REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411121059
Mariana Gouvêa Mendanha Silva;
Aline Marhold Ozelame;
Karinne Bianca Lima Seviolle;
Isabela Gouvêa Mendanha Silva
RESUMO
O soro de leite, um dos principais subprodutos gerados durante a produção de queijos e outros laticínios, possui uma composição rica que pode ser transformada em recursos relevantes. Neste contexto, diversas tecnologias, como filtração por membranas, microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa, são indicadas na separação e concentração de componentes importantes, como proteínas e lactose, a partir do soro. Além disso, a secagem por spray-dryer transforma o soro em produtos de alto valor agregado, enquanto a digestão anaeróbica permite a conversão de resíduos em biogás, promovendo a geração de energia renovável. A revisão da abordagem da integração dessas tecnologias não apenas reduz o impacto ambiental da indústria de laticínios, mas também contribui para a eficiência econômica, promovendo uma economia circular. O artigo conclui que a adoção dessas práticas é essencial para garantir um futuro sustentável para o setor, beneficiando tanto a indústria quanto o meio ambiente.
Palavras-chave: Leite; Sustentabilidade; Economia circular.
ABSTRACT
Whey, one of the main by-products generated during the production of cheese and other dairy products, has a rich composition that can be transformed into relevant resources. In this context, various technologies, such as membrane filtration, microfiltration, ultrafiltration, nanofiltration and reverse osmosis, are suitable for separating and concentrating important components, such as proteins and lactose, from whey. In addition, spray-drying transforms whey into high value-added products, while anaerobic digestion allows waste to be converted into biogas, promoting the generation of renewable energy. Reviewing the approach to integrating these technologies not only reduces the environmental impact of the dairy industry, but also contributes to economic efficiency, promoting a circular economy. The article concludes that adopting these practices is essential to ensure a sustainable future for the sector, benefiting both the industry and the environment.
Keywords: Milk; Sustainability; Circular economy.
1 INTRODUÇÃO
A indústria de laticínios é uma das principais responsáveis pela geração de resíduos sólidos e líquidos, que podem impactar significativamente o meio ambiente se não forem geridos adequadamente. A crescente demanda por produtos lácteos, impulsionada pelo aumento da população mundial e pela diversificação do consumo, tem intensificado a produção de resíduos, tornando essencial a implementação de práticas sustentáveis para minimizar esses impactos (SARKAR et al., 2015; GIROTTO et al., 2015).
Um dos principais desafios enfrentados por essa indústria é a gestão do soro do leite, um subproduto volumoso resultante da fabricação de queijos. Estima-se que, para cada 10 litros de leite processado, aproximadamente 9 litros se tornam soro (PIRES et al., 2022). Devido à sua alta carga orgânica e quantidade significativa de nutrientes, o descarte inadequado desse resíduo pode levar à contaminação de corpos d’água, contribuindo para problemas como a eutrofização (SILANIKOVE, LEITNER & MERIN, 2015).
Nos últimos anos, o desenvolvimento de novas tecnologias têm possibilitado o reaproveitamento do soro do leite em diversos setores, como a produção de bebidas lácteas, ingredientes alimentícios, suplementos nutricionais, e até biocombustíveis (GONZÁLEZ GARCÍA et al., 2013). Essas práticas não apenas reduzem o impacto ambiental, mas também adicionam valor econômico ao que antes era considerado um resíduo sem utilidade (PRAZERES, CARVALHO & RIVAS, 2012). Além do reaproveitamento do soro do leite, outras práticas de gestão de resíduos têm sido adotadas na indústria de laticínios para promover a sustentabilidade. Entre essas práticas estão a compostagem dos resíduos sólidos, a utilização de biogás gerado a partir de efluentes e a reciclagem de embalagens (BOLAN et al., 2013). Tais iniciativas são fundamentais para o cumprimento das exigências ambientais e para o fortalecimento da imagem das empresas perante os consumidores (MENESES, TORRES & CASTELLS, 2010).
Contudo, a implementação dessas práticas ainda enfrenta desafios significativos. Fatores como o alto custo de investimentos iniciais, a falta de incentivos governamentais e a resistência à mudança dentro das organizações são obstáculos que precisam ser superados para que a gestão de resíduos se torne uma prática comum em toda a indústria (XIAO & ZHANG, 2014).
Diante desse cenário, esta pesquisa visa analisar de forma abrangente as diversas estratégias de gestão de resíduos implementadas na indústria de laticínios, com ênfase particular nas técnicas de reaproveitamento do soro do leite, destacando sua relevância para a sustentabilidade e inovação no setor.
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVOS GERAL
Analisar as práticas de gestão de resíduos na indústria de laticínios, com ênfase no reaproveitamento do soro do leite, visando identificar estratégias sustentáveis que possam ser aplicadas para minimizar impactos ambientais e agregar valor econômico ao setor.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
– Investigar as principais técnicas utilizadas na gestão de resíduos na indústria de laticínios, com foco na sustentabilidade e eficiência operacional.
– Examinar as diferentes abordagens para o reaproveitamento do soro do leite, avaliando suas vantagens econômicas e ambientais.
– Analisar os desafios e obstáculos enfrentados pela indústria de laticínios na implementação de práticas de gestão de resíduos, especialmente no que se refere ao reaproveitamento do soro do leite.
– Identificar exemplos de boas práticas em gestão de resíduos na indústria de laticínios que possam servir de referência para outras empresas do setor.
