IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO ENTRE MERENDEIRAS E ALUNOS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO EM TEMPO INTEGRAL (EEMTI) DO CEARÁ: UM OLHAR SOBRE A ESCOLA EEMTI JOSÉ VALDO RIBEIRO RAMOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507141621


Paulo Roberto Ângelo da Silva1


RESUMO

O presente artigo analisa a importância da afetividade na relação entre merendeiras e alunos da EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos, localizada em Fortaleza, Ceará, no contexto da política de educação em tempo integral. A partir de um questionário aplicado a 138 estudantes, os dados revelaram que a alimentação escolar é percebida pelos alunos como essencial para sua saúde, foco e aprendizagem, sendo também um fator de permanência na escola. Destaca-se que mais de 95% dos alunos respondentes consideram as merendeiras atenciosas e simpáticas, e que 74,4% delas afirmam gostar muito ou demais delas. Assim, a cozinha escolar se mostra não apenas como espaço de nutrição, mas também de acolhimento e construção de vínculos afetivos. O estudo evidencia que o afeto presente na rotina escolar fortalece a cidadania e o processo educacional, sendo um componente fundamental para o sucesso dos alunos e da escola.

Palavras-Chave: afetividade, ensino-aprendizagem, merendeira, tempo integral

INTRODUÇÃO

A educação em tempo integral tem ganhado destaque nas políticas públicas brasileiras como uma estratégia de enfrentamento às desigualdades sociais e de promoção da aprendizagem integral dos estudantes. No Ceará, essa política vem sendo implantada de forma consistente desde 2008, com significativa ampliação a partir de 2016. Os dados mais recentes apontam que 75% das escolas estaduais já funcionam sob este modelo, superando a meta 6 do Plano Estadual de Educação (PEE), que previa atendimento de, no mínimo, 25% dos alunos da educação básica em 50% das escolas públicas com jornada ampliada até o ano de 2024. 

A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) José Valdo Ribeiro Ramos insere-se neste contexto de transformação e avanço educacional. Fundada em 1962, com o propósito inicial de atender filhos de ferroviários, a escola aderiu à política de tempo integral em 2016, passando a funcionar com uma proposta pedagógica que integra formação acadêmica, cidadã e socioemocional. Localizada no bairro Cristo Redentor, em Fortaleza, a escola atende estudantes majoritariamente oriundos de famílias de baixa renda dos bairros vizinhos, o que confere ainda mais relevância ao seu papel social e educacional.

Em consonância com os princípios do Projeto Político Pedagógico (PPP), a EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos reconhece que o desenvolvimento integral dos estudantes passa também pelas experiências vividas fora da sala de aula, especialmente nos espaços de convivência e socialização. Entre esses espaços, destacam-se a cozinha e o refeitório escolar, onde a alimentação e a interação cotidiana com as merendeiras promovem mais do que nutrição: promovem vínculos afetivos fundamentais para o bem-estar e o aprendizado dos alunos.

Logo, este artigo busca aprofundar a compreensão sobre a importância da alimentação escolar e, sobretudo, da afetividade presente na relação entre alunos e merendeiras na rotina da EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos. A análise se apoia em dados de um questionário aplicado a 138 alunos que revela a forte conexão emocional entre esses sujeitos, e reforçam o papel central da merenda escolar na permanência, no rendimento e na formação humana dos estudantes. Ao abordar essa temática, pretende-se destacar como o afeto, o cuidado e a presença das merendeiras contribuem de forma decisiva para a construção de uma escola mais acolhedora, equitativa e transformadora, além de ratificar que essa relação influencia diretamente no aprendizado do alunado.

1. EEMTI do Ceará e breve histórico da escola EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos

O funcionamento em tempo integral das escolas públicas brasileiras tem sido pauta na reformulação do ensino em nosso país. Este modelo de educação está contemplado no Plano Nacional de Educação (PNE), através de sua meta 6, que versa “oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos(as) alunos(as) da educação básica” (BRASIL, 2014), meta esta semelhante à meta 6 do Plano Estadual de Educação (PEE) do estado do

Ceará, que traz em seu texto “oferecer, até 2024, em regime de colaboração, Educação em Tempo Integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas e instituições de educação infantil, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos estudantes da educação básica” (CEARÁ, 2016), acrescendo as unidades escolares referentes à educação infantil.

