GERMINAÇÃO DO MILHETO E Brachiaria ruziziensis IMPLANTADOS NA SOBRESSEMEADURA DA SOJA

GERMINATION OF MILLET AND Brachiaria ruziziensis IMPLANTED IN SOYBEAN OVERSEEDING

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10170745


Carlos Henrique de Oliveira1
Marcos Henrique Pereira Vicente2
Lucas Roberto de Carvalho3


Resumo 

As gramíneas forrageiras possuem alta capacidade para produzir palha no sistema de semeadura  direta em integração lavoura-pecuária. Entre as espécies de cobertura utilizadas nos sistemas de  produção de sobressemeadura, destacam-se forrageiras do gênero Brachiaria, especialmente B.  ruziziensis. Essa espécie tem sido utilizada devido à alta produção de matéria seca em curto espaço de tempo e à sua adaptação a vários tipos de clima e solo, preferencialmente com boa drenagem,  tolerando fertilidade média do solo. Além disso, o milheto também pode ser utilizado, pois é uma  gramínea anual de sementes pequenas, com grande diversidade de tamanho, e com dificuldade, às  vezes, do estabelecimento da população adequada de plantas. A busca pela obtenção de altas  produtividades nas culturas é uma das formas mais eficientes de verticalizar a produção numa mesma área. Neste sistema de produção, o consórcio de culturas produtoras de grãos com  forrageiras vem sendo avaliado como forma de proporcionar benefícios econômicos para o  produtor. Uma das técnicas para viabilizar o cultivo de espécies forrageiras em consórcio com a  soja é a sobressemeadura. O experimento será implementado em blocos inteiramente casualizados com 30 parcelas, serão utilizados 6 tratamentos com 5 repetições cada. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a germinação e o índice de velocidade de germinação em sementes de  milheto (Pennisetum glaucum) e da Brachiaria ruziziensis implantados na sobressemeadura da soja. 

Palavras-chave: Pennisetum glaucum, Glycine max, B. ruziziensis, velocidade de germinação. 

1. INTRODUÇÃO 

A velocidade e a amplitude da expansão de áreas cultivadas com pastagens tropicais, no Brasil, estão associadas à disponibilidade de sementes de qualidade, sendo que as condições e dafoclimáticas favoráveis, as cultivares adaptadas a estas condições e o dinamismo dos empresários do setor favorecem a produção de sementes no Brasil. Estas características fizeram do Brasil o maior produtor, consumidor e exportador de sementes forrageiras tropicais do mundo,  com quantidade de, aproximadamente, 100.000 toneladas por ano e receita de R$ 1,4 bilhões, dos  quais 10% são representados pelo mercado de exportação, para mais de 20 países (EMBRAPA,  2021). 

A formação e a manutenção de cobertura morta nos trópicos, com destaque para a região do Cerrado, são alguns dos principais obstáculos encontrados para o estabelecimento do sistema de  plantio direto. O cultivo consorciado de plantas produtoras de grãos com forrageiras é uma das  alternativas mais adotadas entre os produtores das regiões com inverno seco, uma vez que as  forrageiras se mostram altamente resistentes à seca e à baixa precipitação pluviométrica (KLUTHCOUSKI; STONE, 2003). 

O consórcio de milheto com espécies forrageiras tem demonstrado ser uma importante alternativa para manter a cultura de rendimento econômico, por aumentar o aporte de resíduos na  superfície do solo, de nutrientes e por proporcionar maior retorno econômico na sucessão soja milho safrinha (CECCON, 2007). 

A B. ruziziensis é originária da África. Cresce em vários tipos de solos, desde os mais arenosos até os mais argilosos, porém requer boa drenagem e condições de média fertilidade (VILELA, 2007). Na implantação de espécies forrageiras para formação de pasto, tem-se que a profundidade de sementes deve ser a menor possível, com algumas indicações mais específicas apontam que deve ser de2 cm (VILELA, 2007). Esses resultados contribuem para possibilidade de semeadura de sementes de espécies forrageiras utilizando as mesmas máquinas utilizadas na sucessão milho e soja. 

