RISK FACTORS FOR POSTPARTUM DEPRESSION: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7983086
Daiene Silva de Oliveira1
Naiara Santiago Pires2
Tatiany Magalhães Soares3
Orientadora: Mariana Delfino Rodrigues4
RESUMO
Introdução: A depressão pós-parto (DPP) é uma condição psiquiátrica que pode ocorrer após o parto e está associada a dificuldades no desenvolvimento da criança e nas condutas da mãe. A etiologia da DPP é multifatorial e a identificação dos fatores de risco é essencial para prevenir danos na vida da mãe e da criança. Método: Realizou-se uma revisão integrativa de literatura nas plataformas Scielo, Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde utilizando os descritores “postpartum depression” e “risk factors”, em inglês ou português, publicados entre os anos de 2010 e 2023. Foram selecionados 26 artigos para análise. Resultados: Foram encontrados 50 artigos, sendo 25 na base Pubmed, 10 na base Scielo e 15 na Biblioteca Virtual em Saúde. A análise dos artigos selecionados revelou que fatores psicossociais, socioeconômicos e orgânicos são considerados importantes fatores de risco para o desenvolvimento da DPP. Discussão: A revisão integrativa mostrou que a DPP pode estar associada a diversos fatores de risco, os quais podem contribuir para a piora da doença e aumentar o risco de complicações tanto para a mãe quanto para a vida do bebê. Conclusão: destaca a importância do conhecimento dos fatores de risco da DPP a fim de prevenir as consequências para mãe e bebê. Profissionais de saúde devem estar atentos e oferecer suporte adequado às mulheres nesse período.
Palavras-chave: Depressão pós-parto; fatores de risco; saúde materna.
ABSTRACT
Introduction: Postpartum depression (PPD) is a psychiatric condition that can occur after childbirth and is associated with difficulties in the development of the child and the mother’s behaviors. The etiology of PPD is multifactorial, and identification of risk factors is essential to prevent harm to the lives of both mother and child. Method: An integrative literature review was carried out on the Scielo, Pubmed, and Virtual Health Library platforms using the keywords “postpartum depression” and “risk factors” in English or Portuguese, published between 2010 and 2023. 26 articles were selected for analysis. Results: A total of 50 articles were found, 25 in Pubmed, 10 in Scielo, and 15 in the Virtual Health Library. Analysis of the selected articles revealed that psychosocial, socioeconomic, and organic factors are important risk factors for the development of PPD. Discussion: The integrative review showed that PPD may be associated with various risk factors that can contribute to the worsening of the disease and increase the risk of complications for both the mother and the child. Conclusion: highlights the importance of knowledge about the risk factors of PPD in order to prevent consequences for both mother and child. Health professionals must be attentive and provide adequate support to women during this period.
Keywords: Postpartum depression; risk factors; maternal health.
1. INTRODUÇÃO
A depressão pós-parto (DPP) é um transtorno psiquiátrico debilitante, sendo comum acontecer no primeiro mês após o nascimento, podendo prolongar-se se seguir um curso crônico e recorrente. Um estudo nacional, executado no Brasil em 2012, em relação a depressão pós-parto informou que dentre as 23.894 mulheres estudadas, teve uma prevalência de 26% de puérperas em depressão (THEME, et al., 2016).
As categorias chave, que determinam o risco para DPP e que são estáveis entre as culturas, seriam: históricos de depressão, desvantagens socioeconômicas, falta de apoio do parceiro, família e amigos, mãe solteira, gravidez em tenra idade e stress. Outros fatores relevantes como primíparas, partos prematuros, conflitos conjugais, morte familiar ou do último filho, também irão contribuir para problemas psicológicos na mulher (NISHIMURA, et al., 2015).
Ademais, foi identificado em meta-análises e estudos sistemáticos quantitativos e qualitativos que o tipo de cessaria (eletiva ou emergencial), mulheres imigrantes, níveis de vitamina D sérico e distúrbios do sono, levam a distúrbios mentais graves nas grávidas, resultando em um maior risco de DPP.
