INTERAÇÃO SOCIAL EM UM CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202501311737


Camila Marx Nora
Orientadora Profª Ângela Mari Mattos P. Schwahn


Resumo: 

O presente artigo busca observar momentos de interação social de crianças do maternal I (2 a 3 anos), podendo observar como um psicopedagogo pode auxiliar as crianças, pais e professores a lidar com algumas dificuldades que as crianças possuem. A interação social humana começa a ocorrer desde muito cedo, a partir do nascimento a criança se depara com situações em que ela precisa interagir com outras pessoas para garantir sua sobrevivência. Por volta dos dois anos de idade a criança acaba passando por mudanças significativas em sua vida. Inicia-se segundo Piaget o período pré – operacional, fase em que a criança começa a perceber a fantasia, a copiar os mais velhos e até mesmo as outras crianças. Dá ênfase também à fase egocêntrica onde a criança se sente como centro do universo não conseguindo se colocar no lugar do outro. A metodologia de observação utilizada dentro de sala de aula é um estudo de caso, tem cunho qualitativa, é de natureza aplicada e traz como principal objetivo a análise de algumas situações vivenciadas dentro de sala de aula e como podemos agir de melhor forma.

Palavras-chaves: Brincadeiras. Egocentrismo. Conflitos.

Abstract: 

This article seeks to observe moments of social interaction among children in kindergarten I (2 to 3 years old), being able to observe how a psychopedagogue can help children, parents and teachers to deal with some difficulties that children have.

Keywords: Joking. Egocentrism. Conflicts.

Introdução:

A interação social humana começa a partir do seu nascimento, onde a criança acaba entrando em contato com um mundo desconhecido e tendo de se relacionar com ele. Com isso vem a necessidade de a criança interagir com o meio social em que ela vive, formando amizades e desenvolvendo a habilidade da comunicação com as pessoas, e esta interação pode auxiliar no desenvolvimento do aprendizado.

As crianças que foram observadas possuem de 2 a 3 anos, fase esta em que estão aprendendo a dialogar, e a se expressar perante outras crianças. Neste momento foi possível identificar algumas dificuldades que elas possuem como, por exemplo, ao invés de conversar, morder, se jogar no chão ou fazer pirraça na intenção de conseguir o que querem. A observação mostra-se importante para auxiliar no processo de aprendizagem da criança e como um psicopedagogo pode auxiliar a criança, professores e pais neste momento.

No decorrer deste trabalho foi possível observar momentos de interação social de crianças do maternal I (2 a 3 anos), podendo desta forma verificar como um psicopedagogo pode auxiliar as crianças, pais e professores a resolver algumas dificuldades que as crianças possuem. 

Tal pesquisa se tornou possível devido a técnica de observação participante, na qual “ocorre por meio do contato direto do investigador com o fenômeno observado para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, considerando sua perspectiva e seus pontos de vista.” (SILVA e URBANESKI, 2009, p.62).

O referencial teórico da pesquisa abarca autores como Vygotsky, Piaget, que tem o foco de suas pesquisas voltadas para a interação social humana e o desenvolvimento da criança como um todo. Ainda traz Alves, Oliveira, Rocha entre outros autores.

REFERENCIAL TEÓRICO

A interação social humana começa a acontecer desde muito cedo. A partir de seu nascimento ela se depara com um mundo desconhecido, onde ela deverá interagir com as pessoas a sua volta para poder sobreviver. A primeira interação da criança ocorre com os pais e a família. É a partir do primeiro contato com a família que ela desenvolve os primeiros indícios de linguagem, cultura e valores entre outros. Segundo ALMEIDA apud VYGOTSKI, 2002. p.6

Aponta a família como o primeiro grupo social que a criança pertence e é na família que ela adquire a linguagem, condição básica para o processo de socialização e aquisição de cultura. Com efeito, a aquisição de conceitos, valores, linguagem e o próprio conhecimento são produzidos pelo processo de internalização de materiais simbólicos na criança que ocorrem a partir de suas interações sociais. Este é um processo que se constrói de fora para dentro, mediados pelas relações intra e interpessoais – na troca com outros sujeitos e consigo próprio – que vão se constituindo em significados, orientando a compreensão de papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência na criança.

