FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248121845


Marcia Rachel Alves Ferraz[1]
Jacqueline Borges de Paula[2]


RESUMO

Este texto surge das discussões realizadas no curso de mestrado em Educação, na disciplina Seminário Avançado II, no decorrer das aulas a mesma discutiu temas como história do ensino, currículo, formação de professores, saberes profissionais e metodologias de ensino-aprendizagem. O objetivo principal é discutir a preparação dos professores diante do desafio de incorporar estudantes com deficiência, numa perspectiva inclusiva, ressaltando a necessidade de novas habilidades para estabelecer escolas inclusivas eficazes e o papel fundamental do professor como facilitador do processo de ensino e aprendizagem para todos os alunos, independentemente de suas necessidades específicas. Destaca a importância de compreender suas nuances para efetuar mudanças nas instituições escolares e aprimorar a formação dos professores. Salienta algumas leis e decretos que abordam a educação inclusiva, bem como a formação de professor numa perspectiva inclusiva. O texto também versa sobre os desafios enfrentados por educadores, mencionando a resistência à educação inclusiva e a necessidade de uma formação mais abrangente que mire na diversidade. Autores como Mantoan enfatizam a necessidade de debater a inclusão em toda a formação inicial e contínua dos professores. Ressalta a importância de criar ambientes de compartilhamento e reflexão entre os educadores, além de envolver todos os atores do ambiente educacional e superar barreiras estruturais para garantir uma educação inclusiva e de qualidade.

Palavras-chave: Formação de professores; Educação inclusiva; Inclusão.

Introdução

O presente texto nasce das discussões ocorridas no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, na disciplina Seminário Avançado II – Educação em Ciências e Educação Matemática, o mesmo que teve como proposta discutir a história do ensino de Ciências Naturais e Matemática; o currículo e componentes curriculares; a formação inicial e continuada de profissionais da Educação em Ciências e Educação Matemática; Saberes e conhecimentos profissionais; a formação de conceitos, metodologias e abordagens de ensino-aprendizagem; as pesquisas desenvolvidas em Educação em Ciências e Matemática.

A disciplina foi organizada em dois movimentos,  o primeiro com os temas que partiram desde a gênise, com o resgate da história da profissão docente, e para esse diálogo foram trazidos autores como Savani (2009), Tanuri (2000) e Nóvoa (2019). Quanto a natureza da função docente, Roldão (2007), Garcia (2005). Barretto (2015), Gatti (2019, 2022), foram os convidados para discussão sobre as contribuíções da pesquisa na formação de professores. Quanto a formação e desenvolvimento profissional docente, Marcelo (1999), Cruz (2020), Almeida (2020), Crecci (2018) e Echalar (2023), deram a partida das discussões. Valente (2017), Grossman (2005), foram trazidos para colaborar com o debate sobre os saberes e conhecimentos docentes. Sobre diversidade e multiculturalismo e formação de professores, Venicki (2018), González-Monteagudo e Zamora-Serrato (2019), explicitaram. E para encerrar esse primeiro movimento, os autores Felix de Lima, Dantas, Rosa (2023), Machado (2021) e Rodrigues (2023), dialogaram sobre Formação de professores e Tecnologias. Para o segundo movimento, o estudo sobre a formação de conceitos, metodologias e abordagens de ensino-aprendizagem e as pesquisas desenvolvidas em Educação em Ciências e Matemática.

O propósito deste texto é discutir a preparação de professores diante do desafio de incorporar estudantes com deficiência nas instituições de ensino. Segundo Lima (2016), salienta que é fundamental destacar que para estabelecer escolas inclusivas eficazes, que possam acolher a diversidade e garantir a participação e o aprendizado de todos os alunos, é necessário que os professores adotem um conjunto de habilidades. Importante destacar que as escolas inclusivas requerem diferentes tipos de aptidões, recursos, regulamentações, entre outros aspectos, além de níveis variados de engajamento e colaboração entre os diversos membros da comunidade educacional. Portanto, cabe ao professor assumir sua responsabilidade primordial como facilitador do processo de ensino e aprendizagem para todos os seus alunos, independentemente de possuírem ou não deficiências.

