REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11377123
Alyne Gomes Picanço,
Leiliane Ribeiro Melo,
Regina Marques Calheiro,
Orientador: Dra. Milena Ferreira
RESUMO
O hipotireoidismo é o resultado da deficiência de hormônios tireoidianos, podendo acarretar uma redução na performance física e mental do paciente caso não seja devidamente tratado. Dessa maneira, por ser uma das condições mais comuns no mundo, é de suma importância discutir sobre o hipotireoidismo em seus aspectos e abordagens. Vale destacar que o hipotireoidismo torna o metabolismo mais lento, o que pode ocasionar impactos diretos à saúde mental e à qualidade vida, além da perda das funções vitais do organismo que dependem da produção dos hormônios. Este estudo tem como objetivo destacar os impactos da deficiência de hormônios da tireoide na saúde mental e na qualidade de vida dos pacientes, analisando a deficiência como um todo. A metodologia do trabalho foi realizada através da revisão sistemática em pesquisa bibliográfica, e da abordagem qualitativa, por meio de artigos e pesquisas científicas com os descritores em hipotireoidismo, tireoide, saúde mental e qualidade de vida. A busca dos artigos incluídos na revisão foi realizada em importantes bancos de dados, sendo eles: Scientific Electronic, Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE). Dessa forma, espera-se que a revisão destaque de uma forma abrangente, mas compendiosa, os objetivos e a realização da pesquisa.
Palavras-chave: Hipotireoidismo. Tireoide. Hormônios. Saúde mental. Qualidade de vida.
1. INTRODUÇÃO
O hipotireoidismo, causado pela deficiência na produção de hormônios pela glândula tireoide, representa uma falha precoce e leve que afeta até 10% da população adulta (CARVALHO, et al. 2020). A tireoidite de Hashimoto, cuja primeira descrição foi em 1912 pelo médico japonês Hakaru Hashimoto, é a causa predominante de hipotireoidismo. Hashimoto descreveu quatro pacientes com um distúrbio crônico da tireoide, que ele chamou de estruma linfomatosa. As glândulas desses pacientes foram caracterizadas por infiltração linfocítica difusa, fibrose, atrofia parenquimal e uma mudança eosinofílica em algumas células acinares. (AKAMIZU T; AMINO N, 2017).
A tireoide aumentada, de modo geral, é denominada bócio, podendo atingir centenas de gramas. A tireoide é uma glândula em forma de borboleta, possuindo dois lobos, localizada na parte anterior do pescoço (SILVA, 2021). É uma das maiores glândulas do corpo humano e tem um peso de aproximadamente 25g. A glândula tireoide atua na função de órgãos importantes como coração, cérebro, fígado e rins, interferindo também no crescimento e do desenvolvimento das crianças, na regulação dos ciclos menstruais, no peso, na memória, no humor e na concentração. (SILVA, 2021).
Segundo o doutor Glen Braunstein (2022), Endocrinologista especialista em diabetes e metabolismo, o hipotireoidismo é caracterizado pela baixa atividade da tireoide, resultando em uma produção insuficiente dos hormônios tireoidianos, podendo afetar as funções vitais do corpo. A tireoide tem um importante papel no desempenho de funções através da síntese e secreção dos hormônios tireoidianos. Portanto, a desregulação nos hormônios, como identificada nos casos de hipotireoidismo, pode causar grandes distúrbios nas funções corporais. Nesse sentido, os hormônios atuam na atividade metabólica, bem como influenciam a dinâmica de vários sistemas fisiológicos. (BERNE, 2018, p. 867).
Vale ressaltar que o hipotireoidismo pode ser congênito ou adquirido. O distúrbio congênito ocorre durante o desenvolvimento fetal, manifestando-se desde o nascimento, já o adquirido ocorre devido a um distúrbio primário da tireoide, ou a disfunções hipofisária e/ou hipotalâmica (MANA; RIZZO, 2020). O doutor Andrew Calabria (2022), do hospital infantil da Filadélfia, através do Manual MSD, afirma que o atraso no diagnóstico e no tratamento pode ocasionar incapacidade intelectual e baixa estatura.
