Artigo cientifico apresentado ao Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná – UniSL, como parte dos requisitos para obtenção de nota da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso em Fisioterapia II no curso de Fisioterapia, sob orientação da Professora Denise Gonçalves dos Santos Teixeira.
Elisregina Saorim De Souza1
Marivane Sokolowski2
Denise G. dos Santos Teixeira³
1 Elisregina Saorim De Souza, acadêmica do curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná, E-mail elisreginaopo@hotmail.com
2 Marivane Sokolowski, acadêmica do curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná, E-mail marivane_ms@hotmail.com
³ Denise Gonçalves dos Santos Teixeira, fisioterapeuta e docente da UniSL Ji-Paraná.
RESUMO: A hanseníase é denominada como uma doença crônica, infectocontagiosa, de evolução lenta. Seu contágio se dá pelo contato do agente Mycobacterium leprae com o ser humano. A bactéria atinge os nervos periféricos e superficiais da pele e troncos nervosos periféricos, afetando uma destas estruturas anatômica irá gerar modificações nestes indivíduos. A fisioterapia é uma das intervenções utilizadas para o tratamento das alterações funcionais presentes em pacientes com esta patologia. Objetivo: Analisar a eficácia do tratamento fisioterapêutico nas alterações sensório-motoras e funcionais da hanseníase. Para a elaboração deste artigo, foram realizadas buscas sistematizadas nas bases de dados eletrônicas: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (United StatesNational Library of Medicine), PubMed, LILACS ( Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da saúde), revistas e livros sobre hanseníase. Como critérios de inclusão: Estudos publicados no período de 2010 a 2020, no idioma português e inglês. Foram excluídos resumos, artigos de revisão que não contivessem ano de publicação, volume e número em revista. Estudos apontaram que as técnicas fisioterapêuticas, promoveram a estes pacientes melhora nas alterações sensórias motoras e funcionais, proporcionando uma melhor qualidade de vida. Conclusão: As intervenções fisioterapêuticas são eficazes no tratamento nas alterações sensório-motoras e funcionais em pacientes com hanseníase.
PALAVRA-CHAVE: Fisioterapia; Alterações sensório-motoras; Incapacidades; Reabilitação.
ABSTRACT: Leprosy is called a chronic, infectious and contagious disease, with slow evolution. Your contagion occurs through the contact of the agent Mycobacterium leprae with the human. The bacillus affects the peripheral and superficial nerves of the skin and peripheral nerve trunks, affecting one of these anatomical structures will generate alterations in these persons. Physiotherapy is one of the techniques used to treat the functional alterations present in patients with this pathology.Objective: To analyze the effectiveness of physiotherapeutic treatment in sensory-motor and functional alterations in leprosy. For the preparation of this article, systematic searches were carried out in the electronic databases: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (United StatesNational Library of Medicine), PubMed, LILACS (Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences), leprosy magazines and books. As inclusion of criterion: Studies published from 2010 to 2020, in Portuguese and English. Abstracts, review articles that did not contain year of publication, volume and number in magazine were excluded. Studies have shown that physiotherapeutic techniques have improved motor and functional sensory alterations, providing a better quality of life for these patients. Conclusion: Physiotherapy interventions are effective in treating sensory-motor and functional alterations in leprosy patients.
KEYWORDS: Physiotherapy; Sensory-motor alterations; Disabilities; Rehabilitation.
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a hanseníase como um problema de saúde pública, principalmente em países cuja taxa de prevalência ultrapassem 1 caso por 10.000 habitantes (GOMES; FRADE, 2007). Dados do boletim da Organização Mundial da Saúde (2019), no ano de 2018 houve 208 milhões e 619 mil casos, algumas regiões das Américas totalizaram 30.957 casos, no Brasil seu índice foi de 28.660 casos notificados, destes 1.705 em menores de 15 anos.