– Propor recomendações para a melhoria das práticas de gestão de resíduos, considerando as tendências atuais e futuras em sustentabilidade na indústria de laticínios.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Esta revisão bibliográfica foi realizada por meio de uma busca nas bases de dados PubMed , Scopus , e Google Scholar , utilizando palavras-chave relacionadas ao tema em estudo. Foram incluídos estudos, disponíveis em inglês, português e espanhol. Artigos repetidos ou sem acesso ao texto completo foram excluídos. A seleção final foi baseada na relevância dos estudos, com ênfase em práticas sustentáveis na gestão de resíduos e na eficiência e relevância para o setor.
4 INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS NO BRASIL
A indústria de laticínios no Brasil é uma das mais importantes do setor agroindustrial, representando uma significativa parcela da produção mundial de leite. O Brasil está entre os maiores produtores de leite, com uma produção anual que supera 35 bilhões de litros, segundo dados da EMBRAPA (2023). Essa atividade é concentrada em regiões como o Sudeste e o Sul do país, que juntos respondem por mais de 60% da produção nacional.
O setor tem passado por uma série de transformações nos últimos anos, impulsionado tanto pela modernização tecnológica quanto pela demanda crescente por produtos lácteos de maior qualidade. Segundo a Associação Brasileira de Laticínios (2022), o país possui mais de 1,3 milhão de propriedades rurais dedicadas à produção de leite, sendo a maior parte composta por pequenas e médias propriedades. Apesar disso, há um movimento de concentração, com grandes indústrias como a Nestlé, Danone e Laticínios Bela Vista dominando o mercado de processamento e distribuição.
A sustentabilidade tem se tornado um ponto central na indústria de laticínios brasileira. Iniciativas como o reaproveitamento do soro de leite, considerado um subproduto com alto potencial nutritivo, têm ganhado força. O Instituto de Laticínios Cândido Tostes (2021) destaca o uso do soro na produção de proteínas de alto valor agregado, como concentrados de proteína de soro (WPC) e isolados de proteína de soro (WPI). Esses subprodutos têm sido cada vez mais utilizados na indústria de alimentos e bebidas, o que reduz o desperdício e melhora a eficiência do uso dos recursos.
Apesar de seu potencial, o setor enfrenta desafios importantes, como a volatilidade dos preços e a dependência de subsídios governamentais. Em 2023, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) alertou para a pressão nos custos de produção devido ao aumento nos preços de insumos como rações e energia elétrica (2023). Além disso, o setor também é desafiado por questões de competitividade internacional, principalmente com os países do Mercosul, que têm uma forte presença no mercado de exportação de laticínios.
A modernização do setor é vista como uma solução para muitos desses desafios. Investimentos em automação, controle de qualidade e melhorias no bem estar animal são algumas das estratégias que têm sido adotadas para manter a competitividade e garantir a sustentabilidade da produção no longo prazo. Segundo a Organização das Cooperativas Brasileira (2022), o cooperativismo tem desempenhado um papel crucial na organização da cadeia produtiva, facilitando o acesso a tecnologias e promovendo a adoção de boas práticas.
5 IMPACTOS DOS EFLUENTES DA INDÚSTRIA DO LEITE
A caracterização quantitativa dos efluentes da indústria láctea é fundamental para entender o impacto ambiental desse setor e para desenvolver estratégias eficazes de tratamento e reutilização da água. A produção de leite e seus derivados gera uma quantidade significativa de efluentes líquidos, que são ricos em matéria orgânica, nutrientes, sólidos suspensos e, em alguns casos, compostos químicos utilizados no processo de limpeza e desinfecção.
De acordo com o Instituto de Meio Ambiente de São Paulo (CETESB) (2022), os efluentes da indústria láctea possuem uma carga orgânica elevada, com concentrações de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) que podem variar entre 1.000 e 6.000 mg/L, dependendo do tipo de processamento realizado. Esses valores indicam a quantidade de oxigênio necessária para a decomposição da matéria orgânica presente, sendo um indicador chave da poluição potencial dos efluentes.
Além da DBO, outro parâmetro crítico é a demanda química de oxigênio (DQO), que mede a quantidade total de compostos oxidáveis no efluente. Segundo estudos da EMBRAPA (2023), a DQO dos efluentes lácteos pode variar de 2.000 a 12.000 mg/L, o que reflete a presença significativa de substâncias orgânicas e inorgânicas que precisam ser tratadas antes do descarte no meio ambiente.
Os efluentes da indústria láctea também são caracterizados por altos níveis de sólidos suspensos totais (SST), que podem alcançar valores de até 1.500 mg/L. Esses sólidos incluem partículas de gordura, proteínas e minerais que, se não tratados, podem causar sedimentação nos corpos d’água receptores, afetando a fauna e a flora aquáticas.
Além disso, a presença de nutrientes como nitrogênio e fósforo é uma preocupação ambiental significativa. Conforme relatado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) (2021), esses nutrientes, quando liberados em grandes quantidades, podem contribuir para a eutrofização de rios e lagos, promovendo o crescimento excessivo de algas e comprometendo a qualidade da água.
