IMPLANTAÇÃO DE UM GRUPO DE TABAGISMO NA UBS 20 DE PLANALTINA: AS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO EM GRUPO VISANDO A CESSAÇÃO DE TABAGISMO NA APS —  UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

IMPLEMENTATION OF A SMOKING CESSATION GROUP AT UBS 20 IN PLANALTINA: POSSIBILITIES FOR GROUP INTERVENTIONS AIMED AT SMOKING CESSATION IN PRIMARY HEALTH CARE  — A SYSTEMATIC REVIEW AND EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504301253


Nayara Negrão Ferreira1
Rodrigo Luciano Bandeira de Lima2


Resumo  

O tabagismo é um dos principais problemas de saúde pública no mundo, responsável por milhões de mortes evitáveis a cada ano e associado a doenças cardiovasculares, respiratórias e diversos tipos de câncer. No Brasil, estima-se que mais de 160 mil óbitos anuais estejam relacionados ao uso do tabaco. Diante desse cenário, estratégias efetivas para cessação do tabagismo são essenciais, sobretudo no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), ambiente ideal para o cuidado contínuo, integral e humanizado. Este trabalho descreve a experiência de implementação de um grupo de cessação de tabagismo na UBS 20 de Planaltina, fundamentado nas diretrizes do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e em uma abordagem integrada, combinando terapias comportamentais (Terapia Cognitivo-Comportamental) e farmacológicas (bupropiona, adesivos e goma de nicotina). Relatam-se as etapas do processo, desafios enfrentados e os resultados obtidos. Realizou-se ainda uma revisão sistemática da literatura, que inicialmente identificou 305 artigos, sendo 291 na PubMed e 14 na LILACS. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 12 estudos foram selecionados para compor a revisão. Os resultados evidenciaram que a participação ativa em grupos de apoio, o acompanhamento individualizado e as sessões de manutenção contribuíram significativamente para a redução do tabagismo e prevenção de recaídas. A experiência reforça a importância de políticas públicas que incentivem intervenções contínuas, personalizadas e multidisciplinares na APS.

Palavras-chave: Tabagismo. Cessação do tabagismo. Atenção Primária à Saúde. Unidade Básica de Saúde. Intervenção em grupo. Relato de experiência. 

Abstract  

Smoking is one of the leading public health problems worldwide, responsible for millions of preventable deaths annually and associated with cardiovascular, respiratory diseases, and various types of cancer. In Brazil, it is estimated that more than 160,000 deaths each year are related to tobacco use. In this context, effective smoking cessation strategies are essential, particularly within Primary Health Care (PHC), which offers continuous, comprehensive, and humanized care. This study reports the experience of implementing a smoking cessation group at UBS 20 in Planaltina, based on the guidelines of the Brazilian National Cancer Institute (INCA) and adopting an integrated approach that combines behavioral therapies (Cognitive Behavioral Therapy) with pharmacological treatments (bupropion, nicotine patches, and gum). The study describes the process stages, challenges faced, and outcomes achieved. A systematic literature review was also conducted, initially identifying 305 articles — 291 in PubMed and 14 in LILACS. After applying inclusion and exclusion criteria, 12 studies were selected for the final review. The findings demonstrated that active participation in support groups, individualized follow-up, and maintenance sessions significantly contributed to reducing smoking rates and preventing relapse. The experience highlights the importance of public health policies that promote continuous, personalized, and multidisciplinary interventions within Primary Health Care. 

Keywords: Smoking. Smoking cessation. Primary Health Care. Primary Care Unit. Group intervention. Experience report. 

1. INTRODUÇÃO  

O tabagismo representa um dos mais graves problemas de saúde pública no mundo, sendo responsável por milhões de mortes evitáveis e prematuras a cada ano. No Brasil, estima-se que o uso do tabaco esteja relacionado a mais de 160 mil óbitos anuais, associando-se a doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e diversos tipos de câncer (OMS, 2021). Diante desse cenário, a OMS e o MS  têm promovido estratégias para enfrentar o problema, como o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis  (BRASIL, 2021). 

Historicamente, o tratamento do tabagismo era restrito aos serviços especializados de atenção secundária. No entanto, com o fortalecimento da APS no Brasil, a partir de 2004, o cuidado com o pacientes tabagista passou a ser integrado à rotina das UBS (BRASIL, 2023), consolidando a APS como a coordenadora do cuidado e porta de entrada preferencial no SUS (STARFIELD, 2002). 

Segundo os conceitos propostos por Starfield, a APS deve estar fundamentada em atributos como o acesso, a continuidade do cuidado, a integralidade, a coordenação da atenção, a orientação familiar e a abordagem comunitária. Esses princípios tornam a APS o ambiente ideal para o desenvolvimento de estratégias de cessação do tabagismo, uma vez que possibilitam o acompanhamento longitudinal, a escuta qualificada e o vínculo entre equipe e paciente. Além disso, a ESF, principal modelo de organização da APS no Brasil, favorece o conhecimento aprofundado das condições de saúde da população adscrita e permite intervenções mais eficazes e individualizadas (BRASIL, 2012). 

A atuação da APS no enfrentamento do tabagismo no Brasil tem avançado por meio da incorporação das diretrizes do PNCT, coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2021). Esse programa propõe uma abordagem combinada entre terapias comportamentais e tratamentos farmacológicos, capacitando equipes multiprofissionais — como médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e farmacêuticos — para conduzir grupos de cessação em suas unidades. No entanto, ainda existem desafios significativos para a plena implementação do programa, como a ausência de apoio de estruturas como o NASF e a sobrecarga das equipes de saúde, o que limita o acesso de muitos usuários ao tratamento. A atuação dos Agentes Comunitários de Saúde também se revela essencial para o sucesso dessas estratégias, à medida que realizam a busca ativa de tabagistas e oferecem suporte na identificação daqueles que desejam parar de fumar. 

Nesse contexto, destaca-se a atuação da UBS 20 de Planaltina, localizada no Distrito Federal, como exemplo de unidade de atenção primária comprometida com a ampliação do acesso ao tratamento do tabagismo. Em 2023, a unidade iniciou a implantação de um grupo estruturado de cessação do tabagismo, com base nas diretrizes do INCA, utilizando uma abordagem integrada que inclui TCC, apoio em grupo, seguimento individual e o uso de terapias farmacológicas, como bupropiona, goma de mascar e/ou adesivos de nicotina.  

Embora os profissionais da UBS 20 de Planaltina reconheçam avanços com a implantação do grupo de cessação do tabagismo e percebam melhorias no acompanhamento dos pacientes, ainda não foi realizada uma avaliação mais aprofundada sobre os efeitos concretos dessa intervenção. Falta, até o momento, uma análise mais precisa que permita compreender os resultados alcançados, os desafios enfrentados e os elementos que contribuem para o êxito ou a limitação dessas estratégias em grupo. Essa lacuna evidencia a necessidade de refletir sobre a experiência vivida, a fim de aprimorar as ações desenvolvidas e orientar futuras práticas na Atenção Primária à Saúde. 