A criança quando começa a conhecer outras pessoas ou mesmo a frequentar um Centro de Educação Infantil (C.E.I) tem o seu círculo de amizades e convivência ampliado, assim sendo possível um melhor desenvolvimento social e cognitivo, pois o mesmo irá se desenvolver de melhor quando puder ter uma participação mais ativa na construção do seu conhecimento, ela também poderá neste momento ter acesso a mais informação, troca de experiências com outras crianças.

Desde muito cedo quando ainda se encontra no berçário (0 a 2 anos), a criança está em contato com outras crianças da sala de aula e a sua interação social está em ação. Ela brinca, conversa (começa a balbuciar) algumas palavras, a fazer amizades. E começa a demonstrar indícios de querer, de precisar das coisas, começa a existir com vontades próprias, sentimentos entre outros.

Com o decorrer do tempo e a adequação às fases do desenvolvimento, a criança vai aprendendo a falar, a se expressar com as outras pessoas. No desenvolvimento da linguagem a criança desenvolve a relação direta com a comunicação e assim podendo melhor expressar suas vontades e desejos.

De acordo com (CARVALHO apud VYGOTSKY, 1987, p. D10-22):

Cada criança tem seu próprio tempo para desenvolver as habilidades linguísticas, mas todas conseguem um mesmo padrão de desenvolvimento, se acreditarmos que o desenvolvimento da criança é fruto do biológico e da interação com seu meio sócio histórico.

É através da fala que a criança tende a resolver seus maiores problemas e conflitos e também a organizar melhor seu mundo, dando formas e significados às coisas, atitudes e sentimentos, sendo esse processo de grande importância para ela.

Durante esse período escolar a principal hora que as crianças interagem umas com as outras é a hora da brincadeira, do lúdico, onde muitas vezes ela reproduz aquilo que vivencia em casa, na escola ou observa na sociedade. O ato de brincar ou o próprio brinquedo acaba auxiliando no interesse de descobrir que há na criança “O brinquedo é a essência da infância; é o veículo do crescimento; é um meio extremamente natural que possibilita à criança explorar seu mundo, possibilitando as descobertas, o entendimento, conhecer os seus sentimentos, suas ideais e sua forma de reação”. (ALMEIDA, apud OLIVEIRA, 2002, p.6)

Através destes momentos lúdicos podem aparecer momentos de extrema alegria, amizade, agressividade, intolerância, entre outros.  

O lúdico se baseia na atualidade, ocupa-se do aqui e do agora, não prepara para o futuro inexistente. Sendo o hoje a semente de qual germinará o amanhã, podemos dizer que o lúdico favorece a utopia, a construção do futuro a partir do presente. (Alves, Rubem, 1987, p.22)

O professor deve auxiliar a criança a procurar melhores soluções para os momentos em que ela não consegue demonstrar certas emoções e a agressividade se torna uma forma de reação. 

Pais e professores devem estar atentos à intensidade e freqüência das atitudes agressivas das crianças e, caso necessário buscar um apoio psicológico para extinção de tais comportamentos a fim de que eles não se instalem definitivamente e ocasionem um problema de conduta mais sério no futuro bem como traumas, complexos, bloqueios emocionais, e outros. (ROCHA, 2012, p.3) 

A criança nesta fase de sua vida (dois a seis anos) é egocêntrica e tem dificuldade de dividir suas coisas, seus brinquedos, ou os brinquedos que ela acha ser seu, neste momento o professor deve auxiliar, conversar e colocar algumas regras para a convivência em sala de aula, possibilitando a criança entender de melhor forma aquilo que ela pode ou não fazer, que algumas de suas atitudes podem prejudicar ou machucar a outra criança, intervindo diretamente no processo de aprendizagem da mesma.

De acordo com PIAGET apud PIRES(2009, p. D8-22):

As crianças com essa idade começam a brincar de faz-de-conta, ou seja, a criança é capaz de modificar mentalmente os objetos que a rodeiam. Por exemplo: um cabo de vassoura pode se tornar um cavalo. Piaget afirma que uma criança pré-operacional enxerga a vida somente a partir de sua própria estrutura de referência, ou seja, é egocêntrica. Para Piaget, egocentrismo é diferente de egoísmo. O egocentrismo faz com que a criança pense que todos enxergam o mundo da sua maneira. Nesse estágio, a criança busca adquirir habilidade verbal. Ela pode até nomear objetos, classificar e raciocinar figurativamente, mas ainda não consegue coordenar operações fundamentais.

