“EXAMES LABORATORIAIS NA AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DAS ALOPECIAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA”

“LABORATORY TESTS IN THE EVALUATION AND TREATMENT OF ALOPECIA: AN INTEGRATIVE REVIEW”

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202507241036


Cinthia Silva Moura Neca1
Vanessa Regina Rocha2
Rafaela Camargos Rodrigues Machado3
Flávia de oliveira Lima Penaforte4
Edmarcio Olinto da Fonseca5
Renato Afonso da Silva6
Adriano Lopes da Silva7


Resumo 

Este trabalho visa entender que as terapias capilares são de fato procedimentos da ordem da saúde, estética e autoestima. Caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa e descritiva, com o objetivo de identificar os principais exames laboratoriais utilizados no diagnóstico e monitoramento das alopecias, especialmente no contexto da terapia capilar interdisciplinar. A metodologia foi a revisão de literatura, partindo de uma pesquisa bibliográfica, que forneceu o embasamento teórico e científico atualizado a respeito do tema abordado. Os exames laboratoriais são cruciais no tratamento capilar, fornecendo dados para diagnóstico e tratamento personalizado. O hemograma, ferritina, perfil hormonal, vitaminas D e B12, zinco, glicemia e PCR são exemplos de exames importantes. Em síntese, esses exames fazem parte da avaliação para um tratamento mais eficiente, seguro e ético, devido seu auxílio no diagnóstico diferenciando a condução terapêutica.

Palavras-chave: Terapia capilar; Alopecia; exames laboratoriais.

Abstract 

This work aims to understand that hair therapies are in fact procedures related to health, aesthetics and self-esteem. It is characterized as an integrative literature review, with a qualitative and descriptive approach, with the objective of identifying the main laboratory tests used in the diagnosis and monitoring of alopecia, especially in the context of interdisciplinary hair therapy. The methodology was a literature review, based on bibliographic research, which provided an updated theoretical and scientific basis regarding the topic addressed. Laboratory tests are crucial in hair treatment, providing data for diagnosis and personalized treatment. The blood count, ferritin, hormonal profile, vitamins D and B12, zinc, blood glucose and CRP are examples of important tests. In summary, these exams are part of the evaluation for more efficient, safe and ethical treatment, due to their aid in diagnosis and differentiation in therapeutic management.

Keywords: Hair therapy; Alopecia; laboratory tests.

1. Introdução 

A terapia capilar é uma área da estética e da saúde que visa à prevenção, diagnóstico e tratamento de disfunções no couro cabeludo e fios, como queda capilar, dermatites e afinamento dos fios. Para que as abordagens sejam eficazes, é fundamental investigar as causas sistêmicas envolvidas, o que inclui a solicitação de exames laboratoriais específicos. O uso de exames bioquímicos auxilia na identificação de deficiências nutricionais, alterações hormonais, distúrbios metabólicos e processos inflamatórios que podem afetar diretamente a saúde capilar (Silva et al., 2022).

O diagnóstico preciso das alopecias exige uma investigação clínica minuciosa, complementada por exames laboratoriais, que tornam possível personalizar os protocolos de tratamento. Sem esse respaldo laboratorial, há o risco de intervenções ineficazes e temporárias. A literatura científica atual reforça a importância de uma abordagem interdisciplinar, que integre a tricologia com a medicina laboratorial (Ferreira & Andrade, 2023).Nos últimos anos, o avanço na compreensão das bases fisiopatológicas das alopecias revelou a complexidade das causas subjacentes à queda capilar, que pode ser influenciada por fatores endócrinos, imunológicos, nutricionais e metabólicos. Isso torna indispensável a realização de exames complementares, que subsidiem uma conduta terapêutica baseada em evidências e personalizada conforme o perfil bioquímico do paciente (Moreira et al., 2023).

Além disso, com o crescimento da demanda por terapias capilares eficazes e seguras, principalmente entre o público feminino, cresce também a necessidade de capacitação dos profissionais da estética para interpretar exames e trabalhar em conjunto com equipes multidisciplinares. O presente artigo tem como objetivo apresentar os principais exames laboratoriais aplicados à avaliação das alopecias e discutir sua relevância na condução clínica da terapia capilar.

