INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS MULHERES IDOSAS COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6613829

PHYSIOTHERAPEUTIC INTERVENTION IN ELDERLY WOMEN WITH URINARY INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW


Autores:
Walkiria Benacon da Silva Rego¹
Elderfran da Silveira Pinheiro¹
Vicente Lucas Adam Queiroz Gomes²
Thaiana Bezerra Duarte³

1Acadêmicos do curso de Bacharel em Fisioterapia da UNINORTE
²Fisioterapeuta, Pós-graduado em Fisioterapia Traumato-ortopédica em Desportiva (IAPES)
³Fisioterapeuta, Docente na UNINORTE, Pós-Doutorado e Doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP, Mestre em Saúde Materno-Infantil pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Especialista em em Saúde da Mulher pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Membro da diretoria da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM) no cargo de Diretora Tesoureira, Delegada representante do Brasil na “International Organization of Physical Therapists in Pelvic and Womens Health (IOPTPWH) um subgrupo da “World Confederation of Physical Therapy” e atua na área de Fisioterapia, com ênfase em Saúde da Mulher, Ginecologia, Obstetrícia, Urologia e Assoalho Pélvico.


RESUMO
A incontinência urinária (IU) atinge 72% das mulheres no mundo. Geralmente, são três os tipos de sintomas mais encontrados, sendo eles: incontinência urinária de esforço (IUE), urge incontinência (UI) e incontinência urinária mista (IUM). Contudo, elementos relacionados aos tratamentos fisioterapêuticos na incontinência urinária mostram-se conexos no sentido de apontar seus fins e importância, para mais bem selecionar a intervenção. O objetivo desse estudo foi revisar a literatura científica para verificar os efeitos da intervenção fisioterapêutica na incontinência urinária das mulheres idosas. Para compor este estudo dezesseis publicações foram selecionados nas seguintes bases de dados: LILACS, SciELO, PEDro e PubMed. Os resultados obtidos na revisão foram de que a intervenção fisioterapêutica na IU gerou melhoria na qualidade de vida, no aumento da força dos músculos do assoalho pélvico, na redução das quedas, dos sintomas e da frequência. Conclui-se que a atuação da fisioterapia na IU promoveu benefícios nos pontos analisados, porém, sugere-se que mais ensaios randomizados controlados sejam realizados, para melhor compreensão do impacto da terapêutica e acréscimo de possíveis recursos que podem ser usados como intervenção fisioterapêutica.
Palavras-chave: Exercícios; Incontinente; Qualidade de Vida.

ABSTRACT

Urinary incontinence (UI) affects 72% of women worldwide. Generally, there are three types of symptoms most commonly found, namely: stress urinary incontinence (SUI), urge incontinence (UI) and mixed urinary incontinence (MUI). However, elements related to physiotherapeutic treatments in urinary incontinence are shown to be connected in the sense of pointing out their purposes and importance, in order to better select the intervention. The aim of this study was to review the scientific literature to verify the effects of physical therapy intervention on urinary incontinence in elderly women. To compose this study, sixteen publications were selected from the following databases: LILACS, SciELO, PEDro and PubMed. The results obtained in the review were that the physiotherapeutic intervention in UI generated an improvement in the quality of life, in the increase of the strength of the pelvic floor muscles, in the reduction of falls, symptoms and frequency. It is concluded that the role of physiotherapy in UI promoted benefits at the points analyzed, however, it is suggested that more randomized controlled trials be carried out, for a better understanding of the impact of therapy and the addition of possible resources that can be used as a physiotherapeutic intervention.

Keywords: Exercises; Incontinent; Quality of life.

INTRODUÇÃO

Para a Sociedade Brasileira de Urologia (2018), a incontinência urinária (IU) atinge 72% das mulheres no mundo. Cerca de 20% dos casos de incontinência são em mulheres adultas, e em idosas pode chegar a 50%, destas estima-se que 50% apresentam recorrência, desta maneira, as mulheres são mais atingidas por causa da anatomia do órgão feminino e na maioria dos casos, todavia, o problema tem picos na menopausa e após os 75 anos.
De acordo com Costa e Santos (2012), as incontinências urinárias são classificadas de acordo com os sintomas apresentados, os três tipos mais encontrados são: incontinência urinária de esforço (IUE) – quando há perda da urina pelo meato uretral sincrônica com a realização de esforços; urgeincontinência (UI) – caracterizada pela perda urinária seguida da urgência miccional e incontinência urinária mista (IUM) – ocorre perda urinária tanto à urgência quanto na realização de esforços.

No estudo realizado por Pitangui et al. (2012), foi possível observar que muitas vezes as idosas acometidas pela IU convivem com estes sintomas como algo intrínseco ao envelhecimento, não percebendo o quanto afetam sua qualidade de vida, deste modo, Costa e Santos, (2012) ressaltam que o tratamento por intervenção fisioterapêutica na maioria das vezes é recomendado como primeira alternativa.

Segundo Cruz et al. (2020), a musculatura do assoalho pélvica pode se contrair voluntariamente sob demanda e involuntariamente em resposta ao aumento da pressão intra-abdominal, como durante atividade física. Sendo assim, Tim e Mazur-Bialy, (2021) afirmam que por meio da coordenação adequada com o sistema nervoso, ligamentos e fáscia, bem como contração e relaxamento adequados dos músculos do assoalho pélvico (MAP), inclusive mantém a estabilidade dos órgãos internos e participa da continência, micção, defecação, funções sexuais. Deste modo, D’Ancona et al., (2019) apontam que qualquer distúrbio nas funções dos músculos do assoalho pélvico pode levar à sua disfunção.

