REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408181117
Fabiana Helena Zen Gorayeb1;
Silvia Helena Ferreira Pagliarini Zen Gorayeb2
RESUMO: Este artigo explora a integração de tecnologias emergentes no ambiente escolar voltado para o ensino técnico, destacando as estratégias adotadas pelos educadores e os desafios enfrentados. A pesquisa baseia-se em uma análise qualitativa de estudos de caso e entrevistas com professores de ensino técnico, com foco em práticas inovadoras e metodologias eficazes.
O estudo revela que a adoção de tecnologias, como ferramentas digitais e plataformas de ensino a distância, pode potencializar a aprendizagem dos alunos, oferecendo recursos interativos e oportunidades de desenvolvimento de habilidades práticas. No entanto, a integração bem-sucedida dessas tecnologias requer uma compreensão aprofundada das ferramentas disponíveis, bem como suporte contínuo e formação adequada para os educadores.
Os principais desafios identificados incluem a resistência à mudança, a falta de infraestrutura adequada e a necessidade de capacitação técnica. A pesquisa sugere que a superação desses obstáculos pode ser alcançada através de estratégias como a promoção de formação profissional contínua, a criação de comunidades de prática e o investimento em recursos tecnológicos adequados.
Conclui-se que, embora a integração de novas tecnologias no ensino técnico apresente desafios significativos, os benefícios potenciais para a melhoria da qualidade educacional justificam os esforços. Recomendações para futuras pesquisas incluem a necessidade de estudos longitudinais para avaliar o impacto a longo prazo das tecnologias e a exploração de abordagens pedagógicas adaptativas que possam maximizar os resultados educacionais.
Palavras-chave: Tecnologia; Docente; Ensino.
Introdução
A integração de tecnologias no ambiente educacional tem sido uma transformação significativa nas últimas décadas, redefinindo práticas pedagógicas e experiências de aprendizado. A crescente penetração de dispositivos digitais, internet de alta velocidade e ferramentas educacionais inovadoras tem possibilitado novas formas de ensino e aprendizado, oferecendo aos educadores e alunos recursos que ampliam as fronteiras da educação tradicional. A tecnologia, ao ser incorporada nas salas de aula, tem o potencial de enriquecer o processo educativo, promover métodos de ensino mais interativos e personalizados, e preparar os alunos para um mundo cada vez mais digitalizado.
No contexto educacional atual, as tecnologias emergentes, como quadros interativos, plataformas de aprendizagem online, aplicativos educacionais e ferramentas colaborativas, desempenham um papel crucial em facilitar a comunicação e a colaboração entre alunos e professores. Essas tecnologias não apenas oferecem novos meios para a transmissão de conteúdo, mas também permitem uma abordagem mais dinâmica e centrada no aluno. Elas possibilitam o acesso a recursos atualizados e diversificados, suportam o desenvolvimento de habilidades digitais essenciais e promovem a aprendizagem ativa e autônoma.
No entanto, a implementação efetiva dessas tecnologias apresenta desafios consideráveis. A resistência à mudança por parte de alguns educadores, a falta de infraestrutura adequada e a necessidade de formação contínua são obstáculos que devem ser superados para garantir uma integração bem-sucedida. A adaptação às novas ferramentas requer não apenas uma atualização dos recursos materiais, mas também uma reavaliação das práticas pedagógicas e uma abordagem estratégica para a capacitação dos docentes.
Este cenário destaca a importância de compreender as estratégias eficazes para a integração tecnológica e os desafios enfrentados pelas instituições educacionais. A presente discussão se propõe a explorar como as tecnologias estão sendo incorporadas no ambiente escolar, o impacto dessa integração no processo de ensino-aprendizagem e as melhores práticas para superar as barreiras existentes. A análise dessas questões é fundamental para garantir que a tecnologia sirva como um facilitador no aprimoramento da educação, promovendo um ambiente de aprendizado mais envolvente e eficiente para todos os envolvidos.
No mundo atual, os avanços tecnológicos, em ritmo cada vez mais acelerado, têm provocado grandes transformações na vida das pessoas, impactando em aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais, incluindo aqui o exercício da atividade de docência. Ignorar esta realidade pode não ser um bom caminho. Embora toda mudança exija adaptações e por consequência a superação de desafios, não podemos deixar de reconhecer que neste ponto, o uso de novas tecnologias se traduz em uma grande oportunidade a ser explorada pelas escolas e professores.
