INTERFACE ENTRE A NEUROCIÊNCIA E NEUPSICOPEDAGOGIA: UM CAMINHO POSSÍVEL  PARA A INCLUSÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10899689


Luane Silva Costa1
Fátima Vieira Lima2


RESUMO: A presente pesquisa vislumbrou realizar uma interface entre as áreas de conhecimento da neurociência, a neuropsicopedagogia e da educação inclusiva enfocando suas principais contribuições para o desenvolvimento e  aprendizado dos alunos atendidos no AEE na Escola Municipal Jael Barradas no município de Boa Vista/RR. Visto que, a neurociência nos possibilita conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro em sua complexidade, que por sua vez, nos direcionam enquanto profissionais da educação como devemos elaborar ações pedagógicas que considerem as potencialidades e especificidades dos alunos e ao conhecermos cada vez mais o sistema nervoso central, estaremos instrumentalizados para aplicar os meios necessários com o intuito de potencializar as redes neurais dos mesmos corretamente. Desta feita, as atividades de intervenção propostas no presente estudo foram escolhidas com o intuito de propiciar ao aluno com TEA e TDAH o desenvolvimento das funções executivas, assim como estimular experiências sensoriais com o uso de diferentes texturas e ensinar de forma lúdica a identificar, nomear e gerenciar as emoções e estimular o controle inibitório. Longe de esgotarmos a temática em questão, é cediço que a neurociência  em sua magnitude figura como um mecanismo facilitador do processo de ensino e aprendizagem, proporcionando desta forma uma interação entre o professor e aluno, que ao buscar conhecer o funcionamento do cérebro , se autoconhece e conhece o seu aluno, para assim partir de suas potencialidades, alcançar e auxiliar em  suas dificuldades.   Para tanto, vislumbramos os pressupostos das pesquisas bibliográfica e documental, buscando compor um quadro teórico sobre o tema abordado.

PALAVRAS CHAVES: Neuropsicopedagogia. Neurociência  Cognitiva. AEE. Educação Especial.

 INTRODUÇÃO

No fluir dos últimos anos, temos observado que o avanço tecnológico trouxe em sua conjuntura uma inestimável contribuição para o âmbito das neurociências, visto que, tem proporcionado um vasto conhecimento sobre o funcionamento do cérebro em sua complexidade.

          Diante deste cenário, no presente estudo nos deteremos nas premissas da neurociência cognitiva e da neuropsicopedagogia , realizando uma breve reflexão, ao direcionarmos o nosso foco para o âmbito educacional, uma vez que estudiosos defendem a necessidade de se conhecer cada vez mais o sistema nervoso central para saber como potencializar as redes neurais dos educandos corretamente, ou seja, a neurociência cognitiva tem particular relação com o desenvolvimento humano e fornece conhecimentos para as áreas de ensino e aprendizagem.

          Em linhas gerais o estudo em comento, versará sobre a importância e a contribuição das neurociências para o processo de ensino e aprendizagem na educação. Assim como também, analisar o desenvolvimento de uma criança de 9 anos de idade, com diagnóstico de TEA e TDAH por meio de atividades com um cunho neuropscicopedagogico, direcionadas para o desenvolvimento das funções executivas, disfunções sensoriais e atividades socioemocionais.

          Para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se por dividir as atividades em oficinas que ocorrem nos dias de atendimento na sala de recursos multifuncionais, em momentos diferentes e consecutivos. A primeira oficina foi a de integração sensorial, a segunda foi a de Funções executiva e a terceira foi a oficina das emoções, demonstrando a importância dessas atividades para o desenvolvimento e aprendizagem do aluno escolhido. 

1 A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA E DA NEUROPSICOPEDAGOGIA PARA A EDUCAÇÃO

          Iniciamos nossos apontamentos esclarecendo que a neuropsicopedagiga é fundamenta na neurociência aplicada a educação, sendo constituída também por vários saberes como a Neurologia, a Psicopedagogia, a Psicologia, a Pedagogia, a Fonoaudiolgia e a Terapia Ocopacional, desta forma é uma ciência de cunho interdisciplinar que objetiva compreender os processos relacionados à cognição, ao comportamento e à linguagem, como podemos observar nos escritos de Veiga(2022):

Neuropsicopedagogia foca em compreender o sistema nervoso, integrando suas diversas funções ligadas à aprendizagem. Com isso, o profissional de Neuropsicopedagogia tem como função estudar o funcionamento do cérebro, de forma a entender como ele aprende, seleciona, transforma, memoriza, elabora e processa as sensações captadas pelos elementos sensoriais ao seu redor.