De acordo com o estudo realizado por Bertoldi et al. (2014) e Freitas et al. (2020), a atuação fisioterapêutica em idosas incontinentes apresentou benefícios na qualidade de vida (QV) de idosas com queixas urinárias relacionadas à IU, sendo mais evidente na melhora da percepção de saúde, frequência urinária e ocorrência de queixas associadas e IU, isto é, em vários domínios da QV dos idosos, mostrando-se efetiva no manejo da IU em estágios iniciais e na prevenção da IU. Atualmente, as intervenções fisioterapêuticas na incontinência urinária das mulheres idosas têm sido usadas como objeto de várias pesquisas, porém, há escassez de estudos que reúnam estas informações em uma revisão sistemática. Logo, elementos relacionados aos tratamentos fisioterapêuticos na incontinência urinária mostram-se conexos no sentido de apontar seus fins e importância, para mais bem selecionar a intervenção e instigar para que outros estudos sejam realizados com outros tratamentos em ensaios clínicos randomizados controlados.

Sendo assim, o objetivo desse estudo foi revisar na literatura científica os efeitos da intervenção fisioterapêutica na incontinência urinária das mulheres idosas.

METODOLOGIA

O estudo realizado foi de natureza básica, com abordagem quantitativa, apresentando fins de pesquisa exploratória e característica de literatura científica, assim como fora descrito por Faccio e Marques (2016), para análise da fisioterapia nas mulheres idosas com incontinência urinária.

Os dados para desenvolvimento deste estudo foram coletados entre os meses de março a maio do ano de 2022. Para obtenção destes elementos foram utilizadas as bases de dados: LILACS, SciELO, PEDro e PubMed, tendo como descritores: fisioterapia; incontinência urinária e idosas.

Os critérios de inclusão nesta revisão foram: ensaios randomizados controlados, estudos de intervenção e a partir de 2012 e os critérios de exclusão foram: artigos duplicados e os que não trouxessem desfechos relacionados à incontinência urinária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio dos descritores utilizados foi obtido um total de 2196 artigos, dos quais 1694 artigos foram excluídos por não serem ensaios clínicos randomizados controlados. Após o critério de exclusão 428 artigos tiveram que ser eliminados, então 74 artigos foram selecionados para a triagem por meio da leitura do texto completo, dos quais 58 foram excluídos, assim, restaram 16 estudos para serem revisados. A Figura 1 mostra o processo de inclusão para esta revisão.

Figura 1 – Fluxograma do processo de inclusão dos artigos

De acordo com Liu et al. (2017) e Wang et al. (2018), a eletroacupuntura em idosas com incontinência urinária pode reduzir cerca de 50% ou mais na perda de urina, utilizando o teste do absorvente como medida durante 1 hora. No entanto, Schreiner et al., (2020) afirmam que métodos de eletroestimulação utilizados tanto de forma percutânea quanto transcutânea no nervo tibial podem repercutir melhora no quadro sintomatológico de idosas incontinentes, inclusive complementando treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) à terapia.

No estudo realizado por Kachorovski et al. (2015), que teve duração de três meses, mostrou que o alongamento isométrico por meio do “isostretching” contribuiu para uma melhora significativa nos sintomas de incontinência urinária e, por conseguinte, na qualidade de vida dessas idosas incontinentes, contudo, correlacionaram a melhora apresentada ao visível aumento da força muscular do assoalho pélvico obtido por meio dos exercícios feitos. Na análise de Langoni et al. (2014), a IU teve alta prevalência e esteve associada à diminuição da força muscular do assoalho pélvico.

Para Huang et al. (2019), o Ioga em grupo foi efetivo na redução dos sintomas das idosas incontinentes, sendo realizado duas vezes semanais no modo presencial e uma vez semanal só em casa sob orientação. Segundo Kannan et al. (2022), as posturas de ioga destinadas a abordar os músculos do assoalho pélvico e do core apresentaram benefícios superiores aos exercícios de Pilates em termos de melhora da continência, contudo, Nicosia et al., (2020) ressaltam a escassez de estudos medindo a autoeficácia em relação ao desempenho de posturas de ioga.
Diokno et al., (2018) realizou uma análise onde as pacientes receberam uma aula única de duas horas sobre saúde da bexiga, apoiada por materiais escritos e um CD de áudio, que é um método menos comum, mas bem interessante da fisioterapia na promoção da saúde ensinando as mulheres sobre a função da bexiga, técnicas de uso do banheiro, treinamento da bexiga.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a atuação da fisioterapia na IU por meio da eletroacupuntura, eletroestimulação transcutânea e percutânea, “isostretching”, Ioga, Material educativo, exercícios gerais e de treinamento do músculo do assoalho pélvico e dos músculos abdominais gerou benefícios na melhoria na qualidade de vida, no aumento da força dos músculos do assoalho pélvico, na redução das quedas, dos sintomas e da freqüência. Todavia, tiveram também estudos que afirmaram à necessidade de que o tratamento tivesse um período de pelo menos três meses, pois a interrupção da terapêutica pode causar recorrência dos sintomas, porém, sugere-se que mais ensaios randomizados controlados sejam realizados, para melhor compreensão do impacto da terapêutica e acréscimo de possíveis recursos que podem ser usados como intervenção fisioterapêutica.

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