ICMS E INCENTIVOS FISCAIS NO BRASIL

ICMS AND TAX INCENTIVES IN BRAZIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10034414


Cassio Ferreira Carreiro¹
Francine Adilia Rodante Ferrari Nabhan²


RESUMO: Este artigo aborda estudos sobre o ICMS e Incentivos Fiscais no Brasil, revelando o cenário tributário brasileiro, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e como ele desempenha um papel central na arrecadação de receitas estaduais e na regulação das transações comerciais no país, adentrando-se aos incentivos fiscais, que compreendem uma variedade de medidas, como isenções, créditos presumidos e benefícios fiscais para determinadas indústrias. Tais aspectos têm sido uma ferramenta crucial nas políticas governamentais para impulsionar o crescimento econômico e criar um ambiente de negócios mais competitivo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa correlacionado com a problematização da falta de transparência na concessão de incentivos fiscais do ICMS que afeta a sustentabilidade financeira dos estados. O objetivo geral dessa pesquisa é analisar a efetividade do ICMS e incentivos fiscais, bem como os seus efeitos face a economia brasileira. As etapas do trabalho se basearam na realização de leituras de obras para verificar se a publicação se tratava do tema da pesquisa, como também, analisando as leis vigentes e a repercussão delas perante o tema exposto, e a leitura de todo o trabalho com seleção e descrição dos principais resultados. Com base na revisão de literatura realizada, este artigo está estruturado em quatro seções além da introdução. A segunda seção visa sobre o conceito e evolução do ICMS no Brasil, já a terceira seção trata sobre os incentivos fiscais no Brasil e por fim a quarta e última seção aborda os efeitos dos incentivos fiscais e do ICMS na economia.

Palavras Chave: ICMS. Incentivos Fiscais. Guerra Fiscal

ABSTRACT: This article discusses studies on ICMS and Tax Incentives in Brazil, revealing the Brazilian tax scenario, the Tax on the Circulation of Goods and Services (ICMS) and how it plays a central role in the collection of state revenues and in the regulation of commercial transactions in the country, delving into tax incentives, which comprise a variety of measures, such as exemptions, presumed credits, and tax benefits for certain industries. Such aspects have been a crucial tool in government policies to drive economic growth and create a more competitive business environment. This is a bibliographic research with a qualitative approach correlated with the problematization of the lack of transparency in the granting of ICMS tax incentives that affects the financial sustainability of the states. The general objective of this research is to analyze the effectiveness of ICMS and tax incentives, as well as their effect on the Brazilian economy. The stages of the work were based on the reading of works to verify if the publication was the theme of the research, as well as analyzing the laws in force and their repercussion on the theme exposed, and the reading of the entire work with selection and description of the main results. Based on the literature review, this article is structured in four sections in addition to the introduction. The second section deals with the concept and evolution of ICMS in Brazil, the third section deals with tax incentives in Brazil and finally the fourth and last section addresses the effects of tax incentives and ICMS on the economy.

KEYWORD: ICMS. Tax Incentives. Tax War

1. INTRODUÇÃO

No cenário tributário brasileiro, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) desempenha um papel central na arrecadação de receitas estaduais e na regulação das transações comerciais no país. Instituído pela Constituição de 1988, o ICMS é um imposto estadual que incide sobre a circulação de mercadorias, serviços de transporte e comunicação, sendo vital para o financiamento dos governos estaduais e essencial para a manutenção de serviços públicos. Paralelamente ao ICMS, o Brasil utiliza uma gama diversificada de incentivos fiscais como uma estratégia para promover o desenvolvimento econômico, atrair investimentos e fortalecer setores específicos da economia.

Os incentivos fiscais, que compreendem uma variedade de medidas, como isenções, créditos presumidos e benefícios fiscais para determinadas indústrias, têm sido uma ferramenta crucial nas políticas governamentais para impulsionar o crescimento econômico e criar um ambiente de negócios mais competitivo. No entanto, o uso extensivo desses incentivos também levanta questões complexas sobre a eficiência do sistema tributário, a equidade fiscal, a concorrência entre os estados e a necessidade de uma reforma tributária abrangente.