          Diante de quadrodirecionamos nossos apontamento paraa Neurociência que ao longo dos anos se constituiu em uma área de conhecimento de suma importância para nós seres humanos, uma vez que busca conhecer e compreender o sistema nervoso e suas funcionalidades.

          Desta feita, a neurociência diante da complexidade do sistema nervoso(SN) se debruça sobre três elementos: o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos, de modo que para facilitar o entendimento divide-se entre o Sistema Nervo Central(SNC), que é constituído pelo encéfalo(estrutura central do SN) e pela medula espinhal, responsável pelo processamento de informações e gerar diversos comportamentos , e o  Sistema Nervoso Periférico, que forma uma grande rede de comunicação com tecidos do corpo por meio dos nervos.

          Nesta esteira Relvas explica com maestria que:

O sistema nervoso é constituído por fatores intrínsecos relacionados a uma anatomia e fisiologia que permitem receber, decodificar, armazenar e associar estímulos de fatores externos/ambientais (LENT,2004). Ele tem uma organização morfológica, fisiológica, molecular, sendo dividido em sistema nervoso central e sistema periférico, responsáveis pela intensa construção de novas teias neurais que são constituídas por 86 bilhões de células especializadas denominadas neurônios e trilhões de novas conexões neurais, identificadas como neuroglias. (RELVAS, 2022, p. 29)

          Diante deste quadro, se faz necessário destacar que a neurociência possui natureza interdisciplinar e surgiu ainda no início do século XIX e a partir da década de 1970 passou a ser possível estudar o cérebro em atividade, ou seja, em pessoas vivas, já que antes somente era possível a realização desse estudo em autópsias, marcando assim uma revolução nas ciências.

Todavia, foi na década de 90, denominada a “década do cérebro”, que o desenvolvimento neurocientífico atingiu seu ápice, devido ao avanço tecnológico que possibilitou a obtenção de informações detalhadas sobre a estrutura e funcionamento cerebral, possibilitando aos cientistas conhecerem com detalhes onde ocorrem as funções cognitivas como, atenção, memória, raciocínio e etc.

Corroborando com este raciocínio, Relvas em seus escritos esclarece que:

A neurociências vem estabelecendo interações entre as estruturas biológicas, anatômicas e fisiológicas do sistema nervoso com as funções psicológicas superiores, além de perpassar pelos aspectos sociais, esses considerados como uma grande influência na formação da linguagem e de pensamento, desde o desenvolvimento do embrião até a primeira infância. (RELVAS,2022, p.29).      

          Neste diapasão, estudos demonstram que a neurociência exerce um fascínio e por isso gera na população em geral a esperança de tratamento e ou de cura de distúrbios neurológicos que acometem e incapacitam milhares de pessoas pelo mundo.

          Direcionando nosso foco para o âmbito educacional, é exatamente por esse motivo que se faz necessário estudar cada vez mais o sistema nervoso central para aprender a aplicar os meios necessários com o intuito de potencializar as redes neurais dos educandos corretamente (RELVAS, 2015).

          Sendo assim, dentre as várias subdivisões da neurociência nos determos no presente estudo sobre a neurociência cognitiva, que além de ter particular relação com o desenvolvimento humano, também fornece conhecimento para áreas de ensino e educação.

          Corroborando com esse pensamento, é notório conforme Ramalho, que o conhecimento neurocientífico pode ser um grande aliado para o professor, por subsidiar a prática pedagógica que já é realizada por este, dando a verdadeira significância na aprendizagem:

Se entendermos que cada área de nosso cérebro é responsável por um aprendizado e que certas áreas produzem componentes essenciais para que o aprendizado aconteça ou não, entenderemos melhor e saberemos compreender ou tratar cada questão de nossos alunos ou clientes. (RAMALHO, 2020, p.37):

                    Destarte, observa-se antes de mais nada, para que haja uma aprendizagem é preciso que se tenha um cérebro e que para compreender a forma como esse cérebro se desenvolve e aprendi lançamos mão dos conhecimentos da  neurociência que por sua vez figura como um mecanismo esclarecedor e facilitador para conhecermos e compreendermos a forma como nossos alunos aprendem, considerando sua diversidade, ou seja, singularidades, especificidades, necessidades, dificuldades e potencialidades, promovendo dessa forma a inclusão educacional.