Essa intervenção que ocorre por intermédio do professor deve buscar facilitar o entendimento da criança de como o outro colega se sente. Colocar-se no lugar do outro pode auxiliar a criança agressiva a pensar em outro comportamento a ser tomado.

As relações estabelecidas no ambiente escolar passam pelos aspectos emocionais, intelectuais e sociais e encontram na escola um local provocador destas interações nas vivências interpessoais. A escola caracteriza-se como um dos primeiros locais que deveriam garantir a reflexão sobre a realidade e a iniciação da sistematização do conhecimento socialmente construído.  Estabelecendo um palco de negociações, os alunos podem vivenciar conflitos e discordâncias buscando acordos sempre mediados por outros parceiros. (MARTINS, 1997, p. 120)

Durante o processo de ensino-aprendizagem a criança pode aprender com outras a importância de se relacionar bem com os amigos, e os mesmos podem auxiliar na intervenção e nas dificuldades que os amigos encontram.

PAPEL DO PSICOPEDAGOGO E COMO ELE PODE AUXILIAR NA INTERAÇÃO SOCIAL

A psicopedagogia está voltada a estudar o ato de aprender e ensinar, com ele ocorre a melhor forma de intervir em casos de dificuldades de aprendizagem entre outros, assim como a melhor forma de auxiliar alunos, pais e professores de como se portar perante certas dificuldades. É ligada a várias áreas do conhecimento como psicologia, pedagogia entre outros

De acordo com Neves (apud BOSSA, p. 19)

[…] a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto […] procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos. (STADINIK, Liliana. P. D6-32)

O psicopedagogo pode auxiliar na busca por melhores soluções em algumas situações em que a criança não consegue resolver sozinha, como por exemplo o ato da mordida, que muitas vezes não é intencional, mas que no auge da emoção a criança não consegue se expressar e acaba mordendo mesmo sem a intenção de machucar.

A Psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para pensar sobre as questões de ensino-aprendizagem. Sendo assim, está intimamente ligada ao ato de brincar, como fonte de conhecimento. Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como um processo mais abrangente, implicando componentes de vários eixos de estruturação como afetividade, cognitivo, social, cultural, entre outros. (FANTACHOLI, 2011, p.7)

É interessante e necessário o acompanhamento de profissionais da instituição escolar, não somente o psicopedagogo, mas também psicólogos, fonoaudiólogos entre outros profissionais que possam auxiliar os professores e os pais a lidar com situações que exigem maior atenção e orientação adequada.

Metodologia 

O presente estudo tem objetivos exploratórios e se caracteriza como uma abordagem qualitativa de natureza aplicada. De acordo com GIL(1999) apud SILVA e URBANESKI (2009, p.49) “gera conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve interesses locais”.

A pesquisa realizada também se apresenta como um estudo de caso, pois a observação foi realizada durante um período de aproximadamente sete meses, na sala de aula em que a professora pesquisadora leciona.

De acordo com DENCKER apud SILVA e URBANESKI (2009, p.51)

O estudo de caso pode abranger análise de exame de registros, observação de acontecimentos, entrevista estruturada ou não-estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. Seu objeto pode ser um indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou, até mesmo, uma situação.

Esta pesquisa busca analisar situações de interação entre crianças de 2 e três anos de um Centro de Educação Infantil (C.E.I) do município de Curitibanos. 

Análise de dados

Através da observação realizada em uma sala de aula dentro de um C.E.I foi possível verificar diversas situações de interação social entre as crianças. A análise foi focada principalmente nos alunos do maternal I, onde as crianças têm de 2 a 3 anos de idade. Fase esta que se encontra com várias dificuldades em relação a convivência, pois ainda há bastante mordidas, devido a criança não ter bem desenvolvido seu vocabulário e assim não sabendo ao certo como lidar com suas emoções. 

