IMPACTOS DA FALTA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA EM RELAÇÃO A QUALIDADE DE VIDA DO BRASILEIRO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410141748


Antônio Henrique Marinho de Queiroz Galvão
Eduardo da Fonte Lins de Oliveira
Luis Gustavo Gomes Seixas
Vinícius Magalhães Feitosa de Sousa Passos
UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco


RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar o impacto da ausência de educação financeira na população brasileira, salientando suas consequências negativas, com ênfase em relação à qualidade de vida. O artigo evidencia que a falta de informações sobre gestão financeira contribui para o endividamento e limita oportunidades, resultando em estresse e impactando o estilo de vida. Embora o dinheiro não garanta a felicidade, sua boa gestão é crucial para a saúde emocional e para a realização de desejos. O estudo ressalta a importância de uma vida financeira saudável, fundamentada em hábitos de poupança e investimentos, que proporcionam segurança e liberdade para perseguir objetivos. Ainda é pontuada a necessidade de promover a inclusão financeira e a educação financeira nas escolas, visando reduzir desigualdades sociais e melhorar o bem-estar da população brasileira.

Palavras-chave: educação financeira, qualidade de vida, endividamento, inclusão financeira.

ABSTRACT

This article aims to analyze the impact of the lack of financial education on the Brazilian population, highlighting its negative consequences, mainly in relation to quality of life. The study shows that the lack of information about financial management contributes to indebtedness and limits opportunities, resulting in stress and impacting lifestyle. Although money does not guarantee happiness, its good management is crucial for emotional health and for making life choices. The research highlights the importance of a healthy financial life, based on saving and investing habits, which provide security and freedom to pursue long-term goals. It also emphasizes the urgent need to promote financial inclusion and education in schools, aiming to reduce social inequalities and improve the well-being of the Brazilian population.

Keywords: financial education, quality of life, indebtedness, financial inclusion

INTRODUÇÃO

CONTEXTUALIZAÇÃO

O dinheiro desempenha um papel fundamental na vida das pessoas, servindo como meio para satisfazer necessidades básicas como alimentação, moradia, saúde e educação. Além disso, ele oferece saúde financeira, que é essencial para a estabilidade emocional e mental. Com dinheiro, as pessoas podem planejar o futuro, fazer investimentos, e criar uma rede de proteção contra imprevistos, como doenças ou perda de emprego. (Guide investimentos, 2024) No longo prazo, o dinheiro também influencia as oportunidades e o bem-estar geral. Aqueles que têm uma boa gestão financeira podem acessar melhores oportunidades educacionais, o que frequentemente resulta em empregos mais qualificados e melhor remunerados.

Por outro lado, a falta de dinheiro ou a má gestão financeira ou o endividamento podem limitar as opções de vida e aumentar o estresse, afetando a qualidade de vida e as perspectivas de futuro. Por isso, a educação financeira é importante “ela tem o condão de ajudar ou evitar o endividamento” (Filho, n.p 2022). E a falta dessa educação é vista nas famílias do Brasil inteiro, a proporção de famílias endividadas subiu para 78,8% (CNN  Brasil, 2024).

Isso posto, compreende-se que o objetivo do presente trabalho é analisar o impacto da ausência de educação financeira e quais as consequências negativas para a população brasileira, de modo que afeta a sua qualidade de vida. Juntamente com o objetivo de questionar formas de reverter tais situações.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Dinheiro X felicidade

Dinheiro pode trazer felicidade porque oferece segurança e estabilidade, reduzindo o estresse ao garantir que as necessidades básicas estão cobertas. Com ele, você tem liberdade para fazer escolhas que refletem seus valores e paixões, além de poder investir em experiências que criam memórias e fortalecem laços sociais (Mira, 2023). O dinheiro também abre portas para oportunidades que podem melhorar a vida, como uma boa educação ou cuidados de saúde. Mas é essencial lembrar que o dinheiro, por si só, não é garantia de felicidade, ela vem do equilíbrio entre conforto financeiro e bem-estar emocional. (Scherer, 2017)

Pondé exalta a importância do dinheiro “É evidente que dinheiro não pode trazer felicidade 100%, mas o dinheiro facilita enormemente a vida”. (Primocast, 2023). Sendo assim, é válido afirmar que o dinheiro abre oportunidades, proporcionando escolhas e experiências que em sua ausência não seriam possíveis. Em síntese, o dinheiro em si não garante a felicidade, mas de fato ajuda.

