IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE PAGAMENTOS PIX EM UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO INDEPENDENTE DO OESTE DE SANTA CATARINA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10080934


Michele Bertocchi1
Ivano Ribeiro2


RESUMO

Nas últimas décadas o segmento de meios de pagamento vem passando por inúmeras evoluções. Isso se deve principalmente em razão da constante globalização, competição, regulação e avanços tecnológicos que permeiam esse ambiente, com efeitos diretos na estruturação do mercado. A mais recente inovação criada pelo Banco Central do Brasil denomina-se PIX, revolucionando os antigos métodos ao possibilitar que as transações financeiras sejam realizadas em tempo real, a qualquer dia e horário. Imediatamente, grande parte das cooperativas de crédito aderiram a este serviço, representando hoje a maior parcela das instituições homologadas. Neste contexto, o presente estudo busca responder ao seguinte questionamento: como a implantação do Sistema de Pagamentos PIX impactou uma cooperativa de crédito independente localizada no Oeste de Santa Catarina? Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo e exploratório, cujos dados foram coletados junto aos diretores da instituição financeira por meio de entrevista semiestruturada, além de análises documentais de publicações administrativas internas. Esta pesquisa identificou os impactos positivos obtidos com a implantação do sistema de pagamentos PIX na cooperativa em questão, homologada logo no início como participante no SPI e posteriormente como participante responsável. A adesão da instituição como liquidante especial proporcionou o atendimento a instituições indiretas de grande volumetria (IPs, SCDs e Fintechs), possibilitando o rateio de custos ao otimizar o uso da infraestrutura. Além disso, identificou-se que o volume de depósitos presentes na Conta PI remunerados pela SELIC constituem uma importante fonte de receita que viabiliza o sistema implantado e permite a desoneração dos demais produtos e serviços ofertados ao quadro social. Observou-se ainda que os números recentes da instituição estão em constante crescimento, com expressivo aumento no volume de transações no início do ano de 2023. As contribuições desta pesquisa para o meio acadêmico residem no fornecimento de subsídio para novos estudos acerca dos pagamentos instantâneos e para as instituições financeiras cooperativas no sentido de utilizar seus resultados para auxiliar na tomada de decisão e visualização de oportunidades no que concerne ao Sistema de Pagamento Instantâneo.

Palavras-chave: Meios de Pagamento; Sistema de Pagamento Instantâneo; Cooperativas de Crédito. 

1 INTRODUÇÃO

Os sistemas de pagamento têm sofrido transformações significativas ao longo do tempo, impulsionados pela evolução tecnológica e pelas mudanças nos hábitos dos consumidores. Essa evolução tem sido marcada pela busca por maior segurança, eficiência e conveniência, orientada pelas preferências dos usuários que, cada vez mais, valorizam a rapidez e a facilidade nas transações (FARIAS, 2017; ARANGO; TAYLOR, 2008). Neste contexto, surge o PIX, implementado pelo Banco Central do Brasil em novembro de 2020, destacando-se por permitir movimentações imediatas de valores com disponibilidade integral (24 horas por dia, sete dias por semana), marcando um passo adiante na inovação dos serviços financeiros (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020; COSTA, 2021).

Para as cooperativas de crédito, especialmente as independentes do Oeste de Santa Catarina, a adoção do PIX representa uma oportunidade de permanecerem competitivas e alinhadas com as tendências de mercado, frente ao desafio de atrair e reter sócios em um cenário de intensa regulação e inovação tecnológica (MEINEN; PORT, 2014). Com 80% das cooperativas de crédito inscritas como participantes no Sistema de Pagamento Instantâneo (SPI), a relevância estratégica do PIX é clara (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021).

Além do avanço tecnológico, o PIX se configura como uma ferramenta de inclusão financeira, potencialmente alcançando os 45 milhões de brasileiros adultos que estão à margem do sistema financeiro tradicional (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020). Portanto, a adoção do PIX por uma cooperativa de crédito independente não só pode fortalecer a sua posição competitiva, mas também desempenhar um papel social significativo na comunidade local.

Isso se evidencia pois, apesar do pouco tempo de surgimento e uso, o PIX já é considerado o principal método de transferência de dinheiro no país, abandonando a utilização de outros mecanismos como TED e DOC (RIMONATO; SANTOS, 2021). Diante destas explicações sobre o tema deste trabalho, tem-se o seguinte problema de pesquisa: Como a implantação do sistema de pagamentos PIX impactou uma cooperativa de crédito independente? 

Para isso, o objetivo geral da pesquisa foi analisar como a implantação do sistema de pagamentos PIX impactou uma cooperativa de crédito independente. Já seus objetivos específicos foram os de a) verificar as mudanças ocorridas após a implantação do PIX na perspectiva de diretores em uma cooperativa de crédito independente; b) levantar informações documentais referentes ao período anterior e posterior a implantação do PIX em uma cooperativa de crédito independente; c) avaliar o impacto financeiro decorrente da implantação do PIX em uma cooperativa de crédito independente e; d) identificar quais as possíveis vantagens obtidas após a implantação do PIX em uma cooperativa de crédito independente.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Sistema de pagamento instantâneo

A atividade econômica pode ter qualquer motivo, mas seu significado é sempre a satisfação das necessidades humanas. As inovações, porém, não surgem de forma espontânea às novas necessidades dos consumidores, visto que é incumbido ao produtor iniciar a mudança econômica. Os consumidores, por sua vez, são convencidos pelo fabricante a desejar coisas novas, “ou coisas que diferem em algum aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar” (SCHUMPETER, 1982, p. 14). 

Nesse sentido, a indústria de pagamentos passa por uma convergência entre tecnologia e processamento de transações, beneficiando os participantes deste setor no sentido de que as mudanças ocorridas no comportamento do consumidor, favorecem também a adoção de novos métodos de pagamento (DEWAN; CHEN, 2005). Logo, para além do desenvolvimento tecnológico, certas condições são tidas como fundamentalmente importantes na viabilização da oferta de novos produtos e serviços financeiros para o mercado. É necessário a ocorrência de mudanças institucionais, como a alteração de leis vigentes, para facilitar a atuação de novas empresas ofertantes de serviços de pagamentos, que como consequência, favorece a sua adoção pelos consumidores (BRAIDO, 2019). 

O cenário atual do Sistema Financeiro Nacional é resultado de uma série de desdobramentos ocorridos no decorrer das últimas décadas. Inserido neste contexto, destacam-se os meios de pagamento, um importante segmento do sistema financeiro por onde transita uma boa parte do produto interno bruto brasileiro e que, nos últimos 10 anos vêm sofrendo mudanças disruptivas. A partir destas inovações e transformações surgiram novos produtos e serviços que “possibilitaram aos bancos oferecer um amplo portfólio de serviços aos clientes, aumentando e diversificando suas fontes de receita” (SCHERER, 2019, p. 12). 

A mais recente inovação nos meios de pagamento no Brasil refere-se ao Sistema de Pagamento Instantâneo (SPI), que permite a imediata movimentação de valores entre usuários e empresas e intitula-se PIX (COSTA, 2021). O Banco Central do Brasil divulgou a tecnologia em fevereiro de 2020 e posteriormente, em novembro do mesmo ano, colocou em funcionamento no mercado. Dentre as principais funcionalidades do sistema PIX encontram-se um aumento da oferta de serviços financeiros aos usuários, a disponibilidade 24 horas por dia durante os sete dias da semana e um aumento da conveniência ao permitir ao usuário uma experiência mais simples de pagamento (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020). Além de aumentar a velocidade com que os pagamentos são feitos e recebidos, o PIX tem o potencial de alavancar a competitividade e a eficiência do mercado; baixar o custo, aumentar a segurança e aprimorar a experiência dos clientes; incentivar a eletronização do mercado de pagamentos de varejo; promover a inclusão financeira; e preencher uma série de lacunas existentes na cesta de instrumentos de pagamentos disponíveis atualmente à população (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021).

A implantação do sistema de pagamento instantâneo pelas fintechs e pelas instituições de pagamento permite transferências de valores em dias não úteis e fora do horário comercial, sem que haja a cobrança de taxas para usuários ou portadores de cartão, configurando-se um diferencial que fez com que houvesse uma migração dos modelos de transferências digitais tradicionais (NETO, 2021). Ainda, a proposta é de que a nova modalidade de pagamentos seja mais veloz do que os outros métodos atuais, e que a transação se concretize com segurança em até dez segundos, o que inclui a rede do Sistema Financeiro Nacional e uso de diferentes métodos de autenticação do usuário (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020).

