REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411101820
Camila Bezerra Nobre¹, Mariana Almeida Pareira2, Marcus Vinicius Pereira de Meneses3, Mirelle Tuanny Arrais Mendonça4, Melissa Maria Menezes Moura de Siqueira5, Sofia Feitosa Nogueira Sobreira6, Deividiane Bezerra dos Santos7
RESUMO
O câncer de tireoide é a neoplasia maligna endócrina mais comum, sendo duas vezes mais prevalente em mulheres, embora os homens apresentem um prognóstico mais desfavorável. No Brasil, o câncer de tireoide é um dos principais cânceres entre as mulheres, ocupando a 5ª posição com 5,4% do total. Para cada ano do triênio 2020-2022 são estimados 11.950 novos casos de câncer de tireoide no país em mulheres, representando um risco estimado de 11,15/100 mil habitantes. Os sinais e sintomas incluem nódulo no pescoço, inchaço, dor, rouquidão, dificuldade para engolir, problemas respiratórios e tosse. Estudos atribuem o crescimento na incidência desse carcinoma tireoidiano ao aumento da ingestão de iodo na dieta, assim como a fatores genéticos, devido a 20% dos casos estarem relacionados com o gene autossômico dominante. O trabalho tem como objetivo identificar a incidência e a taxa de mortalidade por câncer de tireoide no Brasil entre os anos de 2012 a 2022. Além de verificar a taxa de mortalidade referente ao sexo e faixa etária e identificar a região do país com maior taxa de mortalidade. Trata-se de um estudo epidemiológico, quantitativo e descritivo. A pesquisa foi executada por meio da coleta de dados referentes ao Brasil, nas bases de dados INCA, SIM e do DATASUS. Ao longo de todo o período investigado, observamos um total de 8.679 óbitos por câncer de tireoide, sendo 2.948 em homens, equivalente a 33,97%, e 5.731 em mulheres, com um percentual de 66,03%.Comparando a ocorrência dos óbitos pelo câncer de tireoide entre homens e mulheres, observa-se que a taxa de mortalidade entre as mulheres é aproximadamente três vezes maior do que a população masculina, durante todo o período analisado. Os resultados encontrados reforçam que a mortalidade por câncer de tireoide está com alto índice na última década, acometendo mais as mulheres do que os homens. Esses resultados sugerem que mais investimentos são necessários com o intuito de minimizar, e, se possível, reverter o quadro.
Palavras-Chave: Câncer de tireoide. Fatores de risco. Epidemiologia. Mortalidade.
ABSTRACT
Thyroid cancer is the most common endocrine malignancy, being twice as prevalent in women, although men have a poorer prognosis. In Brazil, thyroid cancer is one of the main cancers among women, occupying the 5th position with 5.4% of the total. For each year of the 2020-2022 triennium, 11,950 new cases of thyroid cancer are estimated in the country in women, representing an estimated risk of 11.15/100,000 inhabitants. Signs and symptoms include a lump in the neck, swelling, pain, hoarseness, difficulty swallowing, respiratory problems and cough. Studies attribute the increase in the incidence of this thyroid carcinoma to the increase in iodine intake in the diet, as well as to genetic factors, since 20% of cases are related to the autosomal dominant gene. This study aims to identify the incidence and mortality rate of thyroid cancer in Brazil between 2012 and 2022. It also aims to verify the mortality rate by sex and age group and identify the region of the country with the highest mortality rate. This is an epidemiological, quantitative, and descriptive study. The research was carried out by collecting data related to Brazil from the INCA, SIM, and DATASUS databases. Throughout the period investigated, we observed a total of 8,679 deaths from thyroid cancer, of which 2,948 were in men, equivalent to 33.97%, and 5,731 were in women, with a percentage of 66.03%. Comparing the occurrence of deaths from thyroid cancer between men and women, it is observed that the mortality rate among women is approximately three times higher than that of the male population, throughout the period analyzed. The results found reinforce that mortality from thyroid cancer has been high in the last decade, affecting women more women than men. These results suggest that more investment is needed to minimize and, if possible, reverse the situation.
Keywords: Thyroidcancer. Risk factors. Epidemiology. Mortality.
1. INTRODUÇÃO
O câncer implica uma proliferação celular desordenada resultando de inúmeras mutações no DNA celular, o que pode desencadear a invasão de tecidos adjacentes e a formação de metástases. Nos últimos anos, o câncer tem ganhado destaque como um problema de saúde global, com 9.9 milhões de mortes relacionadas a neoplasias em 2022 (BRAY, 2023).
O câncer de tireoide é a neoplasia maligna endócrina mais comum, sendo duas vezes mais prevalente em mulheres, embora os homens apresentem um prognóstico mais desfavorável. Os tumores são classificados com base em suas características histológicas, sendo o câncer papilífero (CPT) e o câncer folicular (CFT) os mais comuns e curáveis, enquanto o câncer anaplásico (CAT) é mais agressivo e tem uma resposta pobre ao tratamento (RIBEIRO et al., 2021).
