GESTÃO EMPRESARIAL EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE APICULTURA E MELIPONICULTURA DO VALE DO RIBEIRA-SP

BUSINESS MANAGEMENT IN MICRO AND SMALL BEEKEEPING AND MELIPONICULTURE COMPANIES IN THE VALLEY OF RIBEIRA-SP

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506300946


Lucas Cárnio Nogueira
Orientadora: Dra. Dâmaris Sulzbach Santos Hansel


RESUMO

O objetivo deste artigo foi diagnosticar e analisar a maturidade da gestão empresarial de micro e pequenas empresas rurais que atuam com apicultura e meliponicultura no Vale do RibeiraSP. A pesquisa teve abordagem quantitativa-descritiva e foi realizada por meio da aplicação de um questionário com 46 questões a 33 produtores da região. As perguntas abrangeram aspectos da gestão empresarial e da cadeia produtiva da apicultura, permitindo a análise do nível de profissionalização do setor. Os resultados mostraram que a sustentabilidade é a área mais desenvolvida entre os apicultores, refletindo o compromisso com a preservação ambiental. Houve pouca maturidade nas áreas de gestão financeira, planejamento estratégico, marketing e inovação. A comercialização dos produtos ocorre predominantemente de maneira informal, e a falta de ferramentas de gestão impacta a competitividade e a rentabilidade do setor. Apesar disso, a pesquisa revelou um potencial para aprimoramento, considerando o nível educacional dos produtores e o interesse na capacitação. 

Palavras-chave: Agronegócio; Apicultura; Gestão Empresarial; Meliponicultura; Vale do Ribeira.

ABSTRACT

The aim of this article was to diagnose and analyze the maturity of the business management of micro and small rural companies involved in beekeeping and meliponiculture in Vale do Ribeira-SP. The research had a quantitative-descriptive approach and was carried out by applying a questionnaire with 46 questions to 33 producers in the region. The questions covered aspects of business management and the beekeeping production chain, allowing an analysis of the level of professionalization in the sector. The results showed that sustainability is the most developed area among beekeepers, reflecting their commitment to environmental preservation. There was little maturity in the areas of financial management, strategic planning, marketing and innovation. Products are predominantly sold informally, and the lack of management tools has an impact on the sector’s competitiveness and profitability. Despite this, the survey revealed potential for improvement, considering the educational level of the producers and their interest in training. 

Keywords: Agribusiness; Beekeeping; Business Management; Meliponiculture; Vale do Ribeira.

1. INTRODUÇÃO

A produção de mel no Brasil atingiu recordes históricos em 2022, com um valor de vendas de R$ 957.811 mil e uma produção total de 60.966.305 quilogramas de mel (IBGE, 2023), registrando um crescimento de 9,5% em relação ao ano anterior (Vidal, 2024). Esse crescimento reflete o potencial do Brasil como um dos maiores produtores de mel orgânico do mundo, impulsionado pelo aumento do consumo de produtos naturais e saudáveis devido à crescente conscientização sobre saúde e sustentabilidade. Apesar desse potencial, o mercado interno brasileiro de consumo de mel ainda é pequeno, com uma média de apenas 60 gramas por pessoa por ano, muito abaixo de países como a Alemanha, onde o consumo supera 1 kg por pessoa anualmente (Nichele, 2022).

A apicultura brasileira ocupa a décima primeira posição entre os maiores produtores de mel do mundo, com condições para ascender aos primeiros lugares (Vidal, 2024). A diversidade da flora, as variações climáticas e a vasta extensão territorial permitem a produção de mel em todo o país durante o ano inteiro (Tomazini; Grossi, 2019). Essa oportunidade de produção e comercialização, somada à simplicidade da atividade apícola, torna a apicultura uma alternativa atraente para muitos produtores rurais. Embora o payback da atividade seja moderadamente alto, ele é compensado pelo tempo de amortização dos investimentos iniciais (Sabbag; Nicodemo, 2011).

Além de sua viabilidade econômica, a apicultura é uma atividade especial por atender às exigências da sustentabilidade, integrando aspectos econômicos, ecológicos e sociais. As abelhas, fundamentais para a polinização, necessitam de vegetação ativa, o que promove a preservação ambiental (Borlachenco et al., 2017). Ademais, a apicultura é uma das poucas atividades econômicas permitidas em Áreas de Preservação Ambiental (APA) e de Reserva Legal (RL), o que possibilita gerar renda para pequenos produtores, contribuir para a manutenção da flora nativa regional (Bendini, 2010) e recuperar áreas degradadas (Borlachenco et al., 2017).

O Vale do Ribeira, situado na maior faixa contínua de Mata Atlântica do Brasil, destacase por sua rica biodiversidade e pela produção de floradas silvestres com características únicas e sustentáveis (Oliveira et al., 2022). Essa região, com importante presença no agronegócio paulista, tem potencial para alavancar a apicultura como uma alternativa sustentável, capaz de fortalecer a preservação da biodiversidade e acelerar os processos de recomposição florestal (Quilombos do Ribeira, 2011). O plano de economia criativa “Dá Gosto Ser do Ribeira”, desenvolvido pela Garimpo de Soluções em parceria com o Sebrae-SP, com a iniciativa “Da floresta à mesa”, tem incentivado a produção agroecológica e promoveu a integração entre produção e preservação ambiental na região (Fonseca; Castañé; Peruchi, 2020).