          Neste sentindo, dentre os vários conhecimentos oriundos da neurociência destaca-se a descoberta da plasticidade neural na aprendizagem que surgi como uma esperança tanto para os alunos típicos quanto para os que apresentam alguma atipicidade na aprendizagem, como as crianças que fazem parte do publico alvo da educação especial que necessitam de ações pedagógicas diferenciadas.

2 A NEUROCIÊNCIA NA INCLUSÃO

               Ao falarmos de inclusão educacional é importante destacar que não nos restringimos apenas aos alunos publico alvo da educação especial, pessoas com deficiências, mas a todos aqueles que de alguma forma necessitam de uma práxis diferenciada, haja vista que coadunamos com a ideia de que a inclusão deve atender a diversidade humana corporificada em todos os alunos, ou seja, independente de suas características (de gênero, étnicas, socioeconômicas, religiosas, físicas e psicológicas). 

          Frente ao reconhecimento da importância da inclusão como reconhecimento de direito à educação vemos na neurociência uma possibilidade de superar as velhas problemáticas perpetuadas ao longo dos anos no quadro educacional de nosso país, para que de fato realizar a inclusão social e consequentemente a inclusão educacional.

 Para tanto, estudiosos tem apontado a necessidade de se repensar a formação docente, sendo exatamente nesse víeis que o conhecimento da Neurociência pode contribuir com uma formação diferenciada, visando profissionais criativos, com habilidades de solucionar problemas, com capacidade de identificar os potenciais e limitações dos alunos, com ações pedagógicas diferenciadas, contribuindo assim para o sucesso escolar dos alunos, provendo a inclusão educacional.

Esclarecemos que para a realização do presente estudo, escolhemos um aluno do terceiro ano da educação básica com o diagnóstico de Autismo e TDAH, em virtude das observações realizadas nos atendimentos no AEE da escola municipal Jael da Silva Barradas, nas quais o aluno em comento apresentou uma dificuldade nas funções executivas, no aspecto sensorial e emocional. Desta forma, julgamos pertinente e com o intuito de enriquecer nossos apontamentos trazer para a nossa discussão os conceitos de Atendimento Educacional espoecializado, Educação Especial, Autismo, TDAH, Função Executiva e a  relação da emoção com a aprendizagem.

3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E SEU PÚBLICO ALVO

Claras (2020, p.8) esclarece que, a LDB 9394/96 estabelece que o aluno terá direito a receber, quando necessário, um Atendimento Educacional Especializado (AEE) viabilizado pelo Estado. Este direito está consagrado e normatizado pela Resolução n⁰4, de 2 de outubro de 2009, que instituiu as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, na modalidade educação especial.

Em suma, o AEE é um atendimento educacional especializado que é realizado em ambientes diferenciados, na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) e tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que buscam eliminar barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas, tendo sua oferta obrigatória a todos os alunos que são público alvo da educação especial, sendo oferecido no contraturno do ensino regular, se constituindo em um serviço da educação especial.

Desta forma, o público alvo do AEE são os alunos com deficiência física, intelectual, visual, auditiva, múltiplas, transtornos do espectro autista (TEA) e também alunos com altas habilidades/ superdotação.

4 A EDUCAÇÃO ESPECIAL

Coadunamos com a visão magnifica de Carvalho (2006, p.17) ao conceituar de modo riquíssimo e contundente a educação especial:

Por educação especial, entenda-se o conjunto de recursos que todas as escolas devem organizar e disponibilizar para remover barreiras para a aprendizagem de alunos que, por características biopsicossociais, necessitam de apoio diferenciado daquele que estão disponíveis na vida comum da educação escolar.

