HIDROGÊNIO VERDE NO BRASIL: OPORTUNIDADES PARA O COMÉRCIO EXTERIOR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506081929


Larissa Maria Marinho De Souza1
Orientadora: Profª. Me. Ligia Duarte Guerra2


RESUMO

O presente artigo analisa o potencial do Brasil na produção e exportação de hidrogênio verde, com foco nas oportunidades para o comércio exterior. A partir de uma revisão bibliográfica e análise de dados técnicos e econômicos, são discutidas as condições naturais, infraestrutura energética, políticas públicas e os desafios logísticos e regulatórios. O estudo aponta que o Brasil possui vantagens competitivas relevantes, como matriz elétrica limpa e abundância de recursos renováveis, o que pode posicioná-lo como protagonista no mercado internacional de hidrogênio verde, como o objeto de pesquisa é recente optamos por uma revisão bibliográfica, pois nosso objetivo foi se apropriar do fenômeno e analisar sua viabilidade de negócios no comércio internacional.

PALAVRAS-CHAVE: Hidrogênio Verde; Brasil; Comércio Exterior; Exportação.

ABSTRACT

This article analyzes Brazil’s potential for the production and export of green hydrogen, focusing on opportunities for foreign trade. Based on a literature review and analysis of technical and economic data, the natural conditions, energy infrastructure, public policies, and logistical and regulatory challenges are discussed. The study indicates that Brazil has relevant competitive advantages, such as a clean electricity matrix and an abundance of renewable resources, which can position it as a protagonist in the international green hydrogen market. As the research object is recent, we opted for a literature review, as our objective was to appropriate the phenomenon and analyze its business viability in international trade.

KEYWORDS: Green Hydrogen; Brazil; International Trade; Renewable Energy; Export.

1 INTRODUÇÃO

A crescente visibilidade para os problemas climáticos como o aquecimento global e escassez de recursos naturais tem levado vários países a busca por alternativas sustentáveis em setores como indústria, transporte e geração de energia que tem como objetivo contribuir com a descarbonização global discutida em acordos como o Acordo de Paris e a COP30.

As principais alternativas de energia limpa que estão ganhando investimentos no comércio internacional atualmente são as energias eólica, solar e hidrelétrica, assim como a biomassa e o hidrogênio, sendo o hidrogênio verde apontado como uma fonte de energia renovável de grande potencial para transformar a matriz energética global e reduzir a emissão de CO₂ no mundo, objeto de nosso artigo.

O hidrogênio é um elemento químico simples e leve, composto por um único próton e um único elétron. É o elemento mais abundante no universo e tem grande importância, tanto na natureza quanto em tecnologias futuras. Em nosso dia a dia, ele pode ser encontrado na água (H₂O) e em vários compostos orgânicos. Ele é gerado a partir da eletrólise da água, um processo que utiliza energia elétrica para separar o hidrogênio do oxigênio, e, quando essa energia vem de fontes renováveis como o sol ou o vento, o hidrogênio resultante é denominado de “verde” (IRENA, 2020).

O hidrogênio verde é considerado como uma solução que promete ser favorável para a transição energética, pois poderá substituir combustíveis fósseis em várias indústrias, como transporte e produção de energia, e contribuir com a redução das emissões de carbono, ajudando na luta contra as mudanças climáticas.

O hidrogênio verde tem ganhado destaque como um dos pilares da transição energética global, logo, o Brasil pode ser apontado como um dos principais protagonistas nesse cenário. Com uma matriz energética composta por cerca de 80% de energia renovável (MME, 2023), ampla variedade de recursos naturais e um potencial competitivo para a produção de hidrogênio a partir de fontes limpas, o país se posiciona estrategicamente no mercado internacional.

No entanto, um dos principais obstáculos que o Brasil enfrenta para se tornar um exportador competitivo de hidrogênio verde é a falta de infraestrutura adequada para transporte e armazenamento, já está substância exige dutos especiais para ser convertido em outros produtos, como amônia.

Outro fato importante recai sobre os custos de produção, ainda altos, assim o país enfrenta forte concorrência de mercados como Austrália e Oriente Médio, além da falta de uma regulamentação clara e incentivos governamentais que tornem os investimentos mais seguros, atrativos e busque soluções para que se torne mais competitivo no mercado externo.

