FEMINILITIES, DANCES AND DIGITAL SOCIAL MEDIA IN DISCUSSION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409082035
Gleyce Monteiro Alves dos Santos1
Viviane Maria Moraes de Oliveira2
Adriana de Faria Gehres3
Resumo
Esse artigo objetivou caracterizar a produção científica acerca das relações entre danças, gêneros e relações de poder com as mídias sociais digitais. Trata-se de uma revisão integrativa de artigos publicados entre 2010 e 2023. Foram realizadas buscas em três bases de dados específicas das ciências humanas; uma geral; uma biblioteca digital e um buscador geral acadêmico. Após a busca, 16 produções se apresentaram elegíveis para a revisão. Os resultados apontaram para o uso das redes sociais na criação de espaços de reivindicações de direitos e na reprodução e produção dos estereótipos de feminilidade, reiterando marcas de gênero que reforçam a dança como feminina e designam tipos de corpo e movimentos específicos para gêneros binarizados.
Palavras-chave: redes sociais online. Gênero. Danças. Feminilidades.
Abstract
This article aimed to characterize scientific production on the relationship between dance, gender and power relations with digital social media. It is an integrative review of articles published between 2010 and 2023. Searches were carried out in three databases specific to the human sciences, a general database, a digital library and a general academic search engine. After the search, 16 articles were eligible for the review. The results pointed to the use of social networks in the creation of spaces for claiming rights and also in the reproduction and production of stereotypes of femininity, reiterating gender marks that reinforce dance as feminine and designate specific body types and movements for binarized genders.
Keywords: Online social networking. Gender. Dances. Feminilities4
1 INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo corpo e gênero têm sido parte de um sistema de significação e relações de poder, que coloca em questão as identidades de gênero de maneira universais e absolutas, compondo uma construção cultural pautada nas representações de feminilidades e masculinidades (Goellner, 2016). Em diferentes contextos as feminilidades têm sido acionadas de diferentes formas. De acordo com Rossi (2017), nas mídias digitais, as feminilidades têm sido diretamente associadas às emoções, à fragilidade e ao descontrole, contrapondo à “realidade objetiva” masculinizada, de modo que, apresentam um valor rebaixado, ao contrapor os princípios racionalistas e pragmáticos, almejados na sociedade contemporânea. Conforme Gregolin (2007), a mídia se caracteriza como um importante dispositivo discursivo, operando dentro das relações do poder/saber, instituindo, produzindo e reafirmando práticas sociais, de modo a produzir sentidos, influenciar subjetividades e mediar realidades.
Práticas sociais, como as danças produzem e reproduzem valores sociais, sendo capazes de “fabricar” e reproduzir comportamentos, e até mesmo homens e mulheres de determinados tipos. Assim, as produções tradicionais de gênero existentes em nossa sociedade, que reverberam na relação que a mulher estabelece com seu corpo, também se fazem presentes nas danças. Se por um lado nas danças é possível identificar comportamentos como o dualismo homem-mulher, onde as mulheres são subjetivadas a reproduzir um corpo e um comportamento considerado ideal e feminino, valorizando a beleza estereotipada e a fragilidade (Andreoli, 2010), por outro lado, contemporaneamente, as danças vêm possibilitando cada vez mais a multiplicidade e a diversidade dos corpos, movimentos e comportamentos, enfraquecendo arraigados textos culturais homogeneizadores e universais (Nunes, 2005).
Nesse sentido, na contemporaneidade da era digital, as mídias sociais digitais, para além do uso de aparatos tecnológicos, abrangem uma reconceituação das danças, onde esses vetores atuam como veículos de comunicação que armazenam e encorajam a criação de uma estética que se baseia em construções sociais de ser feminino e masculino (Harrington, 2020). A partir disso, esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a produção científica acerca das relações entre danças, gêneros e relações de poder com as mídias sociais digitais, em rede ou não. Buscando ainda identificar as teorias de gênero, corpos e poder acionadas na produção científica com as mídias sociais.