A educação inclusiva

“Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma educação voltada à cidadania global, plena, livre de preconceitos, que reconhece e valoriza as diferenças.” Mantoan[3] (2015, p.24)

Antes de iniciarmos a discussão sobre a formação dos professores para atenderem às especificidades dos estudantes com necessidades educativas específicas numa abordagem que visa a inclusão, é relevante compreender o significado de inclusão, com o intuito de conhecer seu conceito implicará as mudanças que devem ser realizadas nas Unidades Escolares, bem como delineará sobre a formação dos professores.

O termo inclusão segundo o glossário de termos sobre diversidade e inclusão significa o  “ato de incluir pessoas pertencentes a grupos de minoria, permitindo-lhes a plena participação em todo o processo educacional, laboral, de lazer e de atividades comunitárias e domésticas”.

Mantoan (2000), em sua visão, descreve a inclusão como uma ideia transformadora, um conceito revolucionário, que tem como objetivo eliminar as barreiras que sustentam a exclusão em todos os seus aspectos. Essa abordagem se estende a todas as pessoas, independentemente de estarem permanentemente ou temporariamente limitadas por diversas razões, permitindo que elas atuem e interajam com independência e dignidade em seu ambiente.

No que tange os direitos e garantias fundamentais, nossa Carta Magna determina em seu capítulo I, que se refere aos direitos e deveres individuais e coletivos, traz em seu Art. 5º que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

No tocante à igualdade, é crucial enfatizar que as pessoas apresentam diferenças individuais e necessidades diversas. O cumprimento das leis exige que sejam asseguradas as condições adequadas às particularidades e singularidades de cada indivíduo. Conforme Mantoan (2022) destaca, a relação complexa entre igualdade-diferenças envolve o entendimento e a implementação de políticas destinadas a transformar as escolas, tornando-as mais alinhadas aos princípios inclusivos da educação.

Quando entendemos que não é a universalidade da espécie que define um sujeito, mas as suas peculiaridades, ligadas a sexo, etnia, origem, crenças, tratar as pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas especificidades e excluí-los do mesmo modo; portanto, ser gente é correr sempre o risco de ser diferente. Mantoan (2022, p.17)

A escola tem como missão formar e promover o desenvolvimento integral de cada indivíduo em seus aspectos culturais, sociais, cognitivos e afetivos. Nesse ambiente, são adquiridas as regras fundamentais da convivência em sociedade. De acordo com Figueiredo, Rosa e Camilo (2002), a escola desempenha um papel vital para todas as crianças.

Dessa maneira, é fundamental (re)pensar a educação levando em consideração a diversidade[4] presente na sociedade, com o objetivo de reduzir os mecanismos de exclusão. A verdadeira democracia escolar só será alcançada quando a escola, respeitando as particularidades de cada indivíduo, for capaz de educar e ensinar a todos, promovendo simultaneamente o estímulo e o desenvolvimento da capacidade do aluno de aprender a aprender (Figueiredo, Rosa, Camilo, 2002).

De acordo com Alves (2010, p.836):

Somos seres biologicamente aptos às mesmas possibilidades, salvo algumas exceções. No entanto, não conseguimos compreender e aceitar as nossas diferenças culturais, muitas vezes justificando esta intolerância por meio das sutis diferenças biológicas. Não entendemos a nossa diversidade como forma de enriquecimento humano, não respeitamos as alteridades e diferenças presentes em sociedade. Não nos reconhecemos no outro, que, paradoxalmente, nos é tão próximo. Acostumamos-nos a encarar o mundo de forma não-familiar. Não entendemos que, independente de cor, forma física ou classe social, todos possuímos uma subjetividade ímpar e, assim, tudo acaba destituindo aquilo que consolida a nossa existência.

Nesse contexto defendemos que para a viabilização de uma educação pautada numa perspectiva inclusiva, é crucial reconhecer a necessidade não apenas de adquirir conhecimento, mas também de desaprender preconceitos enraizados relacionados às diferenças entre as pessoas. Esse processo implica uma transformação de mentalidades, indo além da simples aquisição de informações.