Quando tratamos de desafios, queremos dizer que a aplicação dos recursos tecnológicos na atividade docente exige a quebra de paradigmas, desapego dos tradicionais métodos de ensino, necessidade de capacitação e atualização dos docentes, além de concentração de esforços para criar, reorganizar e sistematizar o novo modelo de ensino-aprendizagem.
Como oportunidade, através das novas tecnologias, torna-se possível construir e difundir conhecimentos de uma maneira mais dinâmica, com grandes possibilidades de acesso à informação e de abordagem dos conteúdos, abdicando-se de tarefas repetitivas centrando o foco nos aspectos mais relevantes da aprendizagem.
O presente artigo foi desenvolvido com o objetivo de demonstrar a importância das novas tecnologias como ferramentas de auxilio no processo de ensino e aprendizagem e como elas podem contribuir para elevação do nível da qualidade da atividade docente, as principais dificuldades que são enfrentadas na adoção destes recursos e como os professores devem se preparar para atuar e explorar adequadamente suas potencialidades, já que o uso da tecnologia por si só não se traduz em um processo de ensino eficaz.
1. Referencial teórico
O contexto comumente conhecido sobre ‘tecnologia’ foi desenvolvido socialmente, culturalmente e economicamente. Nosso intuito é demonstrar que a tecnologia não se reduz a objetos, como: computadores, retroprojetores, aparelhos celulares, internet, cabos, redes, tablet´s, iphones e ipad. A tecnologia vai além. Ao tentarmos encontrar o significado do termo tecnologia, localizamos diversos sentidos e traduções. Segundo (RODRIGUES, 2001), a palavra tecnologia é a junção do termo tecno (saber-fazer) e logia (razão). Portanto, tecnologia significa a razão do saber fazer. Nós seres humanos unimos técnica e conhecimento para criar e recriar novas tecnologias e que se tornam fruto da História da evolução da humanidade.
Porém esse saber-fazer tecnológico é aplicado em diversos setores: sociais, ambientais, mercadológicos, educacionais. O que difere a tecnologia educacional dos demais setores é o emprego usado para a educação e a prática do conhecimento. Diante do compromisso da escola com o conhecimento, cabe a ela pensar em novas formas de trabalhar esse compartilhamento de conhecimento, analisar novas práticas pedagógicas, novos comportamentos, novas maneiras de pensar e de se comunicar.
Em se tratando de tecnologia educacional o termo traduz o emprego de recursos tecnológicos como ferramenta para melhorar a qualidade do ensino. Ao utilizar esses recursos a favor da educação há uma contribuição socioeducativa positiva na troca dos saberes. A tecnologia educacional é mais que uma “inclusão digital”, é a oportunidade de conectar o estudante ao mundo atual por meio da tecnologia.
A tecnologia educacional é frequentemente estudada a partir de várias perspectivas teóricas. Algumas das principais teorias incluem:
– Construtivismo: Baseado nas ideias de Piaget e Vygotsky, o construtivismo enfatiza a construção ativa do conhecimento pelo aluno. As tecnologias digitais, como simulações interativas e ambientes de aprendizagem virtual, podem proporcionar experiências práticas e contextos autênticos que apoiam a construção do conhecimento de forma dinâmica e colaborativa.
– Teoria da Aprendizagem Ativa: A teoria da aprendizagem ativa, proposta por pesquisadores como Donald Schon e David Kolb, sugere que o aprendizado é mais eficaz quando os alunos estão ativamente engajados em atividades práticas e reflexivas. Ferramentas tecnológicas, como jogos educacionais e laboratórios virtuais, podem promover um envolvimento mais profundo e a experimentação, facilitando a aprendizagem ativa.
– Teoria da Mídia e da Comunicação: De acordo com Marshall McLuhan, a mídia e a tecnologia são extensões dos sentidos humanos e influenciam profundamente a maneira como percebemos e interagimos com o mundo. Na educação, isso implica que a tecnologia pode moldar a experiência de aprendizagem ao oferecer novas formas de apresentação de informações e comunicação.
