IMPACTOS EMOCIONAIS E PSICOLÓGICOS PROVOCADOS NA POPULAÇÃO ACADÊMICA DE MEDICINA 

EMOTIONAL AND PSYCHOLOGICAL IMPACTS ON THE MEDICAL STUDENT POPULATION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11188203


Laryssa Pimenta Barbosa Torres;
Maysa Lucielly Da Silva Brito;
Msc. Grazielly de Souza Mendes


Resumo

As exigências que o curso impõe e as suas demandas, desde o ingresso na faculdade fazem com que o acadêmico fique vulnerável a apresentar distúrbios cognitivos e emocionais. Objetiva-se o presente estudo analisar os possíveis impactos emocionais e psicológicos apresentados pelos acadêmicos de medicina durante a graduação. O artigo propõe-se como uma revisão integrativa de literatura. A questão norteadora do estudo foi: Quais os principais impactos emocionais e psicológicos que a rotina do curso médico pode provocar na população acadêmica de medicina? As referências utilizadas foram coletadas a partir das bases eletrônicas de dados: United States National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em virtude da qualidade apresentada nos trabalhos dessas plataformas. Inicialmente, foram identificadas 2.753 publicações potencialmente elegíveis para participarem do presente estudo. Foram excluídos 3 artigos por estarem duplicados. Posteriormente, foram lidos os resumos de 2.750 artigos, excluindo-se 1.302 por não abordarem a temática, 184 serem revisão de literatura e 1.254 por serem artigos publicados fora dos últimos 2 anos. A partir das evidências alcançadas no presente estudo, certifica-se que há impactos emocionais e psicológicos apresentados nos acadêmicos de medicina durante a graduação, destacando a ansiedade e a depressão. 

Palavras-chave: Estudantes de medicina. Saúde mental. Transtornos mentais.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, a formação médica é alvo de diversas discussões políticas no âmbito da saúde, visando reestruturações na formação desses futuros profissionais para que tenham maior contato com o Atenção Básica e com as necessidades do Sistema Único de Saúde podendo ter melhor atuação interprofissional. A graduação médica objetiva ser humanizada, ética, crítica e reflexiva tendo compromisso com a saúde de forma integral do ser humano, garantindo a dignidade e a defesa da cidadania (RIOS & CAPUTO, 2019). 

A formação dos acadêmicos de medicina é marcada por um período repleto de adaptações e dificuldades, na qual muitas vezes precisam abdicar dos momentos de socialização para que tenham um desempenho satisfatório. Inúmeros são os fatores estressantes e de tensão em que são expostos e conforme o avançar dos períodos durante a graduação esses fatores tendem a aumentar, gerando até mesmo sofrimento psíquico (BRANCO & PAN, 2016). 

As exigências que o curso impõe e as suas demandas, desde o ingresso na faculdade fazem com que o acadêmico fique vulnerável a apresentar distúrbios cognitivos e emocionais. O estresse e sua reação podem-se dividir em três fases, sendo elas a alerta, a resistência e a exaustão. Assim que o indivíduo tem o primeiro contato com o agente de estresse, naturalmente o seu corpo perde o estado de equilíbrio. Posteriormente, como mecanismo de defesa, o organismo tenta resgatar o equilíbrio, seja se adaptando ao problema ou eliminando-o. Conforme esse mecanismo falha, chega a fase de exaustão, devido ao déficit que há em sua reserva de energia (BONIFÁCIO et al., 2011).

Para Adriño & Bardagi (2018), a depressão, a ansiedade e estresse são alguns dos transtornos mentais apontados como mais prevalentes na população universitária. Estima-se que aproximadamente cerca de 15 a 25% dos universitários apresenta ou apresentará algum desses transtornos no decorrer do curso. Estudos epidemiológicos de prevalência comprovam que a presença de transtornos mentais é maior nesses jovens quando comparados aos indivíduos da mesma faixa etária não universitários. Sendo que, os estudantes da área da saúde são os principais apontados na prevalência dos transtornos psiquiátricos e concomitante adoecimento mental. 