A quantidade de sementes das espécies forrageiras é outro fator importante na implantação da sobressemeadura. Normalmente é recomendável que a quantidade seja entre 1,5a 2 vezes a quantidade de sementes puras viáveis recomendada para o cultivo tradicional (sem consórcio), justamente pelo fato de que as sementes estarão em condições pouco favoráveis ao pleno estabelecimento (FILHO et. al., 2009).

O consórcio entre soja e espécies forrageiras apresenta alguns desafios principalmente pela dificuldade decorrente da competição existente entre estas espécies, inferindo menor capacidade competitiva para esta cultura graníferas (PORTES et al., 2003). O menor porte e poder competitivo da soja em relação às forrageiras inviabilizam a semeadura em épocas simultâneas, além disso, o maior desenvolvimento vegetativo das forrageiras por ser planta C4 dificulta a colheita da soja (VILELA et al., 2011). 

Uma das técnicas para viabilizar o cultivo de espécies forrageiras em consórcio com a soja é a sobressemeadura (CRUSCIOL et al., 2012), em que a forrageira é semeada a lanço quando a soja encontra-se nos estádios fenológicos R5 a R7 (FARIAS et al., 2007). No estágio  R5 há o Início da formação e rápido enchimento dos grãos, onde ocorre redistribuição de  matéria seca e nutrientes das partes vegetativas para os grãos. Já o R7 consiste no início da  maturação fisiológica dos grãos, e assim a maturidade ocorre quando se cessa o acúmulo de  matéria seca. Nesta fase, os grãos apresentam cerca de 60% de umidade e a partir daqui a  umidade tende a cair (PACHECO et al., 2008). 

As condições favoráveis de temperatura e umidade, além da queda de folhas da soja em  senescência sobre as sementes das forragens, formam um ambiente propício para germinação e  início do estabelecimento das espécies semeadas (PACHECO et al., 2008; ANDRADE, 2015). 

Após a realização da sobressemeadura, à medida que a soja avança nos estádios finais de desenvolvimento (enchimento dos grãos e maturação fisiológica) a forrageira consegue emergir e iniciar o processo de desenvolvimento. Em razão do sombreamento ainda causado pela consorciação com a soja, o crescimento do capim é limitado até a colheita de grãos. 

Essa prática tradicional ajuda na conservação do solo, melhora o controle de plantas invasoras nas lavouras de verão e ainda gera nutrientes para o desenvolvimento das forrageiras sucessoras (CECCON, 2007). Independente da cultura em que for realizada, a sobressemeadura  traz a vantagem da antecipação no estabelecimento da cobertura, um adiantamento de até três semanas nas áreas destinadas ao pastejo. 

Poucos trabalhos foram realizados com o objetivo de indicar a utilização dos restos culturais da soja, afim de proporcionar melhor germinação de B. ruziziensis em consorcio com milheto. Neste sentido, o trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a velocidade e qualidade germinação de sementes de B. ruziziensis e do milheto (Pennisetum americanum) com o uso da palhada após a colheita da soja.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA 

2.1 PRINCIPAIS USOS DO MILHETO COMO PLANTA FORRAGEIRA

O milheto é uma planta adaptada a baixa fertilidade de solos, sendo capaz de produzir  razoavelmente mesmo em solos relativamente pobres. Entretanto, apresenta alta resposta de  produção para solos mais férteis ou adubados (BOER et. al., 2007). 

Em plantio de safrinha após a cultura de soja ou milho, o milheto vem sendo cultivado  apenas no resíduo da adubação dessas culturas, com produção bastante satisfatória (MACHADO e ASSIS, 2010). Entretanto, a aplicação, em cobertura, de 30 kg a 60 kg de  nitrogênio/ha, contribui para aumentar a produtividade e qualidade de matéria seca, a produção  de grãos e estender o período de pastejo. 

Em plantio de primavera/verão em áreas que não sofreram nenhuma adubação anterior,  o solo deve ser corrigido como se fosse para plantio de uma forrageira de média exigência. Para  solos de textura média, por exemplo, a saturação por base deverá ser elevada para cerca de 40%  a 45%, o fósforo para 6 ppm a 8 ppm, o potássio para 50 ppm. O nitrogênio deverá ser usado  na base de 50 kg/ha a 100 kg/há (MACIEL et. al., 2003). 