O presente artigo visa destacar a relevância do ICMS e dos incentivos fiscais no contexto brasileiro, fornecendo uma visão panorâmica das dinâmicas que envolvem essas políticas, bem como expor os efeitos causados na economia e suas consequências. Ao explorar a interseção entre o ICMS e os incentivos fiscais, este estudo pretende aprofundar a compreensão sobre como esses instrumentos moldam o panorama econômico do Brasil. Ao examinar os desafios enfrentados na implementação dessas políticas e considerar as implicações para a economia nacional, esta pesquisa busca oferecer insights valiosos para os formuladores de políticas, acadêmicos e profissionais interessados em questões fiscais e desenvolvimento econômico no Brasil. Nesse contexto, este trabalho visa não apenas elucidar as complexidades desses sistemas, mas também propor soluções inovadoras para otimizar a eficácia dessas políticas, promovendo um ambiente de negócios mais equitativo, transparente e dinâmico no Brasil.

A presente pesquisa trata-se de uma pesquisa sobre o ICMS e os incentivos fiscais no Brasil, correlacionado com a problematização da falta de transparência na concessão de incentivos fiscais do ICMS que afeta a sustentabilidade financeira dos estados.

O objetivo geral dessa pesquisa é analisar a efetividade do ICMS e incentivos fiscais, bem como os seus efeito face a economia brasileira. Quanto aos objetivos específicos são analisar a atual legislação do ICMS, incentivos fiscais verificando sua aplicabilidade no Brasil e fomentar o desenvolvimento econômico do Brasil em decorrência da isenção fiscal do ICMS.

Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se dados, informações bibliográficas e documentos eletrônicos na busca de outros estudos e autores sobre o tema. Nesse sentido, foi realizada uma uma revisão bibliográfica específica com intuito de levantar informações literárias de acordo com o tema proposto.

A primeira etapa do trabalho foi realizar a leitura de resumos para verificar se a publicação se tratava do tema da pesquisa, analisando as leis vigentes e a influência delas perante o tema exposto e a leitura de todo o trabalho com seleção e descrição dos principais resultados na sequência.

Desse modo, após a delimitação do tema, verificou-se o conteúdo bibliográfico necessário para a construção da fundamentação teórica em busca da familiarização com a temática, que consiste no levantamento de embasamentos teóricos, com o intuito de agregar informações literárias como base na exploração de artigos e teses.

2. CONCEITO E EVOLUÇÃO DO ICMS NO BRASIL

Na Constituição Federal de 1988, o atual ICMS é um tributo de natureza fiscal e extrafiscal, concomitantemente, porque constitui importante fonte de receita aos Estados e ao Distrito Federal, ao mesmo tempo em que tem a função de propiciar a facilitação da circulação de mercadorias essenciais. Conforme determina o artigo 155, §2º, inciso III, da Constituição Federal.

O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é um imposto estadual no Brasil. Ele incide sobre a circulação de mercadorias, serviços de transporte interestadual e intermunicipal, e comunicação. O ICMS é regulamentado pela Constituição Federal do Brasil e é um imposto indireto, o que significa que seu ônus financeiro é repassado ao consumidor final, embutido no preço dos produtos e serviços. É válido mencionar que existem alguns produtos livres deste imposto, como por exemplo o comércio de livros e jornais, ou processos que envolvam mercadorias enviadas para a venda no exterior, energia elétrica, insumos agrícolas e automóveis adaptados para pessoas especiais. Desse modo, o Jornal Contábil lista as seguintes operações como sendo de não incidência de ICMS:

Circulação e Comércio de livros, jornais e periódicos, assim como os papéis que são utilizados para a sua impressão; Exportação de mercadorias; Aquisição de mercadorias destinadas à prestação de serviços para o próprio; Operações relacionadas à energia elétrica, petróleo e combustíveis, assim como de ouro quando considerado ativo financeiro ou instrumento de câmbio; Operações de arrendamento mercantil e de alienação fiduciária de imóvel em garantia; Transferência de propriedades ou bens imóveis (comerciais, industriais e de outra espécie); Além também de casos que a legislação estadual estabelece como exceções(JUNIOR,2019).

