INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO  RELACIONADA À VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 

NURSING INTERVENTIONS IN POSTPARTUM DEPRESSION RELATED TO OBSTETRIC VIOLENCE: AN INTEGRATIVE REVIEW 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506242013


 Maria Eduarda Limeira Martins dos Santos1
Rodolfo José Vitor2


RESUMO 

Introdução: A depressão pós-parto é uma condição psicológica que acomete uma parcela  significativa das mulheres no período puerperal, estando muitas vezes associada a experiências  negativas durante o parto, como a violência obstétrica. Objetivo: Descrever as intervenções de  Enfermagem na depressão pós-parto relacionada à violência obstétrica. Metodologia: Revisão  integrativa da literatura, com apuração de 8 artigos após aplicação do PICO e dos critérios de  inclusão e exclusão publicados entre 2020 e 2024 nas bases DeCS, SciELO e no site do  Ministério da Saúde. Resultados: Vivências de desrespeito e abuso durante o parto contribuem  para o desenvolvimento de quadros depressivos no pós-parto. A enfermagem, ao adotar práticas  acolhedoras e humanizadas, mostra-se fundamental para minimizar esses impactos. Conclusão: A atuação sensível e capacitada da equipe de enfermagem pode prevenir agravos à saúde mental  da puérpera, promovendo uma assistência respeitosa e centrada na mulher. 

Palavras-chave: Saúde da mulher. Depressão pós-parto. Violência no parto. Enfermagem.  Cuidados humanizados. 

ABSTRACT 

Introduction: Postpartum depression is a psychological condition that affects a significant  portion of women in the postpartum period, and is often associated with negative experiences  during childbirth, such as obstetric violence. Objective: To demonstrate nursing interventions  in postpartum depression resulting from obstetric violence. Methodology: Integrative literature  review, with the collection of 8 articles after applying PICO and the inclusion and exclusion  criteria published between 2020 and 2024 in the DeCS, SciELO and the Ministry of Health  website. Results: Experiences of disrespect and abuse during childbirth contribute to the  development of postpartum depression. Nursing, by adopting welcoming and humanized  practices, proves to be essential to minimize these impacts. Conclusion: The sensitive and  qualified performance of the nursing team can prevent mental health problems in the  postpartum woman, promoting respectful and woman-centered care.  

Keywords: Women’s health. Postpartum depression. Violence during childbirth. Nursing.  Humanized care.  

Introdução 

De acordo com o Ministério da Saúde (2021), “a depressão pós-parto é uma condição  caracterizada por profunda tristeza, desespero e falta de esperança, que ocorre logo após o parto.  Ela se inicia em algum momento durante o primeiro ano pós-parto, com maior incidência entre  a quarta e oitava semana.” 

Segundo o Ministério da Saúde (2022), a depressão pós-parto é uma condição que não  possuí causa específica, entretanto, pode estar relacionada a diversos fatores, como, histórico  de transtornos mentais (Depressão, ansiedade, bipolaridade, Burnout e fatores emocionais  devido ao desequilíbrio de hormônios em decorrência da gestação ou até mesmo fatores  sociais). 

Dentre as principais possíveis causas contribuintes para a depressão pós-parto estão: a  violência obstétrica que a puérpera possa ter sofrido durante o parto, a privação de sono devido  a demanda de cuidados de um recém-nascido, possível falta de apoio da família, parceiro ou  amigos, estresse, problemas financeiros e falta de planejamento da gravidez. Em geral, os  sintomas da depressão pós-parto se caracterizam pela desmotivação e falta de interesse ou  prazer em atividades diárias, pensamentos suicidas, desejo de fazer mal ao bebê, rejeição ao  recém-nascido, insônia, cansaço extremo, sentimento de indignação ou culpa e tristeza,  acompanhada de desespero constante (Ministério da Saúde, 2022). 

O diagnóstico é realizado de forma clínica, feito pelo psiquiatra, com observação nos  sintomas e situações em específicas durante a avaliação clínica individual. Para ser considerada  depressão pós-parto, os sintomas devem surgir em até quatro semanas após o nascimento da  criança (Brasil, 2022). 