A caracterização quantitativa desses efluentes permite que as indústrias de laticínios adotem tecnologias de tratamento adequadas, como lagoas de estabilização, sistemas de lodos ativados, e processos de digestão anaeróbia. Esses tratamentos visam reduzir a carga poluidora dos efluentes antes do descarte ou, preferencialmente, possibilitar a sua reutilização em processos industriais ou irrigação agrícola, contribuindo para a sustentabilidade ambiental do setor.
6 CARACTERIZAÇÃO DO SORO DO LEITE
O soro de leite é um subproduto líquido significativo gerado durante a produção de queijos e outros derivados lácteos. Representando cerca de 85% a 90% do volume total de leite processado, o soro de leite constitui um resíduo volumoso e complexo (EMBRAPA, 2023). Sua caracterização é essencial para entender tanto o seu potencial de reaproveitamento quanto os desafios associados à sua gestão.
6.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E FÍSICA DO SORO DO LEITE
Em termos de composição química, o soro de leite é composto principalmente por água, que representa cerca de 93% de seu volume total. De acordo com Nagar et al. (2021), o soro de leite contém uma variedade de componentes essenciais, como proteínas, lactose e minerais, que são cruciais para seu aproveitamento industrial. As proteínas são um dos componentes mais importantes, com a lactoalbumina e a lactoglobulina sendo as principais, conforme descrito em estudo de Pescuma et al. (2020), que destaca que essas proteínas representam até 20% e 50% das proteínas do soro, respectivamente.
A lactose, o principal carboidrato presente no soro, representa cerca de 4,5% a 5% de seu volume, de acordo com Beaucher et al. (2020). Além de ser uma fonte de energia, a lactose desempenha um papel fundamental no reaproveitamento industrial do soro de leite, especialmente em processos de fermentação para produção de biocombustíveis. Os lipídios são encontrados em menor quantidade, geralmente representando menos de 1% do volume total. Esses lipídios incluem ácidos graxos livres e esteróis, conforme explicado por Costa et al. (2019), que destacam a importância desses compostos para a estabilidade e funcionalidade de produtos derivados do soro.
Além das proteínas e carboidratos, o soro de leite contém minerais essenciais como cálcio, fósforo, potássio e magnésio, fundamentais para a nutrição. O trabalho de Park et al. (2021) ressalta que o soro de leite é particularmente rico em cálcio, um mineral essencial para o desenvolvimento ósseo. Por fim, o soro de leite também é fonte de vitaminas do complexo B, como a riboflavina (B2), vitamina B12 e ácido pantotênico (B5). Um relatório da FAO (2021) menciona a importância dessas vitaminas no metabolismo energético e na saúde do sistema nervoso.
A riqueza em proteínas, lactose, minerais e vitaminas torna o soro de leite um recurso valioso. Tecnologias como a filtração por membranas e secagem por spray dryer, conforme descrito por Smithers (2022), permitem a transformação do soro em concentrados e isolados de proteínas, como WPC e WPI, que são amplamente utilizados na indústria alimentícia e farmacêutica.
7 ESTRATÉGIAS DE REAPROVEITAMENTO DO SORO DE LEITE
7.1 PRODUÇÃO DE CONCENTRADOS E ISOLADOS DE PROTEÍNA DE SORO
A produção de concentrados e isolados de proteínas de soro, conhecidos como WPC (Whey Protein Concentrate) e WPI (Whey Protein Isolate), é uma aplicação crucial do soro de leite na indústria alimentícia e farmacêutica. Esses produtos são derivados de processos avançados que visam maximizar a concentração de proteínas e minimizar a presença de gordura e lactose, resultando em ingredientes altamente valorizados por suas propriedades nutricionais e funcionais.
O processo de produção de WPC e WPI começa com a filtração do soro de leite. O soro é submetido a filtrações sucessivas, incluindo ultrafiltração e microfiltração, que separam as proteínas das frações de gordura e lactose. Segundo Rodrigues et al. (2020), a ultrafiltração utiliza membranas com poros específicos para reter as proteínas enquanto permite a passagem de água e outros componentes menores. Após essa etapa, o soro concentrado é seco em spray-dryer para produzir o WPC, que contém proteínas em concentrações que variam de 35% a 80%, dependendo do grau de concentração (ROSA et al., 2021). O WPC é amplamente utilizado em suplementos nutricionais e alimentos esportivos devido ao seu perfil de aminoácidos e propriedades funcionais, como solubilidade e capacidade de emulsificação.
Para a produção de WPI, o soro passa por processos adicionais para remover ainda mais a lactose e a gordura. Isso pode envolver técnicas como troca iônica ou filtração por membranas de fluxo tangencial, resultando em um produto com concentrações de proteínas que podem ultrapassar 90% (MILLER et al., 2022). O WPI é altamente valorizado por sua pureza de proteínas e é utilizado em produtos que exigem um perfil nutricional superior, como suplementos alimentares para atletas e produtos de nutrição clínica.
Os concentrados e isolados de proteínas de soro oferecem diversos benefícios nutricionais e funcionais. As proteínas do soro são de alta qualidade devido ao seu perfil completo de aminoácidos essenciais, necessários para a síntese de proteínas e a recuperação muscular (KERRY et al., 2021). Além disso, essas proteínas possuem alta digestibilidade e solubilidade, tornando-as ideais para a formulação de suplementos e alimentos funcionais. No mercado, o WPC e o WPI são amplamente aplicados em uma variedade de produtos, desde shakes de proteínas e barras nutricionais até ingredientes para formulações farmacêuticas (FAO, 2020). Embora a transformação do soro de leite em WPC e WPI reduza o volume de resíduos líquidos, o processo de produção ainda apresenta desafios em termos de sustentabilidade. O uso de energia e recursos para a filtração e secagem deve ser equilibrado com práticas que minimizem o impacto ambiental (ROSA et al., 2021). As indústrias precisam implementar soluções que otimizem a produção enquanto promovem práticas sustentáveis para reduzir o impacto ambiental.
