EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESTADUAL MARECHAL HERMES, NA CIDADE DE MANAUS, AM, ANO 2019

SCHOOL DROPOUT IN ADULT AND YOUTH EDUCATION: A CASE STUDY AT MARECHAL HERMES STATE SCHOOL IN MANAUS, AM, 2019

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10864055


Benedita Frazão da Silva Neta¹


RESUMO

Este estudo investigou as causas da alta taxa de evasão na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, em Manaus-AM, destacando os desafios enfrentados pelos alunos, como baixa escolaridade, responsabilidades laborais e familiares, e estigmas sociais. Utilizando uma abordagem mista que integra revisão de literatura e coleta de dados primários em 2019, foram selecionados 40 estudos de bases como SciELO, PubMed e Periódico Capes. A coleta de dados envolveu 82 participantes, incluindo 17 professores e 65 alunos, por meio de questionários e entrevistas semiestruturadas. A análise revelou uma complexidade de causas interconectadas para a evasão, incluindo desafios socioeconômicos e barreiras pedagógicas e institucionais. As estratégias sugeridas para diminuir a evasão envolvem a adaptação das práticas pedagógicas e o fortalecimento de políticas públicas para a EJA. As percepções dos professores ressaltaram a necessidade de um currículo integrado e de práticas inclusivas. O estudo conclui que é essencial adotar uma abordagem holística e adaptativa, promovendo um ambiente educacional mais inclusivo e eficaz para os alunos da EJA.

Palavras-chaves: Educação de adultos, taxas de evasão, práticas inclusivas, desafios socioeconômicos, abordagem holística

ABSTRACT

This study investigated the causes of the high dropout rate in Educação de Jovens e Adultos (EJA) at the Marechal Hermes State School in Manaus-AM, highlighting the challenges faced by students, such as low educational attainment, work and family responsibilities, and social stigmas. Employing a mixed-method approach that integrates literature review and primary data collection in 2019, 40 studies were selected from databases such as SciELO, PubMed, and Periódico Capes. Data collection involved 82 participants, including 17 teachers and 65 students, through structured questionnaires and semi-structured interviews. The analysis revealed a complexity of interconnected causes for dropout, including socioeconomic challenges and pedagogical and institutional barriers. The suggested strategies to reduce dropout involve adapting teaching practices and strengthening public policies for EJA. Teachers’ perceptions underscored the need for an integrated curriculum and inclusive practices. The study concludes that adopting a holistic and adaptive approach is essential, promoting a more inclusive and effective educational environment for EJA students.

Keywords: Adult Education, dropout rates, inclusive practices, socioeconomic challenges, holistic approach

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa um componente fundamental da estrutura educacional brasileira, destinada aos indivíduos que não concluíram a educação básica na idade apropriada. Esta modalidade é crucial para a inclusão social e o desenvolvimento pessoal, porém enfrenta desafios significativos, como a alta taxa de evasão escolar. O presente estudo foca em investigar as causas deste fenômeno na Escola Estadual Marechal Hermes, em Manaus, Amazonas, ao longo do ano letivo de 2019. Através da análise crítica das razões para a desistência e da adaptação das práticas pedagógicas às necessidades dos alunos, busca-se compreender e mitigar a problemática da evasão na EJA.

Os estudantes da EJA frequentemente possuem históricos complexos, marcados por baixa escolaridade, responsabilidades de trabalho e familiares, além de enfrentarem preconceitos sociais. A literatura, incluindo contribuições de Bispo et al. (2016), Klava (2015), 1996), Arroyo (1999), Brandão (2002) e Moura (2004), enfatiza a necessidade de valorizar as experiências de vida e as visões de mundo desses alunos, integrando-as ao processo educacional. Esses autores também destacam a importância de adaptar as metodologias de ensino para refletir as necessidades e os desafios específicos dessa população, incentivando a participação ativa e o envolvimento comunitário no processo educativo.

