FRONTERAS DEL LUGAR TURÍSTICO COSTA DE CORALES: ACERCAMIENTO CONCEPTUAL SOBRE LA APROPIACIÓN DEL COMPLEJO JAPARATINGA LOUGE RESOURT EN EL LITORAL NORTE DE ALAGOAS BRASIL
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8051227
Handerson Phillipe Pereira da Silva
Edilma de Jesus Desidério
Lindemberg Medeiros de Araujo
Resumo
O fenômeno da produção de territorialidade turística, manifestado pela apropriação para a venda da paisagem geográfica, tem sido cada vez mais constante devido aos interesses desta atividade econômica que se intensificam nos circuitos brasileiros de turismo de sol e praia. A presente reflexão, tem por objetivo compreender a produção das fronteiras do lugar turístico Costa dos Corais alavancada com a chegada do empreendimento denominado Japaratinga Lounge Resort, localizado na região litorânea do estado de Alagoas, nordeste do Brasil. Para tanto, desenvolve-se uma aproximação teórico-conceitual sobre o lugar que foi apropriado enquanto espaço experienciado e dotado de significados construídos pelas práticas vividas, conhecimentos históricos do presente e do passado, transformado na atualidade como elemento do polo turístico Costa dos Corais. Os resultados atualizam os contextos locacionais e geohistóricos, bem como o que se cria como conteúdo para a venda turística, provocando contradições entre a prática e a representação do espaço percebido, concebido e vivido, evidenciando, desse modo, uma diversidade de fronteiras entre a paisagem e o lugar habitado pelos nativos e novos residentes e turistas atraídos pela idealização turística daquele litoral brasileiro.
Palavras-chave: Fronteira, Lugar turístico, Territorialidade, Japaratinga, Alagoas
Resumen
El fenómeno de la producción de territorialidad turística que se manifiesta por la apropiación para la venta del paisaje geográfico ha sido un hecho, cada vez más constante, debido a que los intereses de la actividad económica se intensifican en los circuitos brasileños de turismo de sol y playa. La presente reflexión tiene como objetivo comprender la producción de fronteras del lugar turístico Costa de Corales, impulsada con la llegada del emprendimiento denominado Japaratinga Lounge Resort, ubicado en la región del litoral del estado de Alagoas, noreste de Brasil. Por ello, se desarrolla un acercamiento teórico-conceptual sobre el lugar que ha sido apropiado como espacio de la experiencia y de significados construidos por las prácticas vividas, los conocimientos históricos del presente e del pasado, transformado en la actualidad como elemento del polo turístico Costa de los Corales. Los resultados actualizan los contextos locacionales y geohstoricos, así como lo que se crea como contenido para la venta turística, provocando contradicciones entre la práctica y la representación del espacio percibido, concebido y vivido que evidencia, de ese modo, una diversidad de fronteras entre el paisaje y el lugar habitado por los nativos y nuevos residentes y turistas atraídos por la idealización turística de aquel litoral brasileño.
Palabras clave: Frontera, Lugar turístico, Territorialidad, Japaratinga, Alagoas
Introdução
Localizado em uma região histórica e polo de atração turística de sol e mar, Japaratinga é um município litorâneo do leste alagoano, constituído de muitas belezas naturais e histórias ligadas a ocupação e povoamento regional. Um lugar marcado de sentidos historiográficos que envolve povos nativos, estrangeiros, explorados, exploradores… Numa região dominada desde as primeiras explorações que expulsou os nativos e introduziram a agricultura do plantation canavieiro presente até dias atuais no lugar.
Com o declínio das usinas de açúcar na região, historicamente carentes, resultante de uma estrutura colonial e escravocrata marcante em suas raízes, outras atividades, a exemplo do turismo, começaram a ganhar força, espaço e investimentos público e privados visando o melhor aproveitamento econômico dos lugares, mesmo que sem comprometer os espaços anteriormente ocupados por atividades falidas por todos os cantos do território.
Como consequência de investimentos recentes, novos territórios se constituíram a partir de novas fronteiras face ao atendimento de novas e rentáveis economias, que se apropriam de outros espaços, como novas estratégias e elementos de poder que continuamente se repete em ciclos de temporalidade diferentes nos mesmos espaços.
Este artigo busca elencar Japaratinga, como lugar turístico, revisitando conceitos de lugar na perspectiva geográfica das experiências face ao espaço resultante da produção intencional antrópica e do desenvolvimento capitalista atual, baseando-se nas contribuições de Tuan (1983), Santos (1994) e Smith (1988). Se faz uma reflexão dos significados que o lugar agrega a partir da percepção de cada indivíduo em relação a suas experiências e o quanto se traduzem em marcas sociais com interpretações distintas nos diferentes tempos vividos e usufruídos diferentemente pelos meios de apropriação quando se tornam objetos de negócios pelas máquinas de poder econômico.
