INDIVIDUALIDADE E EDUCAÇÃO: ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA ALUNOS AUTISTAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412052336


Jacilene de Jesus Moraes Rodrigues1,
Orientador: Mílvio da Silva Ribeiro2


RESUMO

Este estudo analisa a adaptação curricular como ferramenta essencial para a inclusão de alunos autistas no ambiente educacional. Com base em revisão bibliográfica, investiga-se a importância da personalização pedagógica, dos fundamentos teóricos da educação inclusiva e da colaboração interdisciplinar. Propõem-se estratégias de modificação de conteúdo, metodologias interativas e flexibilização de avaliações como pilares para a criação de ambientes educacionais mais inclusivos e acolhedores. O objetivo é fomentar práticas educacionais que respeitem a individualidade e promovam o desenvolvimento integral dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Palavras Chaves:  Adaptação curricular, Educação inclusiva, Autismo, equidade.

ABSTRACT

This study analyzes curriculum adaptation as an essential tool for including autistic students in the educational environment. Based on a literature review, it investigates the importance of pedagogical personalization, the theoretical foundations of inclusive education, and interdisciplinary collaboration. Strategies such as content modification, interactive methodologies, and flexible assessments are proposed as pillars for creating more inclusive and welcoming educational environments. The objective is to foster educational practices that respect individuality and promote the holistic development of students with Autism Spectrum Disorder (ASD).

Keywords: Curriculum adaptation, Inclusive education, Autism, Equity.

INTRODUÇÃO  

No cenário contemporâneo da educação, a busca pela inclusão e pela equidade tem sido um dos pilares fundamentais das políticas educacionais em todo o mundo. Nesse contexto, a questão da adaptação curricular para alunos autistas emerge como um desafio significativo e uma prioridade imperativa. Logo, à medida que reconhecemos a diversidade de necessidades e habilidades dentro do espectro autista, torna-se cada vez mais essencial desenvolver abordagens pedagógicas que sejam sensíveis e responsivas às singularidades de cada aluno. A educação inclusiva não é apenas um ideal, mas uma necessidade urgente, e a adaptação curricular desempenha um papel central na construção de ambientes educacionais que acolhem e apoiam plenamente a jornada de aprendizado dos alunos autistas.

Diante disto, vale questionar, como adaptar o currículo e as práticas educacionais para atender às necessidades dos alunos autistas de forma eficaz e inclusiva? Essa questão fundamental, lança luz sobre os desafios enfrentados pelos educadores e sistemas educacionais ao procurarem fornecer uma educação que seja verdadeiramente acessível e significativa para alunos autistas. A adaptação curricular para estes requer não apenas um entendimento profundo das complexidades deste espectro, mas também a implementação de abordagens pedagógicas flexíveis e personalizadas. Portanto, encontrar soluções para essa problemática implica explorar caminhos que valorizem a individualidade de cada aluno autista, ao mesmo tempo em que promova sua plena participação e desenvolvimento no ambiente escolar.

Diante do desafio de adaptar o currículo e as práticas educacionais para alunos autistas, algumas hipóteses emergem como possíveis respostas para a questão anteriormente formulada. Uma delas é a personalização do currículo, que envolve a criação de planos de ensino adaptados às necessidades específicas de cada aluno autista. Ademais, a colaboração entre educadores, familiares, profissionais de saúde e a comunidade escolar também se destaca como uma hipótese relevante para criar um ambiente de aprendizado mais acolhedor e favorável ao desenvolvimento dos alunos autistas.

O objetivo geral deste trabalho é investigar e propor estratégias eficazes de adaptação curricular para alunos autistas, visando promover uma educação inclusiva e significativa. Para atingir esse objetivo, os objetivos específicos incluem: identificar as necessidades educacionais dos alunos autistas, desenvolver abordagens pedagógicas personalizadas e avaliar o impacto das estratégias adaptativas na aprendizagem e no desenvolvimento dos alunos autistas. Através desses objetivos, busca-se contribuir para o aprimoramento das práticas educacionais voltadas para a inclusão de alunos autistas em toda rede escolar.

Este trabalho acadêmico aborda a adaptação curricular para alunos autistas, destacando sua relevância para a sociedade e a comunidade científica. A educação inclusiva é fundamental em sociedades democráticas, e adaptar currículos para alunos com TEA é crucial para uma verdadeira inclusão educacional. O estudo busca proporcionar igualdade de oportunidades de aprendizado e promover respeito à diversidade no ambiente educacional e na sociedade. Ao investigar o impacto dessas estratégias, contribui para o avanço do conhecimento científico em educação inclusiva e autismo, beneficiando educadores, pesquisadores e profissionais da área. Sua importância vai além do meio acadêmico, influenciando políticas educacionais, práticas pedagógicas e a qualidade de vida de indivíduos autistas globalmente.