A causa mais frequente do hipotireoidismo é a tireoidite autoimune crônica (tireoidite de Hashimoto), uma doença congênita que, apesar de ser mais comum em mulheres com 30 a 50 anos, pode se apresentar em qualquer indivíduo que possua uma predisposição genética e/ou fatores ambientais favoráveis (FERRARI, et al., 2021). A tireoide de Hashimoto (TH), caracteriza-se clinicamente pelo aumento difuso da glândula tireoide, que advém de uma substituição do parênquima tireoidiano normal por linfocitário, levando a uma fibrose e perda funcional. Tal condição é denominada autoimune, uma vez que decorre da presença de auto-anticorpos contra a glândula supracitada, como antiperoxidase tireoidiana, detectada em exames laboratoriais séricos. (AKAMIZU T; AMINO N, 2017).
As ocorrências de hipotireoidismo têm sido associadas a transtornos neuropsiquiátricos há muito tempo como causa ou consequência. (MONTENEGRO, 2021). A tireoide desempenha papel importante na regulação de diversos órgãos, assim, qualquer disfunção hormonal pode acarretar danos orgânicos, demonstrando uma alta prevalência de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão entre pacientes com disfunção tireoidiana, o que pode provocar alterações hormonais da tireoide. (ALMEIDA, 2013).
Além disso, com o hipotireoidismo, o metabolismo desacelera, fazendo com que o humor, a memória e a concentração também sejam afetados, o que pode gerar um desinteresse geral por diferentes atividades do cotidiano, implicando diretamente na qualidade de vida. De acordo com a doutora Lorena Lima Amato (2023), endocrinologista pela FMUSP, o hipotireoidismo torna o metabolismo e o raciocínio mais lentos, causando sonolência, falta de ânimo, cansaço, discreto ganho de peso e inchaço. O tratamento é feito com a reposição do hormônio tireoidiano chamado levotiroxina.
A função tireoidiana está intimamente associada às funções neuropsicológicas, como o estado mental e as funções cognitivas (FELDMAN, et al. 2013). A deficiência exacerbada de iodo, as mutações no gene MCT, e o hipotireoidismo congênito e adquirido não tratados ocasionam inúmeras consequências neurológicas ao paciente, por isso a importância dos hormônios da tireoide no desenvolvimento e funcionamento do cérebro, para que assim, haja o bom funcionamento e a distribuição correta no organismo. (NETO ANTONIO, et al. 2021).
Antônio Neto, 2021, destacou que em um estudo com animais, os hormônios da tireoide influenciam a neurotransmissão noradrenérgica e serotonérgica, que desempenham um papel fundamental na patogênese da depressão e são alvos para as terapias antidepressivas atuais. Distúrbios da tireoide e doenças mentais estão frequentemente interrelacionados, haja vista a associação entre o T3 e a depressão devido os efeitos regulatórios sobre a serotonina e a noradenalina. A triiodotironina (T3), produzida pela glândula, controla os níveis e atividades de serotonina e noradrenalina, e a falta desse hormônio pode causar transtornos de depressão e ansiedade. 25% dos casos com depressão resistente foram tratados com sucesso quando o T3 foi adicionado a antidepressivos tricíclicos. (LEKURWALE, 2023).
A doutora Maria Bogea (2021), especialista em endocrinologia e metabologia, afirma que pessoas acometidas com hipotireoidismo podem ter alterações no peso corporal e apresentar sonolência, dificuldade para perder peso, e cabelo e unhas quebradiços, o que afeta, dessa forma, a qualidade de vida. Segundo a doutora Paola Machado (2024), mestre em ciências e saúde, se a mudança de humor for um dos sintomas, estratégias podem ser usadas juntamente com o tratamento, como a diminuição da ingestão de cafeína, tabaco e álcool, dormir de forma adequada e suficiente, realizar atividades físicas e buscar atividades que aprimorem a criatividade.
Portanto, este estudo tem como objetivo trazer informações sobre o impacto do hipotireoidismo na saúde mental e na qualidade de vida dos pacientes acometidos com essa doença, através de uma revisão de literatura com o intuito de esclarecer os aspectos do tema.
