CITIZENSHIP TRAINING: RESCUING CITIZENSHIP
FORMACIÓN PARA LA CIUDADANIA: RESGATAR LA CIUDADANIA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249131110
Káthia Susana Almeida
Resumo:
O objeto destaca que o adolescente, procedente de família excluída, estudando em escola precarizada, encontra no Programa Jovem Aprendiz uma oportunidade de profissionalização. O objetivo geral visa compreender os contextos cultural, familiar e escolar dos adolescentes. Os objetivos especificos são descrever o contexto cultural; discorrer sobre o cenário familiar; explanar o ambiente escolar. A metodologia destaca que a pesquisa em sua estrutura é qualitativa, tendo em vista que os procedimentos de coleta de dados se classificam na modalidade de observação participante. Os resultados destacam que da riqueza dos depoimentos ouvidos observa-se a obtenção da mudança de realidade dos jovens diante da oportunidade de se profissionalizarem. Houve aditamento da auto-estima, postura, comportamento, forma de vestir e melhora da comunicação com os colegas e as instituições. Esses adolescentes realçam a importância do curso neste despertar para o mundo do trabalho. A conclusão destaca que os adolescentes, por meio do Programa Jovem Aprendiz, obtêm benefícios como melhor qualidade técnica, inclusão no mercado de trabalho, integração social, resgate da cidadania e formação cidadã edificando uma sociedade equitativa.
Palavras–chave: Adolescente. Cultura. Escola. Família. Menor Aprendiz.
Abstract:
The object highlights that the teenager, from an excluded family, studying in a precarious school, finds in the Young Apprentice Program an opportunity for professionalization. The general objective is to understand the cultural, family and school contexts of adolescentes. The specific objectives are to describe the cultural context; talk about the family scenario; explain the school environment.The methodology highlights that the research in its structure is qualitative, considering that the data collection procedures are classified in the participant observation modality. The results highlight that from the wealth of testimonies heard, it is possible to obtain a change in the reality of young people in view of the opportunity to become professional. Self-esteem, posture, behavior, dress and improved communication with colleagues and institutions were added. These teenagers emphasize the importance of the course in this awakening for the world of work. The conclusion highlights that adolescents, though the Young Apprentice Program, obtain benefits such as better technical quality, inclusion in labor market, social integration, citizenship rescue and citizen formation, building an equitable society.
Keywords: Adolescent. Culture. School. Family. Apprentice.
Resumen:
El objeto destaca que el adolescente, proveniente de una familia excluida, que estudia en una escuela precaria, encuentra en el Programa Joven Aprendiz una oportunidad de profesionalización. El objetivo general pretende comprender los contextos culturales, familiares y escolares de los adolescentes. Los objetivos específicos son describir el contexto cultural; discutir el escenario familiar; Explicar el ambiente escolar. La metodología destaca que la investigación en su estructura es cualitativa, considerando que los procedimientos de recolección de datos se clasifican como observación participante. Los resultados resaltan que la riqueza de los testimonios escuchados muestra un cambio en la realidad de los jóvenes ante la oportunidad de convertirse em profesionales. Hubo un aumento de la autoestima, la postura, el comportamiento, la forma de vestir y una mejor comunicación con compañeros e instituciones. Estos adolescentes resaltan la importancia del curso en este despertar al mundo del trabajo. La conclusión resalta que los adolescentes, a través del Programa Joven Aprendiz, obtienen beneficios como mejor calidad técnica, inclusión en el mercado laboral, integración social, recuperación de la ciudadanía y formación ciudadana, construyendo una sociedad equitativa.
Palabras clave: Adolescente. Cultura. Escuela. Familia. Aprendiz.
Introdução:
Cultura é uma perspectiva do mundo que as pessoas passam a ter em comum quando interagem. Família, enquanto classe de indivíduos com um estigma inato, é obstaculizada, excluída e invisibilizada pela sociedade. Escola, com cenário precarizado, alunos excluídos, corpo docente sobrecarregado, suscita desigualdades sociais.
O objeto, neste estudo, é o Programa Jovem Aprendiz que facilita o encontro do primeiro emprego e vincula o trabalho com a educação. O problema reflexiona porque os adolescentes almejam uma oportunidade em um Programa de Jovem Aprendiz? O objetivo geral visa compreender os contextos cultural, familiar e escolar dos adolescentes. Os objetivos especificos são descrever o contexto cultural; discorrer sobre o cenário familiar; explanar o ambiente escolar. As hipóteses são a gravidade do quadro de miséria para a família pobre representa a instabilidade de laços afetivos e esgarçamento de solidariedade; o ambiente familiar obstaculiza a saúde emocional e o desenvolvimento cognitivo dos adolescentes; a linguagem, os hábitos, os costumes e os valores familiares são distintos da comunidade escolar.
Embasamento Teórico:
A cultura, compartilhada na interação, constitui uma perspectiva consensual sobre o mundo e dirige os atos neste universo.
As ideias a respeito do mundo são aprendidas dos outros por meio da interação em famílias, escolas e em todas as formas de instituição social. Se procura o apoio do grupo para aquilo em que se acredita; se testam as ideias uns com os outros; se aceitam as sugestões que são sustentadas pelas pessoas com quem se relaciona e que são importantes. A crença é incentivada pelo fato de que as organizações comunitárias são importantes para uma identidade, para o significado como indivíduos.
A cultura distingue aqueles com quem se interage. A instituição social significa uma visão universal única.
A sapiência é uma herança coletiva; consiste em ideias que podem se ter desenvolvido muito antes de se nascer. A sociedade tem uma história mais longa do que a vida de qualquer indivíduo, as ideias desenvolvidas no decorrer do tempo são ensinadas a cada geração.
As organizações comunitárias são os veículos da cultura. Se é socializado para aceitar as sugestões dos que têm do seu lado muitos anos de história, uma longa tradição. As instituições também têm uma gênese, assim como as comunidades e grupos.
Uma sapiência é uma perspectiva comum, um conjunto de ideias que as pessoas desenvolvem e aprendem na interação social.
Cada sociedade desenvolve uma cultura que possui um conjunto de verdades, e o mesmo faz cada comunidade da sociedade, cada organização formal, grupo e díade.
As ideias são culturais, são formadas nas instituições sociais e ensinadas às pessoas como membros delas. Mesmo que verdadeiras em certa medida, também são limitadas para captar a realidade, pois cada uma é um enfoque, exagerando determinados aspectos da realidade e menosprezando outros.
As pessoas desenvolvem uma filosofia, um sistema de crenças, uma visão da realidade que lhes é útil e que funciona para a organização desses atores. As ideias que funcionam para as situações dos indivíduos se tornam suas verdades, uma vez que cada instituição comunitária se encontra em um contexto diferente e possui uma história distinta, as culturas são dissemelhantes.
No Brasil há oportunidades para quem labora determinantemente. É um lugar onde este tipo de pessoa pode chegar ao topo. Tem por base a competição, que traz à tona qualidades, esforços e características competitivas do ser humano. Se alguém consegue o sucesso neste sistema, será capaz de manter o que conquistou. Se não for bem-sucedido, há chances de este ator não ter se desempenhado o suficiente. Estas sugestões são cognitivas. Funcionam para proteger o sistema econômico e a desigualdade social.
Um conjunto de verdades específico de um povo pode ser funcional para algumas pessoas, se precisa lembrar também o papel da estrutura social na criação de ideias. O poder é um aspecto importante em todas as estruturas metropolitanas, os que têm mais arbítrio produzirão o maior impacto na criação da sapiência, e em geral as ideias que prevalecem na organização social como parte de sua cultura são sugestões que beneficiam mais os que detêm o condão.
A cultura também se compõe de ideias a respeito das coisas pelas quais vale a pena se empenhar ( finalidades ). Elas são de dois tipos: valores e objetivos.
