Viviane Holzbach
Cláudia Regina Beuter
RESUMO
Este estudo teve como objetivo verificar o índice de quedas em idosos residentes de duas Instituições Geriátricas de Médio Porte do Município de Santo Ângelo – RS, sendo uma de caráter Privada e outra Pública, fazendo uma comparação do número de quedas nas Instituições, bem como analisar o contexto em que ocorreram estas quedas, como causas, conseqüências, turnos, faixa etária dos idosos que sofreram as quedas, etc. A população deste estudo foi de 51 idosos e a amostra compreendeu 16 deles. O levantamento de dados foi feito através de análise retrospectiva de evoluções diárias realizadas por enfermeiras. O índice de quedas encontrado na Instituição Privada foi de 4,3%, enquanto na Pública foi de 8,0%. Verificou-se que a faixa etária predominante nos idosos que sofrem quedas está entre os 76 e 90 anos, sendo que estas são causadas principalmente pela perda do equilíbrio (29%) e fraqueza (22%) e ocorrem na maioria das vezes no quarto (37%).
PALAVRAS-CHAVE: Quedas, Idosos, Institucionalizados.
ABSTRACT
This survey aims to verify the number of aged people’s fall who live in two nursing homes in Santo Ângelo – RS, one of these nursing home is public, which belongs to the town council, and another is private. It also aims to compare and contrast them as well as analyze the context which happened the falls, their causes and consequences, the turns when they happened, age of the people who were victim of it, etc. Fifty-one people were analyzed and, the sample consists of sixteen of them. The survey was accomplished by nurses through daily retrospective analysis of evolution. The amount of fall found in the private nursing house was 4, 3% while in the public was 8%. It was verified that the predominant age of the people who are the victims of fall is between 76 and 90 years old. In most of the cases they are caused mainly for lost of balance (29%), weakness (22%) and they usually happened in the bedrooms (37%).
KEYWORDS: Falls, Aged, Institutionalize.
INTRODUÇÃO
Desde o final do século XIX a população de idosos vem aumentando de forma surpreendente, devido ao aumento na expectativa de vida conseqüente aos avanços médicos e científicos e a melhora dos hábitos de saúde, dentre outros fatores que contribuem para isso.
No processo de envelhecimento há uma deterioração da saúde geral, devido a alterações fisiológicas que ocorrem simultaneamente em diversos sistemas do corpo, com isso, o indivíduo muitas vezes vai perdendo sua independência e sua qualidade de vida, porém, é importante que, se as pessoas hoje têm uma vida mais longa, elas tenham condições de viver seus últimos anos com qualidade, realizando atividades da vida diária independentemente e com segurança. Por isto, é necessário identificar as deficiências e riscos a que os idosos estão expostos, já que é uma população que só tende a aumentar e carece de cuidados de saúde constantemente.
Entre os eventos a que o idoso se torna suscetível, com o declínio funcional que ocorre no envelhecimento, estão as quedas, que geram efeitos de âmbito social e econômico, além das conseqüências da incapacidade causada por ela.
Sendo assim, a queda hoje representa um dos principais problemas de saúde na terceira idade, o que leva a necessidade de maior mobilização em torno do assunto, através de estudos e políticas públicas para conscientização da população em geral, principalmente dos idosos e seus cuidadores no que diz respeito à prevenção e fatores de risco para as quedas.
Este trabalho tem como objetivo principal verificar qual o índice de quedas em idosos residentes de duas Instituições Geriátricas do município de Santo Ângelo-RS, além de descrever o papel da fisioterapia na prevenção destas quedas e fazer um estudo do contexto em que ela ocorre.
1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 O ENVELHECIMENTO
De acordo com Driusso e Oishi (2007), o envelhecimento é marcado pelo declínio das funções dos diversos órgãos, que caracteristicamente, tende a ser linear em razão do tempo, não se conseguindo definir um ponto exato de transição. Como consta no Estatuto do Idoso, publicado em 2003, é considerado idoso no Brasil o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos, corte etário também utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os países em desenvolvimento e, como neste trabalho, pela maioria da literatura Geriátrica e Gerontológica.