Diante disso, este trabalho tem como objetivos descrever a experiência de implementação e execução de um grupo de cessação do tabagismo na UBS 20 de Planaltina, assim como seus resultados, e realizar uma revisão sistemática da literatura científica com o propósito de identificar as melhores práticas, baseadas em evidências, para o tratamento do tabagismo em grupos no contexto da Atenção Primária à Saúde. A partir da análise da experiência local e da revisão teórica, espera-se contribuir para o fortalecimento das estratégias de controle do tabagismo no âmbito do SUS, promovendo a qualificação dos serviços e subsidiando futuras políticas públicas de saúde. 

2. METODOLOGIA  

Este estudo consistiu em uma revisão sistemática e relato de experiência sobre as intervenções em grupo para cessação do tabagismo no âmbito da APS. A pergunta de pesquisa que norteou esta revisão bibliográfica foi: quais as possibilidades de intervenção em grupo, no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), visando à cessação do tabagismo? A revisão foi realizada com o objetivo de identificar e analisar as estratégias de intervenção que podem ser aplicadas por profissionais da APS para promover a cessação do tabagismo, com ênfase nas abordagens em grupo. A busca bibliográfica foi conduzida no dia 22 de agosto de 2024, utilizando os termos “tobacco cessation AND primary care” nas bases de dados PubMed e LILACS.  

Os artigos selecionados para esta revisão deveriam abordar intervenções em grupos focadas na cessação do tabagismo na população em geral, contendo a descrição das estratégias adotadas. Assim, foram excluídos da análise os artigos que se concentraram em intervenções individuais, artigos envolvendo populações específicas, como pessoas convivendo com HIV e controle de tabaco focada em crianças ou estudos com contextos muito particulares, como a pandemia de COVID-19; foram excluídos também artigos que abordavam intervenções em grupo mas cujo foco principal era alguma condição de saúde específica, como câncer de boca e de pulmão. Foram excluídos, também, estudos que não forneciam detalhes sobre as intervenções em grupo, ou que avaliavam apenas os resultados finais sem especificar as estratégias utilizadas. 

A revisão também incluiu um relato de experiência da implantação de um grupo de cessação de tabagismo na Unidade Básica de Saúde (UBS) 20 de Planaltina, com foco nas práticas adotadas e nos resultados observados ao longo do processo. Os dados coletados na revisão sistemática foram organizados e analisados de forma qualitativa, enquanto o relato de experiência foi estruturado para apresentar o contexto, as estratégias implementadas, os desafios enfrentados e os resultados alcançados com a intervenção. 

3. RESULTADOS 

Após a leitura dos títulos e resumos, e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão previamente definidos, 293 artigos foram excluídos. Ao final do processo, 12 estudos foram selecionados para compor a revisão bibliográfica desta pesquisa.  

O diagrama de fluxo e a tabela a seguir demonstram, respectivamente, o processo de seleção dos artigos — desde a busca inicial até a inclusão final — e a síntese dos principais resultados dos estudos selecionados: 

Figura 1. Diagrama de Fluxo do processo de seleção dos artigos

Fonte: elaborado de acordo com o modelo de Moher et al. (2009) 

  Tabela 2. Artigos selecionados para a revisão sistemática

Autores Título do Artigo Tipo de estudo Ano  Resultados 
Fanshawe et al Tobacco cessation interventions for young people Revisão sistemática 2017 Intervenções em grupo aumentaram a cessação em 4,9% em relação ao controle (19,1% vs. 14,2%). 
Melnick et al Factors Associated with Tobacco Cessation in Primary Health Care Estudo de coorte transversal 2021 Participação em grupos com entrevista motivacional aumentou a chance de cessação em 21%. Depressão e renda entre 2-5 salários mínimos associadas a maiores taxas de cessação. 
GutiérrezBardeci et al [Multicompon ent treatment of tobacco in primary care: Follow-up over 5years] Estudo de coorte retrospectivo 2023 Terapia farmacológica + abordagem comportamental alcançou abstinência de até 42,7% (44,9% mulheres vs. 39,7% homens). Adesão e participação total associadas a melhores resultados. 
Holliday et al Interventions  for tobacco cessation delivered by dental professionals  Revisão sistemática 2021 Intervenções comportamentais + TRN ou cigarros eletrônicos aumentaram em até 2,76 vezes as taxas de cessação vs. cuidado odontológico habitual. Melhores resultados em consultórios odontológicos. 
Foo et al Implementati on of Community Health Worker Support for Tobacco Cessation: A Mixed-Metho ds Study. Ensaio clínico randomizad o 2024 Fatores importantes para aumentar a taxa de cessação: Apoio contínuo por meio de visitas regulares e participação nos grupos de cessação de tabagismo co-liderados pelos trabalhadores. 
García Campayo et al Effectiveness of topiramate for tobacco dependence in patients with depression; a randomised, controlled trial Ensaio clínico randomizad o 2008 As taxas de cessação com os tratamentos farmacológicos padrão (NST) variam entre 30% e 40% após 1 ano, sendo ainda menores em pacientes psiquiátricos. Isso evidencia a necessidade de novos tratamentos mais eficazes, como o topiramato, que é considerado uma das opções mais promissoras. 
Dent et al Pharmacist-m anaged tobacco cessation  program in Veterans Health Administration community-b ased outpatient clinic. Estudo de corte longitudinal 2004 O uso do Modelo Transteórico de Mudança (TMC) demonstrou uma taxa de sucesso de 41,5% na cessação do tabagismo após um ano de acompanhamento. 
Quinn et al Effectiveness of the 5-As tobacco cessation treatments in nine HMOs Estudo de coorte retrospectiv a 2009 Tabagistas que utilizaram materiais de autoajuda, participaram de grupos ou aconselhamento, ou usaram farmacoterapia apresentaram taxas de cessação significativamente maiores. A participação em grupos ou aconselhamento dobrou as chances de cessação, enquanto a farmacoterapia mais que dobrou as chances.  
Brand et al The effect of financial incentives on top of behavioral  support on quit rates in tobacco smoking employees: study protocol of a cluster-rando mized trial Ensaio clínico randomizad o 2016 15% dos participantes do grupo de intervenção conseguiram interromper o tabagismo por 12 meses, comparado a 5% no grupo controle. 
Miranda, Carvalho e Santos O programa de controle do tabagismo em uma Unidade Básica de Saúde Estudo de coorte retrospectivo  2017 A TCC obteve uma taxa de cessação de 57,1% após 12 semanas, com uma cobertura de 60,3% do público elegível. O não uso de bupropiona foi significativamente mais frequente entre os que cessaram o hábito (73,5%) em comparação com os que continuaram fumando (55,6%). 
Reginato, Rosa e Pithan Programa de extensão de cessação do tabagismo da Universidade Federal de Santa Maria: relato de experiência  Relato de Experiência 2017 Os participantes se mostraram mais firmes no tratamento com as reuniões de manutenção menos espaçadas 
Krinski, Faustino-Silva e Schneider Grupo de cessação de tabagismo na atenção primária à saúde: experiência de uma unidade de saúde de Porto Alegre/RS  Estudo transversal 2018 A participação nos 4 encontros do Grupo foi mais eficaz do que o uso isolado de medicamentos. 60,5% da amostra usou medicamentos para cessação, e entre os que não cessaram, apenas 33,3% participaram de todos os encontros. 