Um valor é um compromisso de longo prazo por parte da instituição ou do indivíduo. É uma forte preferência, um princípio edificador em torno do qual se estabelecem objetivos e ocorre a ação. Um propósito é uma meta de curto prazo de um indivíduo ou organização comunitária em uma situação específica.
Se aprende valores nas interações. Grupos, instituições formais, comunidades e a sociedade direcionam as prioridades ensinando um conjunto de convicções. Os preceitos que o sistema societário ensina são difíceis de questionar, pois normalmente parecem ser os únicos sensatos.
Um compromisso intenso com uma organização social significa que a própria instituição se torna um valor importante para o indivíduo. Se pode estar disposto a dar o tempo, dinheiro ou até mesmo a vida por ela: se pode constatar que todo o objetivo da vida está ligado a ela.
Os valores servem a um propósito: mobilizam os indivíduos em torno de fins desejáveis e os levam a atuar de maneiras que ajudam a organização. Eles refletem o que é útil e ensinado pelos que se encontram no topo da estrutura social.
Os preceitos se refletem verdadeiramente naquilo que se faz, não no que se diz. Os objetivos, decisões e ações que revelam os valores. A vida familiar hoje em dia é menos importante do que outrora – não importa o que se diz, as decisões refletem o fato de que outros propósitos se tornam mais importantes para as pessoas.
A relação entre valores e ação é complexa. A igualdade, por exemplo, é um valor frequentemente sustentado, mas claramente não se tem a respeitado em relação às minorias raciais.
O país como uma sociedade possui um sistema de valores que se passa a compartilhar no decorrer da história. Este conjunto se compõe em parte dos preceitos do individualismo, igualdade e sucesso material. Enumerar os propósitos de um país é tarefa difícil, pois existem numerosas exceções e contradições.
Contudo, em um nível bastante geral, cada país de fato possui um sistema de valores em comum, especialmente se analisados em contraste com outras sociedades.
Dentro de um país, cada comunidade também possui um conjunto de propósitos, influenciado pela sociedade mais ampla, mas também único em virtude da interação que ocorre em determinada comunidade ao longo do tempo. Cada uma compartilha da sapiência dominante, porém cada qual é de certo modo única nos preceitos que salienta. Cada instituição formal também desenvolve um sistema de valores, e o mesmo acontece para cada grupo.
Por mais complexo e contraditório que possa ser o sistema de convicções de uma organização, ele ainda assim é diferente de outras instituições e importante para o que as pessoas fazem. Onde o individualismo é um valor de extrema importância desde o princípio da sociedade.
Os objetivos, como os propósitos, são os fins pelos quais as pessoas trabalham. Objetivos são metas práticas, preceitos são metas morais. Os alvos devem ser atingidos e substituídos por outros; os valores são guias gerais para a ação. Desígnios são os desfechos específicos em torno dos quais se organiza a ação, os remates que criam os problemas que se tenta resolver.
Os valores são importantes para os objetivos. São os compromissos abstratos de longo prazo que atuam supervisionando os alvos. Se trabalha em prol dos desígnios que são coerentes com os compromissos de propósitos.
Valores e objetivos são dois componentes da cultura. Eles surgem entre as pessoas à medida que ocorre interação com o passar do tempo.
Sapiência significa concordância. Sem nução nas ideias sobre a realidade, propósitos e objetivos, os grupos enfrentarão conflitos, tensões, e talvez dissoluções.
As normas são as expectativas que se tem uns dos outros, como se espera que se atue, as regras, as leis, o jeito certo.
Na interação, se concorda quanto às regras do jogo ( os meios empregados para atingir os fins ), e se aceder em as observar enquanto se está na organização social. Elas podem ser procedimentos simples a serem seguidos, ou expectativas informais, tradições, leis ou posições morais.
As organizações precisam de diretrizes para funcionar. Uma instituição comunitária necessita que seus membros concordem, ao menos em certo grau, em abrir mão de crenças pessoais e aceitar os conceitos da organização. As comunidades/sociedades possuem costumes e leis que todos devem seguir.
As normas existem em toda instituição social e fazem parte do padrão denominado cultura. Elas influenciam, moldam ou controlam ( dependendo da situação ) a ação do indivíduo.
O conceito de subcultura testifica que há muitos grupos e comunidades marcadamente distintos em uma sociedade. Ao mesmo tempo, o termo implica que ela não se desenvolve num vácuo, mas é influenciada pela sapiência mais ampla de vários modos complexos e sutis.
O termo contracultura é usado para designar outras culturas dentro da sapiência dominante na sociedade. A contracultura explicitamente rejeita as normas e valores que unem a cultura dominante, ao passo que a subcultura encontra modos de afirmar a sapiência nacional e a orientação fundamental de propósitos do sistema societário dominante.
Todas as sociedades possuem contraculturas, as quais frequentemente proporcionam o cenário para as críticas que conduzem à mudança social.
O termo cultura de grupo às vezes é empregado para designar uma sapiência que emerge em um grupo ou instituição formal. Ela também tem suas próprias ênfases e torna seus associados pelo menos ligeiramente diferentes dos não-membros.
Apesar destas distinções, é mais importante perceber que existe uma semelhança básica entre as sapiências. Todas elas são padrões sociais que emergem da interação.
A cultura é fundamental para o indivíduo e para a organização comunitária. Ela influencia o que se faz, bem como as sapiências das comunidades, das instituições formais e dos grupos.
A cultura é importante para a organização social. Ela é um dos dois padrões de toda instituição comunitária ( o outro é a estrutura ). Permite que as pessoas em interação se entendam e compartilhem uma concepção de como é o mundo e do jeito que elas devem trabalhar juntas nele. Em consequência, se é capaz de cooperar, de resolver problemas juntos, de encontrar soluções.
A maioria das pessoas não avalia o poder da sapiência. Isto acontece porque o mundo em que se está parece natural, apropriado, certo, normal. Passa a ser um universo que se aceita sem questionar. As verdades da cultura se tornam as crenças das pessoas.
A verdadeira importância da sapiência é que os seres humanos adquirem suas crenças por meio da interação. Os axiomas, princípios morais, valores e objetivos são, em grande medida, socialmente criados.
Na verdade, assim que se avalia o significado de cultura, se torna difícil considerar as verdades em termos absolutos. Algumas delas podem ser de fato axiomas incondicionais, os valores e princípios morais podem ser absolutamente corretos, mas nunca se pode ter certeza disto. Tudo o que se pode saber com fidúcia é que, em grande medida, o que se sabe e se acredita a respeito do universo foi resultado da interação. É cultural.
A realidade pode existir lá fora, independentemente do modo como a pessoa a percebe. Contudo, o modo como a vê, o que pensa sobre ela ou o que considera correto, se origina da construção social da veracidade. É por meio da vida social que se passa a saber o que existe, que se aprende o que é real, que nome dar a isto e como o usar. Entre a axioma como ela é e a autenticidade como a pessoa a vê existe uma organização social e sua sapiência, as lentes sociais por meio das quais a pessoa olha.
Souza ( 2009 ) panoramiza que as reais perturbações sociais que causam dor, sofrimento e humilhação cotidiana para dezenas de milhões de brasileiros são tornadas invisíveis.
É essa intangibilidade da sociedade e de seus conflitos, que permite um tipo de economicismo, onde os graves problemas societários e políticos sejam percebidos como questões de gestão de recursos.
É esse raciocínio economicista, que abstrai sistematicamente os indivíduos de seu contexto social, que também transforma a escola, pensada abstratamente e fora de seu cenário, em solução para todos os males da desigualdade.
O processo de competição social não começa na instituição, mas já está, em grande parte, pré-decidido na socialização familiar pré-escolar produzida por culturas de classe distintas.
Esconder os fatores não econômicos ( precondições sociais, emocionais, morais e culturais ) da desigualdade é tornar invisível as duas questões que permitem compreender o fenômeno da desconformidade social: a sua gênese e a sua reprodução no tempo.
