REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10938721
Danilo Américo Pereira da Silva
Hugo Fernando Costa Saranholi
Helder Maioli Alvarenga
Thiago Fernandes da Silva
Keila Cruz Lima
Ana Emanuella Santiago De Oliveira Gonçalves
Evelyn Camily Ackes de Carvalho
Bianca Rodrigues Silva
RESUMO
Este trabalho investiga o uso do jogo Call of Duty: WWII (Sledgehammer Games, 2017) como ferramenta de ensino de História na educação básica. O enredo do jogo gira em torno de eventos da Segunda Guerra Mundial. Entre os personagens jogáveis da aventura está Rousseau, uma espiã e integrante da Resistência Francesa. Proporcionando uma experiência imersiva em primeira pessoa, o jogo digital transporta ludicamente os jogadores para ambientes com temática histórica (SOARES, 2018). A pesquisa analisa o jogo e sua representação hipotética (LAKOMY, 2008), acerca da Segunda Guerra Mundial e as operações de infiltração e sabotagem de Rousseau, relacionando-as com histórias de espionagem feminina no conflito. Esta proposta se alinha com o uso das Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs) já estabelecidas pela BNCC (BRASIL, 2017) e LDB (BRASIL, 1996). Avaliamos o potencial do jogo como ferramenta de ensino em História e interpretamos o impacto da representação da espionagem feminina no jogo.
Palavras-chave: Ensino de História. Jogos Digitais. Segunda Guerra Mundial. Espionagem Feminina. Educação Básica.
1. INTRODUÇÃO
Quando refletimos sobre a Segunda Guerra Mundial, geralmente nossas mentes se voltam para imagens de bombas, tanques, aviões e outros elementos visíveis do conflito. No entanto, há uma história obscura e intrigante que muitas vezes passa despercebida: a das pessoas que operam nas sombras, deixando poucos rastros de sua presença e causando estragos sem mostrar ‘garras e dentes’. Em nosso estudo, stas pessoas, ou melhor dizendo, estas heroínas eram as espiãs da Segunda Guerra Mundial, mestras na arte da invisibilidade, capazes de infiltrar-se nos sistemas inimigos sem que ninguém suspeitasse.
Sabemos que, ao longo da história, as mulheres muitas vezes foram consideradas como seres frágeis e limitadas em suas capacidades devido ao seu gênero. Essa percepção persiste em algumas partes da sociedade até hoje, embora nos séculos passados fosse ainda mais predominante. No entanto, foi exatamente essa noção errônea de que as mulheres eram seres inferiores que, ironicamente, as tornou excepcionais candidatas para um dos trabalhos mais temidos e secretos da guerra: a espionagem.
No decorrer da Segunda Guerra Mundial, as mulheres espiãs demonstraram uma coragem indomável e habilidades excepcionais para operar nas sombras. Elas não só desafiaram as expectativas de gênero da sociedade da época, mas também desempenharam um papel vital no esforço de guerra, fornecendo informações cruciais, sabotando operações inimigas e contribuindo para a vitória dos Aliados.
Este é o relato de “mulheres invisíveis”, que, muitas vezes não receberam o reconhecimento merecido, mas cujas contribuições e feitos extraordinários devem ser lembrados e celebrados como parte essencial da história da Segunda Guerra Mundial.
1.1. Nancy Wake e Virginia Hall.
Nancy Grace Augusta Wake, nascida em 1912 na Nova Zelândia, teve uma vida extraordinária que a levou a desempenhar um papel crucial na resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Após fugir de casa aos 16 anos e trabalhar como jornalista em Nova York e Londres, ela se estabeleceu em Paris na década de 1930.
No auge do nazismo, Nancy testemunhou os horrores cometidos pelos nazistas, o que a motivou a fazer a diferença. Apelidada de “Rato Branco” pela Gestapo, ela era especialista em escapar dos nazistas, muitas vezes usando disfarces e charme para passar despercebida (AVENTURAS NA HISTÓRIA, 2020).
Nancy desempenhou um papel vital na obtenção de informações sigilosas que prepararam o terreno para o famoso “Dia D” em 6 de junho de 1944, quando as forças aliadas iniciaram a libertação da Europa do domínio nazista. Ela enfrentou inúmeros perigos, sendo uma das pessoas mais procuradas pela polícia nazista. Mesmo sob vigilância constante, Nancy não deixou que nada a detivesse em sua missão.
