REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202409081116
Lucas Menezes Viana
Prof. Orientador: Dr. Thiago Augustus Remacre Munerato
RESUMO
O atual panorama dos monumentos de Aracaju expõe a ausência de manutenção e cuidados básicos para com esses e também a necessidade de intervenções por parte da engenharia nessas estruturas. A capital sergipana, desde a sua fundação, foi moldada pelos seus monumentos, sejam eles antigos prédios públicos, casas de figuras importantes na história ou estátuas. Com base nisso, este trabalho tem como objetivo esclarecer quais patologias construtivas se encontram presentes no monumentos da cidade e quais as suas consequências para essas estruturas e para a cultura do município, de forma a mostrar os processos de manutenção corretiva para casos onde as estruturas foram afetas por corrosão, apresentam trincas e mofo e sofreram ações de depredação causadas pelo homem. Para isso, foram estudados monumentos espalhados pela capital sergipana, a fim de identificar as patologias presentes e, após estudo aprofundado das mesmas, foi possível determinar que tipo de procedimento adotar para cada tipo de patologia. Com base nas visitas feitas “in loco” foi possível atribuir um grau de danificação de cada monumento e com isso criar uma metodologia de manutenção preventiva para esses, após a manutenção corretiva, evitando-se elevados custos de correção após anos de depredação, haja vista que os custos de manutenção crescem exponencialmente em função do tempo. Além da redução dos custos para a prefeitura, o constante monitoramento dos monumentos de Aracaju permite que estes nunca sejam perdidos com o tempo, preservando, assim, a identidade histórica e cultural da sociedade aracajuana e sergipana como um todo, uma vez que o engenheiro civil deve estar em harmonia com tudo o que o rodeia na sociedade.
Palavras-chave: Patologias. Monumentos. Aracaju. Manutenção.
ABSTRACT
Aracaju’s monuments current outlook exposes the lack of maintenance e basic care for these and also the need for intervention by engineers in these structures. Sergipe’s capital, since its foundation, was molded by its monuments, whether they are public buildings, important people’s houses or statues. Based on this, this paper aims to clarify which constructive pathologies are present in the city’s monuments e what are their consequences for these structures e to the city’s culture, in order to show the corrective maintenance procedures for cases where structures were affected by corrosion, cracks and mold and suffered depredation actions caused by men. For this, monuments scattered around the capital of Sergipe were studied in order to identify current conditions and, after depth study of them, it was possible to determine what type of procedure to adopt for each type of pathology. Based on made visits “in loco”, it was possible to assign a degree of damage of each monument and thereby create a preventive maintenance methodology for these, after corrective maintenance, avoiding high repair costs after years of depredation, given that maintenance costs increase exponentially as a function of time. In addition to reducing costs for the city, the constant monitoring of Aracaju’s monuments allows them to be never lost over time, thus preserving the historical and cultural identity of Aracaju’s and Sergipe’s society as a whole, since the civil engineer must be in harmony with everything that surrounds him in society.
Keywords: Pathologies. Monuments. Aracaju. Maintenance.
1 INTRODUÇÃO
O grande número de monumentos danificados e abandonados na cidade de Aracaju, Sergipe, assusta aqueles que acreditam que tais elementos apresentam riqueza cultural e social. São inúmeras patologias espalhadas por construções em toda a cidade, mesmo os monumentos mais recentes, ou recentemente reformados, apresentam danificações nas suas estruturas e necessitam de um estudo aprofundado das causas de tais modificações.
Os governantes que passaram pelo poder da cidade e, também, do estado, pouco fizeram pela manutenção e recuperação dos monumentos de Aracaju. Nota-se que um dos únicos a receber atenção é a Ponte do Imperador, localizada na Avenida Ivo do Prado, no centro da cidade, podendo ser citados também os Arcos da Orla de Atalaia.
