INTERAÇÃO PROFESSOR(A)/ALUNO(A) E A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410111346


Liédna da Silva Costa1


RESUMO

A educação é um processo social que possibilita o desenvolvimento humano nos mais variados aspectos, sejam eles físicos, psicológicos, sociais, dentre outros, desempenhando um importante papel na sociedade, seja nas instituições formais, como na escola ou mesmo nos ambientes informais, como nos movimentos culturais. Assim, para que o processo de ensino cumpra seus objetivos, qual seja a aprendizagem significativa e consequente formação do sujeito, é importante que sejam considerados vários elementos como, a prática de ensino adequada às necessidades e as experiências vividas por cada aluno, a diversidade existente na sala de aula, e outros aspectos importantes. Desta forma, o presente trabalho busca analisar a interação entre professor(a) e aluno(a) e de que forma os professores lidam com a heterogeneidade em sala de aula, tendo como base o documentário “A Educação Proibida” (Título original La Educación Prohibida), produzido por Asociación Civil Redes de Pares / Reevo, Argentina, 2012 e o debate Práticas Inovadoras de Educação em Diferentes Realidades Brasileiras, produzido por Um Brasil e Fundação Lemann, São Paulo, 2016. Para tanto, utiliza-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, em meios eletrônicos e impressos, sendo os principais teóricos utilizados Aquino (1998), Candau (2011), Libâneo (1994) e Nogueira (2008); aplicação de questionários a professores licenciados, através dos quais foram feitas análises e interpretações sobre suas experiências em sala de aula. Os dados foram catalogados, obedecendo aos seguintes critérios éticos, os professores foram denominados em ordem alfabética de professor A, B, C, etc. Os resultados revelam as dificuldades na seleção de conteúdos diferentes dos oferecidos pelos livros didáticos, sendo este o principal mecanismo utilizado em sala de aula, bem como se evidencia a necessidade de repensar a prática educativa, procurando estabelecer métodos que atraiam a atenção dos alunos, a necessidade de trabalhar com as identidades e diferenças na escola, como também com a questão da indisciplina no ambiente escolar, através da conversa ou punição.

Palavras-Chaves: Interação Professor(a) e Aluno(a); Educação; Prática de ensino; Heterogeneidade em sala de aula.

RESUMEN

La educación es un proceso social que posibilita el desarrollo humano en los más variados aspectos, ya sea físico, psicológico, social, entre otros, desempeñando un papel importante en la sociedad, ya sea en instituciones formales, como la escuela, o incluso en ambientes informales, como en movimientos culturales. Así, para que el proceso de enseñanza cumpla con sus objetivos, que es el aprendizaje significativo y consecuente formación del sujeto, es importante que se consideren varios elementos, como la práctica docente adecuada a las necesidades y experiencias vividas por cada estudiante, las diversidad en el aula, y otros aspectos importantes. De esta forma, el presente trabajo busca analizar la interacción entre docente y alumno y cómo los docentes lidian con la heterogeneidad en el aula, a partir del documental “A Educação Proibida” (Título original La Educación Prohibida), producido por la Asociación Civil Redes de Pares/Reevo, Argentina, 2012 y el debate sobre Prácticas Educativas Innovadoras en Diferentes Realidades Brasileñas, producido por Um Brasil y Fundação Lemann, São Paulo, 2016. Investigación bibliográfica, en medios electrónicos e impresos, siendo los principales teóricos utilizados Aquino (1998), Candau (2011), Libâneo (1994) y Nogueira (2008); aplicación de cuestionarios a docentes licenciados, a través de los cuales se realizaron análisis e interpretaciones sobre sus experiencias en el aula. Los datos fueron catalogados, obedeciendo a los siguientes criterios éticos, los docentes fueron nombrados en orden alfabético de docente A, B, C, etc. Los resultados revelan las dificultades en la selección de contenidos diferentes a los que ofrecen los libros de texto, que es el principal mecanismo utilizado en el aula, así como la necesidad de repensar la práctica educativa, buscando establecer métodos que atraigan la atención de los estudiantes, necesidad de trabajar con identidades y las diferencias en la escuela, así como con el tema de la indisciplina en el ambiente escolar, a través de la conversación o el castigo.

Palabras Claves: Interacción entre profesores y alumnos; Educación; Práctica docente; Heterogeneidad en el aula.