O mercado interno de mel no Brasil apresenta um potencial de expansão significativo, impulsionado pela mudança no comportamento dos consumidores, que buscam alimentos mais saudáveis (Vidal, 2024). Apesar das condições favoráveis e das vantagens competitivas, esse mercado ainda é pouco explorado. Para que os produtores rurais possam aproveitar essa oportunidade, é fundamental que se profissionalizem em gestão, incluindo estratégias de marketing, vendas online, e valorização dos produtos por meio da sustentabilidade e tecnologia (Nichele, 2022). Contudo, muitos produtores rurais ainda tomam decisões baseadas na intuição, sem realizar análises técnicas ou controlar seus custos de produção (Salume; Silva; Christo, 2015).

A acirrada competitividade global, os custos elevados de produção e o aumento das exigências do mercado consumidor reforçam a necessidade de aprimoramento da gestão empresarial dos pequenos produtores. Em um contexto onde não há espaço para erros, essas melhorias são essenciais para a viabilidade econômica do setor. Além disso, o potencial de expansão do mercado nacional e internacional de mel e seus subprodutos, aliado às características únicas do bioma da Mata Atlântica no Vale do Ribeira, ressalta a importância de estudos focados na gestão empresarial da apicultura e meliponicultura da região.

Diante desse cenário, o objetivo deste artigo é diagnosticar e analisar a maturidade da gestão empresarial de micro e pequenas empresas rurais que trabalham com apicultura e meliponicultura no Vale do Ribeira-SP. A partir desse diagnóstico, são propostas sugestões e ações para melhorar a produção, aumentar a lucratividade e promover o desenvolvimento da apicultura na região.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Gestão Empresarial Rural

Em um mercado cada vez mais competitivo, a administração rural é essencial para garantir a sustentabilidade da produção, otimizar recursos e facilitar a tomada de decisões (Torres; Passos; Freitas, 2020). O ambiente no qual a propriedade rural está inserido exige uma gestão que esteja em linha com as constantes mudanças do mercado. Algumas das mudanças podem ser por fatores como as novas tecnologias que são desenvolvidas e precisam ser adotadas pela propriedade rural, sejam novas máquinas e equipamentos ou novas formas de produção ou de comercialização. Portanto, se faz necessário desenvolver as competências gerenciais para a gestão de propriedades rurais (Comin et al., 2017).

A gestão no contexto rural ocorre pela interação dos fatores de produção, que estão diretamente relacionados ao conceito de atividade administrativa empresarial: capital, insumos, tecnologia e mão de obra. Portanto, para que a administração desses fatores seja eficiente na propriedade rural, é essencial que as funções básicas da administração – planejamento, organização, direção e controle – sejam cuidadosamente desenvolvidas e executadas pelo produtor, garantindo, assim, o sucesso nos resultados almejados (Salume; Silva; Christo, 2015).

As pesquisas realizadas sobre a gestão em propriedades rurais familiares mostraram que existe tanto a continuidade de práticas tradicionais, quanto a introdução de novas ferramentas de gestão. Salume, Silva e Christo (2015) encontraram algumas práticas de gestão, executadas com base em conhecimentos empíricos transmitidos por gerações anteriores. Em sua pesquisa com produtores rurais de Alegre/ES, constataram a falta de um planejamento e execução de atividades por áreas funcionais, principalmente nas áreas de Finanças, Produção e Marketing. As principais lacunas foram a falta de controle adequado em Finanças, nenhum planejamento na Produção, necessidade de melhorias na carteira de clientes e falta de controle na área de Marketing e Comercial (Salume; Silva; Christo, 2015). Além disso, devido a mão de obra familiar ser predominante, a contratação de trabalhadores externos era rara, não identificando a necessidade de gestão de Recursos Humanos.

Já, Silva, Rech e Rech (2010) encontraram algum tipo de controle nas áreas de Produção, Finanças e Vendas, mas não eram feitos registros sobre os indicadores da gestão, o que impossibilitava as comparações entre períodos, como produções de safras de um ano para outro. Por outro lado, Torres, Passos e Freitas (2020) contataram que não é comum a adoção de ferramentas de gestão e Silveira (2022) identificou a falta de uma gestão adequada, especialmente na área contábil.

A pesquisa de Gräf (2016) examinou a autonomia na tomada de decisões dos sucessores na gestão de propriedades rurais familiares no Vale do Taquari/RS, utilizando um conjunto de ferramentas trabalhadas em cursos de formação gerencial. Gräf (2016) observou que o grau de escolaridade e formação técnica dos jovens influenciou no desenvolvimento e gerenciamento das propriedades. Os jovens com maior escolaridade possuíam mais conhecimentos e técnicas, facilitando o gerenciamento das propriedades (Gräf, 2016). Ademais, em propriedades onde os antecessores já possuíam algum controle, os sucessores deram continuidade ao desenvolvimento e à adoção de tecnologias, mantendo as propriedades em um patamar avançado de gestão.

