HIPODERMÓCLISE: SUPORTE ALTERNATIVO PARA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS NA ENFERMAGEM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11237380


Ana Carolina Muniz Meireles Santos De Brito1
Fernanda Melo Martins Dantas1
Juliana Adriano Rodrigues1
Orientadora Prof.ª Esp.Rosimeire Faria do Carmo2


Resumo:  A hipodermóclise consiste em uma técnica indicada para infusão de fluidos no tecido subcutâneo. Faz-se uma alternativa para ampliar a administração de líquidos em paciente que não tem condições para punção convencional. Este trabalho é uma revisão de literatura que mostra a extrema importância do conhecimento de métodos alternativos para os profissionais da saúde. O objetivo é identificar na literatura quais e como são utilizados os métodos para um bom manuseio da técnica. A partir das informações obtidas, foi realizada uma reflexão sobre a importância da busca de conhecimento complementar pelo profissional de enfermagem, para oferecer uma assistência de qualidade.

Palavras-chave: Hipodermóclise. Profissionais da saúde. Via subcutânea.

Abstract: Hypodermoclysis consists of a technique indicated for infusing fluids into the subcutaneous tissue. An alternative is made to increase the administration of liquids in patients who are not capable of conventional puncture. This work is a literature review that shows the extreme importance of knowledge of alternative methods for healthcare professionals. The objective is to identify in the literature which and how methods are used for good handling of the technique. Based on the information obtained, a reflection was made on the importance of seeking additional knowledge by nursing professionals to offer quality care.

Keywords: Hypodermoclysis. Health professionals. Subcutaneous route.

1 INTRODUÇÃO

Compreende-se que uma das tarefas mais importantes dentro da enfermagem é a administração de medicamentos. Sabe-se que é muito relevante o conhecimento técnico de todo profissional da saúde para que possa oferecer um serviço de boa qualidade e com segurança para o paciente. O enfermeiro assume um papel essencial nesse processo, as responsabilidades vão da avaliação do paciente até a evolução e resultados, garantindo a efetividade no tratamento medicamentoso. A escolha do tipo de técnica utilizada também demonstra efetividade no tipo de tratamento, essa escolha depende de vários fatores, como tipo de medicação, via de administração e patologia do paciente (SILVA e SANTANA 2018).

A técnica de hipodermóclise é utilizada para administração de medicamentos pela via subcutânea. No início do século XX essa técnica foi bastante utilizada para tratamentos em pacientes que apresentavam desidratação. Contudo por volta de 1950, observaram-se graves complicações relacionadas à sobrecarga hídrica e ao choque circulatório, após infusão subcutânea de grandes volumes (GOMES et al, 2017). 

Todos os medicamentos que são administrados por meio desta técnica são absolvidos por meio da difusão capilar. A farmacocinética é muito parecida com medicamentos administrados pela intramuscular, contudo, o tempo de ação é mais prolongado. Algumas literaturas sugerem o uso da hialuronidase pois esta é uma enzima que degrada o ácido hialurônico presente no tecido, levando a diminuição de sua viscosidade e aumenta sua taxa de absorção dos medicamentos administrados. No Brasil, essa técnica vem sendo cada vez mais utilizada em pacientes que se encontram em cuidados paliativos, idosos ou pacientes debilitados (RAMOS e ALENCAR 2021).

A falta de informação, carência de estudos e publicações, acarreta um conhecimento limitado sobre a técnica, por essa razão a prática clínica ainda é pouco aplicada. É importante que o profissional da saúde, tenha conhecimento a respeito da técnica e saiba quando utilizar, porque esse método pode trazer inúmeros benefícios para o paciente que apresenta indicações como, inviabilidade da via oral, decorrente de vômitos por períodos prolongados, intolerância gástrica, obstrução intestinal, impossibilidade de acesso venoso e contraindicação de procedimentos invasivos (GODINHO e SILVEIRA, 2017).

