IMPACTOS BIOPSICOSSOCIAIS DO ISOLAMENTO SOCIAL NO CONTEXTO DA COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8095629


Ana Clara Batista Jorge;
Anna Carla Batista Vieira;
Milenna Cristina Fonseca Nascimento;
Patrícia Cunha Mendes;
Luciano de Oliveira Souza Tourinho.


RESUMO

O isolamento social e a quarentena durante a pandemia da Covid-19 são medidas eficazes com o objetivo de salvaguardar vidas. No entanto, essas medidas vêm com um custo significativo para a saúde biopsicossocial da população e dos profissionais da saúde. Objetivo: Analisar, por meio da literatura, o impacto biopsicossocial associado ao isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19. Método: revisão da literatura. Resultados: O monitoramento das reações negativas decorrentes das restrições obrigatórias de movimento durante a pandemia de Covid-19 foi uma prioridade para os sistemas de saúde, pois os efeitos negativos dessa medida de prevenção são inegáveis, principalmente nos aspectos psicossociais, visto que as restrições impostas afetaram a rotina e a interação social das pessoas. Conclusão: O isolamento social se fez necessário para o controle da disseminação do vírus e a proteção da saúde pública, tornando-se fundamental, portanto, a criação de estratégias de apoio e cuidado para minimizar os impactos negativos do isolamento, além da promoção de ações preventivas e de saúde mental, visando o bem-estar da população.

Palavras-chave: Isolamento social. Pandemia. Biopsicossocial. Covid 19. Quarentena.

Introdução

Mediante o cenário de pandemia da Covid-19 e a inexistência de vacinas e antivirais, várias medidas drásticas e rigorosas de saúde pública tiveram que ser implementadas, como a vigilância, a detecção, o isolamento das pessoas contaminadas e a quarentena de todos que tivessem sido expostos com o objetivo de evitar a propagação da Covid-19, além de outras medidas preventivas como a lavagem das mãos, uso de máscaras, evitar tocar olhos, nariz e boca.

No entanto, mesmo com as medidas de segurança já descritas, foi necessário radicalizar as ações de combate à pandemia pelo isolamento social, havendo restrições de contato, com paralização e fechamento das escolas, das academias de ginástica, bares e restaurantes, enfim, de todos os locais onde pudesse haver aglomeração, restringindo a socialização em todas as faixas etárias, com o potencial de causar danos à saúde física e mental da população. Desta forma, evidenciou-se a necessidade de identificar quais são os principais impactos biopsicossociais provocados pelo isolamento social durante a pandemia da Covid-19.

O objetivo geral foi o de analisar, por meio da literatura, o impacto biopsicossocial associado ao isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19. Os objetivos específicos foram avaliar os impactos físicos, psíquicos e sociais do isolamento social, compreender as consequências do isolamento social em crianças e adolescente, entender como o isolamento social pode prejudicar a saúde do idoso e dos profissionais da saúde.

Material e Métodos

Foi adotada a revisão da literatura, que corresponde a um método de pesquisa que envolve a sistematização e publicação dos resultados de uma pesquisa bibliográfica. A fim de apresentar as questões que envolvem os impactos biopsicossociais, a pandemia, a Covid-19retratando suas características e estabelecendo a natureza da relação entre isolamento social e impactos físico, psicológico e social será também utilizada a pesquisa descritiva que atende a este critério.

O método foi qualitativo, pois neste tipo de abordagem o autor é o responsável por fazer a análise dos conceitos, princípios, relações e significado, tendo caráter subjetivo, pois a

identificação dos resultados não é numérica, mas valorativa. Como critérios de inclusão, foram considerados textos publicados em língua portuguesa, ou traduzidos, a partir de 2020, que estivessem disponibilizados na íntegra e gratuitamente, contendo os descritores: Covid-19,isolamento social, quarentena, impactos biopsicossociais isoladamente ou em conjunto. Sendo os critérios de exclusão resumos, textos incompletos e em duplicidade. Os dados colhidos nos artigos selecionados passaram pela análise de conteúdo.

Foram utilizados, como base de dados, a Scielo, o Google Acadêmico e o Up To Date. Foi encontrado um total de 13 artigos científicos que abordam esse tema, os quais foram analisados e sintetizados a fim de compreender os efeitos do isolamento social na saúde da população.