Dados colhidos pelo Banco Central do Brasil apontam que até o último dia do ano de 2021 haviam 381.157.009 chaves cadastradas no SPI (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021). O cadastro da chave é o primeiro passo para realização de transferências instantâneas, que podem ser por Cadastro de Pessoa Física (CPF), Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), e-mail, número de celular ou um código definido pelo portador (NETO, 2021). A quantidade mensal de transações no SPI foi de mais de 1,2 bilhões em dezembro de 2021, com movimentação de cerca de R$ 622,4 bilhões (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021). Apesar do pouco tempo de utilização, o PIX já é considerado o principal método de transferência de dinheiro no país, deixando para trás a utilização de outros mecanismos como TED e DOC (RIMONATO; SANTOS, 2021).

Tal inovação configura-se como uma grande oportunidade para empresas do setor, em especial para instituições financeiras que precisam acompanhar as mudanças para evitar a obsolescência (COSTA, 2021). Neste contexto, as cooperativas de crédito do Sistema Financeiro Nacional enfrentam o desafio de apresentar produtos competitivos em face do crescente aumento da carga regulamentar, das inovações nos meios de pagamentos e do aumento no número de sócios (MEINEN; PORT, 2014). Atualmente, o novo sistema de pagamentos instantâneo PIX do Banco Central do Brasil conta com 768 instituições financeiras cadastradas, e deste montante 80% constitui-se por cooperativas de crédito, ou seja, 615 destas, o que denota a importância competitiva para o setor. Além disso, quanto a participação no SPI, 112 instituições são participantes diretas, 656 são participantes indiretas e 18 instituições são participantes responsáveis (participantes diretos que possuem autorização do Banco Central do Brasil para liquidar operações de participantes indiretos) (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021).

Relatórios do BCB apontam que 45 milhões de brasileiros adultos não possuem qualquer tipo de conta bancária, não utilizando, portanto, o Sistema Financeiro Nacional (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020). Para além de uma ferramenta tecnológica, o PIX também é considerado uma ferramenta de inclusão (RIMONATO; SANTOS, 2021). Entende-se que “o desenvolvimento da cidadania financeira se dá por meio de um contexto de inclusão financeira, de educação financeira, de proteção ao consumidor de serviços financeiros e de participação no diálogo sobre o sistema financeiro” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2018, p. 8). Adicionalmente, pode-se afirmar que o PIX permite a inclusão de qualquer indivíduo com capacidade para realizar operações com dinheiro visto que possui uma interface simples e demanda apenas o cadastro de uma conta vinculada a um CPF, telefone ou e-mail, ao passo que, a transferência bancária tradicional ou por meio de DOC/TED exige inúmeras informações que por vezes são complexas e pouco compreensíveis para grande parte da população (SANTIAGO; ZANETONI; VITA, 2020).

Sob a ótica da liberdade individual, o PIX permite que os usuários realizem a gestão de seus próprios recursos por intermédio do aparelho celular, sem submeter-se ao uso de máquinas de cartão de crédito ou bancos para auferirem transações comerciais, por exemplo. Deste modo, além de estimular a economia nos pequenos municípios, possibilita maior alcance aos pequenos comerciantes e prestadores de serviços ao ofertarem suas mercadorias e serviços. O PIX permite a utilização do sistema financeiro aberto (Open Banking), garantindo o acesso e o surgimento de players (empresas relevantes no mercado em que estão inseridas) que atendam às necessidades e expectativas desses usuários, produzindo externalidades positivas do ponto de vista concorrencial (SANTIAGO; ZANETONI; VITA, 2020).

2.2 O PIX como instrumento de dinamização econômica

O PIX surgiu como uma alternativa aos meios de pagamento tradicionais como TED e DOC. As transações de pagamento via boleto bancário permitem a leitura por código de barras, enquanto o PIX pode ser pago através da leitura de um QR Code (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020). A diferença entre os dois mecanismos é que a liquidação dos pagamentos pelo PIX ocorre em tempo real, onde o pagador e o recebedor são notificados a respeito da conclusão da transação (ANTUNES; QUARESMA, 2020). 

A mais recente mudança promovida pelo BCB determinou que os limites máximos do PIX fossem iguais aos da Transferência Eletrônica Direta (TED). Os valores máximos de movimentação são definidos pela instituição financeira, com base no horário, dia da semana, o canal usado e a titularidade da conta, visando garantir maior segurança do usuário. A qualquer momento, o correntista pode solicitar a alteração dos limites atuais de movimentação. Se for para diminuir este limite, a instituição financeira é obrigada a acatar o pedido de modo instantâneo. O aumento do limite fica a critério da instituição, após a avaliação do perfil do cliente (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021).

Um dos benefícios visíveis do sistema PIX está na “eletronização dos meios de pagamentos no ecossistema”, esta competição possibilita a geração de serviços com maior qualidade e menor custo, concomitante ao grande potencial de inclusão financeira (DIAS, 2021, p. 9). Isso se deve em grande medida ao ambiente com mais agentes ofertantes, que estimulam a entrada de fintechs e big techs. Ainda, o PIX tem se mostrado promissor para a inovação aliado ao surgimento de novos modelos de negócio. Além disso, irá promover informações que possibilitarão às instituições conhecerem melhor o perfil de seus clientes, sendo possível ofertar produtos e serviços personalizados de acordo com a real necessidade de cada consumidor (ANTUNES; QUARESMA, 2020). Todos os setores serão transformados com a implantação do PIX, isso abrange: “transações person-to-person (P2P – de pessoa para pessoa), pagamentos no varejo físico, compras online em plataformas de comércio eletrônico e transações business-to-business (B2B – entre empresas)” (LIMA; RESENDE, 2021, p. 4),

Quanto à inclusão financeira dos pequenos negócios, o PIX apresenta-se como uma solução atrativa e com menos desafios, beneficiando parte da população microempreendedora. Isso ocorre, pois, as compras e vendas realizadas nos estabelecimentos físicos, ou até os comerciantes que são reconhecidos como “ambulantes”, poderão concretizar suas vendas de forma ágil e com menos custos, não sendo necessária a utilização de máquinas de cartão de crédito. Com isso, também é possível afirmar que a segurança do consumidor tende a aumentar, visto que as transações realizadas via PIX descartam a necessidade do uso do cartão de crédito em locais desconhecidos, prevenindo a clonagem de cartões de crédito e fraudes (ANTUNES; QUARESMA, 2020). 

Por fim, com base nas perspectivas e desafios, o objetivo do Banco Central do Brasil ao instituir o PIX é o de atender toda a população brasileira e ao mesmo tempo reduzir a circulação da moeda em espécie do Sistema Financeiro Nacional (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020). Nesse sentido, o lançamento do PIX irá gerar um avanço tecnológico significativo nas atuais relações socioeconômicas de parte da população brasileira que possui os mecanismos tecnológicos necessários para fazê-lo. Ainda, é importante salientar que o PIX trará para os bancos, instituições financeiras e de pagamento uma ampliação nas formas de realizar transações já existentes, possibilitando a oferta de um método de pagamento extremamente eficaz, rápido e simples (ANTUNES; QUARESMA, 2020).

3 METODOLOGIA

Quanto à natureza ou abordagem da pesquisa, este estudo caracteriza-se como qualitativo. Isso ocorre, pois, para atender aos objetivos da pesquisa se aproxima do objeto para analisá-lo em maior profundidade (GIL, 2008). Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa exploratória. Neste método de pesquisa busca-se obter maior familiaridade com o problema, com o intuito de torná-lo mais explícito ou construir novas hipóteses, utilizando-se para isso do levantamento bibliográfico e entrevistas (GIL, 2007). 

Quanto aos meios e procedimentos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa bibliográfica é realizada com a utilização de materiais já existentes, que são geralmente livros e artigos científicos (GIL, 2008). Já o estudo de caso trata-se de um “estudo aprofundado sobre objetos que podem ser um indivíduo, uma organização, um grupo ou um fenômeno e que pode ser aplicado nas mais diversas áreas do conhecimento” (GIL, 2007, p. 58). Esta pesquisa buscou dentro da organização cooperativa os relatos dos diretores em relação aos movimentos de adesão ao SPI (Sistema de Pagamento Instantâneo) e seus impactos, além de confrontá-los com os dados presentes nos relatórios e documentos subsidiados pela instituição.