A hanseníase é denominada como uma doença crônica, infectocontagiosa, de evolução lenta. Seu contágio se dá pelo contato do agente Mycobacterium leprae com o ser humano, pela via área superior, por meio de contato intimo e prolongado de uma pessoa suscetível, que não esteja em tratamento. A bactéria poderá ter ação direta nas células de Schwann, nervos periféricos, nervos superficial da pele e troncos nervosos periféricos, os olhos e órgãos internos. O bacilo afetando qualquer uma destas estruturas anatômicas irá gerar modificações na biomecânica facial e corporal deste individuo (MINISTÉRIO DE SAÚDE, 2017).
Seu diagnóstico é baseado em sinais clínicos, sua manifestação inicialmente irá apresentar lesões na pele, com diminuição ou ausência de sensibilidade. Em seu quadro neurológico as fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas são afetadas, pois os nervos periféricos foram atingidos no nível de troncos nervosos, alterando suas fibras sensitivas suas modalidades térmicas, dolorosas e táteis estarão alteradas (GOMES; PONTES; GONÇALVES, 2007).
A fisioterapia é uma das intervenções utilizadas para o tratamento das alterações funcionais presentes. O retorno da função ao paciente é um dos primeiros objetivos a serem alcançados, bem como a redução da sintomatologia, como quadro álgico, edema, limitações articulares, melhora da flexibilidade e a amplitude de movimento (LIMA et al., 2009).
Tendo em vista que o desenvolvimento das incapacidades temporárias ou permanentes pode ocorrer, mesmo, após concluir o tratamento medicamentoso com a poliquimioterapia (PQT), o presente estudo tem como objetivo levantar evidências comprobatórias da efetividade das intervenções fisioterapêuticas no tratamento das alterações sensório-motoras e funcionais em pacientes com hanseníase.
Epidemiologia
O aspecto biopsicossocial do individuo tem relação direta com a hanseníase. A incidência de novos casos está presente na região Norte, Nordestes e Centro-Oeste, sendo elas heterogêneas e com elevadas concentrações. Em consoante com o Boletim epidemiológico, lançado Pelo Ministério de Saúde em janeiro, em uma análise de casos diagnosticados no Brasil nos anos de 2014 a 2018, foram totalizados 140.578 casos novos de hanseníase. Separados por sexo feminino e masculino, 77.554 ocorrem no sexo masculino, observou maior predominância deste sexo na maioria das faixas etárias e anos. Indivíduos entre 50 e 59 anos totalizaram 26.245 casos novos (BOLETIM, 2020).
Segundo Ministério da Saúde (2020) no ano de 2019 foi classificado como multibacilares o total de 164.335 mil pessoas, quanto com grau de incapacidade física (GIF) 98. 520 mil pessoas foram avaliados no diagnóstico, tiveram parâmetro “regular”. Destes, 1.984 casos com o grau 2 de GIF e 5.826 com diagnóstico de grau1 de GIF.
Por causa de seu quadro de transmissão, falta de acesso ao tratamento de indivíduos carentes, à interrupção da cadeia de transmissão é comprometida, sendo necessárias ações de estratégias que visam garantir o atendimento integral as pessoas acometidas pela doença (LEHMAN et al., 1997).
Devido a sua alta endemicidade o ministério da saúde elaborou uma estratégia para os anos de 2019-2022, tendo como objetivo um Brasil sem hanseníase. Ela está em consoante com a estratégia global, visando como objetivo geral reduzir a carga da doença no país ao fim de 2022, possuindo as seguintes metas:
Primeiro reduzir para 30 o número total de crianças com grau 2 de incapacidade física; Segundo reduzir para 8,83/1 milhão de habitantes a taxa de pessoas com grau 2 de incapacidade física; e terceiro implantar em todas as Unidades da Federação canais para registro de práticas discriminatórias às pessoas acometidas pela hanseníase e seus familiares (MINISTÉRIO DE SAÚDE, 2020, p.09).
