INFLUENZA AVIÁRIA DE ALTA PATOGENICIDADE EM AVES DE VIDA LIVRE E SEUS IMPACTOS NA AVICULTURA INDUSTRIAL PARANAENSE

HIGHLY PATHOGENIC Avian INFLUENZA IN FREE-LIVING POULTRY AND ITS IMPACTS ON INDUSTRIAL POULTRY FARMING IN PARANA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410121500


De Souza Junior, Ediones Kovaleski[1]
Geraldo Junior, Edvaldo[2]


RESUMO

A produção de carne de frango é expressiva no Brasil, este destaca-se como o segundo maior produtor de carne de frango do mundo e o maior exportador deste produto. O estado do Paraná detém 39% dos abates de aves no país, com um papel importante na produção avícola, sendo essencial no mercado interno e externo. Neste contexto, a influenza Aviária é uma doença de notificação obrigatória, que causa enormes prejuízos se acometer a produção avícola comercial. Em 2023 foram notificados casos positivos de Influenza Aviária em praticamente todos os continentes, sendo questão de debate dentro da cadeia avícola. A biosseguridade é uma prática essencial para reduzir os riscos biológicos, com base nisto, o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), estabelece normas técnicas para o registro, fiscalização e controle dos estabelecimentos produtivos. Tais diretrizes visam à regulamentação da produção avícola nacional, à vigilância epidemiológica e sanitária das principais doenças que afetam as aves. Com base nisto, o objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico acerca do vírus da Influenza A (H5N1), no Paraná.

PALAVRAS-CHAVE: Plano nacional de sanidade avícola. Biosseguridade. Setor avícola. Rotas migratórias.

ABSTRACT

Chicken meat production is significant in Brazil, which stands out as the second largest producer of chicken meat in the world and the largest exporter of this product. The state of Paraná holds 39% of poultry slaughters in the country, with an important role in poultry production, being essential in the domestic and foreign markets. In this context, Avian influenza is a notifiable disease, which causes enormous losses if it affects commercial poultry production. In 2023, positive cases of Avian Influenza were reported on practically all continents, being a matter of debate within the poultry chain. Biosecurity is an essential practice to reduce biological risks, based on this, the National Poultry Health Program (PNSA) establishes technical standards for the registration, inspection and control of production establishments. These guidelines aim to regulate national poultry production, epidemiological and health surveillance of the main diseases that affect birds. Based on this, the objective of this work was to carry out a bibliographic survey about the Influenza A (H5N1) virus in Paraná.

PALAVRAS CHAVE EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: National poultry health plan. Biosecurity. Poultry sector. Migratory routes.

INTRODUÇÃO

O Brasil é o segundo maior produtor de carne de frango do mundo e o maior exportador desse produto (ABPA, 2024). O Paraná, localizado no Sul do Brasil, é responsável por quase 39% dos abates de aves no país (ABPA, 2024). Dessa forma, o Paraná tem um papel importante na produção avícola, sendo essencial para o mercado interno e externo.

A influenza Aviária é uma doença de notificação obrigatória, que acomete aves de vida livre e mamíferos, caso ocorra disseminação no plantel comercial causará enormes prejuízos. No Brasil nunca houve casos registrados da doença no plantel comercial, apenas em aves de vida livre. Com relação ao índice de patogenicidade, podem ser classificados como Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) ou Influenza Aviária de Baixa Patogenicidade (IABP). Foram notificados em 2023 casos positivos de Influenza Aviária em praticamente todos os continentes, sendo questão de grande debate dentro da cadeia avícola (MAPA, 2023).

Dentro da produção avícola, a biosseguridade é uma prática essencial para reduzir os riscos biológicos. Segundo a Embrapa Aves e Suínos (2018), no Brasil, o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), estabelece normas técnicas para o registro, fiscalização e controle dos estabelecimentos produtivos. Essas diretrizes visam à regulamentação da produção avícola nacional, à vigilância epidemiológica e sanitária das principais doenças que afetam as aves. As normas estaduais complementam essas medidas de proteção (ADAPAR, 2023).

Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica acerca do vírus da Influenza A (H5N1), no Paraná. Abordando sobre os fatores que impediram que o vírus adentrasse no plantel comercial avícola do estado, além de evidenciar a importância da produção no âmbito regional e quais são os possíveis riscos existentes.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 PANORAMA DA AVICULTURA NO BRASIL E NO PARANÁ

O Brasil, país localizado na América do Sul, de área de 8.510.000 km2, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), configura-se como líder na exportação mundial de carne de frango desde 2004 e detém, hoje, 35% desse mercado. No ano de 2022, o país produziu cerca de 14,5 milhões de toneladas de carne de frango. Deste total, 33% foram exportados para mais de 150 nações, gerando uma receita de US$ 7,6 bilhões (MAPA, 2022; ABPA 2022). A China e os Emirados Árabes Unidos são os principais destinos de exportação da carne de frango (MAPA, 2022).

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o país é o segundo maior produtor mundial de proteína avícola. Além de contribuir com a segurança alimentar de nível nacional e mundial, o setor movimenta uma grande cadeia econômica. Essa cadeia de produção envolve cerca de 4 milhões de empregos diretos e indiretos, com cerca de 500 mil pessoas trabalhando nas agroindústrias e 100 mil famílias envolvidas nas unidades produtoras (ABPA, 2022).

O desenvolvimento da avicultura brasileira se efetivou na década de 70, com a entrada de empresas processadoras no mercado e especialistas no processo de produção do frango. Transformações tecnológicas, técnicas de produção intensiva e o desenvolvimento de genética adaptada contribuíram para o avanço da atividade (CEPEA, 2014). Apesar de todos os estados brasileiros serem produtores desta proteína, a produção está concentrada na região Sul do país, sendo o Paraná o principal produtor e exportador nacional do produto (TREMEA et al., 2020).