Pode-se definir o universo ou população a ser pesquisada como sendo um conjunto de seres animados ou inanimados em que se observa ao menos uma característica em comum (LAKATOS E MARCONI, 2001). Diante disso, os participantes da pesquisa contemplam os diretores da cooperativa em estudo, correspondendo a um total de 4 diretores, assim distribuídos: 1 Diretor de Operações, 1 Diretor Executivo, 1 Diretor Comercial e 1 CTO de Tecnologia. O detalhamento das informações respectivas ao perfil dos diretores entrevistados encontra-se no Quadro 1:

Quadro 1 – Perfil dos diretores entrevistados


Entrevistado

Cargo

Funções que executa
Tempo de trabalho na cooperativa

Entrevistado (1)

Diretor de Operações
Responsável pela retaguarda da cooperativa: financeiro, compliance, administrativo, controle interno e jurídico, auditorias e Banco Central do Brasil.
10 anos

Entrevistado (2)

Diretor Executivo
Responsável por questões de posicionamento estratégico, de inovação e grandes negócios.
16 anos

Entrevistado (3)

Diretor Comercial
Responsável por toda a área comercial e de relacionamento com os gerentes, com a equipe comercial de modo geral e com as operações do dia a dia.
13 anos

Entrevistado (4)

CTO de Tecnologia
Responsável por toda a parte de desenvolvimento de softwares (o software que trafega mensagem PIX, do Core Bancário às APIs do Banco Central, o próprio Core Bancário, assim como Internet Banking e APP).
6 anos

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2022)

Para a realização do diagnóstico dos impactos da adoção do novo sistema de pagamentos PIX na cooperativa de crédito em estudo, foram realizadas entrevistas e análises documentais. Estas entrevistas contemplam todos os diretores, e, portanto, o presente trabalho de pesquisa não definiu amostragem. A estruturação da entrevista foi elaborada com base na revisão de literatura realizada previamente, nas resoluções e arcabouço normativo do Banco Central do Brasil e, sobretudo, a partir das informações necessárias para atingir os objetivos geral e específicos desta pesquisa. O roteiro da entrevista foi elaborado com perguntas de 1 a 11 relacionadas à percepção dos impactos do fenômeno analisado na instituição financeira.

Além da entrevista, esta pesquisa utiliza o método de análise documental para obtenção de dados. A análise documental consiste em: “um procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos” (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 5). Neste trabalho os documentos analisados são publicações administrativas internas da cooperativa de crédito, mais especificamente da área de Back Office, que datam anos anteriores e posteriores à adesão ao SPI (Sistema de Pagamento Instantâneo) em novembro de 2020, até o ano de 2022.  Contemplam o balanço patrimonial, as transações presentes no PSTI (Provedores de Serviços de Tecnologia da Informação) e a lista de transações realizadas. Os documentos em questão foram extraídos do banco de dados da cooperativa, com o auxílio da área de TI e do CTO de Tecnologia da instituição. 

A análise de dados na pesquisa científica consiste basicamente em: “examinar, categorizar, classificar em tabelas, testar ou, do contrário, recombinar as evidências quantitativas e qualitativas para tratar as proposições iniciais de um estudo” (YIN, 2001, p. 137). Esta pesquisa empregou o método de análise de conteúdo. A análise de conteúdo consiste em um conjunto de técnicas de análise de comunicações que possuem cunho metodológico, aplicando-se a discursos extremamente diversificados utilizando-se de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (BARDIN, 2011),  Ainda, existem três fases para consecução da análise de conteúdo: 1) pré-análise (organização e sistematização das principais ideias), 2) exploração do material (codificação, classificação e categorização) e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação (condensação e destaque das informações para análise, culminando em interpretações inferenciais) (BARDIN, 2006). 

4 RESULTADOS

4.1 Sistema PIX na cooperativa 

Antes de analisar detidamente, cabe esclarecer o funcionamento do tráfego de mensageria PIX entre a cooperativa e o Banco Central do Brasil, bem como a estrutura tecnológica necessária para que isto ocorra. Inicialmente, toda a transação nasce onde o usuário envia um PIX por meio do aplicativo do seu banco, o qual encaminha uma mensagem ao BCB com os dados do pagador e do recebedor (PAC008). Assim, o BCB encaminha para a instituição recebedora a mesma mensagem (PAC008), e após a instituição recebedora validar os dados, envia para o BCB uma mensagem de resposta (PAC002) informado se aceita ou rejeita a transação PIX.

Caso a instituição recebedora aceite a transação, ela envia uma PAC002 ao BCB dizendo que aceita, e, na sequência, o BCB envia duas PAC002, uma para a instituição recebedora confirmando o crédito e para a outra instituição que deve debitar o saldo da conta.

Caso a instituição recebedora rejeite o pagamento – pelos seguintes motivos: conta inválida, conta bloqueada, documento diferente, conta com restrição, limite acima do permitido pelo PSP (Participante do Sistema de Pagamento Recebedor) – a instituição recebedora envia ao BCB uma nova PAC002 com o motivo da rejeição. Em seguida o BCB finaliza informando por meio de uma nova PAC002 ambas as instituições que foi rejeitado e por quê. 

O fluxo total deste tráfego de mensageria não pode passar de 30 segundos, caso ultrapasse, o BCB encerra por Timeout (tempo expirado) também por meio de uma PAC002. Toda essa gestão de mensagens é feita por meio de um software desenvolvido por um PSTI contratado pela cooperativa, o qual integra as APIs do Banco Central do Brasil com o Core Bancário de uma instituição financeira, no caso em questão, a cooperativa em estudo.

4.2 Investigação

A técnica de análise do conteúdo foi empregada na avaliação dos dados coletados na entrevista por meio do software MAXQDA, indicado para análises qualitativas de dados. As categorias dos códigos partiram da teoria e emergiram também das descritivas das entrevistas. No software MAXQDA foram segmentados trechos correspondentes a cada uma das perguntas presentes do Apêndice 1 deste trabalho. 

A partir de uma segmentação a posteriori, surgiram 11 segmentos relacionados a temas centrais referentes ao processo de implantação do sistema PIX na cooperativa. Destes 11 segmentos foram identificados 115 códigos correspondentes que foram contabilizados com maior ou menor grau de influência sobre o segmento analisado a partir das menções por diferentes diretores entrevistados. A Tabela 1 apresenta a segmentação realizada e os principais códigos correspondentes a cada segmento. 

Tabela 1 – Segmentação e códigos

Segmento InicialCódigosNº de Menções
ImplantaçãoUnanimidade4
Incerteza2

Homologação
Critérios técnicos3
Critérios operacionais2
Capacidade financeira2
Capacidade da direção2
Gestão de mensageria2

Fatores para homologação
Visão3
Ousadia3
Capacidade da equipe2

Participantes responsáveis
Rateio de custos3
Prestação de serviços3
Geração de receita3
Atendimento a indiretos2

Rigor BCB no PIX
Rigor em todos os serviços3
Conservadorismo2
Evolução2
Flexibilidade2
Comunicação facilitada2

Modalidades PIX
Habilitada para todos os produtos4
PIX cobrança2
Chave PIX2

Carro-chefe
Serviços via API2
Plataformas para indiretos2
PIX cobrança2

Prestação de serviços à indiretos
Geração de receita4
Custeio da infraestrutura4
Remuneração pelos depósitos3
Autorização BCB2

SELIC
Significância4
Volume de depósitos2
Valor da SELIC2
Principal fonte de receita2

Oportunidades
Assertividade3
Agregação de negócios3
Preço competitivo2
Crescimento da estrutura2
Controle2
CompetitividadeRentabilidade3

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

A partir dos segmentos identificados e dos códigos correspondentes foram geradas ilustrações gráficas que representam a análise apresentada acima, permitindo a visualização clara da ligação e do grau de importância de um determinado código em relação ao segmento analisado.

4.3 Resultados das entrevistas com diretores 

O primeiro segmento analisado refere-se ao processo de implantação do PIX na cooperativa. Neste item, os entrevistados pontuaram que inicialmente, havia muitas dúvidas e incertezas, no entanto, como tudo na cooperativa, a decisão de implantação se deu por unanimidade, através de um processo de construção conjunta tido entre Conselho e Diretoria.  O Quadro 2 apresenta trechos das falas de cada um dos diretores entrevistados (E), enaltecendo a decisão unânime de implantação deste sistema de pagamento na cooperativa, bem como as impressões iniciais dos membros da Diretoria.  