Etiologia
Antigamente seu nome era Lepra, tem sua gênese vinda do latim lepros, tendo como acepção ato de sujar ou poluir. Com o avanço da ciência seu nome passou a ser hanseníase sendo definida como infectocontagiosa, seu maior índice é na classe baixa. O Mycobacterium leprae é seu agente contagioso, sua multiplicação é progressiva e com baixa patogenicidade, sua transmissão é através das vias aéreas superiores, a propensão são os seres humanos através da mucosa, afetando os tegumentos e nervos periféricos (BARON, 2000).
Gerhard Henrik Armauer Hansen é o grande influenciador do nome hanseníase, o nome originou-se dele, foi o descobridor do Mycobacterium leprae em 1873 relacionando-o com a patologia. Com o método de Ziehl-Neelsen no século XIX ele diferenciou o bacilo Mycobacterium tuberculosis, seu formato era glóbias (OLIVEIRA, 2005). Após esta descoberta ficou explícito a origem infectocontagiosa, não hereditária como mostrava estudos anteriores (MINISTÉRIO DA SÁUDE, 2008).
No Brasil os primeiros relatos da hanseníase foram com a chegada dos portugueses na cidade do Rio de Janeiro no final do século XVII, com a transmissão rápida houve uma endemia em todo país (BARBIERI; MARQUES, 2009). O isolamento compulsório era utilizado como forma de tratamento, apenas em 1962 que esta prática foi abolida. A substituição do nome “lepra” aconteceu na década de 70 por hanseníase. Os primeiros centros de leprosários ou hospitais colônias foram desenvolvidos por volta da 10º década. A oitava conferência em 1986 determinou que estes centros fossem transformados em hospitais gerais ou centro de pesquisa (BARON, 2000).
Estudos relatam que em 1940 a introdução do medicamento dapsona, admitiu-se mais confiança na corrida pela cura da patologia, em 1981 com a junção dos medicamentos rifampicina, dapsona e clofazimina surgiram a poliquimioterapia, houve excitação para a aniquilação da patologia e redução das sequelas e mutilações (BOECHAT; PINHEIRO, 2012).
Fisiopatologia
Após os nervos periféricos serem acometidos, as terminações na derme até os troncos nervosos são atingidos, gerando uma neuropatia mista, prejudicando as fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas, fazendo com que haja modificações da sensibilidade térmica, dolorosa e táctil (ARAÚJO, 2003). As respostas cutâneas neurológicas podem se manifestar de diversas formas. Elas podem ser agudas ou subagudas, neurais ou sistêmicas, encontra-se quando há cronicidade da infecção hansênica (LYON; GROSSI, 2013).
Segundo Ministério da Saúde (2014) estes sinais que podem levar a suspeita de diagnóstico da patologia, podendo ocorrer antes, durante ou depois do tratamento com a PQT, elas são classificadas em quatros reações. A reação reversa (RR) ou reação tipo 01, a forma clínica tem grande influência, tendo ligação direta com novas lesões na pele, aumento da espessura e consistência da mesma, assim como modificações da coloração e edema nas lesões antigas, com ou sem infiltração e neurites (DUERKSEN et al., 1997).
A reação Eritemoso Nodoso Hansênico (ENH) ou reação tipo 02, os pacientes que apresentam nódulos inflamatórios, dérmicos, eritematosos, com calor podendo ser local ou moveis a palpação e às vezes dolorosos, com progressão para flictema, vesículas e úlceras. Estes podem aparecer de forma súbita, sua estrutura pode ser de pápulas e placas. A reação Mista é combinação das reações RR e ENH, os pacientes podem apresentar simultaneamente ou em períodos, ocorre com maior incidência nas formas Borteline- virchowiana(ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
A reação atípica não se tem base literária descrita, não preenche nenhum critério, ela irá apresentar quadro clinico incomum, contudo, tem uma boa reposta às medicações antirreacionais. Tem como característica o comprometimento de parótida, adenomegalias volumosas, artrite, dor lombar, emagrecimento, comprometimento respiratório agudo, orquite, edema anasarcalike, lesão cutânea de difícil diagnóstico (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
A hanseníase é classificada através do critério da baciloscopia. A patologia se apresenta de quatro formas, sendo indeterminada, tuberculóide, virchowiana e dimorfa. A Indeterminada inicia-se com parestesia evoluindo para anestesia, apresenta sinais de manchas hipocrônicas, as suas lesões de pele podem ser múltiplas. Sua cura pode ser espontânea ou desenvolver-se lentamente, pode involuir e ressurgir tardiamente, de acordo com sua reposta à resposta imune ao M. Leprae ((DUERKSEN et al., 1997).