Após a guerra, Nancy Wake foi reconhecida por sua bravura com várias condecorações, incluindo a Cruz de Guerra e a Medalha De George. Ela também descobriu que seu marido havia morrido por se recusar a fornecer informações aos nazistas. Após seu serviço heróico, Nancy trabalhou nas embaixadas britânicas em Paris e Praga, continuando a servir seu país. Ela faleceu em 2011, deixando um legado duradouro de coragem e determinação. Um monumento em sua homenagem foi erguido em sua cidade natal, Wellington, em 2010, para lembrar a incrível vida e feitos de Nancy Grace Augusta Wake.
Virginia Hall foi uma figura extraordinária da Segunda Guerra Mundial. Nascida em 1906 em Baltimore, Maryland, ela teve uma educação privilegiada, estudando línguas na Europa com o apoio de seus pais. No entanto, sua vida mudou drasticamente em 1932 quando um acidente na Turquia resultou na amputação de sua perna esquerda, levando-a a usar uma prótese de madeira chamada “Cuthbert”.
Quando a guerra estourou, Virginia estava em Paris, e sua jornada corajosa começou. Ela se juntou ao serviço de ambulância e resgate e, mais tarde, se voluntariou para o “Special Operations Executive” (SOE), uma organização britânica secreta de sabotagem e inteligência. Mesmo com a SOE inicialmente proibida de enviar mulheres para o front, Virginia Hall foi recrutada devido à sua coragem.
Sob várias identidades falsas, incluindo “Marcelle Montagne” e o codinome “Diane”, ela conseguiu enganar a Gestapo e fornecer informações cruciais à resistência francesa. Virgínia se tornou conhecida como “a dama que manca” pelos franceses e foi a mulher mais procurada pelos nazistas (AVENTURAS NA HISTÓRIA, 2021) .
Suas missões incluíam organizar redes de resistência, repassar informações estratégicas e treinar forças locais. Ela também desempenhou um papel vital na preparação dos soldados para o Dia D.
Após a guerra, Virginia Hall se casou e ingressou na CIA, onde enfrentou desafios devido ao preconceito de gênero. Sua história é uma lição de coragem e determinação em face da adversidade, e seu legado perdura como um exemplo inspirador de heroísmo na Segunda Guerra Mundial e na luta pela igualdade de gênero. Ela faleceu em 1982, deixando uma marca indelével na história.
1.2. Feminilidade como Arma
A maioria dos estudos concernentes à participação feminina em conflitos armados tradicionalmente associa tal envolvimento a atividades como enfermagem, interpretação de fotografias aéreas, controle de tráfego e vigilância aérea. Nossa abordagem neste artigo, entretanto, direciona-se a um espectro distinto de práticas desempenhadas por um contingente de mulheres: o engajamento direto no combate contra o inimigo por meio de atividades de espionagem por trás das linhas inimigas.
A linguagem corporal feminina é uma poderosa manifestação dos sentimentos e emoções, especialmente no contexto da conquista. As mulheres geralmente têm uma habilidade natural para se expressar por meio da linguagem corporal, mas muitas vezes seus sinais não são tão evidentes. Muitas vezes, elas tentam não demonstrar seus sentimentos, adotando posições que podem até mesmo intimidar os homens, dependendo da situação. Isso pode variar desde demonstrar vulnerabilidade até assertividade, de acordo com o contexto. Uma interpretação sensível da linguagem corporal pode facilitar a comunicação social em diversas situações.
Um exemplo notável do poder das mulheres e sua capacidade de se adaptar às circunstâncias ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Nesse período, as mulheres começaram a substituir os homens em diversas funções, inclusive nas fábricas, desafiando a antiga ideia de que “o lugar da mulher é na cozinha”. Apesar de não terem sido convocadas para o alistamento militar, muitas mulheres assumiram papéis militares cruciais, atuando como enfermeiras, espiãs e até mesmo combatentes nas trincheiras (NEVES, 2015, p.73).