Essas constatações são reforçadas pelos resultados da pesquisa de Wolfardt (2017), realizada em Três Passos/RS, que buscou identificar indícios de planejamento e de registros formais para o controle das operações, com foco na gestão financeira. Os resultados mostraram uma predominância de controles informais, como registros em cadernos, sem o uso de fluxo de caixa, o que caracteriza uma gestão financeira menos eficaz (Wolfardt, 2017). Por outro lado, Gräf (2016) identificou que a adoção de indicadores gerenciais e sistemas informatizados resultou em uma melhor tomada de decisões por parte dos jovens agricultores.

Por fim, tanto Gräf (2016) quanto Salume, Silva e Christo (2015) investigaram a divisão das tarefas de gestão nas áreas administrativas principais: Produção, Marketing, Finanças e Recursos Humanos. Enquanto Gräf (2016) identificou que a gestão é comumente dividida entre os membros da família, com cada um responsável por uma área específica, as decisões mais importantes são tomadas em conjunto, Salume, Silva e Christo (2015) notaram que essa divisão de tarefas não acontece de forma estruturada nas propriedades estudadas, resultando em uma gestão menos eficiente.

Diante desses resultados, destaca-se a necessidade da aplicação correta de ferramentas de gestão, incluindo o uso de softwares para acompanhamento e controle, visando à eficácia na gestão das propriedades rurais familiares. A utilização de ferramentas de gestão, com uso de indicadores auxiliam o gestor rural a tomar as melhores decisões administrativas. O mercado competitivo exige que o produtor se atualize constantemente, adquirindo novos conhecimentos e experiências, tanto em gestão quanto em técnicas de produção e manejo.

Por sua vez, a função do gerenciamento de pessoas, de forma integrada, colabora para alcançar os objetivos da propriedade rural, pois ainda que sejam familiares, ou prestadores de serviço contratados, o melhor desempenho dessas pessoas trará melhorias para a propriedade. Deve ser considerado o treinamento e desenvolvimento constante das competências de pessoal, dentro do novo contexto de mercado, em que as mudanças são constantes (Comin et al., 2017). Por isso, os gestores do agronegócio precisam motivar e encorajar o desenvolvimento constante de sua equipe para garantir e manter os resultados.

Nos últimos anos, a produção agropecuária tem se transformado significativamente, exigindo que o tomador de decisão seja cada vez mais profissional, com uma visão de gestão que permita planejar e recalcular rotas para aumentar o faturamento (Santos; Pinto, 2018). Nesse contexto, o planejamento estratégico torna-se fundamental, pois permite ao produtor rural e sua equipe saberem exatamente o que fazer para alcançar as metas propostas, reduzindo o risco de erros.

Além do planejamento, a inovação é outro fator importante para que uma propriedade rural se mantenha competitiva no mercado. Inovar nos processos e nas estratégias é essencial para criar valor dentro da cadeia de produção e para o cliente final (Santos; Araujo, 2017). Para que isso ocorra, a propriedade rural deve buscar a integração de tecnologias inovadoras, com a capacitação técnica para alcançar melhor desempenho em suas atividades.

Outro fator a considerar no panorama atual de mercado é a sustentabilidade, cada vez mais valorizada pelos consumidores. Os produtos e serviços de empresas que seguem práticas sustentáveis tem maior vantagem competitiva, enquanto aqueles que não se importam com essas questões correm o risco de extinção (Almeida; Arend; Engel, 2018). Por isso, o desenvolvimento rural sustentável não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para a sobrevivência e sucesso no agronegócio.

2.2 Gestão Técnica 

A produção apícola no Vale do Ribeira é amplamente influenciada pela flora da Mata Atlântica, que oferece uma diversidade de árvores em floração ao longo do ano. No entanto, a maior concentração de recursos para a safra de mel ocorre entre setembro e dezembro, enquanto a entressafra, de fevereiro a junho, é marcada por uma diminuição na quantidade de árvores floridas. Durante esse período, os apicultores precisam realizar a manutenção das colônias de abelhas e fornecer alimentação artificial para manter os enxames fortes, preparando-os para o início da safra (Oliveira et al., 2022).

O manejo adequado durante a entressafra é essencial para manter os enxames bem nutridos e numerosos, garantindo que estejam prontos para aproveitar a safra desde os primeiros dias. Alguns produtores negligenciam essa prática, deixando os enxames fracos, o que resulta em perda de produção nas primeiras semanas da safra, pois os enxames utilizam esse tempo para se reestabelecerem (Dib, 2009). Além disso, é importante garantir o espaço adequado nas colmeias e realizar a limpeza, a troca periódica da cera e a substituição regular da rainha, fatores que contribuem para a manutenção de enxames fortes e produtivos (Adgaba et al., 2017).

A pastagem apícola, planejada adequadamente, é outro fator determinante para a alta produtividade e qualidade do mel. Os apicultores podem selecionar plantações e formações de flora dentro de um raio de três a cinco quilômetros do apiário, o que pode fazer uma diferença significativa na produção em larga escala. A escolha de plantas para a formação de pastagem apícola deve levar em conta a quantidade e qualidade do néctar produzido, bem como fatores bióticos e abióticos, como a temperatura ideal para cada espécie (Adgaba et al., 2017).

Os apicultores que desejam produzir mel com características exclusivas da Mata Atlântica podem cultivar espécies nativas específicas, aumentando a disponibilidade de pastagem apícola e, consequentemente, a produção de mel com características distintas, como cor, sabor e aroma. Segundo Oliveira et al. (2022), a Mata Atlântica abriga 40 espécies vegetais que fornecem néctar para a produção de mel, e a flora natural do Vale do Ribeira pode ser aproveitada para aumentar a produtividade de mel na região.

