HEMATOCELE TESTICULAR EM GARANHÃO EQUINO: RELATO DE CASO

TESTICULAR HEMATOCELE IN A GARANHÃO: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411101412


Juliana Chaves Santos;
Orientador Professor Dr. Bruno Fagundes


Resumo: O exame andrológico tem como objetivo diagnosticar possíveis falhas reprodutivas além de investigar a capacidade do animal de acasalamento. Engloba desde exames físicos da região reprodutiva externa e interna, exames ultrassonográficos, coleta de sêmen e avaliações macroscópicas e microscópicas do sêmen para se atestar as condições reprodutivas e de fertilidade. O objetivo deste trabalho foi relatar o caso clínico de um garanhão que apresentava aumento e assimetria da região escrotal com diagnóstico de hidrocele, hematocele e degeneração testicular. O relato de caso é de um garanhão da raça Mangalarga Marchador sem histórico reprodutivo de baixa fertilidade e de traumas. No exame físico foi constata uma assimetria na região testicular. No exame ultrassonográfico foi notado que os testículos se encontravam hiperecóicos, líquido livre entre o parênquima testicular e as túnicas albugíneas do lado esquerdo, caracterizando um processo de hidrocele testicular. E do lado direito observa-se a presença de um líquido septado característico de fibrina na região ventral do testículo próximo a cauda do epidídimo, caracterizando um processo de hematocele. Na avaliação seminal observou- se um aumento das patologias espermáticas totais com 39,5%. Baseado nos exames, o diagnóstico clínico foi de uma hidrocele associado a uma hematocele na região testicular gerando uma degeneração testicular. Como tratamento foi indicado pentoxifilina 8mg/kg, ducha 3x ao dia e que o garanhão fosse solto em um piquete todos os dias durante 30 dias. Concluiu-se que o prognóstico e a conduta terapêutica adotada pelos Médicos Veterinários estavam de acordo com a literatura, proporcionando conforto, bem-estar e melhora clínica ao animal.

Palavras-chave: Garanhão; avaliação espermática; patologia; ultrassonografia.

Abstract: The purpose of the andrological examination is to diagnose possible reproductive failures, as well as to investigate the animal’s ability to mate. It includes physical examinations of the external and internal reproductive region, ultrasound examinations, semen collection and macroscopic and microscopic evaluations of the semen to certify reproductive and fertility conditions. The aim of this paper was to report the clinical case of a stallion who presented with enlargement and asymmetry of the scrotal region with a diagnosis of hydrocele, hematocele and testicular degeneration. The case report is of a Mangalarga Marchador stallion with no reproductive history of low fertility or trauma. Physical examination revealed asymmetry in the testicular region. The ultrasound showed that the testicles were hyperechoic, with free fluid between the testicular parenchyma and the tunica albuginea on the left, characterizing a testicular hydrocele process. On the right side, there was a septate liquid characteristic of fibrin in the ventral region of the testicle near the tail of the epididymis, characterizing a hematocele process. The seminal evaluation showed an increase in total sperm pathologies (39.5%). Based on the tests, the clinical diagnosis was a hydrocele associated with a hematocele in the testicular region generating testicular degeneration. The treatment indicated was pentoxifylline 8 mg/kg, shower 3 times a day and that the stallion should be released in a paddock every day for 30 days. It was concluded that the prognosis and therapeutic approach adopted by the veterinarians were in line with the literature, providing the animal with comfort, well-being and clinical improvement.

Keywords: Stallion; sperm evaluation; pathology; ultrasound.

1 INTRODUÇÃO

A sanidade animal tem como objetivo garantir que os animais tenham uma vida com condições básicas ideais. Para isso, é preciso prevenir doenças, garantir um ambiente confortável e protegido, e planejar a rotina diária, seja do rebanho ou do indivíduo (Costa, 2017; Feitosa, 2020). Entrando na rotina reprodutiva do indivíduo, existe uma série de exames que são sugeridos a serem feitos para que se tenha um bom prognóstico reprodutivo daquele paciente. Pensando nos garanhões, o exame andrológico que tem como objetivo diagnosticar possíveis falhas reprodutivas além de investigar a capacidade de fertilidade do animal (Egyptien et al., 2023).

