LABORATÓRIO CRIATIVO INCLUSIVO: PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DO DESENHO GEOMÉTRICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7622989


Luciene Maria de Souza Zanardi1
José Rodolfo Ribeiro Tavares
Isabel Barros Fiaux dos Santos
Maria Cecília da Silva Barros


Resumo

O presente artigo descreve a elaboração e uso de materiais didáticos adaptados para o ensino de Geometria Descritiva, particularmente voltado aos alunos com necessidades específicas, atendidos pelo Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas do Colégio Pedro II (NAPNE/CPII). Dessa forma, adequou-se o ensino de Geometria Descritiva, evidenciando o papel das representações gráficas no aprendizado, por meio da elaboração de materiais que possibilitaram atender às necessidades desses alunos. A produção dos materiais didáticos ocorreu no contexto da própria disciplina, ou seja, com adaptações dos professores regentes de turma e os alunos da iniciação científica, orientados pelos referidos docentes, os quais propuseram sugestões do que poderia ser melhorado no material desenvolvido. A partir das percepções, os alunos atendidos sentiram-se acolhidos e, consequentemente, mais motivados para o estudo da disciplina, de modo que o material adaptado continua a ser utilizado pelo núcleo, sendo aprimorado de acordo com as necessidades dos novos alunos.

Palavras-chave: Inclusão, Geometria Descritiva, materiais didáticos

Abstract

This paper describes the development and use of teaching materials adapted for teaching Geometry Descriptive, particularly aimed at students with specific needs, assisted by the Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas at Colégio Pedro II (NAPNE/CPII). In this way, the teaching of Geometry Descriptive was adapted, highlighting the role of graphic representations in learning, through the elaboration of materials that made it possible to meet the needs of these students. The production of didactic materials took place in the context of the discipline itself, that is, with adaptations by the class teachers and the scientific initiation students, guided by the aforementioned professors, who proposed suggestions of what could be improved in the developed material. From the perceptions, the assisted students felt welcomed and, consequently, more motivated to study the discipline, so that the adapted material continues to be used by the core, being improved according to the needs of new students.

Keywords: Inclusion, Geometry Descriptive, teaching materials

1 Introdução

O projeto de pesquisa e de desenvolvimento de materiais didáticos de que trata o presente artigo foi criado com vistas a suprir a necessidade de recursos pedagógicos  voltados ao atendimento dos alunos assistidos pelo Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas  do Colégio Pedro II (NAPNE/CPII), especificamente no que se refere à disciplina de Desenho Geométrico.

O NAPNE se configura como um espaço pedagógico que atende a alunos com necessidades específicas, tais como: deficiências física, mental, intelectual ou sensorial; alunos com transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e com TEA alunos com altas habilidades (AH/SD); alunos com transtornos ou dificuldades de aprendizagem, em geral.

No decorrer do projeto, foram elaborados materiais que possibilitaram atender às necessidades específicas dos alunos que frequentam o núcleo, com ênfase nos alunos com deficiência visual e surdos. Em seu desenvolvimento, os materiais serviram de suporte juntamente à apostila institucional de Desenho do Ensino Médio dos Campi Duque de Caxias e São Cristóvão III, sendo o conteúdo baseado nos preceitos da Geometria Descritiva idealizada por Gaspard Monge.

Dois alunos da instituição, do Campus Duque de Caxias, se vincularam ao projeto na condição de bolsistas de iniciação científica júnior. Os materiais foram desenvolvidos através de diversos meios, tais como vídeos, maquetes, entre outras possibilidades que surgiram ao longo do processo. A produção contou com vídeo legendado, maquete física-interativa, além de animações desenvolvidas através do software Sketchup.2

Na primeira etapa, foram destacados os pontos mais densos da disciplina, em que é notória uma dificuldade por parte dos alunos. Em seguida, buscou-se adaptar tais conteúdos através de materiais de fácil aquisição e até mesmo recicláveis.

A motivação do projeto está na oferta da disciplina para os alunos que são atendidos pelo NAPNE. Nesse sentido, o objetivo do projeto é garantir o direito dos alunos com necessidades específicas ao ensino à disciplina de Desenho, no que se refere aos conteúdos de Geometria Descritiva, uma vez que acreditamos em sua importância para a formação desses alunos, a fim de que  assimilem esses saberes em suas interseções com o cotidiano  e desenvolvam  a visualização espacial mental  dentro de suas potencialidades.