Fonte: elaborada pelo autor

4. RELATO DE EXPERIÊNCIA 

A primeira etapa da implementação do grupo de cessação de tabagismo na UBS 20 de Planaltina foi estabelecer contato com a Gerência de Tabagismo situada no edifício térreo da  SVS da SES-DF em julho de 2023. Esse contato foi realizado em parceria com um farmacêutico da UBS 20 de Planaltina. A segunda etapa foi a realização do curso de Capacitação em Tratamento do Tabagismo fornecido pelo INCA em setembro de 2023, de forma online, com o objetivo de capacitar profissionais de saúde para abertura de novos ambulatórios de tratamento de fumantes no Distrito Federal, para que possam ampliar a oferta de tratamento aos fumantes, especialmente nas regiões de saúde que apresentam baixa cobertura desse serviço. O público alvo desse curso de capacitação foram psicólogos, enfermeiros, médicos, farmacêuticos, assistentes sociais, nutricionistas, odontólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, educadores físicos e terapeutas ocupacionais. A carga horária da capacitação foi de 20 horas, distribuídas em 8 horas de aulas expositivas online e 12 horas  para revisão de conteúdo, avaliação, leitura dos manuais do protocolo clínico e ficha de avaliação clínica. Dentre os temas abordados durante a capacitação estavam: PCDT; Abordagem e Tratamento do Tabagismo na Rede SUS; Fatores Dificultadores para a Cessação do Tabagismo; Medicamentos no Tratamento do Tabagismo e Práticas Integrativas e Complementares no Apoio ao Tratamento do Tabagista (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2023a; 2023b). 

Recebemos materiais expositivos informativos sobre o tabagismo, fornecidos pela Gerência de Tabagismo, que continham informações sobre os malefícios do tabagismo e a disponibilidade de tratamento, sendo utilizados como apoio na divulgação da existência do grupo de cessação de tabagismo UBS. Tal divulgação foi realizada de forma oral e espontânea pelos próprios profissionais da equipe de saúde, sem o uso de estratégias ostensivas de mobilização. 

Após essa primeira fase administrativa e teórica, o início da implementação das atividades na UBS contou com a atuação de um profissional de nível superior (farmacêutico), que realizou a avaliação inicial e individual dos participantes candidatos ao grupo. Durante essa etapa prática, foi realizada uma triagem para entender o histórico de tabagismo, o grau de dependência e outras condições de saúde que pudessem impactar o processo de cessação (como doenças cardíacas, respiratórias e/ou psicológicas) em 12 pacientes.  Os doze pacientes inicialmente incluídos foram aqueles que, voluntariamente, procuraram a unidade manifestando interesse em participar do grupo. Como a modalidade adotada foi de grupo fechado — ou seja, sem a entrada de novos participantes após o início das atividades —, estipulou-se previamente o número máximo de participantes, considerando a logística e a disponibilidade de apenas dois profissionais atuando diretamente no desenvolvimento das atividades do grupo. 

O farmacêutico do grupo realizou a avaliação do nível de dependência de nicotina por meio da Escala de Fagerström, instrumento validado que permite estimar a intensidade da dependência. Além disso, foi aplicado um rastreamento breve de transtornos ansiosos, utilizando a HADS, com o intuito de identificar sintomas de ansiedade que pudessem interferir no processo de cessação do tabagismo. A HADS foi desenvolvida por Zigmond e Snaith (1983) com o objetivo de avaliar sintomas de ansiedade (HADS-A) e depressão (HADS-D) em pacientes, sendo amplamente empregada em contextos clínicos, hospitalares e também na APS, por sua praticidade e confiabilidade. A escala é composta por 14 itens, sendo: 7 voltados à ansiedade (itens: 1, 3, 5, 7, 9, 11 e 13) e 7 voltados à depressão (itens: 2, 4, 6, 8, 10, 12 e 14). Cada item é pontuado de 0 a 3 pontos, resultando em uma pontuação total que varia de 0 a 21 para cada subescala. No grupo de cessação de tabagismo em questão, foi utilizada apenas a subescala HADS-A, considerando os sete itens relacionados à ansiedade. (ZIGMOND; SNAITH, [s.d.]). Mesmo sendo parte de uma escala combinada, a subescala de ansiedade (HADS-A) mantém validade independente. A interpretação da pontuação adotada foi a seguinte: 

  • 0 a 7 pontos: Ansiedade improvável; 
  • 8 a 11 pontos: Possível presença de ansiedade (caso duvidoso); ● 12 a 21 pontos: Provável caso de ansiedade. 

Esse rastreamento permitiu uma abordagem mais integral dos pacientes, considerando a relevância de fatores emocionais e de saúde mental no sucesso do processo de cessação do tabagismo. (ZIGMOND; SNAITH, [s.d.]). 

Em relação à Escala de Fagerström, uma pontuação de 8 a 10 equivale a um grau de dependência muito alta; 6 a 7, elevada; 5, média, 3 a 4 baixa e 0 a 2, muito baixa. Pouco mais de 41% dos pacientes receberam pontuação 5 (média), 16,17% muito elevada e elevada. Segue abaixo uma tabela com o perfil resumido dos pacientes participantes do grupo de cessação de tabagismo. Estão incluídas informações quanto ao tempo de consumo do tabaco, raça/cor, sexo, faixa etária, presença de fatores de risco e/ou comorbidades, prática de atividade física regular e histórico de participação prévia em outro grupo de tabagismo. 

Tabela 1 – Perfil dos participantes do grupo de cessação de tabagismo (n = 12)

Variável Distribuição 
Escala de Fagerström  
Muito baixa (0–2) 16,67% (2 pacientes) 
Baixa (3–4) 8,33% (1 paciente) 
Média (5) 41,66% (5 pacientes) 
Elevada (6–7) 16,67% (2 pacientes) 
Muito elevada (8–10) 16,67% (2 pacientes) 
Tempo de consumo de tabaco – 
mais de 20 anos  > 80% (10 pacientes) 
10 a 20 anos 8,33% (1 paciente) 
5 a 10 anos  8,33% (1 paciente) 
Cor/raça – 
Brancos 4 pacientes  
Pretos 1 paciente 
Pardos 7 pacientes  
Sexo – 
Masculino 5 pacientes  
Feminino 7 pacientes  
Faixa etária – 
18–29 anos 1 paciente 
30–39 anos 1 paciente  
40–49 anos 2 pacientes  
50–59 anos: 4 pacientes  
60 anos ou mais 4 pacientes 
Fatores de risco/comorbidades 33,3% 
Hipertensão arterial 3 pacientes 
Doença pulmonar obstrutiva crônica  1 paciente 
Doença cardiovascular 1 paciente 
Câncer 1 paciente 
Transtorno de saúde mental diagnosticado 2 pacientes 
Atividade física regular 41,67% (5 pacientes) praticavam atividade física 
Participação anterior em grupo similar 1 paciente 

Fonte: elaborada pelo autor 

A experiência vivenciada na UBS 20 de Planaltina, que seguiu o modelo do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (INCA), foi organizada em quatro encontros semanais com duração de uma hora e meia cada. Doze pacientes participaram da 1ª sessão do grupo de cessação do tabagismo. Na 2ª sessão, o número de participantes caiu para nove; na 3ª sessão, compareceram seis pacientes, número que se manteve também na 4ª e última sessão. Destes seis pacientes presentes no último encontro, cinco relataram estar sem fumar, sendo que todos estavam em uso de alguma medicação para apoio ao tratamento. Aos pacientes que deixaram de comparecer às sessões, foi realizada busca ativa por meio de contato telefônico pelo farmacêutico. Durante esse acompanhamento, foram identificados diferentes motivos para a desistência, sendo os mais frequentes a busca ativa por trabalho — o que impedia os participantes de faltar às entrevistas de emprego, ainda que lhes fosse fornecido atestado médico de comparecimento ao grupo — e a necessidade de trabalhar no turno em que ocorriam os encontros.  