7.2 APLICAÇÕES NA NUTRIÇÃO ANIMAL
7.2.1 O SORO NA NUTRIÇÃO DE RUMINANTES
As proteínas do soro, como a lactoglobulina e a lactoalbumina, são de alta digestibilidade e contêm todos os aminoácidos essenciais, o que é crucial para o crescimento e desenvolvimento dos ruminantes. Um estudo conduzido por Nascimento et al. (2021) revelou que a inclusão de soro de leite na dieta de bovinos de corte resultou em um aumento significativo no ganho de peso e na eficiência alimentar. O estudo mostrou que a proteína do soro melhora o desempenho de crescimento em comparação com dietas que não contêm soro de leite.
Além das proteínas, o soro de leite é uma fonte de lactose, que pode beneficiar a fermentação ruminal. A lactose estimula a atividade microbiana no rúmen, melhorando a digestão de fibras e a eficiência da utilização de nutrientes. Pesquisa realizada por Ribeiro et al. (2020) demonstrou que a adição de soro de leite à dieta de bovinos de leite melhorou a digestão de fibras e a produção de ácido acético, um importante produto da fermentação ruminal, evidenciando o impacto positivo do soro de leite na saúde digestiva dos animais.
A utilização de soro de leite na dieta de ruminantes não só melhora o desempenho produtivo, mas também pode ter efeitos positivos na saúde dos animais. Um estudo de Alvarenga et al. (2022) indicou que a inclusão de soro de leite na dieta de vacas leiteiras reduziu a incidência de mastite, uma condição que afeta as glândulas mamárias. A pesquisa atribuiu a redução da mastite à melhora na qualidade da dieta e ao aumento da imunidade proporcionado pelos nutrientes do soro de leite. Além dos benefícios para a saúde, o uso de soro de leite pode ter implicações econômicas favoráveis. Oliveira et al. (2023) realizaram uma análise econômica que destacou como a inclusão de soro de leite nas dietas de bovinos de corte não apenas melhorou o desempenho animal, mas também proporcionou uma alternativa econômica para a substituição de grãos caros. A pesquisa mostrou que o uso de soro de leite pode reduzir significativamente os custos de alimentação, tornando-o uma opção vantajosa para os produtores.
Apesar dos benefícios, o uso de soro de leite na nutrição de ruminantes apresenta desafios. O manejo do soro de leite, que possui alto teor de água e é altamente volátil, pode ser complicado em termos de armazenamento e transporte.
Além disso, a quantidade de lactose na dieta deve ser monitorada para evitar problemas digestivos, uma vez que altos níveis de lactose podem causar distúrbios nos ruminantes. Costa et al. (2021) enfatizam a importância de um planejamento cuidadoso ao integrar soro de leite nas dietas para garantir que os níveis de lactose sejam apropriados para a tolerância dos animais.
7.2.2 O SORO NA NUTRIÇÃO DE MONOGÁSTRICOS
A principal vantagem do soro de leite na nutrição de monogástricos está na sua alta concentração de proteínas. As proteínas do soro, como a lactoglobulina e a lactoalbumina, são altamente digestíveis e fornecem todos os aminoácidos essenciais necessários para o desenvolvimento muscular e o crescimento eficiente. Segundo Morrison et al. (2015), a inclusão de soro de leite na dieta de leitões resulta em um aumento significativo no ganho de peso e na conversão alimentar, atribuído à alta qualidade das proteínas presentes no soro, que melhora o crescimento e a eficiência na utilização dos nutrientes.
Além das proteínas, o soro de leite é uma fonte importante de lactose, que desempenha um papel crucial na fermentação intestinal. A lactose é fermentada por microrganismos intestinais, promovendo um ambiente digestivo saudável e melhorando a absorção de nutrientes. Hojberg et al. (2007) encontraram que a adição de soro de leite à dieta de aves não apenas aumentou a eficiência alimentar, mas também melhorou a digestão e a absorção de nutrientes, resultando em um desempenho geral melhorado.
O soro de leite pode ajudar a reduzir a incidência de problemas gastrointestinais, como diarreia, devido aos seus componentes imunológicos e prebióticos. Wang et al. (2013) observaram que a inclusão de soro de leite na dieta de leitões reduziu a ocorrência de doenças gastrointestinais, promovendo um ambiente intestinal mais saudável e aumentando a resistência a infecções. Além dos benefícios para a saúde, o soro de leite pode influenciar positivamente o desempenho produtivo dos animais. Fisher et al. (2020) demonstraram que a suplementação com soro de leite em dietas de frangos de corte resultou em um aumento na taxa de crescimento e na eficiência alimentar. A presença das proteínas e outros nutrientes no soro contribui para o desenvolvimento muscular e a qualidade da carne, o que é benéfico para a produção avícola.