O que se percebe são pontuais reformas de praças, que ocorrem em épocas eleitorais e, muitas delas, recentemente, mudando por completo o visual das praças, incluindo a remoção de monumentos considerados irrelevantes por esses que idealizam tais projetos.
Dito isto, essa pesquisa busca relacionar as patologias a erros de projeto, falta de manutenção das estruturas e a incorreta execução por parte da mão de obra. Para isso, é necessário, antes, entender a situação dos monumentos da capital sergipana e entender alguns conceitos, como o que são monumentos e patologias na construção civil, para então definir o universo a estudado e tratado.
1.1 Situação Problema
As construções materializam o patrimônio histórico, mantendo vivo todo um cabedal intelectual e cultural de civilizações anteriores à atualidade, haja vista que são o testemunho vivo e tangível de épocas passadas, e fazem com que se possa entender os fatos mediante um “mergulho” no contexto físico da época, dos costumes, pensamentos e o próprio cotidiano dessas gerações anteriores.
Ao se estudar a história de Aracaju, é possível encontrar muito material sobre personalidades e eventos importantes que marcaram a cidade, e, inclusive, inúmeros monumentos que ajudaram a moldar o município ao longos dos anos. Entretanto, à medida que os anos passaram, a população passou a se interessar por outros tipos de atividade e até a falta de segurança nas ruas passou a ser um fator importante para que as pessoas deixassem de sair de suas casas para programas de recreação nas praças espalhadas pela cidade, principalmente no centro.
Aracaju, apesar de ser uma cidade relativamente nova, comparada às demais capitais brasileiras, possui uma rica e bonita história. Muitos dos fundadores e empresários que ajudaram a desenvolver a cidade encontram-se, hoje, representados em estátuas ou outros tipos de monumetos. Prédios e residências que abrigaram empresas e famílias que eram o rosto da cidade encontram-se abandonados ou até mesmo já foram demolidos para que lojas comerciais e estacionamentos ocupassem o seu lugar.
A Engenharia serve não só para construir, mas também para manter e recuperar, não só estruturalmente e visualmente, mas, também, socialmente, culturalmente e historicamente. Os engenheiros civis devem se tornar uma ferramenta que crie um elo entre o antigo e novo, possibilitando o avanço da cidade sem que esta perca sua identidade.
1.1.1 Monumentos
Definidos como uma estrutura construída com propósito de comemorar um acontecimento importante ou homenegar uma figura ilustre, os monumentos podem ser motivados por política, turismo, economia ou, simplesmente, pura estética. Existem também algumas estruturas funcionais que, com o passar do tempo, passam a ser consideradas monumentos, é o caso da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Tiradentes, por exemplo, instituições funcionais que estão presentes na sociedade sergipana há um longo período e, hoje, podem ser consideradas monumentos, devido ao valor cultural e histórico que possuem.
Considerando que, uma obra de arte é uma criação humana com objetivo simbólico, belo ou de representação de um conceito determinado. Esta definição é, de certa forma, semelhante à de um monumento, porém diferem nas suas motivações e na necessidade de representar a beleza, sendo objetos puramente estéticos. Alguns monumentos podem ser considerados obras de arte, mas nem toda obra de arte é um monumento e vice-versa. Para ROWNTREE e CONLEY (1980), monumentos são intencionalmente dotados de sentido político, capazes de condensar complexos significados em torno de valores e práticas e, ao mesmo tempo, atuar como mecanismos regulatórios de informações. Desta forma, nota-se que possuem linguagem metafórica, transmitindo poder e identidade.
No final do século XIX e início do século XX as principais cidades européias e americanas ganharam inúmeros e por vezes grandiosos monumentos: estátuas, memoriais e templos, entre outros, foram construídos. A sua construção é, em geral, parte integrante do processo de remodelar e embelezar o espaço urbano dessas cidades (ATKINSON e COSGROVE, 1998).