2 JUSTIFICATIVA
O hipotireoidismo emerge como uma das condições mais prevalentes entre os distúrbios da glândula tireoide a nível global. Suas manifestações clínicas podem variar desde sintomas leves até casos associados a transtornos depressivos, sublinhando a necessidade premente de uma compreensão abrangente do seu espectro clínico. É fundamental explorar os aspectos clínicos dessa patologia, especialmente sua interação com distúrbios neurológicos, e seu impacto sobre a qualidade de vida dos indivíduos.
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral:
Analisar o impacto do hipotireoidismo na saúde mental e na qualidade de vida dos pacientes com hipotireoidismo, destacando a importância do estudo e da pesquisa para a análise de impactos decorrentes do tema.
3.2. Objetivos específicos:
- Identificar a prevalência dos casos de depressão e ansiedade em pacientes com hipotireoidismo.
- Realizar uma revisão de literatura sobre os impactos na saúde mental e na qualidade de vida dos pacientes acometidos com hipotireoidismo.
- Identificar a faixa etária mais predominante na doença de hipotireoidismo.
4 METODOLOGIA
A revisão da literatura científica foi realizada por meio da revisão sistemática em pesquisa bibliográfica, com a utilização de materiais e artigos científicos, com os descritores em hipotireoidismo, tireoide, saúde mental e qualidade de vida. A busca dos artigos incluídos no estudo foi realizada através de importantes bancos de dados, sendo: Scientific Electronic, Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE). Os critérios de inclusão foram definidos com base nos objetivos, na metodologia e no conteúdo de pesquisa, sendo incluídos artigos e pesquisas. A abordagem do trabalho é classificada como qualitativa, visando coletar os dados através de suas características comportamentais, para assim, verificar quais impactos acerca da saúde mental e da qualidade de vida são gerados a partir do hipotireoidismo nos pacientes acometidos por essa condição.
De acordo com os critérios estabelecidos, 10 estudos foram escolhidos para a análise dos resultados deste estudo, além do uso de autores no desenvolvimento do trabalho. Posteriormente, foi feita uma sistematização em forma de quadro, de modo a dar visibilidade às principais características de cada produção (autor, título, tipo de estudo, objetivo, metodologia e resultados) e manter a autenticidade das ideias, conceitos e definições dos autores. O levantamento bibliográfico foi realizado com a utilização de mecanismos de buscas na internet, por meio de livros e artigos. Os estudos utilizados neste primeiro momento foram descritos no quadro abaixo.
5 RESULTADOS
Após o levantamento bibliográfico, com os descritores específicos totalizou em 40 artigos que após filtragem de seleção de artigos que se atentava a temática resultou em 10 artigos, que foram identificados como adequados aos objetivos deste trabalho, e, portanto, selecionados leitura e análise crítica.
Tabela 1 – Artigos selecionados para o estudo.