Com avanços significativos na política de ampliação da jornada escolar dos estudantes do ensino médio, no ano de 2020, o estado do Ceará somou um total de 155 escolas de ensino médio em tempo integral (EEMTI) e 122 escolas estaduais de educação profissional (EEEP). Isto representa 38% das unidades públicas com funcionamento em tempo integral, sendo 277 das 728 escolas de ensino médio (FURTADO, 2022). De acordo com esta mesma autora, “esse processo iniciou em 2008, com a oferta do ensino médio integrado à educação profissional, e foi ampliado em 2016, com as escolas de ensino médio em tempo integral”.

Segundo Larissa Falcão (2024), no ano de 2024, o estado do Ceará chegou a 75% das escolas estaduais com funcionamento em tempo integral, informação esta dada pelo atual Governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas, durante conversa com a população cearense por meio das redes sociais. O mesmo informou que, ao assumir seu mandato, 60% das escolas já funcionavam com a jornada ampliada, aumentando este percentual para 71% no ano de 2023. Percebe-se, a partir daí, que a meta 6 do PEE do estado do Ceará já foi alcançada.

A escola de ensino fundamental e médio José Waldo Ribeiro Ramos foi fundada em 02 de setembro de 1962, para atender aos filhos dos ferroviários da extinta empresa Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). Suprindo as demandas de ensino fundamental e médio, com funcionamento regular em turnos até o ano de 2015, esta escola aderiu, desde o ano de 2016, à política do estado do Ceará de educação em tempo integral e passou a funcionar com jornada ampliada, tornando-se a escola EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos. Este processo ocorreu de forma tranquila, mesmo sendo num momento em que ocorreu a diminuição substantiva de alunos ao longo dos anos com a absorção dos alunos de ensino fundamental desta escola pela rede municipal de ensino de Fortaleza. Em meio a boatos de municipalização desta unidade escolar, o processo de matrícula nos anos seguintes não foi substantivamente afetado, nem mesmo com a gravidade do período de pandemia por Covid-19. Segue abaixo o Quadro 01 com a evolução do número de alunos matriculados nesta escola ao longo dos últimos 10 anos.

Quadro 1 – Evolução da matrícula (2015-2024)

Ano2015201620172018201920202021202220232024
Número de Alunos Matriculados383302173168188184210214264256

Fonte: Elaborado pelo autor com base no Sistema Integrado de Gestão Escolar (Sige Escola) (2025).

Esta unidade de ensino,  que no ano de 2024 contava com 256 alunos segundo o censo escolar, localiza-se no Bairro Cristo Redentor, em Fortaleza, no estado do Ceará. Este bairro faz parte da Secretaria Executiva Regional I (SER I), que abrange a parte oeste da cidade de Fortaleza, vizinho aos bairros Barra do Ceará, Álvaro Weyne, Carlito Pamplona e Jardim Iracema, dentre outros. A matrícula da escola para este ano de 2025 está contando com cerca de 270 alunos efetivamente matriculados (dados não oficiais)2.

Levando em consideração o formulário de matrícula dos alunos novatos matriculados neste ano letivo de 2025, aplicado no período de 6 a 15 de janeiro deste ano, aproximadamente 42% deles vêm do bairro Barra do Ceará, 18% do bairro Álvaro Weyne, 12% do bairro Carlito Pamplona e 12% do bairro Jardim Iracema. Os demais vêm de bairros não vizinhos, somando em torno de 16% destes alunos. O questionário socioeconômico aplicado aos responsáveis por estas matrículas mostra que aproximadamente 49% dessas famílias ganham até 1 salário mínimo e próximo a 48% dessas famílias ganham entre 1 e 3 salários mínimos.

A escola se encontra em processo de atualização do Regimento Escolar e do Projeto Político Pedagógico (PPP). Os documentos vigentes, consolidados e aprovados pela comunidade escolar no de 2021, indicam que o tempo integral precisa acompanhar o seu aspecto formativo, cognitivo, estético, ético, histórico, por meio de atividades inter e transdisciplinares que valorizem as potencialidades estudantis (EEMTI JOSÉ VALDO RIBEIRO RAMOS, 2021).

Neste sentido, o PPP da escola é composto por algumas estratégias que viabilizam o fazer pedagógico, integrando o trabalho que é desenvolvido desde o recebimento do aluno na entrada da escola, no início do turno, como também na sua socialização que acontece principalmente nos horários dos lanches e do almoço. Percebe-se que no desenvolvimento desta socialização, nesta rotina diária, a afetividade ganha destaque tanto no desenvolvimento de competências socioemocionais quanto na formação para a cidadania do educando, inferindo-se que o trabalho da merendeira escolar está intimamente ligado a este processo. 