Um estudo realizado com estudantes graduandos de 5 cursos diferentes sendo eles fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, nutrição e terapia ocupacional constatou que a presença de estresse é alta em todos, tendo a fisioterapia como o curso de menor incidência do estresse (MURAKAMI et al., 2019). Diferentemente dos outros cursos, na medicina a convivência com a dor e sofrimento humano é mais precoce, tendo o convívio diário com diferentes doenças e dores, propiciando quadros depressivos (CYBULSKI & MANSANI, 2017). Ademais, é um curso elitizado na qual a vulnerabilidade social e falta de suporte apresenta maiores impactos na saúde mental (RIBEIRO, MELO & ROCHA, 2019).

Dessa forma, o sofrimento psíquico, bem como a depressão, impacta diretamente na redução do rendimento acadêmico e consequentemente na atuação profissional futura desses acadêmicos na área médica. Alguns fatores de risco estão associados a esse adoecimento, como o sexo feminino predominantemente, o fato de residirem sozinhos, dificuldades financeiras, ausência de práticas de atividades físicas, obesidade e o ciclo clínico da faculdade. Além disso, a depressão é de causa multifatorial, envolvendo também fatores genéticos e epigenéticos, alterações anatômicas no hipocampo e disponibilidade de neurotransmissores (SERINOLLI, OLIVA & EL-MAFARJEH, 2015).

Esses fatores podem ser exacerbados devido a extensa carga horária, grande quantidade de matérias para estudo, estreito contato com pacientes que portam diferentes doenças e prognósticos, insegurança e autocobrança, além de cobrança externa da sociedade, da instituição de ensino e dos familiares. Apesar disso, é um desafio quanto aos cuidados psiquiátricos nessa população estudantil, devido ao fato de poucos buscarem por ajuda médica para lidarem com os seus problemas. Mesmo com o elevado nível de aflição, apenas 8 a 15% dos estudantes de medicina procuram atendimento psiquiátrico durante o curso (Vasconcelos et al., 2015).

Um estudo realizado por Aquino, Cardoso e Pinho (2019), identificou que os sintomas de depressão mais prevalentes relatado por estudantes de medicina são tristeza, desinteresse em contato interpessoal, vontade de se isolar, cansaço, falta de ânimo e energia, pensamentos de morte, dificuldade para se concentrar, alteração de hábito quanto a rotina de sono, autocriticas frequentes e dificuldades para tomar decisões.  Nesses casos, a amparo e suporte familiar tem sido apontado como um fator protetor que contribui para melhora desses indivíduos. 

O presente trabalho foi motivado pelo interesse na busca de maior conhecimento sobre os impactos emocionais e psicológicos que a intensa rotina do curso de medicina pode provocar nos acadêmicos. Ademais, levantar essas informações podem ser fundamentais para identificação dos fatores que contribuem para isso, podendo influenciar positivamente na redução do adoecimento mental através desse estudo. Com isso, é possível aumentar estratégias de mentoria e suporte psicológico nas instituições de ensino com foco nos principais impactos identificados. 

Assim, objetiva-se o presente estudo analisar os possíveis impactos emocionais e psicológicos apresentados pelos acadêmicos de medicina durante a graduação.

2. METODOLOGIA 

O artigo propõe-se como uma revisão integrativa de literatura, em que se refere a um método que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e possível construir uma única conclusão, pois foram investigados problemas idênticos ou parecidos (MENDES, 2008).

Os critérios de inclusão foram artigos que abordam os impactos emocionais e psicológicos provocados pelos estudantes médicos e outras informações específicas correlacionadas ao assunto; artigos publicados no período de 2021 a 2023; artigos em inglês, português ou espanhol disponíveis eletronicamente.  

Optou-se por esse recorte cronológico em razão de se buscarem análises mais atuais sobre o tema em questão. A questão norteadora do estudo foi: Quais os principais impactos emocionais e psicológicos que a rotina do curso médico pode provocar na população acadêmica de medicina? Os critérios de exclusão foram cartas, teses, dissertações, monografias, manuais, resumos de congressos sobre a temática; artigos sem acesso ao texto na íntegra e artigos duplicados foram contabilizados apenas uma vez. 

As referências utilizadas foram coletadas a partir das bases eletrônicas de dados: United States National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em virtude da qualidade apresentada nos trabalhos dessas plataformas, em língua portuguesa e inglesa, incluídas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e o Medical Subject Headings (MeSH), foram utilizadas nas seguintes combinações: “Estudantes de medicina”, “saúde mental”, “transtornos mentais”, e seus equivalentes em inglês.

