SURGICAL EXCISION OF MUCOCELE IN THE LOWER LIP: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410050647
Andressa Custódio Erpen1; Francisca Carvalho da Frota²; Julia Isabelle Renata Cecílio Braga³; Fernanda Vieira Heimlich4; Regina Márcia Serpa Pinheiro5; João Pereira dos Santos Júnior6.
RESUMO: Mucocele é o fenômeno de extravasamento de Mucina para dentro dos tecidos moles. Lesão benigna mais comum da cavidade oral, de etiologia traumática, pseudocisto que surge após o rompimento do ducto de uma glândula salivar menor, com predileção ao lábio inferior, assoalho de boca, ventre da língua, seguida da mucosa jugal. Vale ressaltar que as mucoceles podem ser autolimitantes, ou seja, rompem deixando úlceras rasas e dolorosas e depois cicatrizam sozinhas. Todavia, existem mucoceles de natureza crônica, as quais necessitam de excisão cirúrgica e avaliação microscópica. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo realizar uma revisão de literatura bem como descrever um relato de caso clínico de mucocele em lábio inferior, cujo tratamento de escolha foi a excisão cirúrgica. Em suma, o procedimento eleito é considerado por muitos autores como atraumático, seguro e eficaz.
Palavras-Chave: Cirurgia bucal. Mucocele. Excisão Cirúrgica.
ABSTRACT: Mucocele is the phenomenon of mucin leakage into soft tissues. The most common benign lesion of the oral cavity, of traumatic etiology, pseudocyst that appears after rupture of the duct of a minor salivary gland, with a predilection for the lower lip, floor of the mouth, belly of the tongue, followed by the buccal mucosa. It is worth mentioning that mucoceles can be self-limiting, that is, they rupture leaving shallow, painful ulcers and then heal on their own. However, there are mucoceles of a chronic nature, which require surgical excision and microscopic evaluation. In this sense, the present work aims to carry out a literature review as well as describe a clinical case report of mucocele in the lower lip, whose treatment of choice was surgical excision. In short, the chosen procedure is considered by many authors to be atraumatic, safe and effective.
Keywords: Oral surgery. Mucocele. Surgical Excision.
INTRODUÇÃO
Mucocele é o fenômeno de extravasamento de Mucina para dentro dos tecidos moles. Lesão benigna mais comum da cavidade oral, de etiologia traumática, pseudocisto que surge após o rompimento do ducto de uma glândula salivar menor, com predileção ao lábio inferior, assoalho de boca, ventre da língua, seguida da mucosa jugal (Balan, et. al. 2019).
Essa patologia se caracteriza por um aumento de volume podendo ser flutuante, firme ou macia à palpação, de coloração discretamente pálida, azulada ou normocrômica, com tempo de evolução em dias ou anos, de tamanho que variam entre um a dois milímetros e alguns centímetros, de superfície lisa em forma de cúpula e assintomática (Neville, et. al. 2016).
Diante disso, o diagnóstico clínico se fundamenta no relato do paciente durante a anamnese e nas características clínicas da lesão a partir da avaliação realizada pelo cirurgião-dentista e o diagnóstico definitivo só é confirmado pelo resultado de análise laboratorial (Choi, et. al. 2019).
Vale ressaltar que as mucoceles podem ser autolimitantes, ou seja, rompem deixando úlceras rasas e dolorosas e depois cicatrizam sozinhas. Todavia, existem mucoceles de natureza crônica, as quais necessitam de excisão cirúrgica e avaliação microscópica (Neves, et. al. 2020).
Nesse sentido, o tratamento é cirúrgico e o método convencional consiste na excisão, sob anestesia local, incisão em elipse, dissecação tecidual, e remoção completa da lesão, da mucosa circundante e do tecido glandular afetado, a fim de minimizar recidivas. Com isso, o tecido excisado deve passar por avaliação microscópica no intuito de confirmar o diagnóstico e descartar a possibilidade de patologias malignas (Huang, et. al. 2007).
Portanto, o presente trabalho visa descrever um relato de caso clínico de mucocele em lábio inferior, cujo tratamento de escolha foi de excisão cirúrgica.