2 METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão sistemática integrativa de trabalhos científicos, na análise de estudos com abordagens qualitativas e quantitativas. Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizadas bases de dados específicas, sendo três bases de dados em ciências humanas (LILACS, SCOPUS e WEB OF SCIENCE), duas bibliotecas digitais (Banco de Teses da CAPES e SciELO) e um buscador geral acadêmico (Google Acadêmico). Os descritores escolhidos foram combinados por meio do buscador booleano “AND”, a partir disso foram utilizados os descritores: feminismo, gênero, mídia social, feminino, dança e suas combinações na língua inglesa.
Foram estudadas publicações entre 2010 e 2023, tendo como critérios de inclusão texto integral nos idiomas inglês e português. Após a aplicação dos critérios foram identificados 874 estudos, sendo 10 na base de dados LILACS, 10 no SCOPUS, 23 no WEB of SCIENCE, 423 no Google Acadêmico, 133 no SCIELO e 275 no Repositório de Teses e dissertações da CAPES. Após essa etapa, 51 estudos foram selecionados a partir da leitura dos títulos e 823 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, sendo eles: 47 duplicados, 9 indisponíveis e 767 por não estarem relacionados com o tema. A partir disso, dos 51 estudos selecionados, 20 foram excluídos após a leitura dos resumos, resultando em 31 estudos selecionados após essa etapa. Nesse sentido, após a leitura na íntegra dos 31 estudos selecionados, apenas 16 estudos se apresentam elegíveis para a revisão, sendo 12 artigos, 4 dissertações e 0 teses.
Figura 1. Fluxograma de estudos identificados
Fonte: Elaborado pelas autoras.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao realizar uma análise bibliométrica na produção científica acerca das relações entre danças, gêneros e relações de poder com as mídias sociais digitais, foi possível caracterizar os estudos em relação a: tipo de produção, localidade, temporalidade e área do conhecimento. Do ponto de vista, do tipo de produção identificada na pesquisa, foi possível localizar o número de 12 artigos e 4 dissertações, totalizando 16 estudos. Com relação, a localidade 12 estudos estavam localizados no Brasil, 2 nos Estados Unidos da América (USA), 1 no Canadá e 1 não foi possível identificar sua localidade. A respeito da temporalidade, foi possível identificar que sua maior recorrência de produções foi no período de 2021 -2022 evidenciando a atualidade dessa discussão, sendo: 2021 (4), 2022 (4), 2018 (2), 2013 (2), 2012 (1), 2016 (1), 2017 (1), 2018 (1), 2019 (1) e 2020 (1).
Com relação, a área de conhecimento foi possível caracterizar a temática como uma temática da contemporaneidade de caráter interdisciplinar que fomenta a discussão em diversas áreas do conhecimento, tendo sua maior incidência na área de dança e sociologia, sendo elas: dança (5), sociologia (3), comunicação (2), revistas interdisciplinares (2), educação física (2), ciências humanas (1) e educação (1). Essas informações podem ser identificadas no Quadro 1.
O quadro 1 busca caracterizar os estudos em relação a: tipo de produção, localidade, temporalidade, área do conhecimento, principais resultados e teorias que se apresentam em relação aos diferentes tipos de dança com corpos femininos produzidos na produção científica com as mídias sociais, em rede ou não.