O turismo é uma atividade econômica de destaque no cenário atual do litoral brasileiro. O polo turístico de Maragogi, na porção norte do leste alagoano, que é integrante da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, se destaca como um dos principais destinos do estado nordestino de Alagoas. Esse polo tem atraído nos últimos anos empreendimentos hoteleiros com conceitos nacionais e internacionais a se instalarem na região, buscando a exemplo do município de Japaratinga, apropriar-se dos potenciais de suas paisagens naturais ainda que apresentem indicadores socais e econômicos relativamente baixos(IBGE, 2010), bem como uma estrutura turística tímida, mas em ascendência.
O Japaratinga Lounge Resort é um dos mais recentes empreendimentos do setor de acomodação a se instalar no município. Inaugurado no primeiro semestre de 2019, se consolidou como o maior e mais sofisticado espaço de atração turística do lugar. Nesse contexto, pretende-se analisar as perspectivas de lugar em seus principais meios de comunicação e divulgação do lugar turístico Japaratinga.
Metodologicamente, serão desenvolvidos revisão bibliográficas pautada na compreensão do lugar e análise de conteúdo dos materiais gráficos de divulgação físicos e digitais utilizados para promover e vender esse lugar enquanto produto de consumo do espaço, identificando na estrutura dos conteúdos a tríade lefebvriana do concebido, percebido e vivido.
O lugar experienciado e o espaço percebido, concebido e vivido
Dotado de inúmeros significados, o lugar experienciado diz respeito ao espaço vivido, onde as sociedades nos diversos tempos fazem permanente uso dos elementos que os constituem, configurando e lhes conferindo significados por meio das ações que estes promovem ao meio. O uso proveniente da relação homem-meio possibilita a formação e transformação dos objetos, e, consequentemente, de seus sentidos.
A vida ganha sentido próprio quando as experiências lhes dão relevo significativos da prática e da proximidade concreta, onde as emoções e o imaginado sedem lugar ao conhecimento do vivido, trazendo ao concreto pensado disso ou daquilo apresentado.
O lugar enquanto parte do espaço, objeto científico da geografia, se traduz na categoria mais próxima da vida dos agentes transformadores de paisagem. Contudo, este lugar é próprio de integridades que vão além de dimensões físicas e naturais. Esses aspectos estão ligados por relações humanas, sentimentais e espirituais. Se trata daquilo que se constrói a partir da proximidade e das experiências que partem de sentidos aos conhecimentos adquiridos e percebidos no processo.
Para Tuan:
A experiência é constituída de sentimento e pensamentos. […] É uma tendência comum referir-se ao sentimento e ao pensamento como opostos, um registrando estados subjetivos, o outro reportando-se à realidade objetiva. De fato estão próximas as duas extremidades de um continuum experiencial. E ambos são maneiras de conhecer (Tuan, 1983:11).
O conhecimento do lugar se constrói também pelas vias da experiência, onde, o lugar é uma pausa no movimento. Os animais, incluindo os seres humanos, descansam em uma localidade porque ela atende a algumas necessidades biológicas. A pausa permite que a localidade se torne um centro de reconhecido valor.
Contudo, o lugar passa a ser uma escala do espaço geográfico que constitui-se de significados próprios e com posicionamento em um todo conflitante, percebendo-o concretamente enquanto o global se refere a uma escala geral. A escala do lugar ganha sentidos pelos diferentes ocupantes e usuários a partir das relações sociais, a exemplo do trabalho, que vão sendo modelados e remodelados no contexto globalizante.
Para, Smith (1990: 135-147), “A escala local, por outro lado, pode ser visto como a escala de reprodução social e inclui o território geográfico sobre o qual normalmente ocorrem as atividades cotidianas”.
O espaço e o lugar trazem o percebido e o vivido entrelaçados, uma vez o espaço percebido sendo relativo à prática social e expressando a relação entre a realidade cotidiana e a realidade urbana. Enquanto os espaços de representação, ou seja, o espaço vivido por meio das imagens e dos símbolos que o acompanham são, pois, o espaço dos moradores, dos “viventes”, mas também de certos artistas e talvez daqueles novelistas e filósofos que descrevem e só aspiram a descrever. Trata-se do espaço dominado, isto é, passivamente experimentado, que a imaginação deseja modificar e tomar. Sem dúvida, essa associação é surpreendente, pois inclui a separação mais extrema entre os lugares que vincula.
