HYPOSPADIAS IN A DOG: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409241504
Camila Cristina Vasconcelos Pereira1*
Jessica Salvadego1
Leonardo Martins Leal2
Cláudia Russo3
Maria Eduarda Borges Ranzani1
RESUMO
A hipospadia é uma anomalia congênita que afeta a genitália externa dos animais, caracterizada pela abertura anômala da uretra em uma posição ventral. O objetivo do estudo foi relatar um caso de hipospadia peniana em um cão da raça Pitbull, abordando os aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos, com ênfase nos métodos utilizados para confirmar o diagnóstico e a intervenção cirúrgica aplicada. O estudo baseou-se no atendimento clínico de um cão macho, Pitbull, de sete meses de idade, com queixa de deformidade congênita em pênis, prepúcio e uretra. A avaliação incluiu exame físico detalhado, hemograma, ultrassonografia e exame citológico. A inspeção física revelou uma fenda longitudinal ventral do prepúcio ao ânus, pênis subdesenvolvido e exposição ventral da uretra. Hemograma mostrou discreta anemia, hiperproteinemia e leucocitose com neutrofilia e eosinofilia, indicando inflamação ou infecção. A hipospadia, embora rara na prática veterinária, pode ser manejada eficazmente com intervenção cirúrgica adequada. A combinação de técnicas cirúrgicas precisas e cuidados pós-operatórios específicos, resultou em uma recuperação satisfatória do paciente, melhorando sua qualidade de vida.
Palavras-chave: Genitália Externa. Diagnóstico Veterinário. Cirurgia Reconstrutiva.
ABSTRACT
Hypospadias is a congenital anomaly affecting the external genitalia of animals, characterized by an anomalous opening of the urethra in a ventral position. The aim of this study was to report a case of penile hypospadias in a Pitbull dog, addressing the clinical, diagnostic and therapeutic aspects, with emphasis on the methods used to confirm the diagnosis and the surgical intervention applied. The study was based on the clinical care of a seven-month-old male Pitbull dog, complaining of congenital deformity of the penis, prepuce and urethra. The evaluation included a detailed physical examination, complete blood count, ultrasonography and cytological examination. Physical inspection revealed a longitudinal ventral cleft from the prepuce to the anus, underdeveloped penis and ventral exposure of the urethra. Complete blood count showed mild anemia, hyperproteinemia and leukocytosis with neutrophilia and eosinophilia, indicating inflammation or infection. Hypospadias, although rare in veterinary practice, can be effectively managed with appropriate surgical intervention. The combination of precise surgical techniques and specific postoperative care, resulted in a satisfactory recovery of the patient, improving his quality of life.
Keywords: External Genitalia. Veterinary Diagnosis. Reconstructive Surgery.
INTRODUÇÃO
Hipospadia é uma anomalia congênita de desenvolvimento da genitália externa, em que a uretra peniana termina de forma ventral e caudal em relação à sua abertura habitual (Costa et al., 2023). É acompanhada da hipoplasia dos corpos cavernosos, que pode se abrir em qualquer ponto ao longo do seu comprimento (Valente; Gonzalez; Contesini, 2014). A condição causa grande impacto sobre o bem-estar e saúde dos animais acometidos. Essa afecção tem predileção pelo gênero masculino em animais jovens com menos de 1 ano de idade (de Souza; Moreno; De Zoppa, 2018). A hipospadia é resultante da falha na fusão normal das dobras e intumescência genital durante o desenvolvimento fetal. Pode ser classificada com base na localização da abertura uretral em: glandular, peniana, escrotal, perineal ou anal (Volpato et al., 2010). Sua etiologia é desconhecida, porém, fatores teratogênicos ou hereditários podem estar correlacionados. A produção anormal de andrógenos e seus receptores, pode comprometer o desenvolvimento uretral normal nos machos (de Souza et al., 2021).