É possível considerar o envelhecimento como um processo natural do ser humano através das palavras citadas pelo biólogo Alex Comfort em 1979, que diz que os idosos são, na verdade, jovens que ocupam corpos envelhecidos e enfrentam problemas físicos causados pela perda da vitalidade, pelas alterações fisiológicas e, apesar de muitos fugirem a regra, observam-se deficiências específicas e debilitadoras, como a perda da visão e da agilidade motora.
No entanto, sabe-se que grande parte das alterações fisiológicas e funcionais observadas nos idosos são mais resultantes da inexistência de estímulos do que de alterações atribuídas ao envelhecimento (BARRY & EATHORNE, 1994).
1.2 A POPULAÇÃO IDOSA NO BRASIL E NO MUNDO
É consenso de toda a literatura e comunidade científica o aumento da população de idosos no Brasil, seguido pela tendência mundial que se iniciou a quase cem anos nos países desenvolvidos, sendo hoje uma realidade na maioria dos países em desenvolvimento.
Como afirma Silva (2005), ao passo que em países desenvolvidos como os da Europa e América do Norte o processo de envelhecimento populacional ocorreu lentamente, no Brasil é marcado por uma rápida velocidade de expansão, desde o seu início na década de sessenta. A autora dá como exemplo também o processo de envelhecimento vivenciado na França, onde foram necessários 120 anos para que o número de idosos passasse de 7% para 14% do total da população do país, velocidade lenta se comparada ao Brasil, que experimentará um aumento equivalente em um período de apenas 20 anos.
A longevidade, conforme Ribeiro (2006) é uma conquista da humanidade, que vem acompanhada de muitos desafios na tarefa de proporcionar aos indivíduos que ingressam na fase do envelhecimento, um ambiente propício às suas necessidades. Desse modo, a investigação dos fatores que permitem uma boa qualidade de vida na velhice, bem como das variações que esse estado comporta, reveste-se de grande importância científica e social (NERI, 1993).
1.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO
Quando se fala em instituições para idosos, o termo que logo nos ocorre é asilo, com as imagens correspondentes de um lugar sombrio, malcheiroso, onde idosos, em estado de semitorpor, esperam, não se sabe bem o quê (BORN, 2005, p.403).
A família e os amigos são a primeira fonte de cuidados do idoso, no entanto, Caldas (2003) destaca que, embora o cuidado familiar seja um aspecto importante, ele não se aplica a todos os idosos, pois existem idosos que não tem família, outros cujas famílias são muito pobres ou seus familiares, em função da renda mensal, não podem deixar o mercado de trabalho para cuidá-los.
De acordo com Cozoli e Radomile (2006), quando o idoso sai de sua casa para morar em uma instituição ou casa de repouso passa por um momento difícil, pois tem de deixar seus pertences e sua família e ainda se adaptar à uma nova realidade, com pessoas e hábitos diferentes, gerando uma perda da sua história e sua identidade. Alguns idosos, por vontade própria, tornam-se solitários, o que acaba os predispondo ao isolamento, à depressão e aumentando, conseqüentemente, o declínio funcional.
Conforme Farias et al. (2005), o ambiente institucional deve ser apropriado para atender às principais limitações funcionais do idoso, garantindo que ele tenha conforto, segurança e independência para a realização de suas atividades diárias, além de evitar e prevenir problemas que podem surgir com o passar dos dias, como as quedas, que geram imobilizações, fraturas, medo, dependência e uma série de conseqüências limitantes para a vida do asilado.
1.4 QUEDAS EM IDOSOS
Vários fatores podem influenciar na forma como será o envelhecimento e a queda é um fator importante, pois está relacionada a questões de independência e autonomia, essenciais para uma boa qualidade de vida.
Perracini (2005) conceitua a queda como um evento freqüente e limitante, sendo considerado um marcador de fragilidade, institucionalização e declínio na saúde de idosos, levando até mesmo à morte. De forma mais abrangente Rebelatto e Morelli (2007, p.168) definem a queda como “ocorrência de um evento não intencional que leva uma pessoa, inadvertidamente, ao chão em um mesmo nível ou em outro inferior. É um evento freqüente e temido pelos idosos, constituindo grave problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento, cujo contingente de idosos cresce de forma exponencial.”