Em Aracaju não foi diferente. Desde a mudança da capital de Sergipe, de São Cristóvão para Aracaju, a cidade se modelava com base em monumentos, como as palmeiras imperiais das praças Fausto Cardoso e Olímpio Campos e a Ponte do Imperador, que funciona como um ancoradouro, construída em 1860 para receber o imperador D. Pedro II. Em 1904, a “ponte” passou por sua primeira reforma, alterando-se a estrutura original que era totalmente de madeira, como mostrado na figura 1, por materiais mais sofisticados, metal e vidro, vindos da Inglaterra e um portal de castelo medieval. Nesse período ela ganhou o apelido de ponte metálica ou ponte inglesa. Em 1920 nova reforma empreendida pelo construtor italiano Hugo Bozzi. O portal medieval foi substituido por dois torreões em alvenaria, simbolizando a identidade cultural sergipana, encimados por duas figuras, em forma de escultura de índios, como mostrado na figura 2. Atualmente a Ponte está passando por outra reforma.
Figura 1: Ponte do Imperador em meados do século XIX (BLOGSPOT).
Figura 2: Ponte do Imperador em Outubro de 2008 (BLOGSPOT).
1.1.2 Histórico de Aracaju
Cortada por rios como Vaza-Barris, Sergipe e Poxim, Aracaju é uma cidade litorânea, do estado de Sergipe, apontada como a capital com menor desigualdade do Nordeste Brasileiro, segundo o IBGE. Também é a cidade com os hábitos de vida mais saudáveis do país, exemplo nacional na consideração de ciclovias nos projetos de deslocamento urbano e é considerada a capital do país com menor índice de fumantes, segundo o Ministério da Saúde. Com 161 anos de existência, a cidade ainda é nova comparada a outras capitais brasileiras. Apesar disso, possui uma rica história que pode ser vista e entendida visitando o centro da cidade onde estão antigos edifícios (casas familiares, prédios públicos, estátuas, palácios) que representam a sociedade aracajuana e sergipana.
Em 1854 o governo sergipano transferiu a alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais para uma praia que chamava atenção em Aracaju, construindo também uma Agência do Correio, uma Sub-Delegacia Policial e um porto. Atualmente essa praia é hoje conhecida como Praia de Atalaia, demonstrada nas figuras 3 e 4, sendo uma das mais movimentadas da cidade.
Figura 3: Praia de Atalaia na década de 70 (SKYSCRAPER).
Figura 4: Orla da Atalaia atualmente (POSTO7).
Até então, Aracaju era conhecida como Povoado de Santo Antônio de Aracaju e, em 17 de março de 1855, graças a Inácio Joaquim Barbosa, foi elevada à categoria de cidade, passando a ser a nova capital da província. Desde então, Inácio Barbosa vem sendo considerado o “fundador de Aracaju”, tendo atualmente um bairro com seu nome e um monumento em sua homenagem na Orla de Atalaia. Por não se ter tido êxito em encontrar nenhum retrato do presidente de Sergipe, o monumento não é uma estátua, mas uma estrutura de aço de 5,5 metros de altura e 2.200 quilogramas, como demonstrada na figura 5.
Figura 5: Monumento em homenagem a Inácio Joaquim Barbosa (FOTOSLUGARES).
Como foi fundada com a intenção de ser a capital da província, Aracaju passou por um planejamento urbano, que enfrentou dificuldades devido à forte presença de manguezais. Não se sabe ao certo qual foi o marco zero da cidade, a teoria mais forte é que Aracaju tenha sido ocupada a partir da atual Praça General Valadão, demonstrada na figura 6, onde se situava o porto e antiga alfândega e abriga, atualmente, um Centro de Cultura.
Figura 6: Praça General Valadão. Ao fundo, o antigo prédio da Alfândega, atual Centro de Cultura (BLOGSPOT).