Em recém-nascidos humanos, a hipospadia é a doença mais comum observada do sexo masculino: acomete 1 a cada 350 nascimentos de bebês (Martinez et al., 2011). Porém, na Medicina Veterinária é uma condição pouco observada na rotina. Não há predisposição racial evidente, porém, foi sugerida a hipótese de maior incidência em algumas raças, como Boston Terrier, Pinscher, Cocker Spaniel, Collie, Doberman e Dogue Alemão (de Sá et al., 2016).
O diagnóstico definitivo é feito por meio da inspeção no exame físico, que são correlacionados com a anamnese. O desenvolvimento anormal da uretra peniana, do pênis, do prepúcio e do escroto representam os achados anatômicos da hipospadia. Devem ser descartados o pseudo-hermafroditismo, hermafroditismo verdadeiro, fístula ou trauma uretral, persistência do frênulo peniano e hipoplasia, que são diagnósticos diferencias (Rocha et al., 2017). Sinais clínicos incluem balanopostite que pode causar acúmulo de urina dentro do prepúcio ou dermatites consequentes do contato direto da pele com a urina, devido ao quadro de incontinência urinária (Rorig; Silveira, 2016). Ademais, é comum a presença de infecções persistentes ou recorrentes do trato urinário (Rodrigues et al., 2022).
O tratamento da condição é cirúrgico, e as técnicas de correção adotadas variam de acordo com a sua localização. Na medicina humana, a cirurgia envolve a reconstrução do prepúcio, do pênis e da uretra, visando corrigir de forma estética e funcional a genitália externa (Brito et al., 2019). Na medicina veterinária, a cirurgia é executada visando apenas a melhoria da qualidade de vida do animal. Em alguns casos, é aconselhado a reconstrução, com ou sem amputação peniana. A reconstrução prepucial se faz necessária em pacientes que tenha a formação do orifício prepucial incompleta e hipospadia da glande (de Sá et al., 2016). Para hipospadias severas, opta-se pela penectomia total e uretrostomia para desvio do fluxo urinário (Amorim et al., 2022).
Quando a abertura uretral se localiza próximo à extremidade peniana, o tratamento cirúrgico pode ser dispensável. Contudo, diante desses casos, para evitar queimaduras decorrentes da urina, são recomendados banhos frequentes com aplicação de unguentos próximo à abertura uretral e, caso tenha acúmulo de urina no prepúcio, lavagens diárias com solução salina fisiológica também é recomendada (Castro et al., 2007).
Objetivou-se relatar um caso raro de hipospadia peniana, em um cão macho, da raça Pitbull, com 7 meses de idade, enfatizando seu diagnóstico e conduta cirúrgica.
RELATO DE CASO
Um paciente canino da raça Pitbull, macho, com sete meses de idade e pesando 19 kg, resgatado, foi atendido na Clínica Veterinária Dra. Claudia Russo, localizada em Maringá-PR. A queixa principal era de deformidade congênita no pênis, prepúcio e uretra, com suspeita inicial de hermafroditismo. No exame físico geral, todos os parâmetros estavam normais para a espécie e o paciente não apresentava dor ou desconforto. Durante a inspeção, foi observada deformidade na região genital, caracterizada por uma fenda longitudinal ventral, que se estendia do prepúcio ao ânus, com aproximadamente 10 cm de comprimento. O pênis era subdesenvolvido, exibindo exposição ventral da uretra (Figura 1). Na palpação, constatou-se que a bolsa escrotal e os testículos também estavam subdesenvolvidos. Diante dos achados clínicos característicos de hipospadia peniana, foi indicada a cirurgia reconstrutiva da região, e exames complementares foram realizados para a avaliação geral do paciente.
Figura 1 – Aparência Clínica da Hipospadia Peniana em Cão da Raça Pitbull.