Quadro 1: Análise bibliométrica dos estudos incluídos
Autores/Ano | Título | Estado/País | Tipo de Produção | Área de conhecimento | Teorias/Autores citados sobre gênero | Principais Resultados |
FACIOLI; GOMES (2022) | O ativismo feminista online no Brasil: aportes para uma agenda em construção | Rio Grande do Sul, Brasil | Artigo | Sociologia | Holanda (2018) | Os resultados apontam para uma (re)configuração da prática política em que a promessa do digital somada aos acontecimentos políticos posteriores às jornadas de junho de 2013 no Brasil, recompõem os diagramas e os repertórios políticos desses movimentos. |
SOARES; MAZZARINO (2021) | Feminismo de internet: como as redes sociais contribuem para o desenvolvimento da Quarta Onda Feminista no Brasil | Rio Grande do Sul, Brasil | Artigo | Comunicação | Beauvoir (1949) Silva (2019) Holanda (2018) | Mostrou a associação entre a atual insurreição feminista e o uso das redes sociais, que são utilizadas como ferramentas de comunicação e popularização do conteúdo feminista. |
OLIVEIRA; MACEDO; NETO (2021) | Autoapresentação corporal de lutadoras de Artes Marciais Mistas (MMA) no Instagram | Bahia; Pernambuco, Brasil | Artigo | Educação Física | Louro (1997) Meyer (2004). Goffman (1988) | Destacou nas imagens analisadas, uma feminilidade plural, que remete à participação das mulheres em diferentes espaços, para além do ambiente doméstico. |
MARTINEZ (2021) | Militantes e radicais da quarta onda: o feminismo na era digital | Goiás, Brasil | Artigo | Ciências Humanas | Butler (2003) | Evidenciou que se tornar feminista na era digital mobiliza vivências, reconhecimento e sistemas de conhecimento, a partir de onde é gerada uma nova epistemologia feminista mais atual e atenta aos sujeitos e suas vivências. |
WENETZ; MACEDO (2019) | Masculinidade(s) no balé: gênero e sexualidade na infância | Espírito Santo; Pernambuco, Brasil | Artigo | Educação Física | Nicholson (2000) Scott (1995) Louro (1999) Meyer (2003)Assis (2018) Gonçalves (2014) Hanna (1999) Saraiva (2003) | Evidenciou que os comportamentos de gênero são tensionados quando fogem a lógica heteronormativa |
CASTRO; PRADO (2012) | Corpo e identidades femininas: a intermediação da mídia | São Paulo, Brasil | Artigo | Sociologia | Pensamento pós-estruturalista Foucault (2008) Meyer (2013) Louro (2007) Scoott (1995), Butler (1997, 2003) Goellner (2013)Hanna (1999) | Apontou que as danças produzidas/veiculadas nas mídias são alvo de investimentos discursivos que pressupõem, valorizam e exigem experiências particulares da masculinidade e da feminilidade. |
SOUZA (2018) | As danças midiatizadas e o governamento dos corpos infantis na contemporaneidade: lições sobre a produção de corpos heteronormativos | Pernambuco, Brasil | Artigo | Educação | Butler (2003) Rago (1998)Rubin (2003) | Mostrou que as redes sociais contribuem para a configuração de modelos de feminilidades hegemônicas. |
SAMPAIO (2018) | Intermidialidade na dança: análises de configurações contemporâneas e proposição de uma categoria | Bahia, Brasil | Dissertação | Dança | Não se utiliza de teorias de gênero. | Propôs a dança como dança digital, que resulta do processo de negociações entre mídias, nesse caso, relacionando com as mídias digitais. |
BASTOS (2013) | Mediadance: campo expandido entre dança e as tecnologias digitais | Bahia, Brasil | Dissertação | Dança | Não se utiliza de teorias de gênero. | Propôs categorias de análise de obras e experimentos que se enquadram na categoria “Mediadance” |
RÊGO (2013) | Corpos virtualizados, danças potencializadas: atualizações contemporâneas do corpociborgue. | Bahia, Brasil | Dissertação | Dança | Não se utiliza de teorias de gênero. | Apresentam cinco categorias de corposciborgues na dança: corposciborgues na videodança, corposciborgues criados com softwares de animação, corposciborgues criados com softwares interativos, corposciborgues na dança telemática e corposciborgues fluídos das mídias móveis. |
RIBEIRO (2016) | Poética na dança digital: processos e reverberações | Bahia, Brasil | Dissertação | Dança | Não se utiliza de teorias de gênero. | Compreendeu a dança como dança digital, que resulta do processo de negociações entre mídias. |
CIDREIRA; PINTO (2021) | O corpo performático nas redes sociais: narrativasaudiovisuais no reels do Instagram | Bahia, Brasil | Artigo | Comunicação | Goffman (1985) | Foi identificado uma potencialidade para narrativas audiovisuais dos indivíduos que utilizam esse recurso. |
