REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6954151
Autora:
Tereza Ramos de Almeida1
Orientadora:
Sara Yamone2
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo central debater de modo conceitual sobre a importância do atendimento humanizado da enfermagem em situações de urgência e emergência. De modo que foi possível concluir que, ainda que seja uma demanda urgente do mercado hospitalar atual, é possível notar ainda uma grande carência nesse tipo de atuação, demandando uma cultura mais arraigada na solidariedade que seja transmitida a todos os profissionais de saúde, desde sua formação. Bem como o fomento de uma capacitação profissional aos enfermeiros, que lhes inspire a atuar sob os parâmetros da humanização em saúde, especialmente nos atendimentos de urgência e emergência, e ampliando seus cuidados para além dos pacientes, mas também para acompanhantes e comunidade.
Palavras-chave: Enfermagem; humanização; urgência; emergência.
1. INTRODUÇÃO
Com os avanços da tecnologia com aplicação na prevenção, diagnóstico e tratamento de enfermidades, precisam estar relacionados à assistência integral prestada ao paciente. Nesta ,ótica o tema que concerne à humanização sobre os serviços de saúde vem sendo cada vez mais discutido entre profissionais da área da saúde, fomentando um pensamento para que tal humanização seja passível de implantação de maneira indissociável no antes, durante e após o atendimento ao paciente. Neste bojo, a humanização trata-se de um movimento que vêm crescendo e se difundindo no cenário hospitalar, permeando-se nos mais diversos sentidos de acordo com a proposta de intervenção eleita. Primeiramente se apresenta como a procura pelo que seria o atendimento ideal, uma vez que com seu surgimento em diferentes frentes de atividades de significados distintos, de acordo com os proponentes, possui uma representação, em síntese das aspirações genéricas por uma perfeição moral de ações e relações entre os seres humanos envolvidos.
Em vista do cenário supra exposto, desenha-se como objetivo central do presente artigo, discutir de maneira conceitual sobre a importância da humanização por parte da enfermagem nos atendimentos de urgência e emergência. A fim de traçar um caminho coerente para o desenvolvimento do tema, elencam-se como objetivos específicos: conceituar as atribuições do enfermeiro; abordar sobre a humanização na saúde; e, debater sobre a atuação humanizada do enfermeiro em situações de urgência e emergência. Sendo assim, a problemática de pesquisa a ser solucionada à finalização desse, paira sobre a questão: qual é a importância da atuação humanizada do enfermeiro perante o atendimento de urgências e emergências?
O presente artigo justifica-se, pois pretende colaborar para o âmbito acadêmico oferecendo através da pesquisa em tela uma visão diferenciada acerca do tema, ampliando o material teórico, que poderá ser utilizado a fim de desenvolver estudos e pesquisas posteriores, estimular o aprofundamento sobre o tema, assuntos relacionados e demais vertentes científicas que possam originar-se a partir do interesse por este. Sobre o método de pesquisa empreendido, a natureza escolhida para a criação deste trabalho é qualitativa, buscando assim, levantar todas as informações teóricas a fim de se chegar à conclusão, utilizando-se de abordagem exploratória através de pesquisa do tipo bibliográfica para colher e avaliar os dados, as pesquisas bibliográficas podem ser através de obras ou artigos científicos. (GIL, 2008).
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Enfermagem: generalidades da profissão
A estrutura da profissão enfermeiro está inserida na prestação de serviços de saúde, setor terciário da economia brasileira. O que diferencia o serviço é a questão que envolve o lidar com o ser humano, sua responsabilidade consiste em atender a sociedade que busca em seus serviços a solução que espera para sanar os problemas relacionados a situações de saúde-doença que são explicitados através de necessidades ou problemas relacionados a seu bem-estar (TANAKA; LEITE, 2008).
Em âmbito nacional, ainda segundo os autores, existe uma ramificação interna na profissão de enfermagem, esta que dá origem empírica ao processo de trabalho que envolve as atividades do profissional, bem como a suas vertentes de trabalho auxiliar, tal como técnico de enfermagem, auxiliar. Neste cenário o enfermeiro fica a cargo de ocupações como a supervisão, administração e ensino, enquanto os auxiliares e técnicos se incumbem das atividades operacionais. O trabalho da enfermagem se forma por meio de atividades relacionadas ao cuidado e administração no espaço de assistência à saúde, com organização com base na divisão parcelar ou pormenor do trabalho. Sendo assim, entende-se que o procedimento que contempla o trabalho do enfermeiro parte da premissa de diversos subprocessos que são destinados a assistir, zelar, administrar ou gerenciar, pesquisar e ensinar (SANNA, 2007).