Este artigo tem o objetivo de estudar o processo de viabilidade de negócios do hidrogênio verde no comércio internacional, além de analisar as oportunidades de negócio para o Brasil. Os objetivos específicos do presente estudo são: identificar os principais mercados consumidores de hidrogênio verde no cenário global, analisar o potencial do Brasil na produção de hidrogênio verde e avaliar as oportunidades da inserção do Brasil no mercado internacional. Como metodologia utilizamos a pesquisa bibliográfica, que consiste em uma revisão da literatura, a seguir passamos para análise das publicações sobre o tema com a finalidade de entender o fenômeno na sua totalidade e com maior profundidade, identificando seus conceitos e sua funcionalidade. Os dados para este estudo foram coletados de relatórios técnicos, artigos, monografias, entrevistas e teses relacionados ao mercado nacional e internacional de energia limpa.

Neste contexto, esse artigo pretende mostrar que entender as tendências do mercado, os desafios logísticos e as oportunidades de parcerias estratégicas são essenciais para transformar o Brasil em um hub global de hidrogênio verde, fortalecendo sua participação no comércio internacional e agregando valor à sua economia de baixo carbono.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A transição energética global, impulsionada pelos compromissos de neutralidade de carbono e redução de emissões de gases de efeito estufa, tem consolidado o hidrogênio verde (H₂V) como um vetor energético estratégico. O H₂V, produzido a partir da eletrólise da água com energia de fontes renováveis, se diferencia dos demais tipos de hidrogênio — como o cinza e o azul — por não gerar emissões de carbono ao longo de seu ciclo de produção. A crescente demanda internacional por hidrogênio renovável é incentivada por políticas climáticas ambiciosas, especialmente na União Europeia, Japão e Coreia do Sul, regiões que enfrentam restrições territoriais para geração renovável em larga escala e dependem de importações para atender suas metas de descarbonização (European Commission, 2022; GESEL, 2023; METI, 2023).

2.1 Hidrogênio Verde

Com as mudanças climáticas, como o aquecimento global e o acúmulo de poluição nas grandes cidades, cada dia se mostra mais claro a necessidade da mudança na matriz energética que movimenta a economia mundial. O hidrogênio foi apontado como uma solução possível na década de 1970 logo após a primeira grande crise do petróleo (GURLIT et al., 2021).

O hidrogênio verde é um vetor energético obtido por meio da eletrólise da água utilizando exclusivamente eletricidade que provém de fontes renováveis, como solar, eólica ou hídrica. O processo de eletrólise consiste na separação dos átomos de hidrogênio (H₂) e oxigênio (O₂) da molécula de água (H₂O), sem a emissão direta de gases de efeito estufa (GEE), o que torna o hidrogênio verde uma alternativa promissora na descarbonização de setores de difícil eletrificação, como transporte pesado, siderurgia e indústrias químicas (IRENA, 2020). A produção de hidrogênio é normalmente classificada por “cores”, de acordo com a fonte energética e o impacto ambiental do processo.

O hidrogênio cinza é o mais utilizado atualmente, sendo produzido a partir da reforma a vapor do metano (Steam Methane Reforming – SMR), utilizando gás natural como matéria- prima. Esse processo libera grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera e representa aproximadamente 95% da produção mundial de hidrogênio (IEA, 2021).

Como uma alternativa de menor impacto ambiental, o hidrogênio azul utiliza o mesmo processo de reforma a partir de gás natural usado na produção do hidrogênio cinza, porém incorpora tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), o que permite a redução parcial das emissões de CO₂ (GESEL, 2023). Apesar disso, o hidrogênio azul continua dependente de fontes fósseis e enfrenta desafios técnicos, econômicos e regulatórios relacionados à eficácia da captura, à segurança do armazenamento geológico e à viabilidade financeira em larga escala (IEA, 2021; BNEF, 2021).

Em contraste, o hidrogênio verde não emite CO₂ durante sua produção e, quando gerado com energia elétrica 100% renovável, é considerado um combustível de zero carbono. Segundo estimativas da International Renewable Energy Agency (IRENA, 2022), o hidrogênio verde poderá representar até 12% da demanda final de energia global até 2050, sendo elemento-chave nos esforços internacionais de mitigação das mudanças climáticas. Nesse contexto, o desenvolvimento de tecnologias para produção, armazenamento e transporte de hidrogênio verde tem sido alvo de significativos investimentos e políticas públicas, especialmente em países com alto potencial de geração de energia renovável, como o Brasil (GESEL, 2023).