2.2 Uma vida financeira saudável

Uma vida financeira saudável é um alicerce crucial para a realização dos seus sonhos, pois proporciona a liberdade e a segurança necessárias para perseguir objetivos de longo prazo sem ser constantemente limitado por preocupações financeiras (Mira, 2023).

A saúde financeira implica em hábitos como poupar regularmente, evitar dívidas desnecessárias e fazer investimentos inteligentes, que podem potencializar seu patrimônio ao longo do tempo (Clason, 2017). Com um planejamento financeiro adequado, você consegue direcionar recursos para áreas que são essenciais para o seu crescimento pessoal e profissional, garantindo que o dinheiro trabalhe a seu favor (Clason, 2017).

Além disso, estar financeiramente saudável reduz o estresse e a ansiedade relacionados a questões monetárias, permitindo que você se concentre mais nas metas que realmente importam, sejam elas relacionadas à carreira, à família ou ao desenvolvimento pessoal (Carvalho, 2021). Em suma, uma vida financeira equilibrada não só protege contra imprevistos, como também abre caminho para que você persiga seus sonhos com mais confiança e determinação.

2.3 Perfil do investidor Brasileiro

O perfil do investidor brasileiro, em sua maioria, ainda se caracteriza pela preferência por investimentos conservadores, como a poupança, ou até mesmo pela total ausência de investimentos (Lima, 2024). Isso reflete uma cultura financeira que privilegia a segurança percebida ao invés do potencial de crescimento que investimentos mais arriscados, como ações ou ativos de renda fixa, podem oferecer. A poupança continua sendo o investimento mais popular, mesmo com seu rendimento abaixo da inflação em muitos períodos, o que demonstra uma falta de conhecimento sobre outras opções mais rentáveis e seguras.

Pode-se dizer que essa escolha conservadora está ligada à falta de educação financeira no Brasil, segundo (Lima, 2024). Muitos brasileiros não recebem orientação adequada sobre como gerenciar seu dinheiro, o que leva a um receio em diversificar investimentos. É importante destacar que a educação financeira não se trata apenas de saber como investir, mas de entender como as finanças podem impactar a qualidade de vida e a felicidade (Filho, 2022) A pessoa que não investe seu dinheiro adequadamente tende a ter menos controle sobre o futuro financeiro, o que pode gerar estresse e insatisfação, afetando diretamente sua felicidade e bem-estar com base no entendimento de (Filho, 2022). Isso porque a sensação de estar sempre “correndo atrás do prejuízo” ou de não conseguir realizar objetivos financeiros pode ser desmotivadora e frustrante.

Portanto, o desenvolvimento da educação financeira é crucial não apenas para aumentar o número de investidores no Brasil, mas também para promover o bem-estar e a felicidade da população. Investir é uma forma de cuidar do futuro, e entender essa dinâmica pode transformar a relação dos brasileiros com o dinheiro, permitindo que conquistem mais liberdade e qualidade de vida.

Ademais, o fenômeno das casas de apostas chama a atenção da população brasileira. Ainda, sabe-se que “após a sanção da lei que permite jogos online no Brasil, o setor registrou um aumento significativo de apostadores na modalidade, ultrapassando inclusive o número de investidores na Bolsa de Valores brasileira, a B3.” (Noberto n.p 2024) Através disso, é possível dizer que o brasileiro desconhece os riscos de tais jogos e considera atrativo a sua facilidade. (Noberto, 2024) expõe o posicionamento de Rosada, quando afirma que os jogos possuem maior facilidade e menor fricção nos métodos de pagamento, enquanto a bolsa de valores não muda sua abordagem, tornando-se menos atraente para a população.

2.4 Inclusão financeira

Compreende-se que a inclusão financeira atua como uma importante ferramenta na diminuição da desigualdade, de modo que exerce um papel essencial para um maior desenvolvimento econômico. Isso em mente, pode-se dizer que através de um maior acesso a serviços financeiros é possível uma redução da desigualdade de renda. (Sela. Greatti. 2018)

Entretanto, mesmo a temática da inclusão financeira sendo de grande relevância, ainda possui pouca notoriedade no Brasil, tendo em vista que “o Brasil aparece nas últimas posições, em 35º lugar entre as 42 nações analisadas pelo relatório, com uma nota de 33,9 pontos.” (Exame. n.p, 2023) enquanto países como Singapura e os Estados Unidos têm o mercado mais financeiramente inclusivo do mundo, respectivamente.