O tratamento da depressão pós-parto é feito de acordo com as particularidades de cada  paciente, com medicamentos antidepressivos que são combinados com psicoterapia, ele pode  ser realizado de forma integral e gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e também  de forma paga em hospitais ou clínicas particulares. O apoio da família, parceiro(a) e amigos é  fundamental, pois auxilia na eficácia do tratamento (Brasil, 2022). 

Através dos Núcleos de apoio à Saúde da Família (NASF) ou através de outras equipes  de Saúde Mental, as equipes de Saúde da Família podem solicitar apoio matricial aos  profissionais, quando não são capacitados para identificação, no pré-natal, quanto aos sinais e  fatores de risco que podem levar a gestante a desenvolver depressão pós-parto. Alguns casos  considerados mais graves devem ser encaminhados aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) ou outros serviços de referência Saúde Mental do município ou região (Ministério da Saúde,  2021). 

O Senado Federal (2023) destaca que, nos últimos anos, o tema da depressão pós-parto  tem ganhado crescente atenção na área da saúde, devido à alta porcentagem de casos. Um estudo  da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que mais de 25% das mães no Brasil são afetadas  por essa condição (Fiocruz 2023). 

O Ministério da Saúde (2021) define que a violência obstétrica pode ocorrer durante a  gestação, parto e pós-parto, configurando um desrespeito à mulher, à sua autonomia e aos seus  processos reprodutivos. Essa violência pode se manifestar através de abusos verbais, físicos ou  sexuais, bem como pela adoção de intervenções e procedimentos desnecessários ou sem respaldo científico. Ela afeta negativamente a qualidade de vida das mulheres, provocando  traumas, dificuldades emocionais, depressão e até problemas na vida sexual. O desrespeito à mulher durante o processo de gestação, parto e pós-parto pode  intensificar a sensação de impotência e vulnerabilidade, agravando a depressão pós-parto. Além  disso, essa violência compromete a recuperação emocional da mulher, gerando traumas  psicológicos que dificultam seu bem-estar. A falta de apoio durante esses períodos pode ainda  afetar o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança, gerando sequelas duradouras  na infância e adolescência (Brasil, 2021; Fiocruz, 2023). 

A assistência de enfermagem é essencial no cuidado à mulher no pós-parto,  principalmente quando há situações de violência obstétrica. Profissionais de enfermagem, por  estarem presentes ao longo da gestação, parto e pós-parto, têm a chance de oferecer apoio  emocional, escuta ativa e acolhimento, o que ajuda na prevenção e no tratamento da depressão  pós-parto. Além disso, essa assistência pode identificar de forma precoce sinais de sofrimento  psicológico e orientar sobre o acesso a serviços de saúde mental através de acompanhamento  com a equipe multidisciplinar em Unidades básicas de saúde (UBS), (Fiocruz, 2023). 

A pesquisa se justifica pela necessidade de proporcionar informações e conhecimentos  às gestantes, puérperas e aos profissionais da área da saúde, sobre causas relacionadas a  depressão, sintomas, tratamento, prevenção e cuidados de enfermagem, assim, podendo auxiliar  na diminuição de casos de depressão pós-parto ocasionada pela violência obstétrica.  

O presente estudo tem como objetivo descrever as intervenções de Enfermagem na  depressão pós-parto relacionada à violência obstétrica, buscando compreender a relação entre  elas e como uma afeta a outra, baseando – se na seguinte questão norteadora “De que modo a violência obstétrica está relacionada à depressão pós-parto e como a assistência de enfermagem  pode intervir?” 