Em primeira análise, buscou-se um estudo para o entendimento do tema, identificando nas leituras uma abordagem relativa aos impactos emocionais e psicológicos provocados pelos estudantes médicos. No segundo momento foi realizada uma busca nas principais plataformas acadêmicas disponíveis, utilizando-se critério de inclusão artigos publicados no período de 2021 a 2023, que respondem à questão norteadora com textos gratuitos e disponíveis em inglês, português e espanhol. 

Os artigos analisados foram selecionados com base no título e no objetivo dos trabalhos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram escolhidos dez artigos para compor o material para a revisão bibliográfica. Em seguida, houve a leitura e debate crítico dos artigos selecionados, priorizando sempre o alinhamento com o presente trabalho científico. 

Visto que os dados coletados nos artigos se tratam de informações públicas e de livre acesso, não foi necessária a submissão a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Como apresentado no fluxograma na Figura 1, inicialmente, foram identificadas 2.753 publicações potencialmente elegíveis para participarem do presente estudo. Foram excluídos 3artigos por estarem duplicados. Posteriormente, foram lidos os resumos de 2.750 artigos, excluindo-se 1.302 por não abordarem a temática, 184 serem revisão de literatura e 1.254 por serem artigos publicados fora dos últimos 2 anos (Fluxograma 1).

Figura 1: Fluxograma do estudo.

Fonte: Autores (2024).

3. RESULTADOS 

Assim, a amostra ficou composta por dez estudos que avaliaram os impactos emocionais e psicológicos provocados pelos estudantes médicos apresentados no Quadro 1, em ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo, com dados sobre autores, objetivo do estudo, amostra, principais achados e desfecho.

Tabela 1: Detalhamento dos artigos incluídos no estudo.