2.2 Semeadura 

Para uma eficiente germinação das sementes, é necessário que a temperatura média do  solo seja superior a 20ºC, além de haver umidade suficiente para a emergência das plântulas.  Por isso, o milheto pode ser semeado no início da primavera, por ocasião das primeiras chuvas,  até início do outono (MACHADO e ASSIS, 2010). 

A semeadura poderá ser efetuada a lanço ou em linha, sendo que de preferência deve se utilizar a semeadura em linha. Utilizam-se 18 kg a 20 kg de semente/ha, com espaçamento  de 20 cm a 30 cm entre linhas para utilização em pastejo (MACIEL et. al., 2003). Ou 12 a 15  kg/ha, com espaçamento entre linhas de 40 cm a 60 cm para produção de grãos, sementes ou  silagem.  

A profundidade de semeadura pode variar de 2 cm a 4 cm. Para semeadura a lanço  utiliza-se 20% a mais de semente/ha. No caso de sobressemeadura em lavouras de soja, milho,  sorgo, arroz etc., utiliza-se de 30 kg a 35 kg de sementes/há (BOER et. al., 2007). 

As cultivares atualmente utilizadas no Brasil Central são o milheto comum, BN1, BN2  e, mais recentemente, BR 1501. Resultados de estudos realizados pela Embrapa Gado de Corte  mostraram que quanto mais tardia for feita a semeadura menor será a produtividade de matéria  seca, por ser esta espécie influenciada pelo fotoperíodo; portanto, quanto mais tardiamente for realizado o plantio, menos dias a planta levará da germinação ao florescimento (TIMOSSI et.  al., 2007). Igualmente, com uma maior idade da planta, menor será a digestibilidade e o teor de  proteína bruta. 

2.3 Manejo 

O início da utilização do milheto para pastejo pode se dar entre 30 e 40 dias após a  emergência (ou após 40 a 50 dias do plantio, dependendo das condições climáticas). O primeiro  pastejo deve ocorrer sempre antes do início do emborrachamento, visando estimular o  perfilhamento; ao contrário, haverá redução na produção e na qualidade da forragem, com  redução do período de pastejo (CALONEGO et al., 2011). 

O milheto pode ser utilizado em pastejo contínuo ou rotacionado. O manejo rotacionado  proporciona ganhos superiores ao contínuo em produtividade de carne/hectare e longevidade  de pastagem, por apresentar alta taxa de crescimento inicial e de rebrote. Como consequência,  no pastejo contínuo, os animais não aproveitam uniformemente a forragem disponível (BOER  et. al., 2007). 

É recomendável que os animais iniciem o pastejo quando o milheto atingir uma altura  entre 50 cm e 70 cm do solo, devendo sair quando houver rebaixamento para 20 cm a 30 cm.  Deve-se dar um período de descanso de 18 a 24 dias após o pastejo inicial. No início do pastejo  deve-se utilizar uma maior taxa de lotação variando entre 3 animais/ha e 5 animais/ha,  reduzindo-se gradualmente, em função da disponibilidade de forragem até 1 animal/ha a 2  animais/há (TIMOSSI et. al., 2007) 

O tempo de utilização do milheto em pastejo vai depender principalmente da época de  semeadura, manejo, estado nutricional da planta e condições climáticas. No Brasil Central, o  período de pastejo pode variar de 30 a 150 dias: em semeadura realizada no início da primavera,  de 80 a 150 dias; no início do verão, de 50 a 100 dias; no início do outono, variará de 30 a 60  dias (CRUSCIOL et al., 2012). 

2.4 Produção de forragem para pastejo, em plantio de safrinha 

O milheto é cultivado após a colheita da cultura principal, de fevereiro a abril, para ser  utilizado em pastejo por um período de 40 a 60 dias, do outono até o início do inverno. Neste  período pode atingir uma produtividade de 2 a 5 arrobas de carne/ha, além de possibilitar a  vedação de parte das áreas de pastagens perenes da fazenda para uso no final da seca (julho a  setembro), época crítica no ano para o Brasil Central (CALONEGO et al., 2011). Com essas medidas, além de se aumentar a produtividade, pode-se reduzir o ciclo da pecuária de corte.  Este sistema é adequado para empresas que exploram a agropecuária. 