De acordo com dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), no ano de 2023, o Paraná renovou o próprio recorde e manteve a ampla vantagem na liderança nacional nas exportações de carne de frango. No primeiro semestre, foram vendidas para o mercado externo cerca de 1,1 milhão de toneladas desta proteína animal, resultando em um aumento de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior (956 mil toneladas) e o equivalente a 41% das exportações da carne de frango brasileira.

2.2 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

influenza é uma doença infecciosa aguda causada por um vírus da família ortomixiviridae, de nome Influenza (Myxovirus influenzae), o qual acomete várias espécies animais, desde mamíferos, aves e humanos. Existem relatos desta doença desde a antiguidade, sendo a sua infecção descrita como uma das doenças mais antigas da humanidade (GRANATO; BELLEI, 2007). De acordo com Forleo-Neto et al. (2003), os vírus influenza constituem-se de partículas envelopadas de RNA de fita simples, as quais são segmentadas e subdividem-se nos tipos A, B e C. Sendo os subtipos A e B, responsáveis por infecções em humanos.

A influenza aviária, de nome popular gripe aviária, é considerada uma doença de alto risco para aves, se enquadra como uma doença grave, de notificação obrigatória e imediata aos órgãos oficiais estaduais, nacionais e internacionais de controle de saúde animal. Situação que acarreta em barreira sanitária para a comercialização de produtos avícolas (carne/ovos) no mercado interno e externo, gerando enormes prejuízos econômicos para a avicultura comercial, e riscos de casos zoonóticos da doença (EMBRAPA, 2022).

É causada pelo subtipo A da Influenza (Influenza A), este, possui uma maior variabilidade (MAPA, 2023). O grupo A é dividido em subtipos, classificados de acordo com as glicoproteínas existentes na superfície viral. Dentre as glicoproteínas, estão as hemaglutininas (representadas pela letra H ou HA), e as denominadas neuraminidases (representadas pela letra N ou NA), essa classificação é realizada conforme o seu sítio de ligação (FORLEO-NETO et al., 2003), tem registros até o momento, de 16 tipos de hemaglutininas (H16) e 9 tipos de neuraminidases (N9) (SWAYNE et al., 2023).

Os vírus de Influenza A, podem ser diferenciados dos tipos B e C com base na identidade dos principais antígenos proteicos internos, tais como a nucleoproteína (NP) e as proteínas da matriz (M1). No isolamento primário, os vírus da Influenza A são pequenas partículas pleomórficas (de 80 a 120 nm de diâmetro), que posteriormente se tornam geralmente esféricas. As partículas consistem em um envelope de bicamada lipídica derivado do hospedeiro no qual as glicoproteínas codificadas pelo vírus HA e NA e proteínas de matriz (M2) estão embutidas uma camada interna de proteína da matriz e, no centro, os nucleocapsídeos do genoma viral. A HA, proteína integral da membrana e o maior antígeno de superfície, é responsável pela ligação e fusão do vírion com a célula do hospedeiro. E a NA tem como função clivar o ácido siálico (AS) das glicoproteínas, permitindo a liberação das partículas virais que estavam ligadas aos receptores das células hospedeiras, assim facilitando a propagação do vírus no organismo. Para que possa ser infeccioso, uma única partícula viral deve conter cada um dos oito segmentos únicos de RNA. A incorporação aleatória de segmentos de RNA permite a geração de vírus progenitores contendo combinações novas de genes, quando as células são duplamente infectadas com dois vírus parentais diferentes (WEBSTER, 1992).

A Influenza Aviária (IA) é categorizada em dois níveis de patogenicidade: Alta Patogenicidade (IAAP) e Baixa Patogenicidade (IABP). Essa classificação é baseada em testes in vivo, como o Índice de Patogenicidade Intravenosa (IVPI), onde um resultado maior que 1,2 é indicativo de IAAP, ou pela detecção de sequências genéticas associadas à patogenicidade no sítio de clivagem da proteína hemaglutinina. Conforme Swayne et al. (2023), os subtipos H5 e H7 são frequentemente associados a infecções de alta patogenicidade em aves comerciais, de subsistência e também em aves silvestres.

A doença tem como vetores naturais, aves silvestres ou de vida livre existentes na fauna local, principalmente as aves aquáticas pertencentes às Ordens Anseriformes, na qual inclui-se: patos, gansos, marrecos, cisnes, maçaricos, batuíras e gaivotas, muitas das vezes, são portadores virais assintomáticos. Tornando-se necessário usar medidas de biosseguridade para evitar o contato entre aves domésticas e aves silvestres (MENEZES, 2017).

O Brasil, é um país que se destaca devido sua grande área, associado ao clima Tropical quente, com presença de florestas tropicais em grande quantidade, e uma variada biodiversidade de fauna e flora. Com isso tem-se várias espécies de aves migratórias, dentre elas as Anseriformes e Charadriiformes, que apresentam um elevado risco biológico. O Brasil apresenta 5 grandes rotas migratórias de aves, sendo elas: Rota Atlântica, Rota Nordeste, Rota Brasil Central, Rota Amazônia Central e Rota Amazônia Ocidental. Das quais, passam pelo estado paranaense as Rotas: Brasil Central e Rota Atlântica. As aves que transitam no Brasil são aquelas que migram a partir da costa leste do Canadá e Estados Unidos. Atravessam o Atlântico em voos ininterruptos, ou fazendo paradas em ilhas do Caribe, até a América do Sul. Já as que migram pelo interior do Canadá e Estados Unidos, atravessam os países da América Central (ICMBio, 2016).