E nessa esteira de educação especial nos diz mais:

Especiais devem ser consideradas as alternativas educativas que a escola precisa organizar, para que qualquer aluno tenha sucesso; especiais são os procedimentos de ensino; especiais são as estratégias que a prática pedagógica deve assumir para remover barreiras para a aprendizagem. Com esse enfoque temos procurado pensar no especial da educação, parecendo-nos mais recomendável do que atribuir características ao alunado.

Nessa perspectiva, Claras (2020, p.8) diz que a LDB 9394/96 estabelece que o aluno terá direito a receber, quando necessário, um Atendimento Educacional Especializado viabilizado pelo Estado. Este direito está consagrado e normatizado pela Resolução n⁰4, de 2 de outubro de 2009, que instituiu as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, na modalidade educação especial.

Como já citado anteriormente o AEE tem sua oferta obrigatória a todos os alunos que são público alvo da educação especial, sendo oferecido no contraturno do ensino regular, se constituindo em um serviço da educação especial.

Desta forma, o público alvo do AEE são os alunos com deficiência física, intelectual, visual, auditiva, múltiplas, transtornos do espectro autista (TEA) e também alunos com altas habilidades/ superdotação.

Assim, para compreendermos as especificidades desse público alvo destacaremos de forma sucinta:

  • Deficiência Física- São complicações que levam à limitação da mobilidade e da coordenação geral, podendo também afetar a fala, em diferentes graus.
  • Deficiência Intelectual- É a dificuldade de raciocínio e compreensão que leva a um quadro de inteligência e conjunto de habilidade gerais abaixo da média.
  • Deficiência Auditiva- É a perda parcial ou total da audição.
  • Deficiência Múltiplas são associações entre diferentes deficiências, com possibilidades bastante amplas de combinações. Ex.: deficiência intelectual e física.
  • TEA- Transtorno do espectro é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. Nota Técnica nº 24/2013/MEC/SECADI/DPEE, ORIENTAÇÕES QUE DEVEM IMPLEMENTAR A Lei nº 12.764/2012 que trata dos direitos das pessoas com TEA. Entre as várias manifestações do TEA, o transtorno invasivo de desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS, em inglês) foi larga maioria; o autismo ficou com 1,3 por 1000 e a Síndrome de Asperger em cerca de 0,3 por 1000; as formas atípicas como o transtorno desintegrativo da infância e a Síndrome de Rett.
  • Altas habilidades ou Superdotação – É caracterizada pelo desenvolvimento de uma habilidade significativamente superior à média da população em alguma das áreas do conhecimento. (trecho extraído da apostila Atendimento Educacional Especializado e Apoio Permanente, p.6).

Em atendimento a legislação, criou-se o Programa de Implantação das salas de recursos multifuncionais, cujo a proposta da sala de Recursos Multifuncional foi iniciada em 2005, entretanto foi instituída legalmente em 2007 por meio da Portaria Normativa nº 13 de 24 de abril.

Neste viés, as salas de Recursos Multifuncionais (SRM) são ambientes diferenciados, nos quais a escola tem a obrigação de disponibilizar recursos e materiais para dar apoio pedagógico, objetivando atender às especificidades dos alunos público-alvo da EE, matriculados no ensino regular, de modo suplementar ou complementar. Para tanto, possui equipamentos, mobiliário e materiais didáticos e pedagógicos que contribuem para a diminuição dos obstáculos e barreiras no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos atendidos.

O AEE é de fundamental importância e sua responsabilidade é tamanha frente aos Inúmeros  desafios enfrentados no cotidiano da educação especial no âmbito de nossas escolas, todavia é de suma importância que o mesmo integre a proposta pedagógica da escola, que desenvolva meios e formas de envolver a família garantindo assim o pleno acesso e participação dos estudantes, assim como atender às especificidades e necessidades dos alunos público alvo da EE e subsidiar o professor da sala de aula comum, sensibilizando este para a importância do ensino colaborativo e do co-ensino, sempre calcado e articulado com as leis e as políticas públicas.

5. AUTISMO E TDAH

          A conceituação de Autismo foi se modificando ao longo dos anos, com o avanço tecnológico, atualmente a mais a recente classificação do DSM-V, publicado em 2013 classifica o autismo como um “transtorno do neurodesenvolvimento”, recebendo o nome de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), sendo definido como um distúrbio do desenvolvimento neurológico, que deve apresentar desde a infância déficit nas dimensões sociocomunicativa e comportamental.