HARRINGTON (2020) | Consumer dance identity: the intersection between competition dance, televised dance shows and social media | New Jersey, USA | Artigo | Dança | Butler (1997) Luce Irigaray | Evidenciou que um dos efeitos do uso da mídia social sobre a identidade de gênero de meninas na dança, é o impacto na construção da autoestima e na percepção distorcida da própria imagem. |
DEKIC (2022) | Digital Culture and Value Clash on TikTok: ‘Dancing Girl’ vs. Radical Feminist | Não identificado | Artigo | Sociologia | Alvermann et. al. (2021) | Constatou-se que existe um conflito de valores, expresso na discrepância entre as ideias sobre o status social da mulher. |
FOSTER, BAKER (2022) | Muscles, Makeup, and Femboys: Analyzing TikTok’s “Radical” Masculinities | Toronto, Canadá | Artigo | Interdisciplinar | Connell, R. (1987) | Sugeriu que a mídia social pode funcionar como um veículo através do qual uma maior inclusão é promovida. |
MANDRADJIEFF; ALTEROWITZ (2022) | Publicizing transgender ballet dancers: a pas de deux of inclusion and reiterative gender norms | Atlanta, USA | Artigo | Interdiciplinar | Butler (1988) | Evidenciou que a mídia, muitas vezes, opta por “consertar” a imagem do indivíduo transgênero para os consumidores assumidos como cisgêneros. |
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Ao identificar as teorias de gênero, corpos e poder acionadas na produção científica com as mídias sociais na produção de corpos e gênero nas danças, foi possível caracterizar que boa parte das produções encontradas se embasam no pensamento pós-estruturalista, com o discurso de Michel Foucault (1998, 2008, 2010), Judith Butler (1987), Louro (1997, 1999, 2001, 2007) e Holanda (2018), sobre a noção de sujeito que existe como resultado de um processo de relações de poder. A partir de um conjunto de teorias de Foucault, tais como poder, sujeito, biopoder, norma, governamentalidade e dispositivo, os estudos observam uma rede de práticas discursivas de como se dão as relações de poder/saber na sociedade contemporânea.
Partindo das representações das danças produzidas e/ou veiculadas pela mídia como um objeto de análise crítica, Souza (2018) argumenta que elas podem oferecer a possibilidade de compreensão de como práticas institucionais que se cruzam na produção, circulação e recepção da cultura atuam na formação de identidades. Sendo assim, uma forma para “educar” os corpos, prescrevendo estratégias de controle, regulação e governamento (Souza, 2018). É nesse regime que segundo a autora se opera a produção de corpos que, enquanto dançam na Internet e nas telas dos celulares e tablets, são educados e formam identidades, valorizando condutas, significados e comportamentos acerca das relações de gênero (Souza, 2018).
Na discussão sobre gênero, os autores se embasam em Scott (1995), ao compreender a noção de gênero como uma construção sociocultural e linguística, priorizando as relações de poder (Wenetz, 2019; Souza, 2018). Desse modo, os autores compreendem que a construção dos gêneros e das sexualidades se dá através de inúmeras aprendizagens e práticas, a partir de diferentes estratégias discursivas presentes nas mídias sociais digitais, caracterizando assim, as danças midiatizadas como uma rede discursiva de atuação e relações de poder (Louro apud Souza, 2018; Wenetz, 2019).
Ao fazer uma aproximação com a teoria da performatividade de gênero de Butler (1997, 1998, 2003), Souza (2018) e Mandradjieff et. al. (2022) discutem que os corpos são produzidos também por meio de artefatos culturais como a mídia e a dança, em que as obras de dança neste espaço, não apenas possibilitam a performatividade do gênero, mas, simultaneamente, revelam os atos estilizados repetitivos de papéis de gênero normativos. Nas danças produzidas pela mídia há uma diversidade de regras, saberes, técnicas e estratégias para a produção de corpos generificados, no sentido de que são alvo de investimentos discursivos que pressupõem, valorizam e exigem experiências particulares da masculinidade e da feminilidade (Souza, 2018).
Sendo assim, Castro e Prado (2012) afirmam que a discussão acerca da relação entre poder e gênero nos remete novamente à contribuição de Judith Butler (2003) na medida em que a autora verifica que o poder opera na produção das categorias binárias em que se pensa o conceito de identidade de gênero, partindo da problematização da afirmação de que o sexo está para a natureza, assim como o gênero está para a cultura, diferente disso, a reflexão de Butler afirma que o sexo, assim como o gênero também é uma construção discursiva. Nesse contexto, o gênero seria o meio através do qual os sexos são estabelecidos nos corpos (Castro e Prado, 2012).