7.3 PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS E FERTILIZANTES
O soro de leite, um subproduto gerado na produção de queijos e outros laticínios, tem se destacado na produção de biocombustíveis e fertilizantes devido à sua rica composição de nutrientes e ao seu potencial para agregar valor. Na área de biocombustíveis, o soro de leite é especialmente valorizado por seu alto teor de lactose, um açúcar que pode ser fermentado para produzir etanol. A determinação da lactose do soro de leite mostrou rendimentos promissórios de etanol, comparáveis aos obtidos a partir de açúcares vegetais. Estudos, como o de Cok et al. (2014) , relatam que o processo de fermentação utilizando lactose do soro é eficiente e oferece uma alternativa viável e sustentável para a produção de etanol, contribuindo para a diversificação das fontes de biocombustíveis .
Além do etanol, o soro de leite também pode ser utilizado na produção de biogás por meio da digestão anaeróbica. O biogás, composto principalmente por metano e dióxido de carbono, é uma importante fonte de energia renovável. De acordo com Espinosa-Gonzalez et al. (2014) , o soro de leite é um excelente substrato para a produção de biogás, oferecendo uma solução eficaz para a gestão de resíduos e geração de energia no processo. Esta aplicação não só ajuda a reduzir o impacto ambiental do soro de leite, como também contribui para a produção de energia sustentável.
Na área de fertilizantes, o soro de leite é um recurso importante devido ao seu alto conteúdo de nutrientes, incluindo nitrogênio, fósforo e potássio. Quando aplicado ao solo, o soro de leite pode enriquecer a fertilidade do solo e promover um crescimento saudável das plantas. Fernández-Gutiérrez et al. (2017) destacam que o soro de leite pode aumentar a disponibilidade de nutrientes no solo e melhorar sua estrutura, contribuindo para práticas agrícolas mais sustentáveis.
Além disso, uma aplicação controlada de soro de leite pode ajudar a evitar problemas ambientais associados ao descarte inadequado de resíduos, como a poluição dos corpos d’água. Das et al. (2016) enfatizam que a aplicação de soro de leite como fertilizante pode ser uma solução eficaz para a gestão de resíduos e para a melhoria da sustentabilidade agrícola.
No entanto, existem desafios associados à utilização do soro de leite para a produção de biocombustíveis e fertilizantes. No caso da produção de etanol e biogás, a carga orgânica do soro pode exigir processos de pré-tratamento para remover impurezas e melhorar a eficiência da fermentação. Gomashe et al. (2014) sugerem que a concentração e purificação do soro são essenciais para melhorar a produção desses biocombustíveis. Para a produção de fertilizantes, é importante evitar a aplicação excessiva de soro de leite, que pode levar à sobrecarga de nutrientes e à umidade por nitratos. Práticas de manejo adequadas, como a aplicação em quantidades controladas e a incorporação ao solo, são recomendadas para garantir benefícios sustentáveis e minimizar impactos ambientais.
8 TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES E REAPROVEITAMENTO DE SORO
8.1 FILTRAÇÃO POR MEMBRANAS
A filtração por membranas é uma tecnologia essencial para o tratamento e aproveitamento do soro de leite, amplamente utilizada na indústria de laticínios para a separação de seus componentes. Essa técnica emprega membranas semipermeáveis que realizam a separação com base no tamanho molecular, carga elétrica ou outras propriedades físico-químicas dos constituintes do soro. A aplicação dessa tecnologia melhora a eficiência no processamento, permitindo a produção de ingredientes de alto valor agregado, como concentrados de proteínas e peptídeos bioativos. Além disso, a filtração por membranas contribui para uma gestão mais sustentável dos resíduos gerados durante a produção de laticínios, reduzindo o desperdício e transformando o soro em uma fonte valiosa de nutrientes (PÉREZ-GÁLVEZ et al., 2021; CASSANO et al., 2019).
Existem quatro tipos principais de filtração por membranas utilizados na indústria de laticínios: microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa. A microfiltração é usada para remover microrganismos e partículas maiores, enquanto a ultrafiltração concentra proteínas e outras macromoléculas. A nanofiltração é eficaz na retenção de sais e moléculas menores, e a osmose reversa é usada para a concentração de sólidos e dessalinização. Esses processos maximizam o aproveitamento do soro de leite, transformando-o em uma fonte rica de nutrientes e ingredientes funcionais para várias aplicações industriais (ATRA et al., 2020; POULIOT, 2008).
8.2 MICROFILTRAÇÃO
A microfiltração é uma técnica de separação física que utiliza membranas com poros variando entre 0,1 a 10 micrômetros. É amplamente utilizada na indústria de laticínios para o tratamento do soro de leite. Através da microfiltração, partículas maiores e microrganismos indesejados, como bactérias e glóbulos de gordura, são removidos sem comprometer a qualidade das proteínas e outros componentes solúveis do soro de leite. Seu uso melhora a eficiência dos processos subsequentes, como ultrafiltração e nanofiltração, além de contribuir para a obtenção de produtos lácteos mais seguros e de alta qualidade (ZHANG et al., 2016; GALANAKIS, 2015).
O principal objetivo da microfiltração no processamento do soro de leite é a clarificação, removendo sólidos suspensos e impurezas sem alterar a composição das proteínas e carboidratos de menor tamanho molecular. Essa técnica é particularmente valiosa por não depender de reações químicas nem da adição de calor, preservando as propriedades nutricionais e funcionais das proteínas sensíveis, como lactoferrina e imunoglobulinas, que são benéficas em alimentos funcionais e suplementos (FELFOUL et al., 2017).