Segundo Sabbag (2014, p. 1110), ICMS é um Imposto a ser cobrado sobre operações relativas mediante à circulação das mercadorias e também sobre prestação dos serviços de transporte interestadual e intermunicipal, sobre a comunicação, sendo assim é um tributo com múltiplas hipóteses de incidência.

Destaca-se que o contribuinte do ICMS pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica que de forma habitual seja caracterizada o seu trabalho comercial, operação de circulação de mercadorias ou prestações de serviços de transporte interestadual ou intermunicipal e até mesmo de comunicação, ainda que determinadas operações se iniciem no exterior, nos termos do art. 4º da Lei Complementar 87/1996.

Conforme mencionado o ICMS é um imposto estadual, mas sua legislação é nacional, seguindo regras gerais estabelecidas pela Lei Complementar nº 87/1996, conhecida como Lei Kandir. No entanto, cada estado brasileiro tem o direito de ajustaras alíquotas e as regras de aplicação do ICMS de acordo com suas necessidades específicas.

Desse modo, a CRFB/88 em seu art. 155 expõe que o fato gerador do ICMS é a circulação de mercadorias ou prestação de serviços interestadual ou intermunicipal de transporte e comunicação, no qual essas empresas são responsáveis por calcular, coletar e repassar o imposto aos cofres públicos estaduais.

A arrecadação do ICMS é uma importante fonte de receita para os estados brasileiros, financiando uma variedade de serviços públicos, como saúde, educação e segurança. O ICMS também é um dos principais instrumentos de política fiscal utilizado pelos estados para promover o desenvolvimento regional e estimular a economia local por meio de incentivos fiscais e diferimentos tributários para determinados setores e atividades.

O ICMS tem suas raízes históricas na Constituição Brasileira de 1946, que instituiu o “Imposto sobre Vendas e Consignações”, um tributo que tinha características semelhantes às do ICMS atual. No entanto, o ICMS como o conhecemos hoje foi efetivamente instituído com a Constituição Federal de 1988, que estabeleceu a competência dos estados e do Distrito Federal para instituir e cobrar o imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços.

A criação do ICMS em sua forma moderna representou uma mudança significativa no sistema tributário brasileiro. Antes da Constituição de 1988, havia uma variedade de tributos estaduais sobre a circulação de mercadorias, cada um com suas próprias regras e regulamentações. Com a promulgação da Constituição de 1988, esses tributos foram unificados em um único imposto: o ICMS. Desde então, o ICMS tem sido um dos principais impostos estaduais no Brasil, desempenhando um papel vital na arrecadação de receitas para os estados e no financiamento de serviços públicos essenciais. Ao mesmo tempo, o ICMS tornou-se um ponto focal de debates políticos e econômicos, especialmente em relação à sua complexidade e às disputas fiscais entre os estados.

Uma das características notáveis do ICMS é sua adaptabilidade a diferentes contextos econômicos e políticos. Ao longo das décadas, o imposto passou por várias mudanças e ajustes para se adequar às transformações na economia brasileira e às demandas dos estados. A evolução das alíquotas, bem como a introdução de regimes especiais e incentivos fiscais, são reflexos dessas adaptações às necessidades cambiantes do país.

O ICMS não apenas desempenha um papel fundamental na economia brasileira, mas também reflete a dinâmica política e econômica do país ao longo das décadas. Suas origens na Constituição de 1988 e sua subsequente evolução são indicativas das transformações e desafios enfrentados pelo Brasil em seu desenvolvimento econômico e fiscal.

Sabe-se que atualmente existem grandes debates sobre a implementação de uma reforma tributária no Brasil, visto que metade das receitas tributárias é gerada pelo sistema de tributos de consumo de bens e serviços SLEMROD, BAKIJA (2017). Além disso, o ICMS também foi objeto de discussões referente a reforma tributária, propostas de simplificação do sistema tributário brasileiro frequentemente incluem mudanças no ICMS, buscando torná-lo mais transparente, eficiente e equitativo.

Segundo pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) a proposta da reforma tributária caminha na direção certa, entretanto, ainda precisa de alguns ajustes, pois no Brasil a sociedade nao lida com a questão da equidade tributária. Desse modo, destaca a possibilidade do estabelecimento de uma tributação sobre os lucros e dividendos mediante as medidas previstas pela PL 3.227/2021.