2.2 Transição Energética e o Papel do Hidrogênio Verde (H₂V)

A transição energética representa a mudança estrutural nos sistemas de produção, distribuição e consumo de energia, e tem como objetivo reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Essa transição é impulsionada por metas climáticas globais, como as estabelecidas no Acordo de Paris (2015), que visam limitar o aquecimento global a menos de 2°C, preferencialmente 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais (IPCC, 2023).

Nesse contexto, o hidrogênio verde (H₂V) surge como uma alternativa energética estratégica e multifuncional, capaz de descarbonizar setores considerados difíceis de eletrificar, como siderurgia, transporte marítimo e aviação, além de complementar fontes intermitentes de energia renovável, como solar e eólica.

Estudos indicam que o hidrogênio poderá suprir cerca de 20% da demanda energética global até 2050, se for plenamente integrado às estratégias de descarbonização dos países (Hydrogen Council, 2023). Além disso, o H₂V pode ser armazenado e transportado em diferentes formas, como gasoso, liquefeito ou convertido em derivados como amônia verde e metanol, ampliando sua forma de aplicação e facilitando o comércio internacional.

A adoção do hidrogênio verde como parte central da transição energética também está ligada à segurança energética e à diversificação de matrizes, reduzindo a dependência de fontes fósseis e geopolíticas instáveis. Para países com alto potencial de geração renovável, como o Brasil, Chile, Marrocos e Austrália, o H₂V representa uma oportunidade de inserção competitiva em cadeias globais de valor energético.

Contudo, a consolidação do H₂V como elemento-chave da transição energética global requer avanços em infraestrutura, normas regulatórias, redução de custos e mecanismos de certificação de origem. Em 2020, o custo médio da produção de H₂V situava-se entre US$ 3 e US$ 7/kg, mas projeções indicam que poderá cair para menos de US$ 2/kg até 2030, tornando- se competitivo com alternativas fósseis (IRENA, 2022).

Assim, o hidrogênio verde se destaca não apenas como um substituto energético, mas como um elemento integrador de sistemas energéticos mais sustentáveis, resilientes e descentralizados, promovendo sinergias entre diferentes setores da economia e contribuindo de forma efetiva para atingir metas climáticas globais.

2.3 Comércio Internacional de Hidrogênio Verde

O comércio internacional de hidrogênio está emergindo como um componente estratégico na transição energética global, impulsionado pela necessidade de descarbonização das economias e pela crescente demanda por fontes limpas de energia (GOMES, 2023). Embora a maior parte do hidrogênio atualmente produzido seja consumida localmente, devido à dificuldade e ao alto custo de transporte, as projeções indicam que o comércio entre fronteiras ganhará relevância a partir da década de 2030, especialmente no fornecimento de hidrogênio verde para países com restrições geográficas ou tecnológicas à geração renovável (IRENA, 2022).

Estudos da Agência Internacional de Energia (IEA, 2021) e da International Renewable Energy Agency (IRENA, 2022) apontam que o hidrogênio poderá ser comercializado em diversas formas: hidrogênio gasoso comprimido, hidrogênio liquefeito, amônia (NH₃) e portadores líquidos orgânicos de hidrogênio (LOHCs). Dentre essas opções, a amônia se destaca por sua maior densidade energética e infraestrutura logística já consolidada em portos e navios, o que favorece sua utilização como intermediário de exportação. No entanto, cada alternativa implica desafios técnicos, como perdas energéticas no processo de conversão, custos elevados de infraestrutura e necessidade de normatização internacional.

A Europa, o Japão e a Coreia do Sul são os principais mercados com planos nacionais para importação de hidrogênio verde, com destaque para a Alemanha, que já firmou acordos bilaterais com países latino-americanos e africanos para o fornecimento futuro de H₂V (Hydrogen Council, 2023). O Plano de Ação de Hidrogênio da União Europeia estabelece metas ambiciosas de importação de até 10 milhões de toneladas anuais de hidrogênio renovável até 2030, criando um mercado promissor para países exportadores (European Commission, 2022). Em resposta, países com elevada capacidade de geração renovável e disponibilidade de território, como Austrália, Chile, Marrocos e Brasil, têm avançado na estruturação de hubs de hidrogênio voltados à exportação.