A problemática da evasão é exacerbada pela ausência de políticas públicas eficientes que atendam às particularidades dos alunos da EJA, conforme indicado por Ribeiro (2001) e Carbone (2013). Além disso, a relevância do conteúdo educacional para as vidas dos alunos e sua aplicabilidade fora da sala de aula são fundamentais para tornar o aprendizado significativo e diminuir a evasão, conforme argumentado por Moura (2004).

Este estudo não apenas aborda a evasão escolar na EJA, mas também considera esta modalidade educacional como um vetor essencial para a transformação social e o desenvolvimento pessoal. Reconhece-se que a maioria do público-alvo da EJA compreende adultos responsáveis por suas famílias e inseridos no mercado de trabalho, o que levanta questionamentos sobre o papel das políticas públicas frente a essa realidade. O estudo propõe-se a identificar e analisar os fatores que contribuem para a evasão escolar, com foco particular na Escola Estadual Marechal Hermes durante o ano de 2019, oferecendo insights para a formulação de políticas públicas mais eficazes e práticas pedagógicas inovadoras.

Com o objetivo de identificar e analisar os fatores que levam à evasão escolar na EJA, este estudo delineia objetivos específicos como caracterizar o perfil dos alunos da EJA, identificar os motivos para a evasão na Escola Estadual Marechal Hermes, Manaus-AM, e propor recomendações baseadas nos resultados obtidos. A contribuição acadêmica deste estudo é enriquecida pela literatura existente, incluindo trabalhos de Gil (2008), Minayo (2002), Freire (1987) e Bourdieu (1984), que fornecem um arcabouço teórico para analisar as dinâmicas sociais e educacionais da EJA. Assim, este estudo visa contribuir para o aprimoramento das políticas educacionais e promover práticas pedagógicas que facilitem a retenção de alunos na EJA, buscando uma educação mais inclusiva e equitativa.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo adotou uma abordagem mista, integrando revisão de literatura e coleta de dados primários, com o objetivo de identificar e discutir os principais fatores que influenciam a evasão escolar entre alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, localizada em Manaus-AM. A pesquisa foi realizada em 2019, empregando métodos qualitativos e quantitativos para uma compreensão abrangente do fenômeno estudado.

Seleção dos estudos

Inicialmente, foi conduzida uma revisão integrativa da literatura para consolidar conhecimentos existentes sobre a evasão escolar na EJA. As bases de dados consultadas incluíram Scientific Electronic Library (SciELO), PubMed e Periódico Capes. Utilizando palavras-chave como “Educação de Jovens e Adultos”, “evasão escolar”, “fatores de evasão” e suas correspondentes em inglês, realizou-se uma busca sistemática para selecionar estudos pertinentes. A partir de 103 trabalhos identificados, 40 foram selecionados para a revisão após a exclusão de duplicatas, publicações não acadêmicas e estudos não alinhados aos objetivos desta pesquisa.

Metodologia de campo

A metodologia da pesquisa incluiu a distribuição de questionários estruturados e a condução de entrevistas semiestruturadas com participantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA). No total, 131 indivíduos envolvidos com a EJA foram entrevistados, sendo composto o grupo por 17 professores atuantes no programa e 65 alunos atualmente matriculados, refletindo uma taxa de resposta expressiva.

Os questionários, baseados nas diretrizes de Marconi e Lakatos (2003) e Gil (2002), consistiram em uma série de perguntas escritas respondidas pelos participantes. As entrevistas semiestruturadas permitiram uma exploração mais profunda das experiências e percepções dos participantes em relação à evasão escolar.

Coleta e análise de dados

A coleta de dados ocorreu em julho de 2019. Após a coleta, os dados foram organizados e analisados quantitativa e qualitativamente. As respostas dos questionários foram tabuladas e convertidas em gráficos para facilitar a análise, empregando pacotes estatísticos como ggplot2 (Wickham, 2016) e tidyverse (Wickham et al., 2019) na linguagem R (R Core Team, 2021).

Para garantir a ética da pesquisa, um documento formal foi preparado e apresentado à gestão da escola, detalhando o propósito e a metodologia do estudo. Com a aprovação da instituição, procedeu-se à observação in loco, à aplicação de questionários e à realização de entrevistas com professores e alunos envolvidos na EJA.