 INTRODUÇÃO 

O ato educativo proporciona a formação humana em seus vários aspectos, físicos, psicológicos, sociais, dentre outros aspectos necessários à convivência em sociedade.

De acordo com Libâneo (1994, p. 22):

A Educação é um processo que possibilita o desenvolvimento da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas, físicas, morais e intelectuais, tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais.

Nesse sentido, compreende-se que o processo educativo desempenha importante papel na sociedade, em todos os ambientes em que acontece, sejam estes formais como em escolas, nas instituições de ensino e pesquisa ou informais como nas organizações da sociedade civil e movimentos culturais, como nos diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica – LDB

em seu artigo primeiro: “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.

Porém, quando se fala em ensino, no exato momento pensa-se na escola, já que este é o principal local formal onde a educação acontece, sendo considerado referencial na vida dos alunos, onde os mesmos estabelecem vínculos, construindo suas próprias concepções de mundo. 

Portanto, deve-se desenvolver o processo de ensino com atenção a diversos elementos para que se possa alcançar a finalidade do ensino, qual seja a aprendizagem significativa e consequente formação do sujeito, como a prática de ensino que seja adequada às necessidades e as experiências vividas por cada aluno, a diversidade existente na sala de aula, considerando que o ritmo da aprendizagem varia de acordo com a capacidade de cada um, pois a educação objetiva, portanto, formar cidadãos que não estão parcelados em compartimentos separados, ou seja, em capacidades isoladas.

Desta forma, o presente trabalho busca analisar a interação entre professor(a) e aluno(a) e de que forma os professores lidam com a heterogeneidade em sala de aula, tendo como base o documentário “A Educação Proibida” (Título original La Educación Prohibida), produzido por Asociación Civil Redes de Pares/Reevo, Argentina, 2012 e o debate Práticas Inovadoras de Educação em Diferentes Realidades Brasileiras, produzido por Um Brasil e Fundação Lemann, São Paulo, 2016. Para tanto, utiliza-se como metodologia para a elaboração do referente estudo a pesquisa bibliográfica, em meios eletrônicos e impressos, sobre o tema abordado; análise e interpretação de relatos de professores licenciados sobre suas experiências em sala de aula. Os dados foram colhidos através de questionários, os quais foram catalogados, obedecendo aos seguintes critérios éticos, os professores entrevistados foram denominados em ordem alfabética de professor A, B, C, etc.

 O PROFESSOR COMO AGENTE MEDIADOR DO CONHECIMENTO E A HETEROGENEIDADE EM SALA DE AULA

No processo de adquirir conhecimento o professor tem um papel fundamental de mediador, de agir como intermediário entre os conteúdos e a assimilação dos mesmos, de interpretar o conhecimento para o aluno.

Quando se trata de formar integralmente os alunos, entende-se que não é uma tarefa fácil. Para que isto efetivamente ocorra, é imprescindível a conscientização dos professores, para que possam planejar variadas estratégias a fim de facilitar a aprendizagem de seus alunos. O educador deve então, estar aberto a passar por novas experiências, compreendendo o mundo e a realidade na qual seus alunos estão inseridos. (FREIRE, 1996 apud NUNES, 2017, p. 9). 

É preciso que o docente desenvolva uma prática de acordo com a realidade dos alunos dando estrutura ao aprendizado, auxiliando os estudantes no processo de aprendizagem. Segundo Oliveira (2010, p. 7) “Devemos usar a realidade do/a educando/a, trazê-la para sala de aula, relacionando-a aos conteúdos. Certamente isto fará com que aprendam de maneira rica e produtiva, gerando um aprendizado de maior qualidade”.  Para construir um bom relacionamento com os alunos o professor precisa saber escutá-los e compreender o nível de aprendizado que esses alunos possuem e assim construir um elo entre o seu conhecimento e o conhecimento dos alunos.

Nesse sentido Haydt (2006) afirma que o professor tem, basicamente, duas funções na sua interação com o aluno:

•              uma função incentivadora e energizante, pois ele deve aproveitar a curiosidade natural do educando para despertar o seu interesse e mobilizar seus esquemas cognitivos (esquemas operativos de pensamento);

•              uma função orientadora, pois deve orientar o esforço do aluno para aprender, ajudando-o a construir seu próprio conhecimento. (HAYDT, 2006, p. 57).