Contudo deve-se ressaltar que os equinos são animais estacionais de dias longos, onde o fotoperíodo influencia as características do ejaculado por conta da ativação do sistema neuroendócrino gonadal. Sendo assim a gametogênese, a função do trato reprodutivo e a funcionalidade do sêmen atingem seu ápice de eficiência durante a estação reprodutiva. Podem existir variações de qualidade seminal ao longo do ano e influenciados pela nutrição, idade e temperatura ambiente (Hafez; Hafez, 2000).

Baseado nisso, o exame andrológico se torna uma ferramenta única e fundamental para verificação de possíveis patologias reprodutivas. Por meio de um conjunto de exames físicos da região reprodutiva, ultrassonográficos e avaliações macroscópicas (volume, aspecto, cor e odor) e microscópicas (motilidade, vigor, concentração e avaliação morfológica) do ejaculado para auxiliar no diagnostico final da fertilidade de um garanhão (Papa et al., 2014). Posto isto, este exame deve ser utilizado como padrão ouro em casos de garanhões com alterações de libido e baixa fertilidade.

Entre as quais as patologias reprodutivas são as principais causas de alteração espermática. Dentre as mais comumente encontradas estão a laceração prepucial, degeneração testicular, orquite, acúmulo de líquido (hidrocele, piocele, hematocele), epididimite e as vesiculites (Papa et al., 2014; Waqas; Arroyo; Tibary, 2024).

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi relatar o caso clínico de um garanhão com aumento e assimetria da região escrotal, que atraves do exame andrológico foi diagnosticado com o quadro de hidrocele, hematocele e degeneração testicular.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Exame Andrológico

O exame andrológico engloba desde exames físicos da região reprodutiva externa (região escrotal) quanto interna (glândulas acessórias), exames ultrassonográficos, coleta de sêmen e avaliações macroscópicas (volume, aspecto, cor e odor) e microscópicas (motilidade, vigor, concentração e avaliação morfológica) deste sêmen para se atestar as condições reprodutivas e estimar a capacidade de fertilidade daqueles espermatozoides produzidos (Papa et al., 2014; Monteiro, 2017).

2.1.1. Exame físico

O exame físico consiste na verificação da presença ou ausência, dimensões, consistência, simetria, mobilidade e sensibilidade dos segmentos reprodutivos avaliados. A região escrotal consiste na avaliação da região de pele para verificar a presença de algum tipo de lesão, sensibilidade, aderência e aumento de temperatura. Os testículos devem ser mensurados individualmente, tracionando-os levemente para aferição de comprimento x largura x altura que, na raça Mangalarga Marchador, variam entre 5 e 12cm x 4 e 8cm x 4 e 8 cm, respectivamente (Papa et al., 2014). As outras avaliações a serem feitas englobam a presença, forma (oval, alongada e horizontal), simetria (devem ser simétricos entre si, margem de diferença de 10%), consistência (fibroelástica), mobilidade (devem apresentar mobilidade), sensibilidade (sem sinais) e temperatura (de 2º a 4º abaixo da temperatura corpórea). O epidídimo é constituído de cabeça, corpo e cauda. Os dados avaliados no epidídimo são os mesmos avaliados no testículo com exceção da forma, tamanho e posição. O cordão espermático deve ser avaliado quanto ao volume, grau de distensão, sensibilidade e torção (CBRA, 2013).

2.1.2 Exame ultrassonográfico

O exame ultrassonográfico é um exame complementar não invasivo que nos fornece informações sobre a arquitetura interna dos órgãos como os testículos, cabeça e cauda do epidídimo e cordão espermático. Podendo apresentar grande utilidade no diagnóstico de traumas, tumores, hérnias, processos inflamatórios como acúmulo de fluido seroso, hidrocele e hematocele. O modo B é o modo ultrassonográfico tradicionalmente utilizado dentro da reprodução equina (Monteiro, 2017).