As medidas de profilaxia e prevenção em caso positivo da doença, estão descritas no Plano de vigilância de Influenza Aviária e Doença de Newcastle, o qual teve sua última reforma no dia 06 de julho do ano de 2022, sendo este, o mais atualizado até o presente momento. O material e as ações descritas, foram elaborados pelo MAPA, Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) e pelo Departamento de Saúde Animal (DSA), aplicável a todo Brasil. Este se estende por toda a cadeia avícola, desde reprodutoras (pedigree, bisavós, avós e matrizes), aves de corte e de postura de cunho comercial. Também se aplica para frigoríficos e abatedouros, e se estende para produção de perus, codornas e de patos.

Referente a sintomatologia nas aves de produção afetadas, é possível haver variação entre as cepas de alta patogenicidade (IAAP), ou as cepas de baixa patogenicidade (IABP), dentre os quais, a IAAP inclui sinais mais brandos de infecção. O sistema imunológico das aves, estado nutricional, e possíveis infecções secundárias também afetam o potencial de patogenicidade da doença (DAS, 2020; MAPA, 2023). Tanto o vírus de IAAP como os de IABP são capazes de se espalhar rapidamente entre o plantel de aves de criação, podendo ocorrer através do contato direto com aves silvestres ou também como de outras aves de criação infectadas, o contato direto com fômites, superfícies ou água contaminada com os vírus. A infecção do plantel avícola por IAAP é capaz de provocar uma doença de alta mortalidade. Os vírus de IABP estão mais associados à infecção subclínica. Os termos IAAP e IABP aplicam-se apenas à sintomatologia em aves (galinhas em particular) e ambos os tipos de vírus têm o potencial de causar infecções graves em humanos (OPAS, 2024).

A infecção pelo vírus influenza A de IAAP em qualquer tipo de ave, incluindo aves silvestres, é de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). A infecção pelo vírus influenza A de baixa patogenicidade também requer notificação obrigatória à OMSA, quando acomete aves domésticas ou silvestres em cativeiro e apresenta transmissão natural aos seres humanos com graves consequências, ou como doença emergente, quando detectado aumento súbito e inesperado da virulência em aves de produção comercial (EMBRAPA, 2023). A IAAP também foi identificada em mamíferos na Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos, Peru e Uruguai. Dentre esses mamíferos identificados, as raposas vermelhas e os gambás foram afetados com mais frequência na América do Norte, e os lobos marinhos na América do Sul (OPAS, 2024).

A Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), é caracterizada por uma taxa de mortalidade abrupta e elevada, oscilando entre 90 a 100% em populações avícolas afetadas, frequentemente sem sinais clínicos evidentes. Em casos que apresentam sinais clínicos, observa-se desde depressão profunda até sintomatologia respiratória e neurológica aguda, incluindo cianose e formação de focos necróticos em apêndices cutâneos como cristas e barbelas (DSA, 2020). Além disso, a IAAP pode resultar em impactos significativos na produção avícola, evidenciados pela redução na postura de ovos e alterações morfológicas dos mesmos, tais como deformidades, fragilidade da casca e ausência de pigmentação. A necropsia das aves afetadas revela achados patológicos como edema, congestão, hemorragias e necrose em múltiplos órgãos internos e na pele (MAPA, 2023; SWAYNE et al., 2023). Muitos desses sinais clínicos também são comuns a outras doenças, como a doença de Newcastle (DNC), Laringotraqueíte Infecciosa Aviária (LTI), Bronquite Infecciosa, entre outras (MAPA, 2023). Por isso, o diagnóstico confirmatório da doença depende do isolamento ou detecção do vírus por técnicas laboratoriais oficiais aprovadas internacionalmente (OMSA, 2021). A cepa H5N1, é a principal causadora da IAAP (ou HP), nas espécies avícolas. A presença do vírus H5N1 no plantel comercial de aves, pode levar a um índice de mortalidade de animais acima de 75%, podendo chegar a 100% (EASTERDAY; HINSHAW; HALVORSON, 1997).

Com relação a IABP, a prevalência de vírus em populações de aves silvestres ocorre predominantemente de maneira assintomática. Em aves domésticas, a manifestação clínica da IABP pode variar de inexistente a moderada, com possíveis sintomas respiratórios como espirros, tosse, e secreções nasais e oculares. Outros sinais incluem diarreia, letargia, edema facial e redução significativa na produção e no consumo de água e ração. Avaliações post mortem podem revelar rinite, sinusite, congestão traqueal, hemorragias no sistema reprodutivo de aves poedeiras, aerossaculite e peritonite (MAPA, 2023; EMBRAPA, 2022).

2.3 DOENÇA DE NOTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA

Considerando a gravidade da doença e os problemas que podem ser desencadeados em caso positivo da doença no plantel avícola, o diagnóstico deve ser feito rapidamente para que sejam tomadas as medidas de contingência conforme legislação brasileira.

A identificação dos vírus da influenza A, como causa de infecções e doenças em aves de produção e de vida livre requer uma investigação diagnóstica completa para diferenciar de doenças semelhantes causadas por outros agentes virais, especialmente o vírus da DNC aviária tipo 1 (APMV-1). Isolados individuais dos vírus influenza A e APMV-1 variam muito em virulência, causando várias síndromes evidentes como infecções subclínicas, quedas na produção de ovos, doenças respiratórias e doenças graves com alta mortalidade (WOAH, 2023).