Marcado por diversas características e aquisições, o fundamento do pré-operatório baseia-se no aprendizado constante, na experimentação do real através do “faz-de-conta”. É o momento onde a criança irá desenvolver estruturas para tornar-se parte do mundo como ser atuante capaz de desenvolver conceitos e compreender situações. O brincar nesse período torna-se a principal atividade da criança, é o seu momento de aprendizado, de fazer entender-se e de entender o mundo. (FERREIRA, Hécila Cristany Sousa,2013 p. 3)

O período de observação foi realizado durante aproximadamente sete meses no decorrer do ano letivo de 2014. 

As crianças se relacionam de diversas formas por um período bastante amplo, tendo uma média de dez horas por dia dentro do Centro de Educação Infantil (C.E.I). As atividades são variadas, como brincadeiras, hora da história, contato com livros, brincadeiras ao ar livre, atividade pedagógica, hora do sono, refeições, passeio entre outras atividades.

No primeiro momento de observação as crianças ainda eram tímidas umas com as outras, não tinham o hábito de dialogar, geralmente chorando ou gritando quando queriam algo. Com o decorrer da observação foi possível ver uma grande melhora na interação entre eles onde amizades começam a ser feitas e até mesmo grupos de amigos serem formados.

Um dos principais momentos de interação é a hora da brincadeira e a partir disso que surgem os principais conflitos dentro da sala de aula.

O interesse pelo desenvolvimento da pesquisa surgiu após a observação de que as crianças interagem de diversas formas, em especial nos momentos de brincadeiras e faz de conta, onde o lúdico se mistura à realidade vivenciada pela criança diariamente. 

Através de atitudes que a criança observa em casa ou mesmo na escola, ela acaba desenvolvendo brincadeiras que estimulam sua imaginação e criatividade.

Foi possível verificar esse momento de interação onde determinada criança que chamaremos de “A” brinca com outras crianças “B” e “C” de mamãe e filhinho, onde “A” que é a mãe trás junto com a amiga que tem uma boneca como filha a criança “C” para o C.E.I.

Através desta brincadeira podemos observar o tratamento que a mãe possa ter com a criança, pois mesmo que involuntariamente a criança “A” acaba agindo de acordo com o que ela vivência. Ao chegar na determinada “creche” a criança “A” dá um beijo na criança “C” e se despede dizendo que logo vem buscá-la.

Referências 

ALMEIDA, Gizela Bastos da Mota. A INFÂNCIA:A SOCIALIZAÇÃO E O BRINCAR DA CRIANÇA. http://www.fmb.edu.br/revista/edicoes/vol_3_num_1/A_INFANCIA_A_SOCIALIZACAO_%20E_O_BRINCAR_DA_CRIANCA.pdf p. 3, p.6 (acesso 21-07-2014) 

ALVES, Rubem. A gestação do futuro. Campinas: Papirus, 1987.

CARVALHO,Christiane Regina Souza de. Linguagem e fonoaudiologia em psicopedagogia. Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2009. 

FANTACHOLI, Fabiane das Neves. O Brincar na Educação Infantil: Jogos, Brinquedos e Brincadeiras – Um Olhar Psicopedagógico. Revista cientifica aprender. 5ª edição. 2011. P. 7 <http://revista.fundacaoaprender.org.br/index.php?id=148> acesso em 07-08-2014

FERREIRA, Hécila Cristany Sousa. Desenvolvimento infantil: o brincar e o aprender no pré-operatório < http://br.monografias.com/trabalhos3/desenvolvimento-infantil-brincar-aprender-operatorio/desenvolvimento-infantil-brincar-aprender-operatorio3.shtml> p.3 acesso em 05-10-2014

MARTINS, João Carlos. Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo. <http://togyn.tripod.com/o_papel_das_interacoes_na_sala.pdf> acesso em 27-07-2014. p. 120

ROCHA, Regina. Agressividade infantil e adolescente o que fazer? Publicado em 01-12-2012. http://www.psicologaregina.com.br/?p=255 Acesso em 24-07-2014.

SILVA, Renata; URBANESKI, Vilmar. Metodologia do trabalho científico. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2009.

STADINIK, Liliana. Introdução a psicopedagogia. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2009.