O professor é um elemento essencial neste processo de formar o indivíduo, empenhando-se para dar suporte no que for preciso aos alunos. 

Acerca disso Haydt (2006, p. 57) afirma que:

Cabe ao professor, durante sua intervenção em sala de aula e por meio de sua interação com a classe, ajudar o aluno a transformar sua curiosidade em esforço cognitivo e a passar de um conhecimento confuso, sincrético, fragmentado, a um saber organizado e preciso.

Além da família, o educador é um dos principais responsáveis pela educação dos estudantes. Para Silveira (2013, p. 8) “É fundamental que se entenda que os pais e professores assumem lugares distintos e cumprem funções diferentes, porém complementares na educação de crianças e adolescentes”.

Compreende-se que o ato de educar deve contar com a participação ativa e conjunta de todos os sujeitos envolvidos com a educação, desde a escola, os professores, pais e principalmente os alunos.

De acordo com Gomez (2000, apud NUNES, 2017, p. 7):

 A relação entre professor/aluno deve ser empática, onde ambos os parceiros da comunicação demonstrem a capacidade para ouvir e refletir sobre as questões que estão sendo abordadas por cada um dos interlocutores. Assim, haverá mais possibilidade de abertura na comunicação e, portanto, melhor o clima de aprendizagem. Nestes casos, a participação dos alunos nas aulas é de suma importância, pois estará expressando seus interesses, preocupações, desejos e vivências, e assim construindo ativamente seu conhecimento.

A participação dos alunos nas aulas também é fundamental auxiliando no   diálogo e no fortalecimento de vínculos entre estudantes e professores, contribuindo para o crescimento emocional dos alunos que poderão contar com o apoio do professor para ampará-los e auxiliálos no que for necessário.

Outra questão presente no dia-a-dia do educador é o fato de conviver com a heterogeneidade em sala de aula, pois em um ambiente escolar teremos sempre seres humanos com diferentes histórias de vida e perspectivas, como também com distintos modo de pensar. 

Mainardes (2007, p. 3) afirma que: 

[…] a heterogeneidade que caracteriza a sala de aula é um conceito abrangente. Envolve diversidades de habilidades cognitivas dos alunos, de estilos e ritmos de aprendizagem, de fatores sócio-econômicos e familiares, influências culturais e étnicas, influências de gênero, da valorização da aprendizagem pelo aluno e pela sua família, a confiança em si e desejo de aprender, entre outros aspectos. 

Nesse contexto compreende-se que é necessário fazer uso de determinadas estratégias para envolver todos os alunos bem como desenvolver as suas capacidades e competências.  É interessante ressaltar que:

A heterogeneidade característica presente em qualquer grupo humano passa a ser vista como fator imprescindível para as interações na sala de aula. Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e níveis de conhecimento de cada criança (e do professor) imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de repertórios, de visões de mundo, confrontos, ajuda mútua e consequente ampliação das capacidades individuais (AQUINO, 1998, p. 64).

Ao planejar as aulas, os docentes devem compreender que as situações precisam ser diversificadas para respeitar o ritmo de cada um. Para Leal (2005, p. 91) “Dentre as habilidades que precisam ser desenvolvidas pelos(as) professores(as), podemos elencar como uma das mais relevantes e difíceis, a de identificar as necessidades de cada aluno e atuar com todos ao mesmo tempo”.

Nas estratégias desenvolvidas o foco deve estar na importância de diálogo entre os alunos, proporcionando uma aprendizagem em um espaço onde a troca de experiências seja tão importante ao ponto de ocasionar uma aprendizagem significativa que considere as experiências de vida que o aluno traz consigo.

Zabala (1998, p. 118) afirma que:

Portanto, podemos falar da diversidade de estratégias que os professores podem utilizar na estruturação das intenções educacionais com seus alunos. Desde uma posição de intermediário entre o aluno e a cultura, a atenção à diversidade dos alunos e das situações necessitará, às vezes, desafiar; às vezes, dirigir; outras vezes, propor, comparar. Porque os meninos e as meninas, e as situações em que têm que aprender, são diferentes.

No ambiente escolar o trabalho com a heterogeneidade deve estar sempre presente, pois ela é uma parte indissociável do processo pedagógico. 