Então, o lugar é esse espaço habitado que guarda consigo esse conjunto de relações sociais que interagem entre si e com o meio no tempo, transformando-se à medida que a sociedade acompanha o processo civilizador de ocupação e consequentemente de exploração do seu território. Território esse que segundo Santos (2006) termina por ser a grande mediação entre o Mundo e a sociedade nacional e local, já que, em sua funcionalização, o “Mundo” necessita da mediação dos lugares, segundo as virtualidades destes para usos específicos. Num dado momento, o “Mundo” escolhe alguns lugares e rejeita outros e, nesse movimento, modifica o conjunto dos lugares, o espaço como um todo.
Nesse sentido, Santos (2006:230), ressalta que “É o lugar que oferece ao movimento do mundo a possibilidade de sua realização mais eficaz. Para se tornar espaço, o mundo depende das virtualidades do Lugar”. Assim, pode-se dizer que, localmente, o espaço territorial age como norma.
Nessa perspectiva, o turismo, que desenvolve- se no lugar a partir da apropriação territorial e das potencialidades de atração natural e cultural, ouve-se o discurso de que ele é benéfico para aqueles territórios que possuem o potencial de desenvolver esta atividade econômica. Quase sempre, impõe-se tal atividade como a saída para regiões em desenvolvimento, com históricos problemas socioeconômicos como é o caso do litoral brasileiro, sobretudo nordestino, que teve sua ocupação ligada à atividade canavieira do período colonial, com todas as suas marcas carregadas até dias atuais. Obviamente, não se pode desconsiderar os impactos do turismo na economia, no entanto é importante perceber os seus efeitos na vida das pessoas e no seu meio social.
E os lugares, a partir de suas realidades, têm experimentado desenvolver aspectos turísticos estando coerente com os discursos de desenvolvimento, com base nessa atividade. Segundo (Soares, 2009:75), em um processo de reestruturação urbana na atualidade, comunidades locais são atingidas por diferentes efeitos socioespaciais, entre eles a segregação, marginalização, confinamento de grupos sociais desfavorecidos, e a perda do espaço público e comum pela comunidade, provocando um distanciamento das pessoas em relação à sua vizinhança. Por exemplo, o mesmo autor faz uma crítica séria em relação a aspectos negativos que podem ser causados pelo turismo:
[…] as separações e a segregação sócioespacial passam a estar implícitas ao processo social, transformando-se em autosegregação concebida e administrada ao longo do processo de formação de territórios urbanos turísticos. A segregação pode ser entendida de duas maneiras. A primeira forma é encarar como sendo inacessibilidade ao uso do solo nas áreas mais providas por serviços públicos e privadas; a segunda forma é entendê-la como a negação do urbano e da vida urbana para certas parcelas da população, e se fundamenta na privatização do solo urbano produzindo fragmentação dos elementos das práticas socioespaciais urbanas, isolando lugares, comprometendo a qualidade de vida (Soares, 2009:75).
Com a apropriação do lugar pela atividade turística, este lugar turístico passa a ser privado, com o apoio e até incentivo do poder público, que comercializa o solo e o conjunto de elementos que o constitui, muitas vezes privando suas particularidades culturais de se fazerem presentes, dada ressignificação ao atendimento do público a que se destina o lugar apropriado, sem considerar que aquela escala é também resultante de relações sociais e históricas, portadoras de significados por sociedades que ali viveram ou vivem experiências que se confundem com as suas próprias existências.
Nesse contexto, a territorialidade do lugar turístico, face aos interesses das grandes corporações controladoras da atividade nas diversas escalas, tende a buscar a homogeneizar por meio do ideário global do turismo de sol e mar, juntamente às peculiaridades de cada lugar, simplesmente como fonte de atração diferenciada mas com os mesmos padrões. As fronteiras do lugar turístico são edificadas frente a uma estrutura globalizada que desconsidera o particular ou mesmo inibe-se diante da magnitude do geral ofertado. A análise espacial das escalas dos lugares possibilitando o entendimento da realidade a partir da tríade concebido/percebido/vivido, partimos do princípio que a produção do espaço implica não só produção material, mas também de vida, de cultura, do modo de ser urbano, que tende a se generalizar em escala mundial, ainda que mantendo particularidades.
As generalizações que buscam essa homogeneização dos lugares como um todo é próprio de dimensão concebida do espaço, são, segundo Lefebvre, 2013: 97), “As representações do espaço, ou seja, o espaço concebido, é o espaço dos cientistas, planejadores, urbanistas, tecnocratas fragmentadores, engenheiros sociais e até um certo tipo de artistas próximos à cientificidade, todos os quais identificam o vivido e o percebido com o concebido” (o que perpetua as velhas especulações sobre números: número áureo, módulos, cânones etc.), é o espaço dominante em qualquer sociedade (ou modo de produção).