2 Fundamentação Teórica da Inclusão Escolar

Na literatura sobre educação inclusiva, nota-se um amplo e profícuo debate a respeito das premissas epistemológicas e metodológicas das diferentes faces e desafios da inclusão. O estudo de Mendes (2006), por exemplo, foi o ponto de partida para o entendimento da inclusão escolar no Brasil, ao abordar as raízes históricas e o impasse que a educação especial vem sofrendo devido à realidade das instituições no nosso país.

Para caminharmos em direção a uma sociedade inclusiva, é importante que se tenha a preocupação e o cuidado com a linguagem que se transmite, principalmente em sala de aula, sendo ela linguagem corporal ou intelectual, sendo elas: oral, escrita, sonora, visual e corporal. Ao longo do tempo, a noção de Educação Inclusiva, que vem representando um avanço histórico em relação à noção obsoleta de Educação Especial integrada ao sistema regular de ensino como processo histórico e conceitual.

A Declaração de Salamanca (1994), um dos documentos de maior relevância para a Educação Inclusiva, aponta como diretriz que:

Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. (BRASIL, 1994, p.1)

Além disso, rumo à mesma direção, a  Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em seu Art. 24, prevê a:

Garantia de que a educação de pessoas, em particular crianças cegas, surdo, cegas e surdas, seja ministrada nas línguas e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao indivíduo e em ambientes que favoreçam ao máximo seu desenvolvimento acadêmico e social. (BRASIL, 2009, p. 50)

Dessa forma, essas políticas públicas demonstram que a escola tem um importante papel social como receptora inclusiva, por meio do atendimento prestado aos estudantes e pela constante busca em auxiliá-los em suas demandas. Assim, devem ser oferecidas bases para que educadores e demais profissionais da educação aprimorem e adaptem não só os conteúdos, como também a vivência desses alunos no ambiente escolar, para melhor atendê-los, mesmo que haja barreiras inerentes. 

Com a Resolução n.° 2/2001, que instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, se obteve um avanço na universalização à diversidade, na educação brasileira, com a seguinte orientação presente no Art. 2º:

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para a educação de qualidade para todos. (BRASIL, 2001, p. 1).

Além disso, abordar a questão da inclusão nas escolas é uma forma de preparar não só o aluno com a necessidade especial a viver na sociedade, desenvolvendo sua autonomia, mas também a de seus colegas ao lidar respeitosamente com o portador de necessidades específicas.

Portanto, a escola, como espaço fundamental da manifestação da diversidade, é fruto do repensar e da defesa à escolarização como princípio inclusivo. Independentemente das necessidades, a oferta de uma educação de qualidade é de suma importância para desenvolvermos a capacidade de lidarmos com a diversidade e as diferenças, reconhecendo as possibilidades e os direitos de todos.

3 Metodologia 

A apostila institucional do Colégio Pedro II é a base do estudo no que diz respeito aos conteúdos de Desenho Geométrico, por meio da qual o currículo é analisado e pontualmente adaptado a depender de cada necessidade específica.

Além deste documento, foram consultados também materiais, tais como livros, dissertações, teses e artigos para subsidiar o desenvolvimento da pesquisa. Apesar de todo esse embasamento, não se constitui foco deste artigo apresentar tais materiais, mas tentar buscar caminhos como possíveis adaptações de materiais de Desenho, visto que, os proponentes deste artigo pesquisaram em livros e artigos de congresso da área de Expressão Gráfica, e constataram que não há muitos materiais próprios com abordagens para as necessidades específicas.

Este projeto, desse modo, se baseia na metodologia de investigação experimental (Design-Based Research), também conhecida como pesquisa do desenvolvimento, a qual, de acordo com Barab e Squire (2004, p. 2) apud Matta et al. (2014, p. 25), se caracteriza como “uma série de procedimentos de investigação aplicados para o desenvolvimento de teorias, artefatos e práticas pedagógicas que sejam de potencial aplicação e utilidade em processos ensino-aprendizagem existentes”.

À vista disso, a produção dos materiais para esta pesquisa está baseada na teoria do Design-Based Research, aplicada na produção e no design de materiais educativos, em suas avaliações e resultados, que proporcionam ajustes de acordo com testes empíricos, atendendo às necessidades dos alunos do NAPNE. Tanto os autores deste estudo quanto os alunos envolvidos, fizeram parte do desenvolvimento e aprimoramento dos materiais, sendo responsáveis pelas melhorias do projeto através da contrapartida dos resultados.

Dessa maneira, o projeto se desenvolve de forma cíclica (Figura 1), por meio da qual, ao se produzir um material didático inclusivo, é utilizado e avaliado, tanto pelo educador quanto pelo educando, com vistas a traçar caminhos para que possa se aperfeiçoar o material produzido e pensar em novos meios para auxiliar a aprendizagem dos alunos com necessidades especiais. 