Alguns autores sugerem relação entre a institucionalização e quedas. Soares et al. (2003) pensam que, mesmo que o idoso institucionalizado não esteja fragilizado por algum distúrbio orgânico, muitas vezes o isolamento, o abandono e o grau de inatividade física contribuem para a propensão à quedas, por acelerar o curso do envelhecimento.
A queda é um evento complexo, que pode envolver múltiplos sistemas orgânicos e ocorrer como conseqüência a diversas doenças. Como afirmam Rebelatto e Morelli (2007), isso leva a necessidade da realização de avaliações que possam evidenciar o risco da ocorrência de quedas e os aspectos que provavelmente as determinaram para serem possíveis medidas assistenciais e, principalmente, preventivas.
A avaliação deve ser realizada de forma abrangente e com o empenho de uma equipe multidisciplinar, da qual o fisioterapeuta é parte integrante, obtendo informações sobre os comprometimentos no sistema de controle postural e sobre o desempenho funcional que contribui para a instabilidade (CHANDLER, 2002).
1.4.1 Fatores de risco para a ocorrência de quedas
Geralmente, é necessária uma combinação de vários fatores de risco para que ocorra a queda. Estes podem ser classificados em riscos intrínsecos e extrínsecos. Ramos e Neto (2005), explicam que os fatores de risco intrínsecos são aqueles ligados às características do indivíduo, já os extrínsecos têm relação com o meio ambiente.
Segundo Chandler (2002), os fatores intrínsecos mais prováveis de levar à uma queda consistem em problemas visuais, anormalidades vestibulares, redução na propriocepção, degeneração cervical, neuropatia periférica, demência, transtornos musculoesqueléticos, alterações no pé, hipotensão ortostática e medicamentos. Já os fatores ambientais são a iluminação, os pisos e as soleiras, as escadas, a arrumação da cozinha, as adaptações no banheiro, as portas, as desordens e os calçados.
A marcha é a primeira questão, e talvez a mais significativa no que diz respeito aos fatores de risco para a queda e para a institucionalização. Reichel (2001) cita que até 40% das admissões em casas geriátricas têm as quedas ou instabilidade da marcha como um fator colaborador para a entrada.
As quedas recorrentes em idosos podem contribuir para o declínio funcional, caracterizado por limitação da atividade física diária, medo de sofrer novas quedas e perda de mobilidade e da independência para realização das tarefas habituais e básicas da vida diária (REBELATTO & MORELLI, 2007). Sendo assim, uma segunda queda pode ser considerada um fator de risco para novas quedas, transformando-se em um ciclo que fragiliza cada vez mais o idoso.
Perracini e Ramos (2002) acreditam que um número maior de quedas no sexo feminino possa atribuir-se ao fato de que as mulheres apresentam maior fragilidade que os homens, já que têm menor quantidade de massa magra e menos força muscular.
Alguns medicamentos, por vezes, tornam-se também perigosos para os idosos. Geralmente eles são utilizados para tratar e reduzir a morbidade associada a diversas doenças. Entretanto, o uso excessivo e inadequado destes medicamentos predispõe o idoso aos riscos de seus efeitos aditivos (NÓBREGA & KARNIKOWSKI, 2005).
Guimarães e Cunha (2004) dizem que o uso de medicações está associado à ocorrência de quedas tanto de forma quantitativa como qualitativa. Quantitativa porque a incidência aumenta quase proporcionalmente ao número de fármacos em uso, principalmente quando superior a quatro. Já a forma qualitativa se deve ao fato de que alguns medicamentos têm atuação destacada como fator de risco, como as drogas psicotrópicas, sendo os antidepressivos tricíclicos e os antipsicóticos as drogas de maior risco, pois aumentam em duas vezes a chance de fratura.
O risco de quedas pode ser calculado pela soma dos fatores causadores citados anteriormente, ou ainda, o idoso pode ter um alto risco de sofrer queda apresentando apenas um fator de risco, mas em grau elevado de comprometimento (ISHIZUKA, 2003).