A transferência de valores imateriais na reprodução das classes societárias enquanto capital cultural é necessario. Onde o processo de identificação afetiva legitima o privilegio, envolvendo uma vantagem na competição social seja na organização, seja no mercado de trabalho em relação às classes desfavorecidas.
As raízes familiares de reprodução do privilégio de classe e o abandono social e político secular de camadas sociais inteiras, cotidianamente exercido pela sociedade global, são tornados invisíveis para propiciar a boa consciência do privilegio, seja econômico ( estratos altos ), seja cultural ( jaezes medias ), e torna-lo legitimo.
O processo de modernização brasileiro constitui uma classe inteira de indivíduos desprovida das precondições sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação.
Essa camada social só é percebida no debate público como um conjunto de indivíduos carentes ou perigosos, tratados fragmentariamente por temas de discussão superficiais, dados que nunca chegam sequer a nomear o problema real, tais como violência, segurança pública, agrura da escola pública, carência da saúde pública, combate à fome, etc.
A legitimação do universo moderno como mundo justo está fundamentada na meritocracia, ou seja, na crença de que se supera as barreiras de sangue e nascimento das sociedades pré-modernas e que hoje só se leva em conta o desempenho diferencial dos indivíduos.
Classe de atores com um estigma inato. Essas são as pessoas que estão sempre a um passo da delinquência e do abandono. Essa camada é moderna e é criada pela impossibilidade afetiva, emocional, moral e existencial de incorporação dos pressupostos indispensáveis à apropriação tanto de capital cultural quanto de capital econômico.
O que se tem aqui, é a oposição entre um jaez excluído de todas as oportunidades materiais e simbólicas de reconhecimento social e as demais classes societárias que são, ainda que diferencialmente, incluídas.
O mito nacional é a forma moderna por excelência para a produção de um sentimento de solidariedade coletiva, ou seja, por uma comiseração de que todos estão no mesmo barco e que, juntos, se forma uma unidade.
Ainda que existam sempre interesses econômicos e políticos por trás das diferenças étnicas e religiosas, a ausência de um compadecimento compartilhado de adesão nacional é determinante, onde as rivalidades são resolvidas de forma violenta, cruel e com genocídios.
Uma identidade nacional eficiente constrói as bases não apenas da solidariedade grupal dominante, mas também é uma fonte, indispensável, em condições modernas, para a própria constituição da simetria individual de cada um.
Os obstáculos, para o pertencimento simbólico voluntario dos cidadãos comuns, são quase intransponíveis. O Brasil se via – e era efetivamente – uma nação pobre. O país que se tornou autônomo em hum mil oitocentos e vinte e dois e que, portanto, se bispa subitamente confrontado com a questão de elaborar uma identidade para si, sofria de extraordinário complexo de inferioridade, especialmente em relação à Europa, ideal e sonho inatingível da elite culta.
Para Freyre, em seu romance Casa Grande e Senzala, ser mestiço era razão de orgulho, de virtualidades positivas.
O Brasil industrial, que se inaugura em hum mil novecentos e trinta em grande escala, precisa de um ideário que conclame os brasileiros para a ação unida e conjunta, também, em grande equivalência, para a renovação nacional.
A união, a solidariedade e o amor entre raças e sapiências que comporiam a brasilidade, empiricamente visível, passa a ser ensinada nos livros da escola ( ainda hoje com pouquíssimas mudanças ), celebrada com singularidade nacional nas campanhas de propaganda do governo, carnavalizada nos sambas e desfiles, discutida e debatida nos jornais e nas universidades.
Sem praticas institucionais e sociais que estimulem e garantam a possibilidade de crítica e a independência de opinião e de ação, não existem indivíduos livres. O problema que não é fácil perceber os modos insidiosos pelos quais as práticas dos poderes dominantes constroem a ilusão da liberdade e igualdade.
O fato que faz com que o processo parental, privado, invisível e silencioso, que incute no pequeno privilegiado as predisposições e a economia moral – o conjunto de propensões que explicam o comportamento pratico de cada um – que leva ao sucesso – disciplina, autocontrole, habilidades sociais, etc. – possa ser omitido. O olvidamento do social no individual é o que permite a celebração do mérito individual. É esse mesmo deslembramento, por outro lado, que permite atribuir culpa inabitual àqueles azarados que nasceram em famílias erradas, as quais só reproduzem, em sua imensa maioria, a própria precariedade.
Será, então, que a culpa é da família pela reprodução das desigualdades, injustiças e privilégios?
As famílias de uma mesma classe social ensinam coisas muito semelhantes aos filhos, e é isso que explica que esses descendentes de uma mesma camada encontrem amigos, namorados e, depois, esposas e maridos do mesmo jaez e comecem todo o processo de novo. A endogenia de laia, ou seja, o fato de as pessoas, em esmagadora maioria, se casarem dentro de uma mesma grei, mostra, de modo claro e insofismável, que as famílias reproduzem, na verdade, valores de uma classe social especifica.
O aprendizado parental é afetivo, ele só existe porque permanece também a dependência e a identificação emotiva e incondicional dos filhos em relação aos pais.
As classes baixas no Brasil, ou mais propriamente seu patamar socialmente inferior, não possuem, muitas vezes, nem um nem outro tipo de aprendizado. Algumas vezes, ainda que alguns progenitores estimulem os filhos a irem à instituição, os motivos dessa escolha são cognitivos, da boca para fora, posto que a maior parte desses pais também não foi à organização ou não teve nenhuma experiência pessoal de sucesso escolar.
É o conflito, a luta entre necessidades, interesses ou ideias contraditórias que faz com que o indivíduo possa adquirir e formar uma personalidade própria e singular. É a altercação também que faz com que toda uma sociedade possa perceber e criticar os consensos perversos e desumanos que a perpassam e influenciam a sua história. Sem explicitar dissidências, tanto uma pessoa quanto um sistema societário estão condenados a repetir cegamente convenções e ideologias.
A incompatibilidade e sua conscientização são sempre empreendimentos custosos, que demandam muita coragem e energia, e seus resultados não são garantidos. É sempre arriscado encarar antagonismos de frente, bem como conviver com a verdade.
As pessoas que fazem o esforço cognitivo e emocional de consumir respostas crédeis são também aquelas com maior possibilidade de se criticar e aprender, pelo menos em alguma medida, quem são de verdade. Do mesmo modo, as sociedades que explicitam seus conflitos e glosam seus falsos consensos sociais aprendem a melhorar também como sodalicio e não apenas como mercado.
A ligação entre ideias e pratica política é quase sempre tornada invisível, por bons motivos para todos que precisam esquecer a gênese de seus hábitos costumeiros, ela só aparece aos olhos nos seus efeitos, ou seja, como mera tarimba sem autor, no cotidiano dos rituais da vida política. É por conta disso que, para compreender os dilemas da vida coletiva de uma sociedade, se tem que reconstruir, desde seu engendro, o fio condutor que esclarece porque certas interpretações do mundo ganham vida e outras não.
Um ponto importante é perceber a relação intima entre senso comum ( inclusive o tema de identidade nacional nele ) e ciência. Refletir com método, usando os recursos à disposição de cada tradição cientifica, exige afastamento do consenso.
É o encontro racial, empírico e facilmente observável nas ruas das cidades brasileiras, o nodal que confere plausibilidade a todo esse raciocínio, à construção de uma tendência portuguesa e depois luso-brasileira, ao encontro cultural. A emocionalidade, a ênfase dos sentimentos, a cordialidade e a sensualidade são elementos compreensíveis nesse contexto.
A teoria da ação social é um conjunto de conceitos e noções que explicam porque os indivíduos se comportam do modo como efetivamente se arrogam. Ela deve explicar por que os atores e as sociedades são diferentes entre si.