Figura 1 – Ciclo do desenvolvimento do projeto.

Fonte: Acervo dos autores (2019).

4 Materiais adaptados para Desenho

No decorrer do desenvolvimento dos materiais didáticos direcionados aos alunos do NAPNE foram testados e aprimorados com o intuito de gerar um acervo de materiais de consulta permanente aos alunos que necessitam de uma metodologia diferenciada. 

Identificados os alunos atendidos pelo NAPNE no Campus de Duque de Caxias e São Cristóvão e entendidas suas necessidades especiais quanto ao aprendizado da disciplina de Desenho, foram produzidos os materiais de acordo com os principais assuntos trabalhados na disciplina. Esses materiais destacam-se como importantes na formação dos alunos, sendo necessárias constantes adaptações, em alguns casos, no currículo.

Os materiais didáticos produzidos possuem características físicas, como por exemplo, maquetes táteis e também virtuais através de animações que auxiliam no entendimento de assuntos mais abstratos da disciplina.

Durante a confecção, foram estabelecidas estratégias para a testagem de tais materiais didáticos, em prol de possíveis melhorias, além da importância no momento da elaboração e da viabilidade de reprodução em série. Dessa forma, foram utilizados para a execução dos instrumentos didáticos inclusivos, como forma de facilitar a reprodução do mesmo.

Atualmente contamos com um acervo de sólidos em acrílico (Figura 2), destinado ao ensino das formas tridimensionais geométricas, maquetes de papel com sólidos posicionados sobre planos e materiais produzidos em baixo relevo e suas planificações.

Figura 2 – Sólidos em acrílico

Fonte: Loja do professor, acesso: 10/05/2019.
Disponível em: https://www.lojadoprofessor.com.br/materiais-de-apoio-pedagogico/solidos-geometricos-em-acrilico-10-pecas.

Durante o projeto foram construídos diversos tipos de sólidos geométricos (Figura 3). Os alunos com deficiência visual (cego e baixa visão) puderam ter a experiência de manipular os sólidos e a sua planificação em tamanho similar, facilitando o entendimento de conceitos geométricos e ampliando o repertório espacial.

Figura 3 – Poliedros e planificações em papel cartão

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Para um aluno, cego foi desenvolvido um material específico para sua necessidade: a épura por meios táteis e seu sólido de referência (Figura 4). A épura contava com diversas placas de isopor com desenhos criados por meio de um sulco com uma caneta. Assim, dependendo da posição do sólido no espaço em relação aos planos de projeção, o aluno cego tinha que colocar na épura as placas adequadas.

A partir da observação dos alunos com o material didático, o resultado foi satisfatório, pois com este material, os educandos adquiriram conceitos de localização do sólido no espaço em relação aos planos de projeção (π) e (π’), ampliando sua noção espacial.

Figura 4 – Épura tátil e sólido de referência

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Outro material criado durante o projeto foi o Desenho Isométrico em relevo (Figuras 5 e 6) que colaborou para o aluno entender um pouco sobre essa forma de representação de acordo com a posição espacial da caixa

Figura 5 – Desenho isométrico em relevo I.

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Figura 6 – Desenho isométrico em relevo II

Fonte: Acervo dos autores (2019).

As planificações manipuláveis com contornos em relevo (Figura 7 e 8) serviram para o aluno entender a formação dos sólidos, tocando em suas figuras e formas geométricas das faces, bem como fechando e formando o sólido. O contorno das faces foram reforçadas por cola relevo, sendo evidenciados com mais ênfase os polígonos de cada poliedro.

Figura 7 – Planificações manipuláveis com contorno em relevo I

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Figura 8 – Planificações manipuláveis com contorno em relevo II

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Esses materiais (Figura 3, 4, 5, 6, 7 e 8), foram desenvolvidos para alunos com deficiência visual, porém podem ser utilizados, aprimorados e adaptados para alunos sem necessidades específicas, dado seu caráter lúdico e construtivo. Veremos a seguir outros materiais produzidos durante o projeto.

As representações tridimensionais (Figura 9, 10, 11 e 12) foram modeladas no software Sketchup, sendo possível caracterizar os planos de projeção e suas respectivas vistas. 

Com base nos conteúdos de sólidos de revolução (Figura 9), foi possível elaborar maquetes 3D e suas respectivas animações, sendo assim até o presente momento, este material serve de apoio para as aulas de Desenho e este material já se encontra disponível para os demais professores do Departamento.