3. INCENTIVOS FISCAIS NO BRASIL

Os incentivos fiscais no Brasil podem se referir a diversas áreas, tais como reduções de impostos, isenções, créditos tributários, financiamentos subsidiados, entre outros benefícios concedidos pelos governos federal, estaduais ou municipais para estimular atividades econômicas específicas.

Primariamente, os chamados “incentivos fiscais” nada mais são do que modalidade de benefício fiscal destinado ao fomento de determinada atividade ou setor, através de desonerações tributárias (PINTO, 2023, p. 28-30).

O CTN é uma Lei federal que estabelece as normas gerais de direito tributário aplicáveis a todos os entes federativos no Brasil. No entanto, o CTN não detalha os incentivos fiscais específicos, pois estes são regulamentados por leis estaduais, municipais e federais, além de decretos, resoluções e portarias de órgão reguladores.

Essas políticas, estabelecidas pelo governo, visam criar um ambiente favorável aos negócios, gerar empregos, promover inovação e aumentar a competitividade das empresas. No Brasil, os incentivos fiscais são aplicados em diversas áreas, desde indústrias tradicionais até setores inovadores e sustentáveis.

Uma das formas mais comuns de incentivos fiscais no Brasil é a redução de impostos. Empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento, especialmente em tecnologia e inovação, muitas vezes podem se beneficiar de isenções ou reduções significativas em impostos federais, estaduais e municipais. Isso não apenas estimula a inovação, mas também fortalece a posição global do Brasil como um centro de tecnologia emergente.

Além disso, o Brasil utiliza incentivos fiscais para promover o desenvolvimento regional. Empresas que se estabelecem em áreas economicamente menos desenvolvidas podem desfrutar de benefícios fiscais, o que não apenas impulsiona o desenvolvimento local, mas também reduz as disparidades regionais.

Ao analisarmos a ideia de incentivos fiscais, pondera-se que se trata de uma subespécie fiscal ou subvenção, sendo identificada como uma vantagem patrimonial concedida pelo Estado sem que este faça faça jus a uma contrapartida.

Dentre as espécies de subvenções admitidas no direito tributário, encontram-se as subvenções diretas (que realizam transferência de recursos do Estado para o beneficiário) e os benefícios fiscais, que implicam renúncia de receitas (tax expenditures) em favor do beneficiário, sempre com finalidades extrafiscais (ASSIS, 2023, p. 427 e ss). Portanto, no cenário econômico brasileiro, os incentivos fiscais desempenham um papel crucial como ferramenta estratégica para impulsionar crescimento, atrair investimentos e fortalecer setores específicos.

4. EFEITOS DOS INCENTIVOS FISCAIS E DO ICMS NA ECONOMIA

A atividade fiscal de governo influencia a economia, seja através da aplicação de recursos públicos pelo processo político e orçamentário, seja pela arrecadação desses recursos, principalmente por meio da atividade tributária. Os efeitos dos incentivos fiscais e do ICMS na economia brasileira são notáveis e multifacetados. Essas políticas desempenham um papel crucial ao influenciar o comportamento das empresas, o investimento estrangeiro, e o desenvolvimento econômico regional.

Primeiramente, os incentivos fiscais reduzem a carga tributária sobre as empresas, incentivando investimentos em produção e inovação. Empresas que se beneficiam dessas reduções frequentemente expandem suas operações, aumentando a oferta de bens e serviços no mercado. Isso não apenas estimula o crescimento econômico, mas também cria empregos, fortalecendo a economia doméstica. Além disso, incentivos voltados para a inovação e pesquisa impulsionam o desenvolvimento tecnológico. Empresas são encorajadas a investir em novas tecnologias, melhorando a eficiência e a competitividade no cenário global. Esse investimento contínuo em pesquisa não apenas beneficia as empresas individualmente, mas também contribui para o avanço tecnológico do país como um todo.

Os incentivos fiscais figuram como medidas que buscam excluir, total ou parcialmente, o crédito tributário, aplicadas com a finalidade de desenvolver economicamente uma determinada região, ou um determinado setor de atividade. Gadelha (2010) explica que, em sentido mais amplo, os incentivos fiscais seriam instrumentos de intervenção no domínio econômico, a fim de que o estado possa concretizar vetores e valores que nortearam suas políticas públicas.