CASO CLÍNICO
Paciente do gênero masculino, 20 anos de idade, de bom estado geral, procurou atendimento na clínica odontológica do Centro Universitário São Lucas – Afya, campus 1 na cidade de Porto-Velho/RO, com a queixa principal de ter surgido uma “bolha” no canto esquerdo do lábio inferior, com evolução de poucos dias. Ao exame clínico foi observado uma lesão exofítica, bem circunscrita, macia à palpação, de coloração azulada, assintomática, com superfície lisa próxima aos elementos dentários 33 e 34. (Figura 1).
Durante a anamnese, o paciente relatou que é esportista de artes marciais e que dias após sofrer uma colisão corporal, a “bolha” surgiu. Por mais que a lesão não lhe causasse dor, ela o incomodava no aspecto estético e durante os movimentos de abrir e fechar a boca. Com isso, foi proposto ao paciente a realização de uma biópsia excisional da lesão.
Figura 1. Aspecto inicial
Em seguida, o paciente foi agendado para a realização do procedimento cirúrgico de excisão da lesão, o qual foi previamente planejado e executado conforme descrito abaixo.
Antissepsia intraoral do paciente com digluconato de clorexidina a 0,12%, seguida da antissepsia extraoral com clorexidina 2%; colocação do óculos de proteção, aposição do campo fenestrado e montagem do sugador cirúrgico descartável (MAQUIRA).
Sequencialmente, foi realizada a anestesia infiltrativa perilesional com mepivacaína 2% + epinefrina 1:100.000; após estabilização da lesão com as mãos foi feita uma incisão em elipse (Figura 2), dissecção, excisão da lesão, bem como do tecido glandular afetado (Figura 3).
A lesão foi removida “in totum”, ou seja, na sua totalidade, sem deixar nenhuma parte restante, isso inclui também, a extração de todas as pequenas glândulas acessórias na região da incisão no intuito de prevenir a possibilidade de recidivas.
Dando continuidade, o fragmento da biópsia foi encaminhado para exame microscópico; no intuito de confirmar o diagnóstico e descartar a possibilidade de neoplasias (Figura 4).
Ademais, a ferida cirúrgica foi irrigada com soro fisiológico 0,9% e realizada a síntese com pontos interrompidos simples, preocupando-se suturar sempre vermelhão com vermelhão, através do fio de seda 4-0 (PROCARE).
Importante dizer que pelo fato de a ferida cirúrgica ser semelhante a duas cunhas unidas pela base, preconizou-se uma sutura em sentido transversal, a parir da aproximação das bordas para vertical, que metaforicamente, consiste na representação do fechamento de um zíper (“V” para “I”) – (Figura 5).
Por fim, orientações pós-Operatórias verbais e por escrito, agendamento após sete dias para acompanhamento, remoção dos pontos e prescrição farmacológica de anti-inflamatório não esteroidal (Ibuprofeno 600mg, 8/8h) por três dias e analgésico (Dipirona 500mg, 6/6h) por dois dias, em caso de dor.
Ressalta-se que o procedimento cirúrgico realizado nesse caso clínico foi previamente planejamento e não apresentou complicações. Assim, O pós-operatório apresentou um resultado satisfatório e boa cicatrização (Figura 6 e 7).
Quanto ao exame microscópico, o laudo confirmou a presença de cavidade com material hialino semelhante a muco, macrófagos espumosos e fragmento de glândula salivar, convalidando o diagnóstico de mucocele (Figura 8).
Figura 8. Exame microscópico
DISCUSSÃO
As mucoceles são lesões benignas, que não trazem dano algum à saúde do paciente, entretanto, sua presença causa desconforto, principalmente durante os movimentos de mastigação, deglutição e fala, seja por seu tamanho ou localização, que comumente está no lábio inferior. Além do mais, não demonstram predileção por gênero, nem por idade, porém, crianças e adultos Jovens são os mais afetados, haja vista, estarem mais expostos a traumas (Moura, et. al. 2021).
Chegou-se a hipótese diagnóstica de mucocele, mediante os relatos do paciente, que após sofrer um trauma foi surpreendido por uma “bolha” indolor. Na avaliação clínica as características da lesão eram condizentes com a literatura, ou seja, bem delimitada, macia à palpação, de coloração azulada, localizada no lábio inferior e manifestação em adulto jovem.