Autor (es)Objetivo do estudoNo de participantesResultados do estudoConclusões dos estudos
ESQUERDA et al., 2023Realizar uma análise nacional para descrever as percepções dos alunos sobre o Clima Educacional nas escolas médicas espanholas e sua relação com a sintomatologia psicopatológica4374Pior percepção do clima acadêmico foi encontrada no sexo feminino, nos estudantes dos anos acadêmicos clínicos e nas escolas médicas públicas. A pontuação do índice geral SA45 foi elevada (p90) em 25,6% dos participantes. Em relação ao sexo, as estudantes do sexo feminino apresentaram níveis mais elevados de pontuação do índice geral SA45, depressão, sensibilidade interpessoal, somatização, ansiedade, obsessão-compulsão e sintomas de ansiedade fóbica.Há aumento da depressão, ansiedade e outros sintomas psicopatológicos, com um padrão que varia entre as diferentes faculdades. A percepção do clima acadêmico variou entre as escolas médicas, assim como os escores de sintomas psicopatológicos. A prevalência dessas variáveis ​​em estudantes de medicina é, pelo menos em parte, atribuível a fatores diretamente relacionados ao ambiente de aprendizagem.
VALLADARES-GARRIDO et al., 2023Determinar a prevalência e os fatores associados a sintomas depressivos, ansiosos e de estresse em estudantes de medicina no Peru.405 Estudantes com transtornos do comportamento alimentar apresentaram maior prevalência de sintomas depressivos, sintomas ansiosos e sintomas de estresse. A prevalência de sintomas depressivos, sintomas ansiosos e sintomas de estresse aumentou nos estudantes que não relataram atividade física regular. Além disso, ter quase sempre esgotamento acadêmico aumentou a prevalência de sintomas depressivos, sintomas de estresse. Pelo contrário, a prevalência de sintomas depressivos, sintomas ansiosos e sintomas de estresse diminuiu nos estudantes do sexo masculino. Estudantes que relataram dormir 8 ou mais horas diárias apresentaram menor prevalência de sintomas de estresse.Sintomas de depressão e ansiedade ocorreram em 7 de 10 estudantes, e estresse em 6 de 10. Entre os fatores associados à presença de ansiedade, depressão e estresse estavam transtorno de comportamento alimentar e não prática regular de exercícios. Avaliações periódicas da sintomatologia mental são necessárias e o aconselhamento deve ser promovido nas escolas médicas.
HAWAMDEH et al., 2023Comparar a prevalência de transtorno de ansiedade de doença (TAI) e sofrimento entre estudantes de medicina e enfermagem e examinar suas associações com as características dos estudantes.466A idade média foi de 21,27 anos. Os resultados mostraram que a prevalência global de DAI (pontuações SHAI ≥18) entre a amostra total foi de 38,8%, com uma prevalência significativamente menor em estudantes de medicina em comparação com a prevalência em estudantes de enfermagem.Destaca-se que os estudantes de medicina e enfermagem estão suscetíveis a desenvolver transtornos relacionados à ansiedade e sofrimento que podem ter impactos negativos em seu desempenho acadêmico e em suas carreiras futuras. Tanto os professores de enfermagem como os de medicina devem ajudar na identificação de estratégias para apoiar a saúde mental e o bem-estar dos alunos.
ABDEL et al., 2023Investigar problemas de saúde mental anteriores e atuais, fontes significativas de estresse, esgotamento e uso de substâncias entre estudantes de medicina nos Emirados Árabes Unidos.385  5,7% dos participantes foram diagnosticados com algum problema de saúde mental antes de ingressar na faculdade de medicina e que 21,6% dos participantes foram diagnosticados com uma doença mental enquanto cursavam a faculdade de medicina. No OLBI, 77,4% tiveram triagem positiva para burnout (81,3% para desligamento e 95,1% para exaustão), com 74,5% triagem positiva para dificuldades de saúde mental no GHQ-12 e <1% triagem positiva no CAGE para problemas com bebida. Altos níveis de estresse, esgotamento e doença mental são vivenciados entre estudantes de medicina nos Emirados Árabes Unidos.
CUNHA et al., 2023Estimar a prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) entre estudantes de Medicina e os fatores associados a esse agravo.556 A prevalência geral de TMC encontrada foi de 53,3%, 78,8% dos estudantes afirmaram que se sentem nervosos, 56,8% mencionaram que dormem mal, e 6,5% apontaram que têm ideias de acabar com a própria vida. Após análise multivariada, os seguintes fatores mantiveram associação com maior prevalência de TMC: não possuir graduação prévia (49% a mais de TMC), ter uma autopercepção de saúde desfavorável (53%), não ser dessemestralizado (20%) e fazer uso de tabaco (19%). Neste estudo, atividade física não teve efeito protetor para os TMC.A prevalência de TMC entre os estudantes de Medicina mostrou-se elevada e se associou principalmente à autopercepção de saúde desfavorável. Os resultados obtidos demonstram a necessidade de que as políticas institucionais voltadas à saúde mental e à diminuição do sofrimento psíquico dos estudantes sejam mantidas e ampliadas.
SIVERTSEN et al., 2023Examinar a prevalência de transtornos mentais comuns em uma grande amostra nacional de estudantes universitários na Noruega.10.460Os transtornos mais comuns foram episódio depressivo maior e transtorno de ansiedade generalizada.Os resultados sugerem uma prevalência alarmantemente elevada de vários transtornos mentais entre estudantes universitários noruegueses. Implicações e possíveis explicações metodológicas e contextuais dessas descobertas são discutidas.