Diante disso, percebe-se que este transtorno depressivo afeta a relação mãe e filho desde os primeiros dias de vida, principalmente se a mãe tem dificuldades no processo de amamentação, objeção em conversar ou até mesmo aversão pelo ato de tocar o bebê, levando-a a repudiar ou recusar qualquer contato com ele e acarretando problemas no desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança. Em casos graves, as mães entram em psicose pós-parto e cometem suicídio e, mais raramente, infanticídio (ZHAO, et al., 2020).
Durante o período de DPP, é fundamental o acolhimento do profissional de saúde e dos familiares, acolhimento este que deve ter início no pré-natal e perdurar no período puerperal, a equipe multidisciplinar deve orientar os familiares na tratativa com essa puérpera, implementando uma abordagem mais sensível e confortável possível (ATUHAIRE, et al., 2021).
Outrossim, é de suma importância uma avaliação completa da puérpera, que engloba tanto exames físicos e laboratoriais, como psicológicos, com objetivo de diagnosticar sintomas comuns da depressão: depressão com baixa humor e falta de interesse em seu bebê (OLIVEIRA, et al., 2022).
Assim o presente estudo tem por objetivo descrever os principais fatores de risco para o desenvolvimento da depressão pós-parto, por meio de uma revisão integrativa de literatura.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, que tem como base a pergunta norteadora “Quais são os fatores de risco associados à depressão pós-parto? “.
A busca de artigos foi realizada por meio das plataformas eletrônicas Scielo, Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde, utilizou-se os seguintes descritores “postpartum depression” e “risk factors”, estes foram pesquisados tanto na língua portuguesa quanto na língua inglesa. Para seleção dos artigos considerou-se trabalhos publicados entre os anos de 2010 e 2023, sendo incluídos somente os artigos sistemáticos que respondiam à pergunta norteadora.
Foram incluídos artigos que reportam os fatores de risco associados à DPP, a prevalência dessa condição e a relação mãe e bebê. Por outro lado, foram excluídos os artigos que não tinham os descritores supracitados no título e no resumo dos estudos.
A figura 1 compreende o fluxograma de seleção de artigos, e os passos seguidos nas etapas do processo de busca, que compreende em:
– Identificação: Essa etapa envolve a busca inicial e ampla de artigos relevantes para a revisão sistemática, sendo encontrados 327 artigos.
Nessa etapa, é importante definir critérios de busca bem definidos e usar termos de pesquisa apropriados. Logo, foram excluídos os artigos que não possuíam os descritores pré-determinados e que não possuíam informações suficientes, sendo excluídos 124 artigos no total.
– Triagem: Após a etapa de identificação, é necessário realizar a triagem dos artigos encontrados para determinar quais são relevantes para a revisão sistemática. Isso geralmente envolve uma avaliação dos títulos e resumos dos artigos em relação aos critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos, sendo excluídos 140 artigos que tinham acesso restrito.
– Período: Essa etapa refere-se à definição do período em que os artigos devem ter sido publicados para serem incluídos na revisão sistemática, sendo os artigos excluídos aqueles que não foram publicados entre os anos de 2010 e 2023, totalizando 37 artigos retirados.
– Inclusão: Nessa etapa, os artigos que passaram pela triagem e atendem aos critérios de inclusão são selecionados para serem incluídos na revisão sistemática. Tendo 26 artigos que são considerados relevantes e fornecerão a base para a análise e síntese dos resultados da revisão.
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção de estudos.
Fonte: Autoria própria.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Um total de 327 artigos foram encontrados nas três plataformas, dos quais 26 foram selecionados após a análise de texto e exclusão de estudos que não atenderam aos critérios de inclusão. Os artigos selecionados foram organizados em planilha (Tabela 1) contendo: nome do autor, ano de publicação e revista/editora.