O hemograma do paciente revelou discreta diminuição no número de hemácias (5,86/µL), leve redução da amplitude de distribuição dos eritrócitos (R.D.W 11,6%), discreta hiperproteinemia (7,8 g/dL) e leve leucocitose (20.000/µL), caracterizada pelo aumento de neutrófilos (11.400/µL) e eosinófilos (4.200/µL). A bioquímica sérica indicou apenas uma discreta diminuição nos níveis de ureia (20,00 mg/dL). O exame ultrassonográfico não identificou a presença de tecido ovariano, descartando o possível diagnóstico de hermafroditismo associado.
Além das anormalidades geniturinárias, observou-se aumento dos linfonodos do linfocentro mesentérico cranial e ileossacral, sugerindo processo hiperplásico reacional (inflamatório/infeccioso), sem excluir a possibilidade de processo neoplásico. A medicação pré-anestésica incluiu metadona e ketamina. Após 20 minutos, a indução anestésica foi realizada com propofol, lidocaína e fentanil, seguida de intubação. A manutenção anestésica foi feita com isofluorano e infusão contínua de FLK (fentanil, lidocaína e ketamina). O animal foi posicionado em decúbito dorsal para tricotomia ampla e antissepsia da região com álcool à 70% e clorexidina alcoólica à 2%.
O paciente foi submetido à penectomia total devido ao desenvolvimento incompleto do pênis e prepúcio, associada a orquiectomia e ablação escrotal, conforme técnicas cirúrgicas descritas na literatura (Fossum, 2014). A técnica de uretrostomia não foi necessária, pois o animal já possuía uma abertura uretral funcional na região perineal. Durante o procedimento, observou-se aumento normal da vascularização peniana e agenesia parcial da parte ventral do ânus, onde a uretra se abria.
Além da correção cirúrgica, foi realizada citologia pelo método CAAF devido ao aumento significativo dos linfonodos inguinais. Pela CAAF, sugeriu-se linfonodo hiperplásico. Após a cirurgia, no pós-operatório imediato, foram administrados dipirona e tramadol para analgesia, cefalotina como antibioticoterapia, dexametasona em dose anti-inflamatória e ondasetrona como antiemético.
O animal recebeu alta no dia seguinte à cirurgia, com prescrição de enrofloxacina 5 mg/kg/SID por 10 dias, cloridrato de tramadol 5 mg/kg/TID por 3 dias, dipirona 25 mg/kg/BID por 7 dias e meloxicam 0,1 mg/kg/SID por 3 dias. Além das medicações, foi recomendada a limpeza dos pontos com solução de clorexidina a cada 24 horas por 7 dias, até a retirada dos pontos. Durante esse período, foi aconselhado o uso de roupa cirúrgica ou colar elisabetano. O paciente retornou após 18 dias para reavaliação e retirada dos pontos, com observação de epitelização total da ferida cirúrgica, sem complicações pós-operatórias.
A Figura 2 ilustra os tecidos removidos durante a cirurgia de correção de hipospadia peniana. Na imagem, são visíveis diversas estruturas anatômicas que foram submetidas a excisão cirúrgica. À direita, observa-se a porção do pênis subdesenvolvido, exposto anteriormente na fenda ventral característica da hipospadia. A abertura ventral da uretra pode ser claramente visibilizada. A presença da estrutura peniana subdesenvolvida justifica a decisão de realizar a penectomia total, uma vez que esta parte do órgão não estava funcional e era fonte potencial de infecções e outras complicações.
Ao centro, há outra porção de tecido que parece ser parte do prepúcio e estruturas adjacentes que foram removidas devido ao desenvolvimento incompleto e à necessidade de prevenir futuras infecções e inflamações.
Figura 2 – Tecidos Removidos Durante a Cirurgia de Correção de Hipospadia em Cão da Raça Pitbull.
DISCUSSÃO
Suspeitou-se inicialmente de hermafroditismo no paciente devido às características atípicas apresentadas na inspeção física da genitália externa. O hermafroditismo, uma condição na qual um indivíduo possui tecido gonadal de ambos os sexos ou estruturas reprodutivas ambíguas, é uma possibilidade diagnóstica quando se observam anomalias no desenvolvimento genital, conforme mencionado por de Souza et al. (2018). No caso em questão, a presença de uma fenda longitudinal ventral que se estendia do prepúcio ao ânus, associada a um pênis subdesenvolvido e exposição ventral da uretra, sugeriu inicialmente um desenvolvimento genital atípico que poderia ser compatível com hermafroditismo.