A produtividade anual no Vale do Ribeira pode ser afetada por condições climáticas específicas da região, como excesso de chuvas ou variações extremas de temperatura. Por isso, o monitoramento e o manejo adequado de cada colmeia são fundamentais para uma produção eficiente. Além disso, a abundância de água limpa na região, garantida por rios, lagos e uma distribuição regular de chuvas, são essenciais para a alta produtividade apícola (Oliveira et al., 2022).

Outro aspecto importante para aumentar a produção é o melhoramento genético dos enxames. A troca periódica das rainhas, a produção de zangões e o monitoramento da produção são práticas que devem ser realizadas regularmente para manter o apiário com enxames fortes e produtivos (Martinez; Soares, 2012). O manejo correto dos espaços internos nas colmeias, como o monitoramento da quantidade certa de melgueiras para a colmeia, também é essencial para maximizar a produtividade sem comprometer a saúde do enxame (Kadri et al., 2022).

A criação e o desenvolvimento de associações de apicultores são estratégias importantes para fortalecer a apicultura local. Essas associações facilitam a comunicação entre os associados, promovem a troca de conhecimentos e colaboram para aprimorar a comercialização do mel. A Associação dos Apicultores do Vale do Ribeira (APIVALE), por exemplo, foi fundada em 2002 e está em fase final de obtenção do Serviço de Inspeção do Estado de São Paulo (SISP), o que permitirá um maior escoamento dos produtos.

A diversificação dos produtos apícolas pode ser uma alternativa viável para aumentar o faturamento dos produtores. A captura de pólen, por exemplo, pode reduzir a produção de mel, mas aumentar a receita, dada a sua precificação no mercado consumidor. Contudo, o mercado de pólen tende a se estabilizar mais rapidamente do que o de mel, dependendo da oferta disponível (Hoover; Ovinge, 2018).

Assim, um estudo sobre o mel produzido no Vale do Ribeira, semelhante ao realizado por Bendini (2010) no Vale do Paraíba, pode revelar as características únicas do mel dessa região, que está inserida na maior faixa contínua de Mata Atlântica do Brasil. As condições ambientais diferenciadas do bioma podem conferir ao mel propriedades físico-químicas exclusivas, com potencial terapêutico e antioxidante. Essas características únicas podem valorizar o produto, diferenciando-o no mercado e possibilitando sua comercialização em novos locais, incluindo a exportação, além de permitir um aumento no preço.

3. METODOLOGIA

A pesquisa teve abordagem quantitativa-descritiva e a coleta de dados por meio de um questionário composto por 46 questões ao total (20 questões sobre Gestão Empresarial Rural e 26 questões sobre a Área Técnica e a Cadeia Produtiva da Apicultura). Os questionários foram  enviados para 33 produtores rurais de apicultura e meliponicultora do Vale do Ribeira, SP. 

As 20 questões sobre Gestão Empresarial Rural foram adaptadas de um diagnóstico de gestão de pequenas empresas de agronegócio do Sebrae-PR, denominado “Autodiagnóstico Agro PR” (SEBRAE, [s.d.]). Foram adaptadas e selecionadas 3 questões para cada área de Gestão Empresarial: Estratégia, Finanças, Processos, Marketing, Inovação e Sustentabilidade, exceto a área de Gestão de Pessoas, que constou de 2 questões.

Cada questão tinha 4 alternativas de respostas, relacionadas ao grau de maturidade da Gestão Empresarial da propriedade rural do respondente, às quais foram atribuídas as seguintes notas: 100 (caso a área de Gestão Empresarial fosse aplicada com sucesso); 66 (quando a área estivesse incompleta ou parcialmente aplicada); 33 (quando a área estivesse no início da implantação); e 0 (quando a área não existisse na empresa rural). Para obtenção dos resultados, foi calculada a média das notas referentes às questões de cada área de Gestão Empresarial.

As 26 questões sobre Técnicas de Manejo e Cadeia Produtiva da Apicultura foram elaboradas a partir de sugestões de consultores técnicos de manejo na apicultura, de apicultores da Associação dos Apicultores do Vale do Ribeira e de colaboradores do laboratório de Produtos Naturais PRONATU.

Os dados foram tabulados com estatística descritiva e apresentados em gráficos e tabelas, conforme a seguir.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os produtores pesquisados estão distribuídos em 11 municípios do Vale do Ribeira-SP, conforme mostrado na Figura 1. A maior concentração encontra-se em Sete Barras, com 6 produtores, seguida por Juquiá, com 5, Iguape e Registro possuem 4 produtores cada, enquanto Cajati, Juquitiba, Pariquera-Açu e Pedro de Toledo contam com 2 cada um. Além disso, há 1 produtor em Eldorado, 1 em Iporanga e 1 em Jacupiranga e também foram identificados 2 produtores em outros municípios dentro do Vale do Ribeira e 1 em um município fora da região. Ainda ressalta-se que a maior parte dos respondentes é de associados da Associação dos Apicultores do Vale do Ribeira (APIVALE).