Ainda que indissociáveis quando falamos na produção do espaço, muitas vezes uma das dimensões se sobrepõe às outras, dada a intensidade do processo de mundialização. Cabe analisar o processo de produção espacial de modo a compreender as relações entre essas dimensões a fim de entender esse processo que se faz presente no cotidiano, atingindo a vida de todos na sociedade, possibilitando, ao analisá-lo, identificar os elementos para que se perceba na escala delimitada o lugar percebido e concebido no contexto da realidade turística. Como diz Lefebvre (2013: 104, tradução nossa): “As relações entre esses três momentos – o percebido, o concebido e o vivido – não são nunca nem simples, nem estáveis, nem ‘positivas’ no sentido em que o termo se opõe a ‘negativo’, a indecifrável, ao não dito, a proibido e a inconsciente”.
Os lugares tornam-se espaços comuns, mas com fronteiras que delimitam a quem os são destinados e cada indivíduo o percebe a partir de sua relação para com os mesmos.
Japaratinga, um lugar turístico no Litoral Norte de Alagoas
Localizado na Mesorregião do Leste alagoano e na Microrregião do Litoral Norte, Japaratinga está equidistante de Maceió -110 km e do Recife – 140km (Imagem 1), limitando-se ao Norte com Maragogi, ao Sul com Porto de Pedras, ao Leste com o Oceano Atlântico e ao Oeste com Porto Calvo. Possui uma área de 85.502km², com um clima Tropical quente e úmido de temperaturas médias de 24ºC, ventos predominantes de SE a 19km/h e umidade de 89%.
Imagem 1. Croqui ilustrativo de localização do Município de Japaratinga – AL
Historicamente atrelada a atividades pesqueiras, instalava-se localmente a antiga Colônia de Pescadores com a existência de alguns barcos à beira mar, que contrastavam com as lavouras canavieiras e os altos coqueirais na paisagem local, que já traduzia pela ocupação, no início dos anos de 1800, sua relação econômica voltada naturalmente para o extrativismo e, posteriormente, a agricultura de plantation.
O atual território japaratinguense é constituído por partes desmembradas da antiga Sesmaria de Santo Antônio dos Quatro Rios, cujo centro político-administrativo era em Porto Calvo. O núcleo de povoamento de Porto Calvo se reduziu em pequenos povoados, que deram origem às cidades que são conhecidas atualmente, a maioria elevada a categoria de municípios a partir do século XIX (Lindoso, 2000).
Elevado à categoria de município em 23 de julho de 1960, a antiga Vila de Japaratuba, no momento do desmembramento sendo o distrito de Japaratinga e pertencente até então a Maragogi, obedeceu a lei estadual nº2264. Novas fronteiras físicas se configuravam separando administrativamente esses dois territórios com elos históricos e econômicos inseparáveis. Independentes politicamente, mas dependentes em outros aspectos em que as fronteiras se expandem para além dos limites territoriais.
De origens compartilhadas e marcadas na história regional pela ocupação exploratória com conflitos intensos e integração de diferentes povos, tiveram a introdução da atividade canavieira que marcou toda a região para este fim, ainda no processo colonizador. Até os dias atuais, ainda é possível encontrar marcas, atividades e ruinas da cultura açucareira no Município de Japaratinga, sobretudo na porção mais ao oeste do território.
A área em questão relaciona-se com períodos importantes da memória do país como as guerras, invasões e domínios ocorridos por holandeses e portugueses no início do século XVI e integra-se à história mais ampla da expansão mercantilista europeia dos séculos XVI e XVII, uma vez que retrata a implantação de um modelo de produção econômica que durou séculos: o engenho de açúcar, cuja produção se estruturava na mão-de-obra escrava e na criação de uma aristocracia rural externa.
Assim se conforma a apropriação efetiva daquela região hoje denominada litoral norte, impulsionada pelas terras férteis, banhadas por lagoas e rios e favorecida pela presença do Oceano Atlântico, o que estimulava a implantação dos engenhos e, consequentemente, favorecia a economia açucareira.
E ainda em plena conformidade com o plano colonialista português de ocupação e expansão do território, propriedades agrícolas iam se dilatando em povoações, virando vilas, depois cidades onde, rapidamente, se via desenvolver a dinâmica urbana.
Com uma população de 8.444 indivíduos, segundo estimativas referentes a 2021 (IBGE), o município apresentou, em 2010, um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM de 0,570 e um PIB per capita de 20.658,00, segundo o censo demográfico (IBGE, 2010).
