CHRONOLOGICAL AGE, ANTHROPOMETRY AND RELATIVE EFFECT OF AGE AND PHYSICAL PERFORMANCE IN YOUNG FUTSAL PLAYERS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202507081319
Eulália Rodrigues de Gois; Lucca Fazan; Lucas Enjiu; Vinicius Tonon Lauria; Krom Marsili Guedes; Marcelo Vasques Casati; Dilmar Pinto Guedes Junior; Rodrigo Pereira da Silva
Resumo
O crescimento e o desenvolvimento humano são processos interligados que influenciam as dimensões afetivas, sociais e motoras dos jovens. Enquanto o crescimento refere-se ao aumento estrutural do corpo, o desenvolvimento resulta da interação entre fatores biológicos, ambientais e comportamentais. No esporte, compreender esses processos de forma integrada é fundamental para avaliar demandas físicas e o desempenho motor, promovendo práticas inclusivas. Estudos indicam que o desempenho motor está ligado ao crescimento e composição corporal, sendo a idade cronológica a referência usual para organização esportiva. No entanto, jovens com diferentes ritmos de crescimento respondem de forma distinta aos estímulos físicos, principalmente durante o estirão de crescimento. Outro fator importante é o Efeito Relativo da Idade (RAE), que favorece atletas nascidos no início do ano, afetando seleção e oportunidades esportivas. A prática regular de atividades físicas, como futsal e futebol, ajuda a reduzir essas desigualdades, promovendo o desenvolvimento motor e social. Este estudo investigou a relação entre idade cronológica, composição antropométrica, semestre de nascimento (RAE) e desempenho físico em 27 adolescentes praticantes de futsal, utilizando testes padronizados do PROESP-BR. Os participantes foram agrupados por idade e semestre de nascimento para analisar diferenças no desempenho em força, resistência, flexibilidade e velocidade. Os resultados confirmaram a influência do RAE, com melhores desempenhos para os nascidos no primeiro semestre, além de evidenciar a heterogeneidade do grupo em capacidades físicas. A resistência abdominal foi a única variável associada diretamente à idade cronológica. Também foi observada a relação negativa entre composição corporal desfavorável e desempenho em testes de potência muscular. Conclui-se que abordagens sistêmicas que considerem idade, RAE e composição corporal são essenciais para planejar treinamentos mais justos e inclusivos, respeitando as individualidades dos jovens atletas e promovendo sua permanência no esporte.
Palavras-chave: Crescimento. Antropometria. Desempenho Físico.
1 INTRODUÇÃO
O crescimento e o desenvolvimento humano são processos interligados que influenciam diretamente nas dimensões afetivas, sociais e motoras dos jovens. Enquanto o crescimento diz respeito ao aumento estrutural do corpo por meio da multiplicação celular, o desenvolvimento resulta da complexa interação entre fatores biológicos, ambientais e comportamentais (TEIXEIRA et al. 2011; RE, 2011). No contexto esportivo, compreender esses processos não de forma isolada, mas como partes de um sistema interdependente, é essencial para avaliar as demandas físicas e o desempenho motor de crianças e adolescentes, contribuindo para práticas mais eficientes e inclusivas.
Estudos apontam que o desempenho motor está diretamente relacionado ao crescimento e à composição corporal, sendo a idade cronológica tradicionalmente utilizada como principal referência para a organização esportiva (BOJIKIAN et al., 2005; DOBROWOSKI et al., 2018; MATTA et al., 2014; SEABRA et al., 2001). Entretanto, quando analisados de forma sistêmica, esses fatores revelam que jovens com diferentes ritmos de crescimento e composição corporal respondem de maneira distinta aos estímulos físicos. Durante o estirão de crescimento, por exemplo, alterações rápidas na estrutura corporal afetam diretamente a força, resistência e coordenação motora. Assim, sistemas classificatórios que desconsideram essas variações podem favorecer jovens com desenvolvimento mais avançado, em detrimento de outros com trajetórias distintas (MATTA et al., 2014; VILLAR et al., 2001).