Conforme descrito pelo PNSA, em casos suspeitos de IA em aves domésticas, deve ser analisado órgãos do sistema digestório, dentre eles estão, fragmentos de intestino delgado e de ceco com tonsilas cecais. Além disso, devem ser coletados também órgãos do sistema respiratório, incluindo fragmentos de traqueia e de pulmões, órgãos do sistema nervoso, como fragmentos de cérebro e de cerebelo. Com relação ao armazenamento, recomenda-se que as amostras destinadas às técnicas de biologia molecular (PCR ou qPCR) ou isolamento viral, não sejam encaminhadas ao laboratório as cabeças inteiras. A necropsia deve ser realizada na propriedade e os fragmentos dos órgãos de eleição (traqueia, pulmão e gânglios trigêmeos) devem ser encaminhados preferencialmente em tubos plásticos (PSDA, 2020). Podem ser realizados suabes de traqueia ou orofaríngeos, os quais são os materiais de eleição para detecção de influenza aviária em aves de produção, enquanto os suabes cloacais são os preferenciais para detecção em aves aquáticas (MAPA, 2023; PSDA, 2020).

Um vírus influenza A de alta patogenicidade é aquele que é letal para seis, sete ou oito, de oito frangos suscetíveis de 4 a 8 semanas de idade dentro de 10 dias após a inoculação intravenosa com 0,2 ml de uma diluição de 1/10 de um fluido alantóico infectante e livre de bactérias. Ele também pode possuir um índice de patogenicidade intravenosa (IVPI) maior que 1,2. O procedimento do IVPI, consiste em utilizar fluido alantóico infectante fresco, livre de APMV-1 e outros agentes estranhos, com um título de HA >1/16, diluído 1/10 em salina isotônica estéril. Após feito o descrito acima, injeta-se 0,1 ml do vírus diluído intravenosamente em cada um dos dez frangos suscetíveis de 4 a 8 semanas de idade, se possível, devem ser usados frangos SPF (Livre de Patógenos Específicos) (WOAH, 2023).

No caso de aves silvestres, são examinadas a cada 24 horas por 10 dias. Em cada observação, cada ave recebe uma pontuação de 0 se normal, 1 se doente, 2 se gravemente doente, 3 se morta. Na maior parte dos casos, aves doentes apresentam um dos seguintes sinais e aves consideradas gravemente doentes mais de um, dentre eles estão envolvimento respiratório, depressão, diarreia, cianose da pele exposta ou barbelas, edema da face e/ou cabeça, sinais nervosos. Indivíduos mortos devem ser pontuados como 3 em cada uma das observações diárias restantes após a morte. O IVPI é a média das pontuações por ave por observação durante o período de 10 dias. Um índice de 3,00 significa que todas as aves morreram dentro de 24 horas, e um índice de 0,00 significa que nenhuma ave apresentou qualquer sinal clínico durante o período de observação de 10 dias (WOAH, 2023).

2.4 BIOSSEGURIDADE

biossegurança em granjas avícolas representa a primeira linha de defesa contra a entrada e disseminação de patógenos que podem ter consequências para a saúde animal, segurança alimentar e econômica. Na criação intensiva de animais, a biossegurança representa um ponto crucial para garantir o bem-estar e a saúde animal. Portanto, é necessário que medidas adequadas de biossegurança sejam cumpridas e implementadas. Até o momento, várias ferramentas para avaliar a conformidade com a biossegurança em granjas avícolas estão disponíveis com o propósito geral de fornecer uma avaliação das medidas de biossegurança implementadas (TILLI, GIUDITTA et al., 2022).

Agentes infecciosos são ameaças à saúde das aves e à saúde humana, tendo grandes implicações sociais e econômicas. Na produção avícola, em condições intensivas, a prevenção é a abordagem mais viável para o controle de agentes infecciosos. Procedimentos de biossegurança devem ser implementados com o objetivo de prevenir a introdução edisseminação de agentes infecciosos na cadeia de produção avícola. A biossegurança será reforçada com a adoção e implementação dos princípios das Boas Práticas Agrícolas e do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP) (WOAH, 2022). De acordo com a Instrução Normativa N° 36 de 2012, elaborada pelo MAPA, nos estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais, o monitoramento sanitário será realizado para a doença de Newcastle, influenza aviária, salmonelas, mycoplasmas, visto que estas são as de maior relevância além do controle do uso de produtos veterinários.

A conscientização acerca da complexidade do processo produtivo é de extrema importância, ela engloba a todos os que trabalham na granja, isso inclui desde supervisão e equipe técnica, até auxiliares de produção. Quanto à importância da implantação de medidas preventivas com enfoque na redução dos riscos de introdução de doenças no plantel, bem como da necessidade do isolamento das instalações. Caso contrário, uma possível doença poderá emergir da unidade produtora avícola (JAENISCH, 2006).

De acordo com a Instrução Normativa N° 56, de 4 de dezembro de 2007, são considerados como estabelecimentos avícolas: estabelecimentos de linha pura, bisaviseiro, avoseiro e matrizeiro, matrizeiro de recria, recria, incubatórios de linhas puras, incubatório de bisavoseiro, incubatório de avoseiro, incubatório de matrizeiro, aves e ovos livres de patógenos, ovos controlados para produção e vacinas inativadas, estabelecimento para classificação, seleção e armazenamento de ovos férteis.

Quanto à construção de algum estabelecimento, de acordo com o artigo 10 e 11 da IN N° 56 de 2007, deve ser respeitada uma distância de 3 quilômetros entre um estabelecimento avícola e outro, ou então de outra finalidade dentro da cadeia avícola. Além disso, os núcleos de diferentes idades devem ter distâncias entre si, de modo a reduzir a contaminação cruzada e diminuir possíveis riscos biológicos no plantel.