Estudos indicam que a microfiltração pode remover até 99% das bactérias presentes no soro de leite, aumentando a segurança microbiológica do produto final e, em alguns casos, eliminando a necessidade de pasteurização convencional. Essa eficácia é relevante na remoção de microrganismos patogênicos como Escherichia coli, além de outros deteriorantes (SPERANZA et al., 2013).
Além disso, a microfiltração pode ser combinada com ultrafiltração para maximizar a recuperação de proteínas. No processamento de soro de leite para a produção de concentrados proteicos, a microfiltração é frequentemente utilizada como uma etapa inicial para remover partículas maiores, antes que o soro passe pela ultrafiltração, onde as proteínas são concentradas (FELFOUL et al., 2017).
8.3 ULTRAFILTRAÇÃO
A ultrafiltração é amplamente utilizada na indústria de laticínios para separar e concentrar proteínas do soro de leite. Esse processo usa membranas semipermeáveis com poros que variam entre 1 e 100 nanômetros, retendo grandes moléculas como proteínas, enquanto moléculas menores, como lactose, sais minerais e água, atravessam a membrana (MARELLA et al., 2020). A ultrafiltração é essencial para a obtenção de produtos de alto valor agregado, como concentrados de proteínas do soro (WPC) e isolados de proteínas do soro (WPI), amplamente utilizados nas indústrias alimentícias e de nutrição esportiva (SINGH et al., 2019).
O principal objetivo desse processo é a concentração das proteínas do soro de leite, que possuem alto valor nutricional. Proteínas como beta-lactoglobulina, alfa lactoalbumina e imunoglobulinas são altamente valorizadas por seus benefícios funcionais, como a promoção do crescimento muscular e fortalecimento imunológico (MARELLA et al., 2020). A ultrafiltração permite a remoção de moléculas menores como lactose e sais, enquanto retém as proteínas essenciais.
Os WPCs obtidos através da ultrafiltração podem ter concentrações proteicas entre 35% e 80%, dependendo do grau de filtração. Esses produtos são amplamente usados em alimentos funcionais, como barras de proteínas e suplementos (SMITHERS, 2008). Além disso, os WPIs, que possuem mais de 90% de proteína, são utilizados em dietas de pessoas com intolerância à lactose e em suplementos nutricionais para atletas, devido à sua alta pureza e digestibilidade rápida (SINGH et al., 2019).
A ultrafiltração também é usada para reduzir o teor de lactose em produtos lácteos, ampliando o mercado para consumidores intolerantes. O processo contribui ainda para a sustentabilidade da indústria, transformando o soro de leite, que era anteriormente considerado um resíduo industrial, em produtos de alto valor comercial, minimizando o impacto ambiental causado pelo descarte inadequado do soro (GALANAKIS, 2015).
8.4 NANOFILTRAÇÃO
A nanofiltração é uma técnica avançada de filtração por membrana que opera entre as escalas da ultrafiltração e da osmose reversa, com poros variando entre 0,001 a 0,01 micrômetros. Na indústria de laticínios, esse processo é amplamente utilizado para separar sais e pequenas moléculas, como a lactose, de moléculas maiores, como as proteínas e outros solutos de interesse. A nanofiltração se destaca por sua capacidade de reter solutos de baixo peso molecular, enquanto permite a passagem de solventes e íons monovalentes, o que a torna uma ferramenta eficiente no tratamento e valorização do soro de leite (MARELLA et al., 2020).
Uma das principais aplicações da nanofiltração no setor lácteo é a desmineralização do soro de leite. O soro é naturalmente rico em sais e lactose, que podem interferir na qualidade de alguns produtos alimentícios e na concentração de proteínas. Ela permite a remoção seletiva desses sais, especialmente íons divalentes como o cálcio e o magnésio, sem alterar significativamente o conteúdo proteico ou as propriedades funcionais das proteínas do soro. A desmineralização é particularmente útil na produção de fórmulas infantis, onde os níveis de minerais precisam ser cuidadosamente ajustados para atender às necessidades nutricionais dos bebês (MAUBOIS e OLLIVER, 1992). Além da desmineralização, esse processo é eficaz na concentração de lactose, um subproduto importante do processamento do soro de leite. A lactose pode ser concentrada para uso em outros produtos, como adoçantes naturais ou alimentos destinados a dietas específicas, como aquelas para intolerantes à glicose. Ao separar a lactose da fração proteica, a nanofiltração permite a criação de produtos com menor teor de lactose, ampliando o mercado de derivados do soro para consumidores que têm restrições alimentares relacionadas à lactose (MARELLA et al., 2020).
O processo de nanofiltração também pode ser utilizado como uma etapa de pré-tratamento em conjunto com a osmose reversa para a purificação de água ou a remoção de substâncias ainda menores. Devido à sua capacidade de reter moléculas de tamanhos variados, a nanofiltração tem sido explorada na recuperação e reciclagem de água dentro da própria indústria de laticínios. Isso contribui para a sustentabilidade e eficiência hídrica, uma vez que o uso excessivo de água é um dos maiores desafios ambientais enfrentados por essa indústria (GALANAKIS, 2015).
