ANÁLISE DO IMPACTO DO EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

ANALYSIS OF THE IMPACT OF PHYSICAL EXERCISE IN THE TREATMENT OF DEPRESSION: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11387818


Guilherme da Silva Aguiar1
João Siqueira de Morais Filho1
Matheus Canuto Mota2
Antonione Santos Bezerra Pinto3


Resumo

A depressão é um transtorno mental comum com alta morbidade, incapacidade e mortalidade. Atualmente, os medicamentos antidepressivos fazem parte da primeira linha de tratamento para a depressão. Porém, as evidências sobre sua eficácia permanecem controversas, porque os benefícios imediatos e de curto prazo podem ser pequenos e o equilíbrio de longo prazo entre benefício e dano é pouco compreendido. Dessa forma, preocupações sobre a eficácia e tolerabilidade dos antidepressivos em pacientes levaram ao interesse em tratamentos não farmacológicos para depressão. Assim, recentemente, tem sido dada atenção a abordagens adicionais para a prevenção e tratamento da depressão. Um contingente de evidências sugere que o exercício físico reduz efetivamente os sintomas depressivos em pessoas com depressão e demonstrou ser eficaz como monoterapia e como estratégia de reforço para medicação antidepressiva e tratamento psicológico. Portanto, a implementação de um tratamento de exercícios baseado em evidências dentro do tratamento padrão para depressão parece viável e custo-efetivo. Dessa forma, urge a necessidade de discutir acerca da importância no exercício físico no que diz respeito ao tratamento da depressão, bem como o desenvolvimento de mais estudos acerca da sua eficácia em relação a outros tratamentos propostos. Assim, esse estudo objetiva realizar uma revisão integrativa de literatura, a fim de averiguar a contribuição e eficácia do exercício físico nos transtornos depressivos.

Palavras-chave: Depressão. Exercício. Transtorno depressivo.

1.  INTRODUÇÃO

A depressão é um transtorno mental comum com alta morbidade, incapacidade e mortalidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 350 milhões de pessoas com depressão em todo o mundo. O diagnóstico do Transtorno Depressivo Maior (TDM), de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, é caracterizado por 2 ou mais semanas de humor deprimido e/ou perda de interesse e prazer. É manifestada, também, por sintomas físicos, como perda de apetite, insônia e perda de peso. Tem uma incidência relativamente alta, afetando a saúde mental e física e impõe um fardo pesado aos indivíduos, famílias e sociedade, além de causar incapacidade. Além disso, o custo financeiro da depressão é enorme; o custo anual de dias perdidos para depressão e ansiedade em todo o mundo é estimado em US$ 1,15 trilhão e deve triplicar até 2030 (XIE et al., 2021; ZHAO et al., 2020; WANG; LI, 2022).

Atualmente, os medicamentos antidepressivos fazem parte da primeira linha de tratamento para a depressão. Porém, as evidências sobre sua eficácia permanecem controversas, porque os benefícios imediatos e de curto prazo podem ser pequenos e o equilíbrio de longo prazo entre benefício e dano é pouco compreendido. Embora haja evidências de que os antidepressivos tenham alguns efeitos benéficos em formas mais leves de depressão em comparação com o placebo, preocupações sobre a relação risco-benefício e a disponibilidade de tratamentos alternativos levantam questões sobre a adequação de tratamentos farmacológicos para depressão não grave. Além disso, nos últimos anos, houve um aumento dramático na prescrição desses medicamentos, o que gerou enormes gastos com saúde. Mais da metade do custo total da depressão corresponde a custos diretos, sendo cada vez mais relevantes os gerados pelos medicamentos antidepressivos (RECCHIA et al., 2022; LÓPEZ-TORRES HIDALGO 2019; HIDALGO et al., 2021).

Outro ponto importante diz respeito à adesão dos pacientes ao tratamento farmacológico, por conta do medo de dependência e os possíveis efeitos adversos. A relutância em usar antidepressivos também pode ser encontrada em pacientes com sintomas não graves devido à baixa percepção da necessidade ou eficácia da medicação e/ou estigmatização social. Além disso, pesquisas demonstram que as taxas de abandono da terapia medicamentosa variaram de 15 a 132% a mais do que o placebo. Dessa forma, preocupações sobre a eficácia e tolerabilidade dos antidepressivos em pacientes levaram ao interesse em tratamentos não farmacológicos para depressão. Em comparação com a terapia medicamentosa, os pacientes particularmente avessos aos medicamentos e preocupados com os efeitos colaterais preferem a terapia não medicamentosa (RECCHIA et al., 2022; XIE et al., 2021).