KAMEL et al., 2022Descrever as necessidades de saúde mental dos jovens egípcios e os recursos que utilizam quando procuram ajuda.707 Uma pesquisa transversal on-line foi distribuída entre estudantes de medicina da Universidade Tanta, no Egito. Mais da metade (54%) dos estudantes relataram ter sido acometidos por problemas de saúde mental em algum momento de suas vidas. Ansiedade e depressão foram os problemas mais comuns. Relativamente aos comportamentos de procura de ajuda, os participantes pesquisaram principalmente na Internet ou falaram com colegas e familiares; poucos relataram abordar profissionais médicos. A maioria dos participantes (59,7%) relatou estar decepcionada com o atual sistema de saúde mental no Egito.Existe uma elevada prevalência de problemas mentais entre os jovens egípcios e o sistema de saúde não está adequadamente preparado para responder às suas necessidades. A E-Mental Health e as intervenções online parecem ser uma solução promissora que poderia aumentar o acesso aos serviços de saúde mental para os jovens egípcios.
MOREIRA; OURA; SANTOS, 2021Avaliar e caracterizar o estigma sobre doenças mentais em estudantes portugueses do sexto ano de medicina.501 Embora os problemas de saúde mental sejam comuns em estudantes de medicina, e ainda mais elevados do que na população de mesma idade, o acesso à ajuda psiquiátrica e psicológica permanece limitado. Muitos estudantes não reconhecem a importância de procurar ajuda, devido ao autoestigma, e outros têm dificuldades financeiras e de gestão de tempo. Estes constrangimentos indicam a necessidade de intensificar o apoio aos estudantes de medicina com problemas de saúde mental, tanto a nível terapêutico como preventivo, e de criar ambientes saudáveis, como grupos de autoajuda e atividades de promoção do bem-estar psicológico.Os estudantes com atitudes mais estigmatizantes demonstram mais sentimentos de perigo e medo em relação aos pacientes com doença mental, evitação e menor probabilidade de ajudar os necessitados. É crucial quebrar o ciclo de estigma e autoestigma para melhor tratarmos os nossos pacientes e a nós mesmos quando a doença chega até nós, tornando os cuidados de saúde mais inclusivos e empáticos. 
VILLALOBOS-OTAYZA et al., 2021Determinar a relação entre o nível de resiliência e a presença de sintomas depressivos e fatores associados.202 Sintomas depressivos foram encontrados em 42,6% (n=86) dos pesquisados, com média de 21,04±4,63 para a Escala Zung abreviada. Por outro lado, 87,1% (n=176) apresentou escores classificados como alta resiliência, com média de 78,01±11,59 para RS-14. 64,2% dos reclusos com elevado nível de resiliência não apresentavam sintomas depressivos, em comparação com 88,5% dos reclusos com baixo nível de resiliência, que os apresentavam. Foi encontrada relação entre alto nível de resiliência e ausência de sintomas de depressão.Os reclusos com maior nível de resiliência apresentaram menos sintomas depressivos. O contato com amigos e a conformidade com a sede e o pessoal de trabalho foram associados a um alto nível de resiliência.
BARBOSA-MEDEIROS; CALDEIRA, 2021Comparar os escores dos sintomas de transtornos psiquiátricos em acadêmicos de medicina ao longo de três anos da graduação, discutindo o contexto da saúde mental dos estudantes longitudinalmente durante o processo de formação.592Para as turmas iniciantes, os escores do Questionário de Saúde Geral, que indica a presença de Transtornos Mentais Comuns, aumentaram entre 2015 e 2017. No mesmo período, houve aumento dos escores da dimensão descrença e redução significativa nos escores da dimensão eficácia profissional, do Maslach Burnout Inventory, denotando piora na saúde mental para esse grupo. Entre as turmas avaliadas a partir do meio do curso, observa-se aumento significativo nos escores do Questionário de Saúde Geral e na dimensão exaustão emocional do Maslach Burnout Inventory. A sonolência diurna excessiva apresentou oscilações durante os períodos.Os resultados refletem um agravamento na saúde mental destes estudantes ao longo do curso, especialmente entre o ano de 2015 e 2017, em relação a Transtornos Mentais Comuns e esgotamento profissional. Este resultado chama a atenção para a necessidade de se adotar estratégias que levem o estudante a lidar com os fatores estressantes inerentes ao curso, como o incentivo ao esporte, suporte psicológico, e a reorganização da estrutura curricular do curso, com períodos livres destinados a lazer.
ESQUERDA et al., 2023Realizar uma análise nacional para descrever as percepções dos alunos sobre o Clima Educacional nas escolas médicas espanholas e sua relação com a sintomatologia psicopatológica4374Pior percepção do clima acadêmico foi encontrada no sexo feminino, nos estudantes dos anos acadêmicos clínicos e nas escolas médicas públicas. A pontuação do índice geral SA45 foi elevada (p90) em 25,6% dos participantes. Em relação ao sexo, as estudantes do sexo feminino apresentaram níveis mais elevados de pontuação do índice geral SA45, depressão, sensibilidade interpessoal, somatização, ansiedade, obsessão-compulsão e sintomas de ansiedade fóbica.Há aumento da depressão, ansiedade e outros sintomas psicopatológicos, com um padrão que varia entre as diferentes faculdades. A percepção do clima acadêmico variou entre as escolas médicas, assim como os escores de sintomas psicopatológicos. A prevalência dessas variáveis ​​em estudantes de medicina é, pelo menos em parte, atribuível a fatores diretamente relacionados ao ambiente de aprendizagem.

