REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8317527
¹Riany Dias Pinheiro Cordeiro
²Hellen Santiago Pereira
³Brunna Ribeiro da Silva Guabiraba
4Acácio Figuêiredo Neto
5Edilson Pereira Araújo
RESUMO
Este estudo se propõe a analisar a oscilação de preços da mangicultura no Valedo São Francisco. Foram observados os preços das mangas Palmer e Tommy (variedades de maior participação na região) de janeiro de 2017 a dezembro de 2021. A base de dados foi construída com informações cedidas pela Autarquia Municipal de Abastecimento de Juazeiro – BA (AMA), contendo os preços mês a mês ao longo do período. Como resultados constatou-se um declínio dos preços nos meses de abril e maio, e curva crescente nos meses de junho, julho e agosto de cada ano, quando ocorre a janela de exportação, aumento na procura por esses produtos e consequente elevação nos preços. De setembro até o final de cada ano apresenta-se curva decrescente, até início do primeiro semestre do ano seguinte.
Palavras-chave: Mangicultura. Comercialização. Variação de preço. Vale do São Francisco.
ABSTRACT
This study proposes to analyze the fluctuation of mango prices in the SãoFrancisco Valley. The prices of Palmer and Tommy mangoes (varieties with greater participation in the region) from January 2017 to December 2021 were observed. The database was built with information provided by the Municipal Supply Authority of Juazeiro – BA (AMA), containing the month-to-month prices over the period. As a result, there was a decline in prices in the months of April and May, and an increasing curve in the months of June, July and August of each year, when the export window occurs, an increase in demand for these products and a consequent rise in prices. From September to the end of each year, there is a decreasing curve, until the beginning of the first half of the following year.
Key-words: Mangiculture. Commercialization. Price change. San Francisco Valley.
1. INTRODUÇÃO
A manga, Mangífera indica L., pertence à família Anacardiaceae, originária da Índia, no continente asiático, representa uma das frutas tropicais de maior importância e produtividade no mundo (OLIVEIRA et. al., 2013). No Brasil, é provável que as primeiras mudas tenham sido cultivadas na Bahia, por volta de 1700, espalhando-se, posteriormente, para outros estados da região nordeste e região sudeste, onde apresentam excelente adaptabilidade ao clima e ao tipo de solo existente (SILVA, 2014). Desde então, a mangicultura tem ganhado espaço no cenário agrícola e econômico brasileiro, representando uma das atividades econômicas de destaque no cenário nacional e internacional (ARAUJO; MELO; LEITE, 2017).
Conforme dados do Anuário Brasileiro da Fruticultura (2022) a região do vale do São Francisco apresenta-se como grande polo de cultivo de qualidade da mangueira, que mesmo em tempos de pandemia atingiu o mais alto ranking de frutas exportadas. No ano de 2021, devido à cotação da moeda, em valores de exportação não teve aumento expressivo, entretanto a produção atingiu 272.560.167 kg, quando em 2020 tinha sido de 243.225.863 kg. Isso deve-se principalmente, pela alta tecnologia que os perímetros irrigados utilizam na produção da manga, o que lhe gera alta produtividade e excelente qualidade, atendendo até os mais exigentes mercados como EUA e Europa.
No Vale do São Francisco, estima-se que 50% da área colhida seja da variedade Palmer, 30% da Tommy Atkins e 20% de Keitt, Kent, Haden, Rosa e outras (LIMA, 2021). Onde 52% são pequenos produtores que contribuem com 14% da produção nacional. Entre as vantagens de produção de manga nessa região, a possibilidade de produção durante todo o ano, devido às condições climáticas e disponibilidade de irrigação, representa um diferencial para aumentar o interesse na exploração da mangueira nas condições semiáridas.
O mercado interno brasileiro da manga apresenta grande volume de comercialização sendo que 61% da fruta produzida no Vale do São Francisco são realizadas pela Autarquia Municipal de Abastecimento (AMA), localizada na cidade de Juazeiro – BA (MACHADO; RODRIGO; NETO, 2017). A AMA no ano de 2021 movimentou 1.427.574 de toneladas (R$ 3,60 bilhões) em comercialização de hortigranjeiros, consolidando assim, o 3ª lugar do ranking de comercialização de hortigranjeiros nos Entrepostos Atacadistas com base na quantidade anual de 2021, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2022).
Diante do cenário de importância que o cultivo da manga apresenta na região e no país, e que a região do Vale do São Francisco apresenta os mais altos índices de produtividade brasileira, a comercialização se torna uma das principais dificuldades enfrentadas pelos produtores. Assim, propomos o estudo do comportamento de preços da manga das variedades Tommy Atkins e Palmer, comercializadas na AMA no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2022, a fim de obter fluxo de variações dos valores praticados e dados para subsidiar melhores estratégias de condução, investimento e consequentemente lucratividade para o produtor.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa é quantitativa, pois está voltada para análise e interpretação de resultados, com ênfase em ferramentas e técnicas estatísticas. E se trata de um estudo de caso, uma vez que analisa o comportamento de preços da manga da Autarquia Municipal de Abastecimento (AMA), Juazeiro-BA, entre 2017 e 2021.