2.5 Implantação e recuperação de pastagens 

O milheto pode também ser utilizado para a implantação e recuperação de pastagens,  antecipando o início de pastejo, principalmente para forrageiras do gênero Brachiaria, tais como  B. brizantha e B. decumbens (CALONEGO et al., 2011). Semeia-se a braquiária consorciada  com o milheto na primavera ou início do período das águas, o que proporcionará um período  de pastejo que poderá variar de 80 a 120 dias. Após o ciclo vegetativo do milheto, a pastagem  estará formada ou recuperada (LARA-CABEZAS, 2004). 

Ao término do ciclo do milheto a pastagem de braquiária recuperada apresentou-se em  excelentes condições, propiciando um aumento da lotação de 150% na taxa de lotação original  (de 0,6 para 1,5 UA/ha/ano), e um aumento da produtividade média de 300% (de 2,5 para 10  arrobas/ha/ano, no primeiro ano). O custo da recuperação, considerando-se apenas gastos com  insumos e operações mecânicas, foi de US$ 232,00/há (CRUSCIOL et al., 2015). 

O milheto é uma excelente alternativa para produção de silagem, principalmente em  regiões com problemas de veranico ou seca. Presta-se ainda para plantio tardio ou de safrinha,  após a colheita da cultura principal, para regiões nas quais não ocorrem geadas e que têm  precipitações até o mês de maio. Nestas condições, o milheto pode alcançar produção superior  ao sorgo, com melhor qualidade e proporcionar boa cobertura do solo (LARA-CABEZAS,  2004). 

3. METODOLOGIA 

O experimento foi implantado no dia 20 de abril de 2023, na cidade de Fazenda Nova  em Goiás. O milheto pode ser semeado a lanço ou em sulco. O plantio a lanço foi realizado em  área cultivada com cultura da soja em fase de colheita (sobressemeadura). Nestas condições, a  semeadura a lanço foi feita com o uso de uma grade leve. No período sem chuvas, ajuda a  semente a aderir ao solo e a induzir o processo de germinação, além de garantir uma boa  germinação. 

O experimento foi realizado em blocos inteiramente casualizados em esquema fatorial,  constituídos por 6 tratamentos com 5 repetições cada. Os tratamentos utilizados foram: A)  milheto plantado antes da colheita da soja; B) milheto plantado depois da colheita sem  incorporação; C) milheto plantado após a colheita da soja com a incorporação. Por fim, D) B. ruziziensis implantado antes da colheita, E) B. ruziziensis plantada após a colheita, F) B.  ruziziensis implantado após a colheita da soja com a incorporação. 

Foram feitas 30 parcelas, cada uma com o tamanho de 10 m X 10 m. A área total do  experimento utilizada foi de 50m X 60m. A primeira contagem de germinação foi obtida em  conjunto com o teste de germinação, pela contagem das plântulas normais, no sétimo dia após  a instalação do teste, além do Índice de velocidade de germinação: que foi determinado obtido  em conjunto com o teste de germinação, computando se as plântulas normais, germinadas a  partir do sétimo dia, contadas de dois em dois dias, até o término da contagem das plântulas  normais. 

Realizou-se duas avaliações de emergência de plantas, aos sete e quinze dias após a  semeadura, através da anotação do número de plantas emergidas por linha. Os valores foram  transformados em porcentagem de germinação. Os resultados foram submetidos à análise de  variância, as médias de tratamento de sementes comparadas pelo teste de Tukey a 5%. Em  função da irrigação e das chuvas registradas, as plantas de milheto emergiram aos cinco dias  após a semeadura, assim como a maioria das sementes de B. ruziziensis. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A cultura da soja apresentou produtividade média de 2,95 Mg há-1, sem efeito  significativo dos tratamentos, já que a sobressemeadura das plantas de cobertura foi feita na  maturação fisiológica da soja, e a interferência do consórcio tardio na produtividade de grãos é  nula, principalmente porque a colheita das parcelas foi manual. Na maturação fisiológica, a soja  já tem definida sua produtividade. Além disso, o crescimento das plantas de cobertura somente  se iniciou depois de elevada taxa de desfolha da soja, quase no ponto de colheita. 

