FATORES QUE INTERFEREM NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

FACTORS THAT INTERFEREN IN THE PREVENTION OF CERVICAL CANCER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11187897


Lorena Fernanda Bezerra dos Santos1; Fernando Henrique Ferreira de Araújo2; Taynara Arlinda Souza Lopes3; Katar Santos Medeiros4; Wilson Antônio dos Santos Dourado5; Regiane Palomo Moraes6; Marcos Vinicio de Almeida Selim7; Kenio Lopes Barbosa8; Anderson da Silva Santos9; Eduarda de Faveri Manno10


Resumo

Introdução: O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, tornando-se um problema de saúde pública e um relevante causa de mortalidade em todo o mundo. Entretanto, representa um importante problema devido à baixa aderência ao exame preventivo Papanicolau, resultando em um aumento significativo dos casos e alta taxa de mortalidade. Objetivo: O objetivo desse estudo foi analisar os fatores que interferem na adesão ao exame Papanicolau. Metodologia: Trata-se de uma abordagem do tipo bibliográfico e exploratório, foi realizada uma leitura exploratória das publicações apresentadas em bases de dados como, Google acadêmico, BVS e Scielo. Conclusão: Esse estudo aponta para à importância da prevenção do câncer do colo do útero, todavia, atenta-se para diversas questões que contribuem para a falta de adesão ao exame como informação precária; serviços de saúde sem recursos materiais e humanos Percebe – se que a prevenção do câncer do útero nas mulheres é essencial, visto que, reduz a incidência e a mortalidade dos casos. Desse modo, o acompanhamento e o desenvolvimento de políticas públicas efetivas contribuem para coberturas e estratégias para o exame Papanicolau fornecendo um diagnóstico precoce e tratamento adequado. 

Palavras-chave: Câncer do Colo do Útero; Exame Papanicolau; Prevenção; Controle.

RESUMEN

Introduction: Cervical cancer is the second most common type of cancer among women, becoming a public health problem and a relevant cause of mortality worldwide. However, it represents an important problem due to low adherence to the preventive Pap smear, resulting in a significant increase in cases and a high mortality rate. Objective: The objective of this study was to analyze the factors that interfere with adherence to the Pap smear. Methodology: This is a bibliographic and exploratory approach, an exploratory reading of publications presented in databases such as Google Scholar, VHL and Scielo was carried out. Conclusion: This study points to the importance of preventing cervical cancer, however, it pays attention to several issues that contribute to the lack of adherence to the exam as poor information; health services without material and human resources It is clear that preventing uterine cancer in women is essential, as it reduces the incidence and mortality of cases. In this way, the monitoring and development of effective public policies contribute to coverage and strategies for the Pap smear, providing early diagnosis and adequate treatment.

Keywords: Cervical Cancer; Pap smear; Prevention; Control.

1. INTRODUÇÃO

Os cânceres ou neoplasias malignas vêm destacando-se entre as principais patologias que acometem a população feminina, representando, no Brasil e no mundo, importante causa de mortalidade entre as mulheres adultas. Destaca-se entre eles, o câncer do colo do útero sendo o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, tornando-se um problema de saúde pública e um relevante causa de mortalidade em todo o mundo (CARVALHO et al., 2017). 

No Brasil no ano de 2016 registrou uma incidência do câncer do colo do útero de aproximadamente 16.340 casos. Sendo o principal fator de risco para o desenvolvimento da patologia é a presença do vírus HPV (human papillomavirus). O aumento do número de casos de HPV está relacionado como multiplicidade de parceiros, início precoce da relação sexual e a escassa falta de informação (REIS et al., 2017). 

Nesse contexto, é importante que as mulheres encontrem formas de prevenir o câncer do colo do útero, tais como ter sexo seguro com preservativo, evitar a propagação de infeções sexualmente transmissíveis (ISTs), especialmente o HPV. Também é necessário adotar uma dieta saudável à base vegetal e atividade física, estes contribuem para uma melhor qualidade de vida, e assim reduz a morbimortalidade (SILVA; MARQUES; COSTA, 2021).

O exame Papanicolau abrange maior acessibilidade e fácil realização, sendo um método de melhor acompanhamento do câncer do colo do útero. Desse modo, contribui para redução das taxas de morbimortalidade, visto que, identificado precocemente chega 100% de prevenção e cura. Esse exame realizado no colo do útero que consiste na análise das células da ectocérvice e endocérvice que são extraídas por raspagem do colo do útero (AOYAMA et al., 2019).