Quanto aos estabelecimentos de reprodução, a IN N° 59, de 2009 elaborada pelo MAPA, informa que estes devem ser construídos de modo com que possa ser higienizado e desinfetado toda sua superfície, bem como as telas tenham malha de 2,54 centímetros, garantindo assim, vedação contra aves de vida livre ou outros animais silvestres e domésticos, salvo galpões que utilizem cortinas sempre fechadas ou algum outro meio que não deixe aves adentrarem. Além disso, é recomendado cerca de no mínimo 1 metro de altura ao redor da granja, de modo a também garantir que não entre nenhuma espécie indesejada.

De acordo com a IN N° 36 de 2012 do MAPA, deve-se, portanto, manter áreas internas dos galpões e dos núcleos limpas e organizadas, sem resíduos de ração, água estagnada, ovos descartados, carcaças de aves entre outros, bem como evitar quaisquer condições que possam atrair e servir à formação de ninhos e abrigos às aves e demais animais silvestres. Dentro da unidade produtora, é necessário evitar o trânsito de pessoas quando não for necessário, animais e veículos próximo aos aviários, sendo que as pessoas que precisarem entrar no estabelecimento, devem obrigatoriamente realizar a troca de calçados e roupas e tomar banho. Todos os acessos aos aviários devem possuir pedilúvio, um recipiente com solução desinfetante, seja ela seca ou úmida. Onde houver trânsito de veículos, instalar arcos de desinfecção ou utilizar o rodolúvio, o qual deve ser utilizado algum desinfetante como amônia em conjunto com a água que será aspergida. Deve-se proceder a desinfecção de todos os utensílios, antes de entrarem na granja, por princípio de fumigação, com paraformol em pó (JAENISCH, 2006).

Com relação aos resíduos de produção, especialmente carcaças e cama de aviário, estes devem ser trabalhados em compostagem, a qual é retirada no final do lote para uso agrícola (MAPA 2017; JAENISCH, 2006). Outro ponto importante é relacionado a qualidade da água, esta, por sua vez, deverá ser mantida com cloro de quantidade mínima 3 ppm, conforme estabelecido pela IN N° 18 de 25 de maio de 2017. Deve-se realizar análises microbiológicas da água, que deverão atender aos padrões previstos nas normativas vigentes, devendo as amostras serem colhidas em períodos estipulados de acordo com a finalidade produtiva das aves, elaborado pelo PSDA.

Deve-se elaborar e executar um programa de limpeza e desinfecção a ser realizado nos galpões e de todos os equipamentos utilizados durante o lote, após a saída de cada lote de aves. Deverá ser lavado com água sob pressão todos os equipamentos do aviário (comedouros, bebedouros, telas, cortinas, paredes), feito isso, deve-se desinfetar o aviário, fazendo uso de desinfetantes à base de amônia quaternária, glutaraldeído, formol, cloro, iodo, cresol ou fenol. Outro ponto de extrema importância é manter registros do programa de controle de pragas sempre atualizado, a fim de manter os galpões e os locais para armazenagem de alimentos ou ovos livres de insetos e roedores, animais silvestres ou domésticos, bem como verificação de possíveis vazamentos de ração abaixo do silo, evitando possíveis roedores e aves silvestres indesejáveis (EMBRAPA, 2023; JAENISCH, 2006).

Caso haja positividade em algum problema sanitário, a cama do aviário deverá sofrer processo de fermentação por no mínimo dez dias antes de sua retirada do galpão ou ser submetida a outro método aprovado pelo DSA que garanta a inativação de agentes de doenças. Já nos estabelecimentos de frangos de corte, deverá ser assegurado que a reutilização da cama somente será realizada se não houver sido constatado problema sanitário que possa representar risco potencial ao próximo lote a ser alojado, ao plantel avícola nacional e à saúde pública, de acordo com a inspeção clínica do responsável técnico do estabelecimento ou pelo médico veterinário oficial ou ainda durante o abate do lote pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA).

Outro importante fator a ser analisado, é a presença de documentos do lote, dentre os quais deve-se manter guardado, a fim de estar à disposição do Serviço Veterinário Oficial, caso seja solicitado por tempo mínimo de 2 anos. Dentre os documentos estão as guias de trânsito animal das aves (GTA´s), ações sanitárias executadas naquele lote e histórico de vacinação do plantel, contendo partida, doses e princípio ativo das vacinas e a data de aplicação (idade das aves também). Em caso de medicações, deve-se seguir o mesmo princípio das vacinas, contendo as informações relevantes, além de ter anotado no histórico da granja, as datas de visitas do médico veterinário oficial e do Responsável Técnico da granja (EMBRAPA, 2023; MAPA, 2023).

Portanto, fazer o correto uso de ferramentas de biosseguridade nos estabelecimentos avícolas com enfoque em limitar a exposição das aves domésticas às aves silvestres, principalmente aquáticas migratórias marinhas, torna-se a principal medida de redução de risco para introdução do vírus da IA no plantel avícola nacional. Como consequência disso, diminuir o risco de mutação para formas altamente patogênicas e recombinação com componentes de outros vírus de influenza influenciará na não mutação genética dele (DSA, 2022).

Tendo ciência da problemática da doença, além da biosseguridade descrita anteriormente, a qual serve como uma medida profilática de prevenção da entrada da doença em plantel avícola comercial. Há a disponibilidade de um manual, denominado Plano de vigilância de Influenza Aviária e Doença de Newcastle, o qual foi elaborado pelo Departamento de Saúde Animal (DSA), em conjunto com a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) e Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), no ano de 2022. Além do Plano de Contingência para Emergências Zoossanitárias, publicado em 2023, descreve o procedimento prático e isolamento do plantel afetado em caso positivo, publicado pelo Sistema Nacional De Gestão de Emergências agropecuárias (SISNEAGRO) e pelo Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergência Agropecuária (SISBRAVET).