Outro fator que contribui para desigualdades no desempenho entre jovens atletas da mesma faixa etária é o Efeito Relativo da Idade (Relative Age Effect – RAE) (VINCENT et al,. 2006), que se refere às vantagens observadas em indivíduos nascidos nos primeiros meses do ano em relação àqueles nascidos no segundo semestre. Como a maioria das categorias esportivas utiliza o ano civil como critério de agrupamento, jovens nascidos no início do ano tendem a apresentar maior maturidade física e emocional, o que pode resultar em melhores desempenhos atléticos, maior visibilidade nas seleções esportivas e mais oportunidades de desenvolvimento (VILLAR et al. DE OLIVEIRA MATTA et al. 2015). O RAE, portanto, representa uma variável significativa a ser considerada na análise do desempenho físico e na formulação de estratégias mais justas e inclusivas no esporte, especialmente no processo de identificação e seleção de talentos, como demonstrado nos estudos de Rogel et al. (2007), Penna et al. (2012) e Silva et al. (2018).
A prática regular de atividades físicas, como o futsal e o futebol, além de favorecer a saúde, contribui para amenizar essas desigualdades, promovendo o desenvolvimento motor e social de maneira mais equitativa ao longo do tempo (OMS, 2010).
Diante disso, este estudo propõe que a abordagem sistêmica, ao integrar dados de composição antropométrica e desempenho físico com a idade cronológica e o RAE, pode oferecer subsídios relevantes para planejamentos esportivos mais equitativos. Essa perspectiva amplia a compreensão sobre o desenvolvimento de jovens atletas, respeitando suas individualidades e promovendo maior inclusão no contexto esportivo (TEIXEIRA et al. 2011; DE FARIAS et al., 2015). Essas estratégias podem contribuir para a permanência dos jovens em programas esportivos, reduzindo taxas de evasão e promovendo um ambiente mais equitativo.
Ainda há lacunas no entendimento sobre como variáveis como idade cronológica, RAE e antropometria se relacionam em diferentes estágios do desenvolvimento, especialmente em esportes de base. Diferenças interindividuais na resposta ao treinamento, os impactos do crescimento tardio e a permanência no esporte são aspectos que ainda exigem investigação aprofundada.
1.1 Objetivos
– Analisar a relação entre idade cronológica, antropometria, semestre de nascimento (RAE) e desempenho físico em jovens praticantes de esporte.
– Compreender como essas variáveis interagem e influenciam o desempenho físico.
2 METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo, de abordagem quantitativa e delineamento transversal. Antes do início da coleta de dados, os responsáveis pelos adolescentes participantes foram devidamente informados sobre os objetivos, os procedimentos da pesquisa e eventuais riscos e benefícios envolvidos. Após a conscientização, os responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.
Participaram do estudo 27 adolescentes do sexo masculino, com idades entre 13 e 16 anos, praticantes regulares de futsal com foco em treinamento competitivo. Os participantes treinam semanalmente na Associação Desportiva Galata, localizada no município do Guarujá, litoral do estado de São Paulo, especificamente nas dependências da quadra do Seeclag.
Os participantes foram organizados com base em dois critérios principais: idade cronológica e semestre de nascimento, considerando as variações físicas mesmo entre jovens da mesma idade cronológica. Dessa forma, os adolescentes foram agrupados em dois blocos etários (13–14 anos e 15–16 anos), e, dentro de cada faixa, subdivididos conforme o semestre de nascimento. Essa divisão permitiu analisar, de maneira mais precisa, as diferenças entre os grupos que podem influenciar o desempenho físico desses jovens atletas em formação.
Com base nesses grupos, foram analisados os desempenhos físicos dos participantes em relação a variáveis como força, resistência, flexibilidade e velocidade, utilizando testes específicos para cada uma dessas capacidades. A comparação entre os grupos, levando em consideração as possíveis diferenças nos estágios de desenvolvimento, possibilitou investigar como essas variáveis se manifestam entre jovens com diferentes idades e momentos de nascimento.
Procedimentos e Instrumentos de Coleta de Dados:
Foi aplicada uma ficha de avaliação do PROESP-BR (Projeto Esporte Brasil), protocolo amplamente utilizado por ser padronizado, acessível e eficaz na mensuração de diversos componentes da aptidão física de crianças e adolescentes (GAYA et al,. 2021). Antes da realização dos testes físicos, os participantes responderam a um miniquestionário contendo informações pessoais, como idade e data de nascimento, além de dados sobre a prática esportiva, como frequência semanal e posição em que costumam jogar. Essas informações serviram como base para a caracterização da amostra e para análises complementares durante o tratamento dos dados.