A seguir, serão abordados pontos e definições importantes que estão relacionados ao desenvolvimento do trabalho das merendeiras na rotina escolar, além de estabelecer a importância da merenda escolar no que diz respeito à permanência do aluno na escola, além do impacto que esta alimentação exerce no processo de aprendizagem dos estudantes.

2. Merendeira e importância da merenda escolar

A alimentação escolar vem fazendo a diferença na vida de muitas famílias através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). De acordo com o portal do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o PNAE tem como objetivo

contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais durante o período letivo.

A figura da merendeira integra esse cenário como peça fundamental na garantia da oferta diária da alimentação escolar para os estudantes. Segundo Fernandes (2012) o termo “merendeira” é atribuído ao manipulador de alimentos, geralmente mulheres, que colabora na rotina escolar com a produção da alimentação servida diariamente aos alunos. O autor deixa implícito que tal profissional, levando em consideração a importância da educação em saúde no ambiente escolar, pode ser considerada fundamental para o efetivo desenvolvimento desta temática na escola.

Alguns estudos mostram relação direta entre uma refeição equilibrada e um melhor desempenho em leitura, cálculo e memória. Na prática diária da EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos, o reflexo aparece no aumento da participação nos clubes estudantis e na crescente retenção de conteúdo das disciplinas da estrutura curricular. Professores relatam que, após o almoço, que é preparado segundo as tabelas do PNAE e cardápio aprovado pela equipe de nutricionistas da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc), os alunos demonstram maior disposição em Laboratórios de Ciências e de Informática, e nas disciplinas relacionadas ao projeto de vida, elementos centrais da proposta integral.

Para muitos estudantes da comunidade da escola, merendas e almoço servidos, representam todas as refeições que eles terão, diariamente, ao longo do ano letivo. Dados internos indicam que cerca de 60% das famílias vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica, cenário que coloca a escola como ponto de segurança alimentar. Garantir dois lanches e um almoço nutricionalmente balanceados também ajuda a reduzir a evasão escolar: há registro de queda de aproximadamente 12% nas faltas mensais desde que a escola passou a trabalhar em tempo integral, em 2016, quando foram introduzidos refeitório e cozinha industriais adequados às diretrizes de funcionamento das escolas cearenses com funcionamento em tempo integral. De acordo com Rodrigues (2012, p. 86),

Como seu papel primordial, o ato de comer é uma das condições de sobrevivência do ser humano. Transcendendo este papel, a alimentação envolve outras dimensões como prazer e emoções e está inserida na hospitalidade quando envolve compartilhamento, sociabilidade, convivialidade, dádiva e até mesmo, em algumas circunstâncias, demonstração de status.

Logo, os momentos das refeições não podem ser tratados somente como um espaço pedagógico, mas também como um espaço de sociabilidade e afetividade. Nestes momentos os alunos socializam entre si, com os professores e gestores que auxiliam na dinâmica das refeições, e com as merendeiras. São recorrentes falas das manipuladoras de alimentos para os estudantes acerca de doenças que podem ser evitadas comendo de forma correta, ou alertando que eles precisam comer feijão e verduras, e que não podem desperdiçar comida. É possível perceber, nestes momentos de sociabilidade e aprendizado, o afeto trocado entre alunos e merendeiras.

Interessante destacar, e indo na contramão de pensamentos da merenda como um gasto, que a alimentação escolar tem um efeito multiplicador: cada centavo investido na alimentação do aluno repercute em seu melhor rendimento escolar, na redução dos índices de reprovação, além de estimular bons hábitos alimentares que tendem a acompanhar o estudante em sua vida adulta. Ao assegurar três refeições diárias de qualidade para seus alunos, a EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos não apenas combate a fome, mas também constrói condições para que esses jovens sonhem e planejem futuros plurais, nutridos, literalmente, pela escola.

Em síntese, na dinâmica da EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos, merenda escolar é sinônimo de equidade, de aprendizado e de cidadania. Fortalecer esta dinâmica significa honrar o direito básico de cada estudante a aprender sem fome e comprovar, na prática, que educação e alimentação caminham lado a lado na construção de uma sociedade mais justa e humana. Diante do que foi exposto, podemos inferir que a afetividade na relação entre alunos e merendeiras da escola tem fundamental importância nessa construção, assim como também no fortalecimento do processo de aprendizagem.