Atualmente, devido ao uso constante em áreas da Informática, TI, Robótica e Ciências Humanas, o significado da palavra tecnologia veio tomando proporções longe do original. A globalização, o acesso democrático e a modernidade fizeram com que o termo fosse levado para outras áreas. Allan afirma:
Para a tecnologia há que se perceber que esta não tem o mesmo significado para todos. É o uso que dela se faz que dá sentido à mesma, o que torna necessário pensá-la a partir daqueles que são entendidos, no pensamento hegemônico, apenas como seus consumidores. (ALLAN, 2015, p.118)
Porém (BELLONI, 2009) aponta que essas tecnologias são mais do que meras ferramentas a serviço do ser humano. Ao interferirem nos modos de perceber o mundo, de se expressar sobre ele e de transformá-lo, estas técnicas modificam o próprio ser humano em direções desconhecidas e talvez perigosas para a humanidade.
Esse ponto de vista também é compartilhado (PAULO FREIRE, 1993) ao mencionar que a tecnologia não é boa nem má, não é uma pessoa para ser assim classificada. Para esse autor, a questão que devemos nos fazer é ‘a serviço de quem a tecnologia está?’ Com base nisso, faz-se necessário refletir sobre algumas particularidades aliadas ao conceito de tecnologia tais como: que tipo de cidadão está sendo formado neste mundo tecnológico? A autora (AMORA, 2011) completa: As tecnologias em si não são boas ou más, que isto dependerá do uso que se fará delas.
Ser professor, segundo (PAULO FREIRE, 1998, p.86), implica em um compromisso constante com as práticas sociais. “Não temo a máquina, que pode ser útil ao ser humano, mas me assusta a ‘inocência’ de quem crê na neutralidade da técnica, da informática, da cibernética, da robótica, como se a tecnologia em si mesma pudesse assegurar o progresso e a justiça social.” (Freire, 1996)
Freire acreditava que as tecnologias poderiam contribuir significativamente para a educação, desde que fossem utilizadas de maneira que promovesse a conscientização crítica e a participação ativa dos estudantes. Ele via o papel do educador como fundamental para mediar o uso dessas ferramentas, garantindo que elas fossem utilizadas de forma a enriquecer o processo educacional e não a alienar os alunos.
Assim, para Freire, o uso de tecnologias na escola deve ser orientado por uma pedagogia que valorize o diálogo, a participação e a crítica, promovendo uma educação que liberte em vez de oprimir.
A educação constitui-se em um ato coletivo, solidário, uma troca de experiências, em que cada envolvido discute suas ideias e concepções. A dialogicidade constitui-se no princípio fundamental da relação entre educador e educando. O que importa é que os professores e os alunos se assumam epistemologicamente curiosos (FREIRE, 1998, p. 96).
A curiosidade é peça fundamental no mercado de trabalho da sociedade conectada. O que faz a diferença na carreira não é o conhecimento acadêmico espetacular, mas sim as competências socioemocionais, aquelas relacionadas aos traços de personalidade.
As empresas hoje buscam talentos que tenham não somente conhecimentos técnicos, mas também que sejam criativos, inovadores, conectados e visionários. A escola precisa preparar os futuros profissionais para que sejam protagonistas de seu próprio aprendizado.
Segundo (ALLAN, 2015, p.51) as novas capacitações mais valorizadas são: atitude, capacidade de adaptação às novas culturas e a sabedoria para manter um bom relacionamento com os colegas, a chefia e os clientes. As empresas precisam de profissionais que tenham a flexibilidade necessária para encarar o novo.
Mas será que a escola tem acompanhado toda essa evolução? Ou o que continuamos a encontrar nas salas de aula é aquele mesmo modelo antigo: grandes grupos de alunos, no mesmo local, estudando a mesma coisa simultaneamente e usando papel, lápis e um grande caderno como ferramentas e um professor ao lado da lousa com um giz na mão?