Figura 9 – Representação tridimensional dos sólidos de revolução

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Outros exemplos de conteúdos a serem adaptados, são as maquetes que abordam assuntos como o estudo de ponto, retas (Figura 10) e planos secantes (Figuras 11 e 12).

Figura 10 – Representação das retas Vertical e Fronto-Horizontal

Fonte: Acervo dos autores (2022).

 Os materiais irão compor um conjunto de vídeos contendo os principais assuntos introdutórios do Desenho Projetivo e Geometria Descritiva, auxiliando assim alunos não só com demandas específicas, pois todo material prevê aspectos visuais pela modelagem e descrição em libras e legenda e áudio descrição.

Figura 11 – Representação tridimensional dos sólidos de revolução

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Figura 12 – Representação tridimensional dos sólidos de revolução

Fonte: Acervo dos autores (2019).

Esses materiais oferecem ideias criativas para professores não só da área gráfica, como também de outras áreas, na medida em que, por meio de diversos recursos, o professor pode produzir uma série de materiais didáticos inclusivos, aproveitando recursos sustentáveis, de baixo custo e com oferta gratuita através de software.

Os vídeos apresentados a seguir foram criados para auxiliar os estudantes com dificuldade de aprendizagem em relação às vistas ortográficas de um objeto. Como apontado por Educause (2012), essa ferramenta permite autonomia aos estudantes e pode agregar um valor particular aos alunos “com problemas de acessibilidade, especialmente quando as legendas são fornecidas para aqueles com deficiência auditiva”3 (EDUCAUSE, 2012, p. 2, tradução nossa).

Por isso, esses vídeos explicativos possuem função complementar às aulas de conteúdos e permitem aos discentes acompanhar no ritmo que melhor os atenda. Assim, é possível retornar ou avançar a explicação uma ou várias vezes.  

Para além dos estudantes com dificuldades gerais de aprendizado, percebeu-se que esse tipo de recurso é viável para alunos com necessidades específicas. Com isso, algumas adaptações estão sendo executadas para melhor atendimento desse público.

As representações que aparecem nessas produções audiovisuais foram realizadas por meio do software gratuito denominado Geômetra, um programa de geometria dinâmica. Destaca-se ainda que todas as construções foram realizadas no seu ambiente 3D e foram representados três sólidos, conforme as maquetes presentes na Figura a seguir.

Figura 13 – Maquetes confeccionadas pelos estudantes da 2° série do Ensino Médio, Colégio Pedro Campus São Cristóvão, relativas ao trabalho da 1° Certificação.  

Fonte: Acervo dos autores (2022).

O primeiro passo, então, foi transportar as medidas para o ambiente 3D do software, a partir das planificações. Essa etapa não foi apresentada no vídeo explicativo, uma vez que o intuito era o estudante focar na representação das vistas, nos três planos de projeção principais (π, π’ e π’’). Logo, inicialmente são mostrados o objeto representado e os três planos de projeção.

Com o auxílio do programa Open Broadcaster Software (OBS Studio), foram gravados todos os movimentos de confecção das vistas e por meio do aplicativo CapCut – Video Editor, foram adicionadas falas, para um apoio auditivo do passo a passo das construções. Com isso, no total foram publicados três vídeos respectivos aos três modelos de sólidos (Figura 14). 

Figura 14Print screen dos vídeos publicados na rede social Instagram. 

Fonte: Barbosa (2022a).

O primeiro material possui as especificidades mencionadas anteriormente, enquanto que nos dois últimos também foram adicionadas legendas escritas em português. Logo, essa mudança entre o primeiro vídeo e os dois últimos está pautada nas considerações de Educause (2012), corroborada por Barbosa e Gonçalo (2022) ao afirmar que as legendas auxiliam pessoas com algum tipo de deficiência auditiva:

A necessidade de inserir ferramentas de acessibilidade nos vídeos é de fundamental importância para auxiliar no processo da verdadeira inclusão de pessoas com as mais diversas deficiências na escola (BARBOSA; GONÇALO, 2022, p. 9)

No caso, os vídeos publicados são acessíveis para pessoas surdas que tenham conhecimento da língua portuguesa e pessoas de baixa visão (Figura 15).  Conforme mencionado nos vídeos anteriores, pretende-se ainda incluir, junto com as legendas escritas, um profissional tradutor-intérprete de libras <> português para a tradução, tendo em vista que pessoas surdas não são necessariamente fluentes nas línguas escritas.

Figura 15 Print screen do terceiro vídeo publicado na rede social Instagram. 

Fonte: Barbosa (2022b).