A tuberculóide apresenta lesões cutâneas, com bordas acentuadas, pode ser única ou em pequeno número e apresentam-se assimétricas na pele. Suas lesões podem ser hipocrônica ou eritematoso, acobreada, difusamente infiltrada ou com tendência de aplainamento, e limites externo sempre nítidos e bem definidos. A Virchowiana é de progressão lenta, sua manifestação se torna presente com o avançar dos anos, envolvendo áreas do tegumento, múltiplos troncos nervosos e órgãos de forma difusa. Seus sintomas irão apresentar lesões no tegumento discretamente hipocrômica ou eritematosa, pouco visíveis, ampla e simetricamente distribuídas sobre a superfície corpórea (DUERKSEN et al., 1997).
A hanseníase Dimorfa apresenta junção das características tuberculóide e virchowiana, suas manifestações clinicas oscila entre as manifestações da virchowiana (GALVAN, 2003).
“A Hanseníase de acordo com a resposta imunológica de cada individuo aqueles em alguns aspectos de um dos polos do espectro, com elevado nível de imunidade hospedam um pequeno numero de bacilos são chamados de Paucibacilares ou pacientes PB” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 20). As PB têm poucos bacilos, por isso não é considerada uma grande fonte de contágio, ela apresenta menor resistência ao sistema imunológico, fazendo com que haja uma resposta positiva do mesmo, levando alguns indivíduos a se curarem espontaneamente, uma pequena incidência de indivíduos tem resistência ao bacilo, fazendo com que ele seja multiplacado pelo organismo e eliminada sendo esta a fonte de contaminação de outros indivíduos, estes considerados Multibacilares (OLIVEIRA, 2014).
Diagnóstico
O diagnóstico da hanseníase é clínico, para sua confirmação é feito uma anamnese detalhada, avaliação dermatoneurológica, história da evolução dos sintomas, diagnóstico reacional, diferencial. As suas características podem ser confundidas com outras doenças semelhantes, por isso a importância do diagnóstico detalhado. A pitiríase versicolor, eczemátide, vitiligio, diabetes mellitus, traumas em nervos são algumas patologias que se assemelham a hanseníase, fazendo-se necessário o uso do diagnóstico diferencial (JENSEN, 2010).
Lyon e Grossi (2014) dizem que o diagnóstico clínico deve ser baseado na presença de um ou mais sinais, como alteração da sensibilidade, acometimento nervoso com ou sem espessamento associado às alterações sensitivas e/ou motoras. A sensibilidade térmica, dolorosa e tátil são testadas por instrumento simples através da sensibilidade cutânea, pode ser realizado em um ambulatório ou consultório médico.
Para pesquisa de sensibilidade térmica pode ser avaliado com a utilização de tubos de ensaio com água quente ou fria. Grosseiramente com martelo de reflexos estes são de modalidades superficiais. Existe modalidade de sensibilidade profunda, que devem ser estudadas, sendo importante modalidade profunda é a sensibilidade vibratória ou palestesia e sensibilidade cinético-postural (ALVES, FERREIRA; FERREIRA, 2014).