Figura 1 – Distribuição dos apicultores/meliponicultores pesquisados, por município

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

A partir do mapa acima, pode-se perceber que os produtores pesquisados possuem uma certa concentração geográfica, sendo que essa proximidade pode favorecer a organização da cadeia produtiva da apicultura com a realização de um trabalho coletivo entre os produtores da região, aumentando a competitividade dos envolvidos. Conforme Bendini (2010), a formação de bolsões de apiários não interfere na produtividade apícola, porém facilita a prática do associativismo e cooperativismo, principalmente para compra de insumos para efetuar o manejo apícola, logística, e processamento dos produtos apícolas.

A atividade de meliponicultura está presente em 12,1% da amostra desta pesquisa, enquanto a apicultura corresponde a 87,9%. Embora as abelhas com ferrão predominem nos apiários, a criação de espécies sem ferrão, nativas da região, já é uma realidade. A principal florada explorada pelos produtores é a silvestre (87,9%), seguida pelo eucalipto (12,1%) e pela laranjeira (3%). Outras floradas compõem 18,2%, ressaltando que o mel é sempre resultado de uma composição floral, ainda que uma espécie possa ser mais predominante. A predominância da florada silvestre está relacionada à extensa cobertura da Mata Atlântica preservada na região, abrangendo propriedades rurais, parques estaduais e áreas de preservação permanente no Vale do Ribeira.

Cerca de 54% dos pesquisados possuem CNPJ rural ativo e, quanto à escolaridade, 51,5% dos apicultores do Vale do Ribeira têm, no mínimo, ensino superior completo, enquanto no estudo de Dib (2009), apenas 10% dos apicultores do Vale do Paraíba possuíam essa formação. No Vale do Ribeira, 39,4% têm até o ensino médio e 9,1% até o fundamental, enquanto no Vale do Paraíba esses percentuais foram de 70% e 20%, respectivamente. Portanto, os dados indicam que os apicultores do Vale do Ribeira possuem, em média, maior nível de escolaridade.

Quanto à formação profissional, dos 33 pesquisados, 25 responderam a essa questão, sendo 60% da área de Humanas, 32% de Exatas e 8% de Biológicas. Esse perfil sugere que a maioria não tem formação específica em Biológicas, o que pode indicar transição de carreira. Há, portanto, espaço para aprimoramento técnico por meio de especializações na área apícola.

Além disso, a apicultura no Vale do Ribeira é considerada pelos produtores rurais e também empresários urbanos como uma segunda fonte de renda. São poucos os produtores que possuem a apicultura como principal fonte de receita da família. Na maior parte dos casos, o produtor possui outra produção (normalmente banana, palmito pupunha ou produção de leite de bubalinos) seguido pela apicultura. Há ainda os aposentados e aqueles que possuem outros negócios, ou são funcionários CLT, os quais tem a produção de mel como segunda ocupação.

Comparando o tempo de atuação na apicultura, 60% dos apicultores do Vale do Paraíba pesquisados por Dib (2009) tinham mais de 6 anos de experiência, enquanto no Vale do Ribeira esse percentual é de 27,3%. Isso sugere que a apicultura na região ainda é relativamente recente para a maioria dos produtores. Além da apicultura, 50% dos apicultores do Vale do Paraíba possuem outras atividades rurais, como agricultura e pecuária (Dib, 2009). Já, no Vale do Ribeira, esse percentual é de 33,3%, e apenas 6,1% vivem exclusivamente da apicultura. Outros 18,2% a consideram um hobby, enquanto 42,4% têm outras profissões ou fontes de renda externas. A limitação na comercialização do mel na região, onde há poucas agroindústrias formalizadas e apenas a PRONATU com serviço de inspeção regularizado, faz com que a atividade seja mais uma complementação de renda do que a principal fonte de sustento.

A maior parte dos produtores (90,9%) fatura até R$ 81 mil por ano, enquanto 6,1% têm receita entre R$ 81 mil e R$ 360 mil, e apenas 3% ultrapassam esse valor, chegando a R$ 4,8 milhões anuais. Isso demonstra que o segmento é majoritariamente composto por micro e pequenos produtores, sendo que para 97% deles a produção principal é de mel, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Variedades de produtos apícolas produzidos no Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Conforme visto no gráfico acima, embora haja certa diversificação na oferta de produtos na região pesquisada, ainda existe um potencial significativo a ser explorado. Entre os produtos com crescente demanda, destaca-se o pólen apícola, que vem ganhando espaço no mercado nacional e internacional como suplemento alimentar para humanos e animais. No entanto, apesar desse potencial, poucos produtores investem na produção e no aprimoramento da produtividade do pólen (Mattos; Souza; Soares, 2016).

Já, a figura 3 mostra as formas de comercialização dos produtos apícolas da região pesquisada, com destaque para as vendas diretas ao consumidor, realizadas de porta em porta. Uma possível explicação para essa predominância é o fato de que a associação dos produtores de mel da região (APIVALE) ainda está em processo de obtenção do SISP, como mencionado na seção 2.2 deste artigo. A regularização permitirá a comercialização formal dos produtos em outros mercados, mas até lá, grande parte das vendas segue ocorrendo de maneira informal.