          Em linhas gerais pesquisadores e neurologistas conceituam TEA como uma desordem global que afeta o desenvolvimento comportamental e comunicativo, culminando em um quadro com indivíduos com atipicidades sensoriais, motoras e cognitivas, assim como questões de regulação emocional e de controle de aspectos físicos e sociais à sua volta.

          É mister destacar que existe uma diversidade de características que pessoas com TEA podem apresentar, como boa aparência, bom funcionamento cognitivo em algumas áreas, todavia podem ser bem comprometidas em outras áreas.

          Uma das áreas que comprometimento no TEA é o processamento sensorial, com disfunções sensoriais como hiper e a hipo sensibilidade táteis, visuais, auditivas, olfativas e gustativas, além de defesa tátil, aversões alimentares, sensibilidade hiper ou hipo a dor, sons, cheiros e toques.    

          Quanto ao TDAH, estudos apontam que pode quando diagnosticado juntamente com o autismo, figura como uma comorbidade deste. Entretanto por uma questão didática traremos em separado sua conceituação que se caracteriza pela desatenção, pela agitação e pela impulsividade.

          As crianças com TDAH são capazes de aprender como as demais crianças típicas, entretanto possuem dificuldade na aprendizagem por se distraírem facilmente, já que se concentrar é algo difícil, tem dificuldade de seguir instruções e se organizarem, falam excessivamente e podem apresentar devido a hiperatividade, um descontrole motor que faz com que as crianças tenham movimentos bruscos e inadequados, mudanças de humor e instabilidade afetiva.

          Sabe-se que as crianças com TDAH apresentam alteração no circuito dopaminérgico, uma vez que ocorre quando há uma deficiência no processo de dos neurotransmissores chamado produção de dopamina. Os neurotransmissores por sua vez possuem a função de regular o sistema nervoso central.

          Outra área que é afetada nas pessoas com TDAH é a parte das funções executivas que fica no córtex pré-frontal, apresentando um atraso nessa área, de modo que, é nessa área que o cérebro se organiza, se motiva e lida com as emoções.

5.1 FUNÇÃO EXECUTIVA

               A função executiva é considerada a chefe do cérebro, sendo consideradas como um conjunto de processos cognitivos que modo integrado possibilitam ao individuo direcionar comportamentos para atingir determinada meta, avaliar a eficiência e adequação de tais comportamentos, desistir de   estratégias menos eficazes em detrimento outras mais eficientes, assim como resolver problemas imediatos de médio e longo prazo. Deste modo, participam desse processo diferentes habilidades cognitivas, dentre as quais podemos destacar a atenção, a integração e manipulação de informações relevantes na memoria de trabalho, como também o controle de impulsos, planejamento e etc.

          As funções executivas nos últimos anos, passaram a ter sua importância reconhecida pelos educadores, uma vez que é na escola que podemos observar na pratica sua relevância na realização das atividades que exigem planejamento, estratégias de resoluções, na memorização, no raciocínio lógico, na tomada de decisão, no priorizar informações e etc.        Para tanto, caberá aos professores um ensino com estratégias que possibilitem uma real aprendizagem.

5.2  A RELAÇÃO DA EMOÇÃO COM A APRENDIZAGEM

          A neurociência nos possibilitou o conhecimento de como as emoções são importantes e como contribuem para o nosso aprendizado e sobrevivência. A área responsável pelas emoções é a amígdala que fica localizada no sistema límbico, que participa dos processos de aprendizagem do ser humano, inclusive das aprendizagens dos conhecimentos escolares, sendo exatamente nessa área que quando expostos a uma situação de perigo nos é emitida uma resposta, decidimos se fugiremos, ficaremos imóveis ou lutaremos. É o que podemos observar nas falas de Moderato ao explicar com maestria que:

 […] Na verdade, as neurociências têm mostrado que os processos cognitivos e emocionais estão profundamente entrelaçados no funcionamento do cérebro e têm tornado evidente que as emoções são importantes para que o comportamento mais adequado à sobrevivência seja selecionado em momentos importantes da vida dos indivíduos. A ausência das emoções nos tornaria como inexpressivos robôs androides, como se vê em muitas obras de ficção científica. E a vida perderia muito em colorido e sabor. (MODERATO, 2011, p. 76).