A ambiguidade genital é uma das principais razões para considerar o diagnóstico de hermafroditismo, especialmente em casos onde as estruturas genitais externas não seguem o padrão típico masculino ou feminino. Segundo Amorim et al. (2022), pacientes com hermafroditismo verdadeiro ou pseudo-hermafroditismo podem apresentar características fenotípicas ambíguas que complicam a identificação do sexo. No cão da raça Pitbull descrito, a presença de uma deformidade significativa na região genital, incluindo um pênis subdesenvolvido e testículos não totalmente desenvolvidos, reforçou essa suspeita inicial. Tais características são comumente observadas em animais hermafroditas, onde a diferenciação sexual durante o desenvolvimento fetal não se processa de maneira completa ou adequada (Rocha et al., 2017).
Em animais com hermafroditismo, é comum observar gonadas que não correspondem inteiramente ao sexo fenotípico do animal. Em muitos casos, encontram-se ovotestis ou testículos disgenéticos, como reportado por de Sá et al. (2016). No paciente em questão, a presença de testículos subdesenvolvidos sugeria uma possível anomalia no desenvolvimento gonadal, uma característica associada a casos de hermafroditismo. Essas condições geralmente envolvem falhas no processo de diferenciação das estruturas sexuais durante a gestação, resultando em órgãos reprodutivos que apresentam características de ambos os sexos.
Os sinais clínicos observados no paciente levaram, no entanto, ao diagnóstico de hipospadia, uma condição em que a abertura uretral está localizada em uma posição anormalmente ventral no pênis. Segundo Brito et al. (2019), a hipospadia pode se manifestar de várias maneiras, dependendo da gravidade da deformidade, e é caracterizada por uma má formação da uretra peniana. No cão estudado, a presença de uma fenda longitudinal ventral e um pênis subdesenvolvido, juntamente com a exposição ventral da uretra, alinhava-se com os sinais típicos dessa condição, como descrito na literatura veterinária (Costa et al., 2023).
Durante a inspeção física inicial, uma deformidade evidente na região genital foi observada, incluindo uma fenda que se estendia do prepúcio até o ânus. A exposição ventral da uretra, associada a um pênis subdesenvolvido, é um indicativo forte de hipospadia, conforme descrito por Fossum (2014). Além da anomalia estrutural da uretra, a palpação da região genital revelou testículos e bolsa testicular subdesenvolvidos, o que é outro sinal frequentemente associado à hipospadia, segundo Martinez et al. (2011). A hipospadia é uma condição relativamente rara em cães, mas quando presente, tende a causar deformidades significativas nas estruturas genitais, necessitando de intervenções cirúrgicas para correção funcional e estética.
Os relatos de hipospadia em cães mostram que essa condição pode afetar a qualidade de vida dos animais, principalmente pela dificuldade em urinar corretamente e pela predisposição a infecções geniturinárias. Segundo Valente et al. (2014), as intervenções cirúrgicas para correção da hipospadia são recomendadas, pois buscam restaurar a funcionalidade da uretra e melhorar a qualidade de vida do paciente. O manejo cirúrgico da hipospadia em cães varia de acordo com a gravidade da malformação, sendo possível a reconstrução do prepúcio e uretra com técnicas de enxerto, como apontado por Amorim et al. (2022).