Com a decadência do setor canavieiro no Nordeste brasileiro e transferências de vários grupos para o Sul e Sudeste do país, decretando falência de muitas usinas na região, problemas sociais se acentuaram numa realidade historicamente difícil, de domínio da monocultura e dos latifúndios. Japaratinga se inclui nesse contexto e como outros municípios do litoral nordestino encontrou na atividade turística o caminho para outros horizontes. O espaço natural do litoral, anteriormente pouco modificado, a não ser pela cultura do coco da baía e atividades pesqueiras, deu lugar ao espaço construído, através da forma-função do turismo. As transformações nas paisagens japaratinguenses seguem o fluxo em intensidades diferentes da lógica turística empenhada a toda costa brasileira. Conforme afirma Duda,
A atividade turística se apropria do espaço e, com base nas infraestruturas e serviços nele contidas, insere objetos e ações voltados à exploração do potencial turístico local e regional. Destaca-se a expansão do turismo nas diversas escalas espaciais e sua relação com a hierarquia urbana, tema relevante no que diz respeito aos efeitos esperados dos polos turísticos nas regiões em que se localizam (Duda, 2013: 45).
Com o desenvolvimento de novos setores, a exemplo do setor de serviços ao qual o turismo está atrelado, ganharam força as parcerias público-privado, reconfigurando os desenhos do território, edificando novas fronteiras geográficas e ressignificando lugares para atender as demandas do interesse no usufruir pela indústria do turismo de sol e mar nos lugares.
Para Luchiari,
O turismo coloca-se, muitas vezes, como única possibilidade de desenvolvimento econômico para um lugar, uma cidade, uma região […] e muitas vezes também submete as populações locais a uma ordem externa, desarticulando culturas tradicionais, como é o caso da maioria das nossas comunidades litorâneas (Luchiari, 1999: 114).
Japaratinga é um lugar que abriga muitas histórias e culturas, resultante do processo de povoamento, com influências dos povos nativos, pessoas pretas e dos colonizadores que lá se instalaram. Sendo um município de pequeno porte e com uma infraestrutura urbana tímida, percebe-se a ausência de redes bancária, sistema de saúde complexo e comércio atacadista, tendo uma estrutura turística insuficiente para atender as demandas em massa. No entanto, destaca-se na oferta de hospedagens em pousadas de charme e hotéis para turistas atraídos pelas praias que compõem paisagens exuberantes. E tem apresentado nos últimos anos um crescimento considerável nas estruturas de hospedagem.
No Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável- PDTIS, Polo Costa dos Corais (2012), destaca-se: “Inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Federal Costa dos Corais (Port. 12/95) (Imagem 2) e na Reserva da Biosfera Mata Atlântica (RBMA), Japaratinga forma com Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres e Maragogi, a área de maior interesse do turismo no litoral norte alagoano, recebendo turistas o ano inteiro”.
Imagem 2. APA – Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais
O clima convidativo e as paisagens são aspectos importantes na atração turística de Japaratinga, mas também o contexto ambiental impulsionado pelo conjunto biológico de ecossistemas protegidos que enriquece ainda mais a atividade com atrativos diversos na região, o que proporciona aos visitantes variadas possibilidades de experiências.
Foi no segundo Plano Nacional de Turismo do governo Federal, (desenvolvido para o período de 2007 a 2010) que surgiu a proposta da criação de polos de crescimento/desenvolvimento, uma adaptação, a Teoria dos Polos de Crescimento como foi idealizada por François Perroux. Essa política buscou identificar e estruturar 65 destinos turísticos em todo o Brasil, chamando-os de Destinos Indutores, com padrão de qualidade internacional (BRASIL, 2007). Em Alagoas, foram identificados dois desses destinos indutores, Maceió e Maragogi.
O Polo de Turismo Costa dos Corais (PTCC) é formado por 11 municípios da zona costeira Norte do Estado de Alagoas. O polo envolve os municípios de Maceió, Paripueira, Barra de Santo Antônio, São Luís do Quitunde, Matriz de Camaragibe, Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres, Porto Calvo, Porto de Pedras, Japaratinga e Maragogi (Figura 1), dos quais oito pertencem à Microrregião do Litoral Norte Alagoano e três fazem parte da Microrregião da Mata Alagoana. O Polo possui uma área territorial de 2.160,17 km², o que representa 7,77% do território de Alagoas.
Os municípios do Polo, situados nos trechos centro-oeste e norte do litoral de Alagoas, abrigam um conjunto de ecossistemas de alta relevância ambiental cuja diversidade é marcada pela transição de ambientes terrestres e marinhos. Entre as unidades mais representativas, destacam-se as praias e restingas, recifes, estuários, lagunas e manguezais.
Na Costa dos Corais, predominam as praias planas e de areias claras e finas, formando grandes enseadas. Próximo aos estuários encontram-se praias com sedimento muito fino e coloração escura e consistência lodosa, em função da influência de sedimentos carreado pelos rios. Praias diferenciadas, com falésias decorrentes da erosão eólica e hidráulica da encosta do tabuleiro costeiro, encontram-se nos municípios de Barra de Santo Antônio e Japaratinga, nos lugares denominados Carro Quebrado, Morro de Camaragibe e Barreiras do Boqueirão.