Quando se parte para o setor da saúde pública, a maior concentração de profissionais de enfermagem encontra-se alocada no Programa Saúde da Família (PSF), instituído em 1994, pelo Ministério da Saúde. A criação do programa possibilitou a formação de equipes multiprofissionais onde o enfermeiro muitas vezes atua como gestor da equipe. O autor ainda explica que, por este motivo, o profissional de enfermagem acaba por assumir responsabilidades de supervisão e tem de conciliá-la com sua própria função de identificar problemas de saúde e enfermidades na comunidade onde atua, a fim de promover a qualidade de vida à população (RODRIGUES, 2008).
O enfermeiro então possui três principais atribuições dentro da atenção básica, sendo estas atividades dividas em: assistência, coordenação e ensino. Quanto à assistência o profissional de enfermagem se atribui de acompanhar e auxiliar no desenvolvimento e crescimento infantil, promovendo programas de pré-natal, ações de prevenção de câncer do colo do útero, controle de hipertensão e risco cardiovascular. Enquanto que as atribuições que cabem à coordenação e ensino consistem em supervisionar, planejar e treinar serviços de enfermagem e toda a equipe que a compõe (MATUMOTO, 2011).
No PSF, uma das grandes atribuições do profissional de enfermagem é no âmbito assistencial, uma vez que suas atividades englobam também as visitas domiciliares e atividades que ofereçam educação em saúde, promovendo especialmente a questão da prevenção, uma vez que ainda há grande resistência por parte da sociedade brasileira em aceitar tais programas, uma vez que sua atenção está mais voltada à questão do curativismo (CAMPOS, 2011). Especialmente em programas e na atuação em sistemas de saúde pública, os enfermeiros possuem escassa tecnologia com a qual atuar, sendo assim, é necessário que seu conhecimento seja suficiente para que suas atividades sejam desenvolvidas sem a utilização destas facilidades. Sobre este aspecto os autores explicam: “[…] quanto de tecnologias que envolvem as relações, as interações e as associações entre os usuários e as famílias, que dizem respeito ao vínculo, ao acolhimento, às relações humanizadas, dentre outros” (BACKES, 2012).
2.2 A importância da humanização na saúde
Ela, enquanto nova proposta de postura na atuação em saúde, é mais do que um ato humanitário, pois implica na implementação da interdisciplinaridade reflexiva sobre os princípios e valores das diretrizes da prática dos profissionais dessa área. Essa perspectiva parte do pressuposto de que ela, enquanto essência do ser humano, respeitando a individualidade e as diferenças profissionais e pessoais, viabiliza a construção de um espaço nas instituições de saúde no qual o aspecto humano dos envolvidos seja legitimado (BACKERS; et al., 2005).
No campo da saúde, humanização apresenta-se como uma proposta de organização social e institucional das práticas na área, que implica na atuação de usuários, gestores e trabalhadores de saúde comprometidos e corresponsáveis, englobando a produção da saúde e de subjetividades autônomas e protagonistas. Politicamente, o compromisso de Humanização baseia-se nos valores de autonomia e protagonismo dos sujeitos, incentivando a corresponsabilidade entre eles, a solidariedade nos vínculos estabelecidos, o respeito aos direitos dos usuários e a participação coletiva no processo de gestão (BRASIL, 2004). A Humanização hospitalar requer, além de uma atitude acolhedora por parte dos profissionais, promover um tratamento digno e solidário, uma postura ética e relacional que permeie as atividades profissionais e ações institucionais (BACKERS; et al., 2005). O conceito de humanização tem ocupado um importante lugar nas discussões a respeito da saúde e, no Brasil, tem servido de diretriz para a elaboração de uma nova prática em saúde que se baseie em um atendimento com maior integralidade, efetividade e acessibilidade (GOULART; CHIARI 2010).
Segundo Mello (2008), as políticas de humanização da saúde surgem frente à observação de que mesmo após a criação e implementação do sistema único de saúde ainda há grandes contradições, sendo o acesso a serviços e bens marcados por desigualdades socioeconômicas, havendo lacunas quanto às necessidades dos usuários, desvalorização dos profissionais da saúde e precarização das relações de trabalho.
Faltando investimento nos processos de educação continuada dos profissionais e pouca participação dos trabalhadores e usuários na gestão dos serviços, cria-se um vínculo frágil entre usuários e instituições de saúde, que contam com modelos centralizadores de gestão. A falta de compromisso e co-responsabilização na produção da saúde, leva ao desrespeito dos direitos dos usuários, assim como há o despreparo dos profissionais para lidar com as questões subjetivas inerentes à atuação em saúde.