Ao retomar o pensamento pós-estruturalista de Foucault, os autores reiteram que os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social, dentro das relações de poder, eles funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos que nada ou ninguém escapa. Nesse sentido, o poder não é central, mas sim interiorizado através das subjetividades, em que à construção das identidades de gênero, apresenta-se como forma de linguagem que reproduzem identidades. (Souza; Prado, 2012). Dessa forma, deve-se compreender o contexto e em que medida as mídias sociais digitais em rede ou não podem ser um eixo da construção das identidades femininas, ainda que saibamos que com os pós-estruturalismos essas identidades não se estabilizam, estão sempre se fazendo com as diferentes forças sociais.
Ao tratar dos desfechos encontrados pelos artigos incluidos na amostra, foi possível identificar uma associação entre a atual insurreição feminista e o uso das redes sociais (Soares; Mazzarino, 2021), contexto em que as mídias sociais ocupam uma brecha histórica deixada pelas fragilidades nos processos democráticos para espaços de fala, escuta, reivindicações de direito ou denúncias (Facioli; Gomes, 2022).
Atualmente as redes sociais permitem um maior fluxo de referências culturais, por meio da circulação de imagens, informações, ideias e universos simbólicos, veiculados pelas mídias. Castro e Prado (2012) destacam que esse padrão hegemônico difundido pela mídia não é absorvido e reproduzido de forma passiva, essa influência persuasiva passa por diferentes grupos e formas de mediação, que se apropriam e ressignificam os sentidos e discursos de maneiras diferentes, de acordo com variáveis como classe, faixas geracionais e níveis de escolaridade, veiculando comportamentos através de discursos sobre as identidades e legitimando as diferenças entre os gêneros através do estereótipo.
A fase atual do movimento feminista tem força a partir da popularização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), como as redes sociais, que são usadas como veículo para contestar a misoginia, a LGBTfobia, o sexismo, o racismo, a xenofobia, entre outros preconceitos, com isso, o feminismo se apropria das redes sociais e do mundo virtual para levantar “bandeiras” já conhecidas das fases anteriores, como o empoderamento feminino, o fim da cultura patriarcal, da violência de gênero e do fortalecimento da ideia de interseccionalidade (Soares e Mazzarino, 2021). Nas mídias, foi possivel identificar que redes têm sido tecidas e amplificadas através de comunidades capazes de mobilizar a identificação e o reconhecimento na construção de um sujeito, onde é gerada uma nova epistemologia feminista mais atual e atenta aos sujeitos e suas vivências (Martinez, 2021).
No que tange à feminilidade presente nas mídias sociais, Oliveira et al., (2021) mostram que existe atualmente uma feminilidade plural, que remete à participação das mulheres em diferentes espaços, para além do ambiente doméstico, dentre eles as práticas corporais. Na lógica heteronormativa, é esperado que aos termos um corpo de menino/menina, teríamos um comportamento de gênero (masculino/feminino), entretanto essa linearidade é tensionada quando um desses elementos fogem desta norma. Contudo, a identidade de gênero é um processo contínuo e não homogêneo. Assim, quando uma menina joga futebol ou um menino dança balé, a identidade deles é questionada, dizendo sobre a masculinização das meninas ou a feminilização dos meninos (Wenetz; Macedo, 2019).
Segundo Souza (2018), as representações hegemônicas de gênero estão sendo reforçadas ao longo da história a partir de processos discursivos que têm associado às ideias de força e vigor significados de masculinidade, e às de fragilidade e sensibilidade, significados de feminilidade. De acordo com a autora, é possível identificar, nomear, classificar, ordenar e hierarquizar diferentes tipos de corpos de meninos e/ou de meninas a partir de uma polarização da construção desses corpos. Em uma análise realizada pela autora, é possível identificar que a relação desse o corpo feminino nas danças apresenta um comportamento corporal mais contido, com gestos mais curtos e emotivos, dando ênfase ao uso de expressões faciais e sorrisos. Nesse sentido, mesmo ao se propor criticar o discurso da mídia acerca das danças e gênero, o corpo sexual parece permanecer como o elemento a definir o gênero a partir das relações de poder, problemática já atestada por Scott (1995).