Nos Estados Unidos, a incidência do câncer de tireoide aumentou de 4,9 para 14,3 casos por 100.000 indivíduos nos últimos 30 anos, com 65.000 diagnósticos apenas em 2015. Segundo projeção norte-americana, o câncer de tireoide ocupará a quarta posição entre as neoplasias mais frequentes em 2030, e possivelmente esse padrão também será verificado em outros países (VECCHIA et al., 2017).
No Brasil, o câncer de tireoide é um dos principais cânceres entre as mulheres, ocupando a 5ª posição com 5,4% do total. Para cada ano do triênio 2020-2022 são estimados 11.950 novos casos de câncer de tireoide no país em mulheres, representando um risco estimado de 11,15/100 mil habitantes (SANTOS et al., 2020).
Os sinais e sintomas incluem nódulo no pescoço, inchaço, dor, rouquidão, dificuldade para engolir, problemas respiratórios e tosse. O exame clínico geralmente revela a doença em estágios avançados, tornando o diagnóstico precoce desafiador. A ultrassonografia e a punção por agulha fina (PAAF) são utilizadas para diagnosticar nódulos, sendo essencial estar atento aos fatores de risco e sintomas (MENDES et al., 2022).
No que diz respeito aos fatores de risco, estão potencialmente associados à ocorrência dessa neoplasia o histórico familiar, exposições a agentes mutagênicos, como radiação, agentes químicos ou biológicos, estilo de vida, incluindo dieta e atividade física, obesidade, alcoolismo, tabagismo, diabetes mellitus, resistência à insulina e estresse (BRITO et al., 2016). Além disso, segundo o INCA (2015), estudos atribuem o crescimento na incidência desse carcinoma tireoidiano ao aumento da ingestão de iodo na dieta, assim como a fatores genéticos, devido a 20% dos casos estarem relacionados com o gene autossômico dominante. Sendo assim essa pesquisa tem com objetivo identificar a incidência e a taxa de mortalidade por câncer de tireoide no Brasil entre os anos de 2012 a 2022. Além de verificar a taxa de mortalidade referente ao sexo e faixa etária e identificar a região do país com maior taxa de mortalidade.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo epidemiológico, quantitativo e descritivo. A pesquisa foi executada por meio da coleta de dados referentes ao Brasil, nas bases de dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Além desses dados, foram buscados suporte de pesquisas nas bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online(MEDLINE) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a partir dos seguintes DeCS: “câncer de tireoide”, “fatores de risco”, “epidemiologia” e “mortalidade”, buscando ampliar e melhorar o acervo para realização dos resultados e discussão do presente trabalho.
Os dados foram armazenados em planilhas do Excel e do Google docs. Para análise foram utilizados os cálculos das taxas de incidência e mortalidade por câncer de tireoide, ocorridos no Brasil, no período compreendido entre os anos de 2012 e 2022.
Esse estudo utilizou dados de domínio público, portanto, considerando a Resolução do Ministério da Saúde – Conselho Nacional de Saúde N° 466, de 12 de dezembro de 2012 (CNS 466/12), não há necessidade de análise do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo de todo o período investigado, observamos um total de 8.679 óbitos por câncer de tireoide, sendo 2.948 em homens, equivalente a 33,97%, e 5.731 em mulheres, com um percentual de 66,03%. A tabela abaixo apresenta a distribuição desses óbitos de acordo com faixa etária e sexo ao longo do período (Tabela 1).
Tabela 1 – Óbitos por câncer de tireoide de acordo com faixa etária e sexo entre o período de 2012 a 2022
Em relação aos óbitos por regiões do Brasil, foram tabeladas as regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul, levando em consideração o a faixa etária e sexo.
Tabela 2 – Óbitos por câncer de tireoide de acordo com faixa etária e sexo entre o período de 2012 a 2022, na região Centro-Oeste.
Na região Centro-Oeste foi identificado 589 óbitos, equivalente a 6,78% da taxa total do Brasil. Em se tratando do sexo, mulheres apresentaram 374 óbitos, sendo 63,50%, enquanto os homens obtiveram 215 óbitos, equivalente a 36,50%.
Tabela 3 – Óbitos por câncer de tireoide de acordo com faixa etária e sexo entre o período de 2012 a 2022, na região Nordeste.
No Nordeste foi relatado 2.599 óbitos, sendo 29,94% do total de todo território brasileiro. Em se tratando de sexo, o sexo masculino apresentou 813 óbitos (31,29%), enquanto o sexo feminino apresentou 1.786 óbitos (68,71%).
Tabela 4 – Óbitos por câncer de tireoide de acordo com faixa etária e sexo entre o período de 2012 a 2022, na região Norte.