Tabela 1. Relação dos artigos utilizados nesta revisão de literatura
Nome do autor | Ano de publicação | Revista/editora |
CANTÍLIO et al (2010) | 2010 | Jornal Brasileiro de Psiquiatria |
LOBATO et al (2011) | 2011 | Revista Brasileira de saúde materna infantil |
ZACONETA et al (2013) | 2013 | Revista Brasileira de Ginecologia e obstetrícia |
KHANDAKER et al (2014) | 2014 | JAMA Psychiatry |
FIGUEIREDO et al (2015) | 2015 | Jornal of Affective Disorders |
COUTO et al (2015) | 2015 | Mundo Jornal Psiquiatria |
MORAIS et al (2015) | 2015 | Estudos de Psicologia |
LAWSON et al (2015) | 2015 | J. Affective Disord. |
FALAH-HASSANI et al (2015) | 2015 | J. Psychiatr |
NISHIMURA et al (2015) | 2015 | BMC Pragnancy Childbirth |
OKUN et al (2016) | 2016 | Current Psychiatry Reports |
ACCORTT et al (2016) | 2016 | Arch. Womens Ment. Health |
THEME et al (2016) | 2016 | Jornal of Affective Disorders |
SPARLING et al (2017) | 2017 | Matern. Child. Nutrition |
ANDERSON et al (2017) | 2017 | Arch. Womens Ment |
XU et al, (2017) | 2017 | J. Psychosomatic |
HARTMANN (2017) | 2017 | Cadernos de saúde pública |
WANG et al (2018) | 2018 | Arch. Gynecol. Obstetrics |
FARÍAS et al (2018) | 2018 | Jornal of Affective Disorders |
MOAMERI et al (2019) | 2019 | Clin. Epidemiol. Glob. Health. |
de PAULO et al (2019) | 2019 | Jornal of Affective Disorders |
SILVA et al (2019) | 2019 | BMC Pregnancy Childbirth |
SILVA et al (2020) | 2020 | Revista Brasileira de Enfermagem |
ZHAO et al (2020) | 2020 | Asian Jornal of psychiatry |
ATUHAIRE et al (2021) | 2021 | BMC Pragnancy Childbirth |
OLIVEIRA et al (2022) | 2022 | Revista Brasileira de Ginecologia e obstetrícia |
Fonte: autoria própria
Dos estudos analisados foi possível verificar fatores apontados como de risco e em contrapartida também foi possível levantar os aspectos tidos como possíveis preventivos para o desenvolvimento da depressão pós-parto.
Como fatores de risco Cantílio et al. (2010) e Morais et al. (2015) onde discutem que a história de depressão prévia é um importante fator que propicia o desenvolvimento da depressão pós-parto.
Os autores Zaconeta et al. (2013) e Figueiredo et al. (2015) discutem em seus estudos a relação entre eventos estressantes na gestação e a DPP. Khandaker et al. (2014) e de Paulo et al. (2019) abordam a relação entre a depressão pós-parto e o uso de antidepressivos durante a gravidez.
Xu et al, (2017) mostram que o estresse oxidativo, que ocorre quando há um desequilíbrio entre os antioxidantes e os radicais livres no organismo, pode estar associado à DPP.
Outro fator potencializador para o desenvolvimento da DPP é discutido por Falah-Hassani et al. (2015) que indicaram que mulheres que sofreram violência doméstica durante a gestação tiveram maior probabilidade de desenvolver DPP em comparação com aquelas que não sofreram violência.
As pesquisas de Zaconeta et al. (2013) e Okun et al. (2016) sugerem que o uso de álcool pode realmente agravar os sintomas da depressão pós-parto e tornar mais difícil para as mulheres lidarem com a condição.
Zaconeta et al. (2013) ao examinaram a associação entre o consumo de álcool e a depressão pós-parto em uma amostra de mulheres brasileiras, descobriram que as mulheres que consumiram álcool durante o período pós-parto tinham uma probabilidade significativamente maior de desenvolver depressão pós-parto do que as mulheres que não consumiram álcool.
Com relação aos fatores sociodemográficos que influenciam a DPP, tem-se como agentes tangenciais: a baixa renda, baixo prestígio ocupacional, pouca idade, ser solteira, multípara e baixa escolaridade. Outrossim, evidencia-se que o nível de escolaridade influencia no processo, sendo que quanto menor a quantidade de anos de estudo concluídos, menor é a proteção para o equilíbrio emocional e psíquico na puérpera (SILVA, et al, 2020).