Fonte: Autores (2024).

4. DISCUSSÃO

O acometimento de problemas de saúde mental em algum momento da vida do estudante de medicina se faz presente (KAMEL et al., 2022). A alta frequência de sintomas depressivos é capaz de ser explanada por uma carga substancial de sintomas depressivos nesse grupo estudantil, verificando uma explicação multifacetada (VALLADARES-GARRIDO et al., 2023).

A ansiedade e a depressão são os problemas mais comumente relatados (KAMEL et al., 2022; SIVERTSEN et al., 2023). Corroborando com tais achados, Hawamdeh et al. (2023) evidenciaram que os sintomas de depressão e ansiedade ocorreram em sete de dez estudantes, e estresse em seis de dez. A respeito dos fatores relacionados à presença de ansiedade, depressão e estresse estava o transtorno de comportamento alimentar e sedentarismo.

Moreira, Oura & Santos (2021) ressaltaram que os estudantes de medicina sofrem bastante com estresse físico e emocional. Efetivamente, a presença de ansiedade grave, esgotamento e depressão são mais frequentes nesta população quando comparados com a população geral da mesma faixa etária. Além disso, os acadêmicos de medicina apresentam reduzida qualidade de vida. Uma das justificativas é a presença de perfeccionismo, auto estima apoiada no desempenho, maior privação de sono, ambiente competitivo, escassez de tempo para atividades sociais e atividade física regular, assim como escasso sistema de apoio.

Além disso, verifica-se que os estudantes de medicina apresentam superior pressão acadêmica, elevada carga horária, preocupação financeira, exposição ao sofrimento e ao óbito, contribuindo a saúde mental de maneira negativa. É possível que parte dessa sobrecarga seja ocasionada pelo fator emocional e pela relação médico-paciente, onde o interno do curso médico mergulha pela primeira vez (VILLALOBOS-OTAYZA et al., 2021).

Barbosa-Medeiros & Caldeira (2021) permitiram avaliar a saúde mental dos acadêmicos de três escolas médicas de Minas Gerais por três anos. Observa-se uma tendência de aumento de Transtornos Mentais Comuns, de acordo com o avanço da graduação. Ainda, houve tendência de aumento na exaustão emocional e descrença ao longo do curso, refletindo um agravamento na saúde mental dessa população. 

Dessa maneira, os acadêmicos começaram a se sentir mais estressados, com esgotamento físico e mental, e descrentes com a carreira. Um resultado alarmante foi que os níveis de descrença foram superiores entre os alunos do 11º período, revelando um distanciamento nas relações interpessoais e reduzida expectativa relacionado ao futuro profissional. Desse modo, é fundamental criar um alerta para a discussão do quanto o ambiente pode ser instigado para o sofrimento psíquico (BARBOSA-MEDEIROS & CALDEIRA, 2021).

Aziz et al. (2023) realizaram um estudo, a fim de reunir conhecimentos quanto aos dados demográficos, fontes de estresse, problemas de saúde mental, esgotamento e utilização de substâncias em acadêmicos de medicina da Universidade dos Emirados Árabes Unidos. Assim, foi possível observar que 5,7% dos alunos receberam diagnóstico de algum problema de saúde mental anteriormente ao ingresso na faculdade de medicina. Além disso, 21,6% dos integrantes do estudo receberam diagnóstico com alguma doença mental enquanto cursavam a faculdade.

Portanto, nota-se que a saúde mental dos alunos de medicina é preocupante e, dado o impacto que possui e os números envolvidos, é fundamental estabelecer as suas causas e possuir estratégias de melhoria disponíveis. Evidências apontam quanto a importância da saúde mental e da prevenção do stress, da depressão ou da ansiedade, sendo necessários programas preventivos gerais, além de programas específicos para detectar e abordar os alunos de elevado risco (ESQUERDA et al., 2023). 

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das evidências alcançadas no presente estudo, certifica-se que há impactos emocionais e psicológicos apresentados nos acadêmicos de medicina durante a graduação, destacando a ansiedade e a depressão. 

Verifica-se que os acadêmicos de medicina possuem baixa qualidade de vida, uma vez que os estudantes possuem grande perfeccionismo, autoestima baseada no desempenho acadêmico, privação de sono, visto que passam horas estudando devido a quantidade de matérias para estudarem. Além disso, o ambiente acadêmico é competitivo e há pouca quantidade de tempo disponível para a realização de atividades de lazer e atividade física regular.

Consequentemente, destaca-se a relevância do entendimento do problema em questão, sendo necessário a atualização constante das melhores abordagens terapêuticas aos acadêmicos do curso médico que sofrem impactos emocionais e psicológicos, ofertando um cuidado individualizado. 

REFERÊNCIAS

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