Figura 3 – Formas de comercialização dos produtos apícolas no Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Em relação à mão de obra, 36,4% dos produtores trabalham sozinhos, enquanto 42,4% contam com até dois colaboradores ou familiares. Outros 18,2% empregam entre dois e cinco trabalhadores, e apenas 3% têm entre cinco e dez funcionários. No total, 63,6% das propriedades operam com pelo menos duas pessoas, destacando a importância da gestão de recursos humanos no meio rural.

No que diz respeito à regularização, 66,7% dos apicultores possuem cadastro no GEDAVE (Gestão de Defesa Animal e Vegetal), demonstrando preocupação com o acompanhamento agropecuário. No entanto, apenas 18,2% estão cadastrados no GEFAU (Sistema Integrado de Gestão da Fauna Silvestre de São Paulo), o que indica um desconhecimento sobre a relevância desse sistema para a conservação da fauna local.

O cadastro no IBAMA é obrigatório para quem possui mais de 49 colônias nativas, mas apenas 12,1% dos entrevistados estão registrados, enquanto 87,9% não possuem essa inscrição. Isso sugere que a maioria dos produtores tem menos de 49 colônias nativas ou trabalha com colônias não nativas.

As propriedades rurais analisadas na pesquisa apresentam uma relação ambiental superior ao mínimo exigido pela legislação (20% de reserva legal), pois quase metade dos apicultores (15) possui até 80% de suas propriedades com área de preservação da Mata Atlântica, enquanto 6 apicultores têm até 60%, 8 têm até 40% e 4 até 20% da área preservada. Esse cenário demonstra que há uma preocupação com a preservação ambiental na região, o que fortalece a ideia de um mel sustentável, originado de práticas que preservam a floresta.

Em relação às práticas sustentáveis, 27,3% dos apicultores buscam constantemente aprender e implementar rotinas para tornar suas propriedades mais sustentáveis, enquanto 27,3% adotaram algumas práticas, mas ainda necessitam de mais informações para alcançar 100% de sustentabilidade. A maior parte (36,4%) começou a incorporar cuidados ambientais, mas de forma ainda incipiente e sem estruturação consistente, e apenas 9,1% não adotaram nenhuma prática relacionada à sustentabilidade. Apesar disso, a apicultura não causa impactos ambientais significativos e contribui positivamente para a polinização da fauna local.

Um dos principais fatores de sucesso para um apicultor é a utilização de ferramentas de gestão eficazes (Djurabaev; Rashidov, 2021). Para se obter os resultados como um todo, em relação à gestão empresarial rural nas propriedades pesquisadas, foi calculada a média das notas de cada área de gestão, para fins comparativos, conforme mostrado na tabela 1.

Tabela 1 – Média das notas das áreas de gestão empresarial

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Nota-se que a sustentabilidade é o aspecto mais desenvolvido entre os apicultores, o que é importante devido ao contexto regional do Vale do Ribeira e as áreas de proteção ambiental da Mata Atlântica no Brasil. Por outro lado, o marketing teve a menor pontuação, o que indica a necessidade de maior capacitação nesta área, assim como para a gestão de pessoas e de processos.

Já em termos de estratégia, foi perguntado sobre a definição de metas nas propriedades rurais dos apicultores do Vale do Ribeira e, conforme mostrado na figura 4, o cenário é equilibrado, pois quase metade dos produtores estabelece metas, enquanto a outra metade não adota essa prática.

Figura 4 – Metas nas propriedades rurais dos apicultores do Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Para o bom funcionamento de uma propriedade rural, é importante destacar a necessidade de um planejamento estratégico e de se observar que todas as áreas de gestão estão interligadas (Lopes et al., 2012). Algumas das decisões estratégicas são relacionadas a fatores internos, como aqueles ligados aos recursos humanos, ao planejamento da produção e a disponibilidade de recursos financeiros, que podem ser controlados pelos gestores por meio de ferramentas de gestão. Entretanto, estes planos devem levar em conta outros recursos disponíveis como a quantidade de terra, a estrutura física, equipamentos, etc. Quanto mais o gestor tiver conhecimentos sobre a estrutura necessária para o funcionamento de sua propriedade e dos fatores de produção, maiores serão suas possibilidades de gerir bem seu negócio e de aumentar seus resultados econômicos (Lopes et al., 2012).

Quanto ao planejamento estratégico, embora muitos produtores realizem algum nível de planejamento, para 40% este costuma ser pouco detalhado e sem monitoramento efetivo das ações planejadas, enquanto 30% fazem o planejamento detalhado, mas tem dificuldades de monitorar e apenas 9% possuem tanto os planos como o monitoramento definidos, conforme mostrado na figura 5. Destaca-se ainda que 21% dos pesquisados “trabalha com o instinto”, sem planos definidos, apesar de seu caráter indispensável (Torres; Passos; Freitas, 2020).

Figura 5 – Planejamento estratégico nas propriedades rurais do Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Quanto à implementação de planos de ação para alcançar metas estabelecidas, Torres,  Passos e Freitas (2020) reforçam seu caráter elementar para ajudar a reduzir riscos e erros, possibilitando o produtor se antecipar frente a futuros possíveis problemas, e monitorar para garantir que o seu planejado seja realizado, e suas metas concluídas com êxito.