A nova escola precisa envolver o ensino-aprendizagem em parceira com professores e alunos (ALLAN, 2015) cita essa parceria como sendo: professores como agentes de mudança, e estudantes construindo seu próprio aprendizado sob a orientação dos seus professores. “A nova escola deve ser um espaço de criação, de inovação, de desenvolvimento da autonomia, e não apenas um lugar de transmissão de conteúdo.” (Pacheco, 2007) “A escola nova não é uma questão de mudar a arquitetura dos edifícios ou de adotar novas tecnologias, mas de reestruturar os processos de ensino e aprendizagem, tornando-os mais significativos e centrados na experiência do aluno.” (Freire, 1996)
Essa necessidade de ter uma nova escola e refazer as metodologias de ensino surge não apenas pelo fato da globalização ou do avanço das tecnologias digitais, mas também porque hoje os alunos aprendem de forma diferente.
Repensar os modelos pedagógicos e os tradicionais formatos das salas de aula é tão urgente quanto pensar no investimento para a tecnologia, como: tablets, laboratórios de informática, rede wi-fi, games, computadores e lousas digitais. “A educação precisa ser repensada de forma a superar a concepção bancária, onde o aluno é um recipiente passivo. É urgente construir uma pedagogia que promova a transformação social e a emancipação dos indivíduos.” (Freire, 1996)
O professor precisa estar pronto para lidar com os alunos conectados e informados e muito mais que mestres precisam ser mentores capazes de facilitar o aprendizado e ajudá-los a resolver problemas cotidianos.
A participação do professor é crucial nesse processo. Não podemos imaginar que os objetos digitais de aprendizagem, por serem recursos educacionais mais sofisticados, podem por si só dar conta do ensino. Eles são apenas ferramentas, recursos e plataformas. “Os sistemas educacionais precisam ser redesenhados, partindo da ideia de que a educação deve nutrir a criatividade, o pensamento crítico e o trabalho colaborativo. O modelo tradicional de sala de aula, com fileiras de cadeiras e uma abordagem padronizada, já não é mais adequado.” (Robinson, 2011)
Porém, muitas escolas resistem à adesão de novas tecnologias no ambiente escolar, por medo de que os alunos se dispersem, acessem materiais impróprios e não prestam atenção no conteúdo da sala de aula. Essas preocupações são pertinentes na atualidade, mas podem ser superadas com um bom planejamento de aulas e definições claras dos objetivos e regras junto com os alunos. Cabe ao professor encontrar a melhor forma de incorporar esses novos adereços tecnológicos na sala de aula. Ou seja, deixar de lado a velha lousa de giz, o caderno pesado, o atlas, as enciclopédias e as grandes apostilas para junto com o aluno ajudá-lo a realizar a busca pelo conhecimento através dos novos recursos.
A resistência à adoção de novas tecnologias nas escolas é um fenômeno complexo que pode ser compreendido através de diversas teorias e perspectivas. Aqui estão algumas teorias e conceitos que ajudam a explicar por que muitas escolas enfrentam dificuldades ao incorporar novas tecnologias em seus ambientes educacionais:
Teoria da Difusão da Inovação
Teórico Principal: Everett Rogers
Descrição: A Teoria da Difusão da Inovação explora como, por que e a que ritmo novas ideias e tecnologias se espalham entre os indivíduos e instituições. Rogers identifica cinco categorias de adotantes: inovadores, adotantes iniciais, maioria inicial, maioria tardia e retardatários.
Aplicação: Muitas escolas podem estar na fase da maioria tardia ou retardatária em relação à adoção de novas tecnologias, enfrentando resistência devido a fatores como a falta de confiança nas novas ferramentas, preocupações com a eficácia e a necessidade de evidências de sucesso. Além disso, a resistência pode ser mais forte entre educadores e administradores que não se sentem confortáveis com mudanças rápidas ou que preferem métodos tradicionais.
Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM)
Teóricos Principais: Fred Davis e Richard Bagozzi
Descrição: O TAM foca em entender como os usuários percebem a tecnologia em termos de facilidade de uso e utilidade. De acordo com o modelo, a aceitação de uma nova tecnologia depende da percepção de que ela é útil e fácil de usar.
Aplicação: Se professores e administradores percebem que as novas tecnologias são difíceis de usar ou que não trazem benefícios claros em termos de melhoria do ensino e da aprendizagem, é provável que resistam à adoção. A falta de treinamento adequado e suporte técnico pode aumentar essas percepções negativas.