Ainda, é importante destacar que a inclusão financeira não envolve apenas o acesso aos serviços financeiros, levando-se em consideração que estar bancarizado não significa, necessariamente, estar incluído no mundo financeiro, com base no entendimento de Sela e Greatti (2018). Além disso, pode-se dizer que o microcrédito, foi o “embrião” da inclusão financeira, tendo em vista que o seu baixo valor concedido à população de baixa renda, funciona com o objetivo de estimular o empreendedorismo e os pequenos negócios.

Outro ponto válido de absorver é o conceito de microcrédito, sendo o método  implementado como política de acesso ao crédito em vários países, entretanto, esse não foi o único utilizado, sendo empregado, também, os serviços financeiros de poupança, pagamentos e seguros. (Sela e Greatti, 2018) No entanto, é significativo considerar que as instituições financeiras oferecem serviços e produtos financeiros que não são adequados, tornando a inclusão algo distante para a maioria da população, levando em consideração a existência de altas taxas e custos dos produtos que desestimulam ou geraram prejuízos para os clientes de baixa renda ou carentes de educação financeira. (Sela e Greatti, 2018)

Com base nisso, é possível assimilar a relevância de maiores métodos de serviços acessíveis para a população de baixa renda. Juntamente a isso, entende-se a necessidade da inclusão financeira, pois possibilita a integração das pessoas ausentes de educação financeira ao mundo das finanças, de modo direto ou indiretamente. Sela e Greatti (p.20, 2018) afirmam que “a inclusão financeira pode ser definida como um processo de efetivo acesso e uso pela população de serviços financeiros adequados às suas necessidades”.

3. METODOLOGIA

O presente trabalho pretende analisar os impactos da ausência de educação financeira no Brasil. Além disso, a pesquisa será realizada pelo método dedutivo, de modo descritivo. Para tanto, como objetivo específico, tem-se: investigar as consequências negativas de tal falta para a população brasileira, além de examinar acerca do tema através de artigos de revistas científicas, matérias jornalísticas e podcast, a fim de fundamentar teoricamente esta monografia, de modo a desenvolver sobre o tema, bem como entender quais os fundamentos que os especialistas da área apresentam para justificar tal problemática.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo analisar o impacto da falta de educação financeira e suas consequências negativas para a população brasileira, especialmente em relação à qualidade de vida. No artigo demonstra que a falta de informações sobre gestão financeira contribui enormemente para o endividamento e para a limitação das oportunidades, o que gera estresse e afeta o estilo de vida do cidadão.

Foi possível observar que o dinheiro, embora não seja uma garantia de felicidade, desempenha um papel crucial na estabilidade emocional e na capacidade de fazer escolhas de vida. Além disso, uma vida financeira saudável, baseada em bons hábitos de poupança e investimento, oferece mais segurança e liberdade para perseguir objetivos de longo prazo. No entanto, a realidade do brasileiro, em geral, reflete uma cultura de falta de acesso a uma educação financeira eficaz, o que restringe o crescimento pessoal e resulta nos problemas financeiros atuais da população.

A inclusão financeira é outro fator importante que precisa ser promovido para diminuir a desigualdade social no Brasil. Melhorar o acesso a serviços financeiros e incentivar o uso de investimentos mais diversificados são passos essenciais para garantir uma maior qualidade e bem-estar para todos.

Para reverter essa situação, políticas públicas voltadas para a educação financeira devem ser incluídas desde o ensino fundamental para os alunos, para o desenvolvimento dos mesmos para o futuro. além de incentivos que tornem o mercado financeiro mais acessível e atraente para as crianças, novas medidas devem ser analisadas e desenvolvidas para o público mais velho. Com essas medidas, será possível melhorar a relação dos brasileiros com o dinheiro e, consequentemente, aumentar o bem-estar e as oportunidades disponíveis.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Adrielly Vanessa da Silva et al.A importância da educação financeira pessoal para a qualidade de vida. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso do Ensino Médio Integrado à Administração) da Etec “Frei Arnaldo Maria de itaporanga”. Votuporanga/SP. 2021.

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