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Na tentativa de analisar como se dá a interpretação da interação professor(a)/aluno(a), através dos questionários aplicados interroga-se aos professores, se os mesmos seguem algum critério para a escolha dos assuntos a serem trabalhados com os alunos e, observou-se que boa parte segue o livro didático, sendo este a principal ferramenta para o ensino, como pode ser verificado na resposta dos professores:

“Sigo o livro didático adotado, complementando com outros livros, jornais, revistas e exemplos do dia-a-dia” (PROFESSOR A).

Já a professor B relatou:

Na universidade aprendi que os futuros professores, não podem seguir à risca o que o livro didático apresenta. Mas infelizmente muitas vezes os alunos só possuem este recurso para estudar em suas casas, tem no livro uma referência. Eu sigo as temáticas do livro e complemento com referências diversas. 

Nesse aspecto também abordou o professor C:

Sigo o livro didático adotado, atendendo os assuntos elaborados pelo MEC, tentando assimilar ao máximo o conteúdo teórico à realidade da comunidade, pois é isso que o sistema educacional nos oferece, é isso que a estrutura da minha escola me oferece, já que ela não me oferece muitos recursos, por outro lado, tentei de diversas maneiras outros recursos didáticos, como músicas, vídeos e campos, porém os alunos estão impregnados a uma escravidão do livro didático se tornando muito difícil tirar isso deles.

Constatam-se as dificuldades na utilização de outros recursos didáticos e até mesmo a escolha de conteúdos diferentes dos abordados no livro, apesar de serem utilizados materiais complementares, observa-se que o livro continua sendo o recurso principal. Nos relatos verifica-se que esta prática é tão constante que os próprios alunos estão acostumados a isso, no que o professor C chama de escravidão do livro didático. Outro fator a ser observado nos depoimentos dos professores é que se trabalham bastante os conteúdos conceituais em detrimento de outras formas de abordagem como os conteúdos procedimentais. Isso se deve às dificuldades dos professores em realizar esse tipo de abordagem, como relatou o professor C que tentou fazer aulas de campo com os alunos, mas sentiu dificuldades na aceitação dos próprios alunos que estão habituados com o livro didático. Nogueira (2008, p. 21) diz que “Os professores deveriam fazer uma seleção dos conteúdos conceituais necessários à aprendizagem dos alunos e retirar da grade curricular os que não são necessários, aqueles utilizados só para “cumprir tabela”, e inserir em seu planejamento os conteúdos procedimentais”.

Ainda segundo o referido autor:

Trabalhar com os conteúdos de forma procedimental parece ser uma das alternativas de auxiliar os alunos no desenvolvimento das múltiplas competências, que hoje são exigidas pela sociedade, além, é claro, de ser uma forma de desenvolver atitudes e mudanças de comportamento nos alunos. Inserir os alunos em ações e procedimentos que os coloquem mais ativamente em seu processo de formação e construção do conhecimento torna-se uma maneira mais eficiente de possibilitar o desenvolvimento da criatividade, da liderança, do espírito de cooperação, da tranquilidade de aceitar desafios na resolução de problemas e de dezenas de outras capacidades esperadas desses indivíduos. (NOGUEIRA, 2008, p. 21)

Em relação à questão como lidar com as situações em que alguns alunos demonstram não ter interesse no conteúdo ou não consegue assimilar, os professores responderam:

O professor deve procurar métodos que despertem as curiosidades de seus alunos, a aula não deve ser monótona, cabe ao professor questionar seus alunos, trazer recursos didáticos como filmes, charges, músicas entre outros, não ficar apenas seguindo o livro. Outro fator é a postura do professor, tem que ser mais ativa e não apenas sentado em uma cadeira e sim circulando dentro da sala. Deve-se mostrar para os mesmos que tal assunto tem alguma finalidade com sua realidade, ajudandoo a associar com suas práticas diárias (PROFESSOR D).

Nesse aspecto, o Professor E relatou:

O professor deve rever toda sua metodologia, cabendo a ele procurar o melhor para passar seu conhecimento e conseguir levar seus alunos a pensarem e criticarem em sala de aula. Dessa forma, o aluno vai interagir mais em sala de aula. O professor também terá que conseguir manter o equilíbrio disciplinar e também não se prender a métodos tradicionais como ficar usando o livro didático ou apenas sentado sobre uma cadeira temos que ser dinâmicos. 