A sensibilidade tátil é de fácil realização, pode ser utilizado, alfinete, chumaço de algodão. Sua aplicação é simples e com alta sensibilidade em relação aos testes de sensibilidade tátil existente. Os monofilamentos de nylon de semmes-weinstein permitem a monitoração das áreas e dos nervos afetados (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
A palpação dos troncos nervosos é realizada para verificar o espessamento dos nervos que inervam os membros superiores e inferiores, cada nervo é palpado verificando algia, choque, espessamento, forma e aderência. Tendo como principio a prevenção de lesões neurais e incapacidades. O nervo avaliado nos membros superiores é o nervo ulnar, mediano, radial e cutâneo; nos membros inferiores, o tibial posterior e o fibular comum; no segmento cefálico, o grande auricular e o nervo facial que é motor e não é palpável (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
A avaliação motora tem como objetivo verificar a capacidade funcional dos músculos inervados pelos nervos que passam pela face, membros superiores e inferiores. Sendo positivo ele será evidenciado pela diminuição da força muscular. As funções motoras dos músculos devem ser realizadas para detectar precocemente as incapacidades e sequelas encontradas no diagnóstico. A motricidade é explanada com maior ênfase, analisando-se a amplitude de movimento básica do segmento, para procurar alterações nos grupos musculares específicos (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
Os exames complementares são outras formas de diagnóstico, sendo eles a baciloscopia ou biopsia, anatomopatológico, sorologia e reação de Mitsuda que não serve para diagnóstico, mas sim, para prognóstico, e o teste rápido chamado de Ml-Flow. Em consoante com a OMS em 2010 a baciloscopia é o exame complementar mais útil, porque sua execução é simples e relativo baixo custo. Contudo, verifica-se a necessidade de profissionais treinados e laboratórios equipados, os dois citados nem sempre se encontram nos serviços de atenção básica (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
Tratamento da hanseníase
O tratamento medicamentoso mais utilizado é a PQT, sendo usado uma classificação operacional para o uso do mesmo, a hanseníase PB ou MB deve apresentar mais de cinco lesões na pele ou uma apenas sendo maior que 5 cm, este tratamento é o indicado pelo Ministério da Saúde, padronizado pela OMS. A PQT age eliminando o bacilo e regredindo a evolução da doença, prevenindo deformidades, progredindo à cura (LANA et al., 2008).
No Brasil o tratamento da patologia é feito de forma gratuita, pois visa um efeito rápido e eficaz, evitando a resistência da bactéria. O tratamento é feito com doses auto-administradas em domicílio, associada com doses mensais, supervisionadas nas Unidades Básicas de Saúde. São explanados sobre os aspectos preventivos, tratamento de incapacidades e deformidades, além de orientação de autocuidado, bem como, o trabalho da equipe multidisciplinar (LANA et al., 2008). A Organização Mundial da Saúde conceituou a reabilitação como a restauração física e mental, de todos os pacientes tratados, para que possam retornar ao seu convívio com a sociedade (LYON; GROSSI, 2013).
A fisioterapia tem um papel importante no tratamento das alterações decorrentes da hanseníase, pois o seu tratamento inicia com a prevenção até a reabilitação do paciente, visto que ele é apto a utilizar recursos que auxiliam na melhora da amplitude de movimento, fortalecimento muscular, reparo de úlceras, prevenção de deformidade e amputações, proporcionando ao paciente novas condições físicas. Dentre as diversas manifestações clinicas da hanseníase o profissional fisioterapeuta tem função de extrema importância junto a esses pacientes (LIMA et al., 2010).
Segundo estudos apresentados, o atendimento fisioterapêutico é personalizado de forma ampla, tendo como enfoque não apenas a reabilitação, mas os cuidados primários e secundários, assim como, cuidados gerais, relatando e orientando sobre a patologia e suas possíveis complicações. O diagnóstico precoce e adesão ao tratamento são fundamentais para prevenção, avaliação, reabilitação das alterações físicas e acima de tudo a reintegração à sociedade. Fica explícito seu papel na prevenção dos déficits funcionais, no estágio que a neuropatia encontra-se ainda no estado agudo. A imobilização é importante procedimento no auxílio a redução do quadro de edema e traumas de nervos (MARTINS et al., 2005).