Teoria da Mudança Organizacional
Teóricos Principais: Kurt Lewin e John Kotter
Descrição: Lewin propôs um modelo de mudança em três etapas: descongelamento, mudança e recongelamento. Kotter, por sua vez, identificou um modelo de oito etapas para a mudança organizacional.
Aplicação: A resistência à tecnologia pode ser vista como um desafio na fase de “descongelamento,” onde a escola precisa superar o status quo e preparar a organização para a mudança. A resistência pode surgir devido a uma falta de visão compartilhada sobre a necessidade da mudança, liderança inadequada ou falta de preparação para a nova tecnologia.
Teoria da Carga Cognitiva
Teórico Principal: John Sweller
Descrição: Esta teoria sugere que o aprendizado é mais eficaz quando a carga cognitiva, ou seja, a quantidade de informação que o cérebro precisa processar de uma vez, é minimizada. A introdução de novas tecnologias pode aumentar a carga cognitiva, especialmente se os usuários não estão familiarizados com essas ferramentas.
Aplicação: A resistência pode ocorrer porque a adoção de novas tecnologias pode inicialmente sobrecarregar os professores e alunos, especialmente se houver uma curva de aprendizado acentuada. Se a carga cognitiva se tornar excessiva, pode resultar em frustração e resistência.
Teoria do Controle Social e Conformidade
Teórico Principal: Émile Durkheim
Descrição: Esta teoria explora como as normas sociais e culturais influenciam o comportamento individual e coletivo. A resistência à mudança pode ser vista como um reflexo das normas estabelecidas e do desejo de conformidade com práticas tradicionais.
Aplicação: Em muitas escolas, as práticas pedagógicas são profundamente enraizadas e resistem a mudanças. A tecnologia pode ser vista como uma ameaça às normas estabelecidas e às práticas consolidadas, levando à resistência por parte de membros da comunidade escolar que preferem manter o status quo.
Teoria dos Limites de Recursos
Teórico Principal: Não é específico para um teórico, mas é uma teoria amplamente discutida em contextos organizacionais.
Descrição: A teoria dos limites de recursos sugere que as organizações operam com recursos limitados, e a alocação desses recursos pode impactar a adoção de novas tecnologias.
Aplicação: Muitas escolas enfrentam restrições orçamentárias e falta de recursos para investir em novas tecnologias, treinamento e suporte. Essas limitações podem levar a uma resistência à adoção de tecnologias, pois as escolas podem priorizar outras necessidades mais imediatas.
Porém sem que os professores saibam como utilizar esses novos recursos, qualquer investimento perde o sentido. (ALLAN, 2015, p.86) concorda: Sem orientação, os professores frequentemente utilizam a tecnologia para “fazer coisas velhas de formas novas”, em vez de transformar a prática pedagógica.
Os mestres precisam se reinventar. Sem isso, a sociedade corre o risco de contar com uma geração de professores desatualizados que não vai saber o que fazer para propiciar boas oportunidades de aprendizagem aos seus alunos que contam com tantas informações e tecnologias à disposição. “Os professores precisam constantemente se reinventar, pois a educação não pode estagnar. Sem essa reinvenção, corremos o risco de ter uma geração de mestres desatualizados, incapazes de atender às demandas dos novos tempos.” (Pacheco, 2007)
Na educação da era conectada, não há mais espaço para uma modelo baseado em apostilas, enciclopédias, livros produzidos em massa e com conteúdo defasado. No mundo da interatividade, da mobilidade, do digital e da vida conectada, é preciso também reinventar o material didático. “Se queremos preparar nossos alunos para o futuro, os professores devem liderar pelo exemplo, adotando novas abordagens, ferramentas e métodos que reflitam o mundo em constante mudança. A estagnação dos educadores é um risco que a sociedade não pode correr.” (Robinson, 2011) Com essa transformação por conta da tecnologia, o velho material didático está fadado à aposentadoria. Um tablet, um notebook ou até mesmo um celular carrega todos os livros e cadernos e permite interatividade e atualização, o que não ocorre com a versão impressa.
Uma das estratégias de aprendizagem do mundo contemporâneo é o comportamento do educador, esse precisa aprender a aprender, inclusive com os alunos e aprender as funcionalidades dos recursos tecnológicos básicos. Porém, não deve se preocupar caso os estudantes saibam mais que ele. Há sempre uma troca saudável entre professor e aluno e a partir disso surge uma experiência enriquecedora para todas as partes, inclusive a escola.