Quadro 2 – Implantação do PIX 

E 1 – Diretor de Operaçõescomo a maioria das decisões impactantes da cooperativa, ela foi um processo construído em conjunto”. 
E 2 – Diretor Executivo“apesar de ele ter sido aprovado por unanimidade, existiu um certo desconforto, porque as pessoas não tinham uma compreensão muito lógica e muito clara do que seria esse meio de pagamento”.
E 3 – Diretor Comercial“foi unânime a compreensão de que era uma grande oportunidade para a cooperativa”.
E 4 – Diretor de Tecnologia“Sim, ele foi unânime, […] todas as decisões, a diretoria leva para o conselho para ser mais assertivo na tomada de decisão”. 

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Na sequência, quando questionados acerca dos requisitos para serem aprovados na primeira fase do PIX, em conjunto de outras 91 instituições financeiras, os Es pontuaram que o Banco Central do Brasil analisou um conjunto de critérios técnicos e operacionais. 

Dentre estes critérios, a instituição precisava atender a requisitos de capacidade, de tecnologia, de condição financeira e de direção. Além disso, os testes analisaram o padrão de processamento e a gestão de mensageria, que tinham de estar de acordo com o padrão e o tempo de processamento estabelecidos no arcabouço normativo do Banco Central do Brasil. Isso se evidencia claramente nos trechos citados no Quadro 3, no qual um dos diretores reporta uma dificuldade inicial com o fornecedor de serviço, que precisou ser sanada para adequar-se aos requisitos de tempo e volumetria de transações.

Quadro 3 – Processo homologatório

E 1 – Diretor de Operações“o processo homologatório levava em consideração critérios técnicos e critérios técnicos operacionais e critérios de homologação de cadastro junto ao Banco Central”. 
E 2 – Diretor Executivo“a gente teve muita dificuldade com o fornecedor de serviço, tanto é verdade que para a gente poder passar nos testes, o nosso time de tecnologia teve que desenvolver um algoritmo que fizesse a gestão dessas mensagens e pudesse processá-las, naquele volume que o Banco Central determinou em tantos minutos”. 
E 3 – Diretor Comercialo Banco Central exigiu todos os testes e comprovações necessárias para que não permitisse a adesão no PIX de estruturas que não tivessem com capacidade técnica ou financeira”.
E 4 – Diretor de Tecnologiacapital mínimo, tinha que ter a instituição regulada.  E também na parte tecnológica era necessário atender os requisitos de teste de capacidade, usabilidade do usuário e também fornecer todos os testes que eles solicitam de transação”. 

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Posteriormente, quando questionados em relação aos fatores que fizeram com que uma cooperativa pequena – quando comparada a grandes instituições presentes no sistema financeiro nacional – conseguisse ser homologada como participante do PIX na primeira fase, os Es pontuaram fatores internos que permitiram este acontecimento. 

Destacam-se a visão de longo prazo de seus dirigentes, em conjunto com a ousadia e a capacidade técnica da equipe. Um dos Es pontuou inclusive o porte da cooperativa como algo que trouxe benefícios neste processo, uma vez que por se tratar de uma estrutura enxuta, é mais fácil adaptá-la a estas mudanças. Os principais pontos encontram-se compilados no Quadro 4.

Quadro 4 – Fatores para homologação

E 1 – Diretor de Operações“Eu vejo como uma facilidade o fato de você não ter um tamanho, um porte tão grande, faz com que você se movimente com maior agilidade
E 2 – Diretor Executivo“o nosso conhecimento de que o sistema financeiro teria mudanças profundas é um dos fatores.  E o segundo e derradeiro fator é ter no nosso quadro pessoas que dominavam a tecnologia”.
E 3 – Diretor Comercial“acredito que ter acreditado no projeto é o que realmente fez com que nós tivéssemos passado essa etapa e outros bancos não”
E 4 – Diretor de Tecnologia“a cooperativa ela é pequena, mas as pessoas pensam grande, tem condição de ser grande.  E isso faz com que a cooperativa evolua da forma que está evoluindo hoje”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Na primeira fase do PIX, 17 instituições obtiveram aprovação do Banco Central do Brasil para atuarem como participantes responsáveis, estando a cooperativa dentre estas instituições. Atualmente são apenas 19 instituições com esta atuação. Em relação a homologação como participante responsável, os diretores atribuem sua importância para o rateio de custos. 

A questão da otimização da estrutura é fundamental para a cooperativa, uma vez que o custo para manter o sistema é elevado e com isso é possível utilizar a estrutura existente para prestar serviços à indiretos. Isso possibilita a ascensão de mercado e torna a cooperativa visível dentro do cenário financeiro nacional, assim como pontuam os diretores no Quadro 5.

Quadro 5 – Participantes responsáveis

E 1 – Diretor de Operações“a mesma estrutura que atende o quadro social consegue atender outras instituições.  Desse modo, se ela tem o custo, diminui o custo para a instituição, porque nós temos fontes de receita alternativas com esses indiretos do PIX”.
E 2 – Diretor Executivo“possibilidade de otimizar os nossos recursos de tecnologia, assim como os nossos recursos humanos que estão envolvidos na operação”.
E 3 – Diretor Comercial“quando a gente surgiu, o TED já existia, não foi uma oportunidade que nós tivemos condições de aproveitar.  Essa é uma oportunidade que transforma o sistema financeiro e que nos daria uma condição de estar”
E 4 – Diretor de Tecnologia“para a cooperativa é muito importante porque ela acabou tendo visibilidade no cenário nacional entre as instituições financeiras, Fintechs, SCDs, IPs, por ser uma prestadora de serviço nesse cenário”. 

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Quando questionados acerca do grau de rigorosidade no tratamento do PIX pelo Banco Central do Brasil, quase todos mencionaram que o rigor com que o BCB trata o PIX está presente em todos os serviços financeiros, por se tratar de uma instituição conservadora, burocrata e legalista. 

Entretanto, observa-se ainda que ao se tratar do PIX, os Es ressaltam uma comunicação facilitada, decorrente de um processo de evolução e amadurecimento, e de uma equipe inovadora que proporcionou maior flexibilidade e agilidade neste processo, como descrito no Quadro 6.

Quadro 6 – Rigor do BCB no PIX

E 1 – Diretor de Operações“eu entendo que o PIX tem um cenário um pouquinho mais facilitado no que tange a comunicação, embora rigoroso, mas uma comunicação mais fluida, uma troca de informações mais fluida por e-mail, uma equipe que atua no PIX tem uma interação mais próxima dos participantes”.
E 2 – Diretor Executivo“o time que toca este projeto é um time que aceita a inovação, até porque o PIX é a inovação por si só.  Mas trata com muito rigor os casos de fraude e tudo que se contrapõe aquilo que foi escrito para estruturar este meio de pagamento”.
E 3 – Diretor Comercial“o Banco Central se obrigou a evoluir, a rasgar algumas questões, eles eram bastante conservadores e engessados, e no PIX eles tiveram que rasgar isso para conseguir encaixar”.
E 4 – Diretor de Tecnologia“o PIX hoje, toda a ação que eles tomam é baseada em várias medidas, onde começa com uma consulta popular, passa por um fórum de amadurecimento, passa por testes antes de serem implementados”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

No que se refere às modalidades PIX que são ofertadas aos cooperados, a unanimidade dos respondentes apontou a habilitação da cooperativa para todos os produtos PIX disponibilizados hoje no mercado. Dentre estas modalidades se encontram o PIX Cobrança, PIX Saque, PIX Troco, Recebe PIX, além das Chaves PIX através de e-mail, CNPJ, CPF, número de telefone e PIX Copia e Cola. 

Ainda, como aponta o Diretor Executivo no Quadro 8, a cooperativa permanece em constante evolução às novas funcionalidades disponibilizadas pelo Banco Central do Brasil para o sistema PIX, de modo que buscam vinculá-las à sua cartela de produtos quando lançadas.

Quadro 7 – Modalidades PIX

E 1 – Diretor de Operações“a cooperativa está habilitada a atuar em todos os produtos.  O mais utilizado é a transação normal de envio de dinheiro, recebimento de dinheiro pelo PIX com uso de QR Codes e chaves”. 
E 2 – Diretor Executivo“quando o Banco Central lança uma resolução evoluindo a funcionalidade do PIX, a cooperativa disponibiliza esse serviço por meio da tecnologia envolvida nesse processo”.
E 3 – Diretor Comercialtodas as modalidades, tudo que tem disponível dentro da ferramenta PIX é o que a cooperativa oferece”.
E 4 – Diretor de Tecnologia“hoje o associado pode estar fazendo PIX, recebendo PIX, gerando PIX saque, PIX troco, podendo também emitir cobranças a partir de APIs, cobranças com vencimento”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Posteriormente, os Es foram indagados a respeito da oferta de serviço atrelada ao PIX que gera a maior rentabilidade para a cooperativa. Dentre os serviços prestados, destacaram-se os serviços via API e as plataformas que atendem indiretos – já que a cooperativa é habilitada para prestar este serviço como participante responsável – além do PIX Cobrança, modalidade que também é uma das maiores geradoras de receita. 