Os incentivos fiscais também desempenham um papel crucial na atração de investidores estrangeiros. Reduções fiscais tornam o Brasil mais atraente para investimentos estrangeiros diretos, resultando em fluxos significativos de capital estrangeiro para a economia nacional. Isso não apenas impulsiona o setor privado, mas também fortalece a balança de pagamentos do país.

Além disso, essas políticas muitas vezes visam o desenvolvimento regional. Oferecer incentivos em regiões menos desenvolvidas estimula o crescimento econômico nessas áreas, reduzindo disparidades regionais. O aumento de investimentos nessas regiões não apenas cria empregos, mas também melhora a infraestrutura, elevando o padrão de vida local.

Posto isto, pesquisas como as de Nascimento et al. (2002), Carvalho e Oliveira (2003), Oliveira e Dias (2011), Cardozo (2013) e Oliveira et al. (2014), Cardozo (2013) analisaram o impacto dos incentivos fiscais por diversas métricas (emprego, PIB per capita, arrecadação tributária, valor adicionado industrial, entre outros) e, em todos eles, os resultados mostraram-se aquém do esperado, numa demonstração deque os incentivos fiscais não promoveram uma dinamização nas regiões beneficiadas.

Por outro lado, em seus trabalhos, Luca e Lima (2007) e Nascimento (2009) concluíram que as políticas estaduais de incentivos fiscais contribuíram positivamente para o desenvolvimento econômico das regiões. Trouxeram impactos significativos para os estados considerados menos desenvolvidos. Os trabalhos, como os de Ferreira e Oliveira (2009), Lima e Lima (2010) e Armange e Mello (2014) verificaram apenas impactos parciais na economia. Ressaltaram que tais políticas, por si só, não seriam suficientes para garantir a redução das desigualdades econômicas regionais.

Entretanto, apesar dos benefícios evidentes, a implementação eficaz e a supervisão rigorosa são essenciais para evitar abusos e garantir que os incentivos sejam direcionados para os setores desejados. Transparência nas políticas fiscais é fundamental para garantir uma distribuição equitativa dos benefícios e evitar a chamada “guerra fiscal” entre estados, onde a concorrência por investimentos pode levar a uma alocação ineficiente de recursos.

Em suma, os incentivos fiscais e o ICMS desempenham um papel vital na economia brasileira, estimulando investimentos, fomentando inovação, atraindo investidores estrangeiros e promovendo o desenvolvimento regional. Quando geridos eficaz e transparentemente, essas políticas contribuem significativamente para um ambiente econômico mais robusto e dinâmico, beneficiando tanto empresas quanto a sociedade em geral.

Ao abordarmos assuntos relacionados às políticas de desenvolvimento regional por meio de práticas de incentivos fiscais, se torna indiscutível a necessidade de se verificar os efeitos que a guerra fiscal tem sobre as operações. Para Lima e Lima (2010):

O fator que impulsiona a guerra fiscal no Brasil, se relaciona à estrutura de tributação do ICMS, que é entendido como o principal responsável pelo valor adicionado nacional, por representar um dos tributos com a maior carga tributária.

Entretanto, determinada discussão se baseia nas diferenças impostas pelos Estados referente as alíquotas do comércio interestadual, visto que, primeiramente é de competência estadual a tributação do ICMS. Mesmo que estudos apontem para os benefícios dos incentivos fiscais, no Brasil tais efeitos não estão claros, visto que segundo a pesquisa de Porsse (2005), ressalta que apesar dos incentivos terem como meta principal ordenar o desenvolvimento de maneira que estes estados ou regiões possam competir de forma paritária com grandes centros industriais a política de incentivos fiscais ainda continua sendo falha, pois de certa forma, são nítidas as desigualdades regionais referente as indústrias e seus incentivos.

O ICMS é considerado um tributo cobrado em toda mercadoria e serviço que circula entre cidades, estados ou de pessoas jurídicas para físicas. Desse modo, o ICMS está presente em todas as etapas consumeristas, desde a produção até a destinação ao consumidor final.