Por seguir o manual do INCA, foi utilizado um modelo terapêutico baseado na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que tem grande potencialidade de auxiliar os participantes a identificarem gatilhos de fumo e a desenvolverem estratégias de enfrentamento. Durante o período de 4 semanas, as principais abordagens incluíram treinamento de habilidades para lidar com a abstinência e os desejos de fumar; a psicoeducação, onde os participantes aprenderam sobre os malefícios do tabagismo e como os hábitos podem ser modificados; técnicas de alinhamento de crenças pré-estabelecidas sobre o hábito de fumar e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento, como o controle de estresse, exercícios físicos, e técnicas de relaxamento para reduzir a ansiedade e o desejo de fumar, como técnicas de respiração,por exemplo.  

Embora o foco principal do programa do INCA seja nas intervenções comportamentais, o uso de terapias farmacológicas pode potencializar os resultados, especialmente em casos de dependência grave de nicotina. Além disso, o apoio farmacológico pode reduzir os sintomas de abstinência e melhorar a eficácia das intervenções comportamentais (INCA,2019). Considerando tais aspectos, no grupo implementado pela UBS, foi utilizada a TRN, com o oferecimento de adesivos de nicotina e goma de mascar. Outros medicamentos, como o bupropiona, também foram prescritos a alguns pacientes cujo grau de dependência à nicotina era elevado (a partir da Escala de Fagerström) ou o paciente fora identificado com sintomas de ansiedade (pela Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão ou no decorrer das sessões em grupo). O objetivo da dispensação dessa medicação foi ajudar no processo de cessação do tabagismo, reduzindo a ansiedade e o desejo de fumar.  Mais de 80% dos pacientes (10) usaram algum medicamento (bupropiona, gomas e/ou adesivos) para o tratamento do tabagismo, sendo que 5 utilizaram apenas adesivos, 4 utilizaram adesivo + bupropiona e 1 paciente utilizou goma de mascar, bupropiona e adesivo concomitantemente. É importante ressaltar que, durante o tratamento, 100% dos pacientes foram beneficiados com PICs, incluindo a auriculoterapia (11 pacientes) e massagem/automassagem (9 pacientes).  

Após a fase inicial com quatro encontros realizados nas dependências da UBS 20 de Planaltina, foi iniciada a fase de manutenção. Essa etapa teve como objetivo principal prevenir recaídas e manter os participantes engajados no processo de cessação, oferecendo apoio contínuo mesmo após o término das primeiras sessões. Essas sessões de manutenção foram realizadas de forma quinzenal, especialmente nos casos em que havia maior complexidade relacionada à saúde mental. Essa orientação individual foi importante para ajustar o tratamento às necessidades específicas de cada paciente, principalmente àqueles que estão tendo maiores dificuldades em permanecer livres do tabaco. As sessões de manutenção abordaram temas como recaídas e os desafios enfrentados ao longo do processo de cessação.   Um total de 9 dos pacientes participaram da 1ª sessão quinzenal de manutenção do primeiro mês. Destes, 7 estavam sem fumar com uso da medicação, 1 paciente havia voltado a fumar, 1 havia reiniciado o tratamento após uma recaída. Três pacientes não compareceram e haviam abandonado o tratamento. Assim, infere-se que a taxa de sucesso nesse primeiro encontro foi de quase 60%. Foram discutidas formas de fortalecer os mecanismos de enfrentamento, manter a motivação para uma vida sem tabaco e desenvolver novas estratégias para lidar com o desejo de fumar, que pode surgir mesmo após algum tempo de abstinência. Na segunda sessão quinzenal, apenas 4 pacientes compareceram, estando todos sem fumar com uso da medicação (3 deles com adesivo+bupropiona e 1 apenas com adesivo). Como o levantamento é feito trimestralmente, no 3º mês de tratamento, equivalente à primeira sessão mensal de manutenção, nenhum paciente estava presente. Foi realizada busca ativa por meio de contato telefônico pelo farmacêutico.  

5. RESULTADOS DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

O artigo Tobacco cessation interventions for young people, uma revisão sistemática realizada em 2017 por Fanshawe et al que avaliou a eficácia de intervenções para ajudar adolescentes fumantes (menores de 20 anos) a parar de fumar, publicado na Cochrane Database of Systematic Reviews, revelou que as intervenções comportamentais em grupo, como o aconselhamento, aumentaram em 4,9% as taxas de cessação em comparação com o grupo controle, com taxa de sucesso de 19,1% entre os participantes da intervenção e 14,2% no grupo controle. As intervenções eram compostas por aconselhamento individual e em grupo, uso de materiais de autoajuda, intervenções por computador ou mensagens e farmacológicas. As intervenções comportamentais em grupo mostraram os resultados mais promissores, enquanto as farmacológicas não demonstraram eficácia clara. 

Diversos estudos combinaram abordagens diferentes com o objetivo analisar fatores associados à cessação do tabagismo e, a partir dos resultados, melhorar as taxas de sucesso como, por exemplo, a combinação de entrevista motivacional com abordagem cognitivo-comportamental. Um estudo de corte transversal de Melnick et al. (2021), que utilizou entrevista motivacional e abordagem cognitivo-comportamental como estratégias mediadas por profissionais da APS, ao comparar o uso de entrevista motivacional em grupo com intervenções-padrão, mostrou que a participação em grupos que utilizaram entrevista motivacional foi associada a um aumento significativo na cessação, tendo 21% mais chance de parar de fumar em comparação com aqueles que não participaram dessa abordagem. Fatores como o diagnóstico de depressão e a renda também foram associados às taxas de cessação, tendo a maioria dos participantes que pararam de fumar uma renda mensal entre 2 e 5 salários mínimos (77,9%) e a depressão associada a uma maior chance de cessação do tabagismo. O apoio farmacológico, como o uso de adesivos de nicotina e bupropiona também se mostrou eficaz, com maiores taxas dentre aqueles que fizeram uso.  