Observa-se que sinteticamente existem duas vertentes de maior significância na geração de receita para a cooperativa, o Recebe PIX e PIX Cobrança, disponibilizados pela API do PIX e a liquidação especial, modalidade que permite o atendimento de Instituições de Pagamento, conforme o Quadro 8.

Quadro 8 – Fontes de rentabilidade

E 1 – Diretor de Operações“o carro-chefe da cooperativa é a integração de plataformas para os indiretos ou clientes da cooperativa, no caso, que vêm consumir os serviços ligados à API”.
E 2 – Diretor Executivo“o nosso caro chefe hoje é a modalidade de cobrança”.
E 3 – Diretor Comercialrecebe e paga do PIX, entrada e saída de PIX é o que a gente mais tem utilizado”.  
E 4 – Diretor de Tecnologia“eu atrelo dois, duas verticais.  Uma é na modalidade de liquidante especial, que a gente atende as IPs, […] e também a API do PIX, que é uma vertical que atende diretamente ao associado e terceiros através de Bank as a service, através da API com cobranças imediatas e cobranças com vencimento”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Quando questionados sobre a prestação de serviços à indiretos, todos os diretores afirmaram que essa possibilidade existe pelo fato de a cooperativa estar habilitada a atuar como participante responsável pelo Banco Central do Brasil.

Neste contexto, as vantagens de prestar este tipo de serviço são principalmente de geração de receita e remuneração pelos depósitos presentes na conta PI através da taxa SELIC, o que possibilita o rateio de custos e custeio da infraestrutura, como observado nos relatos dos diretores da cooperativa no Quadro 9.

Quadro 9 – Prestação de serviços à indiretos

E 1 – Diretor de Operações“a cooperativa tem uma possibilidade de gerar receita com esses serviços, e essa receita acaba custeando o produto PIX, custeando toda a plataforma e a infraestrutura”.
E 2 – Diretor Executivoremunera o serviço da cooperativa, remunera o serviço da tecnologia.  E também aumentam os depósitos da cooperativa que nos possibilita aumentar nosso volume de carteira”.  
E 3 – Diretor Comercial“quando você presta esse serviço, você tem depósitos oriundo dessas empresas, das IPs, instituições de pagamento em geral, você tem condições de usar esse dinheiro para injetar no teu ecossistema”.
E 4 – Diretor de Tecnologia“como liquidante especial ela pode prestar esse tipo de serviço sim, a SCDs, IPs, todas as modalidades de Fintechs.  E a vantagem é que você traz renda para dentro da cooperativa através da prestação de serviço”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

No que se refere aos ganhos auferidos pelo pagamento da SELIC aos participantes diretos do PIX que possuem depósitos na conta PI, a unanimidade dos diretores Es apontou que a rentabilidade possui grande significância para a cooperativa. Isso se deve em razão do volume de depósitos que existem hoje serem elevados e remunerados pelo valor da taxa SELIC, o que contribui para que estes depósitos sejam uma das principais fontes de receita da cooperativa e um mecanismo que custeia a infraestrutura e se converte em benefícios para os associados, conforme o Quadro 10.

Quadro 10 – Remuneração pela SELIC

E 1 – Diretor de Operações“são a principal fonte de receita da cooperativa, tendo em vista que o que ela recebe ou o que ela cobra dos seus participantes indiretos é um valor muito baixo, que não chega a custear os softwares e os sistemas”.
E 2 – Diretor Executivo“representam mais ou menos um terço das nossas receitas. A maioria das nossas receitas são advindas deste mecanismo, ou seja, do dinheiro que a gente tem depositado na conta PI e que o Banco Central nos paga todos os dias”.
E 3 – Diretor Comercial“é um meio importante, porém o nosso objeto principal, a nossa razão de existir é fomentar o crédito”.

E 4 – Diretor de Tecnologia
“essas IPs acabam tendo muitos clientes, e esses clientes acabam deixando dinheiro, e a custódia desse dinheiro fica sob a responsabilidade da cooperativa.  E esse retorno da cooperativa é convertido em lucro pro associado”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Na sequência os Es foram questionados acerca da assertividade na implantação do PIX na cooperativa e quais oportunidades decorreram deste processo de adesão.  Para os diretores o processo foi altamente assertivo e possibilitou a agregação de negócios (serviços e operações), crescimento da estrutura, tornando a cooperativa mais competitiva em relação ao preço dos seus produtos e viabilizando todo o negócio através do retorno financeiro gerado e da diminuição de encargos, conforme o Quadro 11.

Quadro 11 – Oportunidades 

E 1 – Diretor de Operações“trazer o PIX foi assertivo, foi uma decisão que colocou a cooperativa em um outro patamar de negócios, promoveu um crescimento acelerado da sua estrutura e certamente vai colocar a cooperativa em um patamar das cinco maiores cooperativas do Brasil em um curto espaço de tempo”.
E 2 – Diretor Executivo“foi altamente assertivo, altamente competitivo.  Nós controlamos todas as pontas, nós temos tecnologia de ponta, que aliás a gente presta serviço para instituições que estão lá na Faria Lima, em São Paulo”.  
E 3 – Diretor Comercialextremamente assertiva, nos colocou no cenário nacional e nos deu condição de trazer algumas empresas que certamente a gente não traria”.
E 4 – Diretor de Tecnologia“o PIX para a cooperativa foi uma divisão de águas.  Até então a cooperativa ela estava igualitária a todas as outras, e com alguns produtos que ela não tinha domínio, […] o PIX foi assertivo por a cooperativa se tornar independente no sentido do produto, […] gerando várias oportunidades, entre elas atender esses clientes de grande volumetria, trazendo bastante retorno para a cooperativa e diminuindo os encargos do associado”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Por fim, ao serem questionados se a implantação do PIX na cooperativa foi uma decisão que ampliou a sua competitividade, a unanimidade dos diretores afirmou positivamente. Para isso, foram apontados fatores como o aumento da rentabilidade em consonância a proporcional redução dos custos. Ainda, os diretores mencionam que foi objetivamente uma ferramenta de inovação que proporcionou a ampliação dos serviços e o oferecimento de um produto próprio que garantiu a menor onerosidade dos demais produtos, como a redução da taxa de juros, conforme o Quadro 12.

Quadro 12 – Competitividade

E 1 – Diretor de Operações“mais competitiva, pois ele agrega uma receita importante, que promove uma melhoria importante dentro dos resultados da cooperativa”.
E 2 – Diretor Executivo“mais competitiva, mais rentável, mais sólida, mais consistente, […] que consegue ampliar ainda mais a oferta de produtos e serviços, não somente para a sua base de associados, mas também para aqueles ou para os quais nós prestamos o serviço”.
E 3 – Diretor Comercial“parte desses depósitos, ele vem sem custo, o fato de estar nas contas correntes e não ter um custo atrelado a ele, nos dá condição de emprestar para o nosso quadro social num juro menor, nos dá uma competitividade que certamente a gente não tinha”.
E 4 – Diretor de Tecnologia“o PIX hoje é um dos únicos produtos que a cooperativa tem, que faz toda a diferença e que traz um movimento significativo para a instituição, por ele ser uma ferramenta inovadora, e a cooperativa estar à frente dos demais no produto”.

Fonte: Dados de entrevistas (2023)

Diante das entrevistas concedidas pelos diretores percebe-se o impacto da implantação do sistema PIX em termos de competitividade e oportunidades para a cooperativa. Apesar da inicial incerteza decorrente da disruptiva inovação, paulatinamente demonstrou-se que os resultados obtidos em termos de agregação de receita, negócios e diferenciação em termos de produto foram substancialmente maiores e objetivamente importantes para o crescimento e desenvolvimento da cooperativa.

4.4 Resultados das análises documentais 

Nas análises documentais, foram subsidiados pela instituição relatórios referentes às transações presentes no PSTI e a lista de transações, que demonstram a partir da implantação do sistema PIX na cooperativa o aumento do volume mensal de transações realizadas. Ainda, foram analisados balanços patrimoniais desde o início do funcionamento da instituição e tabelados com vistas a verificar o crescimento da cooperativa.