Os resultados foram sintetizados e discutidos com base na literatura revisada, proporcionando um entendimento holístico dos fatores que contribuem para a evasão escolar na EJA. Recomendações para práticas futuras e pesquisas subsequentes foram delineadas com base nas descobertas obtidas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este estudo aprofunda a compreensão da evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA), evidenciando sua natureza complexa, influenciada por uma gama de fatores interconectados, desde exigências laborais até desafios socioeconômicos e culturais. A pesquisa empregou métodos rigorosos, incluindo questionários, entrevistas e observações, revelando insights valiosos sobre as causas da evasão e sugerindo caminhos para futuras investigações. As conclusões destacam a necessidade de abordagens educacionais adaptativas e políticas públicas inclusivas para atender às variadas necessidades dos estudantes da EJA, contribuindo para práticas pedagógicas mais eficazes e uma educação mais equitativa.

A qualidade do ensino e o estigma social associado à EJA foram identificados como elementos contribuintes para a evasão. Tinós (2010) destaca que as razões para o abandono escolar são multifacetadas, incluindo desde a necessidade de trabalhar até a insegurança e a precariedade no acesso à educação. A incompatibilidade de horários, a falta de recursos didáticos e a percepção de que a educação não é pertinente ou relevante também são fatores determinantes.

Os fatores que contribuem para a evasão dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, em Manaus, AM, durante o ano de 2019, são múltiplos e complexos. Esses fatores abrangem desde tensões familiares e a necessidade premente dos estudantes de contribuir para o orçamento familiar, até a exaustão causada pela rotina diária e, em alguns casos, o envolvimento em atividades ilícitas, como o tráfico de drogas. A intersecção dessas variáveis reflete a intricada realidade enfrentada pelos alunos da EJA, que frequentemente precisam equilibrar suas responsabilidades educacionais com as exigências da vida pessoal e profissional.

Ribeiro (2001) e Carbone (2013) ressaltam a importância de uma abordagem crítica para compreender as complexas realidades vivenciadas por esses estudantes. Uma análise cuidadosa desses contextos é essencial para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas e políticas públicas que não apenas sejam eficazes em mitigar a evasão escolar, mas que também valorizem a diversidade cultural dentro do ambiente educacional. Reconhecer e incorporar a diversidade de experiências e perspectivas dos alunos na prática pedagógica pode fomentar um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e empático, onde os estudantes se sintam valorizados e compreendidos. Assim, é crucial que as intervenções sejam cuidadosamente planejadas e implementadas, levando em consideração a amplitude e a profundidade dos desafios enfrentados pelos alunos da EJA, para promover uma educação que seja verdadeiramente transformadora e inclusiva.

As práticas pedagógicas em voga se mostraram elementos cruciais, evidenciando que a falta de um currículo integrado pode enfraquecer a conexão dos alunos com o material didático. Freire (2006) argumenta que a educação deve ir além da mera transmissão de conhecimento, oferecendo um espaço para que o aluno construa ativamente seu próprio saber, o que poderia mitigar a evasão na EJA. Arroyo (1999) e Brandão (2002) destacam que muitos desses alunos são trabalhadores ou desempregados e precisam de uma educação que não apenas lhes permita adquirir conhecimento, mas também transformar suas realidades.

A deficiência de políticas públicas robustas e o insuficiente investimento em educação também emergiram como fatores que exacerbam a evasão. A literatura revisada critica a inadequação no planejamento das instituições educacionais e a insensibilidade às necessidades dos alunos que equilibram estudo e trabalho. Saviani (1991) sublinha a necessidade de reformas no mercado de trabalho e na administração educacional como passos cruciais para reverter essa tendência.

Este trabalho reafirma a importância de adotar uma abordagem educacional que seja eficiente e que responda às particularidades e aspirações dos alunos da EJA. A caminhada para realizar essa visão é longa e demanda a adoção de metodologias pedagógicas inovadoras e apropriadas.