2. Metodologia

Este trabalho caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa e descritiva. A pesquisa foi realizada com o objetivo de identificar os principais exames laboratoriais utilizados no diagnóstico e monitoramento das alopecias, especialmente no contexto da terapia capilar interdisciplinar.

Foram selecionados artigos publicados entre os anos de 2007 e 2023, disponíveis em bases de dados eletrônicas como PubMed, Scielo, Google Scholar e ScienceDirect. Utilizaram-se os seguintes descritores em português e inglês: “alopecia”, “queda capilar”, “tricologia”, “exames laboratoriais”, “terapia capilar”, “hair loss”, “laboratory tests” e “hair therapy”.

Foram incluídos estudos de revisão, artigos originais e consensos clínicos que abordassem a relação entre alterações laboratoriais e disfunções capilares. Foram excluídas as publicações duplicadas e os trabalhos que não abordavam diretamente a associação entre exames laboratoriais e alopecias.

Após a seleção dos materiais, os dados foram analisados de forma crítica e organizados de acordo com as categorias temáticas: hemograma, ferro e ferritina, perfil hormonal, vitaminas (D, B12 e ácido fólico), minerais (zinco, selênio, cobre), glicemia, insulina e marcadores inflamatórios.

3. Resultados e Discussão 

A análise laboratorial é um pilar importante na avaliação e acompanhamento do paciente que busca terapia capilar. A queda capilar pode ser multifatorial e, frequentemente, está relacionada a desequilíbrios nutricionais, endócrinos, metabólicos e inflamatórios que precisam ser tratados conjuntamente ao protocolo estético. O uso de exames laboratoriais permite identificar a etiologia da disfunção capilar, direcionando de forma precisa o plano terapêutico (Santos & Lima, 2022).

A literatura científica atual reforça que a terapia capilar moderna deve estar integrada à medicina funcional, com abordagem individualizada e interdisciplinar. A parceria entre esteticistas, tricologistas, nutricionistas e médicos permite o tratamento da causa e não apenas do sintoma, promovendo resultados duradouros (Moreira et al., 2023).

A literatura destaca que as alopecias são condições multifatoriais, muitas vezes resultado da interação complexa entre predisposição genética, alterações metabólicas, déficits nutricionais, disfunções hormonais e processos autoimunes (Moreira et al., 2023). Nesse sentido, a expectativa de encontrar um único marcador laboratorial que explique a totalidade do quadro clínico do paciente é irreal, No presente estudo avaliou-se os seguintes exames laboratoriais:

3.1 Hemograma completo

O hemograma completo é um dos primeiros exames a ser solicitado em pacientes com queixas capilares. Ele permite avaliar anemia, infecções, inflamações e condições hematológicas que possam impactar o crescimento e a qualidade dos fios. A deficiência de ferro, por exemplo, é uma das causas mais comuns de eflúvio telógeno, especialmente em mulheres (Arruda et al., 2021).

Estudos mostram que a ferritina sérica, um marcador de reservas de ferro, deve estar acima de 70 ng/mL para uma adequada função folicular, mesmo em pacientes sem anemia (Malkud, 2020). Assim, o hemograma, associado à dosagem de ferritina e ferro sérico, compõe uma triagem básica, porém essencial, na avaliação capilar.

3.2 Exames de ferro e ferritina

A dosagem de ferritina sérica é especialmente importante em pacientes com queda capilar difusa. A ferritina é uma proteína que armazena ferro e reflete suas reservas corporais. Quando os níveis estão baixos, mesmo que a hemoglobina esteja normal, há prejuízo na produção de queratina e na atividade das células da matriz capilar (Deloche et al., 2007).

Segundo estudos mais recentes, valores de ferritina inferiores a 50–70 ng/mL são frequentemente observados em pacientes com eflúvio telógeno crônico (Herskovitz & Tosti, 2018). A reposição de ferro, quando indicada, melhora significativamente os quadros de queda, especialmente em mulheres no período reprodutivo.