Em seguida, foram aplicados os testes físicos conforme a bateria do PROESP-BR (GAYA et al,. 2021). O teste de 6 minutos avaliou a capacidade aeróbia e a resistência cardiovascular, onde os participantes percorreram a maior distância possível dentro de um percurso determinado. O teste do quadrado avaliou a capacidade anaeróbia, a agilidade, a mudança de direção e a velocidade. O percurso foi demarcado por quatro pontos, formando um quadrado de quatro metros de lado, no qual os participantes correram para frente e para os lados, trocando rapidamente de direção conforme as instruções. Foram realizados dois esforços, sendo registrado o melhor tempo de execução.
No teste de flexibilidade (sentar-e-alcançar), os participantes foram posicionados sentados, com as pernas estendidas e uma fita métrica colocada no chão entre elas. O objetivo era alcançar, com as mãos, o ponto mais distante possível da régua, sem flexionar os joelhos ou balançar o tronco. Foram realizadas duas tentativas, e o melhor resultado foi registrado, assegurando a padronização da execução.
O teste de força-resistência abdominal avaliou a resistência muscular localizada na região abdominal, por meio do maior número de repetições de flexão de tronco realizadas em 1 minuto. O salto horizontal avaliou a força explosiva dos membros inferiores. Os participantes realizaram 3 tentativas, sendo considerada a maior distância.
A força explosiva dos membros superiores foi avaliada por meio do arremesso de uma medicine ball de 2 kg, registrando-se a distância alcançada. Por fim, a velocidade de deslocamento foi mensurada com a corrida de 20 metros em linha reta, com cronometragem do tempo gasto na execução, como marcador de velocidade pura.
Todas as avaliações foram realizadas durante os horários habituais de treino dos participantes, assegurando o mínimo de interferência externa. A coleta de dados ocorreu ao longo de duas semanas consecutivas, totalizando quatro sessões (duas aulas por semana), necessárias para a aplicação de todos os testes propostos. Durante a aplicação, foram respeitados os intervalos de descanso entre os testes, com o objetivo de garantir o melhor desempenho dos participantes e permitir a comparação adequada dos resultados obtidos.
Apesar da reconhecida importância da maturação biológica no desempenho físico, a coleta de dados neste estudo enfrentou limitações quanto à mensuração direta desse aspecto. Por se tratar de uma pesquisa não invasiva e com recursos limitados, não foram aplicadas medidas diretas como a estimativa da idade óssea ou o pico de velocidade de crescimento (PHV). Assim, optou-se por enfatizar os componentes mensuráveis — idade cronológica, semestre de nascimento e desempenho físico — compreendendo-os de maneira interdependente e analisando-os à luz das evidências disponíveis.
Os dados foram posteriormente organizados em planilhas do Excel, analisados descritivamente e submetidos a testes de normalidade no software JASP. Posteriormente, utilizou-se o teste de Shapiro Wilk para verificar a normalidade dos dados, e em seguida o teste t pareado de Wilcoxon, para comparação entre os grupos, com o objetivo de identificar possíveis diferenças estatisticamente significativas nos desempenhos físicos em função das variáveis analisadas.
3 RESULTADOS
Tabela 1. Dados descritivos dos avaliados

SDN – Semestre de Nascimento; IDADE – Idade (em anos); FSP – Frequência Semanal de Pratica Esportiva; THS – Total de Horas Semanais de Treinamento; IMC – Índice de Massa Antropométrica; RCE – Relação Cintura-Estatura; SEA – Teste de Sentar e Alcançar; ABD – Teste de Abdominal (quantidade de repetições); 6 MIN – Corrida de 6 minutos (distância em metros); SAL. HOR – Salto Horizontal (em centímetros); MDB – Arremesso de Medicine Ball (em metros); QUA – Teste do Quadrado (tempo em segundos); 20 M – Corrida de 20 metros (tempo em segundos).
A Tabela 1, apresenta os dados descritivos dos participantes, com média de idade de 14 anos e frequência semanal de prática física de duas vezes, totalizando cerca de 4 horas por semana. O IMC médio foi de 19,5 kg/m² e a relação cintura-estatura ficou em 0,34, indicando proporções antropométricas adequadas para a faixa etária (GAYA et al., 2021). O desempenho físico variou bastante, especialmente na flexibilidade (SEA), resistência aeróbica (corrida de 6 minutos) e força de membros superiores (arremesso de medicine ball). A maioria das variáveis não apresentou distribuição normal, sugerindo a necessidade de testes estatísticos não paramétricos. De modo geral, os dados indicam um grupo com níveis variados de aptidão física.