A partir da disponibilização dos vídeos adaptados, notou-se uma melhor recepção no terceiro vídeo em relação ao primeiro, comprovada pelo quantitativo de curtidas e comentários. Ainda assim, não foi possível quantificar o número de estudantes que acessaram, dentro das necessidades específicas apontadas, devido ao fato de o meio de divulgação ter sido um perfil aberto ao público, na rede social Instagram. Infere-se, então, que esse material pode ser direcionado para pessoas com necessidades específicas, de forma que se torne um material didático viável para o ensino da Geometria Descritiva para esse público.

5 Conclusão

Trabalhar com a inclusão no Brasil se torna um desafio, pois a maioria dos professores não tiveram o devido preparo no curso de licenciatura (MENDES, 2006). Estes profissionais, quando se inserem no mercado de trabalho, necessitam buscar artifícios para adaptarem seus conteúdos em prol de uma inclusão satisfatória. 

Frente a esse cenário, notamos que o ensino do Desenho se torna ainda mais atravessado por desafios, pois a disciplina se apresenta de forma visual e muitas das vezes podemos ter em nossas turmas alunos cegos, surdos ou com deficiência intelectual. Assim, o professor de Desenho percebe algumas barreiras ao tentar apresentar conceitos e elementos geométricos para os alunos cegos ou com baixa visão, sendo conceitos demasiadamente abstratos para os cegos de nascença que nunca tiveram a oportunidade de enxergar. Os materiais didáticos são instrumentos auxiliares e desempenham um papel importante na construção da proposta pedagógica (DETTMAR, 2022).

A proposta do Laboratório Criativo Inclusivo apresentada neste artigo teve como objetivo iniciar a produção de materiais que atendam aos alunos do NAPNE e também demais alunos regulares, pois os modelos atendem a vários sentidos, sendo um projeto que ainda se encontra no início de suas produções. Nossa proposta vai ao encontro da utilização de materiais de baixo custo e também recicláveis, para que, assim, tais produções sejam reproduzidas por demais NAPNEs do Colégio Pedro II, tendo grandes pretensões caso venha a ser aderido por demais instituições que acreditam no ensino do Desenho Geométrico e na inclusão. 

Os modelos estão em constante modificação para que atendam cada vez mais o público alvo, além de contar com a colaboração dos próprios alunos na modalidade de iniciação científica e propagação em eventos acadêmicos. Dessa forma, o projeto segue em atividade produzindo diversos materiais inclusivos e aperfeiçoando-os, visando a promover e facilitar a aprendizagem dos alunos na disciplina de Desenho.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001, institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: CNE/CEB, 2001.

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BARBOSA, A. C.; GONÇALO, C. V. S. Produção de vídeos no ambiente escolar e sua utilização como ferramenta de avaliação da aprendizagem. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, v. 11, n. 5, pág. e43611528185-e43611528185, 2022.

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BARBOSA, M. C. S. Vistas Ortográficas: Modelo 3. Rio de Janeiro, 14 ago. 2022b. Instagram: @profa.desenho. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/ChPpunYDUTV/?igshid=YWJhMjlhZTc=. Acesso em: 13 dez. 2022.

COLÉGIO PEDRO II. Apostila institucional de Desenho. Departamento de Desenho / Campus Duque de Caxias. Vol. 1, 2 e 3. Rio de Janeiro. 2018.

DETTMAR, R. G. O ensino do desenho e suas não visualidades: desafios e avanços na produção docente de materiais acessíveis em escolas do Rio de Janeiro. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Técnicas de Representação Gráfica) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.

EDUCAUSE, Learning Initiative. 7 things you should know about flipped classrooms. Disponível em: https://library.educause.edu/-/media/files/library/2012/2/eli7081-pdf.pdf.  Acesso em: 13 dez. 2022. 

MATTA, A. E. R.; SILVA, F. P. S.; BOAVENTURA, E. M. Design-basedresearch ou pesquisa de desenvolvimento: metodologia para pesquisa aplicada de inovação em educação do século XXI. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 42, p. 23-36, jul/dez. 2014.MENDES, E. G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação. Volume 11, n° 33, set/dez. 2006.


1Matemático nascido em Beaune em Paris – França em 10 de maio de 1746, criador da Geometria Descritiva e autor do Application de l’analyse à la géométrie, faleceu em 28 de julho de 1818.
2Software de modelagem tridimensional desenvolvido em meados de 2000 pela Trimble Navigation, após @Last Software; e atualmente faz parte da Google.
3“They can watch, rewind, and fast-forward as needed. This ability may be of particular value to students with accessibility concerns, especially where captions are provided for those with hearing impairments.” (EDUCAUSE, 2012, p. 2)