Metodologia 

Este artigo refere-se a um estudo do tipo revisão integrativa, método este que  proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de  estudos significativos na prática através da combinação de dados teóricos e empíricos da  literatura por meio de pesquisas, leituras e revisões de artigos. O método revisão integrativa,  descrito por Mendes, Silveira e Galvão (2008), consiste na divisão em seis etapas: 

Primeira etapa: identificação do tema elaborado pela seleção da hipótese e questão  norteadora: “De que modo a violência obstétrica está relacionada depressão pós-parto e como  a assistência de enfermagem pode intervir?”. De acordo com o tema e a estruturação da pergunta  norteadora, foi escolhida a estratégia “PICO”, por ser a que mais se adequa a situação. Sendo  assim, o “P” refere-se às gestantes e puérperas; o “I” corresponde à assistência de enfermagem;  o “C” compara as violências contra a paciente que podem ocasionar na depressão pós-parto e o  “O” refere-se à eficácia das intervenções que podem ser aplicadas diante de tal situação,  avaliando a redução das taxas de violência obstétrica e redução dos casos de depressão pós parto. 

Para cumprimento da Segunda etapa foi estabelecido de critérios para inclusão e  exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura. Para seleção dos artigos utilizados para  pesquisa, foram definidos os seguintes critérios de inclusão: artigos completos, em língua  portuguesa, disponíveis online, gratuitos, datados entre 2020 e 2024, que abordam o tema do  estudo, seus objetivos, definições, causas e intervenções. Foram excluídos: artigos em língua  estrangeira, artigos pagos, relatos de caso, bibliografias, resumos, artigos sem embasamento e  publicações que não atendiam aos objetivos propostos. 

Terceira etapa: definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/  categorização dos estudos. Nessa etapa foram reunidos os pontos chaves realizando uma coleta  de dados, avaliando o nível de evidência e relevância das informações para serem adicionadas  ao artigo e organizando – as para melhor compreensão do público-alvo a ser atingido pela  pesquisa. Essa coleta de dados foi realizada mediante as bases de dados: Scielo (Scientific  Electronic Library Online); (Ministério da saúde). 

Quarta etapa: avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa, levando em  consideração as análises de dados e os fatores que mostraram efeitos válidos para o artigo. 

Quinta etapa: interpretação dos resultados. Essa etapa se faz da análise dos principais  achados da pesquisa separando evidências de opiniões, com base na avaliação crítica dos  estudos incluídos, são feitas conclusões e propostas apontando impactos na prática da  enfermagem que podem auxiliar em conhecimentos para outras pesquisas.  

Sexta etapa: apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Essa fase foi dedicada à  criação do documento final da pesquisa, onde foram descritas as etapas realizadas e os  principais resultados encontrados na análise dos artigos. Essa atividade foi importante porque  ajudou a ampliar o conhecimento sobre o tema estudado. Apesar da importância de divulgar os  resultados, ainda houve dificuldades, como as exigências dos periódicos, o tempo e a dedicação  necessárias e as normas a serem seguidas. 

A estratégia de busca dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS), envolveu o uso dos  operadores booleanos AND e OR: (“Depression, Post-Partum” OR “Post Natal  Depression”)AND(“ObstetricViolence”OR Violence) AND (NursingOR“NursingCare”OR“Nursing, Team”): 1) Depressão pós parto (“Depression, Post Partum” OR “Post Natal Depression”) Início com 3,804 artigos. Filtros aplicados: Texto  completo livre, Idioma português, intervalo de 2020 a 2024, Gratuito. Redução para 2 artigos. 2)Violência obstétrica (“Obstetric Violence” OR  Violence) Início com 1,229 artigos. Filtros aplicados: Idoma português, texto completo,  gratuito, conjunto de dados, estudo clínico, 2020 a 2024, feminino, revisão de literatura.  Redução para 3 artigos. 3)Enfermagem, cuidados de enfermagem (Nursing OR “Nursing Care”  OR“ Nursing, Team”) Início com 207 artigos, Filtros aplicados: 2023 a 2024, Texto completo  gratuito, Estudo clínico, conjunto de dados, enfermagem, parto Revisão no último 1 ano, Idioma  português, Feminino. Redução para 3 artigos. Após e estratégia de busca utilizando os  descritores nas bases de dados, a pesquisa utilizou 8 artigos (Figura 1).