Na Tabela 2 foram compilados balanços patrimoniais da cooperativa a partir de 2006 – ano de início de suas operações – contemplando o patrimônio líquido, o ativo total, os depósitos a vista e a prazo, bem como a carteira. No ano de 2023 analisou-se apenas o balancete contábil referente ao mês de abril.

Tabela 2 – Evolução Patrimonial

AnoPatrimônio LíquidoAtivo TotalDepósitos a VistaDepósitos a PrazoCarteira
2006R$              14.411,30R$              142.683,72R$                   5.025,66R$              41.127,33R$               7.980,69
2010R$            798.995,96R$         10.778.760,31R$              721.791,70R$        1.307.797,24R$        4.301.918,74
2014R$        2.959.576,72R$          33.264.675,26R$               809.256,60R$       9.568.373,08R$       12.209.614,56
2018R$         7.359.996,21R$          98.139.038,85R$           2.549.511,59R$      37.231.853,16R$       39.231.325,30
2019R$      11.472.412,68R$        127.548.417,40R$           7.011.121,57R$      45.783.007,97R$       46.279.546,46
2020R$       21.098.573,12R$        201.069.547,11R$         29.955.524,96R$      60.998.621,26R$       68.811.326,64
2021R$       18.877.594,19R$        269.155.091,69R$          22.716.293,71R$      83.742.594,82R$       89.318.421,90
2022R$       26.216.405,47R$        455.305.274,75R$           91.751.251,71R$    109.145.183,10R$    124.556.615,70
2023*R$       27.586.953,23R$        488.011.880,45R$       101.016.630,73R$    111.217.582,35R$    132.077.549,20

Fonte: Balanço Patrimonial da Cooperativa (2023)

* No ano de 2023 analisou-se apenas o balancete contábil referente ao mês de abril.

Os dados do balanço patrimonial indicam um crescimento significativo dos números da cooperativa e de seus indicadores, especialmente de 2019 a 2022. Por conta disso, as análises subsequentes basearam-se na diferença entre este período. O patrimônio líquido – valor contábil de uma organização resultante da subtração entre ativos e passivos – aumentou em mais de 14,7 milhões de reais. Já o ativo total da cooperativa – soma de todos os bens e direitos – teve um acréscimo de 327,7,3 milhões, representando um aumento de 257% ao montante administrado em 2019. Nos depósitos a vista – valor depositado em conta corrente por prazo indeterminado que pode ser movimentado livremente pelo depositante – houve expressivo aumento de 1.209%. Observando-se os depósitos a prazo – produtos financeiros ofertados pela instituição que paga juros em troca da manutenção dos recursos monetários por um prazo de tempo pré-determinado – nota-se um crescimento de mais de 138%. Por fim, o indicador referente à carteira – montante em concessão de crédito – apresenta crescimento de mais de 78,2 milhões de reais, representando 169% de aumento.

Na sequência, na Tabela 3, são expostos a movimentação da quantidade de PIX realizados no SPI a nível nacional e a quantidade de PIX realizados pela cooperativa, bem como seu percentual de movimentações no SPI por dia.

Tabela 3 – Volume de transações PIX

DataQuantidade PIX SPIQuantidade PIX Cooperativa% da Cooperativa no SPI
01/05/202359.837.5882.271.7363,80%
02/05/202396.958.7172.264.0082,34%
03/05/202394.866.0172.342.6742,47%
04/05/202394.999.8042.285.3562,41%
05/05/2023124.322.9832.395.5761,93%
06/05/2023106.360.2852.966.1152,79%
07/05/202367.953.0702.651.1973,90%
08/05/2023106.672.8351.975.2001,85%
09/05/202398.910.2481.914.0581,94%
10/05/2023105.414.1521.916.7961,82%
11/05/202394.384.7702.115.3252,24%
12/05/202398.537.3402.520.1742,56%
13/05/202391.481.1082.734.3022,99%
14/05/202358.244.3172.429.5754,17%
15/05/202394.577.7031.958.9862,07%
16/05/202387.532.2262.277.0872,60%
17/05/202386.712.2712.840.9243,28%
18/05/202385.497.1092.776.0933,25%
19/05/2023102.830.5043.003.5022,92%
20/05/202391.252.4512.936.2963,22%
21/05/202358.924.8792.639.8684,48%
Total1.906.270.37751.214.8482,69%

Fonte: Diretoria de operações da cooperativa (2023)

Os dados tabelados são referentes ao dia 1º do mês de maio de 2023 até o dia 21 do mesmo mês, e demonstram o volume constante de transações realizadas com percentual mínimo de participação de 1,82% e máximo de 4,48% no montante total de PIX efetuados no SPI brasileiro, com recorde de mais de 3 milhões de PIX em apenas um dia. Na soma total dos dados percebe-se um total de mais de 51 milhões de PIX realizados pela cooperativa em 21 dias, o que representa o percentual de 2,69% do total de PIX presentes no SPI.

Posteriormente, foram disponibilizadas ainda a receita proveniente dos depósitos da Conta PI remunerados pela taxa SELIC referentes a agosto de 2022 até abril de 2023, que demonstram uma significativa receita para a cooperativa. Além disso, a Tabela 4 expõe o movimento total de transações PIX mensais destes meses que comparados a tabela anterior apresentam um comparativo do crescimento do total de transações PIX realizadas, que no mês de abril teve mais de 29 milhões de PIX e nos 21 dias do mês de maio teve mais de 51 milhões de transações, aumento de mais de 22 milhões de um mês para outro.

Tabela 4 – Volume de transações e receitas PIX

AnoReceita SELIC conta PIMovimento PIX mensalCrescimento PIX em %
08/2022R$ 246.244,5593.233
09/2022R$ 586.920,47140.36650,55%
10/2022R$ 613.545,14284.663102,80%
11/2022R$ 580.763,721.309.428359,99%
12//2022R$ 758.079,481.939.60548,13%
01/2023R$ 926.780,902.004.4483,34%
02/2023R$ 763.271,615.627.409180,75%
03/2023R$ 984.792,6814.296.228154,05%
04/2023R$ 782.755,0529.201.337104,26%

Fonte: Diretoria de operações da cooperativa (2023)

Ainda, se pode observar um crescimento exponencial do número de transações mês, com destaque para um grande salto visualizado no mês de novembro de 2022 em relação ao mês de outubro, com aumento percentual de 359,99% de transações PIX. Em seguida na Figura 1, o gráfico de movimentações PIX de outubro de 2022 a março de 2023 possibilita uma visualização clara do crescimento reportado nas tabelas anteriores.

Figura 1 – Gráfico de movimentações PIX

Fonte: Diretoria de Operações da Cooperativa (2023)

Nota-se que a marca de 10 milhões de transações PIX mensal foi atingida em março de 2023, que em comparação à Tabela 2 é um montante baixo. Isso porque em relação ao processamento do mês de maio, houve um acréscimo de mais de 37 milhões de transações, antes mesmo do encerramento do mês.

5 DISCUSSÃO

Esta pesquisa analisou como as disruptivas evoluções no sistema de pagamentos impactam uma instituição financeira cooperativa, agregando negócios e constituindo uma fonte significativa de receitas que beneficiam a estrutura como um todo. Na literatura observa-se uma série de estudos que se dedicaram a analisar evoluções tecnológicas nos meios de pagamento e suas implicações na dinâmica concorrencial do mercado, modificando modelos, condutas e desempenho das instituições (SCHERER, 2019; COSTA, 2021; BRAIDO, 2019; FARIAS, 2017).

Inicialmente, este estudo demonstra a importância da aderência da cooperativa às novas tecnologias que surgem no mercado, neste caso, ao sistema de pagamento instantâneo. A motivação para se adequar às evoluções muda ao longo do tempo, todavia, pode ser traduzida sinteticamente como uma função entre oportunidade e necessidade. A inovação sempre inicia na busca por alguma vantagem em ser pioneiro, buscando com isso atingir um segmento de mercado ainda incipiente ou melhorando produtos e processos já estabelecidos no mercado. À medida que novos competidores entram, adequar-se à inovação é primordial para permanecer competitivo e manter clientes (CHAKRAVORTI; KOBOR, 2003). No caso da instituição analisada, embora inicialmente pairassem dúvidas e incertezas a respeito do futuro deste método de pagamento, implementá-lo foi essencial ao aumento da competitividade e da melhoria dos serviços ofertados aos associados.