O crescimento do comércio internacional de hidrogênio, contudo, exige o desenvolvimento de marcos regulatórios harmonizados, certificações de origem renovável, e padronização de emissões associadas à produção e transporte. Além disso, aspectos geopolíticos, como segurança energética e dependência externa, também influenciarão o mapeamento das rotas comerciais. Nesse sentido, o hidrogênio verde se insere como uma commodity energética estratégica, com potencial de redefinir relações comerciais e diplomáticas entre países produtores e consumidores (IRENA, 2022; BNEF, 2020).

2.3.1 Principais Mercados Internacionais de Hidrogênio Verde

O mercado global de hidrogênio verde está em ampla expansão, impulsionado pelas metas de descarbonização e pela busca por alternativas energéticas sustentáveis (GOMES, 2023). A União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul se destacam como os principais polos consumidores e promotores do hidrogênio verde no cenário internacional, cada qual adotando estratégias específicas para fomentar essa transição.

Na Europa, o hidrogênio verde é uma peça-chave na concretização das metas de neutralidade climática estabelecidas no Pacto Ecológico Europeu e reforçadas pela “Estratégia Europeia para o Hidrogênio”, lançada em 2020. A meta da União Europeia é instalar pelo menos 40 GW de capacidade de eletrólise baseada em fontes renováveis até 2030 e incentivar a produção de até 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde (European Commission, 2020). A iniciativa Fit for 55 e o RepowerEU, ambos de 2022, reforçam o papel do hidrogênio como instrumento de redução da dependência de combustíveis fósseis importados, especialmente após a crise energética causada pela guerra na Ucrânia (IEA, 2023). Além da produção doméstica, o continente europeu reconhece a necessidade de importar volumes substanciais de hidrogênio verde de regiões com maior competitividade renovável, como América Latina, Norte da África e Oriente Médio, tendo estabelecido instrumentos como o H2Global para incentivar esses fluxos comerciais.

O Japão, por sua vez, se posicionou como pioneiro na construção de uma estratégia nacional para o hidrogênio, com a publicação da “Basic Hydrogen Strategy” em 2017, atualizada em 2023. O país planeja consumir aproximadamente 20 milhões de toneladas de hidrogênio até 2050, priorizando aplicações em transporte pesado, indústria e geração de energia elétrica (METI, 2023). Devido às limitações territoriais para produção renovável em larga escala, o Japão tem investido fortemente na construção de cadeias globais de suprimento de hidrogênio verde e derivados, com projetos como o Hydrogen Energy Supply Chain (HESC), em parceria com a Austrália. Esse contexto posiciona o Japão como um dos principais importadores globais de hidrogênio verde nas próximas décadas (GR Japan, 2024).

A Coreia do Sul também surge como um mercado estratégico para o hidrogênio verde. Em 2019, o país lançou a “Hydrogen Economy Roadmap”, estabelecendo metas ambiciosas para 2040, que incluem a produção de 5,26 milhões de toneladas de hidrogênio, com foco no desenvolvimento de veículos a célula de combustível, geração elétrica baseada em hidrogênio e exportação de tecnologias relacionadas (MOTIE, 2020). Assim como o Japão, a Coreia do Sul enfrenta limitações naturais para produção renovável e depende da importação de hidrogênio verde para atender sua crescente demanda. Iniciativas como acordos de fornecimento com a Arábia Saudita e Austrália, bem como o envolvimento ativo em fóruns internacionais sobre hidrogênio, reforçam sua posição como um dos principais mercados consumidores futuros de hidrogênio verde (KIGAM, 2023).

Em conjunto, Europa, Japão e Coreia do Sul não apenas impulsionam a demanda internacional por hidrogênio verde, mas também estabelecem padrões técnicos e regulatórios que irão moldar o futuro comércio global do setor. As perspectivas desses mercados criam importantes oportunidades para os produtores de hidrogênio em regiões com recursos renováveis em abundância, como o Brasil, o Chile e países africanos, consolidando o hidrogênio verde como um intermediário central da nova geopolítica da energia limpa.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo adota uma abordagem de pesquisa bibliográfica, com o objetivo de compreender e analisar as oportunidades do Brasil no comércio internacional de hidrogênio verde (H₂V), considerando aspectos econômicos, energéticos e geopolíticos. A metodologia se fundamenta em uma revisão bibliográfica e documental, de caráter descritivo, a fim de identificar os principais fatores que influenciam a inserção do Brasil nesse mercado emergente.