Ademais, a renda é outro fator de risco importante observados nos estudos, pelo fato de que a mãe tem preocupações em como manter uma vida estável tanto para o bebê quando para ela mesma em relação a recursos de saúde, alimentação, transporte, moradia e educação (ATUHAIRE, et al, 2021).
Foi observado que mulheres que tem sentimentos de tristeza no último trimestre gestacional possuem um risco três vezes maior de adquirir depressão pós-parto. Logo, tanto sintomas de depressão na gravidez em andamento quanto histórico familiar prévio de problemas mentais, são grandes fatores de pior prognóstico (THEME, et al, 2016).
Por sua vez, trabalhos que discutem a relação entre os agentes que tem intimidade com o apoio social e depressão materna, constataram que a lacuna de não ter apoio de familiares, amigos e do parceiro é um grande fator de risco para DPP (FARÍAS, et al, 2018).
Fatores como agentes psicossociais, a depressão previamente diagnosticada na mulher, antes da gravidez, e o histórico familiar com transtornos psiquiátricos são de grande valia para a predisposição para desenvolvimento de DPP (OLIVEIRA, et al, 2022).
Foi investigado a relação entre a cesariana e a DPP, um estudo realizado por Moameri et al. (2019), relatou o aumento no risco de DPP de 63% após a cessaria. Ademais, tem-se uma demanda maior de cessarias de emergência do que as cessarias seletivas, indicando um aumento de risco para DPP nas cessarias emergenciais. Outro estudo relatou achados parecidos, Xu et al. (2017) identificou um maior risco de DPP em cesarias de emergência do que nas cesárias eletivas.
Tais estudos descritos demostram que tanto a cesaria eletiva quando emergencial é um fator de risco para DPP, sendo a última de maior risco, levando ao aumento de estresse da puérpera, devido ao aumento de interleucinas 6, a qual é uma importante citocina que leva a depressão (KHANDAKER, et al., 2014).
Uma pesquisa feita por WANG et al. (2018) analisou a correlação da vitamina D com a DPP e constatou em seu estudo longitudinal abrangendo 8.470 mulheres usando o 25(OH)D (biomarcador de vitamina D) para estimar as circunstâncias da vitamina D. Foi investigado que os resultados dos níveis séricos de vitamina D menor que 50nmol/l estão correlacionados com o risco de 2,67 vezes maior de DPP do que os níveis de vitamina D > 50nmol/l.
Ademais, a vitamina D tem sido um composto que reduz as respostas inflamatórias durante a gestação. Sendo assim, as mudanças nas ações inflamatórias e citocinas são critérios de extrema importância para que ocorra sinais e sintomas de depressão. (ACCORTT et al., 2016).
Lawson et al. (2015) realizaram uma revisão sistemática para investigar a relação entre o sono e os distúrbios psicológicos pós-parto, incluindo a depressão pós-parto. Os autores destacaram que as dificuldades para dormir durante a gravidez e no pós-parto podem ser um fator de risco para o desenvolvimento da depressão pós-parto.
De fato, a falta de sono pode levar a uma série de problemas emocionais e mentais, incluindo a depressão. A privação do sono pode afetar negativamente a qualidade de vida, o desempenho cognitivo, a atenção e o estado geral de saúde da mãe. Além disso, a falta de sono pode afetar negativamente o humor e a regulação emocional, o que pode contribuir para o desenvolvimento da depressão pós-parto (LAWSON et al. 2015)
A revisão de Okun (2016) também destacou a importância do sono para a saúde mental das mães no pós-parto. A falta de sono pode afetar negativamente a saúde mental, incluindo o desenvolvimento da depressão pós-parto. Os mecanismos exatos pelos quais a privação do sono contribui para a depressão ainda não são totalmente compreendidos, mas sabe-se que o sono desempenha um papel importante na regulação emocional e no bem-estar mental.