Quanto às regiões, são classificadas em 4, de acordo com o risco e proximidade do local afetado, sendo elas: foco, perifoco, vigilância e proteção (SINEAGRO, 2023; SIBRAVET, 2023). Na área de Foco, ou seja, na granja onde o caso foi confirmado é necessário que toda as aves passem por abate sanitário, o qual é realizado por meio de métodos elétricos como eletrocução

230V/50Hz, ou, mais recomendado de métodos gasosos, por meio da injeção de gás carbônico (CO2), ou misturas com nitrogênio ou gases inertes, em vazão de 35 a 50 litros por minuto. Deve também ser destruído qualquer carcaça de aves mortas ou subprodutos como ovos, conforme consta no Código Terrestre da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

A saída de produtos e materiais de médio risco do foco fica sujeita à autorização prévia e às condições estabelecidas pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO). No caso de lotes de reprodução (linhas puras, bisavós, avós e matrizes), nos incubatórios que receberam ovos originários do foco ao longo dos 28 dias anteriores à confirmação do caso, deverá ser feita a destruição de todos os ovos incubados e não incubados presentes no incubatório (SINEAGRO, 2023; SIBRAVET, 2023).

É necessária a instalação de barreira sanitária com sistema de desinfecção e com desinfetante na concentração recomendada, na entrada do estabelecimento. Os veículos deverão passar por limpeza e desinfecção ao saírem do estabelecimento, respeitando-se o tempo de ação do desinfetante. Em caso de total cumprimento das normativas descritas no Plano, a equipe que ali esteve presente, deverá realizar um vazio sanitário de no mínimo 24 horas, podendo este, se estender para 48 horas, caso seja necessário.

Na zona denominada de Perifocal, o qual se estende por 3 km a partir da área de foco, deverão ser investigadas todas as propriedades com aves, estabelecimentos avícolas, a cada 3 dias, com registro de todas as inspeções e as ocorrências constatadas. Todas as aves dessa área, deverão ser mantidas dentro de seus alojamentos, proibindo sua saída, a critério do SVO, bem como a proibição de concentração de aves e animais susceptíveis nessa área (SINEAGRO, 2023; SIBRAVET, 2023).

Nessa área, deve-se fazer uso da utilização de sistemas de desinfecção apropriados nas entradas e saídas da área perifocal, assim como na área focal, segundo critérios do SVO, as medidas aplicadas no perifoco são implantadas quando da confirmação do foco e serão mantidas até a fase de conclusão do foco (SINEAGRO, 2023; SIBRAVET, 2023).

Na área de vigilância, a qual abrange 7 quilômetros a partir da zona perifocal, adota-se medidas como a investigação de propriedades avícolas dentro do círculo a cada 7 dias, e dá-se preferência para as que tiveram contato com o foco. As ações relacionadas ao isolamento das aves, usa-se as mesmas dos outros focos (COEZOO, 2023).

Com relação aos ovos, é feita a proibição da retirada de ovos da área de vigilância, salvo se enviados a um incubatório, avaliado e designado pelo SVO, mas a incubação deverá ser realizada em máquinas separadas. Estes ovos e as suas embalagens deverão ser desinfetados antes do transporte ao incubatório, sendo vedada a reutilização de embalagens descartáveis. Ovos para consumo deverão ser destinados a entreposto situado na área de emergência ou, se não for possível, em um situado fora desta, quando avaliado, conforme regras do Código sanitário de animais terrestres da OMSA.

O SVO proíbe que sejam feitas feiras envolvendo aves nessa região, além de ser realizado o controle de entrada e saída de pessoas. Ração, esterco e subprodutos dessa área só poderão ser utilizados sob autorização do Serviço Veterinário Oficial. As medidas ali impostas, serão mantidas até a conclusão do foco (COEZOO, 2023). Com relação a zona de proteção, esta é uma área imediatamente circunvizinha à área de vigilância, representando os limites da área de proteção sanitária. Como apoio à sua delimitação, podem ser consideradas as propriedades rurais localizadas até 15 quilômetros dos limites da área de vigilância. Os procedimentos e práticas, os quais serão abordados pelo Centro de Operações de Emergência Sanitária (COEZOO) (COEZOO, 2023).

2.5 FOCOS VIRAIS DE H5N1 EM AVES DE VIDA LIVRE NO BRASIL

Durante o período de 2021 a 2023, o vírus da influenza aviária, provocado pela cepa H5N1 se propagou mundialmente devido ao seu estabelecimento em populações de aves silvestres migratórias, resultando na maior epidemia de IAAP registrada no mundo (MAPA, 2023).

O órgão responsável pelas notificações do vírus é o MAPA, até o mês de maio de 2024, foram confirmados 164 focos da doença no país, os quais já foram encerrados. Dentre esses focos, estão 161 animais de vida livre, incluindo aves migratórias aquáticas, leões marinhos e 4 aves de subsistência (caipiras de fundo de quintal).

Com relação às principais espécies acometidas, em primeiro lugar está o Trinta-Reis-De-Bando (Thalasseus acuflavidus) com 59 casos; Trinta-Reis-Real (Thalasseus maximus) com 52 casos; Trinta-Reis-Boreal (Sterna hirundo) com 12 casos;

Trinta-Reis-De-Bico-Vermelho (Sterna hirundinacea) com 8 casos; Bobo-Pequeno (Puffinus puffinus) com 4 casos; Leão-Marinho-Da-Patagônia (Otaria flavescens) com 4 casos; Atobá-Pardo (Sula leucogaster) com 3 casos e Biguá (Phalacrocorax brasilianus) com 2 casos.