Preconceitos arraigados e conceitos ultrapassados andam de mãos dadas no sentido de impedir uma constatação mais elaborada e sofisticada das causas e consequências da modernização periférica e de suas sequelas, como a desigualdade abissal, marginalidade e subcidadania.
O racismo, apesar de disfarçado, continua na visão culturalista que também essencializa e torna homogêneos indivíduos e sociedades inteiras.
O homem cordial possui as mesmas características da teoria emocional da ação: predomínio da emoção e do sentimento sobre o cálculo racional, criando um mundo dividido entre amigos e inimigos.
A partir dela os indivíduos dessas sociedades, percebidas como pré-modernas precisamente pela ênfase na emoção e no sentimento, em oposição ao computo plausível, podem se perceber como mais calorosos, mais hospitaleiros do que as pessoas dos frios e insensíveis sistemas societários avançados.
Os conflitos sociais são cuidadosamente reprimidos na teoria enternecedora da ação. Tudo aconteceria como se todos os atores dessas sociedades integradas emocionalmente fossem essencialmente semelhantes, sem qualquer divisão de classe, e apenas diferissem na renda que ganham. Todo o processo de dominação social e de legitimação da desigualdade, ou seja, o núcleo mesmo de qualquer teoria crítica do sodalicio não pode ser discutido posto que não é sequer percebido como uma dúvida ou como uma pergunta fundamental.
O progresso econômico é percebido como uma panaceia para resolver problemas como desigualdade, marginalização e subcidadania. Existe uma crença fetichista na ascensão financeira, que faz esperar da expansão do mercado a resolução de todos os problemas brasileiros.
As mesmas características do indivíduo personalista, o homem cordial, são precisamente também as que irão caracterizar o Estado patrimonial: a divisão do mundo em amigos e inimigos e a divisão de privilégios e castigos de acordo com essa regra particularista.
O conceito de patrimonialismo e de estamento permite tirar das costas das pessoas comuns de classe média qualquer responsabilidade pelas misérias e iniquidades da vida política.
Um indivíduo incapaz de autocritica não aprende a se conhecer como ser humano e nem aprende a identificar suas necessidades, capacidades e limites.
A noção de patrimonialismo permite colocar as pessoas imediatamente no polo supostamente bom, e o da sociedade é vista como vítima porque sofre indefesa a ação parasitaria de uma elite abstrata todo-poderosa.
A ideia do estamento garante as características contraditórias. Ele é formado por pessoas, às quais podem ser atribuídas responsabilidades, ao mesmo tempo em que a própria vagueza do conceito o faz politicamente inofensivo.
O Brasil tradicional teria se desenvolvido no contexto de uma cultura personalista, porque foi constituído à sombra do Estado supostamente patrimonial. Daí o gérmen de uma cultura cívica que tanto serviu de fundamento ao heroísmo da raça dos paladinos.
O patrimonialismo é a convicção política por excelência, na medida em que ela explica o mundo de modo fácil e coerente. Sendo, ao mesmo tempo, a melhor maneira de manter privilégios arraigados entre os cidadãos. Esta tese permite defender condões, ou seja, ser uma ideologia conservadora de iniquidades, ao mesmo tempo em que dá a impressão de ser crítica da realidade.
O liberalismo sempre foi no Brasil o ideário do mercado em expansão e das classes que ganham com essa extroversão. Desde o século dezenove, mas especialmente no vinte, passa a existir uma polarização evidente entre defensores do Estado, como instancia propulsora do desenvolvimento social de um sistema societário atrasado em todas as dimensões da vida, e dos arautos da livre ação do mercado para concretizar os mesmos fins.
A opinião pública e o senso comum não são exatamente amigos da ambiguidade e da complexidade. A autocritica é difícil, custosa e demanda muita energia e coragem tanto na dimensão individual quanto na coletiva. E esse mesmo mecanismo que se imuniza contra a exproba, por reprimir todo os conflitos e contradições, que garante a permanência de ideologias frágeis como a do patrimonialismo. O leigo, o homem comum, pode garantir sua boa consciência não apenas se identificando com os virtuosos da novela, mas também condenando a maldade supostamente incorporada no Estado pelo simples fato de ser uma governança.
Com todo esse pano de fundo de ideias habita o imaginário social do brasileiro historicamente e é reproduzido diariamente nas famílias por pessoas que se amam, e nas instituições e nas universidades por atores que são respeitados, a sua amiudade se torna automática e não refletida. Quando essa realidade adulterada e simplificada ainda é repetida por especialistas com a autoridade da ciência, que deveriam precisamente criticar os automatismos e os aspectos não refletidos do senso comum, então se compreende a situação de extraordinária pobreza do debate público e político brasileiro. Por isso todos falam em cortar gastos do Estado como um bem em si, para além de qualquer justificação, porque o sistema oficial, de todo modo, apenas gere mal, por definição, todos os recursos. Melhor deixar esse dinheiro com o mercado, que talha recursos, por definição, com eficiência: esta é uma ótima ideologia para a manutenção de privilégios dos que lucram com a desigualdade social.
Existe uma relação intima entre pobreza e debate cientifico versus lazeira da capacidade de reflexão pública. As ideias que habitam a cabeça de políticos, homens da mídia, formadores de opiniões de todos os tipos etc. são, na sua imensa maioria, concepções de intelectuais e de pensadores. Foi a ciência que herdou o prestigio e a autoridade que antes eram privilégios das religiões e dos grandes profetas religiosos. É bom relembrar isso num pais tão colonizado pelo dado econômico que só percebe a realidade material que o dinheiro constrói. Mesmo esse axioma de hipereconomicismo que povoa a nação é, antes de tudo, um produto de representações, precisamente de um tipo de liberalismo mesquinho e redutor, que sob a aparência de crítica social reproduz, na verdade, um consenso societário responsável por uma das mais injustas e perversas sociedades globais.
Ceccon; Oliveira e Oliveira ( 1984 ) proferem que os pais estão muito preocupados porque nem todos os filhos conseguem ter vaga na organização e, mesmo os que granjeiam, começam a ter resultados ruins. São reprovados, tem que repetir o ano e correm o risco de sair sem ter aprendido nada.
Os progenitores se sentem culpados porque não são capazes de ajudar os descendentes como gostariam nos deveres de casa e na preparação dos exames. Eles chegam exaustos do trabalho, ainda tem de se ocupar com os menores e, muitas vezes, não dominam os conhecimentos e as matérias que a escola exige.
Os professores por sua vez se sentem sobrecarregados e desvalorizados em seu trabalho. Suas condições laborais são ruins: classes superlotadas, falta de material didático, programas muito extensos e complicados, etc.
Cercados por dificuldades de todos os lados, os educadores se sentem cansados e desanimados.
Para os alunos a instituição é um lugar no qual eles não se sentem bem nem à vontade. A organização não tem nada que ver com sua vida de todo o dia.
Todo mundo quer que a comunidade acadêmica seja uma espécie de escada que conduz a um andar superior, a uma melhoria de vida, a um bom emprego com um sumo salário.
Essa expectativa em relação ao que a escola pode e deve fazer ainda é mais forte nas camadas sociais mais pobres. Para o povo, ela é praticamente o único meio de ascensão econômica, de subida na vida. O sucesso nos estudos seria a grande oportunidade oferecida a todos para compensar as desigualdades societárias.
A grande esperança dos que lutam pela instituição obrigatória e gratuita é com um ponto de partida igual para todos e com um mesmo percurso, nove anos de ensino básico, eles teriam agora oportunidades iguais de sucesso.
Há um abismo entre essas promessas e a realidade, entre as intenções e os fatos, entre o que a organização deveria ser e o que, de fato, é.
Na verdade, a escola produz muito mais fracassos do que sucessos, trata uns melhores do que outros e convence os que perdem de que malogram porque são inferiores. Ela só educa e instrui uma minoria. A grande maioria é excluída e marginalizada.
A dificuldade de acesso é maior nas zonas rurais, onde apenas uma criança em cada duas frequenta a instituição. Nas regiões mais pobres, como o Nordeste, apenas uma em cada três consegue estudar.