Vale ressaltar que atualmente o imposto principal ao sobre o consuma é o ICMS, imposto no qual é de competência estadual e tem o seu caráter nacional, pois de acordo com o Ministério da Fazenda, em 2012 a arrecadação total deste imposto teve um montante significativo para a economia brasileira, no qual se perfez R$ 327 bilhões.

Em suma, nos momentos em que há uma alta taxa do imposto entre determinados segmentos, a exemplo da alimentação e combustíveis, acaba por impactar diretamente nos preços, portanto, havendo reajustes para compensar o aumento do valor cobrado de quem produz. Ainda sim é válido mencionar que a alta taxa de tributos pode impactar diretamente a inflação, ou seja, o movimento de aumento de preço de produtos e serviços, mas a tributação não é considerada por si só, o maior problema, visto que a alta dos preços pode ser motivada também por diversos fatores, como o setor político, escassez de mão de obra ou produtos.

4.1 Desafios e considerações futuras face aos incentivos fiscais e o ICMS

O cenário tributário brasileiro, especialmente no que diz respeito ao ICMS e aos incentivos fiscais, está diante de desafios significativos que exigem atenção cuidadosa e políticas inovadoras para o futuro. Um dos principais desafios é a chamada “guerra fiscal” entre os estados, onde a competição para atrair investimentos resulta em concessões excessivas de incentivos fiscais.

Este fenômeno não apenas cria desigualdades econômicas e distorções no mercado, mas também prejudica a arrecadação dos estados, comprometendo serviços públicos essenciais. Outra questão crucial é a complexidade do sistema tributário brasileiro, que torna difícil para as empresas compreenderem completamente suas obrigações fiscais. Simplificar e uniformizar as regras do ICMS, especialmente no que se refere aos incentivos fiscais, é fundamental para promover a transparência e facilitar a conformidade fiscal.

A sustentabilidade fiscal é um ponto crucial a considerar. Embora os incentivos fiscais sejam vitais para estimular o investimento e o desenvolvimento, é essencial garantir que não comprometam a capacidade do governo de financiar serviços públicos essenciais a longo prazo. Equilibrar a concessão de incentivos com a manutenção da receita pública é um desafio complexo que exigirá uma gestão cuidadosa.

O advento da economia digital também apresenta desafios únicos, especialmente quando se trata de tributação. Adaptar o sistema tributário para lidar com transações online, empresas digitais e economia compartilhada é imperativo para evitar evasões fiscais e garantir uma tributação justa e eficaz.

Além disso, a conscientização pública sobre a importância dos impostos e o uso adequado dos incentivos fiscais é essencial. Programas de educação fiscal podem ajudar a criar uma compreensão mais ampla sobre como esses funcionam e qual é o seu impacto na economia.

Enfrentar esses desafios requer uma abordagem colaborativa entre os diferentes níveis de governo, além de envolver o setor privado e a sociedade civil. Uma reforma tributária que promova a simplificação, a justiça fiscal e a transparência, aliada a uma gestão eficaz dos incentivos fiscais, será fundamental para garantir um sistema tributário sólido e equitativo para o Brasil no futuro.

4.1.2 Guerra fiscal

Guilherme Bueno de Camargo conceitua o fenômeno da guerra fiscal como sendo uma generalização competitiva entre Estados e Distrito Federal, através da concessão de benefícios e renúncia fiscal, para atração de investimentos privados, “conflito este que se dá em decorrência de estratégias não cooperativas dos entes da Federação e pela ausência de coordenação e composição dos interesses por parte do governo central”.

Segundo Prado e Cavalcanti:

Classe geral de fenômenos que emergem quando iniciativas políticas de governos subnacionais adquirem conotações negativas geram efeitos econômicos perversos em decorrência do caráter insuficiente ou conjunturalmente inoperante do quadro político institucional que regula os conflitos federativos, o qual se revela incapaz de garantir um equilíbrio mínimo entre interesses locais para evitar efeitos macroeconômicos e sociais perversos. No caso em questão, essas iniciativas são os de benefícios fiscais com a finalidade de induzir a alocação de investimentos nos territórios locais.