A presença de testículos subdesenvolvidos pode indicar uma falha no desenvolvimento normal dos órgãos reprodutivos masculinos, que é comumente observada em casos de hipospadia devido à interferência na ação dos andrógenos durante o desenvolvimento fetal (Volpato et al., 2010). A ausência de dor ou desconforto no animal, apesar das deformidades significativas, é um aspecto importante que reforça o diagnóstico de hipospadia, pois esta condição não é necessariamente dolorosa por si só, mas pode levar a complicações como infecções urinárias e balanopostite, que causam desconforto secundário. A exposição ventral da uretra e a subsequente exposição ao meio ambiente aumentam o risco de infecções persistentes ou recorrentes do trato urinário, um sinal clínico relevante frequentemente relatado em pacientes com hipospadia (Rodrigues et al., 2022). Todavia, no paciente em questão, não se verificou sinais clínicos compatíveis com infecções urinárias.
As alterações hematológicas encontradas no paciente com hipospadia podem ser interpretadas à luz do estado clínico geral do animal e das possíveis complicações associadas à condição. O hemograma revelou uma discreta diminuição no número de hemácias, uma leve diminuição da amplitude de distribuição dos eritrócitos (RDW), discreta hiperproteinemia e leucocitose com aumento de neutrófilos e eosinófilos. Cada uma dessas alterações pode ter implicações clínicas distintas e merece análise detalhada.
A discreta diminuição no número de hemácias (5,86/µL) pode indicar anemia leve, possivelmente relacionada ao processo inflamatório crônico. Animais com condições congênitas ou que requerem cuidados prolongados podem desenvolver anemia devido a várias causas, incluindo a absorção inadequada de nutrientes, perda crônica de sangue ou resposta inflamatória prolongada. A diminuição da amplitude de distribuição dos eritrócitos (RDW 11,6%) sugere uma população de eritrócitos relativamente uniforme, o que pode ser visto em anemias crônicas onde a produção de eritrócitos é consistente (De Sá et al., 2016).
A hiperproteinemia discreta (7,8 g/dL) pode ser reflexo de desidratação ou de aumento na produção de proteínas inflamatórias, como as globulinas. Em animais com infecções ou inflamações crônicas, é comum observar um aumento nas proteínas séricas devido à resposta inflamatória do corpo. A leucocitose (20.000/µL), evidenciada pelo aumento de neutrófilos (11.400/µL) e eosinófilos (4.200/µL), é um indicativo claro de uma resposta inflamatória ou infecciosa ativa. Conforme de Souza et al., (2021) A neutrofilia é frequentemente associada a infecções bacterianas e inflamações agudas, enquanto a eosinofilia pode ser relacionada a respostas alérgicas, parasitárias ou a algumas doenças autoimunes. No paciente em questão, diante dos achados clínicos, acredita-se que as alterações sejam correlacionadas a exposição de parte do lúmen uretral para o meio externo desde o nascimento, gerando um processo inflamatório crônico.
As alterações observadas nos linfonodos durante o exame ultrassonográfico do paciente com hipospadia podem ser interpretadas considerando o estado inflamatório ou infeccioso do animal. No caso em questão, o aumento dos linfonodos do linfocentro mesentérico cranial e ileosacral foi identificado como sugestivo de um processo hiperplásico reacional. Esta interpretação é baseada em vários fatores que se inter-relacionam com a condição clínica do paciente, especialmente ligadas ao processo inflamatório crônico.
A exposição direta da uretra ao ambiente externo em animais com hipospadia aumenta o risco de colonização bacteriana e infecções urinárias persistentes. Estas infecções podem desencadear uma resposta imunológica prolongada, resultando na hiperplasia reacional dos linfonodos mesentéricos e ileosacrais (de Souza; Moreno; De Zoppa, 2018). A presença de infecção urinária crônica ou balanopostite causa uma resposta imune contínua, levando ao aumento do tamanho dos linfonodos devido à proliferação de células imunológicas e ao aumento da atividade fagocítica (Valente; Gonzalez; Contesini, 2014). Todavia, pela ausência de sinais clínicos de balanopostite e infecções urinárias, acredita-se que o aumento dos linfonodos esteja correlacionado apenas à inflamação crônica provocada pela exposição uretral.