Entretanto, a pesquisa constatou que 18,2% dos produtores não possuem nenhum plano estruturado, mas cerca de 30% compreendem a importância dessa ferramenta, apesar de não

terem conhecimento suficiente para sua aplicação. Aproximadamente 33,3% adotam o planejamento apenas em situações específicas, sem perceber o impacto positivo que poderia gerar em sua rotina e resultados e apenas 18,2% dos pesquisados estimulam e praticam o planejamento de forma consistente, capacitando seus gestores para um uso eficiente da ferramenta.

Na dimensão financeira, a figura 6 mostra que 66,7% dos apicultores realizam algum tipo de controle financeiro, utilizando cadernos, planilhas, softwares ou aplicativos, enquanto 30,3% não adotam qualquer forma de controle, e apenas 3% utilizam um sistema integrado para a gestão financeira, baseando suas decisões em dados confiáveis.

Figura 6 – Controles financeiros realizados pelos apicultores do Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Comparando com os resultados de pesquisas anteriores, percebe-se ainda há carência de práticas adequadas na área de Finanças, principalmente de um controle adequado, como contatado por Salume, Silva e Christo (2015). A ausência de controles financeiros deixa o produtor vulnerável à intuição e decisões pouco fundamentadas, aumentando sua exposição a riscos financeiros. Além disso, a organização e mensuração de custos são essenciais para uma gestão estratégica eficiente (Sabbag; Nicodemo, 2011), bem como para a definição dos preços de venda, fator que também apresenta desafios na amostra pesquisada.

Em 24,2% das propriedades, os preços não são definidos de maneira estruturada. Para 54,5%, os valores são baseados nos preços praticados pelos concorrentes ou definidos de forma intuitiva. Em 18,2% dos casos, há um cálculo técnico que considera todos os custos, além de uma margem de lucro adequada à concorrência e à estratégia de mercado. Apenas 3% dos produtores adotam uma abordagem mais estratégica, levando em conta fatores como sazonalidade, nível de estoque e necessidade de geração de caixa. A correta precificação é essencial para garantir a sustentabilidade financeira da propriedade, permitindo que o produtor determine valores mínimos, médios e máximos para otimizar vendas e garantir rentabilidade (Nichele, 2022).

Outro ponto crítico identificado na pesquisa, foi sobre a apuração de resultados, visto que a maioria dos produtores (57,6%) não realiza essa análise de forma estruturada, considerando a propriedade lucrativa apenas quando conseguem pagar as contas e expandir o negócio. Em 18,2% dos casos, os resultados são conhecidos por meio da contabilidade, utilizada apenas em momentos de dificuldade. Outros 15,2% dos produtores fazem análises eventuais dos resultados, enquanto apenas 9,1% realizam avaliações periódicas e adotam estratégias para melhorar continuamente a lucratividade, como a venda de itens com maior margem de contribuição e a promoção de vendas combinadas.

O marketing e a divulgação são fundamentais para fortalecer a marca de uma microempresa no mercado onde ela está inserida, bem como agregar valor aos produtos e aumentar as vendas, por meio de estratégias (Nichele, 2022). No entanto, a maioria dos produtores não possui estratégias de comunicação para divulgar seus produtos e serviços, conforme demonstrado na figura 7, que apresenta quais as ações de marketing são praticadas pelos produtores pesquisados.

Figura 7 – Divulgação e marketing dos produtos apícolas produzidos no Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

No que se refere à construção da marca, 57,6% dos produtores informaram que não possuem uma identidade visual ou conceitual definida, enquanto 33,3% desenvolvem uma marca com identidade visual alinhada ao seu modelo de negócio e 6,1% dos produtores utilizam estratégias interligadas para reforçar sua marca e inovar continuamente. Por outro lado, apenas 3% possuem branding desenvolvido e ativo, pois definiram um discurso de marca e um manifesto que norteia as atividades e a comunicação, integrado às características da sua personalidade de marca e ao storytelling (narrativa).

Portanto, destaca-se que é importante a capacitação dos produtores para a elaboração das estratégias de marketing e divulgação de seus produtos, visto esta ser uma das carências detectadas nesta pesquisa. A partir desta capacitação, poderão agregar valor aos seus produtos e obter o reconhecimento de suas marcas, aumentando a competitividade do mel e derivados produzidos na região.

Para haver melhorias nas ações de marketing da região, se faz necessário segmentar os clientes, a partir de um melhor entendimento do público-alvo, visto que 39,4% dos produtores desconhecem seu público, enquanto outros 39,4% segmentam empiricamente, com base na experiência e percepção do proprietário. Apenas 18,2% estruturam a segmentação com personas e público-alvo bem definidos. Um dos produtores analisados estabeleceu um posicionamento estratégico com base em seus diferenciais e na análise do ambiente, alinhando sua segmentação de mercado ao desenvolvimento de personas e à definição do público-alvo.

No contexto dos apicultores pesquisados, a segmentação pode ser aplicada para identificar diferentes perfis de consumidores, como varejistas, consumidores finais, mercados especializados (orgânicos, naturais, gourmet) e empresas que utilizam mel como insumo (indústria alimentícia e cosmética). Com isso, os produtores poderão  personalizar suas estratégias de marketing visando fortalecer sua marca e aumentar suas vendas.