Na emergência das plantas de cobertura, verificou-se interação significativa entre os  fatores plantas de cobertura e épocas de sobressemeadura. Pennisetum glaucum apresentou o  maior número de plantas emergidas (Tabela 1), com exceção da primeira época de  sobressemeadura, em que apresentou desempenho semelhante a B. ruziziensis, e da última, em  que P. glaucum apresentou maior emergência aos 15 DAS, que se igualou, no entanto, aos 30  DAS.  

Esses resultados estão de acordo com Trecenti (2005), que também observou, na região  de Planaltina, DF, maior índice de germinação dessa espécie em relação a B. ruziziensis, B.  brizantha cv. Marandu e B. brizantha cv. Xaraés, em sobressemeadura na soja. O percentual de  emergência é o primeiro requisito para se viabilizar a recomendação de dada espécie para uso em sobressemeadura (SILVA et. al., 2009). Portanto, P. glaucum é uma espécie que apresenta  elevada adequação a essa tecnologia, no que se refere a esta característica.

B. ruziziensis, entre as braquiárias, foi a mais adaptada à emergência em superfície, con tudo, com resultados iguais a B. decumbens e B. brizantha aos 15 DAS, na segunda época de  sobressemeadura, e semelhante apenas a B. decumbens aos 30 DAS, na segunda e na última  época. Esses resultados também estão de acordo com Trecenti (2005), que obteve melhor resultados de emergência com B. ruziziensis. Entretanto, B. brizantha e B. decumbens também  apresentaram germinação satisfatória, com médias acima de 8 plantas m-2, superiores à recomendação de 6 plantas m-2(KLUTHCOUSKI e AIDAR, 2003) para estabelecimento e cobertura do solo, satisfatórios por parte das braquiárias em SPD no Cerrado.

A época de sobressemeadura influenciou a emergência das plantas de cobertura nas avaliações aos 15 e 30 DAS. A segunda época de sobressemeadura apresentou as menores médias  de estande, em todas as plantas de cobertura, em razão do maior mato competição, mesmo com  adoção da dessecação de manejo, realizada no cultivo da soja.  

A ocorrência de chuvas, relativamente próximo à aplicação dos herbicidas de pós-emergência na soja, contribuiu para o baixo controle de plantas daninhas nessa época. Durante as  quatro épocas de sobressemeadura, não ocorreram veranicos, o que contribuiu para a terceira e  quarta época alcançarem estande similar à primeira época. 

Tabela 1. Taxas de germinação após o plantio na sobressemeadura. 

Além da produtividade de forragem no período de maior escassez de alimento, as  forragens também apresentam qualidade bromatológica satisfatória, mesmo em condições  restritivas ao seu desenvolvimento, principalmente em relação a restrição hídrica do período pós-colheita da soja. Andrade (2015) ao avaliar a qualidade dos capins sobressemeados após a  soja em Gurupi/TO encontraram valores médios de 33% de FDA, 67% de FDN, 13,5% de PB  e 64% de NDT nos meses de abril a junho. Importante ressaltar que estes valores foram obtidos em capins submetidos ao final do período chuvoso e que grande parte do crescimento ocorreu  sem fornecimento suplementar de água.  

Assim, considerando que teores acima de 40% de FDA e abaixo de 60% de FDN são  limitantes da digestibilidade e do consumo, respectivamente (VAN SOEST, 1994), os  resultados demonstraram que a qualidade da forragem produzida mesmo nestas condições  apresenta características bromatológicas satisfatórias e com boa digestibilidade, pois, quanto  maior o teor de FDA menor será a digestibilidade. 