3. Relação merendeira-aluno

No âmbito das escolas que compõem a educação pública cearense, não é difícil perceber que a merenda escolar vai muito além do papel nutricional que tradicionalmente lhe é atribuído. Rodrigues (2012, p. 87) explica que 

o alimento para o ser humano ultrapassa as necessidades fisiológicas e exerce um papel muito mais amplo, fazendo parte da sua formação e caracterização. Ao escolher e preparar seus alimentos se difere do comportamento animal. Imprimindo vários significados e simbologias aos hábitos alimentares, estes se desenvolvem através das relações sociais, caracterizando uma sociedade (…)

Na EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos, a alimentação escolar é símbolo de cuidado, afeto e acolhimento. No período de 31 de maio a 30 de junho de 2025, um questionário online com 10 perguntas foi aplicado a 138 alunos com o objetivo de compreender a percepção dos estudantes sobre a afetividade existente na relação com as merendeiras da escola. Os dados revelaram um vínculo profundo, que transcende o simples ato de servir uma refeição.

De acordo com a tabulação das respostas, 94,9% dos alunos afirmaram que o almoço e a merenda contribuem significativamente para o desenvolvimento de sua alimentação e saúde. Esse dado, por si só, já evidencia o compromisso das merendeiras em oferecer uma alimentação saudável e adequada. No entanto, os resultados vão ainda mais longe ao mostrarem que 81,8% dos alunos reconhecem que a merenda também contribui para sua própria aprendizagem, e 86,9% deles afirmam que o alimento ajuda a manter o foco e a concentração nas aulas. Baseados nesses dados, podemos inferir que a alimentação ofertada na escola não apenas alimenta o corpo, mas também sustenta a mente e o processo educativo. Segundo Manginelli (2023), uma alimentação balanceada é primordial para que o indivíduo tenha concentração, foco e aprendizagem saudável.

Logo, esses resultados demonstram a importância da merenda como ferramenta pedagógica indireta, que apoia o aprendizado ao garantir que o estudante esteja bem nutrido e, portanto, mais apto a absorver os conteúdos escolares. Mas o aspecto mais marcante dessa pesquisa é, sem dúvida, o que revela o papel afetivo das merendeiras na vida escolar.

Segundo os dados, 95,6% dos alunos consideram as merendeiras atenciosas e simpáticas, enquanto 92,7% delas sentem que elas realmente gostam dos estudantes. Esse sentimento de cuidado mútuo é reforçado pelo fato de que 97,8% dos alunos dizem gostar das merendeiras, sendo que 74,4% afirmam gostar muito ou demais delas. Isso mostra que o afeto é percebido e correspondido, criando laços que fortalecem a vivência escolar e tornam o ambiente mais acolhedor.

Um dado particularmente revelador é que 59,9% dos alunos se sentem à vontade para compartilhar seus segredos com as merendeiras. Essa confiança demonstra que as merendeiras exercem, além de suas funções alimentares, um papel emocional relevante no cotidiano dos estudantes. Elas são vistas como figuras maternas, conselheiras e amigas, pessoas que ouvem, compreendem e acolhem.

Ainda mais impressionante é constatar que 46% dos alunos já vieram para a escola pensando ou precisando apenas da alimentação escolar. Este dado nos leva a refletir sobre a importância social da merenda, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Para muitos estudantes, a merenda representa a garantia de uma refeição no dia, o que torna o trabalho das merendeiras ainda mais nobre e significativo.

Outro número que chama atenção é o de 56,2% dos alunos que afirmam já ter saído da sala de aula apenas para ir à cozinha conversar com as merendeiras. Esse movimento espontâneo indica que a cozinha escolar é também um espaço de acolhimento, de escuta e de troca afetiva. Ali, entre panelas e colheres, surgem sorrisos, conselhos e histórias que muitas vezes aliviam o peso das dificuldades do dia-a-dia.

Diante do que foi colocado anteriormente, podemos afirmar que na EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos, a afetividade entre merendeiras e alunos é um elo que alimenta mais do que o estômago: alimenta o espírito, a autoestima e a motivação. De acordo com SILVA (2021, p. 127), “infere-se que a jornada em tempo ampliado proporciona, em sua rotina, uma relação mais próxima entre alunos, professores, funcionários e gestão escolar, afinal de contas, todos passam dois turnos de trabalho partilhando essa rotina.”. Sendo assim, as merendeiras podem ser consideradas como agentes fundamentais da formação humana de nossos estudantes, porque sabem temperar o arroz e o feijão com carinho, respeito, proximidade e escuta. Por isso, este vínculo precisa ser valorizado, reconhecido e fortalecido. O afeto, tão presente nessa relação, é também um ingrediente essencial para o sucesso escolar e para a construção de uma escola verdadeiramente humana, solidária e transformadora.