Este estudo adotou uma metodologia de pesquisa bibliográfica, na qual foram revisadas e analisadas diversas fontes de literatura científica e acadêmica relacionadas à adaptação curricular para alunos autistas. O procedimento envolveu a busca sistemática e a seleção criteriosa de artigos, livros e documentos relevantes, visando compreender as principais abordagens, teorias e práticas utilizadas na adaptação curricular para esse público específico. A análise e síntese crítica dessas fontes forneceram uma base sólida para o desenvolvimento das estratégias propostas neste trabalho.

1 DESENVOLVIMENTO

No desenvolvimento deste trabalho, é essencial compreender a interseção entre individualidade, educação e adaptação curricular para alunos autistas. A educação inclusiva tornou-se um imperativo moral e educacional, reconhecendo a diversidade de necessidades e habilidades presentes em cada aluno. No contexto do espectro autista, a adaptação curricular emerge como uma resposta necessária e significativa, visando criar ambientes educacionais que valorizem e respeitem a individualidade de cada aluno autista.

Os subcapítulos a seguir, irão explorar a introdução ao autismo e suas características, os fundamentos teóricos da educação inclusiva, bem como a teoria e prática da adaptação curricular. Ao examinar esses aspectos, buscamos não apenas enriquecer nosso entendimento sobre o tema, mas também identificar estratégias eficazes para promover o desenvolvimento e aprendizado significativo dos alunos autistas dentro do ambiente educacional.

1.1 Introdução ao autismo e suas características

Quando abordamos o tema de adaptação curricular focada em alunos do espectro autista, se faz necessário, introdutoriamente, esclarecer sobre as principais características de pessoas com TEA. Dentro do espectro autista, a diversidade é uma constante, refletindo as diferentes formas como o autismo se manifesta em cada pessoa. Oferecer uma visão sobre essa diversidade se faz necessário em decorrência da importância de fomentar o desenvolvimento de abordagens personalizadas que reconheçam e respeitem as diferenças individuais dos indivíduos autistas. Citando Dos Anjos, et al. (2017),

(…) esse     transtorno apresenta-se com algumas características marcantes como: ausência  de  contato  com  a  realidade externa    e    dificuldade    na    interação social;   prejuízos   na   comunicação   e distúrbios da     linguagem;     padrões restritos e repetitivos de comportamento e  necessidade  de  manter  inalterado  o ambiente habitual. Cerca  de  70%  das  pessoas  que apresentam  TEA  têm  algum  grau  de atraso  mental  e  no  desenvolvimento  da linguagem,   enquanto   nos   30%   que restam   encontramos   uma   inteligência acima  da  média,  porém  focada  em  algo específico,  voltada  para  atividades  do seu interesse. (DOS ANJOS, et al. 2017, p. 520)

Além das características citadas acima, a sensibilidade sensorial é uma característica comum entre os autistas, manifestando-se em hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais como luz, som, textura e odor. Essa sensibilidade sensorial pode impactar significativamente a experiência do indivíduo autista no mundo, influenciando suas interações sociais, seu comportamento e seu bem-estar emocional. Portanto, compreender e reconhecer a diversidade de características presentes no espectro autista é fundamental para uma abordagem inclusiva e centrada na pessoa, que valorize e respeite as particularidades de cada indivíduo autista.

1.2 Fundamentos da educação inclusiva e autismo

A compreensão dos fundamentos da educação inclusiva no contexto do autismo é um processo multifacetado e a base fundamentada da educação inclusiva repousa sobre os princípios da equidade, diversidade e participação. A equidade exige uma análise crítica das barreiras estruturais e sociais que impedem o pleno acesso e participação dos alunos autistas no ambiente educacional. Como dito por Valeriani (2020), a equidade, através da educação inclusiva, é quem vai  promover a integração entre crianças com diferentes necessidades. No entanto, alcançar este princípio, implica a implementar políticas e práticas que garantam não apenas a acessibilidade física, mas também o apoio emocional e pedagógico necessário para que os alunos autistas alcancem seu potencial máximo de aprendizado.