Para Couto, et al (2015) a DPP tem carater multifatorial, por isso tem-se dificuldade de identificar uma etiologia concreta, no entanto, há fatores de risco que demostram correlação com essa psicopatologia. Para tanto, foi observado que a alta variabilidade da prevalência de DPP tem correlação com os fatores sociodemográficos e psicossociais, há também em conjunto, os fatores culturais.
Como fator protetor os estudos de Lobato et al. (2011) e Silva et al. (2019) apontam a importância do suporte social no período pós-parto como um fator protor para o desenvolvimento da depressão pós-parto.
Por outro lado, Sparling et al., 2017 discutem que a prática de atividade física durante a gestação pode ter um impacto positivo na saúde mental da mãe, reduzindo o risco de DPP.
Explorando a suplementação e as dietas com relação a DPP, encontraram-se efeitos protetores de suplementação multivitamínica, comer peixe diariamente, vitamina D, cálcio, zinco e selênio. Concentrações mais altas de ácido docosahexaenóico (DHA) no leite materno e grande ingesta de frutos do mar foram relacionados com baixas taxas de DPP (SILVA, et al., 2019).
Salienta-se, portanto, que as equipes de saúde devem fazer ações preventivas para o preparo precoce da mãe para que possa receber o bebe em um estado de equilíbrio emocional, deixando esse momento de primeiro encontro com seu filho o menos traumático possível. Além disso, o planejamento familiar é de suma importância para que haja este resultado satisfatório.
O estudo de Cantílio et al. (2010) destacou a importância de se identificar fatores de risco e prevenção da depressão pós-parto. Eles concluíram que a detecção precoce de sintomas depressivos e o tratamento adequado pode reduzir a prevalência de depressão pós-parto e melhorar a qualidade de vida das mulheres. Esse achado é corroborado por outros estudos, como o de Khandaker et al. (2014), que destacou que o tratamento precoce pode ser efetivo em prevenir a depressão pós-parto.
De acordo com Lobato et al. (2011), o qual avaliou-se a prevalência de sintomas depressivos em mulheres no período pós-parto e sua associação com a qualidade de vida, foi concluído que a depressão pós-parto pode afetar negativamente a qualidade de vida. Estes dados são apoiados pela pesquisa Farias et al. (2018), o qual observou a importância de se abordar a depressão pós-parto como uma condição de saúde pública.
Da mesma forma, o estudo de Okun et al. (2016) examinou a relação entre o uso de álcool e a depressão pós-parto em uma amostra de mulheres americanas. Eles descobriram que as mulheres que usaram álcool durante o período pós-parto tinham uma probabilidade significativamente maior de ter sintomas de depressão pós-parto do que as mulheres que não usaram álcool.
A revisão sistemática e meta-análise conduzida por Khabdaker et al. (2014) investigou a eficácia de intervenções não farmacológicas para prevenir a depressão pós-parto em mulheres em risco. As intervenções não farmacológicas avaliadas incluíram terapia cognitivo-comportamental, intervenções psicossociais, exercícios físicos e programas de apoio.
Os pesquisadores revisaram 27 estudos que avaliaram essas intervenções e realizaram uma meta-análise para determinar a eficácia geral das intervenções na prevenção da depressão pós-parto. Eles descobriram que a terapia cognitivo-comportamental foi a intervenção mais eficaz na prevenção da depressão pós-parto. Além disso, outras intervenções, como programas de apoio e intervenções psicossociais, também mostraram alguma eficácia na prevenção da depressão pós-parto.
A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem terapêutica que se concentra em mudar os padrões de pensamento e comportamento que podem estar contribuindo para os sintomas da depressão. Podendo ser adaptada para mulheres em risco de depressão pós-parto, ajudando-as a desenvolver habilidades de enfrentamento e lidar com o estresse e a ansiedade que podem surgir após o nascimento do bebê.
Figueiredo et al. (2015) investigaram a relação entre a depressão pós-parto e a qualidade da vinculação mãe-bebê, que se refere à relação afetiva entre a mãe e seu bebê. Os autores destacaram a importância da qualidade da vinculação para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo do bebê, além de destacar que a depressão pós-parto pode afetar negativamente essa relação.