A evasão escolar deve ser entendida como um fenômeno complexo, que reflete tanto as barreiras enfrentadas pelo aluno quanto as lacunas institucionais. Modificações estruturais na EJA são imperativas e devem se concentrar em valorizar a aprendizagem significativa e o desenvolvimento intelectual dos estudantes.

Além disso, este estudo destaca a relevância da integração curricular, ressoando com as perspectivas de diversos acadêmicos que advogam por essa abordagem como fundamental para o sucesso da EJA. A interdisciplinaridade pode ampliar o entendimento dos alunos e contribuir para a diminuição da taxa de evasão escolar, enriquecendo futuros debates sobre os desafios presentes na EJA.

Perfil dos alunos da EJA

O estudo do perfil dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes em Manaus revela uma composição diversificada e desafiadora. De acordo com a análise de dados, a distribuição de gênero mostra uma predominância feminina, com 70% das respostas provenientes de alunas, enquanto os alunos do sexo masculino representam 30%. Este fenômeno, corroborado pelo Ministério da Educação do Brasil (2016), reflete a tendência mais ampla de evasão escolar entre homens, influenciada por valores culturais que priorizam o trabalho em detrimento da educação.

A faixa etária dos alunos é majoritariamente de 26 a 35 anos (Quadro 01), indicando a relevância da EJA para aqueles que buscam retomar seus estudos após um período de interrupção. Este aspecto é particularmente notável em meio à tendência de juvenilização da EJA, com uma presença considerável de alunos acima de 50 anos, apontando para o desafio de adaptar metodologias para atender às necessidades desse grupo etário (Da Conceição, 2016; Dolla; Cossetin, 2013; Peres, 2011).

Quadro 1 – Idade dos alunos pesquisados

IdadeQuantidadePercentual (%)
18 a 255220
26 a 3515660
36 a 503915
51 ou mais135
Total260100
Fonte: NETA. Benedita Frazão da Silva (2024)

Além disso, 79% dos estudantes são casados, destacando as complexidades de equilibrar responsabilidades familiares e matrimoniais com compromissos educacionais (Figura 1). Este perfil sugere desafios adicionais para esses alunos, que podem incluir instabilidade financeira e questões de emprego, como indicado pelo Estatuto da Juventude (Rego et al., 2006).

A infraestrutura da escola e a dedicação de sua equipe refletem um comprometimento com um ambiente educacional holístico, apesar dos desafios enfrentados, como o limitado engajamento parental e dificuldades cognitivas de alguns alunos. Esses fatores destacam a importância de práticas pedagógicas e políticas públicas inovadoras e inclusivas, que respondam efetivamente às necessidades dessa população diversificada (Freire, 1996; Saviani, 1991).

Portanto, o perfil dos alunos da EJA na Escola Estadual Marechal Hermes sublinha a complexidade das abordagens pedagógicas necessárias para atender a essa diversidade. A integração das experiências e realidades dos alunos no processo educativo é fundamental, como destacado por Bispo et al. (2016), Klava (2015), Ribeiro (2001), Carbone (2013), Gadotti (1996), Arroyo (1999), e Brandão (2002). Isso reforça a necessidade de continuar investindo em recursos físicos e humanos, promovendo uma educação de qualidade que reduza os índices de evasão escolar e atenda às demandas educacionais contemporâneas.

Evasão de estudantes da EJA na Escola Estadual Marechal Hermes

A evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, localizada em Manaus, foi objeto de um estudo detalhado, baseado nos dados fornecidos pela secretaria escolar. Entre 2017 e 2018, foram registradas 260 matrículas no programa, das quais 155 alunos concluíram com êxito, 25 foram reprovados e 80 desistiram, destacando uma taxa de evasão de cerca de 30% (Figura 2). Essa proporção significativa de desistências ressalta a importância de investigar as causas subjacentes, em linha com o que Freire (1970) enfatiza sobre a necessidade de compreender as dimensões sociais e pedagógicas da evasão escolar.

