA, José A.; FITA, Daniel. Aprender a ler: um enfoque psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2000.


 1Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), licenciada em Pedagogia e Letras pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). E-mail: elianetargino@hotmail.com.
 2Doutora em Letras: Linguística e Língua Portuguesa e Psicopedagoga com ênfase em Educação Especial. E-mail: mariaalzira35@gmail.com