De acordo com VEDOVATO (2019, p.10) acrescenta que,

O escasso conhecimento dos profissionais da saúde sobre a técnica hipodermóclise é recorrente, além da falta de educação permanente, da mínima abordagem nas instituições de ensino, fazendo com que os métodos convencionais de infusão de medicamentos se tornem rotineiros. Diante disto é de extrema importância a produção científica sobre este tema para que os profissionais de saúde se inteirem sobre o assunto, podendo aplicar na sua prática diária, fornecendo práticas mais adequadas, melhorando a qualidade de vida e autonomia dos pacientes.

Portanto, a via subcutânea é de fácil acesso, de eficácia comprovada, pouco agressiva e com poucos efeitos secundários, bem como, confortável para o cliente (GOMES et al., 2017).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa presente tem como objetivo identificar na literatura por meio da revisão bibliográfica utilizando as bases de dados eletrônicas, como Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Research, Society and Development journal (RSD journal). Utilizando os descritores Hipodermoclise, enfermagem e conhecimentos alternativos, via subcutânea, erros de administração medicamentosa. Foram selecionados 35 documentos, no qual foram 16 foram utilizados, pois estavam de acordo com o objetivo. O método utilizado como inclusão foram pesquisas com data de publicação entre o ano de 2018 e 2023 e que o tema fosse de acordo com o que buscávamos.

3 RESULTADOS/DISCUSSÃO

A hipodermóclise é uma técnica definida pela reposição de fluidos e administração de medicamentos por via subcutânea, é de baixo custo e evita alguns processos em que ocorre extravasamento de sangue causando sujidade desnecessária. É pouco conhecida pelos profissionais da saúde, devido forma incorreta da técnica e os efeitos adversos causados no passado, onde foi abolida. Foi reconsiderada após o surgimento dos cuidados paliativos (GOMES, et al, 2017).

O enfermeiro tem como objetivo ético a promoção da saúde e da qualidade de vida, atuando na prevenção e reabilitação da saúde. Segundo os estudos é papel do enfermeiro um cuidado holístico, ou seja, tratar o paciente como um todo, evitar o sofrimento desnecessário, do mesmo, que não apresenta condições para realizar o tratamento de forma convencional, sempre visando a melhoria da qualidade de vida e o conforto durante o tratamento (BACKES, D. S. et al, 2012).

3.1 Indicação

 É indicada como forma de administração alternativa para casos em que o paciente não tem condições para a punção convencional, como clientes em cuidados paliativos, oncológicos e idosos. Tais pacientes apresentam desafios em relação a assistência pois estão com fragilidade venosa, problemas físicos e psicológicos devido o tratamento (BOLELA, F. et al, 2022).

Segundo Justino et al 2013, a técnica de hipodermóclise pode ser considerada uma via de escolha tanto em ambiente hospitalar quanto domiciliar, para pacientes em que a via intravenosa se encontra debilitada, principalmente por conta de agentes quimioterápicos. Dessa forma, considera-se uma via de escolha para a reposição de fluidos, eletrólitos e alguns tipos de medicamentos.

3.2 Vantagens e desvantagens da hipodermóclise

Os benefícios mais relatados durante a leitura dos documentos foram, a maioria dos fármacos utilizados nos cuidados paliativos podem ser utilizados na hipodermóclise,  baixo índice de infecção, quando há impossibilidade de ingestão por via oral, baixo custo, mínimo de desconforto quando comparada a administração venosa, mais indicada para o cuidado domiciliar, menos risco de septicemia e sepses, via de fácil manipulação e manutenção Com a devida capacitação, os cuidadores domiciliares podem administrar medicações e fluidos de hidratação através da via subcutânea, contribuindo para o conforto e bem-estar deste paciente, uma vez que este não precisa ser constantemente hospitalizado para controle de sintomas como náuseas, vômitos e desidratação (VIDAL ET AL., 2016).