Figura 2 – Resumo de matrículas e desempenho estudantil da EJA

Fonte: Secretaria da Escola Estadual Marechal Hermes (dados de 2017–2018)

Os professores entrevistados sugeriram várias estratégias para combater essa tendência, incluindo a implementação de práticas de busca ativa e a promoção da participação dos estudantes e do envolvimento da comunidade escolar, refletindo as ideias de Illich (1971) sobre a adaptação dos sistemas educacionais às necessidades dos alunos. Bourdieu (1984) também reforça a necessidade de políticas públicas e estratégias educacionais que sejam sensíveis às realidades únicas da EJA.

A causa principal da evasão, identificada pela pesquisa, foi a necessidade de conciliar trabalho e estudos, afetando 49% dos entrevistados (Figura 3). Isso sublinha a predominância das demandas profissionais sobre as acadêmicas, levando à desmotivação e à evasão, conforme discutido por Bourdieu (1986). Outros fatores, como responsabilidades familiares e distância da escola, também foram significativos, reiterando a complexidade do fenômeno da evasão e a necessidade de abordagens multifacetadas para combatê-la.

Figura 3 – Motivos da evasão na EJA na E. E. Marechal Hermes

Fonte: NETA. Benedita Frazão da Silva (2024)

Além disso, o medo de assaltos emergiu como uma preocupação notável, afetando 8% dos participantes, o que ilumina a influência da violência urbana no contexto educacional (Silva, 2012). Essa variedade de causas aponta para a importância de desenvolver políticas e estratégias educacionais inclusivas e seguras, capazes de endereçar esse espectro de desafios.

A análise dos motivos que contribuem para a evasão na EJA no Brasil enfatiza a necessidade de abordagens personalizadas e sensíveis ao contexto, para entender e atender às necessidades específicas dos alunos. A valorização da EJA como um espaço de transformação social é crucial, e requer educadores capacitados e práticas pedagógicas que sejam criativas e adaptadas às realidades dos estudantes (Arroyo, 2006).

As falhas intraescolares, como o despreparo para lidar com as particularidades dos alunos da EJA, são aspectos críticos que podem levar à desmotivação e evasão. Assim, é imperativo que as escolas revisem seus métodos e práticas para melhor atender esse grupo diversificado. O contexto histórico da EJA, marcado por políticas inadequadas e intervenções estatais desalinhadas com as reais necessidades dos alunos, também influencia a evasão, tornando a questão ainda mais complexa.

A repetência surge como um fator influente, levando à desistência de muitos alunos, que enfrentam desafios que vão além da organização escolar, como a conciliação entre estudo e trabalho. A necessidade de um currículo alinhado com as vidas dos alunos e a consideração dos fatores socioeconômicos são fundamentais para mitigar a evasão e incentivar o retorno ao ambiente educacional.

Portanto, o desafio da evasão na EJA é multifacetado, envolvendo questões socioeconômicas, culturais e intraescolares. A educação de jovens e adultos deve transcender a preparação para o mercado de trabalho e ser reconhecida como um direito fundamental e uma oportunidade para o desenvolvimento humano. A atuação conjunta de gestores públicos, educadores, movimentos sociais e estudantes é essencial para criar estratégias pedagógicas eficazes que atendam às necessidades específicas desse grupo, promovendo a inclusão e combatendo a evasão escolar.

Estratégias para diminuir a evasão na EJA

Para abordar a evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, é crucial entender as características únicas dessa modalidade de ensino, estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96, Lei nº 9.394/96). A EJA serve como um meio de inclusão para aqueles que, por razões socioeconômicas, não puderam começar ou concluir sua educação no tempo convencional. Estes alunos, muitas vezes oriundos de camadas sociais menos favorecidas, enfrentam desafios que vão além do âmbito educacional, envolvendo fatores financeiros, culturais e profissionais que relegam a educação a um segundo plano (Freire, 1996).

Conforme revelado pela Figura 6, consultas com coordenadores e educadores indicaram várias abordagens para enfrentar a evasão. Metade sugeriu a integração de tecnologias educacionais, 20% destacaram a importância do desenvolvimento contínuo dos professores, e 30% propuseram a adoção de projetos interdisciplinares (Figura 4). Essas estratégias sublinham a complexidade da evasão, afetando não apenas os alunos, mas também a estrutura educacional, alinhando-se com as análises de Tinto (1993).