As diretrizes de rastreamento têm como principais estratégias, o próprio exame citopatológico com busca ativa das mulheres com faixa etária acima de 25 até 64 anos de idade, tratamento adequado da patologia, das lesões precursoras e monitoramento de qualidade no atendimento à mulher (FEBRASGO, 2021). 

Além disso, destaca-se a prevenção do câncer do colo do útero por meios educativos, vacinação, rastreamento, diagnóstico e tratamento. Nesse sentido, devido as altas taxas de incidência e mortalidade, desde 2014 no calendário de vacina está incluso a vacina de HPV, de forma gratuita, para meninas de 9 a 13 anos (CARVALHO et al., 2021). 

O objetivo desse estudo é analisar os fatores que interferem na adesão a exame Papanicolau. Esta pesquisa se justifica pela importância da prevenção do câncer do colo do útero e o exame Papanicolau como medida preventiva mais eficaz capaz de reduzir a incidência e a mortalidade entre as mulheres, é de alto benefício em relação ao alto custo com o diagnóstico e o tratamento tardio (INCA, 2016). Ademais, a realização do exame Papanicolau permite detectar lesões precursoras em fase inicial, o que lhe certifica um dos mais altos potenciais de prevenção e cura (ALBUQUERQUE et al., 2016). Assim, faz-se o seguinte questionamento, “quais os fatores que interferem na adesão ao exame periódico Papanicolau?”

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma abordagem do tipo bibliográfico e exploratório. A identificação e a seleção dos estudos foram por meio de uma leitura exploratória das publicações indexadas na base de dados como, Google acadêmico e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scielo utilizando os descritores para facilitar a delimitação do tema como exame Papanicolau AND câncer do colo do útero; câncer do colo do útero AND prevenção e controle.

O critério de inclusão deste estudo foi selecionar artigos por meio da leitura dos títulos, dos resumos, palavras-chave, idioma e estudos publicados no período de 2012 a 2022 em português, com resumos disponíveis na base de dados selecionados. Foram excluídos os materiais científicos que não atenderam os objetivos do estudo, artigos incompletos e redigidos em outro idioma.

3. CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

O câncer do colo do útero se caracteriza por uma replicação do epitélio de revestimento do órgão, tendo o potencial de invadir o tecido subjacente, conhecido como estroma, bem como afetar outras estruturas. Entre os tipos de carcinomas invasores, detecta-se dois principais: o carcinoma epidermoide – presente no epitélio escamoso que acomete 80% dos casos, e o adenocarcinoma – que afeta o epitélio colunar, porém é raro (AOYAMA et al.2019).

Os carcinomas são antepostos de lesões precursoras, classificadas como adenocarcinoma in situ e lesão intraepitelial escamosa de alto grau, porém, se forem identificadas e tratadas corretamente e de forma precoce, é possível reduzir o avanço para o câncer cervical invasivo. Ademais, considera-se uma patologia de evolução lenta; no início pode ser assintomática ou apresentar sintomas discretos, podendo progredir com sangramento vaginal, secreção anormal, problemas urinários ou intestinal (FEITOZA et al., 2019).

O câncer do colo do útero é uma problemática de saúde em países em desenvolvimento, representando altas taxas de mortalidade entre as mulheres, principalmente naquelas com baixo poder socioeconômico e em período reprodutivo (AOYAMA et al., 2019). Além da morbimortalidade associada ao câncer do colo do útero, há também danos socioeconômicos associados, altos custos médicos e o impacto psicológico e social nas famílias das mulheres afetadas pela doença.

É uma patologia que traz preocupação pelo fato de desenvolvimento silencioso e prolongado, reforçando assim o aumento da mortalidade, de modo a ocupar o quarto lugar nacionalmente e ser a terceira neoplasia maligna mais frequente no Brasil com estimativa de 500 mil novas ocorrências anualmente representando 15% de todos os cânceres. Além disso, observa-se maior número nas faixas etárias de 30 a 39 anos e 45 a 49 anos (AOYAMA et al., 2019).

No Brasil o câncer de colo de útero é o segundo tipo de câncer ginecológico, atrás apenas do câncer de mama. Apesar de sua alta incidência e mortalidade, configura-se como um câncer com opções preventivas e estratégias preventivas integradas na política de saúde (SILVA; MARQUES; COSTA, 2021).