Já o Professor F descreveu:

Em relação ao desinteresse dos alunos e as dificuldades de assimilar os conteúdos, faz-se um diagnóstico, buscando compreender os motivos do desinteresse, refazendo o planejamento da aula e as práticas educativas visando melhor abordagem e que os alunos possam aprender.

Na abordagem dos entrevistados demonstrou-se que se procura estabelecer uma postura, na qual o professor necessita rever a sua metodologia sempre que os alunos estiverem desinteressados ou com dificuldades na aprendizagem, evidenciou-se que o professor deve ser dinâmico, procurando métodos que despertem a curiosidade dos alunos e que aula não pode ser monótona, como relataram os professores D e E. 

Além disso, verifica-se a abordagem do professor e a concepção pedagógica da Educação Bancária, onde os alunos recebem as informações como em um depósito vazio e que não pensam por conta própria, sem as informações que trazem do seu cotidiano. Adotando um modelo de ensino no qual o professor é o centro do conhecimento e os alunos não tem voz no processo. Segundo Albuquerque (2016): 

A longo de sua história a escola foi cristalizando práticas que hoje são naturalizadas, mas que nesse momento que a gente está elas deveriam ser problematizadas, contestadas, só pra dá um exemplo prático  nós temos uma escola que silencia o jovem, a gente tem uma escola que não dá voz, uma escola que trabalha na lógica de colocar o foco no ensino e não na aprendizagem, o foco no professor e não no aluno, e aí eu tenho percebido nas escolas que existe uma tensão latente do jovem  porque ele quer falar , ele tem o que dizer, ele quer se expressar, mas tradicionalmente a escola entende que isso pode ser um problema. (PRÁTICAS INOVADORAS DE EDUCAÇÃO EM DIFERENTES REALIDADES BRASILEIRAS, 2016).

Os alunos não sabem a finalidade dos assuntos que estão estudando e como evidenciou o professor E é importante mostrar para os discentes as relações do conteúdo e a realidade vivida por eles. Fato esse também é mostrado por Castillo no Documentário a Educação Proibida, quando cita o exemplo de um aluno perguntando à professora a finalidade do que está aprendendo: “Senhora, para quê serve isso? E a professora lhe diz: algum dia você poderá necessitá-lo”.

Em relação às situações de indisciplinas, o que fazer? Verificou-se nas abordagens dos professores que se busca conversar com os alunos, e em alguns casos utiliza-se da punição, como se pode observar nos relatos:

Tento ao máximo conversar com o aluno para tentar resolver o problema, isso varia de aluno para aluno cada um apresenta um tipo de indisciplina, umas até com alto grau de brutalidade, sendo o caso de conversas ou o aluno inquieto em sala, isso pode ser resolvido rapidamente, porém no caso de palavrões, brutalidades (como danificar o patrimônio) e brigas, cabe uma reunião junto à direção escolar e os pais dos alunos para tomar medidas mais severas (PROFESSOR C).

Já a professor B relatou:

Dotei durante 3 bimestres situações diferentes:

No primeiro não colocava para fora, nem tirava pontos, pois eu me dediquei a conhecer cada um (as turmas com uma média de 35 alunos), a realidade, como eram os pais e as relações com os colegas.

No segundo bimestre eu já podia dizer que os conhecia, e sabia exatamente quem queria chamar a atenção e quem queria de fato aprender. Quando apresentava indisciplina eu advertia oralmente, uma, duas, três vezes até, e não tinha outro jeito, eu convidava a se retirar com menos alguns pontos.

No terceiro bimestre, mostrei minhas condições, e como eu via muitas vezes que os pais não eram informados do comportamento dos filhos, eu adotei a medida de que quando fosse colocado para fora, só voltaria a minha aula com a presença dos pais, para que eu fizesse as colocações devidas. Só precisei colocar em prática com dois alunos, uma foi bem sucedida a outra não.

Observa-se que a indisciplina é punida de alguma forma, tornando a escola um lugar de aborrecimento, o que gera a indisciplina e a punição, em um ciclo vicioso. 

Para Sarmento (2010, p.14) “[…] a sala de aula precisa ser espaço de formação, de harmonização, onde a afetividade em suas diferentes manifestações possa ser usada em favor da aprendizagem”.