Conseguinte, se baseia como um fenômeno que decorre de conflitos entre os entes federativos tributantes em consequência de atos unilaterais de concessão de vantagens a particulares, ao arrepio das disposições normativas, constitucionais e infraconstitucionais, seja por meio da concessão de benefícios ou incentivos fiscais, com a finalidade de gerar atrativos a investimentos particulares.

A guerra fiscal no Brasil, especialmente no contexto do ICMS e dos incentivos fiscais, é um fenômeno complexo e desafiador. Este termo refere-se à competição entre os estados brasileiros para atrair investimentos empresariais por meio daconcessão de incentivos fiscais cada vez mais generosos. Embora esses incentivos se destinem a estimular o desenvolvimento econômico regional, eles têm implicações profundas e muitas vezes indesejadas.

Uma das principais preocupações é a desigualdade econômica resultante. Estados mais ricos, ao oferecerem incentivos fiscais para atrair empresas, podem esvaziar a base tributária de estados menos desenvolvidos. Isso cria disparidades significativas na arrecadação de impostos e, por conseguinte, nos recursos disponíveis para serviços públicos essenciais, como saúde e educação. A concorrência desenfreada muitas vezes leva à concessão de benefícios que comprometem a capacidade dos governos estaduais de financiar políticas públicas fundamentais.

Além disso, a guerra fiscal resulta em uma falta de padronização e previsibilidade nas políticas tributárias estaduais. Empresas muitas vezes se beneficiam de incentivos fiscais que variam amplamente de estado para estado, tornando complexa a conformidade com as obrigações fiscais. Isso cria uma teia de regulamentações confusas e aumenta a carga burocrática para as empresas, especialmente aquelas que operam em nível nacional.

Para lidar com esse desafio, é essencial buscar uma abordagem coordenada e nacional para a política de incentivos fiscais. Uma reforma tributária abrangente que promova a harmonização das políticas estaduais, enquanto mantém o estímulo ao desenvolvimento regional, é fundamental. Além disso, uma maior transparência e supervisão eficaz na concessão e utilização dos incentivos fiscais são necessárias para evitar abusos e garantir que essas políticas beneficiem verdadeiramente o desenvolvimento econômico sustentável em todo o país.

Em última análise, a resolução do desafio da guerra fiscal requer uma abordagem estratégica e colaborativa entre os governos estaduais e federal, focada na promoção de um ambiente de negócios equitativo e na garantia da justiça fiscal para todos os brasileiros.

5. CONCLUSÃO

O ICMS e os incentivos fiscais no Brasil representam ferramentas complexas e multifacetadas no contexto econômico e fiscal do país. Ao longo das décadas, esses instrumentos têm desempenhado um papel crucial no estímulo ao desenvolvimento econômico, na atração de investimentos, na promoção da inovação e na redução das desigualdades regionais.

No entanto, diante dos benefícios, surgem desafios significativos. A complexidade do sistema tributário brasileiro, juntamente com a chamada “guerra fiscal” entre os estados, destaca a necessidade urgente de uma reforma tributária abrangente. Tal reforma deve visar simplificar o sistema, tornando-o mais transparente, previsível e justo para empresas e cidadãos. A falta de transparência e a competição desenfreada entre estados podem levar a uma alocação ineficiente de recursos, minando os propósitos originais dos incentivos fiscais.

Além disso, é crucial garantir que esses instrumentos sejam aplicados de maneira equitativa e que os benefícios alcancem não apenas grandes corporações, mas também pequenas e médias empresas, estimulando, assim, a economia como um todo. A transparência na concessão e na gestão dos incentivos, juntamente com uma fiscalização eficaz, são essenciais para evitar abusos e assegurar que os recursos públicos sejam utilizados para o bem comum.

O Brasil enfrenta a tarefa complexa de equilibrar a necessidade de promover o desenvolvimento econômico com a busca por uma base tributária sólida e justa. Isso exige uma abordagem cuidadosa e equilibrada na formulação e implementação de políticas fiscais. À medida que o país avança, é imperativo que as políticas relacionadas ao ICMS e aos incentivos fiscais sejam moldadas por princípios de transparência, equidade e sustentabilidade, visando não apenas o crescimento econômico, mas também a melhoria da qualidade de vida de todos os brasileiros.

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¹Acadêmico do Curso de Bacharelado em Direito da Unisulma/IESMA.
²Professor(a)