Tabela 2. Média dos valores obtidos nos testes motores com base nos critérios do PROESP-BR

SEM. IDA – Semestre de Nascimento e Idade; SEA – Teste de Sentar e Alcançar; ABD – Teste de Abdominal (quantidade de repetições); 6 MIN – Corrida de 6 minutos (distância em metros); SAL. HOR – Salto Horizontal (em centímetros); MDB – Arremesso de Medicine Ball (em metros); QUA – Teste do Quadrado (tempo em segundos); 20 M – Corrida de 20 metros (tempo em segundos).
A análise dos resultados demonstra que a maioria dos participantes apresentou níveis abaixo do recomendado nas capacidades de flexibilidade (SEA), resistência abdominal (ABD), força de membros superiores (MDB) e agilidade (QUA), concentrando-se nas classificações “Fraco” e “Razoável” (GAYA et al., 2021). Por outro lado, o desempenho no salto horizontal (SAL. HOR) foi relativamente superior, com a maioria dos participantes classificados entre “Bom” e “Muito Bom”, indicando maior força explosiva de membros inferiores. Já o teste de 20 metros (20M) apresentou variação significativa, com desempenhos distribuídos entre “Fraco”, “Razoável” e “Muito Bom”, o que aponta para uma heterogeneidade no desenvolvimento motor. Diferentemente do esperado, o teste de corrida de 6 minutos (6MIN) revelou desempenho predominantemente fraco, contrariando a expectativa de melhor aptidão cardiorrespiratória.
Tabela 3. Comparação das variáveis entre nascidos no 1º e 2º semestre

A tabela Comparação de Variáveis Físicas Entre Nascidos no 1º e 2º Semestre revelou diferenças estatisticamente significativas em três variáveis: Sentar e Alcançar (p = 0,030), Salto Horizontal (p = 0,019) e Arremesso de Medicine Ball (p = 0,014). Através de análise numérica foi identificado que crianças nascidas no primeiro semestre apresentaram melhor desempenho em flexibilidade, potência de membros inferiores e força de membros superiores. As demais variáveis não apresentaram diferenças significativas entre os grupos.
Tabela 4. Comparação de resultados por idade cronológica (13 a 16 anos)

Os dados sugerem que, na comparação entre adolescentes de 13 e 14 anos com adolescentes de 15 a 16 anos, a variável resistência abdominal é a única que se altera significativamente com a idade. As demais variáveis analisadas não mostraram diferenças estatisticamente relevantes entre as faixas etárias, o que pode indicar influências de outros fatores além da idade cronológica.
Tabela 5. Analise comparativa entre grupos sobre relação cintura-estatura: risco vs. baixo risco

A análise mostra que adolescentes com RCE elevado (o que indica maior risco à saúde) tendem a praticar menos atividade física semanalmente (BIM et al, 2021) e apresentam desempenho inferior no salto em horizontal, o que pode refletir menor nível de aptidão física, especialmente em capacidades como potência de membros inferiores. As demais variáveis não demonstraram diferenças significativas entre os grupos, o que sugere que o RCE pode afetar aspectos específicos da aptidão física, principalmente aqueles relacionados à prática e intensidade da atividade física.
4 DISCUSSÃO
A média de idade dos participantes (14 anos) e a frequência semanal de prática física (duas vezes por semana, totalizando aproximadamente 4 horas) indicam um perfil de adolescentes em transição maturacional, com diferentes níveis de aptidão física. O IMC médio de 19,5 kg/m² e a relação cintura-estatura de 0,34 sugerem, em geral, uma composição corporal adequada para a faixa etária, favorecendo o desenvolvimento das capacidades motoras (BOJIKIAN et al., 2005; SEABRA et al., 2001).
No entanto, a variação observada no desempenho físico, especialmente nas variáveis de flexibilidade, resistência aeróbica e força de membros superiores, evidencia a heterogeneidade do grupo, possivelmente influenciada pela baixa frequência de treinamento, bem como por fatores biológicos e ambientais (DE FARIAS et al., 2015).