Quando é realizado o exame ultrassonográfico espera-se que os testículos se apresentem de forma ecogênica e homogênea; a túnica albugínea apresentem em linhas ecogênicas circundando o testículo com uma pequena quantidade de fluído lubrificante entre as camadas; o epidídimo apresenta uma aparência heterogênea devido a um padrão de “queijo suíço” por causa da presença dos ductos epididimários e se tem uma ecogenicidade isoecóica ou ligeiramente hipoecóica quando comparado ao testículo; e o cordão espermático tem uma aparência heterogênea com áreas circulares anecóicas cercadas por regiões mais hiperecóicas referentes ao tecido envolto (Di Serafino et al., 2021; Sitter, 2021).

2.1.3 Colheita de sêmen e avaliação seminal

A colheita de sêmen é realizada com o auxílio de uma vagina artificial (modelo Botucatu, Hannover ou Missouri), onde o animal deve apresentar um condicionamento prévio para que este monte em uma égua no cio ou em um manequim. A vagina deve ser preenchida com água quente para que a temperatura permaneça entre 42º e 45º e ajuste de pressão interna com adição de ar para simular o ambiente vaginal da égua. Para assegurar o processo ejaculatório observa-se os movimentos de cauda para cima e para baixo, contração dos músculos perianais, sapatear e fluxo pulsátil uretral da ejaculação (Papa et al., 2014).

As avaliações seminais podem ser vantajosas para auxiliar na previsão sobre a qualidade seminal de um garanhão. Dentre as avaliações macroscópicas, o encontrado de forma fisiológica é a cor do sêmen que varia de branco a marfim, com aspecto de translucido a leitoso, com odor suis generis e volume entre 20 e 60ml. Nas avaliações microscópicas são considerados valores dentro da normalidade uma motilidade espermática ≥ 60%, vigor ≥ 3, na escala de 1 a 5, concentração espermática entre 100 e 200×106 espermatozoide/ml (sptz/ml), sem turbilhonamento e com patologia espermática somando ≤ 30% de defeitos, sendo considerado ideal ≤ 20% de defeitos menores (defeitos de cauda, implantação de cabeça e gota citoplasmática distal) e ≤ 10% de defeitos maiores (defeitos de acrossomo, cabeça, cauda, gota citoplasmática proximal, defeito de peça intermediária, formas teratológicas e duplas) (CBRA, 2013). Onde deve levar em consideração que os defeitos menores não interferem diretamente sobre a fertilidade estando, em sua maioria, associados a alterações na região epididimárias, enquanto os defeitos maiores, frequentemente, estão relacionados diretamente com a fertilidade do garanhão por se tratar de alterações testiculares que irão alterar a espermatogênese (Papa et al., 2014).

2.2 Patologias do Sistema Reprodutivo dos Garanhões

As patologias do sistema reprodutivo dos garanhões são divididas em alterações de pênis e prepúcio; testículos; e epidídimo, condutos espermáticos e glândulas acessórias. As patologias de pênis e prepúcios mais encontrados são a fimose, parafimose, balanopostite, hematoma peniano, edema prepucial e laceração prepucial. As patologias de testículo comumente observadas são a degeneração testicular, hipoplasia ou aplasia testicular, orquite, neoplasias testiculares, hérnia inguino-escrotal, rotação testicular, torção testicular e acúmulo de líquido (hidrocele, piocele, hematocele). As patologias de epidídimo diagnosticadas com frequência são defeitos congênitos, granulomas espermáticos, espermatocele e epididimite que normalmente são coexistentes com as orquites. As do conduto espermático são espermiostasia e fistula uretral. E as patologias mais encontradas nas glândulas acessórias são as vesiculites (Papa et al., 2014; Waqas; Arroyo; Tibary, 2024).