Segundo Carvalho, Costa e França (2019), o câncer do colo do útero apresenta alto potencial de cura quando detectados de maneira precoce e tratados de forma adequada, de maneira que isso contribui para uma maior sobrevida e redução da morbidade e da mortalidade.

As principais características das mulheres com câncer de útero são: baixa escolaridade e renda, pouco acesso aos serviços de saúde, jovens, excessivo uso do tabaco e uso de drogas. Muitos fatores internos e externos trabalham juntos para aumentar a incidência da doença, cite-se, entre eles, as ISTs, o estresse emocional e a má alimentação, sendo estas as formas mais comuns de disseminação da patologia (BARROS et al., 2021).

3.1 Epidemiologia do Câncer do Colo do Útero

Segundo Silva, Marques e Costa (2021), o câncer do colo do útero é considerado incomum nos Estados Unidos, chegando a estar no décimo primeiro tipo de câncer entre as mulheres na comunidade americana, visto também com essa mesma perspectiva outros países com poder aquisitivo maior; em contrapartida, na América Latina, entre os mais acometidos, destaca-se o Brasil.

No mundo a média anual do câncer em questão é de aproximadamente 530 mil novos casos, sendo, entre as mulheres, o quarto tipo de câncer mais comum e a quarta causa mais frequente de mortalidade, responsável por 265 mil óbitos por ano. Já no Brasil, no ano de 2016 teve um registro de 5.847 óbitos com taxa modificada para a população mundial de 4,70 para cada 100 mil mulheres e no ano de 2018 estima16.370 casos novos com risco de 17,11 casos para cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2019).

De acordo com Feitoza et al. (2019), o câncer do colo do útero é a quarta neoplasia mais comum entre as mulheres e isso o torna um desafio em termos de saúde global. No ano de 2015, dos 270.000 casos de mortes registradas por este tipo de câncer, 90% ocorreram em países de baixo e médio desenvolvimento, onde a taxa de mortalidade é 18 vezes maior que em países desenvolvidos. 

A taxa de incidência do câncer do colo de útero no Brasil é maior na região Norte com cerca de 11,07 mortes/100 mil mulheres, com propensão ao crescimento e sendo a primeira causa de morte nessa região. Em contrapartida, a região Sul e Sudeste apresenta as menores taxas – 4,64/100 mil e 3,29/100 mil respectivamente, sendo a sexta causa de morte entre as mulheres nessas regiões. Outro ponto é quanto à idade, sendo raro antes dos 30 anos e com maior incidência acima de 45 anos de idade, assim também se observa que à medida que a mulher envelhece aumenta as chances da mortalidade por câncer do colo do útero (FEITOZA et al., 2019).

Um ponto importante é quanto a incidência no número de casos – com destaque especificamente para a alta incidência na região Norte, e para o crescimento da mortalidade que gera maior custo social e econômico refletindo nos serviços de saúde que se encontram deficientes. Nesse sentido, deve-se criar estratégias de controle nos serviços de saúde, bem como a formulação de políticas públicas e sensibilização da sociedade. Ademais, deve ser utilizada a descentralização nos serviços de saúde a partir das regiões de saúde como forma de garantir a integralidade na procura e no atendimento do indivíduo (BARBOSA et al., 2016).

Nesse contexto, observa-se que existe uma discrepância entre a região Norte/Nordeste e Sul/Sudeste em relação as taxas de incidência. Segundo os dados projetados até o ano de 2030, existe uma tendência de redução significativa da mortalidade. No entanto, entre essas regiões supracitadas – Norte e Nordeste – persiste aumentada a incidência de casos. Desse modo, nessas regiões é necessário reforçar o rastreamento e identificar os fatores de risco, avaliar os serviços de saúde e traçar metas para iniciar o controle e, posteriormente, reduzir as mortes consideradas evitáveis. Logo, percebe -se que o câncer do colo do útero está mais presente em regiões em desenvolvimento do que em regiões mais desenvolvidas; mais em populações urbanas que nas rurais e mais em classes sociais mais baixa do que nas mais altas (BARBOSA et al., 2016).

A mortalidade por câncer do colo do útero é muito alta principalmente em países menos desenvolvimento quando comparado com os mais desenvolvidos. A título de exemplo, no ano de 2012 ele foi responsável por 265 mil óbitos, sendo que 87% destes ocorreram em países em desenvolvimento. No ano de 2019 a taxa de mortalidade foi de 5,33 óbitos/100 mil mulheres no Brasil e, dentre as regiões, o Nordeste se destaca com maior incidência tanto para mortalidade como também para novos casos da patologia (INCA, 2020). Já para o período de 2020 a 2022 se espera 16.590 casos novos com risco de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2019).