O presente caso clínico descreve a excisão cirúrgica de mucocele em lábio inferior. Essa terapêutica é considerada como a de primeira escolha e tem por finalidade a remoção total da lesão, minimizando as chances de recidivas. Também, a avaliação microscópica para diagnóstico definitivo.
Seguindo a teoria, o tratamento de excisão da lesão é a técnica mais utilizada para o tratamento de mucoceles, no entanto, é contraindicada em lesões volumosas, pois podem romper durante a cirurgia, causando vazamento de muco e deixando parte da cápsula no local da operação (Bahadure, et. al. 2012).
Diante disso, a indicação para mucoceles de grande volume é a marsupialização, pois previne mutilações nos tecidos moles. Contudo, é contraindicada para a remoção de lesões localizadas nos lábios e o motivo é por razões estéticas (Stuani, et. al. 2010).
Nesse viés, as abordagens terapêuticas mais conservadoras consistem na Micromarsupialização – minimamente invasiva sob anestesia tópica para que o fio de sutura seja colocado para drenar o muco; Laser de dióxido de carbono – suas vantagens consistem na hemostasia melhorando a visualização operatória, menor tempo cirúrgico e resultado estético satisfatório; Crioterapia – uso de frio, aplicando gás óxido nitroso ou spray de nitrogênio líquido a temperaturas inferiores a -20ºC; Técnica de Shira – injeção de hidrocoloide irreversível no interior da lesão, para evitar extravasamento do conteúdo mucoso; Corticosteroides e Escleroterapia – injeção intralesional de betametasona e tetradecil sulfato de sódio respectivamente, provocando a resolução total da lesão não necessitando de cirurgia (Mortazavi, et. al. 2014; Bansal, et. al. 2017; Ganguly, et. al. 2015, Gaddam & Sharma, 2010; Vieira et. al. 2017; Shetty, 2018).
Por sua vez, os tratamentos mensionados anteriormente são pouco discutidos e apresentam certas desvantagens, como por exemplo, o uso de corticosteroides e a escleroterapia, bem como a criocirurgia e a micromarsupialização apresentam uma quantidade expressiva de recidivas, sendo necessária a realização de segunda intervenção cirúrgica para resolução definitiva. O Laser de dióxido de carbono minimiza as recidivas embora é um equipamento caro, e necessita de proteção específica para o operador e o paciente. Por fim, a Técnica de shira pode resultar na infecção local devido resquícios do hidrocolóide infiltrado nos tecidos (Yagüe-García, et. al. 2009; Santos, et. al. 2008).
Nesse viés, A escolha da técnica para remoção da lesão dependerá de fatores, como: tamanho, localização, profundidade da lesão, cooperação do paciente e a experiência do profissional. Recomenda-se que a lesão excisada seja enviada par exame microscópico a fim de um diagnostico definitivo. Nesse sentido para características correspondentes à mucocele o exame deve evidenciar a presença de glândula salivar menor, cavidade com conteúdo hialino e infiltrado inflamatório (Oliveira, et. al. 2018; Nascimento, et. al. 2014).
CONCLUSÃO
Conclui-se que a mucocele é uma lesão reacional com alta probabilidade de reaparecimento, tornando o tratamento da mucocele bastante complexo. Logo, a excisão cirúrgica da lesão e da glândula salivar menor seguida de exame microscópico tem demonstrado ser a abordagem mais promissora. Em suma, o procedimento eleito é considerado por muitos autores como atraumático, seguro e eficaz.
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1Discente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário São Lucas Campus 1 e-mail: andressa_c_erpen@hotmail.com
2Discente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário São Lucas Campus 1 e-mail: franfrota.odonto@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário São Lucas Campus 1 e-mail: jujubella2001@gmail.com
4Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário São Lucas Campus 1 e-mail: fernanda.heimlich@saolucas.edu.br
5Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário São Lucas Campus 1 e-mail: regina.pinheiro@saolucas.edu.br
6Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário São Lucas Campus 1 e-mail: joao.santos@saolucas.edu.br