1.4.2 Atuação da Fisioterapia na prevenção de quedas
Os idosos, mesmo os livres de doenças, podem apresentar impedimentos importantes na sua funcionalidade decorrentes de déficits de ajustes posturais, acarretando aumento na incidência de quedas, com isso, torna-se importante destacar a necessidade de tratamento fisioterapêutico preventivo em relação a quedas e suas conseqüências (REBELATTO & MORELLI, 2007).
Fréz (2003) afirma que a fisioterapia pode contribuir de diversas formas na prevenção das quedas, como por meio de exercícios físicos, aumento da mobilidade, fortalecimento muscular, melhora do equilíbrio, treino de marcha, melhora da aferência sensorial e facilidade em transferências, que levam a um aumento da estabilidade e permitem uma maior independência, em conseqüência da recuperação da confiança em suas atividades. Porém, é necessário que estas atividades sejam realizadas de forma contínua, pois seus efeitos são observados apenas durante o período em que são mantidas.
Na prevenção das quedas o Fisioterapeuta deve, também, estar atento aos fatores extrínsecos que podem causá-las, intervindo no ambiente domiciliar ou institucional do idoso, caso seja necessário.
Segundo Perracini (2005), o passo fundamental para a prevenção das quedas é o reconhecimento e a correção dos fatores de risco envolvidos na sua ocorrência. Também é preciso estar claro que muitas vezes a queda trará conseqüências irreparáveis à vida do idoso, como a dependência nas atividades diárias além do sofrimento causado pela dor, e por isso se faz necessária uma forma de prevenção que traga confiança e segurança (ZIMERMANN, 2007).
2 METODOLOGIA
O presente estudo é caracterizado como transversal e retrospectivo, de natureza quali-quantitativa.
O levantamento de dados foi feito através de análise retrospectiva de evoluções diárias realizadas por enfermeiras, que contém informações sobre a saúde e o dia-a-dia de idosos residentes de duas Instituições Geriátricas do município de Santo Ângelo – RS. Foram analisadas as evoluções referentes ao período de julho de 2007 a julho de 2008, compreendendo assim 12 meses. A coleta dos dados foi iniciada somente depois de concedida autorização dos diretores das Instituições, no mês de agosto do ano de 2008, onde ficou claro que, por questões éticas, seria guardado sigilo sobre o nome das Instituições, bem como dos idosos participantes da pesquisa.
A população deste estudo é composta por 51 idosos residentes de duas Instituições, sendo uma de caráter Privada e outra Pública. A amostra constituiu-se daqueles com idade igual ou superior a 60 anos que apresentaram no mínimo uma queda no período de um ano, compreendendo 16 idosos.
Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, considerando o nível de significância de 5% (p < 0,05), utilizando o pacote estatístico SAS – versão 8.0 (SAS, 1999). Foi realizado o estudo de correlação entre as variáveis dependentes por intermédio do cálculo do Coeficiente de Correlação de Pearson (r).
Ambas as Instituições são consideradas hoje, de acordo com o número de idosos residentes, como Casas Geriátricas de Médio Porte, conforme classificação do Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN-RS) de 2000, que define assim aquelas Instituições em que o número de idosos residentes está entre 21 e 40 residentes. A Instituição Pública pesquisada abrigou durante o período de julho de 2007 a julho de 2008, 24 residentes. Já a Instituição Privada passou de 11 idosos abrigados em julho de 2007 para 27 em julho de 2008.
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Ao analisar o número de quedas em uma Instituição Geriátrica Privada e em outra Pública, verificou-se, a partir da Figura 1, que o percentual médio anual de quedas na Instituição Pública é de 8,0%; já na Instituição Privada é de 4,3%.
Orondino (2007) encontrou um índice de quedas de 55% em uma Instituição Geriátrica de Muriaé-MG, onde participaram da pesquisa 37 idosos de ambos os sexos, com idade variando entre 60 e 90 anos de idade.
Gonçalves et al. (2008) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a prevalência de quedas em idosos asilados e com mais de 60 anos no município de Rio Grande-RS no último ano e encontraram um resultado também superior a este, sendo que 38,3% dos 180 idosos participantes da pesquisa haviam sofrido quedas. No entanto o estudo foi realizado com base nos relatos dos próprios idosos, diferente deste estudo, que se baseou na análise de documentos.