Título | Autor/Ano | Tipo de estudo | Objetivo | Metodologia | Resultados |
O hipotireoidismo no clico de vida da mulher: a importância do diagnóstico assertivo e os impactos na saúde feminina durante as fases de crescimento e envelhecimento. | SILVA, Luana. 2021 | Artigo | Buscar informações sobre aspectos e dados disponíveis em cada fase do ciclo de vida da mulher. | Revisão bibliográfica. | As mulheres são o principal público afetado pela doença, que pode ter início em qualquer fase da vida, devendo ser corretamente avaliada e dado o correto tratamento a fim de assegurar a saúde da paciente e o alívio dos sintomas. |
Hipotireoidismo e sua associação com transtornos depressivos: uma revisão de literatura. | NETO, Antônio. 2021 | Artigo | Evidenciar a relação entre hipotireoidism o e transtorno depressivo. | Revisão de literatura. | Ainda que não seja claro o papel desempenhado pelos hormônios tireoidianos na fisiopatologia dos transtornos mentais, tem sido sugerido que pequenas mudanças nos níveis de hormônio da tireoide, mesmo dentro da faixa normal, podem estar relacionadas à alteração da função cerebral na depressão. Atualmente, existem 2 hipóteses explicativas: o déficit de serotonina e o déficit de noradrenalina no sistema nervoso central provocados pelos distúrbios hormonais. |
Relação entre hipotireoidismo e depressão: uma revisão integrativa de literatura. | MONTENE GRO, Isabely; SOUSA, Mariana. 2021 | Artigo | Reconhecer as questões contraditórias entre prevalência e tratamento que envolvem esse o hipotireoidismo. | Revisão integrativa de literatura. | Há relação importante entre saúde mental e hipotireoidismo, especialmente no que diz respeito ao humor. |
Tireoidite de Hashimoto. | M.D AKAMIZU, Takashi; AMINO, Nobuyuki. 2017 | Artigo | Apresentar clinicamente a tireoide de Hashimoto. | Revisão integrativa de literatura. | A incidência é da ordem de 3 a 6 casos por 10.000 habitantes por ano, e a prevalência entre as mulheres é de pelo melo menos 2%. |
Resultados reprodutivos em casos de hipotireoidismo subclínico e autoimunidade da tireoide: Uma revisão narrativa. | CARVALH O, Bruno et al. 2020 | Artigo | Apresentar os resultados reprodutivos em casos clínicos da tireoide. | Revisão Narrativa | Testes de função tireoidiana (TFTs) são solicitados rotineiramente, mas a avaliação e interpretação dos resultados às vezes podem ser difíceis devido a problemas técnicos. As dificuldades na avaliação hormonal podem ser pré-analíticas, analíticas e pós-analíticas. Os fatores pré-analíticos incluem idade, gravidez, uso de medicamentos (tais como contraceptivos orais e biotina), mutações genéticas, doenças sistémicas e doenças críticas. Os erros analíticos ocorrem devido a anticorpos heterófilos e macroTSH. Os erros pósanalíticos incluem registro errado do resultado pelo laboratório, erros nas unidades do parâmetro verificado e falha na identificação dos dados normais |
Manifestações neuropsiquiátricas da doença da tireoide. | FELDMAN , Anna Z; Sherestha RT; Hennessey, JV. 2013 | Apresentar as manifestações neuropsi quiátricas das doenças provenientes da tireoide. | Artigo | Revisão de Literatura | A adição de Liotironina (LT3) à substituição contínua do Levotiroxina (LT4) ainda não foi definitivamente demonstrada como vantajosa. O tratamento da depressão da tireoide com LT3, além da terapia antidepressiva, carece de evidências convincentes de resultados superiores. |
Manifestações Neuropsiquiátric as de doenças da tireoide. | LEKURWA LE, Vedant. 2023 | Revisar a relação entre vários distúrbios neuropsiquiátricos | Artigo | Revisão de literatura | O hipertireoidismo subclínico, os níveis de hormônio estimulante da tireoide (TSH) abaixo do normal; e os altos níveis de tiroxina livre (T4) aumentam o risco de demência em idosos. |
A depressão e sua relação com o hipotireoidismo. | ALMEIDA, Mayra. 2013 | Determinar e identificar a relação entre a depressão e o hipotireoidismo. | Artigo | Revisão de literatura. | As perturbações psiquiátricas podem provocar alterações na função da tireóide que são normalizadas ao adotar-se tratamento psiquiátrico. Portanto, está indicado o tratamento com antidepressivos para a estabilização clínica com consequentes melhora laboratorial dos pacientes. Entretanto, o tratamento com antidepressivos pode alterar a fisiologia da tireoide. Assim, é necessário monitorizar sua função antes, durante e após a realização desse tratamento. |
Tratamento do hipotireoidismo em situações especiais. | RIZZO, Leonardo; MANA; Daniela. 2020 | Identificar os tratamentos conhecidos do hipotireoidismo | Artigo | Revisão de literatura. | Na maioria dos casos os sinais e sintomas da deficiência da tireoide geralmente desaparecem. No entanto, podem existir situações especiais coexistentes que possam potencialmente dificultar ou interferir no sucesso do tratamento, como no caso de pacientes idosos, cardíacos, entre outros. |
Medicina de precisão na Tireoidite imune e Hipotireoidismo | FERRARI, S.M et al. 2021 | Identificar a visão geral das evidências atualmente disponíveis em medicina personalizada em pacientes com tireoidite autoimune e hipotireoidismo. | Artigo | Revisão de literatura. | O Hormônio da Tireoide (HT) causa uma inflamação crônica do tecido tireoidiano, com uma condição de hipotireoidismo em 25% dos pacientes, e foi descrito pela primeira vez com sinais significativos de TA, infiltração linfocítica, atrofia de células foliculares, fibrose e bócio. O hormônio sintético L-T4 é recomendado como terapia de condições relacionadas ao hipotireoidismo, pois tem uma estrutura química semelhante ao T4. |
6 DISCUSSÃO
A análise dos artigos selecionados, demonstrou os impactos do hipotireoidismo na saúde mental e na qualidade de vida dos pacientes acometidos com a doença, e como essa deficiência está relacionada aos distúrbios neuropsicológicos que podem afetar diretamente na vida dos pacientes. Além disso, foi possível comprovar uma relação entre a doença e sua prevalência em determinadas faixas etárias e sexo.