A organização atende mais e melhor às crianças dos centros urbanos e das regiões mais desenvolvidas do pais, o que só faz agravar as desigualdades entre distritos ricos e pobres.
Um grande número dos educandos que consegue se matricular na primeira série é, no entanto, reprovado nos exames de fim de ano e é obrigado a repetir ou sair da escola.
As reprovações e repetências continuam nos anos seguintes, só diminuindo nas últimas series da escolaridade obrigatória: elas diminuem na medida mesma em que aumenta o número de alunos que param de estudar e abandonam a instituição.
O número de educandos que enjeitam de vez os estudos aumenta consideravelmente a partir dos dez/onze anos de idade. É nessa fase que muitos têm de começar a trabalhar para sobreviver e ajudar a família.
Apenas doze por cento – ou seja, praticamente apenas um em cada dez – dos educandos que frequentam o primeiro ano conseguem terminar a escolaridade obrigatória.
São sobretudo as crianças provenientes das camadas populares e do meio rural que fracassam na escola e são forçadas a interromper seus estudos.
São os pais das crianças que baldam os que fizeram mais sacrifícios para que seus filhos pudessem estudar. Foram eles que lutaram e, por vezes, esperaram anos até conseguir vaga para matricula-los.
Os menores pobres são, em sua imensa maioria, excluídos da organização, sem qualquer qualificação ou diploma, sem ter aprendido nada de útil para sua vida e seu trabalho. Praticamente a única lição que os anos de escola ensinam é a de se considerarem a si mesmos como inferiores e sãos os outros, os que tiveram sucesso.
Eles saem da instituição, mas levam consigo a marca e a humilhação do fracasso: saem convencidos de que malograram porque são menos bem-dotados, menos inteligentes e capazes dos que os outros.
O destino da grande maioria é aceitar os trabalhos mais duros, de remuneração mais baixa e com maior risco de desemprego na hora da crise.
Muitos observam o atraso organizacional como um fato psicológico, como a consequência de um problema individual próprio à criança.
O falhanço escolar seria culpa de sua família, de seu meio social e de suas condições de vida.
A pobreza e a miséria influem muito nos resultados institucionais.
O trabalho prejudica o rendimento organizacional e o aluno acaba de reprovação em repetência abandonando a escola.
A criança desa porque não consegue corresponder ao que a instituição exige.
Alguns progenitores de educandos acham que a responsabilidade da professora é muito grande nos bons e maus resultados organizacionais de seus filhos. Acreditam que ela seria capaz de fazer milagres se fosse dedicada, interessada e não faltasse nunca à aula.
Os pais se sentem intimidados e humilhados diante da educadora que tem de fato um grande poder sobre o destino de seus filhos e que, muitas vezes, não leva em conta todas as dificuldades e sacrifícios que eles enfrentam para que os menores estudem.
Os regulamentos e exigências escolares são vistos como a causa de muitos dos problemas que as crianças e os pais têm de enfrentar: há o problema da falta de vagas, nem todos os alunos conseguem matricula no primeiro ano com a idade certa.
Depois tem o problema da localização da instituição. Muitas vezes as mães não conseguem vaga na organização mais próxima de sua casa. As crianças são obrigadas a fazer todos os dias longos trajetos de ida e volta.
O horário rígido da escola é muito criticado. Ele não é estabelecido em função dos interesses e da situação real da população, mas sim em função de critérios definidos pelas autoridades do ensino.
Depois vem o problema das despesas com as coisas que a instituição exige. A organização, em princípio, é gratuita. Mas, de fato, não é. Os pais têm de pagar as taxas, o material acadêmico, o uniforme, etc.
Muitos embaraços apontados poderiam ser resolvidos se a escola tivesse uma outra atitude face à inópia. Até hoje a instituição tratou a lazeira como se ela fosse culpa das pessoas, um defeito de nascença que só vem atrapalhar o trabalho na organização. E, de fato, emaranha porque ela não foi pensada para os pobres.
Não se procura adaptar a escola às necessidades dos desprovidos, o que seria perfeitamente possível; mas, ao contrário, se pede a eles que se encaixem a uma instituição que não foi feita para eles, o que é praticamente impossível. E, como eles não conseguem fazer esse milagre, vão sendo pouco a pouco eliminados, o que faz desaparecer o problema.
Os menores chegam à organização numa situação desigual.
Para acabar com o fracasso em massa das crianças mais pobres é preciso ver e compreender como a escola está disposta por dentro. É necessario conhecer os mecanismos e o modo de funcionamento dessa engrenagem que faz com que uns poucos tenham sucesso e que a grande maioria malogra.
A lei diz que a instituição é a mesma para todos. Mas, na realidade, existem grandes diferenças entre elas: existem as boas e as carentes.
Nas organizações carentes os professores estão sobrecarregados e insatisfeitos. Por causa disso, ficam pouco tempo na escola. O material didático ( cartilhas, livros, etc. ) é inadequado e insuficiente. As turmas estão superlotadas e os menores têm menos tempo de aula. Nestas instituições, os educadores faltam com mais frequência, os educandos são rebeldes ou desinteressados e há mais problemas de disciplina.
Como não têm quem se ocupe deles, os menores pobres aprendem a cuidar de si mesmos e a resolver sozinhos as agruras que forem aparecendo. Eles inventam brinquedos e jogos com muita imaginação e poucos recursos. Aprendem a sobreviver na rua e começam desde pequenos a fazer diminutos bicos para ganharem a vida. Eles vivem situações e enfrentam problemas que as crianças de classe média não conhecem.
Dentro da organização tudo muda. Essas mesmas crianças que sempre souberam se virar sozinhas, que aprenderam observando e fazendo, que em casa e na rua são espertas e faladoras, na escola não entendem o que a professora diz, se sentem incapazes de aprender, se fecham em si mesmas, vão se tornando caladas, tristes e passivas.
Logo que ele entra na instituição, o menor pobre tem de aprender a expressar e a escrever numa língua diferente daquela em que sempre falou, em casa, com os pais e os amigos.
Aos poucos a criança se vai tornando incapaz de se comunicar. Não entende o que a professora diz, tem vergonha de dizer que não cogita, não consegue mais acompanhar as lições, vai ficando com um medo cada vez maior de falar.
A organização não procura conhecer nem valorizar tudo aquilo que a criança já sabe, toda sua experiência de vida que ela aprendeu em casa e na rua e que ela traz para a escola. Para a instituição, o menor tem conhecimento insignificante, não traz nada de positivo, bem ao contrário. Ele traz maneiras de falar e de se comportar que precisam ser corrigidas.
A criança pobre tem poucas ocasiões de acertar, de responder cabalmente a uma pergunta, de fazer bem um exame, porque o que ela sabe não é levado em conta e o que ela tem que aprender não tem nada que ver com sua experiência de vida fora da organização.
Por isso mesmo ela é raramente cumprimentada pela professora, não se sente recompensada por seu balbucio nem estimulada a se esforçar ainda mais. As correções constantes, os maus resultados e a falta de estimulo se vão acumulando e acabam por tirar qualquer motivação para continuar lutando por melhores resultados.
As crianças simplesmente não entendem a maior parte das coisas que a escola ensina nem sabem por que devem aprende-las e não outras.
Os exercícios acadêmicos são, quase sempre, feitos em torno de problemas que não existem na vida real. Quando a professora faz uma pergunta, ela já sabe a resposta e só aceita como afirmação certa isso que ela conhece. A instituição não ajuda os educandos a resolverem barbilhos concretos, situações que eles realmente entendem e para os quais estejam interessados em procurar a solução.
O modo como a organização ensina não ajuda o educando a aprender a aprender. Ela não instrui o que fazer para reconhecer a existência de um problema, como procurar as decifrações possíveis, escolher e testar a solução que parece melhor e verificar o resultado a que se chegou.