3. PRODUTO SELECIONADO
O Vale do São Francisco é a principal região brasileira produtora de manga e as cidades de Petrolina – PE e Juazeiro – BA são destaque em tamanho de área implantado e em números de produção e exportação da fruta, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), a área cultivada no Vale do São Francisco era de 15,9 mil ha em 2015 atingindo em 2021 um total de 34,4 mil hectares.
Considerando os dados apresentados por Lima et. al. (2018), em que a variedade de manga Palmer possui 50% da área plantada no Vale do São Francisco e a variedade Tommy Atkins 30%, selecionamos estas variedades para condução da pesquisa.
4. COLETA DE DADOS
A base de dados utilizada para a construção das análises de preços foi disponibilizada pela Autarquia Municipal de Abastecimento (AMA) de Juazeiro – BA (CEASA).
A AMA de Juazeiro está consolidada como terceiro maior entreposto em volume de comercialização de produtos hortifrutigranjeiros no ano base 2021 e o mais representativo das regiões norte e nordeste (CONAB, 2022).
Dados utilizados: Relação de preços médios para as variedades de manga Tommy Atkins e Palmer comercializadas na AMA, no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2021.
Os dados disponibilizados pela AMA foram atualizados pelo o Índice Geral de Preços (IGP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para data base de 12/2021. Posteriormente à atualização, determinou-se as médias mensais dos preços em moeda (R$) do histórico dos cinco anos, obtendo assim além da média, os valores mínimos e máximos de cada mês.
Com as médias determinadas calculou-se o Índice Estacional de Preço (IEP) através de configuração de planilha de Excel para a fórmula abaixo (figura 1).
Figura 1 – Cálculo do Índice Estacional de Preço (IEP)
Fonte: Sousa et. al., 2016.
Em que:
IEP = Índice Estacional de Preço
P = Preço do mês analisado
MMC = Média Móvel Calculada
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Analisando-se os índices estacionais do preço da variedade Tommy Atkins (gráfico 1 e quadro 1) em dezembro registou-se o menor índice estacional anual e em julho o maior índice, estando 43,50% acima da média, bem propício por ser os meses de janela de exportação do Vale do São Francisco. Entretanto nos últimos quatros meses do ano, apresenta curva decrescente ficando estes entre os índices mais baixos do ano, o que coincide com a safra da manga da região sudeste, ocasionado maior disponibilidade da fruta no mercado interno e consequentemente queda nos preços.
Gráfico 1 – Comportamento de preços para variedade de manga Tommy Atkins, comercializada na AMA, no período de 2017 a 2021.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2022).
Quadro 1 – Índices estacionais e limite de variação de manga variedade Tommy Atkins, comercializada na AMA, no período de 2017 a 2021.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2022).
Na análise para os índices estacionais da variedade Palmer (gráfico 2 e quadro 2), nota-se comportamento similar ao da variedade anterior, o mês de dezembro registrou o menor índice estacional anual (embora maior, quando comparado com a Tommy) e em julho o maior índice, estando 33,00% acima da média, um pouco menor do que o apresentado pela variedade Tommy, também propício por ser os meses de janela de exportação do Vale do São Francisco. A partir do mês setembro até dezembro, manteve-se em curva decrescente, permanecendo estes, como os índices mais baixos do ano, o que nos traz hipótese da relação oferta e procura e com a safra da região sudeste do país, mais fruta no mercado e menor preços comercializados.
Gráfico 2 – Comportamento de preços para variedade de manga Palmer, comercializada na AMA, no período de 2017 a 2021.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2022).
Quadro 2 – Índices estacionais e limite de variação de manga variedade Palmer, comercializada na AMA, no período de 2017 a 2021.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2022).
Conforme exposto nas ilustrações acima, observamos um comportamento similar entre as variedades, ainda que para a manga Tommy Atkins ocorra maiores variações de mínimos e máximos quando comparada com a Palmer, no primeiro quadrimestre uma tendência dos índices estacionais acima da média, sendo que no mês de maio ambas apresentam índices inferior a média, ocorrendo uma nova curva crescente nos meses de junho, julho e agosto, ocorrendo a sequência de maiores índices estacionais (acima da média), para no quadrimestre final do ano, declinar em curva com índices abaixo da média.