Figura 1: Tratamento dos dados 

Fonte: Adaptado do Fluxograma PRISMA, 2020 

Resultados 

 Mulheres que sofreram violência obstétrica — como gritos, procedimentos sem  explicação ou consentimento, e atitudes desrespeitosas por parte da equipe de saúde — ficaram  emocionalmente abaladas após o parto. Essas experiências causam traumas e sentimentos de  medo, angústia e rejeição, o que aumenta o risco de desenvolver depressão pós-parto (Fiocruz,  2023). Mulheres que passaram por esse tipo de violência apresentaram mais casos de depressão  do que aquelas que não relataram esse tipo de experiência (Brasil, 2022). 

 Os sintomas mais comuns identificados nos estudos foram: tristeza profunda, dificuldade  em se aproximar do bebê, desânimo, insônia e pensamentos negativos. Além disso, a depressão  afetou o aleitamento materno, dificultou a recuperação da mãe após o parto e prejudicou o  convívio com a família (Ministério da saúde, 2022). Também foi observado que a falta de apoio,  tanto da equipe de saúde quanto da família, contribuiu para o agravamento do quadro e  dificultou a busca por tratamento. 

 A literatura consultada destaca a importância da enfermagem durante toda a fase do pré natal até o pós-parto. Os profissionais de enfermagem, quando capacitados, são capazes de  ouvir com atenção, identificar sinais de sofrimento emocional e encaminhar a mulher para  acompanhamento especializado. A presença contínua desses profissionais nas unidades básicas  de saúde ajuda a criar uma relação de confiança com as mulheres, facilitando o acolhimento e  o cuidado. A formação contínua da equipe de enfermagem é essencial para que saibam lidar  com situações de violência obstétrica e ofereçam um atendimento humanizado (Brasil, 2021).  

 A violência obstétrica envolve práticas desrespeitosas durante a gestação, o parto e o pós parto, comprometendo a dignidade da mulher. O quadro 1 apresenta exemplos dessas condutas  e destaca como a enfermagem pode atuar de forma humanizada para garantir um cuidado seguro  e respeitoso. 

Quadro 1 – Tipos de violência obstétrica e a assistência de enfermagem diante dessas  práticas 