A verdade é que todo método, tática, estratégia que promova o envolvimento, interação e participação do aluno no processo de ensino e aprendizagem contribui para a formação de um novo aluno com uma visão global da realidade e que é preparado para lidar com problemas e situações reais no seu dia a dia.
2. Metodologia
Segundo (GIL, 2002, p.44), “uma pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Assim, para este trabalho, inicialmente, fez-se uma pesquisa bibliográfica sobre como as TIC são usadas por docentes de escolas de nível técnico, de forma a embasar a montagem de um questionário posteriormente aplicado a alguns docentes.
De acordo com (MANFROI, 2006, p.15), “o pesquisador busca conseguir, através da conversação, dados que possam ser utilizados em análise qualitativa, ou seja, os aspectos considerados mais relevantes de um problema de pesquisa”. Neste contexto, uma “entrevista, pode ser entendida como a técnica que envolve duas pessoas numa situação […] em que uma delas fórmula questões e a outra responde” (GIL, 2002, p.114).
Portanto, na segunda etapa da pesquisa, foram feitas entrevistas com docentes de escolas de nível técnico, de maior e menor experiência na atividade docente. Nestas entrevistas usou-se o questionário elaborado previamente.
Os sujeitos entrevistados foram escolhidos por lecionarem no curso técnico de Administração no período noturno, na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, e por possuírem faixas etárias distintas. Para não usar os reais nomes dos sujeitos, nomeados em Professor 1 e Professor 2. O Professor 1 leciona na escola técnica há 18 anos (com faixa etária mais avançada) e o Professor 2 leciona na escola técnica há 5 anos (com faixa etária menos avançada).
As entrevistas informais ocorreram na escola técnica onde ambos os docentes lecionam, no mês de maio do ano de 2024.
A entrevista informal com o Professor 1 teve duração de 6 minutos e 23 segundos, e a entrevista com o Professor 2 teve duração de 7 minutos e 58 segundos. Para melhor transcrição foi escolhida a gravação como meio de escuta e transmissão das perguntas e respostas.
3. Resultados
Com base nas entrevistas realizadas com os docentes do Curso Técnico de Administração que utilizam novas tecnologias para ensinar seus alunos, os dois entrevistados responderam a quatro questões abertas sobre o tema.
O primeiro docente entrevistado intitulado de “Professor 1” relatou que possui grande dificuldade de interação com tecnologias, devido a sua idade elevada. Ele cita que possui apenas conta de e-mail e que acessa a internet apenas por um dispositivo imóvel que fica na sua residência, sendo que esse acesso é apenas profissional.
Esse mesmo docente considera tecnologia apenas computadores e smartphones.
O entrevistado relata as influências positivas que teve em sua carreira e destaca a importância da didática e da prática de alguns professores:
Eu tive excelentes professores e hoje me inspiro neles. Não adianta ter grandes aparatos tecnológicos e não dominar o conteúdo da sua disciplina. Lembro-me dos recursos que meus professores utilizam e eram apenas: lousa e giz. Já que deu certo dessa maneira procuro fazer com meus alunos. (Professor 1)
O segundo docente entrevistado intitulado de “Professor 2” relatou que uso a tecnologia como sua aliada no processo de ensino aprendizagem. Esse mesmo docente exemplificou um trabalho que pediu aos alunos, onde era necessário produzir um conteúdo pela câmera do celular, fotografar, gravar, filmar, editar e compartilhar o trabalho.
Sobre os saberes resultantes da prática tecnológica se posicionou:
Com a prática docente, descobri muitas coisas. A integração dos alunos com a tecnologia através de compartilhamento tem me dado elementos muitos ricos. Descobri que existem diversas maneiras para dinamizar o aprendizado do aluno. Tem sido um desafio muito grande e difícil, porque você tem que recriar suas aulas para atingir a sala de aula. Porém esses novos métodos demostraram grande interesse, aceitação e participação dos alunos. (Professor 2)
Ambos os professores (Professor 1 e Professor 2) citaram em suas entrevistas a real importância e urgência de cursos de capacitações envolvendo as tecnologias. Citaram também que são poucos os professores que sabem aproveitar esses recursos devido à ausência de aprendizagem sobre eles.