Ainda, percebe-se que a diligência dos diretores ao buscar inserir a cooperativa na lista de participantes responsáveis, possibilitou uma série de oportunidades que geraram posteriormente benefícios financeiros perceptíveis. A prestação de serviços à indiretos e a remuneração por depósitos viabilizaram a estrutura, diminuindo inclusive a oneração dos demais serviços oferecidos pela cooperativa aos associados. Para que isso fosse possível, houve a necessidade de enquadramento nas modalidades provedor de conta transacional ou liquidante especial, devendo ser participante direto do SPI. O participante responsável deveria possuir mecanismos robustos e capacidade técnica e operacional para executar as atividades relacionadas ao gerenciamento de riscos e à prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, tanto próprios como dos participantes contratantes (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020).

 Este estudo apontou ainda que o sistema PIX proporcionou uma fonte de receita expressiva para a cooperativa, permitindo o custeio da infraestrutura tecnológica e a geração de benefícios aos associados. Neste sentido, as inovações em sua maioria, conduzem a mudanças que reduzem custos e produzem benefícios. Estes benefícios que incorrem aos meios de pagamento relacionam-se a reduções nos custos que ocorreriam de outra forma em outras partes envolvidas, ou na própria ausência de inovação. O benefício líquido percebido pode ser notado pela realocação de recursos em usos mais produtivos ou por melhores oportunidades de negócios para os usuários (FARIAS, 2017). 

Adicionalmente, nota-se que o PIX foi a primeira inovação presente no Sistema Financeiro Nacional a qual a cooperativa pôde participar desde o início de sua implementação. Serviços como o Documento de Crédito (DOC) e a Transferência Eletrônica Disponível (TED) estão presentes desde 1985 e 2002, respectivamente, antes mesmo da constituição da cooperativa em questão (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2019). Este fato contribuiu para que a instituição se tornasse pioneira na adesão ao PIX e homologação pelo Banco Central do Brasil, diferenciando-se das demais em questão de produto por possuir domínio sobre a tecnologia e prestar serviço para instituições financeiras como IPs, SCDs, Fintechs localizadas em grandes centros.

Em uma pesquisa anterior que analisou a implementação do sistema de pagamento instantâneo por uma empresa adquirente para o desembolso de fundos das seguradoras para os segurados, observou-se que o sistema PIX possibilitou o posicionamento da seguradora como uma das mais ágeis no atendimento aos segurados. Isso porque o tempo para o segurado receber indenizações caiu de 5 dias úteis para 30 minutos, reduzindo custos transacionais e gerando resultados financeiros incrementais (COSTA, 2021). Tanto para usuários como para empresas de outros segmentos, a modalidade de pagamentos em tempo real veio para evitar riscos ao receber dinheiro em espécie e cheques; dispor de elevados padrões de segurança, como a criptografia de dados, reduzindo a inadimplência da atividade econômica, além de flexibilizar e agilizar o processo de pagamento (FARIAS, 2017).

Uma das limitações encontradas no desenvolvimento desta pesquisa refere-se à incipiência de estudos bibliográficos anteriores que analisem a implantação do sistema de pagamentos PIX em instituições financeiras, ou mesmo em relação à adesão por negócios de outros segmentos. No que se refere aos documentos subsidiados para a constituição da pesquisa empírica, algumas informações pertinentes aos custos envolvidos para manutenção da infraestrutura do sistema tiveram que ser ocultadas em razão da confidencialidade e de questões estratégicas envolvendo o provedor de tecnologia.

Entretanto, esta pesquisa fornece contribuições referentes ao conhecimento e análise dos impactos gerados em uma instituição financeira a partir de inovações implementadas na forma de realizar transações financeiras pelo Banco Central do Brasil. Os pagamentos em tempo real representam os novos rumos do sistema financeiro, que vêm adequando-se às tendências globais em países precursores como China, Índia e Reino Unido (COSTA, 2021). Os dados apresentados neste projeto demonstram uma revolução digital no setor bancário e uma oportunidade para empresas que precisam acompanhar estas mudanças para manter a competitividade e relevância no mercado. Assim, novas pesquisas podem se dedicar a analisar a adesão dos usuários ao sistema, ou mesmo as oportunidades geradas ao ecossistema de negócios com a chegada do pagamento instantâneo para instituições financeiras.

6 CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo analisar os impactos da implantação do sistema de pagamentos PIX em uma cooperativa de crédito independente localizada no oeste de Santa Catarina. Para isso foram aplicadas entrevistas com os diretores da instituição e análises de publicações administrativas internas. Nos estudos bibliográficos identificou-se alguns dos principais conceitos, abordagens e contribuições a respeito deste tema que ainda é incipiente na literatura. Em termos práticos este estudo fornece uma visualização de como o Sistema Financeiro Nacional evoluiu com a implementação do sistema PIX, e de que forma isso interfere em uma cooperativa de crédito, do processo de adesão e homologação aos resultados financeiros e estratégicos.

Neste sentido, as principais contribuições deste trabalho de conclusão de curso se relacionam à identificação dos impactos positivos obtidos com a implantação do sistema de pagamentos PIX na cooperativa em questão. Primeiramente, identificou-se que a homologação da cooperativa como participante no SPI ocorreu logo no início das fases de implementação do sistema pelo BCB. Para tanto, houve um robusto investimento em capacidade técnica, operacional e tecnológica para atender os requisitos de padrão e tempo de resposta estabelecidos no arcabouço normativo do Banco Central. Posteriormente, a adesão como participante responsável enquadrado na modalidade de liquidante especial, proporcionou o atendimento a instituições indiretas de grande volumetria (IPs, SCDs e Fintechs), além da API do PIX que atende os associados, o que possibilitou o rateio de custos ao otimizar o uso da infraestrutura. Além disso, identificou-se que o volume de depósitos presentes na Conta PI remunerados pela taxa SELIC, constituem uma importante fonte de receita que viabiliza o sistema implantado e permite a desoneração dos demais produtos e serviços ofertados ao quadro social. Isso permite inferir que a implantação do PIX foi altamente assertiva por tornar a cooperativa mais competitiva e mais sólida, agregando negócios e colocando-a em outro patamar estratégico perante as demais por possuir domínio sobre o produto e tecnologia. Por fim, observa-se ainda que os números recentes da instituição estão em constante crescimento, com expressivo aumento no volume de transações no início do ano de 2023.

REFERÊNCIAS

ALFONSO, V.; TOMBINI, A., ZAMPOLLI, F. Retail payments in Latin America and the Caribbean: presente and future. Bis Quarterly Review, 2020.

ANTUNES, R. S..; QUARESMA, C. P. C. O impacto do novo ecossistema democrático de pagamento instantâneo (PIX) no sistema financeiro nacional. Revista jurídica da Universidade do Sul de Santa Catarina, v. 10, n. 21, p. 195-208, set. 2020. 

ARANGO, C.; TAYLOR, V. Merchants’ Costs of Accepting Means of Payment: Is Cash the Least Costly? Bank of Canada Review, Ottawa, p.15-23, 2008. 

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Estabilidade Financeira. 2020. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 15/12/2021.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Estabilidade Financeira: Sistema de pagamentos brasileiro (SPB): PIX. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/pix. Acesso em: 18/12/2021.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Estatísticas do PIX. 2021. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/estatisticaspix. Acesso em: 03/12/2021.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Lista de participantes do PIX. 2022. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/pix/ListadeparticipantesdoPix.pdf. Acesso em: 21/01/2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Manual de Padrões para Iniciação do Pix. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/pix/Regulamento_Pix. Acesso em: 23/01/2023.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Perguntas e respostas pagamentos instantâneos PIX. 2021. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/perguntaserespostaspix. Acesso em: 14/12/2021.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Relatório de Cidadania Financeira. 2018. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/Nor/relcidfin/docs/Relatorio_Cidadania_Financeira.pdf. Acesso em: 10/01/2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). Relatório de Economia Bancária. 2020. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/relatorioeconomiabancaria. Acesso em: 20/01/2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC). TED, DOC e book transfer: entenda como funcionam os tipos de transferências entre contas. 2019. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/detalhenoticia/327/noticia. Acesso em: 08/06/2023.

BARDIN, L. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70, 2006.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRAIDO, G. M. Mudanças institucionais e novos ofertantes no sistema de pagamentos brasileiro: análise a partir da adoção de pagamentos móveis. 2019. 206 f. Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Administração apresentada à Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS, Porto Alegre, 2019.