A promoção de uma educação verdadeiramente inclusiva exige a superação de estereótipos e preconceitos que podem prejudicar a convivência e o pleno desenvolvimento de todos os alunos. Isso implica em conscientizar-se da riqueza que a diversidade traz ao ambiente escolar, valorizando as várias maneiras de ser e aprender. Essa transformação demanda abertura, diálogo e uma profunda mudança na cultura educacional, visando garantir que cada aluno tenha a oportunidade de prosperar e contribuir de maneira significativa para a comunidade escolar, independentemente de suas diferenças. Portanto, o “desaprendizado” de preconceitos é um passo essencial na construção de uma sociedade e sistema educacional mais inclusivo e justo.

A declaração de Salamanca (1994) ratifica, como um de seus princípios básicos, que pessoas com necessidades especiais vem receber a mesma educação, sem qualquer distinção em relação a suas limitações (BRASIL, 1994). Na LDB 9394/96, em seu artigo 58º, é determinado que a educação para  alunos com necessidades especiais seja ofertada, preferencialmente, na rede regular de ensino (BRASIL, 1996), ou seja, uma lei que tem por objetivo garantir, a todas as pessoas com necessidades específicas de aprendizagem, o direito ao estudo e aprendizado em interação e convivência com os demais alunos da escola regular.

A Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEP-EI/2008), reitera, também, que estudantes com necessidades específicas sejam matriculados em turmas regulares e, se necessário, que possam contar com o apoio complementar especializado, realizando atividades diferenciadas das praticadas em sala comum sem substituir, contudo, as atividades voltadas ao processo de escolarização. Trata-se, assim, de um atendimento complementar à formação dos alunos, cujo propósito seja fomentar a autonomia e a independência dentro e fora da escola visando, sobretudo, a inclusão desses indivíduos.

Deve-se discutir, então, o que se entende por inclusão. Incluir significa      fazer parte de um grupo, pertencer a ele, ser aceito como se é, ser respeitado e valorizado com suas características individuais, participar desse grupo, das atividades e oportunidades dadas a todos. Significa considerar, respeitar e valorizar a diversidade, as diferenças, como elementos constituintes das relações entre os diferentes sujeitos humanos nos diferentes grupos de que participa e nos diferentes espaços em que transita (Grassi, 2008, p.5).

Base Nacional Comum Curricular (2018, p. 9)[5], afirma que deve-se “valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva”.

Conforme destaca o Parecer do Conselho Nacional de Educação/Câmera de Educação Básica (CNE/CEB nº 7/2010)[6]

Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional da instituição escolar, que não tem conseguido responder às singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se inadiável trazer para o debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão social, que garanta o acesso e considere a diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos. Trata-se das questões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas por categorias que se entrelaçam na vida social – pobres, mulheres, afrodescentendes, indígenas, pessoas com deficiência, as populações do campo, os de diferentes orientações sexuais, os sujeitos albergados, aqueles em situação de rua, em privação de liberdade – todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a ser contemplados pelas políticas públicas. (Brasil, 2010, p. 10)

Nesse contexto, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146 de 2015, ressalta e fortalece o papel central da acessibilidade como um instrumento crucial para a promoção da inclusão. A legislação destaca a necessidade premente de aprimorar os sistemas educacionais, com o objetivo de garantir que todas as pessoas, independentemente de suas capacidades ou limitações, tenham igualdade de oportunidades para acessar, permanecer, participar e aprender no ambiente escolar.

Essa abordagem exige a disponibilização de serviços e recursos de acessibilidade que tenham a capacidade de eliminar as barreiras que podem dificultar ou impossibilitar a participação plena das pessoas com deficiência na educação. Isso abrange a adaptação de materiais didáticos, a infraestrutura das escolas, a oferta de profissionais de apoio, o desenvolvimento de tecnologias assistivas e uma série de outras medidas destinadas a garantir a igualdade de acesso à educação.

A ênfase na eliminação de barreiras e na promoção da inclusão, como preconizado por esta lei, demonstra o compromisso do Brasil em criar um sistema educacional mais equitativo, onde cada indivíduo tenha a oportunidade de desenvolver todo o seu potencial, independentemente de suas capacidades funcionais. Essa abordagem não apenas fortalece os direitos das pessoas com deficiência, mas também enriquece a sociedade como um todo, ao reconhecer e valorizar a diversidade e contribuições de todos os seus membros.