Urruty descreve no documentário como a escola deveria ser para o aluno: “quero que a escola seja um lugar para ele, um espaço de crescimento pessoal, e não uns lugares aonde o adestram para um futuro ensino médio, e depois para uma universidade e depois para o trabalho, e depois para quê?” (EDUCAÇÃO PROIBIDA, 2012).

Assim, a escola é comparada a um local de adestramento, de disciplina, no qual o professor repassa as ordens, os alunos se calam e obedecem. Porém, como o próprio documentário revela, o professor é fruto desse sistema: “não é que o professor nasça ou queira ser professor para ser bom ou mal. É o que o Estado lhe permite” (EDUCAÇÃO PROIBIDA, 2012).

O desenvolvimento da educação não pode depender unicamente do professor, deve depender também do sistema educacional como um todo que também precisa fazer sua parte, dando apoio para o professor. Albuquerque (2016) afirma que:

Os professores estão ocupando o lugar mais importante do mundo que é colaborar para a formação das novas gerações, eu sempre chamo a atenção do professor para o fato de que ele não pode perder isso de vista porque irão tentá-lo convencê-lo do contrário o tempo inteiro inclusive as condições que ele trabalha irão ficar dizendo isso pra ele. (PRÁTICAS INOVADORAS DE EDUCAÇÃO EM DIFERENTES REALIDADES BRASILEIRAS, 2016).

No que diz respeito à questão de constatar dificuldades de aprendizagem, o que você faz? Os professores responderam o seguinte:

Os conteúdos são bons, sempre no término de um assunto, para verificar se o aluno aprendeu, eu passo exercícios que eles respondem e eu corrijo com eles na sala de aula, eles não apresentam muitas dificuldades na compreensão do assunto, eu explico até ficar claro para eles, mas é tranquilo, eles não apresentam tantas dificuldades para compreender, eu sempre fico a disposição para tirar as dúvidas que eles tenham (PROFESSOR G).

Já o professor H respondeu:

No início de cada aula eu faço questionamento do tema anterior para saber em que nível ficou a turma sobre o tema abordado. Para reforçar, a cada aula eu passo exercícios e resumos para que eles não só visualizem o livro, mas também outros materiais que abordem o assunto. E não parto para outro tema sem a segurança de que a turma realmente entendeu a mensagem.

Nesse aspecto, o professor B descreveu:

Minhas turmas são do ensino fundamental, os assuntos são muito bons, aproveito cada um para inter-relacionar com os que passo e os que seguem, eu faço bastante exercício e enquanto eles fazem eu tiro as dúvidas, faço também trabalhos em grupo para que interajam e troquem ideias e conhecimentos. Os que continuam com dificuldades eu me coloco a disposição para solucioná-las.

Percebe-se que utilizam de exercícios para que os alunos possam compreender o assunto explanado, além disso, tiram as dúvidas e explicam até que os alunos compreendam os conteúdos. Essa atitude é muito importante na prática desses professores, pois demonstram que têm interesse na aprendizagem de seus alunos, não avançando para outros conteúdos sem que os mesmos estejam seguros sobre o assunto estudado, como revela o professor H em sua prática, buscando sempre revisar o assunto anterior, fazer exercícios e explicar até que os alunos compreendam.

Em relação ao questionamento como você trabalha a questão das identidades e das diferenças no contexto da sala de aula, constatou-se que os professores buscam em suas práticas de sala de aula mostrar para os alunos que todos os indivíduos têm suas particularidades e diferenças e é importante que os alunos compreendam bem essas diferentes identidades e diferenças para um bom convívio social, como pode ser evidenciado nos depoimentos a seguir:

Professor G respondeu:

Sempre deve ser passado para os alunos que todos nós temos nossas particularidades, diferenças e identidades, por isso devemos sempre respeitar as diferenças dos outros para que nossas diferenças também sejam respeitadas, para que dessa maneira nós possamos viver socialmente bem.

Nesse aspecto, o professor A explica: “mostrando que todos somos diferentes e que para um convívio harmonioso depende do respeito mútuo de todos”. Já o professor F relatou:

Trabalha-se com as questões de identidades e diferenças de forma que os alunos compreendam, através dos temas abordados e das situações de sala de aula, que os indivíduos são diferentes e a necessidade de conviver com essas diferenças e identidades, buscando o respeito étnico, social, político, religioso, etc.