A escola, como está organizada, não estimula a solidariedade, a ajuda mutua entre os alunos ou o trabalho em equipe. A regra fundamental da instituição é de que cada um deve se virar como puder.
A pequena minoria de educandos que tem sucesso na organização atribui esses bons resultados a seus próprios méritos e talentos. Isso faz com que se considerem a si mesmos superiores à grande maioria que fracassa.
A finalidade da escola, tal como ela existe hoje, é formar uma minoria privilegiada que, mais tarde, vai pensar, dirigir, planejar e dar ordens aos outros. Já o destino da maioria marginalizada pela instituição será o de cumprir as ordens e os planos feitos pelos donos do poder e do saber.
Os poucos educandos pobres que têm sucesso são sempre mostrados como exemplo de que todos poderiam ter vencido se realmente tivessem se esforçado. E esse mito de igualdade de oportunidades que faz com que os que fracassam se culpem a si mesmos pelos seus reveses, se sintam ignorantes e inferiores. Os que têm vitorias, por sua vez, também acreditam que devem esse desenlace a seus próprios méritos e talentos superiores.
A maneira como a escola está organizada é o resultado da composição da sociedade em seu conjunto.
Os mais pobres são marginalizados pela organização do mesmo jeito que são explorados no plano das relações de trabalho e impedidos de participar da vida política.
A escola não é democrática porque a sociedade ainda não é verdadeiramente igualitária. Os donos do poder são também os controladores do saber e os pobres são excluídos tanto da instituição quanto da participação nas decisões.
O sistema social não são só os senhorios do condão, são também todos aqueles que, até agora, não tiveram vez nem voz.
O sistema societário pode e deve mudar.
As alterações só virão se os principais interessados se mexerem. As transformações são sempre resultados das ações dos que protestam contra o tratamento injusto que vêm recebendo da organização e exigem uma escola diferente que atenda realmente os interesses da maioria.
Muita coisa pode ser feita para melhorar a instituição. No entanto, se deve começar de imediato pelas medidas que beneficiam o maior número de pessoas e atendem às necessidades dos que mais precisam.
Como são as crianças mais pobres as que mais precisam da organização, é urgente e prioritário adotar medidas que assegurem a todas elas o ingresso na escola e sua permanência no ensino pelo maior tempo possível.
Algumas dessas medidas práticas, com efeito positivo imediato, são as seguintes: prolongamento do tempo de duração da jornada instituicional; adaptação do horário e do calendário escolar às necessidades das crianças que trabalham; distribuição gratuita de todo o material acadêmico.
Em alguns lugares, se tomou a decisão de aprovar automaticamente a passagem de todos os alunos da primeira à segunda série. Com isso se evita a enorme taxa de reprovações ao fim do primeiro ano, dando mais tempo aos alunos com dificuldades de se habituarem à escola e adquirirem as habilidades e comportamentos que facilitam o aprendizado.
A educação não começa na escola. Ela começa muito antes e é influenciada por muitos fatores. Ao longo de seu desenvolvimento físico e intelectual a criança passa por várias fases nas quais o cenário da vida, isto é, o ambiente familiar, as condições socioeconômicas da família, o lugar onde se mora, o acesso aos meios de informação, têm uma importância muito grande. Os primeiros anos são decisivos: estudos demonstram que o menor tem sua estrutura básica de personalidade definida até os dois anos de idade, muito antes, portanto, do período da escola obrigatória.
Durante esse lapso é importante que a criança seja seguida de perto e estimulada a desenvolver suas potencialidades. É também nessa fase que uma alimentação equilibrada e sadia é necessária para construir uma base solida sobre a qual ela vai se fortalecer futuramente. Está provado que uma carência de vitaminas pode resultar em handicaps ao nível da inteligência. Com isto, ao chegar à instituição, algumas crianças terão serias dificuldades em seguir as demais.
A consciência de que a fase decisiva é a que antecede a educação obrigatória tem levado um número crescente de estudiosos a propor que o menor seja atendido mais cedo, como única solução para poder compensar as desvantagens que atingem as crianças mais pobres, lhes dando melhores chances de sucesso quando mais tarde entrarem na escola.
Depois dessas medidas administrativas que têm um impacto imediato, seria preciso enfrentar a questão mais complicada e difícil da mudança dos conteúdos e dos métodos de ensino.
É preciso adaptar a instituição às condições reais vividas pela grande maioria de seus alunos que vem dos lares mais desfavorecidos.
Nesse sentido, é muito importante ajudar os professores a considerarem ensinar mais e melhor. Muitas vezes é por não saberem como lidar praticamente com as dificuldades encontradas pelos menores pobres em aprender que os educadores põem a culpa nas vítimas. Com essa desculpa não levam em conta a situação real de seus educandos nem colocam em questão sua própria maneira de instruir.
É preciso garantir que todos os alunos possam aprender coisas indispensáveis como saber ler e escrever bem a língua materna; desenvolver bem o raciocínio matemático; adquirir conhecimentos básicos de história, geografia e do meio social.
O caminho a ser seguido para a mudança da organização é a mesma rota que o povo já vem trilhando em busca de soluções para tantos outros problemas de sua vida cotidiana.
Ao invés de esperar que as soluções venham de cima – das autoridades, do governo, dos especialistas – o povo mesmo resolveu agir. Discutindo juntos, em pequenos grupos e comunidades, ele começou a tomar consciência de sua própria força e de sua capacidade de deslindar decifrações recentes. É descobrindo juntas soluções novas e se ajudando umas às outras ao invés de cada uma ficar quieta e calada em seu canto que as pessoas foram compreendendo como se organizar para defenderem seus direitos. Nesta luta diária pela sobrevivência e por uma vida melhor, elas aprendem e ensinam.
Conhece na medida em que vai entendendo como funciona a sociedade e vai desmontando, pouco a pouco, essa engrenagem complicada da qual a escola é apenas uma peça. O povo identifica quando procura entender junto por que os filhos vão mal na instituição e descobre que o problema não é individual, mas sim coletivo e que sua solução depende de toda a comunidade.
Vendo, julgando e agindo juntos o povo se instrui e mostra que a educação não acontece só na organização. A gente se educa cada dia, durante a vida inteira, aprendendo das experiências que vive e assimilando ainda mais se elas são traquejadas e discutidas em comum.
Mas quando o povo se junta para procurar novas soluções para seus problemas ele também, ensina. Ao longo de toda a sua caminhada, as pessoas aclaram a lição da esperança e da solidariedade. Explicam como é possível descobrir saídas em situações onde aparentemente não há caminho. Elucidam como sobreviver quando o desemprego e a pobreza poderiam levar ao desespero. Esclarecem como é possível inventar soluções a partir de si mesmo.
É nesse processo de organização de baixo para cima, temperado nas lutas de cada dia, nas vitorias e derrotas que tanto têm a argumentar que está a semente de uma nova atitude e de uma nova maneira de agir: confiar nas próprias forças para encontrar as respostas e as colocar em pratica.
Essa criatividade e solidariedade não se aprendem na vida da escola tal como ela é hodiernamente, mas sim na escola da vida. O desafio consiste então em acarear o problema da organização do mesmo jeito que o povo tem enfrentado desafios bem mais complicados. É preciso levar para dentro da instituição lições que as pessoas têm aprendido e ensinado na escola da vida.
Almeida ( 2023 ) testifica que as escolas atuais são constituídas, às vezes, à imagem e semelhança da sociedade classista, estando a competição, a vitória pessoal e a estimulação presentes em todos os momentos. A ideia de quantidade é onipresente, apesar de falar-se enfaticamente em formação. Basta analisar o sistema de aferição dos resultados para constatar-se que a tônica do processo escolar é o conteúdo programático. Dificilmente surpreende-se um momento em que a avaliação dos resultados vise a identificar os processos feitos pelo educando como pessoa participante de uma comunidade.