Autores  /AnoTipos de violência Obstétrica Assistência de Enfermagem
Brasil, 2021 Tratar a gestante ou parturiente  de forma agressiva, não  empática, grosseira, zombeteira,  ou de qualquer outra forma que a faça se sentir mal pelo tratamento  recebido;∙ Garantir um cuidado humanizado  e empático à gestante,  
∙ Evitar atitudes agressivas que  caracterizam violência obstétrica  e que podem causar danos  emocionais. 
∙ Atendimento respeitoso na  abordagem e no acolhimento.
Brasil, 2021 Recriminar a parturiente por  qualquer comportamento como  gritar, chorar, ter medo, vergonha  ou dúvidas;∙ Acolher essas manifestações com  empatia, respeitando o momento  de vulnerabilidade da mulher e  oferecendo apoio contínuo e  humanizado.
Brasil, 2021 Fazer a gestante ou parturiente  acreditar que precisa de uma  cesariana quando esta não se faz  necessária, utilizando de riscos  imaginários ou hipotéticos não  comprovados e sem a devida  explicação dos riscos que  alcançam ela e o bebê;∙ Respeitar o direito da mulher à  informação e à tomada de  decisão sobre seu próprio corpo.  
∙ Atuar garantindo orientações  transparentes, baseadas em  evidências científicas,  
∙ Promover autonomia e segurança  no processo do parto.
Brasil, 2021 Impedir que a mulher seja  acompanhada por alguém de sua  preferência durante todo o  trabalho de parto;∙ Garantir a presença de um  acompanhante por lei. ∙ Assegurar esse direito por meio  da equipe de enfermagem. 
∙ Promover um ambiente  acolhedor e respeitoso. 
∙ Evitar práticas que desumanizem  o nascimento.
Brasil, 2021 Submeter a mulher a  procedimentos dolorosos,  desnecessários ou humilhantes,  como lavagem intestinal,  raspagem de pelos pubianos,  posição ginecológica com portas  abertas, exame de toque por mais  de um profissional;∙ Evitar práticas que violem a  dignidade da parturiente. ∙ Prevenir traumas físicos e  emocionais. 
∙ Atuar com base em boas práticas  obstétricas. ∙ Respeitar a intimidade da  mulher. 
∙ Garantir o consentimento  informado. ∙ Proporcionar conforto durante  todo o parto.
Brasil, 2021 Deixar de aplicar anestesia na  parturiente quando esta assim o  requerer ou Proceder a  episiotomia quando esta não é  realmente imprescindível;∙ Assegurar o consentimento  informado para todos os  procedimentos. 
∙ Basear os cuidados em  evidências científicas. ∙ Priorizar o conforto da mulher  durante o parto. 
∙ Respeitar a autonomia da  gestante. ∙ Garantir a segurança em todo o  processo.
Brasil, 2021 Retirar da mulher, depois do  parto, o direito de ter o bebê ao  seu lado no Alojamento Conjunto  e de amamentar em livre  demanda, salvo se um deles, ou  ambos necessitarem de cuidados  especiais;∙ Prevenir interferências negativas  na amamentação. 
∙ Reconhecer a importância da  amamentação para a saúde do  bebê. 
∙ Promover a humanização do  atendimento. 
∙ Respeitar as escolhas da mulher.
∙ Incentivar o cuidado conjunto  entre mãe e bebê.
Brasil, 2021 Fazer qualquer procedimento  sem, previamente, pedir  permissão ou explicar, com  palavras simples, a necessidade  do que está sendo oferecido ou  recomendado;∙ Garantir a explicação prévia de  todos os procedimentos. 
∙ Respeitar a autonomia da mulher.
∙ Assegurar o direito à informação. 
∙ Promover escolhas informadas  sobre o próprio corpo e saúde.
Brasil, 2021 Xingamentos, humilhações,  comentários constrangedores em  razão da cor, da raça, da etnia, da  religião, da orientação sexual, da  idade, da classe social, do  número de filhos etc.;∙ Reduzir a vulnerabilidade  emocional durante o parto. 
∙ Proporcionar um ambiente  seguro e respeitoso. 
∙ Eliminar qualquer forma de  discriminação. 
∙ Garantir um atendimento ético e  humanizado.

Fonte: Autores da pesquisa.

Discussão 

 Os resultados desta revisão mostram que existe uma relação preocupante entre a violência  obstétrica e o surgimento da depressão pós-parto. Isso reforça a necessidade urgente de medidas  preventivas e de uma assistência qualificada, principalmente por parte da equipe de  enfermagem. 

 A violência obstétrica, apesar de muitas vezes ser tratada como algo normal nos serviços  de saúde, causa danos significativos à saúde emocional da mulher durante a gestação, o parto e  o pós-parto. Esse tipo de violência afeta diretamente a autoestima, a sensação de segurança e a  dignidade da gestante, o que pode gerar traumas psicológicos, dificuldade de criar vínculo com  o bebê e quadros de depressão pós-parto (Fiocruz, 2023). Tais consequências confirmam os  alertas anteriores de órgãos como a Fundação Oswaldo Cruz e o Ministério da Saúde sobre os  efeitos de práticas desrespeitosas no cuidado obstétrico (Brasil, 2021). 

 Além disso, muitos profissionais da saúde ainda não estão preparados para identificar situações de violência obstétrica ou os primeiros sinais de sofrimento psíquico no pós-parto.  Essa falta de capacitação compromete o atendimento adequado e dificulta o encaminhamento  para suporte psicológico e psiquiátrico, o que pode prolongar ou agravar o quadro clínico das  mulheres (Silva et al., 2022). 