Ao longo dos anos, as mulheres têm se destacado e provado que são tão capazes quanto os homens em várias áreas. Em alguns casos, sua feminilidade foi usada a seu favor, como quando atuaram como espiãs, pois raramente eram suspeitas. Em uma pesquisa, cientistas descobriram que as mulheres podem ser mais eficazes em tais funções do que os homens, pois são percebidas como menos ameaçadoras, levando os homens minutos para perceber o perigo, enquanto as mulheres identificam a ameaça em questão de segundos (SOUZA, 2015, p. 40-41).
A força das mulheres tem servido de inspiração para outras mulheres, encorajando-as a perseguir seus objetivos e perceber que não existem limites para seus sonhos. Com o tempo, as mulheres têm conquistado seu lugar merecido na sociedade, buscando igualdade de oportunidades. Elas também usaram sua identidade de gênero com orgulho e coragem para ajudar suas nações.
As histórias e a cultura que celebram as realizações das mulheres têm sido transmitidas de geração em geração, cativando os corações das pessoas e destacando cada vez mais o poder feminino. As mulheres são conhecidas por sua observação atenta e por não deixarem nada passar despercebido.
1.3. A França no contexto da 2a Guerra Mundial
No livro “Era dos Extremos: o breve século XX”, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o renomado autor marxista Eric Hobsbawm assinala o início de uma era de conflitos caracterizada por ele como “Guerra Total”. Para ele, tanto a Primeira quanto a Segunda Guerra Mundial eram componentes inseparáveis de um conflito único e contínuo. Embasado nessa perspectiva, ele enfatiza as distinções cruciais entre esse tipo de confronto e os conflitos anteriores, apresentando argumentos que justificam a classificação desses eventos como guerras totais (HOBSBAWM, 1995, p.25).
O século XX marcou o advento de uma modalidade de conflito até então sem precedentes na história da humanidade que abrangeu múltiplas esferas das sociedades globais, interferindo de forma significativa na política, na economia e na ciência e tecnologia. De acordo com o autor, entre os anos de 1914 e 1945, ocorreram dois eventos cruciais que alteraram profundamente as estruturas geopolíticas e socioeconômicas em escala global: a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial. Além disso, esses conflitos trouxeram consigo uma nova concepção de paz, contrastando com as noções preexistentes (HOBSBAWM, 1995, p.26).
No ano de 1940, antes de Hitler considerar a invasão da França na Segunda Guerra Mundial, os franceses já estavam preparados para o caso de uma possível invasão alemã. Criaram um sistema defensivo mediterrâneo bem elaborado conhecido como a Linha Maginot. Esta linha consistia em uma série de estruturas resistentes e seguras, projetadas para retardar o avanço alemão na fronteira francesa (SILVA, s.d.). Ela se estendia por mais de 100 quilômetros, com 108 edifícios principais localizados a uma distância de 15 quilômetros um do outro. No entanto, os franceses cometeram o erro de subestimar a vulnerabilidade dos Países Baixos, permitindo, de certa forma, que o exército alemão avançasse rapidamente através desse território. Isso impulsionou o avanço alemão.
Apesar disso, os franceses ainda estavam determinados a lutar, pois possuíam excelentes soldados. Quando os alemães iniciaram suas invasões em 10 de maio de 1940, a França contava com um exército composto por 3 milhões de soldados de várias nacionalidades e armamentos pesados, incluindo tanques de guerra, aviões de bombardeio e motocicletas. Os alemães se destacavam pela experiência e pelas táticas inovadoras na utilização de veículos em campos de batalha.
No entanto, a França cometeu o erro de não investir o suficiente em reforços para os pontos vulneráveis e estratégicos do campo de batalha, subestimando a capacidade alemã de avançar rapidamente. Eles continuaram a adotar estratégias da Primeira Guerra Mundial, em vez de se adaptarem às novas táticas de guerra relâmpago introduzidas pelos alemães.
As ações de Hitler, como sua visita aos territórios ocupados pelos alemães e a assinatura do armistício que resultou na ocupação da metade norte da França, incluindo Paris, tiveram um impacto significativo. Além disso, a expulsão de Charles De Gaulle do exército francês, que ainda estava disposto a lutar contra a Alemanha, demonstrou as contradições na resposta francesa à invasão.