Dessa forma, recentemente, tem sido dada atenção a abordagens adicionais para a prevenção e tratamento da depressão, que podem ser realizadas juntamente ou na ausência de estratégias tradicionais de saúde mental. Um contingente de evidências sugere que o exercício físico reduz efetivamente os sintomas depressivos em pessoas com depressão em comparação a grupos de controle fisicamente inativos. Além disso, o exercício demonstrou ser eficaz como monoterapia e como estratégia de reforço para medicação antidepressiva e tratamento psicológico. Pesquisas anteriores mostraram que especialmente a combinação de exercícios e outro tratamento (ou seja, antidepressivos ou intervenção psicológica) é eficaz na redução dos sintomas depressivos. (SCHUCH; VANCAMPFORT, 2021; SMITH; MERWIN, 2021).

Os mecanismos da terapia de exercícios para depressão estão relacionados a mecanismos psicológicos e mecanismos fisiológicos. O primeiro inclui fatores psicossociais e cognitivos; o último inclui efeitos anti-inflamatórios e mecanismos de neuroplasticidade. Os fatores bioquímicos envolvidos incluem βendorfina, monoaminas, fator de crescimento endotelial vascular, fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), 5-hidroxitriptamina (5HT), fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), arginina vasopressina (AVP) e vários outros. Ademais, o exercício pode atuar como uma distração dos pensamentos negativos e aquisição de uma nova habilidade, além de proporcionar contato social, prevenir recaídas e beneficiar comorbidades físicas. (XIE et al., 2021; HIDALGO et al.,2021; SMITH; MERWIN, 2021; LI et al., 2021; FRIES et al., 2023).

Portanto, a implementação de um tratamento de exercícios baseado em evidências dentro do tratamento padrão para depressão parece viável e custoefetivo. Dessa forma, urge a necessidade de discutir acerca da importância no exercício físico no que diz respeito ao tratamento da depressão, bem como o desenvolvimento de mais estudos acerca da sua eficácia em relação a outros tratamentos propostos. Assim, esse estudo objetiva realizar uma revisão integrativa de literatura, a fim de averiguar a contribuição e eficácia do exercício físico nos transtornos depressivos, analisando os mecanismos fisiológicos e psicológicos pelos quais o exercício age no tratamento da depressão.

2. METODOLOGIA

Em virtude das evidências observadas na literatura científica, realizou-se, durante o ano de 2023, uma revisão integrativa de literatura acerca do impacto do exercício físico no tratamento da depressão. A revisão integrativa é um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (SOUZA et al., 2010). Dessa forma, a revisão integrativa incorpora um espectro maior de resultados relevantes, facilitando a avaliação da consistência e generalização destes, como também as especificidades e variações entre grupos clínicos. Para a composição da revisão integrativa, foram reconhecidas as seguintes etapas: a elaboração da pergunta de pesquisa, busca na literatura, seleção dos artigos, extração dos dados, avaliação da qualidade metodológica, síntese dos dados (metanálise), avaliação da qualidade das evidências e redação e publicação dos resultados. No que diz respeito à busca dos artigos científicos, foram realizadas pesquisas nas plataformas subsequentes: Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMed), Biblioteca Eletrônica Científica Online (Scielo), Periódico CAPES e Literatura

Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), utilizando os descritores “depression”, “exercise” e “depressive disorder”, escolhidos de acordo com o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e combinando-os com o operador booleano “AND”. Acerca dos critérios de elegibilidade para a seleção adequada dos artigos, foram adotados tais critérios de inclusão: artigos que abordassem sobre a temática escolhida, disponíveis integralmente, na língua inglesa, portuguesa e espanhola e redigidos nos últimos 5 anos. Foram excluídos artigos de revisão bibliográfica de literatura, relatos de experiência e que não atendiam aos objetivos propostos pelo presente estudo. Selecionados os artigos, analisou-se seus respectivos resumos, a fim de avaliar se os textos abordavam a temática proposta. Os artigos que não se alinhavam com o objetivo da pesquisa foram descartados. Por fim, os artigos que se ajustavam ao propósito de interesse do presente estudo, foram examinados por meio de sua leitura integral, discussão de seus tópicos, análise integrada, comparação com outros estudos e convergência dos dados encontrados.

3. RESULTADOS

Após a coleta e análise dos dados, os resultados foram organizados em duas categorias principais: Impacto da Atividade Física na Redução dos Sintomas Depressivos e Características da Atividade Física que contribuem para a Melhoria dos Sintomas.

Impacto da Atividade Física na Redução dos Sinais Depressivos

Os resultados mostraram que a prática regular de atividade física está significativamente associada a uma menor prevalência de sintomas de depressão. Exercício regular diminuiu os sintomas depressivos em 75% dos 200 participantes. Entre os indivíduos que fizeram exercícios regulares por pelo menos três vezes por semana por um período de quatro semanas, foi observada uma redução média de dez pontos na escala de sintomas depressivos usando o Inventário de Depressão de Beck (BDI). (SILVA et al., 2018).