É perceptível o crescimento do município de Japaratinga e de toda região impulsionado pelo setor turístico, a infraestrutura que vem sendo qualificada para atender com eficácia a indústria turística, o que representa importante contribuição em uma região com graves deficiências infraestruturais; dessa forma, pode colaborar para mudança na vida das pessoas que vivem no entorno das atividades a ela relacionada.
As rodovias estaduais de acesso ao polo turístico, todas requalificadas e sinalizadas, o Hospital Regional do Norte, dentre outras ações governamentais em parcerias entre governos estadual e municipais, tem sinalizado investimentos importante na qualificação de infraestruturas básicas que trazem desenvolvimento e qualidade de vida às pessoas do lugar e possibilitam potencializar atividades econômicas, a exemplo do turismo, que está se tornando essencial como base da realidade local em muitos lugares.
O lugar na escala do Japaratinga Lounge Resort
O empreendimento Japaratinga Lounge Resort, inaugurado no ano 2019 no município de Japaratinga, integra o grupo de três empreendimentos administrados pelo grupo Amarante na região da Costa dos Corais em Alagoas. Os outros dois são o Salinas Maragogi All Inclusive Resort, inaugurado em 1989 e o Salinas Maceió All Inclusive Resort, inaugurado em 2008 A fundação da Amarante, responsável pela governabilidade dos três empreendimentos, aconteceu no ano 2015.
Entre eles, o Japaratinga Lounge Resort (Imagem 3) tem um perfil diferencial, por ser o primeiro All Inclusive Premium do grupo, uma modalidade hoteleira que oferece opções de consumo diversas, já inclusas alimentação e diversão, voltados ao lazer e entretenimento, disponíveis no próprio empreendimento. O empreendimento foi instalado num ambiente privilegiado de belezas naturais, na praia do Pontal, onde ocorre o encontro do Rio Salgado com o mar, no município de Japaratinga, numa área de fronteira com o município de Maragogi, no mesmo estado.
Imagem 3 – Vista do Japaratinga Lounge Resort
Possivelmente atraído pelo potencial turístico do lugar de belezas naturais exuberantes e pouco exploradas, juntamente a sua posição geográfica de proximidade ao município de Maragogi, que tem projeção nacional e internacional e uma estrutura turística considerável, contribuíram de foram decisivas na escolha do espaço para sua instalação, levando em consideração sua proposta e diferencial.
O lugar turístico de potencialidade destacada de sol e mar está presente na logo do empreendimento. O mundo no traçado esférico aponta para um espaço privilegiado de natureza com vegetação nativa e águas. O verde dos coqueirais contrasta-se com o azul do mar e brilho da incidência solar nas piscinas naturais do encontro do rio Salgado com o mar na praia do Pontal em Japaratinga – AL.
Imagem 4. Logo marga do empreendimento Japaratinga Lounge Resort
Com uma categoria pioneira no pais, All Inclusive Premium, o Japaratinga Lounge Resort dispõe de seis diferentes pontos de consumo, que envolvem as mais distintas formas de lazer e entretenimento, com pacotes que ofertam as três refeições intervaladas por lanches. O empreendimento conta com estruturas modernas e aconchegantes, numa área de mais de 87.000 m², contratada de ambientes sofisticados de acomodação a recreação com piscinas e restaurantes e uma exuberante paisagem natural com rio, praia e mar, elementos que são representados na logomarca do resort (Imagem 2).
Se trata de um lugar turístico – a escala do empreendimento –, que foi pensado, planejado e edificado para proporcionar experiências diversas a um mercado consumidor crescente no Brasil e no exterior. Esse tipo de investimento busca ofertar lazer, descanso, diversão… com ambientes especiais, preparados e temáticos, onde as pessoas procuram desfrutar de momentos de lazer e descontração, somados a tranquilidade e à mansidão de belas paisagem com piscinas naturais e outros elementos da paisagem nativa agregados, que o circundam. O resort em questão busca proporcionar experiências diferentes a cada pessoa que faz uso de seus equipamentos.
Segundo Fuentes (2015), O consumo hedônico ou simbólico refere-se a aspectos multissensoriais e emocional derivado do que é vivenciado com produtos e serviços. Dentro Nesse sentido, a experiência produzida por um destino turístico não deve ser vista apenas de uma perspectiva funcional, mas com seus símbolos subjetivos (Tradução nossa).
O lugar turístico percebido é resultado das experiências vividas na escala do seu espaço, do empreendimento, mas associado às percepções experienciadas com outras realidades vivenciadas e criadas por conhecimentos e/ou praticas.