Quanto aos processos internos das propriedades analisadas, constatou-se que são majoritariamente informais. Para 33,3% dos produtores, os processos não são documentados nem aprimorados, enquanto 36,4% melhoram seus processos, mas sem documentação formal. Apenas 27,3% estruturam processos formais e documentados, e só 3% treinam continuamente suas equipes. Além disso, conforme mostra a figura 8, a maioria das propriedades não possui processos voltados à satisfação do cliente.

Figura 8 – Processos para avaliar a satisfação de clientes do Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

A inovação também é pouco explorada, pois a pesquisa identificou que 54,5% dos produtores não monitoram tendências tecnológicas ou de mercado; 21,2% fazem esse monitoramento informalmente, enquanto 21,2% realizam discussões estruturadas sobre o tema. Apenas 3% registram informações, participam de eventos e buscam continuamente inovação.

A coleta de ideias para inovação também é limitada, visto que 33,3% dos produtores não adotam nenhum mecanismo para isso, enquanto 30,3% permitem sugestões informais,  33,3% têm um processo estruturado para coleta e implantação de ideias, e apenas 3% alinham essa prática à estratégia da propriedade, incentivando inovação de forma planejada. Como destacam Djurabaev e Rashidov (2021), a adoção de inovações pode contribuir para a utilização mais eficiente de recursos, sejam materiais ou e produção, por meio de novas tecnologias, ferramentas de gestão e novos equipamentos, proporcionando condições para fortalecimento dos enxames e economia.

A inovação de produtos também é limitada, sendo que quase metade dos produtores (45,5%) não lançou novos produtos nos últimos três anos, enquanto 24,2% estão pesquisando novas opções, e 24,2% lançaram ao menos um novo produto baseado em análises de tendências. Apenas 6,1% lançaram múltiplos produtos com estratégias como o Design Thinking.

O planejamento de novos projetos, assim como o cálculo de retorno desses investimentos são importantes para ajudar o produtor a tomar suas decisões, mas a pesquisa mostrou que muitos produtores ainda tomam decisões intuitivas, sem ferramentas adequadas, como se pode ver na figura 9.

Figura 9 – Planejamento de projetos e cálculo de retorno do investimento dos apicultores e meliponicultores do Vale do Ribeira-SP

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Outra constatação de ponto fraco foi em relação à capacitação, pois 42,4% dos produtores não investem no desenvolvimento de suas equipes, enquanto para 24,2%, há apenas orientação básica sem capacitação técnica. Em 30,3% dos casos, existe treinamento específico, e apenas 3% investem em capacitação contínua e estruturada. Considerando que a maioria dos apicultores trabalha em equipe, a profissionalização da mão de obra é essencial para fortalecer a atividade.

Ainda em relação à área de Gestão de Pessoas, é necessário maior envolvimento e ações para a retenção de talentos, visto que 72,7% dos produtores não possuem políticas para isso, enquanto 9,1% aplicam estratégias apenas em situações pontuais. Outros 9,1% conseguem atrair talentos, mas não os mantêm, e apenas 9,1% possuem estratégias efetivas de retenção.

Diante dos resultados aqui apresentados, percebe-se que aproximadamente metade da amostra de pesquisa possui conceitos de gestão empresarial e manejo técnico, e aplicam na sua propriedade rural. No entanto, cerca de metade dos produtores de mel ainda trabalham de forma intuitiva, sem utilizar ferramentas de gestão para administrarem seus negócios. A dimensão de sustentabilidade talvez seja a com melhores índices, pois como visto, a maior parte dos apicultores detém suas propriedades dentro da maior faixa contínua de mata atlântica do Brasil.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa buscou diagnosticar e analisar a maturidade da gestão empresarial de micro e pequenas empresas rurais que atuam com apicultura e meliponicultura no Vale do Ribeira-SP. Os resultados evidenciaram que, embora a atividade apícola na região apresente potencial produtivo e comercial significativo, ainda há desafios a serem superados, especialmente nas áreas de gestão estratégica, marketing e inovação.

A análise dos dados revelou que a maioria dos apicultores ainda conduz seus negócios de forma intuitiva, sem a implementação de ferramentas de gestão estruturadas. Isso impacta diretamente a competitividade e a rentabilidade da atividade, dificultando a expansão dos negócios e a inserção em mercados mais exigentes. Além disso, a comercialização dos produtos apícolas ainda ocorre predominantemente de maneira informal, com forte dependência das vendas diretas ao consumidor, o que reforça a necessidade de capacitação em estratégias de marketing e branding para agregar valor aos produtos.

Por outro lado, a pesquisa demonstrou que a sustentabilidade é um aspecto bem desenvolvido entre os produtores, refletindo a preocupação com a preservação ambiental e a manutenção dos ecossistemas locais. A elevada taxa de apicultores com ensino superior também indica um potencial para a adoção de práticas inovadoras e a modernização do setor.  

Diante desses desafios e oportunidades, recomenda-se a ampliação de ações voltadas à capacitação dos apicultores em gestão empresarial, finanças, inovação e estratégias de mercado, bem como sugere-se a criação de políticas públicas e incentivos para a formalização da atividade e a estruturação de canais de comercialização mais robustos, os quais poderão contribuir para o fortalecimento da cadeia produtiva na região. Assim, a apicultura no Vale do Ribeira poderá se consolidar como uma atividade economicamente viável e sustentável, gerando benefícios tanto para os produtores quanto para o desenvolvimento socioeconômico regional.

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