A depressão pós-parto pode levar a uma variedade de sintomas que afetam a capacidade da mãe de se conectar emocionalmente com seu bebê, como falta de energia, irritabilidade, tristeza, ansiedade e baixa autoestima. Isso pode levar a uma qualidade de vinculação reduzida entre a mãe e o bebê, o que pode ter impactos negativos na saúde mental de ambos a longo prazo.
A qualidade da vinculação é um fator importante a ser considerado no tratamento da depressão pós-parto. Se a qualidade da vinculação for baixa, a mãe pode ter dificuldades para estabelecer uma conexão emocional com seu bebê e pode se sentir isolada e desamparada.
O efeito da depressão materna exposta ao bebê pode afetar os resultados de crescimento devido a pouco comprometimento materno, baixo tempo de estimulação sensorial e cognitiva positivas. Havendo dessa forma, a falta de comprometimento do início da amamentação, resultando em desmame precoce (MORAIS, et al., 2015).
As revisões sistemáticas e meta-análises identificaram as complicações na imigração como critério de fator de risco para DPP. Foram dois estudos de caráter quantitativo que subsidiaram as provas para a associação. Um deles é a meta-análise feita pelo ANDERSON et al. (2017), o qual observou a associação de países diferentes de destino como Canadá, Estados Unidos e Brasil. Outro estudo demonstrou que grávidas imigrantes tinham mais risco de possuir DPP do que as grávidas não imigrantes (FALAH-HASSANI, et al., 2015).
A conclusão dessas meta-análises foram parcialmente paradoxos. Pesquisas avançadas foi relatada a complexidade do status de migração, Anderson et al. (2017) analisou fatores predisponentes na imigração que ajuda no DPP: sem apoio social e status socioeconômico, dificuldades em aprender a língua estrangeira, status de refugiado e etnia minoritária.
Outrossim, a dieta e nutrição também foi estudada para verificar a provável correlação com a DPP. Silva et al. (2019) relatou em sua revisão sistemática os padrões alimentares juntamente com a ansiedade e depressão antes do parto. Os padrões saudáveis e ocidentais foram critérios protetores para DPP. Ademais, o modelo de alimentação tradicional no Japão, Brasil, Índia e Reino Unido tiveram uma significância mínima para ocasionar algum grau de risco para DPP.
- CONCLUSÃO
Como presente estudo foi possível perceber que a ocorrência multifatorial da DPP é uma das dificuldades em apontar o fator causador do distúrbio psíquico. No entanto foi possível também levantar os fatores de risco mais recorrentes encontrados nas pesquisas para o desenvolvimento da depressão pós-parto, tais como: status de migração, efeitos socioeconômicos e sociodemográficos, cesariana, deficiência de vitamina D, distúrbios do sono, falta de apoio social e, nutrição e alimentação, o uso abusivo de álcool, a violência contra mulher e diagnóstico anterior de depressão.
Os dados obtidos mostram que a maior parte dos estudos incluídos nesta revisão foram conduzidos em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.
Embora os estudos tenham variado em relação ao tamanho da amostra, metodologia e definição de DPP, a maioria das pesquisas encontrou uma alta prevalência de DPP, o que reforça a importância desse problema na saúde pública. Notou-se também que vários estudos investigaram a relação entre DPP e a saúde do bebê, como o impacto na amamentação e desenvolvimento cognitivo da criança.
A depressão perinatal é um problema relevante e que merece atenção e cuidado por parte dos profissionais de saúde que atuam na assistência à saúde da mulher e do recém-nascido. A análise dos artigos selecionados indicou que a prevalência da depressão perinatal varia de acordo com as características das populações estudadas, com destaque para as condições socioeconômicas e demográficas.
Além disso, foi observado que a depressão perinatal pode ter consequências graves para a mãe e o bebê, como atraso no desenvolvimento infantil, problemas de alimentação e sono, além de aumentar o risco de transtornos psiquiátricos na mãe a longo prazo.
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1,2,3Acadêmicas de Medicina Faculdade Metropolitana – UNESA de Porto Velho- RO.
4Orientador: Docente na Faculdade Metropolitana- UNESA de Porto Velho- RO.