3.3 Perfil hormonal

As alterações hormonais estão entre as principais causas de alopecias, especialmente nas mulheres. Por isso, exames como TSH, T3, T4 (função tireoidiana), estradiol, testosterona total e livre, DHEA-S, FSH e LH são amplamente utilizados. A síndrome dos ovários policísticos (SOP), por exemplo, está associada à alopecia androgenética feminina devido à hiperandrogenemia (Barros & Oliveira, 2022).

Além disso, disfunções da tireoide, como o hipotireoidismo, podem levar à queda capilar acentuada, afinamento dos fios e ressecamento do couro cabeludo. A normalização dos hormônios tireoidianos é considerada essencial para o sucesso da terapia capilar nesses pacientes (Dobrev et al., 2020).

3.4 Vitamina D

A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel com ação imunomoduladora e papel importante no ciclo folicular. Níveis baixos de vitamina D têm sido associados à alopecia areata, queda difusa e resposta reduzida a tratamentos tópicos (Rasheed et al., 2013).

Estudo de 2021 mostrou que pacientes com alopecia androgenética apresentavam níveis significativamente mais baixos de 25(OH) vitamina D em comparação com indivíduos sem queixas capilares (Darwish & Khurram, 2021). Por isso, a dosagem da vitamina D é recomendada na avaliação inicial e, quando necessário, sua reposição deve ser feita sob supervisão profissional.

3.5 Zinco e outros minerais

O zinco é um oligoelemento essencial para a replicação celular, síntese de proteínas e integridade da pele e cabelos. Sua deficiência está associada à queda capilar, alopecia areata e dermatites seborreicas (Kil et al., 2013). A dosagem sérica de zinco pode auxiliar na escolha de estratégias de suplementação oral e tópica.

Outros minerais como selênio, cobre e magnésio também podem ser solicitados, especialmente em pacientes com sintomas sistêmicos associados. A deficiência desses elementos afeta diretamente a produção de queratina e o funcionamento da matriz folicular (Park et al., 2020).

3.6 Ácido fólico e vitamina B12

A vitamina B12 e o ácido fólico participam da divisão celular e da síntese proteica. Sua deficiência pode causar eflúvio telógeno, alterações na coloração dos fios e fragilidade capilar. Estudos recentes destacam a correlação entre baixos níveis de vitamina B12 e quadros de queda capilar persistente, mesmo em pacientes jovens (Sanke et al., 2022).

A dosagem de B12 e folato é indicada em pacientes vegetarianos, com distúrbios gastrointestinais, uso prolongado de inibidores de bomba de prótons ou após cirurgia bariátrica, condições que prejudicam a absorção dessas vitaminas essenciais para a saúde capilar (Wolff et al., 2021).

3.7 Glicemia e insulina

Distúrbios metabólicos, como resistência à insulina, têm sido associados à alopecia androgenética, especialmente em mulheres jovens. A hiperinsulinemia estimula a produção de andrógenos pelos ovários, o que contribui para o afinamento dos fios no padrão feminino (Tellez-Segura, 2015).

A dosagem de glicemia de jejum, insulina e o cálculo do índice HOMA-IR são ferramentas úteis na avaliação do perfil metabólico desses pacientes. A abordagem integrada, incluindo dieta e atividade física, pode potencializar os resultados da terapia capilar (Barbieri & Rocha, 2023).

3.8 Perfil lipídico e inflamatório

O perfil lipídico, que inclui colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos, é avaliado em pacientes com alopecia associada a distúrbios endócrino-metabólicos. Além disso, a inflamação sistêmica de baixo grau pode influenciar negativamente o microambiente do folículo piloso. A proteína C reativa ultrassensível (PCR-us) é utilizada como marcador de inflamação crônica, inclusive em pacientes com alopecia androgenética (Yılmaz et al., 2019).

A modulação da inflamação e a correção de dislipidemias têm sido associadas a melhores resultados em protocolos capilares que envolvem microagulhamento, intradermoterapia e laser de baixa potência (Zito et al., 2020).