Figura 4 – Principais medidas do poder público na E. E. Marechal Hermes

Fonte: NETA. Benedita Frazão da Silva (2024)

O abandono escolar não apenas reduz as chances de retorno do aluno ao sistema educacional, mas também limita suas oportunidades profissionais e sua plena participação como cidadão. Assim, é responsabilidade do poder público adotar medidas integradas para enfrentar esse desafio de forma holística, incluindo o uso de tecnologia na educação, a melhoria contínua do corpo docente e a implementação de projetos interdisciplinares, como sugerido pela UNESCO (2014).

A evasão escolar também apresenta desafios institucionais significativos, afetando indicadores de qualidade educacional, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Portanto, é essencial adotar uma abordagem proativa na resolução desse problema. A integração de recursos tecnológicos e programas de desenvolvimento profissional contínuo pode tornar o aprendizado mais atraente e relevante, atendendo às expectativas e motivações dos estudantes (Silva, 2016).

Autores como Padilha (2017) e Gandin (1994) enfatizam a importância do planejamento cuidadoso e da reflexão contínua como estratégias chave para reduzir a evasão na EJA. Da Cunha (1997) sugere que as práticas pedagógicas devem ser adaptadas à realidade dos alunos, incorporando abordagens inovadoras e motivadoras que valorizem o conhecimento prévio dos alunos e apliquem métodos alternativos de ensino.

Além disso, a inclusão de alunos com necessidades especiais requer uma atenção particular, incentivando a participação desses alunos em avaliações por especialistas e em atividades extracurriculares. É fundamental utilizar uma variedade de métodos pedagógicos e contar com o apoio de uma equipe dedicada de educadores para garantir um ambiente de aprendizagem enriquecedor.

Em relação às políticas públicas para a EJA, é crucial combater a exclusão educacional historicamente presente no Brasil, assegurando uma educação inclusiva e de alta qualidade para todos. Wallerstein (2002) e a UNESCO (2008) discutem a evolução das políticas públicas de EJA no Brasil, destacando a necessidade de descentralização e de uma abordagem mais inclusiva e coerente nas iniciativas educacionais.

Para minimizar a evasão na EJA, é vital empregar estratégias pedagógicas engajadoras, como o uso de poesia, filmes, músicas e novas tecnologias, que podem servir como ferramentas poderosas para promover o interesse e a motivação dos alunos (Lima, 2007; Capucho, 2012; Araujo, 2006; Santos e Da Costa, 2017).

Em suma, a luta contra a evasão escolar na EJA requer um esforço conjunto de entidades governamentais e da sociedade civil, com políticas pedagógicas e estratégias educacionais que sejam inclusivas, motivadoras e adaptadas às necessidades dos alunos. É essencial que o currículo da EJA seja desenvolvido de forma a refletir as experiências e realidades dos estudantes, tornando o aprendizado relevante e aplicável às suas vidas. A implementação de práticas pedagógicas que incentivem a participação ativa dos alunos e o envolvimento da comunidade escolar pode contribuir significativamente para a redução das taxas de evasão.

A formação contínua dos professores desempenha um papel crucial na eficácia da EJA, pois educadores bem-preparados e atualizados são capazes de responder melhor às demandas de um ambiente educacional em constante mudança. A capacitação profissional deve incluir o desenvolvimento de competências para o uso de tecnologias educacionais e a implementação de metodologias inovadoras de ensino, que possam engajar os alunos e tornar o aprendizado mais interativo e dinâmico.

Percepções dos Professores: Análise das Entrevistas

Para abordar a questão da evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, localizada em Manaus, é fundamental iniciar pela apresentação dos dados coletados em 2019. Foram entrevistados 17 professores, identificados anonimamente de P1 a P17, que compartilharam suas percepções e práticas pedagógicas. Estes dados revelam que o perfil dos alunos da EJA é marcado por diversidade e adversidades, incluindo desafios socioeconômicos, responsabilidades familiares e laborais, e experiências educacionais prévias negativas, conforme discutido por Freire (1987) e Gadotti (2000).