De acordo com Wasek (1996) é preciso lançar um olhar de humanização acerca da área da saúde,sendo possível que ocorra uma melhora significativa na qualidade da assistência prestada aos pacientes, havendo necessidade de uma série de modificações estruturais no sentido da gestão, dos processos de trabalho e dos relacionamentos interpessoais existentes no âmbito interno dos princípios de participação, compromisso e também respeito às subjetividades de usuários e profissionais deste setor. No entanto a assistência vai além da prestação de serviços de maneira geral: é preciso desenvolver competência para correta assistência no que diz respeito à atenção, carinho e ao cuidado com o paciente, desde sua entradaaté a saída.
2.3 Atuação humanizada do enfermeiro em urgências e emergências
Fortes (2010) explica que, segundo resolução CFM nº 1.451/95, urgência significa um agravo à saúde ocorrido de maneira imprevista, que envolva ou não o risco potencial de vida, cujo portador demanda de assistência médica imediata. A autora ainda explica que a emergência é então a conclusão médica de que o agravo à saúde em questão, implica em risco iminente à vida do paciente ou em intenso sofrimento do mesmo, demandando então os cuidados de maneira imediata. Fortes (2010) ainda explica que quando um paciente se encontra em estado de agravo à saúde, seu acolhimento imediato deve ocorrer no serviço do SUS mais próximo da ocorrência, podendo ser em Unidade de Saúde da Família, pronto atendimento ou pronto-socorro. Ao passo que, devido à complexidade do tratamento requerido, é preciso que as centrais de regulação identifiquem os recursos disponíveis no território de abrangência a fim de eleger o que melhor possa atender à demanda, redirecionando então o paciente.
“Compete, portanto, ao Poder Público, ordenar o atendimento às urgências e emergências, possibilitando acolhimento, atenção qualificada e resolutiva para pacientes com qualquer nível de gravidade. Os componentes pré-hospitalar fixo e móvel, hospitalar e pós-hospitalar […] fazem parte da estrutura de atenção às urgências” (FORTES, 2010, p. 41).
Sobre o componente pré-hospitalar fixo, a autora explica que abarca o acolhimento de pacientes com quadros agudos em unidades de saúde de baixa complexidade, como atendimentos de atenção primária. Sua estrutura física é formada como um componente da unidade básica de saúde, unidade de saúde da família, ambulatório de especialidades e serviço de apoio diagnóstico, de modo que casos de urgência devem ser atendidos em ambiente organizado e preparado para tal. Fortes (2010) explica o componente pré-hospitalar móvel como estruturado e organizado a fim de prestar atendimentos de saúde aos pacientes que demandam socorro em locais como domicílios, vias públicas, estabelecimentos comerciais, entre outros.
O atendimento pré-hospitalar (APH) pode ser compreendido como a assistência que é realizada fora do âmbito hospitalar, com a utilização de diversos procedimentos e metodologias disponíveis, de modo que pode ser direta, onde o profissional vai até a vítima, ou indireto, como por meio da orientação médica por telefone e, em casos de necessidade, o envio de viatura de suporte básico ou avançado no local da ocorrência (MINAYO, 2008). Marques (2010) por sua vez, explica que o serviço de APH móvel é um meio utilizado amplamente tanto por usuários do sistema público de saúde, quanto por usuário do sistema privado, geralmente por conta de sua facilidade elevada de acesso, em que um telefone permite o acesso a uma equipe treinada que atua antes da ocorrência de agravamento do quadro, o que é capaz de promover maiores chances de sobrevida à vítima, mantendo suas condições estáveis até o tratamento hospitalar efetivo.
Fortes (2010) explica por fim, que o atendimento hospitalar, consiste em unidades de emergência em hospitais ou prontos-socorros que ofertam atendimento imediato e contínuo aos pacientes adultos e pediátricos que se encontrem em estado críticos ou com potencial de tornar-se crítico. A autora delimita o atendimento hospitalar classificando-o por grau de complexidade tipo I, II ou III.
Hospital tipo I – especializados: contam com recursos tecnológicos e humanos adequados para atendimento de urgência de natureza clínica e cirúrgica, nas áreas de pediatria ou traumato-ortopedia ou cardiologia.
Hospital tipo II – hospitais gerais: dispõem de unidade de emergência, recursos tecnológicos e humanos adequados para o atendimento geral de urgência clínica e cirúrgica.
Hospital tipo III – hospital geral: contam com recursos tecnológicos e humanos adequados para atendimento de urgências clínicas, cirúrgicas e traumáticas. Desempenham ações de capacitação, aprimoramento e atualização para todos os profissionais envolvidos no atendimento de urgência, conhecido como hospitais universitários ou de ensino (FORTES, 2010, p. 44).