As danças, se configuram como práticas corporais desenvolvidas em sociedade, que podem ser compreendidas como mecanismos de linguagem, comunicação e expressão do corpo, através dos quais são abertas possibilidades de produzir e reproduzir diferentes temas que emergem da sociedade, como é o caso das relações de poder existentes entre os gêneros, que perpetuam a dominação do masculino sobre o feminino (Andreoli, 2010).
Desse modo, as danças nas mídias sociais se configuram como importante tarefa cultural, inscrevendo nos corpos marcas e normas produtoras de discursos. Tomazzoni (2015) aponta que na atualidade a dança vem apresentando no território midiático algumas especificidades de modo que os corpos que dançam com e na mídia passam por transformações que não se restringem ao uso dos novos aparatos tecnológicos. Enquanto dançam os sujeitos vão se constituindo, nessas danças e nesses jeitos de dançar, vão se “colando” sentidos culturais (Tomazzoni, 2015).
No que se refere à identidade de gênero, Vendas apud Harrington (2020) aborda que um dos efeitos do uso da mídia social sobre a identidade feminina na dança é o impacto na construção da autoestima e na percepção distorcida da própria imagem. A mídia social lança na consciência social as construções hegemônicas de gênero, que para ser um ‘bom dançarino’, é preciso assumir uma identidade heterossexual com papéis estereotipados desempenhados por cada gênero. Essa relação de poder entre a dança e a mídia configura nos corpos atuais nas redes digitais, a fetichização dos extremos da técnica, a criação de uma estética que se baseia em construções sociais de ser feminino e masculino (Harrington, 2020). A partir da base conceitual de poder em Foucault, Tomazzoni (2015) aponta que as estratégias de controle não necessitam de uma força institucionalizada para se efetivar. Afinal, na “sociedade de controle” há uma intensificada normalização de disciplinaridade que anima internamente nossas práticas comuns, contudo, em contraste com a disciplina, esse controle estende bem para fora os locais estruturados de instituições sociais mediante redes flexíveis e flutuantes.
Outro quesito observado na literatura acerca das danças e gênero com as mídias sociais se refere à imagem pessoal do sujeito dançante. As redes sociais se tornam um lugar para divulgar a marca e a imagem pessoal dos bailarinos, sendo assim um meio de comunicação. Nesse contexto, a imagem que se cultiva nas redes sociais passa a ser mais importante do que o trabalho técnico ou artístico dentro da dança. Os perfis de mídia social dos dançarinos devem representá-los de maneira positiva, pois seu número de seguidores nas mídias sociais, por exemplo, Instagram5 e Twitter6, definem o seu valor dentro desse nicho como “influenciadores”.
Cidreira e Pinto (2021), ao analisarem a ferramenta reels do Instagram, identificaram uma potencialidade para narrativas audiovisuais dos indivíduos que utilizam esse recurso. Ao filmar, dançar, editar, falar e legendar os vídeos, cada usuário performa uma narrativa de si que afeta aqueles que têm acesso aos vídeos – sejam seguidores ou não do perfil que o publica. Tais narrativas ganham forma através da corporeidade, uma vez que o rosto, o corpo, a gestualidade e a vestimenta são fundamentais na composição dos vídeos que são produzidos.
Além disso, a mídia torna-se mais do que um elemento de ligação entre realidade e indivíduo, ela configura novos processos na forma de fazer ativismo, utilizando o mundo digital como um novo canal de expressão independente (Soares; Mazzarino, 2021). Nesse contexto, o TikTok7 surge com uma temática predominantemente dançante, tornando-se um espaço onde as mulheres podem expressar-se das mais variadas formas, sendo assim, presente na criação de valores sociopolíticos (Dekic, 2022).