Um dos focos das capacitações deveria ser a prática docente perante as novas tecnologias. Nós temos muitas dificuldades. Os alunos acabam ensinando para nós dentro da sala de aula. (Professor 1).
A pesquisa realizada em Campinas pela Unicamp entre 2009 e 2010, e apresentada por (ODA, 2011), aponta que apenas 27% dos docentes pesquisados entre 27 escolas fizeram um curso para uso didático da tecnologia, esses dados só vêm afirmar que a maior barreira para a utilização das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) em sala de aula é a falta de treinamento dos docentes.
O Professor 2 expõe o curso de Administração como um dos cursos que mais exigem tecnologia no seu dia a dia em sala de aula.
As tecnologias, na área da Administração e Gestão, são muito importantes porque a gente está sempre descobrindo coisas novas e a internet é um recurso para ter contato com as pesquisas de ponta no mundo. A área da Administração exige softwares, empreendedorismo, contato online e buscas. (Professor 2)
O Professor 2 complementou a importância de estar atualizado quanto aos novos recursos:
Eu procuro conhecer, aprender e descobrir novas tecnologias para abordar os eventos do cotidiano, para que os alunos consigam visualizar aquilo que estou falando em aula. Além disso, eu busco vídeos, filmes, entrevistas e debates […] enfim, tudo o que tem a ver com o conteúdo. (Professor 2)
O Professor 2, aponta a importância de conhecer novas tecnologias, em um estudo realizado por (TEIXEIRA, 2017, p.77), em uma escola de ensino técnico, no curso de administração de empresa, na cidade de Bauru no estado de São Paulo, os alunos responderam que apenas 64% da maioria dos professores demonstram que sabem utilizar as TIC.
Uma grande dificuldade apontada pelo Professor 1 são os conteúdos trabalhados na prática dos laboratórios de informática dentro da escola.
Boa parte dos laboratórios não funcionam, pois, suas máquinas estão quebradas ou danificadas. Alguns até funcionam, porém estão ultrapassados. Os alunos aprendem softwares que não condizem com a atualidade e nem com a realidade. Eu acredito que mais de 50% dos meus alunos não entendem nada de informática. (Professor 1)
Outros fatores que podem dificultar a implementação das novas tecnologias e que foram citados pelos dois docentes: falta de conhecimento prévio das funcionalidades dos materiais tecnológicos que serão usados pelos docentes, à ausência do professor no processo de desenvolvimento dessas novas práticas educativas e principalmente a infraestrutura.
A infraestrutura foi mencionada mais de sete vezes no discurso dos professores como sendo um fator de alto risco para aumento de dificuldade de implementação tecnológica.
A infraestrutura e a tecnologia no ambiente escolar desempenham um papel crucial na qualidade da educação oferecida, facilitando o acesso ao conhecimento e o desenvolvimento de habilidades essenciais para o século XXI. Como destaca Kenski (2013), “uma infraestrutura adequada, combinada com o uso eficaz das tecnologias, pode transformar o ambiente escolar em um espaço de aprendizagem mais dinâmico e colaborativo, possibilitando novas formas de ensino que são mais alinhadas com as necessidades e expectativas dos alunos”.
Investir em uma infraestrutura tecnológica robusta é essencial para que as escolas possam integrar de maneira eficaz as ferramentas digitais no processo educacional. Sem essa base, o potencial das tecnologias como facilitadoras do aprendizado pode ser seriamente comprometido. Moran (2015) ressalta que “para que a tecnologia realmente contribua para a melhoria da educação, é necessário que as escolas contem com uma infraestrutura que permita o acesso contínuo e de qualidade aos recursos tecnológicos”.
Para comprovar que a falta de infraestrutura é um dos motivos pela não adoção em sua totalidade nas escolas, (ODA, 2011), em seu artigo afirma que 73% dos entrevistados para a pesquisa naquela localidade afirmaram que a infraestrutura é um dos motivos pela não utilização das TIC em sala de sala.
3. Considerações Finais
Através desse trabalho conclui-se que as novas tecnologias usadas com a finalidade educacional e pedagógica ampliam as possibilidades de o professor ensinar e do aluno aprender.