De acordo com Almeida (2013), qualquer disfunção hormonal pode acarretar danos orgânicos, sejam eles mínimos ou severos. Os estudos analisados demonstraram uma alta prevalência de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão em pacientes com disfunção tireoidiana. Um estudo de caso, realizado no Departamento de Bioquímica na Índia, de 2008 a 2010, verificou que o valor médio total do hormônio T3 foi significativamente mais baixo nos pacientes com depressão. Destacando, dessa forma, a presença de disfunções da tireoide entre os pacientes com depressão, afirmando a forte evidência de que a depressão pode estar relacionada com o estado da tireoide.
Feldman (2013) ressaltou a grande relação que as funções neuropsicológicas possuem com a função da tireoide, isso porque a tireoide produz hormônios que regulam os órgãos do corpo humano, sendo um deles o cérebro, por exemplo. Dessa forma, a deficiência na produção de hormônios, o hipotireoidismo, pode causar distúrbios psicológicos, como a ansiedade e a depressão.
Para a análise dos resultados obtidos, foram empregados dois parâmetros: primeiramente, os efeitos do hipotireoidismo sobre a saúde mental, com destaque para a ansiedade e a depressão; em segundo lugar, os impactos do hipotireoidismo na qualidade de vida, manifestados por sintomas característicos como fadiga, exaustão e desânimo. A triiodotironina (T3) controla os níveis de serotonina e noradrenalina. Nessa perspectiva, transtornos de depressão e ansiedade podem ser causados por baixos níveis de T3, e essas doenças também estão associadas a baixos níveis de serotonina e noradrenalina (LEKURWALE, 2023). De acordo com uma metanálise, 25% dos casos com depressão resistente foram tratados com sucesso quando o T3 foi adicionado a antidepressivos tricíclicos (R, ARONSON, 1996; 53: 842-848).
Segundo Ferrari (2021), na população em geral, as mulheres têm um risco maior de desenvolver hipotireoidismo, a prevalência muda geograficamente, se tornando mais elevada em áreas com insuficiência de iodo. Na presença de tireoide autoimune, a frequência do hipotireoidismo aumenta com a idade. Além disso, a deficiência de selênio e vitamina D também configura um fator de risco para hipotireoidismo. Verificou-se que o hormônio sintético L-T4 é recomendado como terapia de condições relacionadas ao hipotireoidismo, pois possui uma estrutura química semelhante ao T4.
A tireoide de Hashimoto é a principal causadora do hipotireoidismo em crianças e adolescentes, no entanto, outras etiologias da doença são conhecidas. Uma delas é a falta de ingestão de iodo, como ressaltado por Ferrari (2021). Desde a década de 1950, a iodação de todo o sal destinado ao consumo humano é obrigatória. Naquela época, aproximadamente 20% da população apresentava Distúrbio por Deficiência de Iodo (DDI). Para reduzir essas altas prevalências, foi adotada a iodação universal do sal. Após cerca de seis décadas de intervenção, observa-se uma redução na prevalência de DDI no Brasil: 20,7% em 1955, 14,1% em 1974, 1,3% em 1994 e 1,4% em 2000 (Brasil, Ministério da Saúde, n.d.).