Andrade et al. (2009) realizam um estudo na percepção dos acompanhantes dos pacientes de atendimentos de emergência e sua observação em relação ao atendimento humanizado por parte dos enfermeiros nessa situação. Os achados dos autores demonstram que são simples comportamentos e posturas por parte do profissional que podem deixar a percepção de que o mesmo não age com humanidade perante tal situação. São aspectos como falta de comunicação, de infraestrutura, alta demanda, falta de comprometimento profissional, são os comportamentos/questões que são motivos de reclamação por parte dos usuários.
Oliveira (2015) por sua vez, encontra que nos serviços de urgência e emergência existe uma sobrecarga de funções sobre os ombros de técnicos e auxiliares de enfermagem, porém, os mesmos são orientados pelo enfermeiro chefe a atuar conforme certos padrões e procedimentos que são inerentes à situação de complexidade, além de variáveis conforme a política de cada instituição de saúde. O fato é que os enfermeiros atuam de maneira a priorizar os casos de maior risco, o que certamente não justifica a falta de humanização no cuidado. Sousa et al. (2015) seguem a mesma linha de abordagem, tratando que o trabalho dos enfermeiros nos atendimentos de urgência e emergência é altamente estressante, o que muitas vezes decorre da falta de espaço físico adequado e capacitado para suprir à demanda e, especialmente de uma insuficiência na formação e qualificação desses profissionais para a atuação nesse cuidado. De modo que os autores sugerem a criação de programas e estratégias de humanização que abarquem não só pacientes, mas também acompanhantes e, sobretudo no sentido de aliviar a tensão em um momento de tamanho estresse.
Moura et al. (2014) explicam que os profissionais atuantes nos serviços de saúde, se esforçam para colocar em prática a política nacional de humanização de modo que nos atendimentos de urgência e emergência, esse papel se torna quase integralmente atrelado à função da enfermagem. A proposta do atendimento humanizado, faz surgir uma classificação de risco que tende a tornar mais eficaz e dinâmico os atendimentos, sobretudo de urgências e emergências. Essa classificação de risco pode proporcionar então uma sistematização na assistência de enfermagem, tornando-a mais eficaz. De forma que o atendimento humanizado, por meio da classificação de risco e a da sistematização da assistência de enfermagem, são diferenciais importantes nos cuidados emergenciais, podendo intervir de maneira positiva nas taxas de morbimortalidade e na satisfação do usuário, a principal meta da humanização na saúde.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha do tema desta pesquisa traz à luz da discussão a grande contradição em se abordar o termo “humanização” enquanto tratamos de relacionamentos interpessoais da mesma espécie. Espécie esta, especificamente humana; carregada de todas as suas fragilidades e necessidades peculiares.
Durante o desenvolvimento deste estudo, foi possível notar que a humanização no atendimento realizado pela enfermagem aos seus clientes transcende as necessidades apontadas como unilateral. Passamos a perceber que a humanização deve permear não somente aos usuários do serviço, mas também aos profissionais que estão prestando o atendimento. Vemos isso claramente quando nos deparamos com profissionais desmotivados e exauridos pela sobrecarga de trabalho, a baixa remuneração, a falta de condições materiais e o ambiente desfavorável para as atividades de rotina. Esses aspectos negativos trazem então a “desumanização” bilateral – cliente e profissional.
Dito isto, o trabalho evidenciou características, necessidades e estratégias para se alcançar um atendimento humanizado e diferenciado, tirando a fragmentação do indivíduo do contexto atual, colocando-o acima de suas necessidades tão somente biológicas.
A humanização salienta preceitos do SUS como a equidade e a integralidade da assistência, assim como a participação social onde o sujeito passa a ter um papel integrativo e participativo da equipe e do processo.
O atendimento humanizado ultrapassa os aspectos físicos da doença e do modelo biomédico tão enraizado, ele busca incorporar a atenção das necessidades psicológicas, sociais e individuais. Sai do atendimento mecanizado e institui uma relação de troca mútua, de comunicação e presença genuína, de sensibilidade e empatia, onde o respeito e a doação norteiam o acolhimento do paciente.
Portanto a humanização se torna um tema complexo, multifacetado e de difícil implantação real quando nos deparamos com as reais condições da saúde brasileira e da sua crescente demanda, que contrasta vertiginosamente com a precariedade das condições e do insuficiente número de profissionais de enfermagem.
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1 Enfermeira, Residente multiprofissional em Urgência e Trauma. Vilhena/RO.
Email: iriamanu@hotmail.com
2 Coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Urgência e Trauma. Vilhena/RO.
Email: sarayam89@gmail.com
* Artigo apresentado como requisito para a conclusão do Programa de Residência, Núcleo de Urgência e Trauma da Faculdade de Educação e Cultura de Vilhena.