Conforme a Figura 2, os resultados encontrados indicam que há uma quantidade maior de quedas em idosos residentes na Instituição Pública, tanto na idade dos 60 aos 75 anos, como dos 76 aos 90 anos, ocorrendo uma redução nas quedas após esta idade. Já na Instituição Privada há um aumento do número de quedas diretamente proporcional ao aumento de idade. Isso se comprova pelo cálculo do Coeficiente de Correlação de Pearson (r), que determina uma relação de causa e efeito, entre idade e número de quedas, pois nesta Instituição essa correlação foi perfeita e positiva (r=1). Todavia, analisando a correlação existente entre as faixas etárias e o número de quedas da Instituição Pública, constatou-se uma fraca correlação negativa (r= -0,38) entre as variáveis.
Figura 2: Faixa etária dos idosos que sofreram queda(s) no período de um ano
É comum encontrar na literatura autores que citam a idade como um fator de risco para as quedas, sendo esta diretamente proporcional ao risco, por estar ligada a fatores intrínsecos de exposição.
Através da Figura 3, que demonstra a percentagem de cada causa de queda encontrada nas evoluções, é possível constatar que a perda do equilíbrio é o fator causal mais importante, correspondendo a 29% das quedas.
Em seguida está a fraqueza, também entre os principais fatores causais para as quedas, sendo responsável por 22% do total. A fraqueza foi mencionada nas evoluções algumas vezes somente como “fraqueza” e outras como “fraqueza de membros inferiores”, sendo que nos resultados finais, ambas foram consideradas o mesmo fator causal, a fraqueza.
Outro fator igualmente importante e encontrado nas evoluções é a tontura, ou vertigem, que foram consideradas a mesma coisa, causando 19% das quedas.
As demais causas encontradas foram a dor, o escorrego e o tropeço, sendo que cada uma foi causa de 6% do total. A sonolência foi causa de 3% das quedas ocorridas e o restante, que corresponde a 9% das quedas analisadas não constou suas causas nas evoluções.
Segundo Maciel e Guerra (2005), as alterações do equilíbrio na população idosa são problemas relativamente comuns e levam a importantes limitações na realização das atividades da vida diária, além de constituírem a principal causa de queda nesses indivíduos.
Para Ham (2001) a vertigem é uma das queixas mais comuns na medicina geriátrica, isto porque ela é conseqüência de diversas doenças que acometem os idosos. São necessárias algumas medidas preventivas para que não ocorram acidentes no momento em que o idoso tiver alguma vertigem, como a utilização de auxílio para estabilizar e equilibrar a marcha e modificações ambientais (luminosidade, barras de apoio).
A maioria das quedas (37%) ocorreram no ambiente do quarto, o que está de acordo com a literatura nacional e internacional. Muitas destas quedas ocorrem logo após o idoso assumir a posição ortostática, quando levanta-se da cama.
O segundo ambiente mais propício foi a sala, com 25% das quedas. Geralmente este é o ambiente onde os idosos fazem as refeições e assistem à televisão, entre outras atividades, nas instituições. Na calçada, ocorreram 16% das quedas, provavelmente isso se deve ao fato de que muitas vezes estas apresentam degraus e desníveis e fazem com que os idosos tropecem ou percam o equilíbrio. Ainda destaca-se, com 13% as quedas no corredor, onde geralmente os idosos transitam quando vão de um ambiente a outro. Entre os fatores que podem ter relação com as quedas neste ambiente está o piso escorregadio, falta de barras de apoio fixadas na parede, ou ainda iluminação inadequada para os idosos, já que estes necessitam de iluminação especial devido à lenta adaptação à luz e ao escuro e a baixa tolerância à claridade (Vernon, 2005). Em 6% das quedas descritas nas evoluções não constava o local onde ocorreram.
Ribeiro et al. (2008) sugerem que na maioria das vezes os idosos caem nos cômodos mais utilizados, sendo que este, para os idosos institucionalizados, é geralmente o quarto, onde eles ficam isolados dos demais e fazem isso por opção própria, pela dificuldade de socialização.