4. Conclusão 

Os exames laboratoriais são fundamentais na abordagem clínica da terapia capilar. Eles oferecem dados objetivos para o diagnóstico e permitem uma condução segura, eficaz e personalizada do tratamento. Entre os principais exames utilizados estão o hemograma, ferritina, perfil hormonal, vitaminas D e B12, zinco, glicemia e PCR. A prática baseada em evidências exige que esses exames façam parte da rotina de avaliação, tornando o tratamento capilar mais eficiente, seguro e ético. Contudo, o manejo da alopecia exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais das áreas da biomedicina, dermatologia, endocrinologia, nutrição e psicologia. Os exames laboratoriais, integrada a uma anamnese detalhada e exame físico criterioso, continua sendo a estratégia mais eficaz para o diagnóstico e acompanhamento desses pacientes. 

Referências 

Arruda, A. P. et al. (2021). Eflúvio telógeno e deficiência de ferro: revisão de literatura. J. Tricologia, 4(1), 55-61.

Barbieri, M. C., & Rocha, T. D. (2023). Síndrome metabólica e alopecia androgenética: uma abordagem integrativa. Estética e Saúde, 9(1), 42-48.

Barros, F. A., & Oliveira, T. S. (2022). Disfunções hormonais em alopecias femininas: diagnóstico e manejo clínico. Rev. Bras. Tricologia, 5(2), 33-40.

Darwish, D. A., & Khurram, H. (2021). Serum vitamin D levels and hair loss: a clinical study. Int. J. Dermatol, 60(8), 1012–1018.

Deloche, C. et al. (2007). Iron deficiency and hair loss in nonmenopausal women. Eur. J. Dermatol, 17(6), 507–512.

Dobrev, H. et al. (2020). Thyroid disorders and dermatologic manifestations: a clinical correlation. Dermato-Endocrinology, 12(1), e1771712.

Ferreira, L. M., & Andrade, R. S. (2023). Análise laboratorial em tricologia: o que devemos solicitar? Rev. Funcional Capilar, 8(1), 22–29.

Herskovitz, I., & Tosti, A. (2018). Ferritin and alopecia: clinical perspectives. Int. J. Trichol, 10(4), 124–130.

Kil, M. S., Kim, C. W., & Kim, S. S. (2013). Analysis of serum zinc and copper concentrations in hair loss. Ann. Dermatol, 25(4), 405–409.

Malkud, S. (2020). Ferritin and female hair loss: what’s the link? Int. J. Trichol, 12(1), 1–5.

Moreira, G. P. et al. (2023). Terapia capilar integrativa: novos paradigmas na tricologia clínica. J. Estética Funcional, 6(2), 50–58.

Park, Y. S. et al. (2020). Nutritional deficiencies and hair loss: a review. Clin Nutr Res, 9(1), 1–9.

Rasheed, H. et al. (2013). Serum ferritin and vitamin D levels in female hair loss: a case-control study. Br J Dermatol, 169(2), 428–430.

Sanke, S. et al. (2022). Correlation of vitamin B12 and folic acid levels with telogen effluvium. Indian J Dermatol, 67(1), 45–49.

Santos, D. M., & Lima, F. T. (2022). Exames laboratoriais na prática capilar clínica. Rev. Trico Estética, 4(3), 17–24.

Tellez-Segura, R. (2015). Alopecia androgenética e síndrome metabólica: revisão crítica. Dermatol Práctica, 3(4), 41–46.

Wolff, T. et al. (2021). Hair loss after bariatric surgery: a review. Obesity Surgery, 31(2), 752–759.

Yılmaz, E. et al. (2019). Inflammatory markers in patients with androgenetic alopecia. Dermatol Res Pract, 2019, Article ID 9141086.

Zito, P. M. et al. (2020). Laser therapy for hair loss: evidence and future directions. StatPearls Publishing.


1Centro Universitário UNA Divinópolis, MG, Brasil
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2Universidade Federal de são João Del Rei
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3Universidade federal de São João Del Rei
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4Universidade Prof. Edson Vellano
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