2.2.1 Hidrocele e hematocele

Com base no relato de caso descrito a seguir iremos focar na descrição de algumas patologias reprodutivas que serão importantes para a discussão do caso clínico. A hidrocele e a hematocele são lesões relacionadas a acúmulos de líquidos na região da bolsa escrotal próximo a testículo e epidídimo. Podem ser líquidos livres proveniente do extravasamento da região peritoneal, diminuição do fluxo linfático, trauma testicular, hérnia inguinal ou torção testicular. Ou líquidos com fibrina mais comumente encontrados em casos de hematocele (Waqas; Arroyo; Tibary, 2024).

A hidrocele também pode ser um achado incidental em garanhões durante períodos com temperaturas elevadas e clima úmido em final de estação de monta e atividade reprodutiva intensa, o que pode vir a afetar a fertilidade. Como tratamento indica-se exercícios regulares para melhorar o fluxo linfático, duchas de água fria para diminuir a temperatura local e colocar esses animais em baias mais arejadas (Waqas; Arroyo; Tibary, 2024).

Já a hematocele está relacionada a uma lesão extratesticular causada por um trauma na qual o sangramento fica retido nas túnicas albugíneas. Em hematoceles agudas observamos, pelo exame ultrassonográfico, regiões ecogênicas dentro do líquido livre, enquanto nas hematoceles crônicas o líquido livre se torna anecóico com o desenvolvimento de septos e lacunas internas (Heller et al., 2010).

Como tratamento indica-se duchas de água fria e o uso de anti-inflamatórios não esteroidais e repouso. Caso persista é recomendado a intervenção cirúrgica para descompressão do fluxo sanguíneo, avaliação de possível ruptura das túnicas albugíneas, além de limpeza dos coágulos e hemostasia das regiões de sangramento (Hadjipavlou; Sharma, 2021).

2.2.2 Degeneração testicular

A degeneração testicular é um conjunto de alterações que causam deterioração e perda da arquitetura histológica do parênquima testicular, resultando em produção anormal de espermatozoides e redução da fertilidade. Essa patologia pode se manifestar de forma uni ou bilateralmente de forma temporária ou permanente e serem classificadas em leve, moderada ou grave (Garcia, 2017; Da Silva, 2021).

Ocorre perda da termorregulação testicular devido ao aumento da temperatura ambiental, criptorquidismo, dermatites escrotais, hidrocele, pioceles, hematoceles, hematomas, traumas, lesões, infecções e deficiência nutricional com carência de vitamina A (Celeghini et al., 2017).

Ao exame clínico percebe-se redução do volume testicular e aumento da flacidez na gônada quando se tem um processo inicial. Quando o processo se encontra avançado pode-se observar os testículos atrofiados, tamanho reduzido, fibrótico e com consistência firme à palpação. No exame ultrassonográfico observa-se uma imagem mais heterogênea e hiperecóica podendo apresentar pontos de calcificação no testículo. Na avaliação seminal observa-se redução da motilidade e concentração espermática e aumento no número com células com defeitos patológicos como alteração de cabeça e cauda, cabeças isoladas e gotas citoplasmáticas proximais (Celeghini et al., 2017).

Como terapêutica nesse caso se recomenda a remoção da causa primária que estimula a degeneração testicular, podendo haver uma gradual melhora na qualidade seminal se completando com 60 dias. Além disso, uma terapia suporte com uso de vitamina C, selênio, ômega 3, L-carnitina e pentoxifilina (Da Silva, 2021).

3 RELATO DE CASO

Um garanhão da raça Mangalarga Marchador de 5,5 anos, pesando 440kg, com altura de 1,53m, sem histórico reprodutivo de baixa fertilidade e de traumas foi avaliado como rotina padrão pré-estação de monta do haras em que reside e foi notado pelos médicos veterinários alterações físicas na região escrotal do animal.

Para uma investigação mais detalhada do caso e um prognóstico mais assertivo, foi realizada uma sequência de exames. Primeiramente, foi realizada uma inspeção física no animal tanto na região escrotal como no animal como um todo. Foram realizadas avaliações de temperatura corpórea, frequência cardíaca, frequência respiratória, avaliação de coloração de mucosa, tempo de preenchimento capilar, turgor cutâneo e motilidade intestinal. Todos esses parâmetros se encontravam dentro do esperado de acordo com a literatura (Feitosa, 2020).