Assim, a via subcutânea se torna uma opção de escolha, pois além de ser uma técnica simples, apresenta menor grau de limitação devido as diversas opções de sítios de punção, baixo risco de infecção, ser uma via segura para administração de opioides, antieméticos, quimioterápicos, dentre outros, sem risco de trombose, menor risco de o acesso ficar disfuncional e maior aceitabilidade do paciente e família (PONTALTI ET AL., 2012; JUSTINO ET AL., 2013; BRUNO, 2015; GOMES ET AL., 2019).

Pensando no contexto de pessoas idosas, que apresentam diagnóstico de desidratação, devido as comorbidades próprias da idade, por exemplo, a hipodermóclise tem sido utilizada com grande êxito, apresentando excelentes resultados no controle de desidratação leve a moderada, maior aceitabilidade pelo paciente, maior durabilidade da punção, baixo custo, economia de tempo e facilidade na execução da técnica pelos profissionais da equipe (SCALES 2011; RUSSELL, 2018).

 As desvantagens dessa técnica são a velocidade de infusão pois não consegue realizar uma infusão rápida com um volume alto de fluido, pois o recomendado é 3.000 ml em 24 horas. A absorção depende da perfusão, sendo variável, nem todos os medicamentos podem ser administrados por essa via, edema do sítio de infusão é comum, possibilidade de reações locais (VIDAL et al, 2015).

Segundo o anexo da resolução COFEN Nº 564/2017, CAPÍTULO II – DOS DEVERES, acrescenta que,

 Art. 39 Esclarecer à pessoa, família e coletividade, a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistência de Enfermagem.

 Art. 40 Orientar à pessoa e família sobre preparo, benefícios, riscos e consequências decorrentes de exames e de outros procedimentos, respeitando o direito de recusa da pessoa ou de seu representante legal.

3.3 A técnica

Para a realização desta técnica é inserido um dispositivo no tecido subcutâneo, variando os calibres entre 23 e 27G, de acordo com a avaliação do volume a ser infundido, o último sendo recomendado para pacientes pediátricos ou caquéticos (JUSTINO et al, 2013)

É papel do profissional esclarecer como será feito o procedimento ao paciente, escolher corretamente o local apara a infusão da medicação, fazer a antissepsia e a dobra na pele; introduzir o scalp num ângulo de 30 a 45° (a agulha deve estar solta no espaço subcutâneo); fixar o scalp com o filme transparente; assegurar que nenhum vaso tenha sido atingido; aplicar o medicamento ou conectar o scalp ao equipo da solução; datar e identificar a fixação. Caso, ao puncionar, reflua sangue, o enfermeiro deverá comprimir a zona de punção durante 2 ou 3 minutos e puncionar outro local (VIDAL et al, 2015)

Existem locais que são mais adequados para a aplicação da técnica, como região deltoide, região anterior do tórax, região escapular, região abdominal, e nas faces anterior e lateral das coxas. Cabe ao profissional avaliar e observar, periodicamente, o local onde foi realizado a técnica, a fim de evitar complicações decorrentes do excesso de volume de líquido administrado por essa via. O tempo de permanência, independentemente do cateter utilizado, pode ser de até sete dias, desde que não haja sinais flogísticos (JUSTINO et al, 2013).

Sabe-se que a administração de medicamentos é uma das funções exercida na maioria das vezes pela equipe de enfermagem. Com isso o próprio profissional tem como dever fazer a avaliação do paciente, escolhendo o local adequando para a técnica.

4 Considerações final

Mesmo existindo diversas evidências a respeito das vantagens da técnica de hipodermóclise, a enfermagem requer de estudos clínicos para que seja promovida a informação e a técnica seja mais aceita e consequentemente, mais utilizada, considerando que foi comprovado a eficácia e segurança do procedimento, garantindo assim, o bem-estar do paciente e sucesso na terapia, levando em conta ainda a diminuição dos riscos de eventos adversos relacionados, como por exemplo a via de administração.