No Norte do país, o número durante esse período foi de 600 óbitos (6,91%), sendo 391 óbitos de mulheres (65,16%) e 209 óbitos de homens (34,84%).
Tabela 5 – Óbitos por câncer de tireoide de acordo com faixa etária e sexo entre o período de 2012 a 2022, na região Sudeste.
No Sudeste, as taxas de óbitos durante esses 10 anos atingiram a primeira colocação em todo o território brasileiro, ficando à frente da região Nordeste (Tabela 3), o número de óbitos atingiu 3.477 (40,08%), sendo esses, 2.251 mulheres (64,72%) e 1.226 homens (35,28%).
Tabela 6 – Óbitos por câncer de tireoide de acordo com faixa etária e sexo entre o período de 2012 a 2022, na região Sul.
Na região Sul foram contabilizados 1.414 óbitos, o equivalente a 16,29%, sendo 929 mulheres (65,70%) e 485 homens (34,30%).
Comparando a ocorrência dos óbitos pelo câncer de tireoide entre homens e mulheres, observa-se que a taxa de mortalidade entre as mulheres é aproximadamente três vezes maior do que a população masculina, durante todo o período analisado.
De acordo com a tabela 1, o crescimento por óbitos de CT, tanto no sexo feminino quanto no masculino, começa na faixa etária dos 20 aos 29 anos, no entanto existe um ápice após os 60 anos, tanto em mulheres como em homens.
Os dados aqui apresentados demonstram que tem ocorrido um aumento significativo na mortalidade por câncer de tireoide no Brasil na última década. Particularmente, esse aumento é maior entre as mulheres, o que corrobora com outros estudos, os quais identificarem que a mortalidade por CT é mais elevada no sexo feminino.
O aumento da mortalidade no sexo feminino é provavelmente um reflexo do padrão de incidência dessa neoplasia, que é consideravelmente maior no sexo feminino do que no masculino, como apresentado por Brito e colaboradores (2016). Além disso, o aumento da incidência de CT em mulheres pode estar associado a fatores de risco como idade, hábitos de vida, obesidade, assim como a influência dos hormônios reprodutivos.
Conforme estudos realizados por Carvalho, Perez e Ward (2020), a exposição à radiação na região da cabeça e pescoço e a história familiar estão associados ao risco de CT. Em relação ao histórico familiar, a ligação é correlacionada pelos autores de forma mais firme, pois os autores afirmam que o câncer de tireoide pode estar associado a uma síndrome genética com forte componente hereditário familiar, chamado Neoplasia Endócrina Múltipla Tipo 2.
O padrão de variação regional observado nessa pesquisa, corrobora com o estudo de Colonna e colaboradores (2019), os autores atribuíram a variabilidade da incidência e mortalidade a possíveis diferenciais nas práticas diagnósticas entre as regiões estudadas. Da mesma forma que nesse estudo, esses autores encontraram maiores variações regionais no grupo das mulheres do que no grupo dos homens. Esse achado pode levantar a hipótese de que a disponibilidade e acesso a recursos diagnósticos possa explicar, ainda que parcialmente, as variações regionais observadas, já que mulheres utilizam mais serviços de saúde do que os homens.
É importante enfatizar que a mudança no cenário de aumento na mortalidade por CT depende intrinsecamente da estruturação de ações voltadas para a realização do diagnóstico precoce e melhoria do acesso ao tratamento dos pacientes que apresentam tal neoplasia.
4 CONCLUSÃO
Os resultados encontrados reforçam que a mortalidade por câncer de tireoide está com alto índice na última década, acometendo mais as mulheres do que os homens. Esses resultados sugerem que mais investimentos são necessários com o intuito de minimizar, e, se possível, reverter o quadro. Essas intervenções devem priorizar as ações de saúde que intensifiquem o acesso ao diagnóstico precoce e tratamento, fatores esses particularmente relevantes para redução da letalidade do câncer de tireoide.
Além disso, outros estudos são necessários para identificar não apenas a progressão do fenômeno ao longo do tempo, mas para investigar os fatores de risco associados a esse crescimento. Faz-se necessário investir em pesquisas para esclarecimento dos mecanismos causais associados à essa neoplasia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Conselho Nacional de Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012.. Brasília, 2012.
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VECCHIA, C.; MALVEZZI, M.; BOSETTI, C. GARAVELLO, W. LEVI, L. Thyroidcancermortalityincidence: A global overview. Int J Cancer. 2017.
1Docente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Orientadora. e-mail: camila.nobre@estacio.br
2Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: maarianaalmeida11@gmail.com
3Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: marcusvinicius6015@outlook.com
4Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: mirrelytuanny@gmail.com
5Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: melissavestibulares@gmail.com
6Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: sofiasobreira07@gmail.com
7Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: deividiane.bezerra@gmail.com