A pesquisa foi conduzida a partir da análise de fontes científicas e institucionais, como artigos indexados em bases de dados acadêmicos (Scopus, Web of Science, SciELO), relatórios de organizações internacionais (IEA, IRENA, Hydrogen Council), documentos oficiais de políticas públicas e acordos internacionais (por exemplo, REPowerEU e Estratégia Nacional de Hidrogênio do Brasil). Além disso, foram utilizados dados econômicos de fontes como Ministério de Minas e Energia, e Agência Internacional de Energia (IEA).

A seleção dos documentos e relatórios seguiu os critérios de relevância temática, atualidade (entre 2018 e 2024), e credibilidade institucional, visando assegurar rigor científico e coerência com o objetivo da pesquisa. As informações foram organizadas em eixos temáticos:

(i) conceitos e diferenciações tecnológicas do hidrogênio; (ii) panorama global do comércio de hidrogênio verde; (iii) capacidades e oportunidades do Brasil; e (iv) perfis de demanda dos principais mercados importadores, como União Europeia, Japão e Coreia do Sul.

Para a análise dos dados secundários, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, que permitiu identificar padrões, convergências e divergências entre as fontes, bem como destacar os principais desafios e oportunidades estratégicas para o Brasil no contexto do comércio internacional de H₂V.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Potencial do Brasil para Produção de Hidrogênio Verde

O Brasil desponta como um dos países com maior potencial para a produção de hidrogênio verde, graças à sua matriz elétrica majoritariamente renovável, pela abundância de recursos naturais e por causa da extensão territorial favorável à geração de energia solar e eólica. Atualmente, cerca de mais de 80% da eletricidade brasileira é gerada a partir de fontes renováveis, como hidrelétricas, parques eólicos e usinas solares (MME, 2023), o que posiciona o país de forma estratégica para se tornar um dos principais produtores globais de hidrogênio verde a custos competitivos. Essa característica confere ao Brasil uma vantagem comparativa diante de países cuja produção de hidrogênio depende fortemente de fontes fósseis ou de energias com maior intensidade de carbono (GESEL, 2023).

Além da disponibilidade de recursos renováveis, o país conta com uma infraestrutura energética desenvolvida e experiência consolidada em setores estratégicos, como biocombustíveis, o que pode facilitar a integração do hidrogênio verde à matriz energética nacional. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2023) aponta que o Brasil possui potencial para instalar cerca de 700 GW em energia solar e mais de 500 GW em energia eólica onshore e offshore, energia essa que pode ser direcionada à eletrólise da água para a produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono (GESEL, 2023).

A localização geográfica do Brasil e a existência de portos com potencial para se tornarem hubs logísticos de exportação — como os de Pecém (CE), Suape (PE) e Açu (RJ) — representam oportunidades logísticas importantes para a inserção do hidrogênio verde brasileiro no mercado internacional (BNDES, 2022). Tais locais já atraem investimentos privados e internacionais para a construção de plantas-piloto e projetos em larga escala, com acordos com países como Países Baixos e Alemanha.

A Agência Internacional de Energia (IEA, 2021) destaca que o Brasil pode se tornar um dos produtores mais competitivos de hidrogênio verde no mundo, com custos estimados entre US$ 1,50 e US$ 2,00 por kg até 2030, em regiões com alta incidência solar e eólica. Já a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, 2022) enfatiza que, com políticas públicas adequadas, certificações de origem renovável e marcos regulatórios estáveis, o país poderá atender à crescente demanda internacional por hidrogênio verde, especialmente da Europa, Japão e Coreia do Sul.

Portanto, o Brasil reúne condições técnico-econômicas e geográficas para assumir um papel de importância na cadeia global do hidrogênio verde, desde que avance no estabelecimento de políticas públicas específicas, promova parcerias internacionais e assegure a competitividade tecnológica da sua produção. A articulação entre governo, setor privado e instituições de pesquisa será decisiva para transformar o potencial em liderança efetiva no mercado internacional de energéticos sustentáveis.