Em seguida foi realizado o exame físico da região escrotal especificamente. Foi realizada avaliação de tamanho, consistência e motilidade testicular. Os resultados encontrados demonstraram testículos com tamanhos de 8,9 x 6,3 x 6,7 cm (comprimento x largura x altura) do lado esquerdo e de 11,3 x 7 x 8 cm do lado direito; consistência do testículo variando entre 2,5 e 3,0 cm e epidídimo variando entre 1,5 e 1,0 cm (esquerdo e direito, respectivamente); sem sensibilidade e mobilidade dentro do esperado sem aderência. Durante essa avaliação percebeu-se uma assimetria na região testicular (Figura 1).

Figura 1: Imagem da região escrotal do garanhão. A: visão pelo lado direito em corte horizontal do aumento de volume da região testicular. B: visão pelo lado esquerdo em corte horizontal do aumento de volume da região testicular. C: visão em corte dorsal do aumento de volume da região testicular. Fonte: Arquivo pessoal, 2024

A partir destes achados foi realizado um exame de ultrassonografia da região escrotal avaliando as regiões testiculares, epididimárias e cordão espermático bilateral. Neste exame pode-se observar que a região do cordão espermático se encontrava dentro dos parâmetros ultrassonográficos esperados com a visualização dos vasos sem detecção de anomalias; tanto a cauda quanto cabeça do epidídimo se encontram também dentro dos parâmetros ultrassonográficos esperados; e os testículos se encontravam hiperecóicos quando comparado ao que se espera da normalidade sendo observado líquido livre entre o parênquima testicular e as túnicas albugíneas do lado esquerdo com preservação da arquitetura das túnicas, caracterizando um processo de hidrocele testicular (Figura 2). Do lado direito observa-se a presença de um líquido septado característico de fibrina na região ventral do testículo próximo a cauda do epidídimo, caracterizando um processo de hematocele (Figura 3).

Figura 2: Sequências de imagens ultrassonográficas do testículo esquerdo evidenciando acúmulo de líquido (setas vermelhas) entre o parênquima testicular e as túnicas albugíneas. Observa-se pelas sequências de imagens (A, B, C, D) que o líquido envolve grande parte do testículo, caracterizando um processo de hidrocele testicular. Fonte: Arquivo pessoal, 2024

Figura 3: Sequência de imagens ultrassonográficas do testículo direito evidenciando a presença de um líquido septado característico de fibrina na região ventral do testículo próximo a cabeça do epidídimo, caracterizando um processo de hematocele ao redor da região testicular e epididimária. Fonte: Arquivo pessoal, 2024

Com isso decidiu-se realizar o procedimento de coleta de sêmen do garanhão para analisar se as alterações observadas pelo exame físico e ultrassonográfico já estariam afetando a qualidade espermática, sendo classificado como uma lesão crônica, ou seriam alterações recentes podendo ser classificadas como uma lesão aguda.

Desta forma, realizou-se o procedimento de coleta de sêmen onde foi analisado a libido do garanhão, quantidade de saltos para o ejaculado, volume do ejaculado, odor, coloração, aspecto, motilidade espermática, vigor espermático, concentração espermática e patologias espermática.

O garanhão apresentou bom libido e a necessidade de apenas 1 salto para o processo de coleta do sêmen. No exame macroscópico podemos observar que o ejaculado apresentou um volume de 10ml com odor suis generis, coloração esbranquiçada e aspecto cremoso. e no exame microscópico notamos uma motilidade espermática de 81%, vigor de 3,5, concentração espermática de 131×106 sptz/ml, patologias espermáticas totais com 39,5% sendo 17% referente a defeitos menores e 22,5% referente a defeitos maiores (Tabela 1).

Tabela 1: Dados da avaliação seminal do garanhão analisado pelo relato de caso comparado aos valores encontrados com os valores de referência descritos pela literatura baseado em CBRA (2013).