Abordar essa temática em sala de aula é difícil, pois como nos mostra Candau (2011, p. 241):

As diferenças culturais – étnicas, de gênero, orientação sexual, religiosas, entre outras – se manifestam em todas as suas cores, sons, ritos, saberes, sabores, crenças e outros modos de expressão. […] No âmbito da educação também se explicitam cada vez com maior força e desafiam visões e práticas profundamente arraigadas no cotidiano escolar. A cultura escolar dominante em nossas instituições educativas, construída fundamentalmente a partir da matriz político-social e epistemológica da modernidade, prioriza o comum, o uniforme, o homogêneo, considerados como elementos constitutivos do universal. Nesta ótica, as diferenças são ignoradas ou consideradas um “problema” a resolver.

Assim, abordar essa temática em sala de aula exige que o professor saiba utilizar diferentes estratégias para que os alunos possam compreender as diferenças existentes na própria sala de aula e que essas diferenças vão além da escola, no bairro, na sociedade de modo geral. Aprender a conviver com as diferenças é um desafio e a escola necessita estar preparada para trabalhar com essas temáticas. Porém, ainda há muito que se fazer para que a convivência com as identidades e diferenças estejam presentes nas escolas, pois o próprio sistema alimenta conflitos. Acerca disso o documentário a educação proibida afirma que:

Se estimula muito as crianças a competir entre elas. Os melhores alunos têm reconhecimentos, têm prêmios. Aquelas crianças que não se saem bem nos exames, são chamadas à atenção, em muitos casos não são levadas em conta […] todo mundo fala de paz, mas ninguém educa para a paz. As pessoas educam para a competição e a competição é o princípio para qualquer guerra. Em teoria, todas as leis de educação nos falam de objetivos de desenvolvimento humanos profundos, valores humanos, cooperação, comunidade, solidariedade, igualdade, liberdade, paz, se enchem de palavras bonitas. A realidade é que a estrutura básica do sistema, promove justamente os valores opostos, a concorrência, o individualismo, a discriminação, o condicionamento, a violência emocional, o materialismo. Qualquer ideia que se promova a partir do discurso é incoerente com o que a estrutura sustenta (EDUCAÇÃO PROIBIDA, 2012).

Considera-se, desse modo, que os professores devem repensar cotidianamente as suas práticas, buscando que o processo educativo cumpra o seu papel, na formação de cidadãos críticos, estabelecendo, assim, uma relação harmoniosa com os alunos, revendo se os seus métodos estão sendo adequadas às necessidades de aprendizagem dos estudantes, abordando as questões de identidade e diferenças, dentre outros aspectos importantes, que perpassam pelo planejamento das aulas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados obtidos através dos questionários, constatam-se dificuldades na 

seleção de conteúdos diferentes dos tratados no livro didático e que este recurso tem sido a principal ferramenta utilizada na sala de aula. Isso se deve às dificuldades impostas pelo próprio sistema de ensino, no qual o trabalho com os conteúdos conceituais, em detrimento de outras formas de ensino, como os procedimentais é incentivado, pois se tem uma imensa grade de conteúdos nos programas curriculares a cumprir, de tal forma que os próprios alunos já estão acostumados com essa situação.

Evidencia-se nos relatos dos professores pesquisados, a busca por uma prática em que se faz necessário rever constantemente se os métodos de ensino estão adequados às situações de aprendizagem dos discentes, atentando para as situações em que os alunos estão desinteressados ou não conseguem assimilar o conteúdo, ressaltando a importância de uma aula dinâmica, que desperte a atenção do aluno para a aprendizagem dos conteúdos.

No que diz respeito às questões de indisciplina verificou-se que os professores punem de alguma forma, seja com a retirada da sala, subtração de pontos, mas também se busca a alternativa de conversa com os alunos, caso o comportamento não mude aplica-se tais punições ou enviam para a direção da escola, onde punições mais “severas” serão aplicadas. 

Em relação ao trabalho com as diferenças e identidades, através dos relatos, evidencia-se que os professores em suas práticas de sala de aula mostram para os alunos que todos os indivíduos têm suas particularidades e diferenças, sendo importante que os alunos compreendam bem a necessidade do respeito mútuo para um bom convívio social.

REFERÊNCIAS

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1Graduada em Licenciatura em Geografia
Graduada em Licenciatura em Pedagogia
Especialista em Educação Integral e Integrada