A Figura 4, que exibe a quantidade de quedas ocorridas no período de um ano distribuídas nos turnos em que ocorreram, apresenta um índice maior no turno da tarde, em que ocorreram 50% das quedas, ou seja, 16. Durante a noite ocorreram 9 quedas (28%) e no turno da manhã, apenas 7 quedas (22%). Pela análise de variância e Teste Tukey (5% de significância), a diferença entre as médias do número de quedas e o turno em que estas acontecerem não foi significativa.
Figura 4: Turnos do dia em que ocorreram as quedas
Segundo Campbell (1996) a maior parte das quedas ocorre em horas de atividade máxima do dia e 20% ocorrem à noite. Este achado está de acordo com os resultados encontrados no presente estudo, já que, para a maioria dos idosos a atividade máxima é no turno da tarde, que foi predominante em relação à manhã e noite. No entanto a maioria dos autores discorda, afirmando que a maioria das quedas ocorre durante a noite, quando os idosos levantam-se para ir ao banheiro ou beber água (CARVALHO & COUTINHO, 2002).
Santos e Andrade (2005) encontraram resultados diferentes em seu estudo, onde o turno de maior freqüência foi a manhã, com 45% das quedas, seguido do turno da tarde com 32,3% e noite com 22,7%.
Conforme a Figura 5, grande parte das quedas ocorreram quando os idosos estavam apenas caminhando (51%), muitas vezes deslocando-se de um ambiente a outro. Esta constatação não foi surpresa, pois é do conhecimento de todos que a maioria das quedas, em qualquer idade, ocorre durante a deambulação.
Também não foi surpreendente saber que 31% das quedas tenham ocorrido após o ato de levantar-se da cama, pois como citado anteriormente, isto acontece porque muitos idosos têm hipotensão ortostática e assim que assumem a postura em pé vão ao chão. Além disso, alguns idosos passam muito tempo na cama, o que contribui para que tenham vertigens ao levantar-se. Outras atividades realizadas pelos idosos antes da ocorrência da queda foram tomar banho (3%); ao levantar-se da mesa após refeição (6%); ao tentar sentar-se na cama (3%) e as demais quedas (6%) não foram definidas, pois não constavam nas evoluções.
Guimarães e Cunha (2004) apontam que as quedas em hospitais ou em instituições geriátricas ocorrem quando a equipe não está por perto e os pacientes encontram-se, pelo menos momentaneamente, ativos. Dizem ainda que a maioria das quedas ocorre quando o paciente está subindo ou descendo do leito.
A partir da Figura 6, pode-se observar que não houveram conseqüências físicas em 28% das quedas estudadas, porém não se excluem as conseqüências psíquicas e sociais, as quais não foram analisadas neste estudo, mas sabe-se, igualmente importantes na saúde do idoso. Em relação a isso, pode-se usar como um exemplo o medo que o idoso sente de cair novamente e machucar-se, gerando uma restrição nas suas atividades que deve ser considerada uma das suas conseqüências crônicas (REICHEL, 2001).
As escoriações destacaram-se como uma das conseqüências mais comuns após o evento da queda, tendo ocorrido em 22% das mesmas. Corte e fratura obtiveram índices de 16%, cada. Dor e escoriações ocorreram em 9% das quedas, contudo, pode-se subentender que em todas as quedas em que não constava “dor” como conseqüência, ela estava presente, mesmo sem o devido registro. Corte e escoriações, dor e deslocamento de placa do fêmur, corresponderam cada uma, a 3% das conseqüências das quedas avaliadas.
Santos e Andrade (2005) encontraram as escoriações em primeiro lugar como conseqüência de queda, com um percentual de 19,7 % em seu estudo, porém a maior parte dos idosos (59,4%) não teve conseqüências físicas. Em 7% das quedas ocorreram algum tipo de corte e em 5,7% delas os idosos sofreram fratura.