3.2 Fatores de Risco para o desenvolvimento do Câncer do colo do Útero

Nesse aspecto, além do HPV outros fatores contribuem para o desenvolvimento do câncer do colo uterino, como a multiplicação de parceiros sem medidas preventivas o que aumenta as chances para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A idade também é um fator preocupante e prevalente na faixa etária de 20 a 29 anos com pico entre 50 a 60 anos (NICOLAU et al., 2015).

Ademais, outros fatores, além das cepas oncogênicas, contribuem para o câncer do colo do útero, a saber: a imunidade; a genética; a carga viral; o comportamento sexual promíscuo; a multiparidade; o tabagismo; os contraceptivos orais, a coinfecção e a idade acima de 30 anos (FEITOZA et al. 2019). I

Segundo Carvalho et al. (2017) aponta, baixo nível socioeconômico, multiplicidade de parceiros sexuais, multiparidade, uso de contraceptivo oral, início precoce da vida sexual, tabagismo, histórico de transplantes de órgãos e tratamento com imunossupressor são considerados fatores de risco. Em contrapartida, Martins et al. (2021) destaca a relação sexual menor de 18 anos, a multiparidade, a gestação menor de 19 anos, o tabagismo, a população negra, o histórico de infecção sexualmente transmissível – IST, o baixo nível socioeconômico e a histórico familiar de câncer cervical contribuem para o câncer.

A desnutrição, o uso de medicamentos imunossupressores, as deficiências imunológicas e o tabagismo contribuem para o surgimento do câncer do colo do útero (CARVALHO et al., 2021). Percebe-se que é uma patologia com causas multifatoriais pela interação de fatores socioeconômicos, ambientais, história familiar, estilo de vida (tabagismo, alcoolismo, alimentação desequilibrada e sedentarismo) e em decorrência do processo de envelhecimento (FREITAS; SILVEIRA; AZEVEDO, 2021). A exposição precoce à relação sexual está diretamente relacionada à imaturidade cervical durante a adolescência, a metaplasia grave, a zona de transformação cervical no colo do útero e os níveis hormonais instáveis. Durante a puberdade e adolescência, a zona de transformação cervical é mais proliferativa e mais sensível às alterações causadas por patógenos sexualmente transmissíveis (por exemplo, HPV) (NICOLAU et al., 2015).

De acordo Silva, Marques e Costa (2020) o câncer acontece de forma silenciosa e lenta, visto como uma neoplasia intraepitelial cervical (NIC). Além do HPV ser considerado uma condição para o câncer, a idade e o tabagismo ganham destaque. O número de cigarros usados por dia é equivalente ao risco da patologia, bem como a idade mais avançada tem maior risco de infecção persistente do que as mulheres mais novas que tendem ter regressão espontânea. Além disso, o risco para patologia é aumentado quando o ato de fumar inicia em idade precoce.

Dentre os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da patologia, incluem-se atividade sexual precoce, múltiplos parceiros, déficit de vitaminas e, o principal deles, a infecção por HPV (Papiloma Vírus Humano), sendo os tipos oncogênicos mais frequentes o HPV 16 e o 18 (AOYAMA et al., 2019). Desse modo, a patologia pode ser silenciosa e assintomática com evolução longa de lesões pré-invasivas, classificadas em neoplasias intraepitelial cervical (NIC) ou de baixo grau identificadas em grau I – caracterizada por uma infecção instável provocada por HPV, e as de alto grau II e III com maior probabilidade de progredir para o câncer (CARVALHO; COSTA; FRANÇA, 2019).

3.3 Fatores que interferem na adesão do exame Papanicolau 

A realização do exame Papanicolau é de suma importância, entretanto existem fatores limitantes que comprometem sua realização, como o difícil acesso ao sistema público de saúde, a demora para o tratamento e as amostras insatisfatórias e de pouca qualidade (FEBRASGO, 2021).