No artigo desenvolvido por Luana Bufalari (2013), foi possível analisar que em países desenvolvidos são raros os casos de deficiência de iodo, tornando-se mais predominante em países subdesenvolvidos, como em regiões da África e da América do Sul.
Isso ocorre devido à falta de políticas eficazes de saúde pública e à limitada disponibilidade de alimentos enriquecidos com iodo nessas regiões.
Manifestações clínicas como fatigabilidade, letargia, sonolência, lentidão e incapacidade de concentração são encontradas em crianças que possuem hipotireoidismo adquirido durante a infância. No hipotireoidismo congênito, a causa mais comum encontrada é a disgenesia, com a má formação da glândula, e no hipotireoidismo adquirido as origens autoimunes, como tireoide de Hashimoto, principalmente nesses países onde há deficiência de iodo.
7. CONCLUSÃO
O Iodo é um micronutriente vital para seres humanos e outros animais. Sua função principal no corpo humano é a produção de hormônios tireoidianos, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), na glândula tireoide localizada na parte frontal do pescoço. Esses hormônios são cruciais para o desenvolvimento físico e neurológico, além de regularem o metabolismo basal, que inclui a manutenção da temperatura corporal. Eles são essenciais para o bom funcionamento de diversos órgãos, como coração, fígado, rins, ovários, entre outros.
A fim de diminuir o risco de desenvolvimento de hipotireoidismo, é fundamental adotar uma alimentação adequada, garantindo a ingestão suficiente de iodo, um elemento crucial na síntese dos hormônios tireoidianos. Enquanto o hipotireoidismo de origem genética decorre de fatores hereditários intrínsecos ao indivíduo e, por isso, não pode ser prevenido, a forma adquirida da doença pode ser influenciada por fatores ambientais e de estilo de vida, como deficiência nutricional, exposição a certos medicamentos e tratamentos que afetam a tireoide. Portanto, a prevenção do hipotireoidismo adquirido passa por medidas preventivas como dieta adequada e monitoramento médico regular, especialmente em indivíduos com fatores de risco conhecidos, enquanto para as causas genéticas, o enfoque está no acompanhamento e tratamento contínuos para controlar os sintomas e manter a qualidade de vida.
Para detectar o hipotireoidismo, os exames mais comuns são os testes de função tireoidiana, que incluem a medição dos níveis séricos de TSH (hormônio estimulante da tireoide) e dos hormônios tireoidianos T3 e T4. Um aumento no TSH, associado a níveis reduzidos de T3 e T4, geralmente indica hipotireoidismo. Para evitar o desenvolvimento desta condição, é essencial manter uma dieta rica em iodo e realizar avaliações médicas regulares, especialmente se houver histórico familiar da doença ou outros fatores de risco associados. A detecção precoce e a gestão adequada, incluindo a terapia de reposição hormonal quando necessário, são cruciais para prevenir as complicações associadas ao hipotireoidismo e garantir uma boa qualidade de vida.
Dessa forma, foi possível analisar e investigar acerca dos impactos gerados pelo hipotireoidismo tanto na saúde mental quanto na qualidade de vida, que são dois fatores inteiramente relacionados, visto que a saúde mental e física devem estar associadas uma a outra. Nesse parâmetro, é necessário destacar a prevalência de sintomas físicos e psicológicos decorrentes da falta de produção dos hormônios tireoidianos.
A investigação em virtude do hipotireoidismo relacionado à saúde mental é de suma importância, isso porque essa deficiência é frequente na população, e seus impactos podem prejudicar a qualidade de vida dos pacientes, sendo necessário, portanto, analisar a doença em pacientes com patologias psiquiátricas prévias, como a depressão, e destacar a associação desses distúrbios ao hipotireoidismo.
REFERÊNCIAS
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