          Compreendemos assim, que as emoções são imprescindíveis para diversos tipos de aprendizagem, haja vista que o processo de aprendizagem está intrinsecamente ligado a tomada de decisão e a aprendizagem só acontece com a formação de novas memórias e esses processos da memória são modulados pela emoção. Ou seja, as informações, imagens assim como as experiencias são formadas e modificadas pelas emoções que acompanham os processos de percepção, atenção e memória.

          Toda ação de ensino deve considerar as emoções de quem ensina quanto de quem aprendi, pois elas são constitutivas da interação humana que estabelece vida escolar, assim como são constitutivas dos processos cerebrais envolvidos no ensino e na aprendizagem (LIMA, 2010).

          Diante da relevância das emoções para aprendizagem, uma vez que se originam no cérebro, mais precisamente nos circuitos neuronais, recebendo as informações por meio dos órgãos dos sentidos, é importante sabermos que estudos recentes sobre o funcionamento do cérebro têm evidenciado que estas são determinadas por experiencias passadas e que consequentemente determinam as tomadas de decisão e toda situação de ensino e aprendizagem está pautada em tomadas de decisão.

          Por esse motivo, se faz necessário um repensar da práxis e da formação dos profissionais da educação, já que é imperativo a necessidade de conhecimentos concernentes ao funcionamento do cérebro dos seus alunos, pois sem esse conhecimento e sem levar em conta a importância deste para aprendizagem, recairemos em práticas arcaicas que já não atendem mais a atual necessidade da educação brasileira.

Para tanto, os profissionais da educação devem ter a consciência e o compromisso de buscarem sempre por novos conhecimentos, estudando e qualificando cada vez mais, imbuídos com os objetivos de atenderem seus alunos em suas necessidades, especificidades, singularidades e dificuldades.

Devem assim procurar estimular os alunos propiciando momentos de criação de boas memorias, motivando-os a tomarem decisões mais acertadas, visto que, as repostas desse processo estão intimamente ligadas as experiencias já vividas e armazenadas na memória, que consequentemente determinam nossas atitudes e comportamentos e culminarão na aquisição e desenvolvimento de novas aprendizagens.

6 Intervenção Prática

            As atividades escolhidas foram realizadas com uma criança, do sexo masculino, de 09 anos de idade com diagnóstico de TEA e TDAH atendido na Sala de Recursos Multifuncionais, de modo que tais atividades foram selecionadas mediante as especificidades observadas no atendimento especializado. Para tanto, organizamos oficinas ocorreram em dias diferentes, ao longo de três meses, com o intuito de contemplar os diferentes aspectos e áreas nas quais o aluno necessita serem trabalhados e ou estimulados. Assim iniciamos com a oficina das sensações com as atividades de caixa sensorial e bacia relaxante com bolinhas de gude, musicalização com o uso de diferentes recursos, de diferentes texturas, como sacola plástica, colheres de metal, garrafa pet e tambor do mar feito de caixa de pizza.

 Na segunda oficina realizamos a pescaria com materiais reciclados, o jogo Bagunça no estacionamento e o uso de instrumento musical como o xilofone para trabalharmos a memorização do poema As borboletas.

 A terceira oficina desenvolvemos as atividades de jogo das emoções, com o uso de cards explicativos e dados, bingo do emojis, produção de desenho e história das emoções e sentimentos com o uso de palitoches.

CONCLUSÃO

Com fulcro nas pesquisas para a realização do presente estudo e na análise das atividades realizadas, foi possível verificar que a neurociência cognitiva em sua conjuntura nos possibilita conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro em sua complexidade que nos direcionam enquanto profissionais da educação como devemos elaborar ações pedagógicas que considerem as potencialidades e especificidades dos alunos, possibilitando assim  o processo de ensino e aprendizagem, haja vista que, ao conhecermos cada vez mais o sistema nervoso central estaremos instrumentalizados para aplicar os meios necessários com o intuito de potencializar as redes neurais dos educandos corretamente.