A maioria dos educadores testifica que a finalidade para formar a personalidade precisa colocar o indivíduo em situações sociais típicas para promover esta tarefa educativa. A escola deveria ser estruturada de tal forma que permitisse a existência de situações que levassem a uma integração do indivíduo na sociedade e, sobretudo, da sociedade no indivíduo.
A tentativa de fazer da escola uma miniatura ( ou seja, a miniaturização da sociedade – talvez viável na escola primária em que o brinquedo é a atividade típica da criança – não tem sentido na adolescência cuja característica é justamente a iniciação na vida social adulta ) é antissocial, embora tentadora. A sociedade mesma – como aconteceu no período pré-escolar – deve ser o campo de treinamento real do indivíduo, porquanto é nela que vai exercer o seu papel.
A educação assistemática deveria ser a fonte de inspiração dos educadores, porquanto ela estruturou-se e obteve êxito antes do aparecimento da educação sistemática. Nela percebe-se que são as reações aos fatos concretos ( e não a uma atitude verbalizada ) que produzem a unidade do comportamento. Afinal, a capacidade de unificar as atitudes é uma decorrência da própria organização unitária do indivíduo, necessidade de coerência interna no plano afetivo, intelectual e valorativo.
A formação da personalidade á uma forma de vida, diante da qual o indivíduo reage incorporando atitudes ou preparando resistências.
A formação da personalidade do ponto de vista social é uma reorganização interna que capacita o indivíduo para permanecer relacionado com o meio em que está inserido, uma permanente equilibração entre o indivíduo e o meio.
A personalidade estrutura-se na medida em que o grupo, onde está inserido o indivíduo, começa a adquirir um grau de tranquilidade dinâmica que demonstre um equilíbrio estável, obtido pelo grupo nas interrelações pessoais de seus componentes. As condutas irracionais e antissociais dos primeiros momentos do agrupamento de crianças vão adquirindo certa racionalidade até a obtenção do equilíbrio que demonstre a maturidade do grupo. É como se houvesse muita assimilação produzindo as acomodações necessárias para convivência social estável.
Metodologia e métodos:
O método foi racional indutivo ( conhecimento do particular ao geral ), com direção ascendente e demonstração causal apodítica. A análise ( partiu do menos ao mais complexo) e a síntese conferiram ao conhecimento um sentido global com pesquisas qualitativa, bibliográfica, etnográfica, aplicada, descritiva e participante. Os documentos exararam de fontes primárias. Coleta de dados primários ocorreu com seleção, codificação, tabulação e interpretação universais. As técnicas usadas foram a observação participante e análise de conteúdo com variáveis independentes e contínuas e amostragem não-probabilística por acessibilidade.
Resultados:
O problema de pesquisa porque os adolescentes almejam uma oportunidade em um Programa de Jovem Aprendiz? percorre caminhos abrangentes e complementares desse importante empreendimento de ser aprendiz.
O público-alvo eram adolescentes entre catorze e dezoito anos, assíduos na escola, e que tinham sido inscritos em algum programa de aprendizagem. Deveriam possuir carga horaria disponível de quatro diárias. Terem renda familiar de até meio salário mínimo regional per capita, preferencialmente de família beneficiada por programas sociais do governo federal destinados a população de baixa renda. Eles cursavam o primeiro ano do ensino médio, com cinquenta alunos em sala. Entre eles, dez por cento encontravam-se inscritos em programas de aprendizagem.
Da riqueza dos depoimentos ouvidos observou-se a obtenção da mudança de realidade dos jovens diante da oportunidade de se profissionalizarem.
As entidades mantenedoras não medem esforços para verem concretizados seus objetivos de inclusão diante de uma sociedade excludente. Exclusão que tem como causa, dentre vários fatores, o insucesso escolar, pois as reprovações sucessivas agravam a situação dos menos favorecidos, que por não serem diplomados, se apresentam aos recrutadores das empresas em desvantagem quase insuperável. Muitos, considerados pelas corporações como incapacitados, ficam excluídos definitivamente do mundo do trabalho e privados de qualquer possibilidade de inclusão social.
É gratificante para todos os profissionais que trabalham nos programas de jovens aprendizes sentirem, aos finais dos módulos, o crescimento dos adolescentes demonstrados pelo aumento da auto-estima, postura, comportamento, forma de vestir e melhora da comunicação com os colegas e as instituições. Eles, quando indagados, realçam a importância do curso neste despertar para o mundo do trabalho. Dizem-se conscientes das mudanças ocorridas neste processo e das novas possibilidades de mercado que se abrem, melhorando, dessa forma, a sua qualidade de vida e também a da sua família.
Os pais, muitas vezes, ao frequentarem uma organização, relatam mudanças significativas e agradecem pela oportunidade do curso, bem como pela perspectiva de trabalho futuro, que os tornarão mais responsáveis.
Denota-se que a simples observância da legislação da aprendizagem, artigos 428 a 433 da Consolidação das Leis do Trabalho e a inserção dos adolescentes nestes programas, tem o condão de produzir mudanças significativas na vida da juventude. Com efeito, comprova-se que diante da sua iniciação profissional, aliada à escolaridade e formação profissional especifica os jovens têm crescido integralmente, como seres humanos e cidadãos.
Discussão:
O embasamento teórico confirmou as hipóteses: A gravidade do quadro de miséria para a família pobre representa a instabilidade de laços afetivos e esgarçamento de solidariedade; O ambiente familiar obstaculiza a saúde emocional e o desenvolvimento cognitivo dos adolescentes; A linguagem, os hábitos, os costumes e os valores familiares são distintos da comunidade escolar.
É necessario perceber que a inópia nos cerca: ela persiste dentro das escolas, nos noticiários e em diversos estudos sociais. Nas salas de aula, essa realidade fica evidenciada pelos corpos famintos e empobrecidos de crianças e adolescentes que chegam às escolas, as quais são, em muitos casos, igualmente lazeiros. Devido a tão significativa presença, essa questão se tornou objeto de políticas públicas, como programas de erradicação da pobreza.
As possibilidades de reflexão e de ação, problematizando a temática da inópia e das desigualdades sociais no contexto educacional, alicerçam o reconhecimento da situação de exclusão social.
É relevante se analisar como se dá a aprendizagem diante das condições de lazeira e qual a ação da escola. Em classes menos favorecidas a baixa renda familiar tem como consequência uma alimentação inadequada e moradia precária sem condições de descanso ou ambiente adequado para estudo. Além disso, a maioria dessas pessoas só tem contato com livros e outros bens culturais de um modo geral quando vão para a escola e veem nela a oportunidade de mudar as suas condições de vida. No entanto, muitas vezes quando chegam à escola se deparam com um ambiente com problemas, causados principalmente pela falta de recursos que comprometem a infraestrutura e o trabalho educacional.
Se considera que diante de discussões e leis que pleiteiam direitos iguais para todos, a educação em pleno século XXI ainda não é considerada uma prioridade na política governamental, o que se traduz nos desafios de financiamento e gestão da educação. Talvez sejam questões políticas, administrativas ou culturais. Ou então, além de todas as dificuldades reais que a pobreza traz, haja também a barreira comportamental de comodismo, achando que sempre foi assim, que não é possível mudanças, pensamento que provem tanto da parte do sujeito quanto da própria comunidade educacional.
Observei, no desenrolar deste trabalho cientifico, na minha relação entre aquilo que analisei e minha autoanalise como pesquisadora, mediada pelas interações com outros profissionais ( especialitas, autores, peritos ) que houveram conflitos que dinamizaram o processo de investigação. Interpreto isso como uma perspectiva relacional enquanto condição de operar das chamadas humanidades quando se fala de metodologias de escrutínio qualitativo. Aqui sinalizo formas de pensar, de julgar e de opinar como indícios valorativos. Talvez, neste reconhecimento, esteja localizado o atributo que destaquei.