As intencionalidades empregadas em cada ambiente da paisagem elaboradas fazem parte do conjunto de forças voltadas a atrair o consumidor desse espaço modificado que foi ressiguinificado para aflorar a imaginação e propocionar sentimentos, gerando lucros em nome de um desenvolvimento econômico e necessário às sociedades e a comunidade local.
Para Lozano (2022, pág.), “[…] los atributos emotivos emergen del comportamiento de los rasgos del servicio: el trato amable del personal de los servicios, la hospitalidad de la comunidad receptora, la estética del destino turístico, entre otros.” Wang et al., (2012) mencionan que los consumidores ahora buscan fantasías, sentimientos, diversión, etcétera, algo que estimule sus emociones y que rete su creatividad.
Na página oficial do grupo Amarante, eles se apresentam como experientes no ramo de turismo de lazer, realizando sonhos através de seus empreemdimentos, com inovação e tendo a tecnologia como ferramenta indispensável nas vendas e relacionamentos diretos com os clientes. Eles informam que querem firmar um compromisso com a preservação ambiental, tendo o turismo como vetor de desenvolvimento sustentável.
Todo processo midiático de marketing e divulgação se dão por meios digitais, em páginas oficiais, sites e redes sociais: facebook, instagran, youtube e spotify, disponiveis no site da própria administradora e dos seus empreendimentos. Isso inclui uma das ações adotadas dentre outras na política de presevação ambiental, tendo como propósito “Marcar a vida das pessoas, promovendo experiencias de descontração e bem-estar em equilibrio com a natureza”.
O grupo tem por visão até 2025, “ ser o maior, melhor e mais sustentável grupo de turismo do Nordeste’. E apresentam como valores: “Amamos gente; Somos genuínos; Vivemos em equilibrio; Respiramos a excelência; O impossivel nos inspira e Cosntruímos coletivamente”.
Nas redes sociais e páginas oficiais do Japaratinga Lounge Resort é possivel apreciar e interagir de forma dinâmica e eficaz com diversos setores do empreendimento, material audio-visual com vídeos, fotos, cards em publicações periódicas e diários do seu dia-a-dia e seus momentos festivos dão expressividade aos ambientes, que tem como plano de fundo o lugar natural de Japaratinga.
No site do Resort encontra-se a aba “ Japaratinga”, onde a pagina apresenta o lugar da seguinte forma: “No coração da Costa dos Corais, bem do ladinho de Maragogi, Japaratinga é um paraíso natural quase inexplorado entre Recife e Maceió. Praias paradisíacas, barreiras de corais, piscinas naturais e uma natureza exuberante são figuras comuns por aqui. Além de todas as praias de Japaratinga, você pode aproveitar passeios para praias e cidades próximas, todos saindo diretamente aqui do resort, com todo conforto e segurança. Conheça um pouco mais sobre tudo o que você pode conhecer se hospedando aqui no Japaratinga Lounge Resort”.
Fica evidente no discurso do empreendimento a ênfase ao potencial das paisagens naturais do lugar vivido e percebido que vão muito além do exposto, tem-se um contexto de vida social com a extração de cocos e da pesca que não ficam evidenciados, e, para situar geograficamente o leitor, faz-se uso do município de Maragogi como referência dada sua proximidade e reconhecimento dentro e fora do país como polo turístico regional.
No Instagran Japaratingaresort, outro canal de divulgação e venda do lugar turístico, segue-se a mesma linguagem do site oficial e do facebook anteriormente citado para caracterizar o lugar turístico. As duas imagens abaixo estão disponíveis nas publicações da rede social.
Imagens 5 e 6. Praia de Patacho e Propaganda do cardápio do empreendimento
Nas duas imagens os coqueirais aparecem, além de outros elementos presentes na paisagem. Como citado anteriormente, o Coco, fruto dessa árvore que compõe o conjunto retratado, está ligado à história do lugar, como importante produto da economia local e das tradições. No entanto, mesmo sendo muito utilizado em vários pratos da culinária tradicional e de consumo de sua água também em bebidas e drinks, o mesmo não está presente na imagem 5 em que se expõem as bebidas disponíveis.
A exemplo desse fato, onde não se encontrar o coco, entre as bebidas ofertadas, bem como outras que caracterizam o lugar, a cachaça derivada da cana, as batidas de frutas tropicais na divulgação, percebe-se a lógica da homogeneização do lugar em detrimento de seus aspectos socioculturais. São lugares concebidos que tem a missão de atrair, no entanto é na experiência vivida que os sujeitos atribuem sentidos aos objetos e ações que compõem as paisagens, dando-lhes significados reais que se associam à vida social, o percebido.