4. Considerações Finais

A análise dos dados coletados junto aos 138 alunos evidenciou, de forma clara e comovente, a relevância da afetividade presente na relação entre merendeiras e estudantes. A escola é um espaço de construção de saberes, mas também, e sobretudo, um lugar de relações humanas. Nesse contexto, as merendeiras desempenham um papel que vai além do preparo e da distribuição dos alimentos: elas nutrem com carinho, acolhem com escuta e contribuem diretamente para o bem-estar físico, emocional e pedagógico dos alunos.

A maioria dos estudantes aponta o almoço e a merenda como fatores primordiais para o desenvolvimento de sua alimentação, saúde e aprendizagem. Esses resultados confirmam que a alimentação escolar tem impacto direto na atenção, no foco e no rendimento dos alunos. Ao garantir uma alimentação nutritiva e preparada com dedicação, as merendeiras ajudam a construir as bases para o sucesso educacional. Contudo, é o afeto envolvido nesse processo que transforma a merenda em mais do que uma refeição: ela se torna cuidado, presença e acolhimento.

A grande maioria dos alunos afirmou gostar muito das merendeiras e reconhecer nelas atitudes de simpatia, atenção e carinho. Muitos relatam se sentirem seguros para compartilhar sentimentos e buscar apoio nesse espaço. Isso revela que a cozinha da escola se tornou um lugar de afeto e confiança, onde o vínculo humano fortalece o sentido de pertencimento à comunidade escolar.

Esse tipo de relação afetiva é fundamental para o sucesso dos alunos e da escola como um todo. Quando o estudante se sente cuidado e respeitado, ele se engaja mais com o ambiente escolar, sente-se valorizado e motivado a aprender. A afetividade promove segurança emocional, e essa segurança é parte essencial do processo de desenvolvimento educacional.

Assim, reconhecer o papel afetivo das merendeiras é também reconhecer sua importância na missão educativa da escola. Elas são pilares silenciosos, mas extremamente significativos na formação de cidadãos mais saudáveis, conscientes e afetivamente seguros.

Valorizar essa relação é valorizar uma educação mais humana, inclusiva e transformadora.


2O número de matrícula é considerado não oficial pois não está consolidado através do Censo Escolar do ano de 2025 que, assim como todos os anos, tem como referência a última quarta-feira do mês de maio. Neste ano, a data de referência é 28/05/2025.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

QUESTIONÁRIO APLICADO

Afetividade na relação entre merendeiras e alunos no processo de aprendizagem na EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos

Este questionário faz parte da composição do artigo “Importância da afetividade na relação entre merendeiras e alunos no processo de aprendizagem na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) do Ceará: Um olhar sobre a escola EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos” que pesquisa sobre a afetividade entre alunos e merendeiras nesta escola como fator possivelmente ligado à aprendizagem. São 10 perguntas que abordam a temática. Pedimos que respondam com sinceridade. Os dados aqui registrados são sigilosos e não serão divulgados seus nomes no desenvolvimento da pesquisa. Obrigado!

  1. Você considera que o almoço e a merenda contribuem para o desenvolvimento da sua alimentação e para a sua saúde?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você considera que o almoço e a merenda contribuem para o desenvolvimento da sua aprendizagem?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você considera que o almoço e a merenda contribuem para você manter o foco e a concentração durante as aulas?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você considera as merendeiras atenciosas e simpáticas?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você sente que as merendeiras gostam de você?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você se sente seguro em compartilhar seus segredos com as merendeiras?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você gosta das merendeiras?

(    ) sim     (    ) não

  1. Em que intensidade você gosta das merendeiras?

(    ) não gosto

(    ) gosto pouco

(    ) gosto médio

(    ) gosto muito

(    ) gosto demais

  1. Você já veio para a escola pensando ou precisando apenas da alimentação escolar?

(    ) sim     (    ) não

  1. Você já saiu de sala de aula somente para ir à cozinha conversar com as merendeiras?

(    ) sim     (    ) não

Obrigado por sua participação!


1Formado em Licenciatura em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, professor das Redes Municipal de Ensino de Fortaleza e Estadual de Ensino do Ceará, atualmente Diretor Escolar na EEMTI José Valdo Ribeiro Ramos. Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora, e especialista em Gestão e Coordenação Escolar pela Faculdade Darcy Ribeiro. E-mail: paulo.silva18@prof.ce.gov.br