Os primeiros focos da infecção pelo vírus influenza A de alta patogenicidade (H5N1) no Brasil foram confirmados no dia 15 de maio de 2023 em aves silvestres marinhas no Espírito Santo. Após 5 dias, no dia 22 de maio de 2023, o MAPA declarou estado de emergência zoosanitária em todo o território nacional durante 180 dias, assim, dando maior importância e enfoque para a doença, embora a confirmação da doença em aves silvestres não interfira na exportação dos produtos (MAPA, 2023). A sequência viral A (H5N1) obtida de Thalasseus acuflavidus no Brasil agrupou-se com todas as sequências de vírus A/H5N1 detectadas no Chile e Peru em 2022 e 2023, confirmando sua proximidade filogenética mais próxima a essas sequências de países sul-americanos voltados para o Oceano Pacífico (REISCHAK et al., 2023).

Após o ocorrido, diversos estados brasileiros também notificaram casos da IAAP em aves de vida livre, na seguinte ordem: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Paraná e Santa Catarina. No dia 27 de junho de 2023, ocorreu o primeiro caso de IAAP em aves domésticas de subsistência. O caso ocorreu no município de Serra, no Espírito Santo, em uma propriedade com múltiplas espécies de aves domésticas, estas eram criadas soltas e com acesso a uma lagoa e com contato com aves silvestres de vida livre. Um foco já havia sido confirmado nesse mesmo município, em uma corujinha do mato. No mês de maio de 2024, segundo o MAPA, a classificação das cidades com os maiores número de casos de IAAP são: Vila Velha – ES (7 casos); São João Da Barra – RJ (7 casos); São Sebastião-SP (6 casos); Santos – SP (6 casos) e Itanhanhém – SP (6 casos). Ambas as cidades com localização próxima ao litoral, onde há maior fluxo de aves migratórias (MAPA, 2023).

2.6 FOCOS VIRAIS DE H5N1 NO PARANÁ

O primeiro caso de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) do Paraná ocorreu na cidade de Antonina, região litorânea do estado. A confirmação ocorreu no dia 23 de junho de 2023.

A espécie acometida foi o Trinta-Reis-Real (Thalesseus maximus) (ADAPAR, 2023).

Além de Antonina, outras cidades paranaenses tiveram casos positivos de H5N1 de alta patogenicidade, como Pontal do Paraná, Paranaguá, Guaraqueçaba, Guaratuba e Matinhos, ambas localizadas no litoral do estado. Como relação às espécies acometidas, podemos citar o Trinta-réis-real (Thalasseus maximus), o Trinta-réis-de-bando (Thalasseus Acuflavitus) e Gaivota-Maria-Velha (Chroicocephalus Maculipennis). No total, foram 13 focos, sendo que o Trinta-réis-de-bando foi a espécie com maior incidência (MAPA, 2023; ADAPAR 2023).

Apesar da ocorrência desses casos descritos nas margens litorâneas do estado, a produção de âmbito comercial seguiu normalmente, visto que isso não interferiu na comercialização interna e externa dos produtos avícolas do Paraná (ADAPAR, 2023). Como nos pontos afetados não há grande concentração produtiva avícola, com os isolamentos, descritos conforme o Plano de contingência de Emergências Zoosanitárias do Brasil.

2.7 INVESTIGAÇÃO DOS FOCOS E DAS ESPÉCIES POSITIVAS

Ao observar as aves acometidas, nota-se que se tratam de aves migratórias, e, como os casos ocorreram em região costeira litorânea, isso se deve ao fenômeno de migração, o qual é feito pelas aves. A migração é o termo que define os deslocamentos realizados anualmente, repetidamente, de forma sazonal, por determinada população animal, que se desloca de um ponto A (área de reprodução) para um ponto B (áreas de alimentação e descanso), em uma determinada época do ano, retornando posteriormente ao ponto A, completando o ciclo biológico (IBAMA/CEMAVE, 2008).

Os trinta-réis-reais estão distribuídos por toda a costa litorânea das Américas, habitando desde o litoral de Santa Cruz, no sul da Argentina, subindo pelo Uruguai, Rio Grande Do Sul, Santa Catarina, em um intervalo que vai até a América do Norte, passando pelos Estados Unidos e Canadá. Essas aves se reproduzem ao longo da costa atlântica da América, estendendo-se desde o leste dos Estados Unidos, compreendendo Maryland, raramente Nova Jersey e Texas, e passando pelas Antilhas e México, região da península de Yucatán até as Guianas, Brasil, Uruguai e norte da Patagônia, Argentina/Chile, além de ao longo da costa do Pacífico da América, desde o sudoeste dos EUA, no sul da Califórnia e o noroeste do México. No inverno, pode ser encontrado ao sul até o Peru na costa do Pacífico e dos EUA até o Uruguai e Argentina na costa Atlântica (GOCHFELD et al., 2019).

Por ser amplamente distribuída, essa ave é um forte vetor viral do H5N1 de IAAP, considerando que ela viaja por países onde a incidência é alta. De acordo com a OPAS (2022), houve grande número de casos do vírus nas Américas Central e do Norte. Ao chegar ao Brasil, caso esteja contaminada, poderá transmitir o vírus para outras aves nativas daqui ou não, iniciando, desse modo, a transmissão da doença. Considerando essa espécie como um potencial vetor viral, deve-se dobrar os cuidados com a biosseguridade no estado, visto que é possível haver a contaminação de aves da fauna local, podendo elas, ir para outras regiões do estado, como é o caso da região Oeste e Sudoeste do Paraná, visto que são regiões altamente produtivas (ADAPAR, 2023).