Baseado nos exames realizados chegou-se à conclusão de que o garanhão apresentava um quadro de hidrocele associado a um hematocele na região testicular que estava interferindo na termorregulação testicular gerando um quadro de degeneração testicular visto o aumento no número de defeito maiores que são associados ao processo da espermatogênese e consequentemente a capacidade de fertilização.

Como terapêutica foi instituída a administração de pentoxifilina, ducha três vezes ao dia e que o garanhão fosse solto em um piquete todos os dias durante um turno do dia (manhã ou tarde). Esse protocolo foi instituído por um período de 30 dias sendo reavaliado após esse período para definir a necessidade de continuidade do protocolo, mudança ou suspensão do tratamento.

4 DISCUSSÃO

Apesar da constatação do aumento de volume e assimetria na região escrotal a olho nu, não foi constatada alterações significativas ao exame clínico, permanecendo as estruturas da região testicular, epididimária e cordão espermático dentro dos valores de mensuração e de consistência, forma, sensibilidade, mobilidade e temperatura conforme citado por outros autores (CBRA, 2013; Papa et al., 2014).

No exame ultrassonográfico pode-se identificar de forma mais efetiva os motivos do aumento de volume e assimetria escrotal. A identificação do parênquima testicular mais hiperecóicos que o fisiológico, com líquido livre ao redor do testículo do lado esquerdo e de líquido septado com característica de fibrina do lado direito, que condiz com o descrito na literatura para que se possa suspeitar de um prognóstico de hidrocele e hematocele que interferem na termorregulação gerando uma degeneração testicular pelo aumento da ecogenicidade dos testículos (Celeghini et al., 2017; Di Serafino et al., 2021). Segundo a literatura em hematoceles agudas observa-se líquidos livres ecogênicos já em hematoceles crônicas observa-se líquidos livres anecóicos com desenvolvimento de septos (Heller et al., 2010). Baseados nessas informações acreditamos que a hematocele presente no caso clínico relatado esteja relacionado a uma hematocele crônica.

Na avaliação seminal, os parâmetros macroscópicos se encontraram dentro do descrito pela literatura (CBRA, 2013). Já os parâmetros microscópicos se apresentaram de acordo com outros pesquisadores quando relacionado a motilidade espermática, vigor, concentração espermática. Porém quando se realizou a avaliação das patologias espermáticas totais se observou um aumento de 9,5% do esperado (30%) sendo esse valor relacionado aos defeitos maiores que interferem diretamente com a fertilidade do garanhão por se tratar de alterações testiculares que irão alterar a espermatogênese (Papa et al., 2014). Essas alterações da patologia espermática sustenta a suspeita do exame ultrassonográfica de prognóstico de degeneração testicular, pois uma das modificações observadas descritas na literatura é o aumento de células espermáticas com defeitos maiores com alterações de cabeça e cauda, cabeças isoladas e gotas citoplasmáticas proximais (Celeghini et al., 2017).

Baseado nas informações clínicas adquiridas e do prognóstico final, a terapêutica instituída de administração de pentoxifilina, ducha três vezes ao dia e que o garanhão fosse solto em um piquete todos os dias durante um turno do dia (manhã ou tarde) condiz com o recomendado pela literatura para melhora do fluxo linfático, diminuição do líquido livre e diminuição da temperatura local colaborando com a termorregulação testicular (Waqas; Arroyo; Tibary, 2024).

Em relação a degeneração testicular como já se tem um protocolo para eliminação da causa primária, poderia se indicar o uso de suplementos (vitamina C, selênio, ômega 3, L-carnitina) em uma terapia de suporte para que esse garanhão pudesse de forma mais eficiente, dentro dos 60 dias de espermatogênese, diminuir a quantidade de patologias espermáticas e melhorar a fertilidade (Da Silva, 2021).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a confecção deste trabalho podemos concluir que o exame andrológico realizado em garanhão é uma ferramenta completa e fundamental para o diagnóstico correto de patologias reprodutivas.

Como relatado neste trabalho, com a execução correta de cada etapa do exame andrologico foi possível alcançar um prognostico mais acertivo e consequentemente um tratamento mais eficaz para melhora e bem estar do garanhão.

Referências

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