Cabe ressaltar, também, que a legislação, tanto internacional quanto nacional, tem sinalizado caminhos que indicam a execução de práticas que favorecem o acesso às escolas de ensino regular pelos estudantes com deficiência, dentre os com deficiência visual, e prescrever mecanismos legais para que esses estudantes possam ter aprendizagem de qualidade. No entanto, isso não garante seu sucesso. A sociedade, as escolas e os professores precisam se mobilizar para trabalharem e proporem respostas às adversidades que cercam o processo de inclusão da diversidade humana. (Rosa[7]2015, p.18).

Considerando o exposto, a inclusão nas escolas não deve ser encarada meramente como uma meta a ser atingida, mas sim como um compromisso contínuo voltado para a melhoria das condições e oportunidades de aprendizado de todos os estudantes. Isso, por sua vez, demanda a constante formação dos professores, de modo que se sintam capacitados a atender às necessidades individuais dos alunos dentro das salas de aula.Parte superior do formulário

Formação de professores com vistas a inclusão

“O professor inclusivo não procura eliminar a diferença em favor de uma suposta igualdade do alunado – tão almejada pelos que apregoam a homogeneidade das salas de aula. Ele está atento aos diferentes tons das vozes que compõem a turma, promovendo a harmonia, o diálogo, contrapondo-as, complementando-as.” Mantoan[8] (2015, p.24)

O ambiente escolar urge pela descoberta de caminhos para uma prática educativa que mire os contrastes, a diversidade e que permita condições de aprendizagens para todos os educandos, de modo que, de fato, haja uma prática inclusiva. Para tanto, é preciso admitir as diferenças no contexto escolar, assegurar e promover uma educação de qualidade para todas e todos, atendendo as necessidades específicas de cada aluno.

Em relação às leis brasileiras que abordam a formação dos profissionais da educação brasileira, destacamos a Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96) que prevê a importância da preparação adequada dos professores como requisito para inclusão, bem como o sistema de ensino assegurarão aos educandos: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades.

A Proposta de Diretrizes Para a Formação de Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior (Brasil, 2000), apresenta a necessidade de mudanças na educação básica no Brasil e os desafios significativos para a formação de professores. A lei destaca que o papel do professor está passando por questionamentos e redefinições, influenciados por novas perspectivas educacionais, revisões nas teorias de desenvolvimento e aprendizagem, e o impacto da tecnologia da informação e das comunicações nos processos de ensino e aprendizagem, incluindo metodologias, técnicas e materiais de apoio. Este cenário delineia uma demanda educacional para a qual os professores não foram inicialmente preparados, destacando a necessidade urgente de atualizações na formação docente para enfrentar efetivamente esses desafios em constante evolução:

Orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos; responsabilizar-se pelo sucesso da aprendizagem dos alunos; assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos; incentivar atividades de enriquecimento curricular; elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares; utilizar novas metodologias, estratégias e materiais de apoio; desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe. (Brasil, 2000).

A Política Nacional de Educação especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008) que tem como objetivo assegurar a educação escolar a alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orienta os sistemas de ensino para garantir dentre alguns pressupostos do que tange a educação inclusiva, a “formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão”.

Assegurar uma educação de qualidade que atende todos os estudantes, com suas demandas educacionais, especificidades e diversidade, não é uma tarefa fácil, tem seus desafios e por vezes amedrontaram educadores ao longo da sua jornada. Há no contexto educacional profissionais que trazem consigo atitudes e falas resistentes à educação inclusiva, em seus argumentos apontam não estarem preparados para atender essa demanda e que em sua formação inicial não houve subsídios para esse trabalho. Medeiros (2009) traz que a formação de professores é um processo que envolve conhecimento teórico e prático e que a formação de professores e a Educação Inclusiva está em fase de desenvolvimento, pois nos programas de formação inicial, o tema ainda recebe pouca atenção, frequentemente limitando-se a um ou dois componentes curriculares, no entanto precisamos romper com a ideia de que a formação inicial nos dará as respostas para todas as complexidades existentes no âmbito educacional. Nesse quesito, Mantoan (2015) traz:

Eles esperam por uma formação que lhes ensine a dar aulas para os alunos com deficiência, dificuldades de aprendizagem e/ou problemas de indisciplina. Ou melhor: anseiam por uma formação que lhes permita aplicar esquemas de trabalho pedagógico predefinidos às suas salas de aula, garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem encontrar nas es- colas ditas inclusivas. Grande parte desses profissionais concebe a formação como mais um curso de extensão, de especialização, com uma terminalidade e um certificado que convalida a sua capacidade de ser um professor inclusivo. (Montoan, 2015, p.79)

É importante que na formação inicial a pauta educação inclusiva, bem como os desafios no que tange a diversidade no âmbito educacional, seja debatida em todas as disciplinas, pois não há sala de aula com o perfil homogêneo, que é idealizada por muitos professores, esses indivíduos são seres ímpares, com suas especificidades e necessidades de aprendizados diversos.

Mantoan (2015), acrescenta que a formação do professor para a educação inclusiva demanda uma redefinição do seu papel, da escola e das práticas pedagógicas dentro de um contexto tradicionalmente excludente. A transformação necessária vai além das concepções convencionais de educação, exigindo uma revisão completa dos programas de formação profissional e um constante aprimoramento. A mudança gradual na compreensão da importância da formação inicial e continuada para a inclusão escolar está sendo percebida pelos responsáveis pelas políticas educacionais, e isso não é o bastante. A autora pontua a relevância do compartilhamento e reflexões das práticas entre os professores em busca de descobrir juntos, caminhos pedagógicos da inclusão.

Daí a necessidade de se formar grupos de estudos nas escolas para a discussão e a compreensão dos problemas educacionais, à luz do conhecimento científico, e de se discutir interdisciplinarmente as situações-problema com parceiros de outras áreas, quando necessário. (Mantoan, 2015, p.82)

Nesse sentido, Manrique, Maranhão e Moreira (2016) destacam que para criar um processo de formação continuada de professores, é crucial garantir um ambiente onde eles se sintam à vontade para compartilhar seus problemas e experiências. Isso ajuda a estimular conversas, e promover uma aproximação entre a prática e teoria. E para além, é essencial que os professores se sintam parte do processo e com as trocas de experiências promovam a reflexão da sua práxis.

No entanto pensar na formação de professores de forma isolada, não garantirá uma educação com viés inclusivo e de qualidade, é imprescindível envolver todos os atores que atuam no espaço educacional, pensar nas barreiras estruturais que dificultam o trabalho dos profissionais, bem como remunerar os profissionais para que os mesmos se sintam valorizados e motivados a busca pelo crescimento profissional.

Considerações

A escola é um ambiente educacional que busca a formação humana, assim é importante que todas as pessoas sejam bem recebidas no espaço, sem exclusões. Uma escola com essa perspectiva reconhece que cada aluno é diferente e vislumbra que todos tenham acesso às aulas com mesmas oportunidades e aprendam juntos. A luta contra o preconceito deve ser constante, para que as crianças sejam tratadas com justiça. Isso auxilia a construir uma sociedade melhor, onde as diferenças são valorizadas.

Além disso, uma escola inclusiva quer que os alunos se sintam ligados ao que estão aprendendo, ajudando-os a resolver problemas do dia a dia. Sabemos que cada aluno aprende em seu próprio ritmo, então cabe ao professor ser sensível e encontrar maneiras de ajudar cada um a aprender melhor, nesse movimento ele estará se tornando um educador mais eficiente.

Pensar na formação de professores para a educação inclusiva é crucial para garantir que essa prática ocorra de maneira adequada. Significa compreender e atender às especificidades educacionais de cada estudante, assegurando o direito legal à inclusão.

Para efetivar a inclusão, é essencial que todos os participantes aceitem os desafios, acreditem na possibilidade de mudança e ampliem as ações propostas, seja o governo, os professores de chão de escola, a gestão escolar, bem como toda a comunidade. Somente dessa forma a educação inclusiva deixará de ser apenas uma obrigação legal estipulada por documentos educacionais e se tornará uma realidade concreta nas escolas e na sociedade como um todo.

REFERÊNCIAS

ALVES, N. M. M. Diversidade humana: o desafio moderno de aceitar o outro.  Brasília, 2010. In: IV Congresso Centro-Oeste de Ciências do Esporte. Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/4concoce/4concoce/paper/viewFile/2587/1241Acesso em 15/01/2021.

Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

__________. Conselho Nacional de Educação. Proposta de Diretrizes para a formação inicial de professores da educação básica, em cursos de nível superior. Brasília, 2000.

__________. Lei. lei n. 7863 de 24 de outubro de 1989. Disponível em: lei-7853-24-outubro-1989-365493-normaatualizada-pl.pdf (camara.leg.br). Acesso em 25/11/2023.

__________. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

_________. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Revista Inclusão, 2008. Disponível em: EDUCAO INCLUSIVA: POLTICA NACIONAL DE EDUCAO ESPECIAL (mec.gov.br). Acesso em 25/11/2023.

FIGUEIREDO, Rita Vieira.; ROSA, Dalva. E. Gonçalves & Souza; CAMILO , Vanilton. Políticas organizativas e curriculares, educação inclusiva, 2002

GRASSI, Tânia Mara. A Inclusão e os Desafios para a Formação de Docentes: Uma Reflexão Necessária. Paraná, 2008. Disponível em: (Microsoft Word – Artigo sobre inclus\343o vers\343o final 1dII.doc) (diaadiaeducacao.pr.gov.br). (mec.gov.br) Acesso em: 19/11/2021.

MANRIQUE, Ana Lúcia; MARANHÃO, Maria Cristina Souza de Alburquerque; MOREIRA, Geraldo Eustáquio (Orgs.). Desafios da Educação Matemática Inclusiva: Formação de Professores. 1ª ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2016.

MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Educação para todos: desafios, ações, perpectivas da inclusão nas escolas brasileiras. ETD: Educação Temática Digital, 2000.

MANTOAN, Maria Tereza Eglér; PRIETO, Rosângela Gavioli; ARANTES. Inclusão Escolar: Pontos e Contrapontos. In Valéria Amorim (Org.). 7ªed. São Paulo: Summus, 2022

MEDEIROS, C. Saberes Docentes e Autonomia dos Professores. 2 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça: Glossário de termos sobre diversidade e inclusão. Disponível em glossario-termos-diversidade-e-inclusao-web.pdf (crpsp.org.br). Acesso em 31/10/2023.

ROLDÃO, Maria do Céu. Função docente: natureza e construção do conhecimento profissional. Revista Brasileira de Educação. v. 12, n. 34, jan./abr. 2007, pp.94-181. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413- 24782007000100008. Acesso em 25/11/2023.

UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Unesco. Brasília, 1994. formação de professores. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002. Disponível em: Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e Práticas na Area das Necessidades Educativas Especiais, 1994 – UNESCO Digital Library. Acesso: 07/09/2021.


[3] MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer?. São Paulo: Summus, 2015.

[4] Aqui adotaremos o termo diversidade segundo Mantoan (2015), que destaca a importância da diversidade na educação como uma abordagem inovadora para acolher indivíduos diversos na escola, abrangendo aqueles com diferentes origens, identidades de gênero e aqueles que podem ser excluídos socialmente. Nesse contexto, a inclusão implica adaptar o ensino para atender às necessidades individuais de cada aluno, ao invés de seguir um único padrão ao longo do ano letivo. Em síntese, a inclusão visa levar em consideração as características e habilidades únicas de cada estudante.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Summus, 2015.

[5] BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base, 2017.Disponível em: BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf (mec.gov.br) Acesso em: 03 nov. 2023.

[6] BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmera de Educação Básica. Parecer nº 7, de 7 de abril de 2010. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de julho de 2010. Disponível em: CNE_PAR_CNECEBN72010.pdf. Acesso em: 03 nov. 2023.

[7] ULIANA, Marcia Rosa. Formação de professores de matemática, física e química na perspectiva da inclusão de estudantes com deficiência visual: análise de uma intervenção realizada em Rondônia.  2015. 314 f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Mato Grosso, Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Cuiabá, 2015.

[8] MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer?. São Paulo: Summus, 2015.


[1]Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação na Universidade Federal de Mato Grosso (PPGE/UFMT), na linha de pesquisa: Educação em Ciências e Educação Matemática, sob orientação da profa. Dra. Jacqueline Borges de Paula. E-mail: mferrazmatematica9@gmail.com.

[2] Doutora e Mestre em Educação Matemática pelo PPGE/UFMT/IE, linha de Pesquisa: Educação em Ciências e Matemática.