As redes sociais são uma ferramenta que transmite o sistema de valores do criador do vídeo ao espectador por meio da comunicação visual, eles mostram as subculturas que existem e apontam para os estereótipos sociais sobre o status das mulheres (Dekic, 2022). Redes sociais como o TikTok se caracterizam como um lugar onde pessoas sub-representadas de valores sociais alternativos, pertencentes a um grupo social vulnerável, têm a oportunidade de falar, compartilhar suas experiências, pensamentos e orientações de valor com outras pessoas, sendo um veículo para promover uma maior inclusão. (Foster e Baker, 2022).
As plataformas digitais de socialização alteram índices relacionais dos indivíduos – pela simulação da presença dos que se conectam pelas telas e pela extensão dos sentidos dos que se ouvem e vêem através dos vídeos e fotos produzidos e publicados nas plataformas. Partindo do pressuposto que o corpo é o meio que proporciona as experiências de contato com outrem, sejam estas experiências presenciais, ou por meio virtual, os sites de redes sociais permitem a construção de uma persona através de páginas pessoais que possibilitam interação entre os atores sociais que ali estão inseridos através de comentários, curtidas e compartilhamentos (Cidreira e Pinto, 2021). De acordo com Sampaio (2018), com a Internet, a cultura e a dança passaram a ser participativas, pois as pessoas passaram a expressar e veicular pensamentos em redes de comunicação, e esta deixou de ser unidirecional, para ser multidirecional.
Ribeiro (2016), ao discutir a dança e suas convergências com a mídia, propõe a dança como dança digital, que resulta do processo de negociações entre mídias, nesse caso, com as mídias digitais. Durante muito tempo, a dança se pautou na técnica que os corpos adquirem por meio de repetições sucessivas, tanto pelo manuseio de um instrumento/ferramenta como pelo uso do próprio corpo (Sampaio, 2018). As experiências estéticas da dança, da fotografia, do cinema e do vídeo são revigoradas a partir de sua contaminação pelo computador, principalmente por apresentarem práticas completamente diferentes, ressignificando a experiência estética. Nesse sentido, a dança digital ultrapassa seus limites enquanto dança, promovendo novas configurações artísticas que se inscrevem na relação tempo-espaço.
Ao relacionar a prática de diferentes tipos de dança com corpos femininos produzidos na produção científica com as mídias sociais em rede ou não, foi possível identificar que a dança em parte dos artigos incluídos na amostra, aparece de modo generalizado, de modo que sua análise não se restringe a uma única modalidade. Entretanto, foi possível caracterizar uma predominância do balé clássico nas discussões de gênero e sexualidade. Nesse contexto, a mídia social oferece espaço para dançarinos de balé que fogem da normatividade de gênero como os dançarinos transgêneros e não-binários, questionarem a produção de corpos ditos feminino ou/e masculinos, valorizando condutas, significados e comportamentos acerca das relações de gênero. No contexto social de um diálogo cultural mais amplo sobre vidas transgênero e sua representação na mídia, foi possível identificar a tendência da mídia social de tentar “consertar”, ou (re)apresentar o indivíduo transgênero com uma identidade mais próxima para norma para serem legitimados como bailarinos para consumidores assumidos como cisgênero.
Assim, na atualidade o mundo digital pode ser compreendido como um novo canal de expressão independente (Soares e Mazzarino, 2021), onde é favorável a uma diversidade de possibilidades de expressão e reivindicação por parte de grupos com interesses específicos, nesse ambiente as danças permitem cada vez mais a multiplicidade e a diversidade dos corpos, movimentos e comportamentos, enfraquecendo arraigados textos culturais homogeneizadores e universais (Nunes, 2005). Sua ação performativa se organiza num discurso que combina, emite, recebe, troca e produz informação, em um processo contínuo de transformação (Setenta, 2008). Sem esquecer que nesse mesmo ambiente há ainda tentativas de controle que promovem a homogeneização e a banalização da dança (Tomazzoni, 2015). Torna-se assim importante atentar para não reproduzir discursos fundamentalistas que condenam a mídia como vilã das subjetividades, lutas, crenças, corpos, mas também cuidar para que não se ignore as “tramas” que envolvem a dança midiatizada em prol de um processo de globalização ávido por consumidores (Tomazzoni, 2015, p.79).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a produção científica acerca das relações entre danças, gêneros e relações de poder com as mídias sociais digitais, em rede ou não. Ao caracterizar os estudos incluídos em relação à temporalidade, foi possível identificar maior recorrência de produções entre o período de 2021-2022, evidenciando a atualidade dessa discussão. Além disso, também foi possível identificar que a maior quantidade dos estudos foi produzida no Brasil e a tipologia predominante foram os artigos científicos. Além disso, constatou-se uma diversidade de metodologias e procedimentos, além de uma pluralidade de teorias, tendo em vista que, as danças nas mídias sociais, se caracterizam como importante tarefa cultural, pois inscrevem nos corpos marcas e normas de discursos de poder que podem, ou não, reproduzir valores normativos de gênero.