BRAIDO, G. M; KLEIN, A. Z. Mobile payment: uma revisão sistemática da literatura. Estudo & Debate, v. 23, n. 1, p. 192-216, 2016.

CASTRO, C. M. A prática da pesquisa. 1.ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia Científica. 6.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

CHAKRAVORTI, S.; KOBOR, E. Why invest in payment innovations? Federal Reserve Bank of Chicago, Emerging Payments Occasional Papers Series. Chicago, June, 2003. Acesso em: 20/01/2022.

COSTA, F. I. F. Implementação do pagamento instantâneo no mercado brasileiro de seguros intermediado por uma empresa de adquirência. 2021. 62 f. Dissertação de Mestrado do Programa de Administração do Desenvolvimento de Negócios apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie/UPM, São Paulo, 2021.

DEWAN, S.; CHEN, L. Mobile Payment Adoption in the US: A Cross-Industry, Cross-Platform Solution, Journal of Information Privacy and Security, v. 1, n. 2, p. 4-18, 2005.

DIAS, L. F. A leitura de uma empresa acerca das dificuldades na implantação do PIX. 2021. 28 f. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Administração apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG, Belo Horizonte, 2021.

EVELETH, R. The truth about the death of cash. BBC, London, 24 jul. 2015. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20150724-the-truth-about-the-death-of-cash. Acesso em: 20/12/2021.

FARIAS, F. R. et al. Inovações tecnológicas nas cooperativas de crédito: uma investigação do atendimento mobile em uma cooperativa de crédito da cidade de Guanhães-MG. Revista Eletrônica do Alto Vale do Itajaí – REAVI, v.10, n. 16, p. 102-124, ago. 2021.

FARIAS, L. M. Inovação tecnológica e expansão do acesso aos serviços bancários: a evolução do mercado brasileiro de meios de pagamentos eletrônicos e o dispositivo mobile. 2017. 90 f. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Economia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Porto Alegre, 2017.

FRANK, R. H.; BERNANKE, B. S. Princípios de Economia. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.

FREITAS, N. História do dinheiro: do escambo ao TED. Fortaleza: Oboé, 2005.

FUZITANI, E. A. Meio eletrônico de pagamento e desempenho no varejo: estudo comparativo de setores na adoção de um cartão de loja como meio de pagamento. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo/USP, São Paulo, 2007.

GALBRAITH, J. K. Moeda, de onde veio para onde foi. 2. ed. São Paulo, pioneira, 1997.

GIBBS, G. Análise de dados qualitativos: coleção pesquisa qualitativa. Bookman Editora, 2009.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

JACQUES, E. R; GONÇALVES, F. O. Cooperativas de crédito no Brasil: evolução e impacto sobre a renda dos municípios brasileiros. Economia e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 2 (57), p. 489-509, ago. 2016.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

LIMA, H.; REZENDE, F. E. Revolução nos meios de pagamentos digitais. Fundação Getúlio Vargas. v. 20 n.1 (2021): janeiro-março 2021.

MARTINS, G. S. et al. Mobile Payment: Competitividade da Tecnologia de Pagamento Via Celular na Cadeia Brasileira de Cartão de Crédito. In: XXXII Encontro da Associação Nacional dos Cursos de Pós-Graduação em Administração, 2008, Rio de Janeiro, RJ. Anais: ANPAD, 2008.

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing (edição compacta). São Paulo: Atlas, 1996.

MEINEN, E. Cooperativismo financeiro: virtudes e oportunidades – ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo. Brasília: Editora Confebras, 2016.

MEINEN, E.; PORT, M. Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios. Brasília: Confebras, 2014.

MINAYO, M. C. S. Técnicas de pesquisa: entrevista como técnica privilegiada de comunicação. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.

MULINARI, B. M. Implantação do Pagamento Instantâneo no Sistema Cresol. 2020. 28 f. Plano de negócios de MBA Estratégias Cooperativas apresentado à Universidade Estadual do Centro Oeste/UNICENTRO, Florianópolis, 2020.

NETO, R. C. Meios eletrônicos de pagamentos e agenda BC. 14º Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamentos (CMEP), 2021. 

NOGUEIRA NETO, A. M.; ARAÚJO, B. A. Transformação digital no sistema bancário brasileiro: um estudo sobre as fintechs. Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2020.

OLIVEIRA, J. V. A; HEIDERICH, N. PIX trará benefícios a cooperativas. Diário do Comércio. Minas Gerais, 03 dez. 2020. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/opiniao/pix-trara-beneficios-a-cooperativas/. Acesso em: 20/01/2022.

PINHEIRO, M. A. H. Cooperativas de crédito: história da evolução normativa no Brasil. 6. ed. Brasília: Banco Central do Brasil, 2008.

PINHO, D. B. Sistemas de crédito cooperativo pioneiro, sindical e solidário. In: O COOPERATIVISMO de crédito no Brasil: do século XX ao século XXI. Santo André: Editora Confebras, 2004.

PIRES, H. F. Bitcoin: a moeda do ciberespaço. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 21, n. 2, p. 407-424, agosto, 2017.

PLASSARAS, N. A. Regulating digital currencies: bringing bitcoin within the reach of the IMF. Chicago Journal of International Law, Chicago, abr. 2013. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2248419. Acesso em: 16/12/2021.

RESOLUÇÃO BCB Nº 1, DE 12 DE AGOSTO DE 2020. Diário Oficial da União. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-bcb-n-1-de-12-de-agosto-de-2020-271965371.  Acesso em: 19/01/2023.

RESOLUÇÃO BCB Nº 195, DE 3 DE MARÇO DE 2022. Informe SPI. 2022. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/informesspi/InformeSPI-005-2022.pdf. Acesso em: 19/01/2023.

RESOLUÇÃO BCB Nº 4.792, DE 26 DE MARÇO DE 2020. Alteração da Resolução nº 4.656, de 26 de abril de 2018. 2020. Disponível em: https://normativos.bcb.gov.br/Lists/Normativos/Attachments/50959/Res_4792_v2_L.pdf. Acesso em: 23/01/2023.

RIMONATO, I. P. O. S.; SANTOS, J. P. PIX solução tecnológica de inclusão financeira. Research, Society and Development, v. 10, n. 13, 2021.

ROBERTSON, D. A moeda. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1969.

SANTIAGO, M. R.; ZANETONI, J. P. L; VITA, J. B. Inclusão financeira, inovação e promoção ao desenvolvimento social e econômico através do PIX. Revista Jurídica, v. 4, n. 61, p. 123 – 152, nov. 2020. 

SÁ-SILVA, J. R.; ALMEIDA, C. D.; GUINDANI, J. F. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, São Leopoldo, RS, Ano 1, n.1, Jul, 2009.

SCHERER, D. F. Inovações tecnológicas e dinâmica concorrencial no segmento de meios de pagamento da indústria financeira no Brasil. 2019. 106 f. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Economia apresentada à Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS, Porto Alegre, 2019.

SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: abril Cultural, 1982.

SILVA, D.; LOPES, E. L.; BRAGA JUNIOR, S. S. Pesquisa quantitativa: elementos, paradigmas e definições. Revista de Gestão e Secretariado, v. 5, n. 1, p. 01-18, 2014.

SILVA, K. M.; OREIRO, J. L. Análise da importância no crescimento econômico das cooperativas de crédito no Brasil a partir de 2010. Práticas de Administração Pública, v. 3, n. 3, p. 3-14, 2019.

STRUTZEL, T. Presença Digital. Rio de Janeiro: Editora Alta Books, 2015.

VEGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

VIANA, T. H. P. Análise do autoatendimento bancário no Brasil. 2018. 33 f. Monografia (Graduação em Administração) – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal de Ouro Preto, Marroiana, 2018.

VILHA, A. M. Práticas de gestão de inovação tecnológica: proposição de um modelo para pequenas e médias empresas brasileiras. Revista Gestão e Conexões, v. 2, n. 1, p. 116-146, 2013.

VOLKWEIS, F. TCC passo a passo: a metodologia. Textuar. Rio Grande do Sul, 11 de fev. 2015. Disponível em: http://www.revisaoetraducao.com.br/tcc-passo-a-passo-a-metodologia/. Acesso em: 10/02/2022.

WEATHERFORD, J. M. A história do dinheiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.


1 Bacharel em Administração pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Bolsista de iniciação científica pela Fundação Araucária.
2 Doutor em Administração pela Universidade Nove de Julho – PPGA / Uninove.