 Nesse cenário, a enfermagem se destaca como uma profissão estratégica. Por estarem  presentes em todos os momentos do ciclo gravídico-puerperal, os profissionais de enfermagem  podem oferecer tanto cuidados técnicos quanto apoio emocional e acolhimento. Estudos  demonstram que, quando há escuta ativa, respeito, orientação adequada e empatia, as mulheres  se sentem mais seguras e menos propensas a desenvolver transtornos emocionais como a  depressão (Costa; Oliveira; Nascimento, 2021).  

 A atuação da enfermagem nas Unidades Básicas de Saúde também é fundamental, pois  permite um acompanhamento mais próximo e contínuo das gestantes e puérperas. Esse vínculo  favorece a detecção precoce de dificuldades e possibilita ações mais direcionadas e eficazes.  Esse tipo de cuidado é essencial para construir um modelo de assistência mais humanizado, que  respeite os direitos das mulheres e minimize os impactos da violência obstétrica (Souza; Moura;  Barbosa, 2020). 

 Por fim, esta revisão aponta para a importância de políticas públicas mais firmes no  combate à violência obstétrica, bem como para a necessidade de formação ética, humanizada e  baseada em evidências científicas para todos os profissionais de saúde. Garantir um  atendimento de qualidade exige, além de habilidades técnicas, empatia, escuta sensível e  respeito à autonomia da mulher (Brasil, 2021).

Considerações finais 

 A depressão pós-parto, quando associada à violência obstétrica, constitui um problema  significativo de saúde pública, afetando não só a saúde mental da mulher, mas também  prejudicando o vínculo materno-infantil, a dinâmica familiar e o desenvolvimento do recém nascido. O enfrentamento dessa realidade demanda ações coordenadas, que envolvem desde a  qualificação dos profissionais até a implementação de políticas públicas que garantam o  respeito aos direitos das mulheres durante a maternidade. 

 A enfermagem, enquanto profissão dedicada ao cuidado, desempenha um papel  fundamental na construção de um atendimento que se baseie na empatia, no respeito e na  valorização da autonomia da mulher. A atuação ativa e sensível da equipe de enfermagem tem  o potencial de transformar a experiência do parto e do pós-parto, reduzindo riscos e  promovendo a saúde integral da mulher e do bebê. 

 Assim, este estudo destaca a relevância da abordagem multiprofissional, do cuidado  humanizado e da conduta ética na prática clínica. Espera-se que os resultados aqui apresentados  sirvam como base para futuras pesquisas e para o aprofundamento das discussões sobre os  impactos da violência obstétrica e as possíveis estratégias para sua superação. 

Referências  

Brasil. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Violência obstétrica. Brasília: Ebserh,  2021. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sul/hu ufsc/saude/maternidade/violencia-obstetrica. 

Brasil. Ministério da Saúde. Depressão pós-parto. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.  Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/depressao-pos parto. 

Brasil. Ministério da Saúde. Atenção humanizada ao parto e nascimento. Brasília: Ministério  da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br. 

Costa, M.; Oliveira, J.; Nascimento, C. O papel da enfermagem na prevenção da depressão  pós-parto. Revista de Enfermagem Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 120-130, 2021. 

Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do  Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do  Adolescente. Postagens: Violência Obstétrica: conceitos e evidências. Rio de Janeiro, 24 ago.  2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/violenciaobstetrica-conceitos-e-evidencias/>. 

Mendes, Kátia Daniela Silva; Silveira, Rosely Cecilia Carvalho Pinto; Galvão, Cristina Maria.  Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 758–764, out./dez..  Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/WKbD98LgJFRyVnFxKPB79By/?lang=pt. 

Silva, M. J. et al. Violência obstétrica e saúde mental no puerpério: revisão integrativa da  literatura. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 22, n. 4, p. 817–825, 2022. 

Souza, C. F.; Moura, K. A.; Barbosa, R. A. Acolhimento e vínculo como estratégias de  cuidado em saúde materna. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, supl. 1, p. e20200456,  2020.


1Graduanda do Curso de Enfermagem, Centro Universitário IESB, Ceilândia, DF, Brasil
2Docente do Curso de Enfermagem, Centro Universitário IESB, Ceilândia, DF, Brasil