Dentre os vários recursos utilizados pela fisioterapia, como o auxílio do TENS, ultra-som, cinesioterapia e órteses ajudam a reduzir quadro álgico, ulceras e prevenir deformidades (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Estudos evidenciaram a contribuição da cinesioterapia com a utilização das técnicas de mobilizações ativas livres ou passivas, deslizamentos tendinoso e alongamento mio neural, associado aos exercícios terapêuticos favoreceram a melhora da função muscular, reeducação da propriocepção dos membros superiores e inferiores, evidenciando a promoção e prevenção das incapacidades nestes pacientes (TOKARS et al., 2003).
Os recursos da eletroterapia laser de baixa intensidade e eletroestimulação pulsada de baixa voltagem, nos processos ulcerativos, a fisioterapia têm como principal objetivo a estimulação do processo de cicatrização, promovendo redução no tempo de exposição da ferida, possibilitando ao paciente um retorno mais rápido as suas atividades de vida diária, melhorando a sua qualidade de vida (LIN et al., 2001).
As alterações musculoesqueléticas são comuns aos pacientes com a hanseníase, o uso da órtese é um recurso para reduzir o estresse sobre o tecido possibilitando a cicatrização, prevenção de deformidades e restaurando a função de todo o membro. Ela proporciona o repouso da articulação em uma posição que promova ou previna retrações, sua moldagem deve ser confeccionada de acordo com a necessidade do paciente (VIEIRA et al., 2012).
Jensen (2010) em seu estudo diz que a fisioterapia é fundamental no tratamento das incapacidades decorrentes da hanseníase, tendo vista os diversos recursos que ela oferece, sendo estes eficazes desde a prevenção até a reabilitação. É importante evidenciar o tratamento precoce que pode minimizar as incapacidades funcionais, melhorar a QV e reduzir os custos ao sistema de saúde pública. Ela irá proporcionar a estes pacientes, um aspecto bio e psicossocial com qualidade, dando a eles autoestima e bravura para enfrentar os diversos desafios proporcionados pela hanseníase.
METODOLOGIA
Para elaboração deste estudo utiliza-se como método a revisão integrativa, a qual tem como finalidade reunir e resumir o conhecimento científico. Para permitir buscar, avaliar e sintetizar as evidências disponíveis para contribuir com o desenvolvimento do conhecimento na temática. Foram incluídos trabalhos disponíveis nas seguintes bases de dados: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (United StatesNational Library of Medicine), PubMed, LILACS ( Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da saúde), Site do Governo Brasil, revistas e livros sobre hanseníase. Os descritores utilizados foram: Fisioterapia; Alterações sensório-motoras; Incapacidades; Reabilitação. Como critérios de inclusão: Estudos publicados no período de 2010 a 2020, no idioma português e inglês. Foram excluídos resumos, artigos de revisão que não contivessem ano de publicação, volume e número em revista, artigos que fugissem da temática e indisponível gratuitamente.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Por meio da busca na literatura de estudos que tratam das intervenções fisioterapêuticas nas alterações sensório-motoras e funcionais da hanseníase, foram encontrados 70 artigos, estavam conforme os termos da pesquisa, entretanto depois da leitura e revisão foram excluídos 60 artigos que não apresentavam ligação direta com o assunto em questão ou que apresentavam duplicidade nas plataformas de busca, dos quais restaram 07 artigos que foram empregados para discutir os descritores investigados.
O fisioterapeuta no tratamento das incapacidades da hanseníase é fundamental em todos os níveis de atenção básica, visto que ele é apto a utilizar recursos como eletroterapia, cinesioterapia, técnica FNP bem como as órteses, que auxiliam no processo de reparo de úlceras, prevenção de deformidades e amputações, melhora da amplitude de movimento, dando ao paciente uma nova condição física.
Segundo Vieira et al. (2012) em um estudos com 12 pacientes, num total de 10 sessões, foram avaliados pré e pós-atendimento, com questionário SF-36, mensuração de amplitudes de movimentos de punho e tornozelo, juntamente com teste de sensibilidade e reflexos. Em seu estudo evidenciou que a técnica FNP tem um bom resultado no alongamento muscular e amplitude de movimento em pacientes com sequelas da hanseníase.