Segundo um estudo realizado por Gomes et al. (2021), motivos essenciais foram identificados para a não adesão ao exame, dentre eles temos:  baixa escolaridade, falta de companheiro, baixa renda, mulheres mais jovens,  histórico de uso de tabaco, álcool e outras drogas, estado de desnutrição, desemprego, medo, vergonha, constrangimento ao procedimento, dificuldade em ter acesso ao exame, sofrer violência física ou sexual, falta de conhecimento a respeito do exame e da patologia, comportamento negativo acerca da saúde, o fato de não ir, ou ir pouco, a consulta de enfermagem e ginecológica.

Somado a isso, encontram-se a falta de integralidade, dificuldade no acesso aos serviços de saúde, estado civil, extremos da faixa etária, renda, cor da pele, resistências de grupos no que tange as iniquidades sociais (GOMES et al., 2021). Além disso, encontram-se dificuldades na estrutura do serviço, como oferta deficiente ao acesso ao serviço de saúde e consequentemente afeta à detecção e o tratamento, dificuldades econômicas e geográficas, insuficiência por questões culturais e preconceito, deficiência de materiais, demora no resultado exame Papanicolau (CARDOSO; COSTA, 2019).

Embora a atenção primária à saúde forneça os recursos necessários para a prevenção do câncer do colo do útero, o desconhecimento, a vergonha e os tabus resultam em um número significativo de mulheres que não realizam rotineiramente o rastreamento preventivo (exame de Papanicolau). A baixa adesão afeta negativamente o declínio dos indicadores de sobrevida associados a esse tipo de câncer. Os fatores culturais, sociais, econômicos e comportamentais devem, portanto, ser considerados como determinantes do cumprimento e manejo dessa condição (OLIVEIRA; LEITE, 2017).

Em relação ao baixo índice de adesão ao exame Papanicolau, a rotina de trabalho da unidade de saúde identifica que a maioria das mulheres desconhece essa doença, a realização do exame e a importância dele, e que algumas mulheres também o procuram somente quando surge algum sintoma diferente do habitual. O desconhecimento sobre o exame é maior nos grupos socialmente desfavorecidos, existe maior procura de prevenção nas redes privadas; e nas redes públicas a procura é por algum sintoma ou tratamento do sintoma (OLIVEIRA; LEITE, 2017).

Adicionalmente, a baixa escolaridade, que dificulta na identificação de possíveis lesões e aumenta o risco para as ISTs, é outro fator para a deficiência na adesão ao exame Papanicolau (SILVA et al., 2015). Em um estudo realizado por Aoyama et al. (2018), identificou-se fatores implicantes para adesão ao exame como, entre outros, timidez, desleixo, falta de manifestações clínicas, evidenciando assim a ausência de entendimento a respeito da relevância e da regularidade do exame. Nessa perspectiva, os profissionais de saúde devem continuamente atuar na orientação e conscientização quanto a realização do exame preventivo e sua periocidade, de modo a contribuir para a melhoria da qualidade de vida da mulher e a diminuição da mortalidade.

Entre outros motivos de dificuldade na adesão ao exame, está a falta de informação sobre a vacina, o medo de possíveis efeitos colaterais e dúvidas sobre a eficácia, razões que, em conjunto ou individualmente, também contribuem para outras medidas – que previnem e identificam o câncer em questão, como a falta de aderência a vacina, ocasionando maior exposição e possibilidade de ter ao câncer do colo útero (SILVA; MARQUES; COSTA, 2021).

Os fatores relacionados à unidade de saúde que impedem a prática do exame incluem, o acesso ao atendimento, o agendamento limitado, as filas de espera, a  falta de materiais para coleta de exames, a falta de tempo para enfermeiros o que leva em decorrência o excesso de serviços, podendo assim comprometer a qualidade dos serviços prestados, os materiais recolhidos para exame de forma ineficaz que interferem na análise, fatos que refletem a falta de preparo ou comprometimento do profissional com o serviço (COSTA et al., 2017).

3.4 Prevenção do Câncer do Colo do Útero

Vale ressaltar que o câncer do colo do útero tem grande potencial de prevenção e cura, visto que o desenvolvimento lento da patologia permite variadas formas de intervenção reduzindo a propagação do câncer (AOYAMA et al., 2019). Nessa perspectiva e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 30 e 50% do câncer do colo do útero pode ser prevenido por meio de medidas de prevenção, detecção precoce e tratamento (CARVALHO; COSTA; FRANÇA, 2019).

Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para reduzir a incidência do câncer invasivo em cerca de 60 a 90%, é necessário oferecer uma cobertura de, no mínimo, 80% para a população e também um serviço com assistência ao diagnóstico e tratamento adequado. Os países da América Latina, principalmente regiões mais pobres, apresentam taxas elevadas; em contrapartida, países como Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália apresentam taxas mais baixas. Vale destacar que, em países que empregam com qualidade o acesso ao serviço com cobertura para diagnóstico, tratamento e seguimento, é possível notar que a incidência do câncer diminui em 80% (BRASIL, 2018).

O diagnóstico se torna um grande desafio pela própria patologia ser assintomática. Entretanto, o rastreamento é uma ferramenta que possibilita identificar precocemente as mulheres com risco de lesões ou com câncer propriamente dito. Entre os métodos disponíveis, existe a citologia cervical que pode ser convencional ou em base líquida (FEBRASGO, 2021). Segundo Martins et al. (2021), o exame citopatológico é considerado a chave para reduzir a mortalidade da patologia e a principal estratégia de programa de rastreamento do câncer no mundo.

No tocante a redução das taxas de morbidade e mortalidade do câncer do colo do útero, destaca-se a prevenção primária: no caso, a vacinação contra HPV. Os Estados Unidos apresentam uma taxa de incidência baixa para o câncer devido a aplicabilidade de recursos humanos e materiais, em que a vacinação é recomendada para meninos e meninas entre 11 e 12 anos com aplicabilidade até 26 anos. No Canadá, na Austrália e no Reino Unido 70% das crianças já foram vacinas, evidenciando assim a eficácia do programa e da cobertura. No Brasil, a vacinação é marcada por barreiras econômicas, políticas e culturais que interferem na adesão da vacina resultando em um crescimento acentuado do câncer e afetando a prevenção (SILVA; MARQUES; COSTA, 2020).

O Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, segundo as diretrizes brasileiras, inclui a forma de planejar e programar os procedimentos referentes à linha de cuidado do câncer, de modo a direcionar o profissional frente às mulheres com ou sem alteração no exame. Levando em consideração a periodicidade do rastreamento, a cada três anos após dois exames negativos anuais consecutivos, estima-se, a cada ano, um terço da população-alvo, ou seja, 33,3 da população feminina na faixa etária de 25 a 64 anos (INCA, 2019).

4. CONCLUSÃO

O câncer do colo do útero está entre os cânceres que mais atinge as mulheres, sendo que o principal fator é o HPV. Além disso, outros fatores de risco que contribuem como a multiplicidade de parceiros, o uso de contraceptivos, a ausência de preservativos, sendo dessa maneira importante a atuação dos profissionais de saúde quanto ao tratamento e à abordagem, orientação e prevenção.

Como demonstram os resultados, os fatores que mais contribuem para que muitas mulheres não busquem o tratamento preventivo é a falta de informação sobre sua importância. Nota-se que há necessidade de profissionais capacitados para atuarem não somente dentro de um posto médico, mas também fora dele e através de trabalhos educativos. É importante que os profissionais prestem esclarecimento sobre a importância da realização do exame preventivo periodicamente, bem como sua forma de prevenção.

Ademais disso, outros pontos que interfere na adesão ao exame incluem: baixa escolaridade; baixa renda; dificuldade em ter acesso ao exame; falta de conhecimento a respeito do exame e da patologia; comportamento negativo acerca da saúde; oferta deficiente ao acesso ao serviço de saúde; demora no resultado exame Papanicolau; desconhecimento; vergonha; a falta de manifestações clínicas e de materiais para coleta de exames comprometem a realização e a qualidade de vida da mulher.

Desse modo, o desafio é grande frente a prevenção e o diagnóstico do câncer do colo do útero, visto que vários fatores interferem nas ações de saúde direcionadas a isso. Assim, entender as necessidades, dificuldades e barreiras das mulheres para a realização do exame é imprescindível para uma boa qualidade de saúde através da prevenção. 

Nesse sentido, faz-se necessário criar estratégias que visam contribuir para que as mulheres se atentem quanto a relevância do exame. A educação em saúde é considerada a principal aliada na prevenção, tornando as mulheres multiplicadoras de informações, utilizando atividades de educação em saúde que favoreça estabelecer um vínculo entre paciente e profissional, firmado na confiança, respeito e visão das mulheres como um ser que deve ser visto e acompanhado de maneira integral.

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 1Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  2Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  3Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  4Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  5Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
 6Graduada no Curso de Enfermagem na UNASP
  7Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  8Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  9Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis
  10Graduanda do Curso Superior de Medicina da Universidade Brasil – Campus Fernandópolis