Um dos benefícios adicionais deste método é sua eficiência energética em comparação com a osmose reversa. Como a nanofiltração lida com solutos de menor tamanho e pressão, ela requer menos energia para operar, o que a torna uma solução economicamente viável para a separação de sais e moléculas pequenas em larga escala. Isso é especialmente relevante no contexto da gestão de resíduos industriais e da produção de produtos de soro de leite com valor agregado, onde a redução dos custos operacionais é um fator importante (GALANAKIS, 2015). A técnica é cada vez mais adotada para maximizar a recuperação de componentes valiosos do soro de leite, além de promover a sustentabilidade na indústria de laticínios através da recuperação de água e da redução de resíduos (MARELLA et al., 2020).
8.5 OSMOSE REVERSA
A osmose reversa (OR) é uma das tecnologias de filtração por membranas mais avançadas, amplamente utilizada para purificação e separação de soluções, especialmente na indústria de alimentos e bebidas, incluindo o setor de laticínios. Este processo utiliza uma membrana semipermeável para remover íons, moléculas de baixo peso molecular, sólidos dissolvidos e outras impurezas da água ou de soluções líquidas, aplicando uma pressão superior à pressão osmótica natural. Isso força o solvente (geralmente a água) a passar pela membrana, deixando para trás os solutos indesejados. A osmose reversa é amplamente empregada para a concentração e desmineralização de líquidos na indústria de laticínios, especialmente no tratamento do soro de leite (CHERYAN, 1998; ZEMAN & ZYDNEY, 2017).
Na indústria de laticínios, a OR é especialmente valorizada pela sua capacidade de concentrar sólidos e reduzir o volume de subprodutos líquidos, facilitando o manejo de resíduos e o reaproveitamento de componentes valiosos. Um dos usos mais comuns da osmose reversa no setor lácteo é a concentração de proteínas e sólidos no soro de leite. Esse processo pode aumentar significativamente o teor de sólidos no soro, facilitando a produção de concentrados proteicos, como WPC (Whey Protein Concentrate) e WPI (Whey Protein Isolate), sem comprometer a qualidade nutricional ou funcional do produto final (MARELLA et al., 2018).
A osmose reversa é capaz de remover até 99% dos sólidos dissolvidos, sais, matéria orgânica e outras impurezas do soro de leite, o que a torna uma ferramenta essencial no processamento e purificação de líquidos. Por exemplo, é possível reduzir a carga de lactose no soro por meio de OR, concentrando proteínas de alto valor e permitindo o desenvolvimento de produtos com baixo teor de lactose, destinados a consumidores intolerantes à lactose. Além disso, a OR é útil na desmineralização do soro de leite, removendo íons como cálcio e magnésio que podem impactar negativamente a qualidade de certos produtos alimentícios, como fórmulas infantis e suplementos nutricionais (LUO et al., 2011).
Um dos principais benefícios deste método é sua eficiência no uso da água, permitindo a reciclagem de água purificada no próprio processo industrial. Isso é especialmente importante na indústria de laticínios, onde o consumo de água é elevado. A utilização de OR pode reduzir significativamente o volume de efluentes líquidos gerados durante o processamento do leite e seus derivados, além de permitir a recuperação de água para reutilização em processos não relacionados à produção de alimentos, promovendo a sustentabilidade e a eficiência hídrica dentro das fábricas (CASSANO et al., 2019).
A durabilidade e a manutenção das membranas de osmose reversa também são pontos críticos no processo. As membranas precisam ser periodicamente limpas e substituídas para garantir o desempenho ideal e a longevidade do sistema. Produtos de limpeza especializados, como soluções alcalinas e ácidas, são utilizados para remover depósitos minerais e orgânicos que se acumulam na superfície das membranas ao longo do tempo. Apesar desses desafios, a osmose reversa continua sendo uma das tecnologias mais eficientes para a separação de sólidos dissolvidos e purificação de líquidos, com aplicações em diversas indústrias, além da laticínia, como a dessalinização de água do mar e o tratamento de águas residuais (CHERYAN, 1998).
8.6 SECAGEM POR SPRAY-DRYER
O spray-dryer é um método amplamente utilizado na indústria de laticínios para transformar soluções líquidas em pós secos. O processo envolve a atomização da solução em pequenas gotas, que são então submetidas a uma corrente de ar quente, promovendo a rápida evaporação da água e a formação de um pó seco.
Este método é altamente eficiente, preservando a qualidade nutricional e funcional do produto final, além de facilitar o armazenamento e transporte dos materiais secos (MASTERS, 2002; WALSTRA et al., 2006).
O processo de spray-drying normalmente começa com a concentração do soro através de métodos como ultrafiltração ou osmose reversa, reduzindo o teor de água antes da secagem. O soro concentrado é então pulverizado em pequenas gotas dentro da câmara de secagem, onde o ar quente evapora rapidamente a água, resultando em sólidos do soro em forma de pó (BALDWIN & TRUONG, 2007; SCHUCK et al., 2016).
Uma das principais vantagens do spray-dryer é a sua capacidade de processar grandes volumes de líquido em um curto período, mantendo um controle preciso sobre as características do produto final, como granulometria, teor de umidade residual e solubilidade. Isso é especialmente importante para produtos derivados do soro de leite, que precisam manter propriedades funcionais específicas, como capacidade de emulsificação e alto teor proteico, além de garantir a estabilidade durante o armazenamento (SCHUCK et al., 2016; MASTERS, 2002). O controle dos parâmetros do processo, como temperatura do ar de entrada e saída, taxa de pulverização e tamanho das gotas, é crucial para garantir a qualidade do pó final. Temperaturas muito altas podem degradar proteínas sensíveis, enquanto condições inadequadas de secagem podem resultar em umidade residual excessiva, comprometendo a estabilidade e a vida útil do produto (WALSTRA et al., 2006; BALDWIN & TRUONG, 2007).