Dois estudos avaliaram evidências para intervenções comportamentais (conselhos, apoio motivacional) combinadas com farmacoterapia (como terapia de reposição de nicotina, bupropiona,  vareniclina e cigarros eletrônicos) na cessação do tabagismo. Um estudo observacional retrospectivo conduzido por Gutiérrez-Bardeci et al. (2023) avaliou o resultado de intervenções comportamentais e farmacológicas em grupo durante sessões presenciais na APS com um seguimento realizado por telefone por até 12 meses com um acompanhamento adicional de até 5 anos, visando observar a eficácia tanto a curto quanto a longo prazo. Após 1 ano de avaliação dessa intervenção, observou-se 42,7% dos participantes mantiveram abstinência contínua, com diferenças entre sexos (44,9% em mulheres contra 39,7% em homens). Além disso, a adesão ao tratamento e participação em todas as sessões foi associada a melhores resultados. Após o término do tempo total de acompanhamento (5 anos), 40,7% dos participantes mantiveram a abstinência contínua superior a 1 ano, 66 pessoas nunca recaíram após o tratamento e 31,9% dos participantes permaneceram livres do tabaco por mais de 5 anos. A taxa de recaídas no período foi de 61,4% e, entre aqueles que recaíram, 68% tentaram parar novamente, e 45,5% solicitaram ajuda para parar de fumar. Apesar da alta taxa de recaída, os autores concluíram que as intervenções combinadas são benéficas e consideraram a participação em grupos estruturados como facilitador de novas tentativas em caso de recaída, além de incentivar a busca por ajuda para parar de fumar. 

Uma revisão sistemática realizada por Holliday et al. (2021) para avaliar a eficácia de intervenções de cessação do tabagismo conduzidas por profissionais de odontologia revelou que as Intervenções comportamentais mostraram efeito positivo na cessação do tabagismo, especialmente quando combinadas com terapia farmacológica (TRN ou cigarros eletrônicos), com taxas de abstinência de até 2,76 vezes maiores comparadas ao cuidado odontológico habitual. As intervenções poderiam incluir aconselhamento breve para parar de fumar, fornecimento de materiais de autoajuda, aconselhamento, farmacoterapia ou qualquer combinação desses métodos. Normalmente, o suporte comportamental no ambiente odontológico envolve intervenções de aconselhamento muito breve (por exemplo, a abordagem dos “3As”: ask, Advise, Act) ou intervenções de aconselhamento breve (como a abordagem dos “5As”: ask, assess, advise, assist, arrange). Observou-se que a intervenção comportamental Isolada em uma única sessão, assim como em múltiplas sessões, mostrou uma evidência de muito baixa certeza de benefício na cessação do tabagismo. Já aintervenção comportamental associada à terapia farmacológica (NRT ou cigarros eletrônicos) aumentou a taxa de abstinência do tabaco apresentando evidência de certeza moderada. Os resultados variaram a depender do número de sessões e do ambiente (odontológico ou comunitário). A intervenção comportamental em ambientes comunitários como escolas ou faculdades não mostrou benefício significativo, sendo observados melhores resultados em consultórios odontológicos. Não foi identificado um benefício claro das intervenções com múltiplas sessões realizadas por profissionais de odontologia fora do ambiente odontológico.  

Uma análise secundária de um ensaio randomizado realizado com adultosdiagnosticados com doenças mentais graves e transtornos por uso de tabaco analisou a associação entre o engajamento dos participantes com CHWs e os resultados da cessação do tabaco durante 2 anos e mostrou que o apoio contínuo, especialmente por meio de visitas regulares desses trabalhadores, além da participação nos grupos de cessação do tabagismo co-liderados por eles foram fatores importante para aumentar a taxa de cessação (RIGOTTI et al., 2021). Um maior número e maior duração das visitas de CHWs, além de uma maior participação nos grupos, foram geralmente associados a uma maior probabilidade de cessação do tabagismo e de início da farmacoterapia para cessação de tabaco. Com base nos odds ratios (OR) apresentados, um aumento de 28 visitas e 14 minutos na duração delas, está associado a um aumento de 85% na probabilidade de abstinência do tabaco, assim como o aumento na frequência de participação em grupos de cessação de tabagismo liderados pelos CHWs (cerca de 23 sessões) resultou em um aumento de 51% na probabilidade de cessação. 

Um ensaio clínico randomizado e controlado conduzido por García Campayo et al. (2008) composto por 180 pacientes divididos em dois grupos: um com topiramato 200 mg/dia (grupo de intervenção) e outro com terapia de substituição de nicotina (NST) (grupo controle) teve como objetivo determinar se o topiramato é tão eficaz quanto o tratamento padrão com NST para a cessação do tabagismo após 1 ano de acompanhamento em pacientes diagnosticados com depressão maior. Todos os pacientes participaram de um programa composto por terapia cognitivo-comportamental em grupo além da terapia farmacológica. A terapia cognitivo-comportamental foi composta por 6 sessões de grupo e a duração do tratamento farmacológico foi de 8 semanas para os dois grupos. A cessação do tabagismo foi avaliada por meio de três critérios: Abstinência autodeclarada, níveis de monóxido de carbono expirados e níveis de cotinina (um alcaloide presente no tabaco e principal metabólito da nicotina, servindo como um confiável biomarcador) na saliva.  

A análise dos resultados foi por intenção de tratar, utilizando testes estatísticos. Os autores ressaltam que os tratamentos farmacológicos padrão (NST) na população geral ainda é insatisfatória, com taxas de cessação no acompanhamento de 1 ano variando entre 30% e 40%, sendo ainda menores em pacientes psiquiátricos. Por isso, parece necessário desenvolver novos e mais eficazes tratamentos farmacológicos, sendo o topiramato um dos tratamentos mais promissores, demonstrando eficácia na cessação do tabagismo em estudos preliminares além de ser útil em várias condições psiquiátricas.  

Um programa de cessação de tabagismo conduzido por farmacêuticos foi relatado por Dent et al. (2004) no artigo publicado na Journal of the American Pharmacists Association, cujo foco foi avaliar a eficácia das intervenções ao longo de um período que variava de 6 meses a 4 anos. As atividades incluíam sessões baseadas no TMC, farmacoterapia para cessação do tabagismo (como o bupropiona) e estratégias cognitivo-comportamentais. O TMC, um modelo baseado em diferentes fases do processo de mudança comportamental (Pré-contemplação; contemplação; preparação; ação, manutenção e regressão), combina técnicas cognitivas e comportamentais com medicamentos. Foram obtidos resultados da pesquisa de acompanhamento para 130 dos 148 veteranos que participaram de pelo menos uma sessão. Destes, 41,5 % continuavam sem consumir tabaco após um ano, com melhorias contínuas ao longo do tempo.   

O modelo de intervenção dos “5 As” (Ask, Advise, Assess, Assist, and Arrange) – intervenção recomendada pelas diretrizes nacionais foi avaliado por Quinn et al. (2009), no artigo Effectiveness of the 5-As tobacco cessation treatments in nine HMOs, publicado no Journal of General Internal Medicine. O modelo supracitado segue a seguinte estrutura: Perguntar aos pacientes sobre tabagismo em cada consulta; Aconselhar a interrupção a todos os usuários de tabaco; avaliar a disposição dos fumantes em tentar parar de fumar; Ajudar os tabagistas através de tratamentos e encaminhamentos e, por último, organizar contatos de acompanhamento para apoio durante o processo. A maioria (80%) dos 2.892 tabagistas entrevistados relataram ter feito uma visita no ano anterior com seu médico enquanto tabagistas (n=2.325). Destes, 77% afirmaram que foram aconselhados a cessar o tabagismo, 1/3 recebeu material de autoajuda para cessação, cerca de 66% foram avaliados quanto ao interesse em parar de fumar, 41% foram encaminhados ou sugerido participação em grupos ou aconselhamento, 33% recebeu farmacoterapia e apenas 13% foram oferecidos “follow-up contact”. Com exceção da farmacoterapia, a adesão aos tratamentos propostos foi muito baixa: 25% dos fumantes utilizaram materiais de autoajuda; 16% participaram de grupos ou sessões de aconselhamento; 34% usaram medicação e apenas 5% tiveram acompanhamentoposterior. A taxa de cessação foi significativamente maior entre os tabagistas que utilizaram materiais de autoajuda, grupos ou aconselhamento e farmacoterapia. Os tabagistas que participaram de grupos ou aconselhamento tiveram quase o dobro de chance de parar de fumar e aqueles que usaram farmacoterapia tiveram mais do que o dobro de chance de cessação. 