A análise destas entrevistas sugere uma percepção comum entre os professores de que os alunos da EJA enfrentam tratamento desigual pelas políticas públicas, o que contribui para a exclusão social, uma questão aprofundada por Bourdieu (1986). Além disso, os professores relataram um ciclo contínuo de matrículas e desistências, destacando a importância do apoio institucional para a retenção dos alunos, ecoando as ideias de Freire (1970).

A discussão se aprofunda ao considerar os fatores que contribuem para a evasão escolar. Alguns professores observaram um processo gradual de desengajamento, caracterizado por faltas frequentes e falta de realização de tarefas, muitas vezes amplificado por responsabilidades laborais, uma perspectiva que encontra ressonância nas considerações de Tinto (1993) sobre o abandono escolar.

Diante desta complexidade, a análise sugere a necessidade de uma abordagem educacional mais inclusiva e personalizada. É proposto que estratégias educacionais devem transcender o conteúdo curricular para abordar o engajamento e a inclusão social, utilizando metodologias ativas e integrando tecnologias educacionais para tornar as práticas pedagógicas mais alinhadas às necessidades dos alunos (UNESCO, 2014; Silva, 2016).

Além disso, a análise enfatiza a importância de considerar o contexto institucional e as políticas públicas direcionadas à EJA. A melhoria das condições de ensino, a capacitação docente e o desenvolvimento de materiais pedagógicos específicos são fundamentais para mitigar o sentimento de exclusão entre os alunos (Estivill, 2003; Gentili, 1996).

A implementação de ações de busca ativa, programas de apoio socioemocional e projetos interdisciplinares, juntamente com políticas públicas robustas, é vista como crucial para reduzir as taxas de evasão e promover uma educação mais inclusiva, refletindo as ideias de Dewey (1916) sobre o papel da educação na construção de uma sociedade mais justa.

Enfrentar o desafio da evasão escolar na EJA requer uma abordagem integrada que considere a multiplicidade de fatores que influenciam a permanência dos alunos na escola. Uma estratégia educacional que englobe inovações pedagógicas, suporte institucional adequado e políticas públicas focadas na inclusão pode criar um ambiente propício ao sucesso educacional dos jovens e adultos na EJA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo abordou a complexidade da evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Marechal Hermes, em Manaus, com o objetivo de identificar e analisar os fatores que contribuem para essa problemática. A investigação, que combinou questionários, entrevistas e observações, revelou a natureza multifacetada da evasão, influenciada por uma gama de fatores interconectados, incluindo desafios socioeconômicos, responsabilidades familiares e laborais, bem como barreiras pedagógicas e institucionais.

Através da caracterização do perfil dos alunos da EJA e da identificação dos motivos para a evasão, este estudo destaca a importância de práticas pedagógicas adaptativas e políticas públicas inclusivas que abordem as necessidades variadas dos estudantes. A qualidade do ensino, o estigma associado à EJA, e a falta de políticas públicas robustas emergiram como elementos críticos que contribuem para a evasão, reforçando a necessidade de uma abordagem educacional que vá além da transmissão do conhecimento e crie espaços para que os alunos construam ativamente seu próprio saber.

As recomendações baseadas nos resultados obtidos sugerem a implementação de estratégias como a adaptação curricular, a capacitação contínua dos professores e a integração de tecnologias e metodologias ativas centradas no aluno. Além disso, enfatiza-se a necessidade de fortalecer as políticas públicas voltadas para a EJA, incluindo aumento do financiamento, melhoria da infraestrutura escolar e fornecimento de recursos didáticos apropriados.

Em síntese, este estudo contribui para a literatura existente ao oferecer insights valiosos sobre a evasão escolar na EJA e ao propor recomendações práticas para enfrentar essa questão. Ao adotar uma abordagem holística que considere as especificidades dos alunos da EJA, é possível criar um ambiente educacional mais inclusivo e eficaz, capaz de promover não apenas o acesso, mas também a permanência e o sucesso desses alunos no sistema educacional.

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¹Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidade Del Sol – UNADES, bfrazaosilva@hotmail.com