REFERÊNCIAS
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BEAUVOIR, S. O segundo sexo: a experiência vivida. 2ª edição. São Paulo: Difusão européia do livro, 1967.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. 4ªed. São Paulo: Difusão européia do livro, 1970.
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CASTRO, Ana Lúcia de; PRADO, Juliana do. Corpo e identidades femininas: a intermediação das mídias. Estudos de sociologia, p. 241-259, 2012.
CIDREIRA, Renata Pitombo; PINTO, Naiara Moura. O corpo performático nas redes sociais: narrativas audiovisuais no reels do Instagram. Revista Mídia e Cotidiano, v. 16, n. 1, p. 22-42, 2022.
SOUZA, Ana Paula Abrahamian. As danças midiatizadas e o governamento dos corpos infantis na contemporaneidade: lições sobre a produção de corpos heteronormativos. Revista Cocar, v. 12, n. 23, p. 264-287, 2018.
DEKIC, Elena. (2022). Digital Culture and Value Clash on TikTok: ‘Dancing Girl’ vs. Radical Feminist. Humanitarian Vector. 17. 117-127. 10.21209/1996-7853-2022-17-4-117-127.
FACIOLI, Lara Rodrigues; GOMES, Simone da Silva Ribeiro. O ativismo feminista online no Brasil: aportes para uma agenda em construção. Civitas-Revista de Ciências Sociais, v. 22, 2022.
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4 Essa pesquisa recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, que teve início no ano de 2022.2, sendo aprovada no EDITAL FACEPE 05-2022 – PIBIC 2022, portador do processo BIC-1487-8.03/22 com vigência de janeiro/2023 – julho/2023.
5 O Instagram, destaca-se como uma das principais redes sociais, para o compartilhamento de fotos e vídeos instantâneos feitos pelo próprio usuário. O aplicativo, que pode ser baixado gratuitamente e instalado em smartphones e computadores pessoais, disponibiliza filtros e efeitos digitais para tratamento e edição das imagens, além de diversos outros recursos que possibilitam novas formas de comunicação e sociabilização, permitindo que cenas do cotidiano sejam compartilhadas e comentadas entre seus usuários (Oliveira et. al. 2021)
6 O Twitter é uma ferramenta de micromensagens lançada em outubro de 2006, obtendo um rápido crescimento no mundo e no Brasil. O Twitter pode ser percebido como um site de rede social, definido como um espaço da web que permite aos seus usuários construir perfis públicos, articular suas redes de contatos e tornar visíveis essas conexões. (Recuero; Zago, 2016)
7 O Tik Tok é uma rede social que ficou conhecida primeiro como “ByteDance” e depois como “Musical.ly”, o TikTok está entre os aplicativos de mídia social de mais rápido crescimento e mais usados atualmente, é um meio altamente visual, centralizando a aparência do usuário em videoclipes curtos e montagens digitais. Esses vídeos variam em duração de 15 segundos a 3 minutos e podem ser configurados com música, efeitos sonoros ou outros clipes de áudio (Kennedy apud Foster e Baker, 2022).
1Discente do Curso Superior de Licenciatura em Educação Física da Universidade de Pernambuco e-mail: gleyce.monteiro@upe.br
2Discente do Curso de Doutorado no Programa Associado de Pós-graduação em Educação Física UPE/UFPB e-mail: viviane.mmoraes@upe.br
3Docente do Curso Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Programa Associado de Pós-graduação em Educação Física UPE/UFPB. e-mail: adriana.gehres@upe.br