Considerações
O Japaratinga Lounge Resort consolidou-se como a maior estrutura turística no ramo hoteleiro, município de Japaratinga, no Estado de Alagoas, gerando mais de 500 empregos diretos e indiretos. Com sua capacidade de acomodação, o resort acrescentou significativamente o número de leitos com a disponibilidade de 250 apartamentos, além de outros impactos positivos na economia do lugar.
No entanto, como se constata no presente artigo, o empreendimento turístico, com o intuito de atrair clientes, se utiliza do potencial turístico das paisagens naturais locais favoráveis ao turismo de sol e mar, como elementos agregadores em sua escala, estruturada de forma homogênea para atender o mais diversificado público.
O lugar concebido, como se pretende que ele seja percebido, é apresentado nos diversos canais de comunicação utilizados pelo resort, dadas as funcionalidades pré-estabelecidas no contexto do empreendimento, destinados a atrair uma demanda que esteja interessada no turismo de lazer.
As experiências com os lugares dão aos indivíduos diferentes significados que os dotam de sentidos construídos no espaço vivido, geradora de significados geográficos, em constante relação com o espaço abstrato por cada indivíduo que dele faz uso.
Na escala do Japaratinga Lounge Resort, o lugar turístico se apresenta concebido por edificações planejadas que se comunicam com o natural que teve uma relação histórica para com outros agentes em tempos diferentes, sendo ressignificado num contexto de apropriação do espaço e de sua comercialização como elemento que faz parte do processo globalizante.
Referências
Alagoas. (2010): Plano de Desenvolvimento Integrado para o Turismo Sustentável – PDITS Costa dos Corais. Indústrias Criativas.
Alves, G. A. A. (2019): produção do espaço a partir da tríade lefebvriana concebido/percebido/vivido. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 23, n. 3, p. 551-563, dez. ISSN 2179-0892.
Brasil. Ministério do Turismo ( 2007) . Plano Nacional de Turismo 2007/2010: uma viagem de inclusão. Brasília: MTur. Disponível em: https://www.anptur.org.br. Acesso em: 23 jun. 2022.
Duda, J. I. de M. ( 2013): Polos de turismo em regiões subdesenvolvidas : estudo de caso do polo costa dos corais, Alagoas / João Itácito Morais Duda.
Fuentes, R. C., Moreno-Gil, S., González, C. L., & Ritchie, J. B. (2015). La creación y promoción de experiencias en un destino turístico. Un análisis de la investigación y necesidades de actuación. Cuadernos de turismo, 35(35), 71-94.
Kaspary, M. G. de A. R.( 2012): O desenvolvimento local e o desenvolvimento turístico do município de Maragogi, Alagoas / Manuela Grace de Almeida Rocha Kaspary. – 138 f. : il.
Knafou, R. ( 1996): Turismo e território: por uma abordagem científica do turismo. In: Rodrigues, A. B. (Org). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. São Paulo: Hucitec.
Lefebvre, H. ( 2013) : La producción del espacio. Madrid: Capitán Swing.
Lindoso, D.( 2000): Formação de Alagoas Boreal. Maceió: Cataventos.
Rivera Lozano, R. R. & Ortigosa Hernándes. Mauricio. ( 2022): Impacto de los atributos emotivos de un destino en la satisfacción de los turistas. El Periplo Sustentable. [S.I.], n.42, p.247-278, abr.
Luchiari, M. T. D. P.( 1999) : O lugar no mundo contemporâneo: turismo e urbanização em Ubatuba – SP. 1999. Tese de Doutorado (Doutorado em sociologia) – Universidade Estadual de Campinas: Campinas.
Santos, M. ( 1994): Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo: Hucitec.
Smith, N. (1988): Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produção de espaço. Tradução: Eduardo de Almeida Navarro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
Soares, C. ( 2009 ): Qualidade de vida – realidades e conflitos do turismo na paisagem litorânea: o caso de Saquarema/RJ. 2009 279 f. Tese de doutorado (Doutorado em ciências humanas) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 237 p.
Tuan, Y. (2013): Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel.
Tuan, Y. (1983): Espaço e lugar: a perspectiva da experiência / Yi-fu Tuan; Tradução de Lívia de Oliveira. – São Paulo: DIFEL.
Tuan, Y.( 1982) : Geografia humanística in Christofoletti, Antonio (org.). Perspectivas da geografia. São Paulo: DIFEL, p. 143 – 164.
Wang, W., Chen, J. S., Fan, L. & Lu, J. (2012). Tourist experience and Wetland parks: A case of Zhejiang, China. Annals Of Tourism Research, 39(4), 1763-1778
Xavier, Herbe. ( 2007): A Percepção Geográfica do Turismo. São Paulo: Aleph, (Série Turismo). 106 p. ISBN 978-85-7675-028-8.