8.7 DIGESTÃO ANARÓBICA E BIOGÁS
A digestão anaeróbia é um processo biológico que ocorre na ausência de oxigênio, no qual microrganismos decompõem a matéria orgânica para gerar biogás e um efluente digerido rico em nutrientes. Este método tem ganhado destaque na indústria de laticínios como uma solução sustentável para o tratamento de resíduos, especialmente os líquidos e sólidos provenientes do processamento de leite, como o soro de leite. O biogás, composto principalmente de metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂), é um recurso energético renovável que pode ser utilizado para geração de calor, eletricidade ou combustível veicular, promovendo uma economia circular na indústria (WEIALAND, 2010).
Na indústria de laticínios, a produção de biogás por digestão anaeróbia ocorre por meio do tratamento de subprodutos ricos em matéria orgânica, como o soro de leite, resíduos sólidos de queijo e outros efluentes líquidos. A matéria orgânica presente nesses resíduos, como açúcares, proteínas e gorduras, serve como substrato para a atividade microbiana. O processo de digestão ocorre em quatro fases principais: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese. Na fase final, os microrganismos metanogênicos convertem os produtos intermediários em biogás, especialmente metano, que pode ser capturado e utilizado (KAPARAJU & RINTALA, 2005).
O uso da digestão anaeróbia na indústria de laticínios oferece uma série de vantagens ambientais e econômicas. A principal vantagem é a redução da carga orgânica dos efluentes, diminuindo o impacto ambiental do descarte inadequado desses resíduos. Além disso, a geração de biogás oferece uma fonte alternativa de energia, que pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis na operação das fábricas, promovendo a autossuficiência energética (HOLM-NIELSEN et al., 2009). Estudos indicam que a digestão anaeróbia pode reduzir até 90% da demanda química de oxigênio (DQO) de efluentes lácteos, tornando-a uma tecnologia eficiente para o tratamento de resíduos (DEMIREL et al., 2005). Além da geração de biogás, o efluente residual da digestão anaeróbia, conhecido como digestato, é rico em nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, podendo ser utilizado como fertilizante orgânico em atividades agrícolas. Isso contribui para o fechamento de ciclos de nutrientes, tornando o processo ainda mais sustentável (MATA-ALVAREZ et al., 2014). O digestato também pode ser desidratado ou tratado para melhorar suas propriedades como fertilizante, sendo uma alternativa viável ao uso de fertilizantes sintéticos, que têm um alto custo ambiental.
O biogás gerado pode ser purificado, removendo impurezas como sulfeto de hidrogênio (H₂S) e dióxido de carbono, para ser convertido em biometano de alta qualidade. Este biometano pode ser injetado em redes de gás natural ou utilizado como combustível para veículos, oferecendo uma solução de energia renovável para diversos setores, inclusive no próprio transporte da indústria de laticínios (LESTEUR et al., 2010). A aplicação da digestão anaeróbia e do biogás na indústria de laticínios está alinhada com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas, especialmente no que diz respeito ao uso responsável de recursos e à promoção de energia limpa e acessível. Com o aumento das regulamentações ambientais e a necessidade de soluções mais ecológicas, a digestão anaeróbia continua sendo uma tecnologia promissora para a gestão de resíduos industriais e a produção de energia renovável (APPELS et al., 2008).
9 CONCLUSÃO
A gestão sustentável do soro de leite representa um desafio significativo, mas também uma oportunidade promissora para a indústria de laticínios. O tratamento e reaproveitamento eficaz desse subproduto podem não apenas reduzir os custos operacionais e minimizar o impacto ambiental, mas também gerar novos produtos e aplicações de valor agregado.
Os desafios atuais, como o custo elevado dos processos de tratamento e a conformidade com regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas, exigem inovação constante e o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes. A busca por soluções que combinem eficiência com custos reduzidos continua a ser uma prioridade, e tecnologias emergentes estão se destacando como potenciais alternativas para melhorar o reaproveitamento do soro. Por outro lado, as perspectivas futuras oferecem um cenário de oportunidades. A integração de tecnologias avançadas e a adoção do conceito de economia circular prometem transformar o soro de leite em recursos valiosos, como biocombustíveis e fertilizantes, além de produtos alimentares e suplementos. A educação e capacitação contínua dos profissionais da indústria também são cruciais para a implementação eficaz dessas inovações e para a promoção de práticas sustentáveis
Além disso, a colaboração entre diferentes setores, incluindo empresas, instituições de pesquisa e órgãos governamentais, pode acelerar o progresso e promover soluções mais eficazes. A troca de conhecimentos e a criação de parcerias estratégicas são essenciais para enfrentar os desafios e explorar novas oportunidades. Em suma, a gestão sustentável do soro de leite não é apenas uma necessidade para atender às demandas ambientais e regulatórias, mas também uma oportunidade para inovar e criar valor econômico. Com a contínua evolução das tecnologias e a adoção de práticas sustentáveis, a indústria de laticínios pode transformar desafios em vantagens competitivas, contribuindo para um futuro mais sustentável e eficiente.
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