A decisão de realizar a cirurgia no paciente, mesmo com a presença de uma uretra funcional, baseou-se em diversos fatores clínicos e prognósticos importantes. A principal razão para a intervenção cirúrgica foi a presença de possíveis complicações associadas à anomalia congênita de hipospadia, que podem impactar negativamente a qualidade de vida do animal, como infecções urinárias e balanopostites recorrentes, conforme relatado por Fossum (2014).
De acordo com Rocha et al., (2017) a exposição ventral da uretra ao meio ambiente aumenta significativamente a probabilidade de contaminação bacteriana, levando a infecções urinárias recorrentes ou persistentes. Essas infecções são dolorosas e podem causar um desconforto significativo ao animal, além de representar um risco de desenvolvimento de condições mais graves, como pielonefrite. A condição de balanopostite se caracteriza pela inflamação do prepúcio e da glande devido ao acúmulo de urina e resíduos, é uma complicação comum em animais com hipospadia. Esta inflamação pode levar a dermatites crônicas, úlceras e até mesmo necrose tecidual se não tratada adequadamente.
A cirurgia foi, portanto, considerada essencial para prevenir essas complicações a longo prazo e melhorar a qualidade de vida do paciente. A penectomia total, associada à orquiectomia e ablação escrotal, foi realizada para remover essas estruturas subdesenvolvidas que não apenas apresentavam uma estética anômala, mas também eram fontes potenciais de complicações clínicas futuras.
Nos primeiros dias após a cirurgia, a prioridade é controlar a inflamação e prevenir infecções. Durante este período, outras medidas, como a limpeza regular com solução de clorexidina e o uso de antibióticos e anti-inflamatórios, são essenciais para evitar infecções e controlar a resposta inflamatória.
CONCLUSÃO
O presente estudo relatou um caso raro de hipospadia peniana em um cão da raça Pitbull, com ênfase nos aspectos clínicos e terapêuticos, destacando a importância do diagnóstico detalhado e do manejo cirúrgico adequado. A hipospadia, embora rara na rotina veterinária, representa uma condição significativa que afeta a qualidade de vida dos animais acometidos, exigindo uma abordagem terapêutica cuidadosa e individualizada.
Os achados clínicos, como a deformidade na região genital, a exposição ventral da uretra e o subdesenvolvimento dos testículos, foram fundamentais para o diagnóstico. Esses sinais, combinados com os exames hematológicos e ultrassonográficos, permitiram descartar diagnósticos diferenciais como hermafroditismo, orientando a escolha da intervenção cirúrgica mais apropriada.
A decisão de realizar a penectomia total, associada à orquiectomia e ablação escrotal, foi baseada na necessidade de prevenir complicações futuras, como infecções urinárias recorrentes e dermatites. A abordagem cirúrgica visou não apenas corrigir a anomalia anatômica, mas também melhorar a qualidade de vida do animal, demonstrando a importância de um manejo holístico e integrado.
O sucesso do tratamento, evidenciado pela recuperação completa e ausência de complicações pós-operatórias, reforça a importância de um diagnóstico precoce e de um plano de tratamento bem estruturado. A colaboração entre o diagnóstico clínico detalhado, o manejo cirúrgico preciso e o cuidado pós-operatório rigoroso foram cruciais para o desfecho positivo deste caso. A compreensão aprofundada dos aspectos clínicos e terapêuticos desta condição pode guiar futuros profissionais na abordagem de casos semelhantes, melhorando os resultados clínicos e a qualidade de vida dos animais afetados.
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1 Discente do Curso de Medicina Veterinária da Uningá – Centro Universitário Ingá, Maringá, PR, Brasil.
2 Professor do departamento de Medicina Veterinária, Uningá – Centro Universitário Ingá, Maringá, PR, Brasil.
3 Médica Veterinária, Proprietária da Clínica Dra. Cláudia Russo – Cirurgia e Oncologia Veterinária
*kamilla.vasconcellos@hotmail.com