Os incentivos financeiros e a troca de experiências em grupo de aconselhamento também se mostraram eficazes para aumentar a motivação dos participantes. Foi o que demonstraram Van Den Brand et al. (2016) em estudo clínico randomizado por cluster que combinou aconselhamento em grupo, a possibilidade do uso de medicamentos/adesivo de nicotina e incentivos financeiros para investigar a eficácia dos incentivos financeiros à abstinência. O grupo de intervenção recebeu treinamento e voucher (valor em euros) como incentivo para abstinência, já o grupo controle não. Esse estudo indicou que 15% dos participantes do grupo de intervenção conseguiram interromper o tabagismo por 12 meses (validada por monóxido de carbono), em comparação com 5% no grupo controle. 

Além disso, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) em grupo demonstrou que a participação completa nas sessões de grupo teve um impacto mais significativo na cessação do tabagismo do que o uso isolado de medicamentos, como revela o estudo transversal realizado Krinski, Faustino-Silva e Schneider (2018). Por meio da aplicação de questionário com ex-participantes dos grupos de cessação de tabagismo de uma Unidade de Saúde SESC em Porto Alegre/RS, o estudo revelou que, dentre os que pararam de fumar, 100% participaram dos 4 encontros preconizados e 60,5% da amostra total usaram algum tipo de medicamento para auxílio da cessação. Entre os que não pararam, apenas 33,3% participaram dos 4 encontros. A participação nos 4 encontros do grupo mostrou ser mais eficaz que o uso dos medicamentos. Neste estudo, foram utilizados a terapia cognitivo-comportamental com troca de experiência entre os membros, relatos de ex-fumantes e apoio da equipe de saúde. 

Um estudo caso-controle avaliou os resultados do Programa Municipal de Controle do Tabagismo da UBS Candeal Pequeno localizado em Salvador/BA a partir de uma intervenção que durou 3 meses e teve como objetivo analisar as taxas de cessação, de abandono e os respectivos fatores de risco e cobertura populacional do programa. Em relação às intervenções psicoterapêuticas, as abordagens tiveram foco na TCC, já as medicamentosas, na prescrição e dispensação de medicamentos (bupropiona e/ou TRN). Miranda, Carvalho e Santos (2017) demonstraram que a TCC teve um desempenho satisfatório, com uma taxa de cessação de 57,1% após 12 semanas e uma cobertura de 60,3% do público elegível. Quanto à associação entre não usar bupropiona e maior cessação, os resultados mostraram que, após quatro semanas, o não uso de bupropiona foi significantemente (P = 0,017) mais frequente entre os que cessaram o hábito (73,5%) do que entre aqueles que continuaram fumando (55,6%). Os autores destacam que fumantes com pontuação igual ou superior a sete no Teste de Fagerström apresentam sintomas de abstinência mais intensos, tornando mais difícil parar de fumar sem auxílio. Esses indivíduos costumam precisar de medicamentos como a bupropiona para ajudar no processo de cessação e têm um risco maior de não conseguir abandonar o tabagismo. São necessários estudos mais amplos e bem estruturados para avaliar melhor a efetividade do Programa Nacional de Controle do Tabagismo na atenção primária. A boa adesão, a alta eficácia e o baixo custo operacional reforçam a importância de expandir o programa nesse nível de atenção. 

Uma experiência vivenciada no Programa de Extensão de Cessação do Tabagismo foi relatada por Reginato, Rosa e Pithan (2017). O programa foi realizado no Curso de Odontologia da UFSM, teve duração de 1 ano cada grupo e lançou mão de consulta prévia individual, TCC em grupo e auxílio medicamentoso (TRN e/ou antidepressivo – bupropiona), evidenciando, após esse período, uma taxa de 64% dos pacientes que concluíram o tratamento e que pararam de fumar. Todos os pacientes se sentiram mais seguros para pararem de fumar se estivessem usando o adesivo e relataram a diminuição da fissura pelo cigarro. Além disso, os participantes se mostraram mais firmes no tratamento com as reuniões de manutenção menos espaçadas.  

6. DISCUSSÃO  

A experiência vivenciada na implementação do grupo de cessação do tabagismo na UBS 20 de Planaltina oferece importantes reflexões sobre os desafios e potencialidades do enfrentamento do tabagismo no contexto da APS. A partir da adesão às diretrizes do Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2019), foi possível estruturar uma ação pautada em evidências científicas, com ênfase na capacitação dos profissionais, na abordagem integral e no cuidado contínuo ao paciente. 

Avaliou-se como o ambiente em grupo pode ser um facilitador essencial na adesão ao tratamento, corroborando com o estudo de Fanshawe et al. (2017), que revelou um aumento nas taxas de cessação em 4,9% em comparação com grupos controle, com uma taxa de sucesso de 19,1% para os participantes que participaram de sessões em grupo, versus 14,2% no grupo controle. Este achado sugere que, além do apoio psicológico e social, o ambiente em grupo pode aumentar o comprometimento e a motivação dos participantes, contribuindo para melhores resultados. Em um grupo, os participantes têm a oportunidade de compartilhar suas experiências, desafios e estratégias para lidar com a falta do tabaco, o que fortalece o apoio entre os participantes (LENA; MACEDO, 2022). Assim, as pessoas que estão passando pela mesma experiência tendem a se sentir mais compreendidas.  

A troca de experiências, que já foi evidenciada em estudos anteriores, como o de Krinski, Faustino-Silva e Schneider (2018), que destacaram a eficácia da participação ativa em sessões de grupo em comparação com o uso isolado de medicamentos, também se confirmou na prática durante as sessões realizadas na UBS 20 de Planaltina. Nesses encontros, a participação engajada nos grupos foi crucial para os resultados positivos observados. Os benefícios do grupo, como a troca de experiências, foram corroborados por um estudo realizado em Porto Alegre/RS, enquanto as limitações, como a curta duração e a falta de um grupo de manutenção, também foram identificadas. Nesse sentido, compreende-se que a criação de um grupo de manutenção poderia potencialmente aumentar os índices de sucesso e diminuir as recaídas.  

Um dos pontos centrais observados nesse processo foi a importância da capacitação técnica dos profissionais de saúde, aspecto que garantiu segurança e efetividade nas ações propostas. A formação promovida pelo INCA (INCA, 2019) não apenas ampliou o conhecimento sobre o manejo do tabagismo, mas também fortaleceu a autonomia dos profissionais para implantar e conduzir grupos terapêuticos. Assim como demonstraram Dent LA et al.(2004), farmacêuticos podem ser provedores eficazes de serviços de cessação do tabagismo, destacando a importância de programas abrangentes e bem estruturados que combinem tratamentos farmacológicos e abordagens comportamentais.  