Em 24 de junho, os franceses e os italianos concordaram em encerrar a guerra, marcando o fim definitivo da Batalha da França. Antes dessa batalha, os militares ocidentais, em particular os britânicos e franceses, mantiveram táticas da Primeira Guerra Mundial. No entanto, com a Batalha da França, eles foram confrontados com novas táticas baseadas na integração e mobilidade das forças terrestres e aéreas, o que levou à guerra relâmpago.
Os franceses subestimavam o valor dos blindados em combate, enquanto os alemães os consideravam peças centrais nas batalhas, demonstrando sua habilidade em mover esses veículos de forma eficaz.
A retomada francesa começou quando Charles De Gaulle iniciou seu movimento, apoiado pelas Operações Especiais Executivas (EOE). O uso de espiões desempenhou um papel crucial na resistência francesa, realizando sabotagens e fornecendo informações valiosas. As ações incluíram falsificação de documentos para evitar suspeitas e causar interrupções nos transportes alemães. Tudo isso levou a uma grande reconquista, impulsionada pela coragem e determinação dos franceses.
1.4. Sobre CoD:WWII
Call of Duty: WWII é um jogo cuja história se baseia nos eventos da Segunda Guerra Mundial, especificamente no período de 1944 a 1945, em um cenário de batalha europeu. O jogo abrange locais cruciais, como a França, Bélgica e as margens do Rio Reno, culminando na Alemanha. Uma característica notável deste jogo é o esforço para representar a brutalidade e as dificuldades enfrentadas por soldados naquela época, bem como a diversidade de armas e cenários que retratam a Segunda Guerra Mundial com precisão.
A jogabilidade de Call of Duty: WWII se destaca pela sua ação intensa. A campanha principal coloca o jogador na pele de um soldado que depende de seus companheiros de esquadrão, incluindo um médico, para sobreviver. Isso proporciona uma experiência de trabalho em equipe realista, refletindo os desafios enfrentados pelos soldados na guerra. Ao longo do jogo, os momentos cruciais da Segunda Guerra Mundial são retratados, incluindo o Dia D, a Operação Cobra, a Libertação de Paris, a Batalha de Aachen, a Batalha da Floresta e a Batalha das Ardenas. O objetivo é proporcionar ao jogador uma compreensão genuína da brutalidade do conflito.
Além da campanha, o jogo oferece um modo multijogador com recursos inovadores, como um novo quartel, novas divisões e um modo de guerra. O multijogador de Call of Duty: WWII marca o retorno empolgante da série às suas raízes na Segunda Guerra Mundial, com mapas e armas autênticos que enriquecem a experiência.
Desenvolvido pela Sledgehammer Games e distribuído pela Activision, Call of Duty: WWII foi anunciado em 21 de abril de 2017 e lançado globalmente em 3 de novembro de 2017, disponível para PlayStation 4, Xbox One e Microsoft Windows. O jogo, projetado por Glen Schofield e Michael Condrey, transporta os jogadores para o maior conflito bélico da história, onde os riscos eram imensos e heróis comuns estavam dispostos a fazer sacrifícios extraordinários para combater a opressão nazista.
O sucesso de Call of Duty: WWII é notável. O jogo recebeu aclamação da crítica e dos fãs, alcançando mais de 500 milhões de dólares em vendas nos primeiros três dias de lançamento. No final de 2017, tinha mais de 20 milhões de jogadores ativos e gerou uma rica comunidade de jogadores, streamers, resenhas, documentários e pesquisas, consolidando seu lugar na história da franquia.
2. JUSTIFICATIVA
A escolha do tema de pesquisa se fundamenta em uma série de razões que serão detalhadas a seguir.
Em primeiro lugar, considera-se a necessidade premente de inovação e atualização dos métodos de ensino de História, visando tornar o aprendizado mais atrativo e eficaz para os estudantes da Educação Básica. A inserção de recursos digitais e lúdicos no processo educativo, como é o caso do jogo Call of Duty: WWII, pode despertar o interesse dos alunos e facilitar a compreensão de eventos históricos complexos, como é o caso da Segunda Guerra Mundial.
Além disso, a escolha específica do tema da espionagem feminina durante o conflito mundial se justifica pela relevância histórica e social do papel desempenhado pelas mulheres nesse contexto. Apesar de frequentemente subestimado ou negligenciado, o envolvimento das mulheres em atividades de espionagem foi teve impacto direto no desenrolar dos acontecimentos da guerra. Portanto, é importante resgatar e valorizar essas histórias, contribuindo para uma visão mais completa e inclusiva da História.