A utilização de tecnologias no ambiente escolar é essencial para o desenvolvimento das habilidades necessárias no século XXI, como o pensamento crítico, a resolução de problemas e a capacidade de adaptação a novos cenários tecnológicos. Segundo Moran (2015), “as tecnologias digitais permitem que a educação se torne mais colaborativa e interativa, promovendo um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e acessível”.
Além disso, as tecnologias na educação ajudam a personalizar o aprendizado, atendendo às necessidades específicas de cada estudante. Como destaca Kenski (2013), “as ferramentas tecnológicas oferecem múltiplas possibilidades de acesso ao conhecimento, permitindo que os alunos avancem no seu próprio ritmo e de acordo com seus interesses”.
Outro ponto relevante é a preparação dos estudantes para o mercado de trabalho, que cada vez mais exige competências digitais. De acordo com Valente (2014), “a incorporação das tecnologias no currículo escolar é fundamental para que os alunos desenvolvam as habilidades necessárias para enfrentar os desafios profissionais do futuro”.
Portanto, o uso de tecnologias no ambiente escolar não só enriquece o processo de ensino-aprendizagem, mas também prepara os estudantes para um mundo cada vez mais digital e interconectado.
Quando usada com critério e conhecimento, a tecnologia pode contribuir para a aprendizagem e a melhoria no ensino. Entretanto, o professor precisa buscar conhecer e estar consciente de que ao adotar esse novo recurso na área educacional terá reflexos na sua prática docente e nos processos pela busca de conhecimento.
Através das entrevistas informais realizadas com dois professores de escola técnica do curso de Administração verificou-se, a importância do uso das novas tecnologias, a ausência de capacitações para os docentes, as falhas na infraestrutura, o aumento do interesse do aluno, como também o aumento da motivação e participação.
Um dado importante detectado nessas entrevistas foi a predisposição dos dois professores em lidar e aprender com as novas tecnologias na prática cotidiana da sala de aula.
Outra informação importante descoberta durante a análise foi a distinção entre utilizar as tecnologias como instrumento facilitador da aprendizagem nos processos de ensino e o simples ato de substituir as “velhas” tecnologias como giz, livro e lousa, pelas novas tecnologias sem ao menos mudar o discurso, metodologia, postura e as relações didáticas.
Outra constatação é a existência de duas posturas distintas por parte dos docentes entrevistados em relação ao computador. Para o Professor 1, o computador é algo muito distante da realidade dos alunos da sala de aula, distante também da maneira de ensinar e de aprender. Já o Professor 2 demonstra a importância da inserção da tecnologia na sala de aula independente da realidade que o aluno vive fora da escola, pois esses alunos ganham conhecimento para o mercado de trabalho.
Referências
ALLAN, L.. Escola.com- Como as novas Tecnologias estão transformando a educação na prática. Barueri: Figurati, 2015, 1 edição.
AMORA, D.. Tecnologia e Educação. As mídias na prática docente. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011, 2 edição.
BELLONI, M. L.. O que é mídia-educação. Campinas: Autores Associados, 2009, 3 edição.
FREIRE, P.. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
FREIRE, P.. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
GIL, A. C.. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2002.
MANFROI, J. EAD – Educação a distância UCDB. Universidade Dom Bosco. Disponível em: < https://virtual.ucdb.br/TUTORIAL_MOODLE/files/Metodos_e_Tecnicas_de_Pesquis-23-08-2006-EADUCDB.pdf>. Acesso em 07ago 2017.
ODA, F.. Professores são inseguros para usar a tecnologia. Caderno Educação Estadão. 11 de abril de 2011. Disponível em < http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,professores-sao-inseguros-para-usar-tecnologia,704780>. Acesso em 26 jul. 2017.
TEIXEIRA, A.N. O uso das tecnologias da informação e comunicação como facilitador no processo de aprendizagem no ensino técnico integrado ao médio. Dissertação de Mestrado ( PPGMiT, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – FAAC) Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho UNESP – Bauru, 2017.
Disponível em: < https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150754/teixeira_an_me_bauru.pdf?sequence=3&isAllowed=y> Acesso em 18 ago.2017
1fabianagorayeb@hotmail.com
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