Josviak e Bley ( 2009 ) salientam que já se observou que a juventude é uma época de transição em que se passa da dependência completa, que caracteriza a infância e, atravessando uma série de etapas, atinge a plena autonomia própria da vida adulta.
No processo de transição da infância ( dependência e estudos ) até a idade adulta ( autonomia e trabalho ) tem papel fundamental o processo de inserção no mercado de trabalho que é condicionado pelos supracitados aspectos, lhes dando uma conotação própria.
Durante anos, em vários ordenamentos jurídicos, inclusive o brasileiro, na abordagem do trabalho se distinguiam as fases a menor idade, até dezoito anos, e a fase adulta. Nas últimas décadas, no Brasil, o trabalho e a profissionalização tem sido colocados na perspectiva de 14 anos até 24 anos, levando em consideração sua especificidade nesta faixa etária.
A OIT ( Organização Internacional do Trabalho ) revela que no interior da juventude há recortes diversos sobre vivencia nos setores urbano e rural, sobre gênero, sobre total população jovem, sobre a qual trabalha e estuda, que só estuda, que só trabalha, sobre modalidades de trabalho, inclusive o informal, sobre a importância do empreendedorismo jovem, sobre a necessidade de profissionalização no mundo globalizado em que se altera o processo produtivo, sobre o desemprego do jovem com causas e efeitos.
Vários fatores fazem com que programas governamentais e não-governamentais se proponham a inserir os jovens também em outras modalidades de relações jurídicas de trabalho: o associativo de que a cooperativa é uma modalidade, o autônomo, o de regime familiar, o do empreendedorismo.
Nos países mais desenvolvidos há um fosso entre a educação de ótimo ou bom nível e as exigências do mercado de trabalho, levando os legisladores a criarem modalidades de contratos-pontes, contratos especiais de formação, modalidades de estágios.
Este problema afeta a realidade do jovem brasileiro por razões totalmente diversas: muitos não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na cidade própria; a baixa escolaridade média revelada pelas pesquisas, o reduzido percentual de adolescentes que conclui os nove anos do ensino fundamental, um aproveitamento que não corresponde aos anos de escolaridade, o acesso restrito ao ensino médio tornam o fosso maior entre a escolaridade e as exigências do mercado de trabalho.
Há um bom número de programas exitosos, governamentais e não-governamentais, em âmbitos municipais e estaduais voltados para prepararem os adolescentes e jovens para o primeiro emprego.
Uma política pública de primeiro emprego foi tentada com o Programa Nacional do Primeiro Emprego – PNPE ( Lei n. 10.748/2003 ) com esboço vinculado a ações dirigidas à promoção da inserção de jovens de 14 à 24 anos no mercado de trabalho e sua escolarização, ao fortalecimento da sociedade no processo de formulação de políticas e ações de geração de emprego de trabalho e renda, objetivando, especialmente, promover: a criação de postos de trabalho para jovens ou os preparar para ocupações alternativas, geradoras de renda; a qualificação para o mercado de trabalho e inclusão social.
O enfoque mais correto enfatizando a educação em nível fundamental e médio está sendo dado pelo Programa Pro-Jovem inserido na Política Nacional da Juventude, a ser executada em conjunto pelos Governos Municipais e Federais tendo como objetivo proporcionar aos jovens ( de 14 a 24 anos ), em situação de inclusão e vulnerabilidade social: a elevação de escolaridade, com a conclusão do ensino fundamental; a qualificação profissional, com certificado de formação inicial; a inclusão digital, com o desenvolvimento de ações comunitárias de interesse público.
Profissionalização do jovem é um tema relevante na atual conjuntura quando se trata de sua inserção em um mercado altamente competitivo e exigente quanto as capacidades requeridas.
As transformações tecnológicas atuais e os efeitos da globalização da economia no setor produtivo estão exigindo um profissional multiqualificado e de empregabilidade multifacetada.
A mais perfeita das alternativas de formação técnico-profissional é dada pela aprendizagem escolar, regulada pelos artigos 39 a 42 da Lei 9.394/96 – LDB.
O Decreto n. 5.154, que regulamenta o paragrafo segundo do artigo 36 e os artigos 39 a 41 da Lei n. 9.394, explica as etapas da educação profissional que o jovem pode percorrer. Art. 1º. A educação profissional, prevista no artigo 39 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 ( Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ), observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, será desenvolvida por meio de cursos e programas de: formação inicial e continuada de trabalhadores; educação profissional técnica de nível médio; educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação.
A Lei n. 11.180 de 2005 institui o projeto Escola da Fábrica como uma modalidade de formação profissional inicial e continuada de jovens de 14 a 24 anos de baixa renda ( receita mensal per capita de até um salário mínimo e meio ), desde que matriculados na educação básica da rede pública ( ensino fundamental e ensino médio, art. 21, Inciso I da Lei n. 9.394/96 ) ou em cursos supletivos de jovens e adultos ( art. 37 da Lei n. 9.394/96 ).
Conclusão:
O adolescente por toda a história da humanidade sempre é visto como um adulto em miniatura. Resgatar seus direitos, constitucionalmente, garantidos pelo art. 227, é dever que a todos impõem e, entre esses, a aquiescência à profissionalização. Dentre as diversas formas ocupacionais a aprendizagem surge como um meio eficiente, legal e que propicia igualdade real, pois possibilita aos excluídos o seu acesso.
O resgate da cidadania, através da formação cidadã, onde a compreensão dos contextos cultural, familiar e escolar dos adolescentes é solidificado por meio da riqueza dos depoimentos ouvidos. Observo a obtenção da mudança de realidade dos jovens diante da oportunidade de profissionalização. Isto é demonstrado através do seu crescimento atitudinal.
Há ascendimento da autoestima, postura, comportamento, forma de vestir e melhora da comunicação com os colegas e as instituições. Esses jovens, quando indagados, realçam a importância do curso neste despertar para o mundo do trabalho. Dizem-se conscientes das transformações ocorridas neste processo e das novas possibilidades de mercado que se abrem, melhorando, dessa forma, a sua qualidade de vida e também a da sua família.
O mundo do laboro atual demanda pessoas com qualificação profissional, senso crítico e pro-atividade. Tais requisitos encontram-se distanciados dos jovens oriundos de famílias de baixa renda, face o baixo nível de escolaridade e de acesso à formação laboral. Nesse contexto a aprendizagem retorna as suas origens como uma alternativa para alterar essa situação.
A fragilidade das políticas públicas em muito contribui para o processo de exclusão de milhares de adolescentes do processo de qualificação, aumentando ainda mais as desigualdades sociais. Cada vez mais a camada empobrecida da população tem como objetivo principal a sobrevivência e, diante deste quadro, falar da garantia dos direitos fundamentais é um discurso quase que inoperante.
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 ( Estatuto da Criança e do Adolescente ), a responsabilidade pela profissionalização do adolescente passa a ser, além da família, da sociedade e do Estado. E, é nesse contexto que surge a Lei 10.097/2000 que dá nova roupagem ao instituto da aprendizagem, presente na Consolidação das Leis do Trabalho, há mais de sessenta anos.
Assim, através do Programa Jovem Aprendiz, os adolescentes obtêm benefícios como melhor qualidade técnica, inclusão no mercado de trabalho, integração social, resgate da cidadania e a contribuição para uma sociedade mais justa e igualitária.
Referencias:
ALMEIDA, K. S. Educação Inclusiva: a ressignificação do resgate da cidadania. São Paulo: Dialética, 2023.
CECCON, C.; OLIVEIRA, M.D.de; OLIVEIRA, R.D. A vida na escola e a escola da vida. Petrópolis: Vozes, 1984.
JOSVIAK, M.; BLEY, R.B. Ser aprendiz! Aprendizagem profissional e políticas públicas: aspectos jurídicos, teóricos e práticos. São Paulo: LTr, 2009.
SOUZA, J. A ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: UFMG, 2009.