Adotando as alturas de manejo das espécies forrageiras durante o período de pastejo, o  material remanescente que ficará depositado na superfície do solo proporciona cobertura  vegetal para o sistema plantio direto que será implantado na sequência. De acordo com Pariz  et. al., (2011), é importante salientar que a técnica da sobressemeadura não precisa  obrigatoriamente ser utilizada somente por produtores ou pecuaristas que irão utilizar a  forrageira para pastejo.  

É possível ser utilizada também por produtores que desejam utilizar a espécie forrageira  para produção de cobertura vegetal para o sistema plantio direto permitindo, assim, estabelecer  um sistema de rotação de culturas com cobertura do solo com palha que garanta a  sustentabilidade do SPD. O uso de espécies forrageiras como plantas de cobertura proporciona,  ao longo do tempo de implantação do SPD benefícios às características químicas (CRUSCIOL  et al., 2015) e físicas (CALONEGO et al., 2011) do solo.  

Andrade (2015) ao avaliar o acúmulo de matéria seca proporcionada por espécies  forrageiras sobressemeadas na soja para a condução de SPD em Gurupi/TO em 2 anos agrícolas  consecutivos (2013/14 e 2014/15) concluiu que o consórcio da soja com as espécies forrageiras Urochloa ruziziensis, U. brizantha cv. Marandu, M. maximum cv. Mombaça e M. infestans cv.  Massai não diminuiu a produtividade de grãos da soja. Entre as espécies, M. maximum cv.  Mombaça foi mais eficiente no acúmulo de matéria seca quando cultivado em sobressemeadura  na soja no período de outono/primavera. 

O fato de as poaceas possuírem características fisiológicas próximas, estarem  submetidas às mesmas técnicas e períodos de utilização e condições climáticas, assim como o  acesso a condições semelhantes de fertilidade de solo explicam os resultados encontrados nesta  pesquisa.

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Os resultados obtidos até o momento evidenciam que a técnica da sobressemeadura de  espécies forrageiras na soja para condução de ILP é possível nas condições edafoclimáticas de  Goiás, corroborando com pesquisas realizadas em outras regiões do Bioma Cerrado que  utilizaram esta técnica. As possibilidades de uso da forragem no período de outono-primavera  se estendem com o manejo correto da forragem e, para tanto, há necessidade de se conhecer a  altura correta de manejo da pastagem, que dependerá da espécie utilizada.  

A antecipação do estabelecimento da forragem por meio da sobressemeadura permite o  uso da pastagem entre 40 e 90 dias após a colheita mecânica da soja. Aproveitando o final do  período chuvoso e das temperaturas elevadas, adequando o uso de cultivares de soja de ciclo  precoce e com altura de inserção da primeira vagem acima de 12 cm será possível entre 30 e 40  dias após a colheita da soja obter forragem para pastejo.

REFERÊNCIAS 

ANDRADE, C. A. O. de. Sobressemeadura de espécies forrageiras em soja para viabilidade do plantio direto e integração lavoura-pecuária no Tocantins. 2015. 63p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Tocantins, Gurupi. 

BOER, C. A.; ASSIS, R. L.; SILVA, G. P.; BRAZ, A. J. B. P.; BARROSO, A, L. L.;  CARGNELLUTI FILHO, A.; PIRES, F. R. Ciclagem de nutrientes por plantas de  cobertura na entressafra em um solo de cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira,  Brasília, v. 42, n. 9, p.1269-1276, 2007. 

CALONEGO, J. C.; BORGHI, E.; CRUSCIOL, C. A. C. Intervalo hídrico ótimo e  compactação do solo com cultivo consorciado de milho e braquiária. Revista Brasileira de  Ciência do Solo, Viçosa, v. 35, p. 2183- 2190, 2011. 

CECCON, G. Milho safrinha com solo protegido e retorno econômico em Mato Grossodo Sul. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, ano 16, n. 97, p. 17-20; jan./fev. 2007. 

CRUSCIOL, C. A. C. et al. An Innovative Crop–Forage Intercrop System: Early Cycle Soybean Cultivars and Palisadegrass. Agronomy Journal, Madison, v. 104, n. 4, p. 1085- 1095, 2012. 