Resultados e Discussão

A pandemia de COVID-19 constitui uma emergência global, com elevado impacto na saúde pública em seus aspectos biopsicossociais. Esta situação representa, atualmente, um desafio para os profissionais de saúde de todas as áreas. Na ausência de cura definitiva, as medidas mais eficazes para reduzir o número de casos infectados foram aquelas que envolveram o isolamento social e, especificamente, o estabelecimento de quarentena, com maior incidência naqueles locais onde a transmissão local foi relatada.

O termo quarentena refere-se à separação e restrição de circulação de pessoas que foram expostas a doenças contagiosas, ou que estão em risco de contágio, a fim de reduzir o risco de transmissão de uma doença. Embora o isolamento social dependa, em muitos casos, da adesão do povo, o estabelecimento de quarentena foi rigorosamente aplicado. Na história recente há pelo menos dois exemplos de quarentenas estabelecidas devido a doenças infecciosas. Em 2003,cidades da China e Canadá impuseram períodos de quarentena devido à síndrome respiratória aguda grave (SARS) e em 2014, na África Oriental, essa medida foi ordenada para conter o surto de ebola.

Embora o estabelecimento de um período de quarentena possa constituir uma medida incontornável (e eficaz) com o objetivo de salvaguardar vidas, a decisão acarreta um custo importante do ponto de vista biopsicossocial (a curto, médio e longo prazo), manifestado por meio de diversos comportamentos que são pouco frequentes em períodos normais.

O aumento do tempo de quarentena leva a um maior risco de estresse pós-traumático e à redução de comportamentos que envolvem proximidade física. Assim, uma quarentena demais de 10 dias aumenta os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático. Além disso, o medo da infecção pode ser a origem de altos níveis de ansiedade e estresse. Esse medo se manifesta tanto em relação ao próprio contágio quanto à possibilidade de infectar familiares e entes queridos.

Outros elementos potencialmente estressantes são a frustração e o tédio. O confinamento, a perda das rotinas diárias, o contato social reduzido são causas frequentes de frustração. A existência de um aumento sustentado dessas manifestações é proposta à medida que a duração da quarentena aumenta. Outra variável recorrente, geradora de estados de ansiedade, raiva e estresse é a que se refere a suprimentos inadequados e insuficientes. Essa manifestação está entre as mais frequentes em todo o mundo, é a causa de altos níveis de ansiedade que se mantêm entre 4 e 6 meses após o fim da quarentena. Não ter acesso a medicamentos ou prescrições médicas atua como um poderoso estressor na população. No caso dos médicos, não ter suprimentos suficientes para trabalhar e se proteger é a causa mais recorrente de ansiedade, raiva e frustração.

A existência de informações inadequadas, bem como sua apresentação em formatos pouco atraentes, é causa frequente de sofrimento psíquico em pessoas em quarentena. A falta de clareza nas mensagens, a existência de mensagens contraditórias entre diferentes fontes, a falta de transparência do governo e as dificuldades em comunicar problemas às autoridades durante a quarentena, estão entre os principais fatores geradores de estresse.

Como principais estressores do período de quarentena estão as finanças e o estigma social (rejeição). No caso das finanças, as dificuldades econômicas são a principal causa das alterações psicológicas, predominando, por isso, manifestações de ansiedade, raiva e depressão. Por sua vez, existe o estigma social das pessoas que sofreram com a doença e também dos profissionais de saúde que chegaram a ser acusados de transmitir a doença ou de relatar fatos tendenciosos sobre a pandemia.

Houve depoimentos da existência de rejeição de outros com relação a eles, evitação de contato direto, separação repentina dos membros de um grupo quando se aproximavam, diminuição de visitas, entre outras manifestações. Esses comportamentos aumentaram consideravelmente as experiências de raiva, frustração, depressão e ansiedade entre aqueles que contraíram a doença ou que trabalharam na linha de frente daCovid-19.

Algumas medidas podem ser tomadas a fim de mitigar os efeitos adversos que podem aparecer durante e após períodos de quarentena e isolamento social. Uma das opções é reduzira o máximo a duração da quarentena que, segundo estudos, é o maior preditor de alterações psicológicas a médio e longo prazo. À medida que o tempo de quarentena se estende, pode-se observar maior desobediência civil, a depressão é provocada pela ansiedade e raiva, e as manifestações de violência doméstica aumentam exponencialmente.