Com relação ao Trinta-réis-de bando (Thalasseus Acuflavidus), a distribuição desta espécie ocorre em toda a costa litorânea das Américas (América do Sul, América Central e América do Norte), desde o Peru, Equador, Chile, Mexico, Argentina, Brasil, Venezuela, países da América Central e costa dos Estados Unidos. No território brasileiro, o trinta-réis-de-bando ou andorinha-do-mar-de-bico-amarelo reproduz-se preferencialmente em ilhas rochosas próximas à costa, sendo comumente observada entre os meses de abril e outubro frequentando boias sinalizadoras e pedras próximas à costa ou sobrevoando e alimentando-se em águas costeiras (EFE, 2008). Segundo Efe (2008), A população total para o Trinta-réis-real foi estimada em no mínimo 750 pares no Brasil e menos de 5000 na Argentina, enquanto que para o Trinta-réis-de-bico-amarelo foi estimado em no mínimo 8000 pares no Brasil e menos de 10000 na Argentina.

Outra   espécie   que   foi   acometida   em   solo   paranaense,   foi   a Gaitota-Maria-Velha (Chroicocephalus Maculipennis), diferentemente dos trinta-réis, ela está localizada na América do Sul, em uma faixa que inclui Argentina, não apenas partes litorâneas, mas no centro do país também, Chile, Uruguai e Algumas partes do Peru. O Paraguai, apesar de não apresentar litoral, pode abrigar essa espécie. No Brasil, ela não é tão presente, sendo encontrada apenas da faixa litorânea dos estados do Rio Grande Do Sul, Santa Catarina, Paraná e partes de São Paulo e Rio de Janeiro (já sendo mais rara nesta região). O Choroicocephalus Maculipennis, possui hábitos de localização relativamente sedentários, ou seja, não migram como os Thalasseus spp. geralmente, se dispersam-se para grandes rios e áreas costeiras após a reprodução. Sua postura ocorre nos períodos novembro a dezembro no Chile, de final de outubro a início de janeiro na Argentina, a partir de dezembro nas Ilhas Falkland (EFE, 2008).

Se considerarmos as áreas onde ocorre a reprodução dessa espécie, são regiões onde houveram grande número de foco de IAAP no ano de 2023, com grande parte do plantel comercial atingido. Portanto, é muito provável que essas aves se infectaram com o vírus H5N1 nos outros países da América do Sul e quando chegaram no Brasil, trouxeram junto com elas.

A origem exata dos focos de IAAP, não só no Paraná como no Brasil, não se faz possível saber ainda com exatidão com base em estudos feitos pelo MAPA, em conjunto com unidades de defesa agropecuária dos estados. No entanto, a questão migratória dessas aves é a principal suspeita. No Brasil, devido a sua grande biodiversidade há várias rotas migratórias. Muitas dessas rotas, trazem aves oriundas da América do Norte e Central, as quais vêm para se reproduzir na América do Sul ou vice-versa (OLIVEIRA et al., 2016).

As principais rotas migratórias que passam pelo Brasil são: (1) Rota Atlântica – ao longo de toda costa brasileira, do Amapá até o Rio Grande do Sul; (2) Rota Nordeste – consiste numa divisão da Rota Atlântica, iniciando na Baía de São Marcos (MA) e no Delta do Parnaíba (divisa MA/PI), seguindo pelo interior do Nordeste até a costa da Bahia; (3) Rota do Brasil Central – outra divisão da Rota Atlântica na altura da foz do Rio Amazonas e Arquipélago de Marajó, de onde segue pelos Rios Tocantins e Araguaia, passando pelo Brasil Central e atingindo o Vale do Rio Paraná na altura de São Paulo; (4) Rota Amazônia Central/Pantanal – as principais chegadas são pelos rios Negro, Branco e Trombetas passando pela região de Manaus e Santarém, seguindo respectivamente pelo vale dos Rios Madeira e Tapajós, até o Pantanal; e (5) Rota Amazônia Ocidental – também conhecida como Rota Cisandina, penetra no Brasil pelos vales dos Rios Japurá, Içá, Purus, Juruá e Guaporé, entrando a partir daí no Pantanal (OLIVEIRA et al., 2016).

Dentre as rotas citadas acima, passam pelo Paraná: a Rota Atlântica, a qual passa pela costa litorânea Brasileira, incluindo a paranaense e a Rota Brasil Central, esta, por sua vez, vai para a região Oeste, mais especificamente entre a divisa entre Brasil e Paraguai, se ramificando para o Norte paranaense também, até o ponto de encontro com a Rota Atlântica. A Rota Atlântica, faz o caminho, pelo qual os trinta-réis transitam pelo Brasil, passando por toda a costa litorânea (OLIVEIRA et al., 2016).

Entre os caminhos migratórios regionais, é notável a trajetória que atravessa a Depressão Central do Rio Grande do Sul, a qual se estende pela orla marítima desde o litoral atlântico do Uruguai até a região meridional de Santa Catarina. As aves, em sua jornada para a Argentina, seguem um corredor ecológico formado por rios, lagoas menores e áreas alagadas situadas na Depressão Central do território, localizado entre a Serra do Sudeste e a Serra Geral (ICMBio, 2016).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Influenza Aviária, é uma doença de notificação obrigatória e de grande importância na cadeia avícola devido às inúmeras perdas e fácil disseminação no plantel. Neste contexto, as normas de biosseguridade são imprescindíveis para evitar esta afecção na cadeia avícola brasileira. Com relação ao vírus em aves de vida livre, conclui-se que as regiões de litoral são muito mais acometidas do que regiões centrais, devido a maior incidência de aves aquáticas e as rotas migratórias.

REFERÊNCIAS

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[1] Discente do curso de Medicina Veterinária da Univel – Centro Universitário. E-mail: edionesjunior02@gmail.com

[2] Docente do curso de Medicina Veterinária da Univel – Centro Universitário. E-mail: edvaldogeraldojr@gmail.com