CRUSCIOL, C. A. C. et al. Improving Soil Fertility and Crop Yield in a Tropical Region  with Palisadegrass Cover Crops. Agronomy Journal, Madison, v. 107, n. 6, p. 2271-2280,  2015. 

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (Embrapa). Mercado de forrageiras movimenta mais de R$ 1,4 bilhão ao ano. Rio de Janeiro: Embrapa/CNPS,2021. 

FARIAS, J. R.; NEPOMUCENO, A. L.; NEUMAIER, N. Ecofisiologia da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2007, 9 p. Circular Técnica, 48. 

FILHO, I. A. P.; CRUZ, J. C.; FILHO, M. R. A. Cultivo do milheto. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de Produção, 3 ISSN 1679-012X Versão Eletrônica – 1 ª edição Set./2009 

KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F. Manejo sustentável dos solos dos cerrados. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F.; AIDAR, H. (Ed.). Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. p. 61-104. 

LARA-CABEZAS, W.A.R.; Sobressemeadura com sementes de milheto revestidas no  triangulo Mineiro, MG: estudo preliminar. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, v.79, n.1,  p 16-18, 2004. 

MACHADO, L. A. Z.; ASSIS, P. G. G. Produção de palha e forragem por espécies anuais  e perenes em sucessão à soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 45, n. 4, p. 415- 422, 2010.  

MACIEL, C. D. G.; CORREA, M. R.; ALVES, E.; NEGRISOLI, E.; VELINI, E. D.;  RODRIGUES, J. D.; ONO, E. O.; BOARO, C. S. F. Influência do manejo da palhada de  capim-braquiária (Brachiaria decumbens) sobre o desenvolvimento inicial de soja (Glycine max) e amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla). Planta Daninha, Viçosa, v.  21, n.3, p. 365-373, 2003.  

PACHECO, L. P. et al. Desempenho de plantas de cobertura em sobressemeadura na cultura da soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 43, n. 7, p. 815-823, 2008. 

PARIZ, C.M.; ANDREOTTI, M.; AZENHA, M.V.; BERGAMASCHINE, A.F.; MELLO,  L.M.M.; LIMA, R.C. Produtividade de grãos de milho e massa seca de braquiárias em  consórcio no sistema de integração lavoura-pecuária. Ciência Rural, v.41, n.5, p.875-882,  2011. 

PORTES, T. A.; CARVALHO, S. I. C.; KLUTHCOUSKI, J. Aspectos fisiológicos das plantas cultivadas e análise de crescimento da braquiária consorciada com cereais. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F.; AIDAR, H. Integração Lavoura-Pecuária. 1. ed. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. p.303-329. 

SILVA, A.C.; HIRATA, E.K.; MONQUERO, P.A. Produção de palha e supressão de  plantas daninhas por plantas de cobertura, no plantio direto do tomateiro. Pesquisa  Agropecuária Brasileira, v.44, n.1, p.22-28, 2009. 

TIMOSSI, P.C.; DURIGAN, J.C.; LEITE, G.J. Formação de palhada por braquiárias para  adoção do sistema plantio direto. Bragantia, v.66, n.4, p.617-622, 2007. 

TRECENTI, R. Avaliação de características agronômicas de espécies de cobertura  vegetal do solo em cultivos de entressafra e sobressemeadura, na região central do  Cerrado 2005. 118p. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília. 

VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. New York: Cornell  University Press, 1994. 476p. 

VILELA, H. Série gramíneas tropicais: gênero Brachiaria (B. ruziziensis – capim). Portal Agronomia, 2007. 

VILELA, L. et al. Sistemas de integração lavoura-pecuária na região do cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 46, n. 10, p. 1127- 1138, 2011.


1Discente Curso de Eng. Agronômica – Centro Universitário Brasília de Goiás – São Luís de Montes Belos – GO. Brasil

2Discente Curso de Eng. Agronômica – Centro Universitário Brasília de Goiás – São Luís de Montes Belos – GO.  Brasil

3Docente Curso de Eng. Agronômica, Mestre em Engenharia Agrícola – Centro Universitário Montes Belos – São Luís de Montes Belos – GO. Brasil