A análise da representação da espionagem feminina no jogo Call of Duty: WWII também se mostra pertinente diante da crescente importância dos estudos de mídia e cultura na compreensão dos fenômenos históricos. Os jogos digitais constituem uma forma de mídia poderosa e influente, capaz de moldar percepções e construir narrativas sobre o passado. Portanto, investigar como o jogo retrata a participação das mulheres na Segunda Guerra Mundial não apenas amplia nosso entendimento sobre o período histórico, mas também nos permite refletir criticamente sobre as representações de gênero na cultura contemporânea.
Por fim, a presente pesquisa está em consonância com as competências curriculares de História estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O uso de tecnologias digitais, a promoção da reflexão crítica e a valorização da diversidade de perspectivas históricas são princípios fundamentais que norteiam este artigo, contribuindo para a formação integral dos estudantes e para o desenvolvimento de uma consciência histórica mais sólida e informada.
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral
O objetivo geral da pesquisa é investigar o uso do jogo Call of Duty: WWII como uma ferramenta de ensino de História na educação básica, com foco na representação da espionagem feminina durante a Segunda Guerra Mundial.
3.2. Objetivos específicos
- Analisar o jogo Call of Duty: WWII e sua representação da Segunda Guerra Mundial e das operações de infiltração e sabotagem de Rousseau.
- Relacionar a representação das operações de infiltração e sabotagem de Rousseau no jogo com histórias reais de espionagem feminina durante a Segunda Guerra Mundial.
- Avaliar o potencial do jogo como uma ferramenta de ensino em História, especialmente no que diz respeito à compreensão da Segunda Guerra Mundial e à participação das mulheres na espionagem.
- Interpretar o impacto da representação da espionagem feminina no jogo, especialmente em relação à compreensão histórica e à igualdade de gênero.
4. METODOLOGIA
A metodologia adotada neste estudo visou investigar de maneira abrangente o uso do jogo Call of Duty: WWII como uma ferramenta de ensino de História com foco na representação da espionagem feminina durante a Segunda Guerra Mundial.
Para alcançar nossos objetivos, selecionamos cuidadosamente 30 alunos do Ensino Médio regular e da Educação de Jovens e Adultos de uma escola estadual localizada no município de Ribeirão das Neves – MG. A escolha desses participantes levou em consideração sua disposição para participar de uma experiência que envolveu o uso de um trecho de jogo eletrônico como parte do processo de aprendizado.
O estudo começou com uma abordagem expositiva, onde o professor orientador ministrou uma aula de 50 minutos. Nessa etapa, foram utilizados recursos visuais, como um projetor e slides preparados previamente. A aula teve como objetivo fornecer aos participantes uma contextualização sólida sobre a espionagem feminina durante a Segunda Guerra Mundial, destacando casos reais e significativos, como os de Virginia Hall e Nancy Wake. Essa abordagem inicial foi crucial para preparar os alunos e criar um contexto adequado para a experiência que seguiria.
Uma vez que os alunos estavam contextualizados, eles foram convidados a assistir a um trecho de 20 minutos do jogo Call of Duty: WWII. Esse trecho do jogo se concentrou nas operações de infiltração e sabotagem realizadas pela personagem fictícia Rousseau, que faz parte da Resistência Francesa. Durante essa parte do jogo, os participantes tiveram a oportunidade de observar, de forma imersiva, como a personagem enfrentava desafios e utilizava a sutileza em suas ações de infiltração.
Após as experiências, os participantes foram convidados a preencher um formulário de avaliação que tinha como objetivo coletar dados qualitativos. Essa abordagem permitiu medir subjetivamente a abordagem adotada e a compreensão dos alunos em relação ao conteúdo apresentado. A coleta de dados qualitativos é fundamental para avaliar a eficácia da abordagem em termos de conhecimento e interesse dos participantes sobre a espionagem feminina na Segunda Guerra Mundial.
Os dados coletados foram submetidos a uma análise cuidadosa, que incluiu a avaliação do impacto da abordagem na compreensão e no interesse dos participantes. As conclusões foram tiradas com base nos resultados da pesquisa, destacando o potencial do uso de jogos digitais no ensino de História e a importância da representação feminina em jogos de guerra para promover a compreensão histórica e a igualdade de gênero.