Garantindo o uso desse recurso, que é simples e comprovadamente seguro, não somente o paciente hospitalar se beneficia dessa técnica, mas também o paciente que se encontra em casa, em assistência domiciliar, oferecendo mais opções de condutas que o enfermeiro pode aplicar, de acordo com a necessidade de cada indivíduo e suas demandas.

É notada escassez de informações sobre a hipodermóclise, entende-se que é necessário mais investimento em pesquisas e estudos clínicos, para que o enfermeiro e a enfermagem como um todo, revise o motivo do desuso da técnica.

Observa-se que o enfermeiro com todo conhecimento adquirido durante sua formação tem a capacidade, domínio e expertise para realização da técnica. Conhecendo o paciente, ele tem toda habilidade e conhecimento, principalmente na parte anatômica, isso facilita a inserção do cateter subcutâneo, priorizando áreas com boa vascularização. Além da administração do fármaco, sabe monitorá-lo e orientá-lo da melhor forma possível.

Ao assumir a realização da técnica o enfermeiro garante a qualidade, segurança e efetividade do trabalho realizado.

REFERÊNCIAS

BACKES, D. S. et al. O papel profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde: da saúde comunitária à estratégia de saúde da família. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 223–230, jan. 2012.

BOLELA, F. et al. Pacientes oncológicos sob cuidados paliativos: ocorrências relacionadas à punção venosa e hipodermóclise. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 30, 12 ago. 2022.

BRUNO, V. G. Hipodermóclise: revisão de literatura para auxiliar a prática clínica Einstein (São Paulo), v. 13, n. 1, p. 122–128, 24 mar. 2015.

Conselho federal de enfermagem. Resolução nº 564/2017- Aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017/. Acesso em 07/05/2024.

D’AQUINO, M e SOUZA, R. Hipodermóclise ou Via Subcutânea. Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ, v.11 n. 2, 11 abril 2012

Godinho, Natalia Cristina. Manual de hipodermóclise [recurso eletrônico] / Natalia Cristina Godinho, Liciana Vaz de Arruda Silveira; Colaborador Karina Alexandra Batista da Silva Freitas. – Botucatu: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina de Botucatu, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu- HCFMB, 2017

GOMES, N. S. et al. Conhecimentos e práticas da enfermagem na administração de fluidos por via subcutânea Revista Brasileira De Enfermagem, v. 70, n. 5, p. 1096–1105, 1 set. 2017.

GOMES, N. S. et al. Validação de instrumento para avaliação do conhecimento profissional acerca da hipodermóclise. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, v. 8, n. 1, 13 ago. 2019.

PONTALTI, G. et al. Via subcutânea: segunda opção em cuidados paliativos. Revista HCPA, V. 32, n. 2, p. 199-207, 2012.

RAMOS, F. T.; ALENCAR, R. A. Hipodermóclise na administração de fluidos e medicamentos em crianças. Revista Recien – Revista Científica de Enfermagem, v. 11, n. 34, p. 394–404, 27 jun. 2021.

RUSSELL, S. Hypodermic clysis: A viable rehydration option? Geriatric Nursing, v. 39, n. 2, p. 247–249, 1 mar. 2018.

SANTOS, S. S. S. et al. Utilização da hipodermóclise por profissionais de saúde: Scoping review. Research, Society and Development, v. 10, n. 9, p. e44110918338, 30 jul. 2021.

SCALES, K. Use of hypodermoclysis to manage dehydration. Nursing Older People, v. 23, n. 5, p. 16–22, jun. 2011.

SILVA, M e SANTANA, J. Erros na administração de medicamentos pelos profissionais de enfermagem. Arq. Catarin Med, v. 47 n.4, p. 146-154, 2018 out.

VEDOVATTO, A. Conhecimento do enfermeiro sobre a hipodermóclise e o uso desta técnica em cuidados paliativos. Trabalho de conclusão de curso, especialista em Enfermagem Oncológica, Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Erechim 2019.

VIDAL, F. et al. HIPODERMÓCLISE: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA. Rev. de Atenção à Saúde, v. 13, n. 45, p. 61–69, 1 jul. 2015.