4.2 Oportunidades e Desafios para o Comércio Exterior Brasileiro

O comércio exterior de hidrogênio verde (H₂V) desponta como uma oportunidade estratégica eficiente para o Brasil, dada a abundância de recursos renováveis, como a energia solar e eólica, e a vasta disponibilidade de água para eletrólise. Com grande potencial para se tornar um dos principais exportadores globais, o Brasil encontra demanda crescente em mercados como União Europeia, Japão e Coreia do Sul, que já estabeleceram metas ambiciosas para a importação de hidrogênio renovável em seus planos de transição energética (IEA, 2023).

Entre as oportunidades, destaca-se a capacidade do Brasil de produzir hidrogênio verde a custos competitivos devido ao baixo preço da energia renovável, fator essencial para tornar o H₂V economicamente viável. A localização geográfica favorável também permite a construção de corredores logísticos estratégicos para a exportação, como portos adaptados para o transporte de derivados de hidrogênio, incluindo amônia e metanol verdes, substâncias que facilitam o armazenamento e o transporte de grandes volumes de hidrogênio (IRENA, 2022).

Além disso, o fortalecimento das parcerias internacionais e a participação ativa em iniciativas multilaterais, como a European Clean Hydrogen Alliance e a Hydrogen Council, oferecem ao Brasil a oportunidade de integrar-se às cadeias globais de valor do hidrogênio (European Commission, 2020). A assinatura de acordos bilaterais de cooperação técnica, como os firmados com Alemanha e Países Baixos, também aponta para uma trajetória promissora de inserção no mercado internacional.

No entanto, vários desafios ainda precisam ser superados para que o Brasil consolide sua posição no comércio exterior de hidrogênio verde. A falta de um mercado de carbono funcional e a precificação inadequada do carbono no país diminuem a competitividade do H₂V em relação a alternativas fósseis. Além disso, a necessidade de certificação internacional que comprove a origem renovável do hidrogênio produzido impõe exigências regulatórias complexas, que demandam a criação de sistemas fortes de rastreabilidade e conformidade ambiental (IEA, 2023; GABRIELLI; TOKARSKI, 2024).

A infraestrutura logística atual também representa a barreira de adaptação dos portos. O desenvolvimento de hubs de produção e exportação e a construção de novas rotas de escoamento são investimentos necessários, mas ainda em estágio inicial. Do ponto de vista tecnológico, o Brasil precisa avançar na cadeia de valor do hidrogênio, promovendo não apenas a produção, mas também a inovação em tecnologias de eletrólise, armazenamento e transporte (IRENA, 2022).

Portanto, embora o Brasil reúna vantagens competitivas naturais para se destacar no comércio internacional de hidrogênio verde, o aproveitamento pleno dessas oportunidades depende de ações coordenadas entre governo, setor privado e instituições internacionais, voltadas para superar as barreiras regulatórias, logísticas e tecnológicas ainda existentes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O hidrogênio verde emerge como uma peça central na transição energética global e na construção de economias de baixo carbono. Com sua matriz energética predominantemente renovável e vasto potencial para geração de energia solar e eólica, o Brasil se posiciona estrategicamente para ocupar uma posição de destaque no mercado internacional de hidrogênio verde. A crescente demanda em regiões como a União Europeia, Japão e Coreia do Sul, aliada aos esforços globais de descarbonização, cria um ambiente favorável para que o Brasil amplie sua participação no comércio exterior de energéticos sustentáveis.

Entretanto, a materialização desse potencial depende da superação de desafios estruturais importantes. A ausência de um mercado de carbono funcional, a necessidade de certificações internacionais fortes e a carência de infraestrutura adequada para produção, armazenamento e exportação de hidrogênio verde são barreiras que precisam ser enfrentadas com políticas públicas eficazes, investimentos em inovação e parcerias internacionais. Além disso, é crucial a promoção de marcos regulatórios claros que garantam segurança jurídica e atratividade para investidores.

Ao investir em infraestrutura, tecnologia e diplomacia energética, o Brasil poderá não apenas diversificar seu catálogo de exportação, mas também se consolidar como um dos principais fornecedores globais de hidrogênio verde. Assim, o desenvolvimento de uma estratégia nacional para o hidrogênio, alinhada aos objetivos de desenvolvimento sustentável e à competitividade internacional, é imprescindível para transformar o potencial do país em uma realidade econômica e relevância ambiental nas próximas décadas.

REFERÊNCIAS

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1(FATEC Zona Leste) larissa.marinho@fatec.sp.gov.br

2(IFATEC ZONA LESTE) ligia.guerra@fatec.sp.gov.br