A análise dos grupos conforme o semestre de nascimento confirma a presença do RAE no contexto esportivo (ROGEL et al., 2007). No presente estudo os participantes nascidos no primeiro semestre do ano apresentaram melhor desempenho em flexibilidade (Sentar e Alcançar), potência de membros inferiores (Salto Horizontal) e força de membros superiores (Arremesso de Medicine Ball), corroborando com estudos que apontam vantagens para indivíduos mais velhos dentro da mesma faixa etária (DE OLIVEIRA MATTA et al., 2015; PENNA et al., 2012). Essa desigualdade pode interferir nos processos de detecção de talentos e favorecer seletivamente os nascidos no primeiro semestre, comprometendo a equidade na participação esportiva (VILLAR et al., 2001).
Por outro lado, a resistência abdominal foi a única variável associada significativamente à idade cronológica, sendo que adolescentes entre 15 e 16 anos apresentaram melhor desempenho do que aqueles com idades entre 13 e 14 anos. Esse achado sugere que a resistência muscular localizada pode evoluir de forma mais linear durante a adolescência, ao passo que outras capacidades físicas parecem depender mais de variáveis como maturação, fatores genéticos, ambientais ou da especificidade do treinamento e/ou atividades diárias (DOBROWOSKI et al., 2018).
Outro ponto importante refere-se à relação entre o risco cardiometabólico, estimado pela RCE, e o desempenho físico. Indivíduos com RCE elevado tendem a praticar menos atividade física (BIM et al., 2021), e apresentam pior desempenho em testes que exigem potência muscular, como o salto horizontal. Isso reforça a influência negativa de uma composição corporal desfavorável sobre a aptidão física, particularmente em capacidades que envolvem força e explosão muscular (RABELLO, 2018).
Os resultados dos testes físicos evidenciaram que a maioria dos participantes apresentou desempenho abaixo do recomendado em força, flexibilidade e resistência muscular localizada, com classificações predominantes entre “Fraco” e “Razoável” (GAYA et al., 2021). Por outro lado, no teste de corrida de 6 minutos, observou-se uma aptidão cardiorrespiratória relativamente superior. O teste de 20 metros, por sua vez, mostrou grande variabilidade, sugerindo diferenças individuais no desenvolvimento motor, possivelmente relacionadas à maturação, composição corporal e frequência de prática.
Esses achados reforçam a importância de abordagens integradas no planejamento esportivo, que considerem variáveis como idade cronológica, semestre de nascimento e indicadores antropométricos como fatores determinantes do desempenho físico. Estratégias pedagógicas que minimizem os efeitos do RAE e valorizem diferentes perfis biológicos podem promover uma formação esportiva mais justa e eficiente. Estudos prévios demonstram que adolescentes com maior acúmulo de gordura corporal tendem a apresentar menor desempenho em testes de força e potência muscular, como o salto horizontal, devido à sobrecarga no sistema músculo-esquelético (DE FARIAS et al., 2015; ULBRICH et al., 2007). Além disso, jovens com maturação tardia e composição corporal inadequada também demonstram menor rendimento em atividades que exigem força explosiva (DOBROWOSKI et al., 2018), o que reforça a necessidade de intervenções específicas e monitoramento contínuo no contexto do treinamento esportivo.
Tais evidências reforçam a importância da sistematização do treinamento e do monitoramento contínuo das variáveis corporais e motoras, permitindo ajustes nas cargas e nos conteúdos conforme as necessidades individuais e prevenindo possíveis prejuízos no desenvolvimento atlético e no engajamento dos praticantes.
Por fim, destaca-se como limitação do estudo a baixa frequência semanal de treinamento, que pode ter contribuído para a variabilidade dos resultados e para a ausência de diferenças significativas em algumas variáveis. Investigações futuras poderiam explorar amostras maiores e analisar o impacto de diferentes volumes e intensidades de treino, além de incluir variáveis adicionais como maturação biológica e fatores psicossociais, com o objetivo de ampliar a compreensão sobre o desenvolvimento esportivo em jovens (MALINA et al., 2004).
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo identificou que o desenvolvimento da resistência abdominal está relacionado à idade cronológica, mas outras capacidades físicas dependem mais de fatores biológicos e ambientais. A composição corporal (antropometria) também influencia o desempenho físico e está associada ao risco cardiometabólico, reforçando a importância da saúde corporal no desempenho esportivo.
Diante disso, destaca-se a importância de planejamentos esportivos que considerem a interação entre idade, biologia e ambiente, buscando reduzir desigualdades causadas pelo ERA (BIM et al,. 2021) e promovendo o desenvolvimento motor e o bem-estar dos jovens atletas.
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