Em pesquisa realizada por Fabrício et al. (2004), que teve como objetivo investigar a história da queda, relatada por 50 idosos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 60 anos residentes de Ribeirão Preto, SP, e que haviam sido atendidos em duas unidades de um hospital público, foi constatado que as principais conseqüências das quedas foram também as fraturas, representando 64% do total.
Segundo Guimarães e Cunha (2004), quando o ato de cair não resulta em trauma maior ou perda da consciência, tende a ser um acontecimento sub-relatado. Portanto, levando-se em conta que na maioria das vezes os idosos procuram atendimento médico somente quando há conseqüências graves, é normal que um estudo realizado em Instituições Geriátricas, como este, não encontre uma percentagem tão alta de fraturas e tenha resultados menos graves, como as escoriações.
CONCLUSÃO
Após apresentação dos resultados obtidos através da coleta de dados pôde-se concluir que o índice de quedas nos idosos residentes das Instituições estudadas foi inferior ao citado pela maioria dos autores, assim como alguns outros resultados também diferem dos demais estudos. No entanto, não foram encontrados estudos que utilizaram o método de pesquisa utilizado neste. A aplicação de testes e questionários foi relatada em diversos estudos, podendo ser este um fator de influência nos resultados.
Ao comparar o índice de quedas encontrado nas duas Instituições estudadas, verifica-se que há uma maior percentagem na Instituição Pública, onde o índice foi de 8,0%, enquanto que na Instituição Privada foi de 4,3%.
Em relação à faixa etária dos idosos que sofreram quedas na Instituição Privada, foi constatado que nesta há um aumento do número de quedas diretamente proporcional ao aumento da idade. Já na Instituição Pública a maior parte das quedas ocorreu em idosos com idades entre 60 e 90 anos, havendo uma redução após esta idade.
A principal causa de quedas encontrada nas evoluções analisadas foi a perda do equilíbrio, correspondendo a 29% das mesmas. Em segundo lugar, está a fraqueza, com um número também expressivo sendo a causa de 22% das quedas. A tontura, ou vertigem, foi encontrada em 19% delas e as demais causas foram: tropeço, escorrego, dor e sonolência e no restante de 9% das quedas não estava descrita a causa nas evoluções.
Quanto aos locais onde ocorreram as quedas, foi encontrado um percentual de 37% no quarto, 25% na sala, 16% na calçada, 13% no corredor, 3% no banheiro e em 6% das quedas não houve a descrição do local nas evoluções. Outros estudos também indicaram uma maior percentagem de quedas no quarto, por ser o local onde os idosos, principalmente os institucionalizados, passam a maior parte do tempo, além de outros fatores como hipotensão ortostática e vertigem ao levantar-se da cama.
O turno da tarde, no qual ocorreram 50% das quedas, foi predominante em relação ao turno da manhã (22%) e da noite (28%). No entanto, pelo teste de Tukey (5% de significância) a diferença entre as médias do número de quedas e o turno em que estas aconteceram não foi significativa.
A maior parte das quedas ocorreu quando os idosos estavam caminhando (51%) e após o ato de levantar-se da cama (31%). Já como conseqüências físicas das quedas predominaram as escoriações, em 22% delas, fratura em 16% e corte também em 16%. Houve uma percentagem de 28% de quedas que não tiveram conseqüências.
Ao término deste estudo tem-se uma visão do que constitui, para o idoso, sofrer uma queda. Após a primeira queda ele torna-se ou é limitado pelos seus cuidadores à prática de atividades da vida diária, aumentando o declínio funcional e o predispondo à novas quedas, formando assim um ciclo vicioso que faz com que ele perca a sua qualidade de vida.
É necessário que as formas de prevenção para as quedas sejam colocadas em prática pela população, instituições e profissionais da saúde que prestam atendimento ao idoso, com o objetivo tanto de evitar a primeira queda como também a sua recorrência e neste contexto o fisioterapeuta tem um papel fundamental.
Apesar de atualmente haver muitos estudos a respeito das quedas e os fatores nela envolvidos, existe ainda uma lacuna na questão desta ocorrência em idosos residentes de Instituições. Procurou-se iniciar uma discussão para que seja possível assumir proporções maiores em futuros estudos a respeito do tema, com mais Instituições analisadas e uma população maior de idosos.
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