Ademais, outro fundamento essencial, é o da participação ativa dos alunos com TEA, nas atividades e interações escolares. De acordo com Ferreira & De França (2017, p. 508), é fundamental que a família e o professor se envolvam ativamente para incluir a criança em todas as atividades escolares, respeitando seus limites e promovendo seu bem-estar e desenvolvimento. No entanto, além da família e dos educadores, a participação ativa destas crianças requer um esforço colaborativo e interdisciplinar que envolva profissionais de saúde, terapeutas, e a comunidade em geral. Isso implica a criação de parcerias significativas e colaborativas que visem à identificação precoce, avaliação adequada e intervenção personalizada para alunos autistas, promovendo uma abordagem integrada que leve em consideração as necessidades complexas e variadas dos alunos autistas

1.3 Adaptação Curricular: teoria e prática

Segundo Souza (2015), a adequação curricular é um recurso pedagógico de suma importância para crianças com autismo, isso por causa de todas as características e individualidades, já apresentadas nesta pesquisa, que necessitam de atenção especializada em um contexto pedagógico. Dito isto, vale citar brevemente algumas das várias estratégias para adaptação curricular que facilitariam a vida de estudantes com TEA, a depender de suas características específicas.

Na modificação do conteúdo, pode-se simplificar a linguagem dos materiais, introduzir recursos visuais e incluir temas relevantes aos interesses dos alunos, promovendo um ambiente de aprendizado mais envolvente e compreensível. Por conseguinte, na adaptação da metodologia educacional, deve-se considerar abordagens interativas e sensoriais, como o uso de materiais manipulativos e atividades práticas. Essas técnicas não apenas engajam os alunos autistas, mas também facilitam a assimilação de conceitos complexos, promovendo uma aprendizagem mais significativa e duradoura.

Além disso, flexibilizar os métodos de avaliação é essencial, pois, permitir que os alunos demonstrem seu conhecimento de maneiras diversas, como por meio de projetos práticos, portfólios ou apresentações, honra as habilidades individuais dos alunos autistas e oferece oportunidades equitativas para que expressem seu aprendizado.

Segundo De Oliveira Brum, et al. (2018, p. 870), a adaptação curricular comprova que a criança autista tem todas as possibilidades de aprender conhecimentos típicos da grade curricular comum a todos, basta que este ensino seja adequado a suas individualidades. Essas adaptações curriculares visam proporcionar uma educação inclusiva e personalizada, atendendo às necessidades específicas de cada aluno autista e promovendo seu pleno desenvolvimento acadêmico e pessoal.

2 CONCLUSÃO

Diante do desafio de adaptar o currículo e as práticas educacionais para alunos autistas, as estratégias exploradas enfatizam a importância da personalização e flexibilidade. Simplificar o conteúdo, diversificar as metodologias de ensino e flexibilizar os métodos de avaliação são pilares essenciais para criar um ambiente educacional inclusivo e acolhedor. A colaboração entre educadores, famílias e profissionais é fundamental para o sucesso dessas adaptações, promovendo o desenvolvimento integral dos alunos autistas.

Portanto, ao adotarmos uma abordagem centrada no aluno e comprometida com a diversidade, podemos construir ambientes educacionais mais inclusivos e capacitadores, onde cada aluno autista tenha a oportunidade de florescer e alcançar seu pleno potencial. Este estudo oferece uma base para futuras reflexões e ações, fortalecendo o compromisso com uma educação verdadeiramente inclusiva e diversificada. Além disso, vale destacar a necessidade contínua de pesquisa, prática e reflexão para avançar na construção de ambientes educacionais mais inclusivos e capacitadores para alunos autistas.

REFERÊNCIAS

DE OLIVEIRA BRUM, Cristina de Fátima et al. ESTRATÉGIAS DE ADEQUAÇÃO CURRICULAR PARA ALUNOS COM AUTISMO. Revista Philologus, Ano 24, n. 72. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez, 2018.

DOS ANJOS, Clarissa Cotrim et al. Percepção dos Cuidadores de Crianças com Transtorno do Espectro Autista sobre a atuação da Fisioterapia. Revista Portal: Saúde e Sociedade, v. 2, n. 3, p. 517-532, 2017.

FERREIRA, Mônica Misleide Matias; DE FRANÇA, Aurenia Pereira. O autismo e as dificuldades no processo de aprendizagem escolar. ID on line. Revista de psicologia, v. 11, n. 38, p. 507-519, 2017.

SOUZA, C. F. O. B. A. Adaptação Curricular para alunos autistas não verbais: estratégias para alfabetização. Qualificação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2015.

VALERIANI, T. Educação especial inclusiva: quando a diversidade resulta em inclusão. Quero Bolsa,2020. Disponível em: https://querobolsa.com.br/revista/autor/thalesdiniz. Acesso em: 23 de jan. de 2024.


1Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação
Instituição: Faculdade Interamericana de Ciências Sociais (FICS).
Endereço: Igarapé-Miri -Pará, Brasil.  E-mail: jacilenedejesusm@gmail.com

2Doutor em Geografia Instituição: Universidade Federal do Pará(UFPA)
Endereço: Belém – Pará, Brasil E-mail: milvio.geo@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1118-7152