6. CONCLUSÃO
Embora o volume de manga produzido e comercializado no Vale do São Francisco e no Brasil seja grande, esse número seria ainda maior se houvesse um incentivo mais eficaz para o consumo da fruta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo mínimo de 400g de frutas e hortaliças diariamente. Esses alimentos possuem grande importância na nutrição humana, pois são fontes de vitaminas (A, B6, C, E), minerais e fibras. Entretanto, a maioria da população não consome a quantidade adequada (CORRÊA JUNIOR et. al., 2020).
No Brasil, dados de 2017 e 2018 da Pesquisa de Orçamento Familiar indicam que a média anual de consumo de frutas é de 2,7% em relação ao total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar, sendo o Sul a região que mais consome esse grupo de alimentos. E no que diz respeito especificamente à manga, a média de consumo é de 4,3kg/ano e 11,78g/dia (Brasil), sendo a região norte a que mais consome a fruta e a Nordeste a que menos consome, conforme mostram os quadros 3 e 4 a seguir:
Quadro 3 – Participação relativa de frutas no total de calorias determinado pela aquisição alimentar domiciliar, por regiões de federação – período 2017-2018.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados coletados do IBGE (2022).
Quadro 4 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual, por grandes regiões, do produto manga – período 2017-2018.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados coletados do IBGE (2022).
Sendo o Brasil um dos principais produtores de manga do mundo, ocupando o 7º lugar no ranking mundial (GAZZOLA; GRÜNDLING; ARAGÃO, 2020), o consumo dessa fruta localmente deveria ser maior. Uma opção para o aumento do consumo da fruta seria a sua maior utilização não só in natura, mas também como matéria-prima no processamento de produtos alimentícios, como sucos, geleias, doces, néctares e sobremesas sendo amplamente comercializadas em supermercados, feiras, restaurantes, etc.
Para tanto, se faz necessária “uma intervenção, mediante estratégias de marketing e de educação nutricional, para a implementação de uma quantidade maior destes alimentos […], bem como o despertar da indústria sobre o desenvolvimento de produtos à base de manga” (MEIRELES et. al., 2019, p. 824).
“O incentivo ao consumo de frutas […] contribui para a promoção da saúde humana” (MEIRELES et. al., 2019, p. 821) e pequenos produtores poderão ser beneficiados economicamente pela exploração da manga, impactando socialmente na economia local e na vida dos consumidores (FEITOSA et. al., 2019).
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2022. Disponível em: HORTIFRUTI_2022.pdf (editoragazeta.com.br). Acesso em: 15 de dezembro de 2022.
ARAÚJO, A. M; MELO, J. M. de; LEITE, A. A. M. Análise da variação no peso médio da caixa de manga a partir do controle estatístico de processo. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, Maringá-PR. DOI: http://dx.doi.org/10.17765/2176-9168.2017v10nEd.esp.p137-153. Disponível em: <https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/rama/article/view/5647/2960>. Acesso em: 13 de dezembro 2022.
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CORRÊA JUNIOR, M. N. Aspectos fisiológicos para venda e consumo de algumas frutas e hortaliças comercializadas na central de abastecimento do Pará (CEASA/PA). Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p.41991-42001, jun. 2020. ISSN 2525-8761. Disponível em: <https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/12433/104256>. Acesso em: 15 de dezembro 2022.
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GAZZOLA, R.; GRÜNDLING, R. D. P.; ARAGÃO, A. A. Produção e mercado internacional de manga. Revista Brasileira de Agrotecnologia V. 10, Nº 3, p. 81-87, ANO 2020. DOI: 10.18378/REBAGRO.V10I3.8566. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1142466/1/MANGA-2020.pdf>. Acesso em: 15 de dezembro 2022
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/24786-pesquisa-de-orcamentos-familiares-2.html?edicao=31309&t=resultados> Acesso em: 15 de dezembro 2022. LIMA, João Ricardo Ferreira de. Comportamento do Mercado de manga em 2021 e as perspectivas para 2022. 3º Encontrec e 1º Mango Frutvasf. Encontro técnico das consultorias de manga. Petrolina/PE, Dez/2021.
MACHADO, W. R.B; CARVALHO, R. M. de; FIGUEREDO NETO, A. Avalição da das perdas de manga no Vale do São Francisco. Revista em Agronegócio e Meio ambiente, Maringá- PR. 2017. Disponível em: Vista do AVALIAÇÃO DAS PERDAS DE MANGA NO MERCADO VAREJISTA DO VALE DO SÃO FRANCISCO (unicesumar.edu.br). Acesso em 20/08/2022.
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¹Mestranda em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
E-mail: rianydiaspc@gmail.com.
²Mestranda em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
E-mail: hellen.santiagopereira@gmail.com.
³Mestranda em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
E-mail: brunnaguabiraba@gmail.com.
4Doutor em Engenharia Agrícola e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
E-mail: acacio.figueiredo@univasf.edu.br.
5Doutor em Gestão e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
E-mail: epa3003@gmail.com.