          Mediante as três oficinas nas quais foram desenvolvidas as atividades supramencionadas verificou-se que se faz necessário uma parceria com a família para que possa contribuir e dar continuidade no trabalho que é desenvolvido no atendimento educacional especializado com o intuito de ajudar ainda mais o aluno em suas dificuldades sensoriais, nas funções executivas e emocionais, por meio da ludicidade, de modo que se crie uma rotina na qual a família tenha esse momento de interação com a criança.

          Contudo, a presente pesquisa encontra sua relevância por contribuir com os estudos referentes a importância e a contribuição da neurociência para o âmbito educacional de nosso país, uma vez que constatou-se a necessidade de conhecermos cada vez mais como nosso cérebro aprende, para que assim possamos atuar de forma mais assertiva com os nossos alunos, potencializando as redes neurais de nossos alunos da forma correta.

          Após a realização deste estudo  ficou claro que , indubitavelmente ainda temos muito a aprender sobre os meandros da neurociência , de modo que realizamos uma breve reflexão sobre esse tema em apreço e frente a magnitude desta área de conhecimento que figura como um mecanismo facilitador do processo de ensino e aprendizagem, proporcionando desta forma uma interação entre o professor e aluno, que ao buscar conhecer o funcionamento do cérebro , se autoconhece e conhece o seu aluno, para assim partir de suas potencialidades, alcançar e sanar suas dificuldades.  

REFERÊNCIAS

COSENZA, Ramon M; GUERRA, Leonor B. (organizadores). Neurociência e Educação-Como o cérebro aprende: MODERATO, Allegro. A emoção e suas relações com a cognição e a aprendizagem. Porto Alegre. Artmed. Cap. 6. 2011.p. 76-85.

FUENTES, Daniel; LUNARDI, Luciane. Funções Executivas em Sala de Aula. In. MALLOY, Leandro F.; MATTOS, Paulo; ABREU, Neander; (organizadores). Neuropsicologia Aplicações Clínicas. Porto Alegre. Artmed, 2016. Cap.19.

LIMA, Elvira Souza. Neurociência e Aprendizagem. 2.ed. São Paulo. Inter Alia Comunicação e Cultura.2010. 32 p.

MILLER, Kelli. Vamos lidar com a hiperatividade e o déficit de atenção. 1.ed. Rio de Janeiro. Sextante.2022. Cap.1. p. 17-27.

RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Transtornos de Aprendizagem: As múltiplas eficiências para uma educação Inclusiva. Rio de Janeiro. 2015.  Cap. 1. p 22-31.

RELVAS, Marta Pires. Neurociência e o Desenvolvimento cognitivo Humano da gravidez à primeira infância. In. METRING, Roberte; SAMPAIO, Simaia (organizadores). Neuropsicopedagogia e aprendizagem. 3. Edição. Rio de Janeiro. Wak Editora.2022. p. 29.

SALLES, Virgínia Ostroski; LEITE, Damaris Beraldi Godoy; FRASSON, Antônio Carlos. Formação de Professores: Perspectivas Teóricas e Práticas na Ação Docente. Ponta Grossa-PR. Atena Editora. 2019.

VEIGA, Nathália de Souza Andrade. Neuropsicopedagogia: a tríade transdisciplinar. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/25/neuropsicopedagogia-a-triade-transdisciplinar. Acesso em: 10 de agosto de 2023.



1Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Federal de Roraima, Especialista  em Metodologia do Ensino da Arte, pela UNINTER, Especialista em Direito Educacional, pela FAVENI, Especialista em Atendimento Educacional Especializado pela FAVENI eNeuropsicopedagogia Institucional e Clínica,  Especialista eNeuromotricidade pela Rhema, Especista em Neurociência e Neuropedagogia pela Rhema e especialista em Arteterapia pela Rhema.

 2 Pedagoga, pela Universidade Estadual de Roraima, Especialista Em Psicopedagogia com ênfase em Educação Especial, pela Faculdade Educacional da Lapa, Mestranda Profissional em Educação Inclusiva pelo PROFEI/ UFRR. E-mail: proffatimavieira.fl@gmail.com. Currículo Lattes: https://lates.cnpq.br/1379330793526666