O programa demonstrado por Dent LA et al.(2004) seguiu o TMC, baseado em diferentes fases do processo de mudança comportamental: Pré-contemplação; contemplação; Preparação; Ação, Manutenção e Regressão e cursou com uma taxa de sucesso de 41,5% após um ano. Esse modelo destaca a importância de adaptar as intervenções conforme o estágio de prontidão para a mudança do indivíduo. Em conjunto com medicamentos, essa abordagem revelou um aumento das taxas de sucesso e sua manutenção a longo prazo, podendo servir como modelo para orientar farmacêuticos a auxiliarem mais pacientes a abandonarem o tabagismo e adotarem um estilo de vida mais saudável. 

Outro aspecto de destaque foi a combinação de intervenções comportamentais com suporte medicamentoso. De acordo com García Campayo et al. (2008), a abordagem baseada na TCC auxilia os participantes a identificarem gatilhos e desenvolverem estratégias de enfrentamento. O estudo reforça a TCC como componente essencial, especialmente em pacientes com depressão maior, quando combinada com farmacoterapia. Nessas populações com maior vulnerabilidade, a simples utilização de terapias farmacológicas pode ser insuficiente. Nesse sentido, a TCC surge como uma aliada estratégica no manejo da dependência nicotínica, ampliando as chances de sucesso a longo prazo (COSTA et al., 2015). 

Essa abordagem psicoterapêutica é particularmente eficaz em promover mudanças comportamentais, fortalecer a motivação, desenvolver habilidades de enfrentamento e prevenir recaídas — aspectos fundamentais para o sucesso no abandono do tabagismo, principalmente entre indivíduos com transtornos psiquiátricos, nos quais os fatores emocionais e cognitivos desempenham papel central na manutenção do hábito de fumar (OLIVEIRA; FIGUEIREDO, 2008). 

A adoção da TCC somada à prescrição de medicamentos como adesivos de nicotina, goma de mascar e bupropiona mostrou-se uma abordagem eficaz, principalmente entre os pacientes com maior grau de dependência ou comorbidades associadas. A introdução das PICs também se revelou como um diferencial importante, promovendo o bem-estar físico e emocional dos participantes e contribuindo para a redução da ansiedade e dos sintomas de abstinência.  

O suporte comportamental breve, utilizando metodologias como os “3 As” (Ask, Advise, Act) ou os “5 As” (Ask, Assess, Advise, Assist, Arrange), mostrou-se mais efetivo quando acompanhado por uma intervenção farmacológica, evidenciando uma harmonia entre abordagem psicológica e tratamento medicamentoso (QUINN et al., 2009). No contexto da TCC, esse tipo de combinação pode funcionar como um complemento eficaz, potencializando os resultados por meio da atuação conjunta nos aspectos cognitivos, emocionais e fisiológicos da dependência(QUINN et al., 2009). 

O uso de estratégias motivacionais, como o estabelecimento de metas realistas e o reforço positivo para mudanças comportamentais, está alinhado com a proposta de Fanshawe et al. (2017), que sugere que o apoio psicológico pode melhorar a motivação e o comprometimento dos participantes. Estudos revisados, como o de Melnick et al.(2021), mostraram que a participação em grupos com entrevista motivacional foi associada a  aumento na cessação, tendo 21% mais chance de parar de fumar em comparação com aqueles que não participaram dessa abordagem. Fatores como depressão e renda também foramassociados às taxas de cessação, tendo a maioria dos participantes que pararam de fumar uma renda mensal entre 2 e 5 salários mínimos (77,9%) e a depressão associada a uma maior chance de cessação do tabagismo (PR = 1.11; IC 95% = 1.02–1.22) 

Embora o estudo não forneça um PR específico para a relação entre renda e cessação, essa alta proporção sugere que indivíduos com renda intermediária podem ter maior acesso a tratamentos eficazes, como adesivos de nicotina e bupropiona, que foram associados a melhores taxas de cessação. Quase 65% dos que pararam de fumar não tinham depressão, sugerindo que a ausência dessa condição pode estar associada a uma maior taxa de cessação. No entanto, os dados ajustados mostraram que a presença de depressão foi associada a uma maior chance de cessação do tabagismo (PR = 1.11; IC 95% = 1.02–1.22). Esse achado pode indicar que, embora geralmente associada a maior dificuldade para parar de fumar, fumantes com depressão, quando recebem suporte adequado (como entrevista motivacional e farmacoterapia), podem se beneficiar mais das estratégias de cessação.   

O apoio farmacológico, como o uso de adesivos de nicotina e bupropiona, também foi eficaz no estudo demonstrado por Quinn et al. (2009), que identificaram maior probabilidade de cessação entre os que utilizaram farmacoterapia. Comparados aos tabagistas que não utilizaram sessões de apoio ou farmacoterapia, aqueles que utilizaram esses serviços apresentaram maior probabilidade de cessação 

É importante destacar, ainda, que o perfil dos pacientes atendidos na UBS 20 aponta para uma população com longa trajetória de tabagismo e presença de múltiplas comorbidades, o que reforça o papel essencial da APS na atuação preventiva e na abordagem longitudinal do cuidado (BRASIL, 2012). A escuta qualificada, a adaptação dos atendimentos às necessidades individuais e a continuidade do cuidado foram elementos fundamentais para o sucesso dos casos que se mantiveram abstinentes até o fim do programa.  Apesar dos resultados positivos iniciais — com a maioria dos participantes abstinente até o final das sessões regulares e na primeira etapa de manutenção —, os dados revelam um dos principais desafios em programas de cessação do tabagismo: a manutenção do engajamento dos pacientes a longo prazo. A significativa redução da adesão nas sessões de manutenção, culminando com a ausência de pacientes na fase mensal, evidencia a necessidade de estratégias mais robustas de engajamento, acompanhamento e monitoramento contínuo. Fatores como motivação, suporte social, comorbidades psiquiátricas e barreiras socioeconômicas podem estar entre as causas do abandono, e devem ser considerados no planejamento de futuras intervenções. 

A adesão ao tratamento e a implementação de um programa de suporte ativo nassemanas seguintes ao término das quatro sessões são fundamentais, com impacto positivo na manutenção (QUINN et al., 2009). Destaca-se a necessidade de se oferecer mais do que apenas aconselhamento para cessação do tabagismo. A aplicação do modelo dos “5 As”(Ask, Assess, Advise, Assist, Arrange) mostrou que, embora muitos pacientes tenham sido aconselhados a parar de fumar, uma parcela significativamente menor recebeu apoio estruturado com acompanhamento após as sessões iniciais — etapa essencial que impacta diretamente nos desfechos positivos. 