A metodologia adotada nesta pesquisa buscou integrar elementos tradicionais de ensino com a experiência imersiva proporcionada pelo jogo, visando enriquecer o conhecimento e o interesse dos alunos sobre a espionagem feminina na Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que explorava o potencial dos jogos digitais como ferramentas educacionais.
5. RESULTADOS OBTIDOS
Primeiramente, é notável que mais da metade dos participantes (54,5%) não tinha conhecimento prévio do papel das mulheres na espionagem durante a Segunda Guerra Mundial antes de participarem da aula e da experiência com o jogo. Isso enfatiza a importância de abordar esse tópico na formação dos estudantes e indica que a pesquisa atendeu a uma lacuna de conhecimento relevante.
A avaliação subjetiva da aula sobre a espionagem feminina na Segunda Guerra Mundial demonstrou que a maioria dos participantes (77,3%) considerou a aula enriquecedora, destacando a clareza e o interesse nas informações apresentadas. Adicionalmente, 81,8% dos alunos sentiram que a aula aumentou significativamente sua compreensão sobre o tema. Esses resultados indicam que a abordagem que combina aula expositiva com elementos do jogo digital foi bem recebida e eficaz em transmitir conhecimento.
A análise da relação entre a aula e o trecho do jogo também revelou resultados positivos, com a maioria dos participantes (90,9%) concordando que a representação da espionagem feminina no jogo estava alinhada com o conteúdo da aula. Isso sugere que o jogo foi capaz de complementar eficazmente o ensino tradicional, reforçando a compreensão histórica.
Um ponto de destaque é a forte ênfase dada pelos participantes à inclusão de personagens femininas em jogos de guerra como uma ferramenta educacional. Notavelmente, 95,5% dos alunos consideraram crucial essa inclusão para promover a compreensão histórica e a igualdade de gênero. Esse resultado ressalta o potencial desses jogos como instrumentos educacionais que não apenas ensinam história, mas também promovem valores de diversidade e equidade.
A análise também abordou a percepção dos participantes sobre as ações da personagem feminina Rousseau no jogo. A maioria dos alunos (91,8%) percebeu suas ações como sutis durante sua infiltração, o que sugere que o jogo conseguiu transmitir a complexidade da espionagem feminina. No entanto, 50% dos participantes consideraram que as habilidades da personagem Rousseau foram subestimadas. Isso pode indicar uma oportunidade de aprimoramento na representação das capacidades das personagens femininas em jogos de guerra.
Finalmente, a pesquisa destacou uma sensação geral de imersão positiva, com 59,1% dos participantes relatando total imersão enquanto acompanhavam as atividades de espionagem da personagem Rousseau no jogo. Esse resultado sugere que a experiência do jogo foi envolvente e cativante para os alunos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo revela que a abordagem que combina aula expositiva com elementos de jogos de guerra, especificamente o uso do jogo Call of Duty: WWII, teve um impacto positivo no aumento do conhecimento e do interesse dos participantes sobre o papel das mulheres na espionagem durante a Segunda Guerra Mundial. Os resultados indicam que mais da metade dos participantes não estava ciente do papel feminino na espionagem antes da aula, destacando a importância de abordar esse tópico na formação dos estudantes.
A análise subjetiva da aula mostrou que a maioria dos participantes considerou a experiência enriquecedora, fornecendo informações claras e interessantes. Além disso, a maioria sentiu que a aula aumentou significativamente seu entendimento sobre o tema. A relação entre a aula e o trecho do jogo foi bem recebida, com a maioria concordando que a representação da espionagem feminina estava alinhada com o conteúdo da aula.
O estudo também destacou a importância da inclusão de personagens femininas em jogos de guerra para promover a compreensão histórica e a igualdade de gênero. A sensação de imersão durante o trecho do jogo foi positiva, sugerindo que os participantes se envolveram com a experiência.
Portanto, com base nos resultados apresentados, pode-se concluir que a abordagem que combina elementos de jogos digitais com o ensino de História tem o potencial de ser uma ferramenta educacional eficaz, não apenas para entretenimento, mas também para promover o conhecimento histórico e a igualdade de gênero.
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