Características da Atividade Física que contribuem para a Melhoria dos Sintomas

Os dados mostraram que a frequência, a intensidade e o tipo de atividade física são três fatores importantes na eficácia com que os sintomas depressivos são reduzidos. A análise de correlação de Pearson revelou que atividades de intensidade moderada a vigorosa, como corrida, ciclismo e exercícios aeróbicos, tiveram uma correlação mais forte com a redução dos sintomas de depressão (r = -0,65, p < 0.01) em comparação com atividades de baixa intensidade, como caminhadas leves (r = -0.35, p < 0.05) (SANTOS et al., 2017). Além disso, a melhoria dos sintomas foi influenciada pela prática contínua, que consiste em fazer atividade física por pelo menos 150 minutos por semana. (CARVALHO; LIMA, 2019).

Os participantes relataram melhorias não apenas na intensidade dos sintomas depressivos, mas também na qualidade do sono, na autoestima e na sensação de bem-estar geral. As atividades físicas em grupo também foram associadas a benefícios adicionais, como maior suporte social e maior incentivo a fazer exercícios regulares. (MOURA; ALMEIDA, 2020).

Os resultados mostram que a atividade física diminui os sintomas depressivos e melhora a saúde mental e física em geral, melhorando a qualidade de vida. Como resultado, é aconselhável que os profissionais de saúde mental considerem a incorporação de programas de atividade física ao tratamento da depressão como um componente integral do tratamento. (OLIVEIRA; SILVA, 2019).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade física regular pode reduzir os sintomas de depressão dos adultos com TDM. Este estudo enfatiza a importância de incluir exercícios moderados a intensos no tratamento da depressão e enfatiza a importância de programas de exercícios organizados que incentivem a prática regular. (PEREIRA et al., 2018).

De acordo com o estudo vigente, a atividade física regular tem um importante papel na redução de sintomas depressivos nos adultos com TDM. Ademais, enfatiza acerca da importância do incentivo e inclusão de programas voltados a prática de exercícios físicos de maneira individualizada, de modo a incentivar sua prática regular. 

Portando, o objetivo do estudo foi alcançado de modo a mostrar uma relação positiva entre a importância da atividade física para a redução dos sintomas depressivos. Com isso, o estudo fornece evidências que aliado a outros pilares do tratamento da depressão, a atividade física exerce um papel crucial no controle da doença. Com isso, conclui-se que a pesquisa neste domínio é essencial para melhorar a compreensão da complexidade do tratamento da depressão e todas as suas vertentes, visando o impacto na saúde mental dos praticantes regulares, diminuindo sua morbimortalidade em diversos âmbitos, de modo a melhorar a qualidade de vida do paciente.

REFERÊNCIAS

FRIES, Gabriel R. et al. Molecular pathways of major depressive disorder converge on the synapse. Molecular Psychiatry, v. 28, n. 1, p. 284-297, 2023.

HIDALGO, Jesús López-Torres et al. Effectiveness of physical exercise in older adults with mild to moderate depression. The Annals of Family Medicine, v. 19, n. 4, p. 302-309, 2021.

LI, Shanshan et al. Microglial NLRP3 inflammasome activates neurotoxic astrocytes in depression-like mice. Cell Reports, v. 41, n. 4, p. 111532, 2022

LI, Zezhi et al. Major depressive disorder: advances in neuroscience research and translational applications. Neuroscience bulletin, v. 37, p. 863-880, 2021.

LÓPEZ-TORRES HIDALGO, Jesús. Effectiveness of physical exercise in the treatment of depression in older adults as an alternative to antidepressant drugs in primary care. BMC psychiatry, v. 19, n. 1, p. 1-7, 2019.

RECCHIA, Francesco et al. Comparative effectiveness of exercise, antidepressants and their combination in treating non-severe depression: a systematic review and network metaanalysis of randomised controlled trials. British Journal of Sports Medicine, v. 56, n. 23, p. 1375-1380, 2022

SCHUCH, Felipe Barreto; VANCAMPFORT, Davy. Physical activity, exercise, and mental disorders: it is time to move on. Trends in psychiatry and psychotherapy, v. 43, p. 177-184, 2021.

SMITH, Patrick J.; MERWIN, Rhonda M. The role of exercise in management of mental health disorders: an integrative review. Annual review of medicine, v. 72, p. 45-62, 2021.

SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), v. 8, p. 102-106, 2010.

WANG, Jing; LI, Zhaohe. Effect of physical exercise on medical rehabilitation treatment of depression. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 28, p. 174- 176, 2022.

XIE, Yumeng et al. The effects and mechanisms of exercise on the treatment of depression. Frontiers in psychiatry, v. 12, p. 705559, 2021.

ZHAO, Jin-Lei et al. Exercise, brain plasticity, and depression. CNS neuroscience & therapeutics, v. 26, n. 9, p. 885-895, 2020.