Quinn et al. (2009) encontraram que apenas 13% dos participantes relataram ter recebido algum tipo de follow-up, o que revela uma lacuna importante na continuidade do cuidado. O suporte pós-consulta e o acesso facilitado à farmacoterapia e ao aconselhamento aumentaram consideravelmente as chances de cessação. Isso reforça que intervenções pontuais não são suficientes para garantir o abandono sustentado do tabagismo e que a manutenção do vínculo com o paciente ao longo do tempo é um elemento decisivo (QUINN et al., 2009). Sendo assim, entende-se que a organização de retornos regulares, checagens motivacionais e ajustes terapêuticos conforme a evolução do paciente são medidas indispensáveis. 

O estudo de Gutiérrez-Bardeci et al. (2023) também destaca que a adesão ao tratamento, tanto em relação ao número de sessões quanto ao seguimento de longo prazo, é um fator crucial para o sucesso da cessação. Os autores consideraram a participação em grupos estruturados como facilitador de novas tentativas em caso de recaída, além de incentivar a busca por ajuda para parar de fumar. A taxa de novas tentativas em casos de recaída (68%) e a busca por ajuda (45,5%) demonstram o valor da atuação da APS para evitar desistências definitivas.  

As evidências de Fanshawe et al. (2017) indicam que intervenções comportamentais em grupo foram as mais promissoras, enquanto farmacológicas isoladas não demonstraram eficácia clara. Compreende-se, portanto, que tanto as intervenções comportamentais quanto a participação em grupos estruturados têm ajudado na construção de estratégias para evitar recaídas e favorecem novas tentativas em caso de recaída, além de atuarem como  incentivadores na busca por ajuda para parar de fumar, tornando a abordagem em grupo recomendável na Atenção Primária.  

A Atenção Primária à Saúde desempenha um papel fundamental na cessação do tabagismo, oferecendo diferentes tecnologias para ajudar os fumantes a parar de fumar (INCA, 2019). Estratégias como apoio psicológico (entrevista motivacional), terapia de reposição de nicotina (adesivos ou goma) e tratamento medicamentoso (bupropiona), nesse sentido, mostram-se estratégias eficazes (INCA, 2019). Além disso, o cuidado contínuo e personalizado proporcionado pela APS pode melhorar os resultados, permitindo a adaptação das abordagens às necessidades individuais dos pacientes.  

A experiência vivenciada na implantação de um grupo de cessação de tabagismo na UBS 20 de Planaltina está alinhada com as evidências encontradas na revisão bibliográfica sobre intervenções em grupo. A combinação de abordagens comportamentais e apoio emocional, a participação ativa nas sessões e o ambiente de grupo mostraram-se fatores essenciais para a cessação bem-sucedida do tabagismo. A literatura também sugere que o acompanhamento contínuo, seja por meio de acompanhamento regular ou uso de tratamentos farmacológicos adicionais, pode melhorar ainda mais os resultados a longo prazo(INCA, 2019).  

No estudo de Gutiérrez-Bardeci et al. (2023), a taxa de recaída foi de 61,4%, semelhante à de Krinski et al. (2018), que encontrou uma taxa de 47,4% de abandono do programa em um estudo de grupo. Já Reginato, Rosa e Pithan (2017) relataram taxa de 64% de sucesso com reuniões de manutenção. A análise dos fatores que influenciam o sucesso das intervenções revelou que a adesão ao tratamento, o engajamento dos participantes e a duração das intervenções são aspectos fundamentais para a eficácia dos programas (KRINSKI; FAUSTINO-SILVA; SCHNEIDER, 2018). 

A adesão ao tratamento e a continuidade do acompanhamento mostraram-se fundamentais, sendo aqueles que participaram de mais sessões e seguiram o regime recomendado apresentando melhores resultados. A realização de reuniões de manutenção em intervalos mais curtos foi destacada como um fator importante para o sucesso na cessação, mostrando que o acompanhamento contínuo mantém os participantes motivados e comprometidos com o objetivo de parar de fumar.(KRINSKI; FAUSTINO-SILVA; SCHNEIDER, 2018). 

Os resultados da revisão apontam que intervenções em grupo, associadas a suporte comportamental e farmacológico, revelam-se eficazes e recomendáveis no âmbito da APS. 

7. CONCLUSÃO  

Com base na experiência descrita, é possível concluir que a implementação do grupo de cessação do tabagismo na UBS 20 de Planaltina seguiu uma estrutura sólida, fundamentada nas diretrizes do PNCT(INCA,2019), com etapas bem definidas desde a capacitação dos profissionais até a aplicação prática das ações terapêuticas. A utilização combinada de abordagens comportamentais, como a TCC, e terapias farmacológicas, como a bupropiona e a TRN, mostrou-se eficaz para apoiar os participantes no processo de cessação do tabaco, especialmente entre aqueles com maior grau de dependência ou comorbidades associadas,  como ansiedade e depressão. 

A adesão inicial dos pacientes foi significativa, com queda progressiva ao longo dos encontros, refletindo um desafio recorrente em programas dessa natureza: a manutenção do engajamento ao longo do tempo. Entende-se, portanto, a importância de sessões de manutenção para garantir a continuidade do tratamento.  

Apesar disso, o fato de mais da metade dos participantes presentes na última sessão inicial relatarem estar sem fumar, e de todos os participantes da segunda sessão de manutenção ainda estarem abstinentes, demonstra o potencial de sucesso do programa quando há adesão adequada. 

A participação ativa dos pacientes nos grupos de apoio, com trocas de experiências e estratégias de enfrentamento, fortaleceu o comprometimento com o tratamento. As ações complementares, como as PICs, contribuíram de forma relevante para o bem-estar dos participantes e para o controle da ansiedade, ampliando a abordagem tradicional do tratamento e tornando-o mais humanizado e acolhedor. 

A experiência vivida na UBS 20 confirma a importância de um modelo de cuidado integrado, que combine tratamentos comportamentais, farmacológicos e um acompanhamento contínuo. Esse modelo é essencial para o sucesso na cessação do tabagismo, especialmente considerando as dificuldades psicológicas e sociais que influenciam o processo de abandono do tabaco. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde, principalmente os da APS, adotem uma abordagem individual e integral no tratamento do tabagismo, com foco na continuidade do cuidado e no acompanhamentoregular. 

Por fim, a experiência demonstrou que, com capacitação adequada, estrutura mínima e acompanhamento contínuo, é possível oferecer um serviço de qualidade para o enfrentamento do tabagismo no âmbito da Atenção Primária à Saúde. No entanto, o declínio da presença dos pacientes nas sessões de manutenção evidencia a necessidade de estratégias mais eficazes de acompanhamento a longo prazo e de incentivo à permanência no programa, reforçando a importância de políticas públicas que fortaleçam o vínculo com o usuário , promovam a continuidade do cuidado, apoiam e incentivam o tratamento, além de promoverem a conscientização sobre os malefícios do tabagismo.  

8. REFERÊNCIAS  

OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO Report on the Global Tobacco Epidemic, 2021: Addressing new and emerging products. Geneva: WHO, 2021. 

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1Médica Residente R2 do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da Escola Superior de Ciências da Saúde do Distrito Federal – ESCS/ FEPECS. E-mail: nnegraoferreira@gmail.com
2Preceptor do Programa de Residência em Medicina da Família e Comunidade da Escola Superior de Ciências de Saúde do Distrito Federal – ESCS/FEPECS. E-mail: rblima@gmail.com