Oferecer o máximo de informação possível e manter os canais de feedback abertos evita que, nas pessoas em quarentena, aumente as teorias mal-intencionadas, catastróficas e os pseudossintomas associados à doença. Divulgar a todo momento a necessidade da quarentena, como está funcionando sua implementação e os benefícios dela é uma estratégia para diminuir a ansiedade e aumentar a responsabilidade da população.

Outra medida para atenuar o desconforto do isolamento social, é facilitar o acesso aos suprimentos, pois o medo de ficar sem alimentos e remédios e a incerteza de como poderiam ser adquiridos é um fator que leva à desobediência civil, porque aumenta a frustração e maximiza a autopreservação. Criar sistemas sistemáticos de suprimentos essenciais é um fator que reduz a ansiedade e aumenta os sentimentos de colaboração e disciplina social.

Além de aumentar as estratégias de enfrentamento do estresse e gerar contatos sociaispositivos, e oferecer informações sobre a doença, é urgente treinar habilidades para oenfrentamento ativo do estresse, tanto na população em geral quanto nos profissionais desaúde. Estabelecer linhas de aconselhamento por telefone, desenvolver e distribuir materiaisde autoajuda desenvolvidos por profissionais e baseados em evidências são algumas estratégiasque podem ser implementadas. Além disso, pode ser muito útil para as pessoas que realizampesquisas médicas ter uma abordagem comunicativa positiva, transmitir encorajamento efacilitar estratégias para lidar com o estresse.

Os profissionais de saúde merecem atenção diferenciada, pois os especialistas em saúde são vulneráveis a apresentar manifestações psicológicas desadaptativas devido à sua própria atividade profissional. Oferecer atendimento especializado ao pessoal de saúde é também uma forma de preservar seu bem-estar e a integridade do sistema de saúde em geral. Para tal, deve ser facilitado o acesso à investigação para determinar as dificuldades que predominam nestes profissionais, de modo a articular sistemas de intervenção eficazes e eficientes nesse sentido.

As mídias de comunicação enfatizaram, a todo momento, as dimensões negativas do isolamento social, aprofundando-se nos aspectos que aumentam a vulnerabilidade, mas quase nunca nos fatores que protegem contra as adversidades e modulam favoravelmente a resposta a essas situações. É urgente tratar este problema a partir de uma abordagem positiva, na qual sejam consideradas categorias como resiliência, otimismo, bem-estar psicológico, personalidade resistente, espiritualidade, entre muitas outras.

Embora seja fundamental estimar o impacto psicológico negativo que a quarentena e o isolamento social terão nas pessoas e grupos sociais, não é possível ignorar quem passa por essa situação e sai mentalmente fortalecido e saudável. Deve-se também focar neles, pois em suas formas de lidar com o estresse, em sua capacidade de adaptação a circunstâncias desfavoráveis, serão encontradas respostas úteis para quem busca ajuda dos profissionais da saúde.

É importante ressaltar que os estudos realizados até agora têm limitações, como a dificuldade de obtenção de dados precisos e representativos em um contexto tão dinâmico e complexo. No entanto, eles têm sido essenciais para fornecer informações e orientações valiosas para governos, organizações e indivíduos na tentativa de lidar com as consequências da pandemia da Covid-19.

Considerações finais

Os estudos destacaram a importância de monitorar as reações negativas decorrentes das restrições obrigatórias de movimento, principalmente nos aspectos biopsicossociais, uma vez que vida da maioria das pessoas foram afetadas de alguma forma pela pandemia da COVID-19, principalmente os grupos mais vulneráveis da população.

Além disso, foi evidenciada a necessidade de criação de estratégias de apoio e cuidado, no sentido de produzir ou reforçar hábitos de autocuidado tidos como saudáveis, reduzindo os riscos de adoecimento mental. E, acesso a notícias sobre a pandemia com ofertas de informações adequadas sobre a doença para minimizar os impactos negativos do isolamento, além da promoção de ações preventivas de saúde.

Portanto, pode-se concluir que o objetivo geral da pesquisa foi alcançado,proporcionando uma melhor compreensão sobre os impactos do isolamento social no contextoda pandemia da Covid-19, uma vez que se constituiu uma emergência global nos quais osimpactos biopsicossociais negativos perduram até os dias atuais.

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