Diaz et al. (2013) em um estudo similar, analisou 12 pacientes, separados aleatoriamente, buscou mensurar e comparar os resultados da aplicação de exercícios de alongamento estático passivo e de FNP na qualidade de vida e ADM em portadores de sequelas de hanseníase. Ele concluiu que o alongamento pela técnica FNP produziu um acréscimo significativo na ADM nos movimentos do tornozelo e da extensão do punho, sugerindo que a técnica é eficaz para tratar paciente com sequelas de hanseníase.
Lima et al. (2013) em sua estudo com 5 pacientes, com faixa etária entre 22 e 70 anos, verificou a ação dos exercícios terapêuticos em pacientes com neurites crônicas, portadores de hanseníase. Utilizaram como técnica fisioterapêutica a cinesioterapia, sendo aplicada seus exercícios 3 vezes por semana, com duração de 90 minutos. O protocolo de exercícios utilizados foi, alongamento dos membros superiores, exercícios ativo-resistido nas articulações metacarpofalangeanas, punho, antebraços, cotovelos e ombros, com duração de 20 sessões. Eles concluíram que obtiveram melhoras significativas, com o protocolo utilizado sugerindo algum efeito benéfico dos exercícios nos nervos comprometidos.
Recka et al. (2013) em seu estudo de caso com 01 paciente, com 60 sessões durante 01 ano e meio intercaladas verificou a diminuição da dor e a reparação do nervo periférico, através da tabela de dor e da eletroneuromiografia. Eles concluíram que houve uma melhor significativa da dor ao término de cada terapia, sugerindo que a terapia com o uso do ultrassom pulsado de baixa intensidade pode ser benéfica tanto da diminuição da dor aguda, quanto no processo de reparo cicatricial nervosa periférica.
Em discordância com os autores acima Oliveira et al. (2011) relatam em seu estudo que o ultrassom tem baixa significância no tratamento das lesões periféricas, contudo eles dizem que como intervenção fisioterapêutica para doenças musculoesqueléticas tem uma significância maior.
Em contrapondo, Jensen (2010) em sua pesquisa exploratória analisou as incapacidades e deformidades geradas pelo nervo periférico e a atuação da fisioterapia. Ele conclui que as intervenções fisioterapêuticas são importantes no tratamento primário e secundário, já no terciário através de seus recursos auxiliam no reparo de úlceras, deformidades e amputações, sendo capaz de adaptar ao meio em que vive com novas condições físicas.
Em consoante com o estudo de Jensen (2010), Carvalho et al. (2018) em sua pesquisa, também analisou a importância das intervenções fisioterapeuticas em pacientes com hanseníase. Após analise obtiveram como resultado que a fisioterapia é importante no tratamento das alterações apresentadas por estes pacientes, podendo intervir na atenção, primária, secundária e terciária proporcionando a estes pacientes melhor qualidade de vida.
CONCLUSÃO
A hanseníase se tornou um problema de saúde pública devido ao seu alto índice de endemicidade, embora infectocontagiosa há o tratamento para esta patologia. Quando não há o início do tratamento, ela se manifesta no corpo do individuo podendo afetar a parte dermatológica ou neural, trazendo déficits em seu quadro motor e sensório.
Os autores supracitados em seus estudos elucidaram sobre as técnicas de eletroterapia, cinesioterapia, técnica FNP, bem como o uso associado de órteses em alguns casos. Obtendo resultados significativos na sintomatologia desta patologia, bem como melhora nas alterações sensoriais, aceleração na cicatrização de úlceras, demonstrando a importância dos recursos fisioterapêuticos.
Podendo se concluir que a fisioterapia é eficaz no tratamento das alterações sensório-motoras e funcionais em pacientes diagnósticos com a hanseníase, porque através de suas técnicas de intervenção ela pode atuar em todos os níveis de atenção possibilitando a este paciente uma melhor qualidade de vida e nas esferas biopsicossociais.
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