Já a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso), representada pelas figuras 7 e 8, por ser o centro do poder político-administrativo do município, onde se encontravam o palácio, algumas repartições e a Assembléia Provincial, foi o ponto de partida para o crescimento da cidade, tendo em vista que todas as ruas foram ordenadas geometricamente para terminar no Rio Sergipe. Além disso, até os anos 90, a praça era também o centro cultural da cidade, onde aconteciam o Carnaval e os Festejos Juninos. Ainda hoje a praça abriga importantes instituições, como o Tribunal de Justiça de Sergipe, a Assembléia Legislativa e Ministério Público Estadual.
Figura 7: Praça Fausto Cardoso em meados dos anos 50 (BLOGSPOT).
Figura 8: Praça Fausto Cardoso atualmente (TRIPADVISOR).
Além das praças e prédios públicos que marcaram o início da história da capital sergipana, o centro da cidade (além de outros bairros adjacentes) possui inúmeras edificações com mais de um século de existência. Ao longos dos anos, esses prédios foram deixados de lado por seus proprietários. Hoje, por razões políticas e econômicas, a maioria desses está ocupada por lojas comerciais e/ou estão abandonadas, inclusive com risco de colapso. Em julho de 2010, a marquise de um edifício comercial que estava em obras, localizado no calçadão da João Pessoa, desabou, como mostrado na figura 9, tirando a vida de uma pessoa e ferindo mais duas. O fato se deu devido ao mau uso de equipamentos de demolição, gerando excessivas vibrações na estrutura, levando-a ao colapso.
Figura 9: Prédio comercial no calçadão da João Pessoa, em Aracaju, cuja marquise desabou sobre três pessoas (INFONET).
Após o ocorrido, se chamou a atenção para a quantidade de prédios abandonados no centro da cidade. Em alguns minutos de caminhada pelo centro aracajuano percebe-se o completo abandono de construções que costumavam representar a história da cidade. As edificações que não foram demolidas e transformadas em estacionamentos privados, estão abandonadas há muitos anos, sem qualquer tipo de manutenção e intervenção. Devido a isso, os prédios apresentam inúmeras patologias, como fissuras, fungos na pintura, desplacamento de reboco, dentre outros. Tais sintomas poderiam ter sido evitados com a manutenção regular desses edifícios, independentemente da causa da patologia (erros de execução ou erros de projeto), de forma que a memória da cidade também estaria preservada.
1.1.3 Patologias Construtivas
Do grego phátos (doença) + logos (tratado, estudo), o termo Patologia refere-se à parte da Medicina que estuda as doenças, seus sintomas e a natureza das modificações que elas provocam no organismo. De uma forma análoga, as edificações em geral também podem apresentar modificações ou alterações (sintomas) em seus componentes devido a defeitos (ou doenças); por extensão, o uso o termo Patologia pode ser utilizado para o estudo sistemático das anomalias, dos seus sintomas e da natureza das modificações que estas provocam no edifício (MAGALHÃES, 2002).
As patologias podem ter sua origem por falha humana na fase de projeto, na fase de execução ou na fase de utilização. Apesar do avanço tecnológico no ramo da construção civil, pode ser observado um grande número de edificações apresentando patologias. O uso inadequado de materiais, aliado à falta de cuidados na execução, tudo isto aliado à falta de manutenção, tem gerado despesas extras aos proprietários que até com menos de cinco anos de idade da edificação têm que dispor de recursos financeiros em reparações que poderiam ser evitadas. (MEIRA, 2000)
Desde as primeiras construções conhecidas pelo homem, códigos de éticas já eram utilizados para responsabilizar os construtores, em caso de colapso ou danos estruturais, criando, assim, uma espécie de controle de qualidade. De acordo com Klein (2009), desde 1700 A.C., o código de Hamurabi já trazia regras para o construtor, como:
a) Caso algum construtor fizesse uma moradia para um homem e esta viesse a colapso, causando a morte do morador, o construtor deveria morrer;
b) Caso quem viesse a falecer fosse o filho do morador, quem morria deveria ser o filho do construtor;
c) Caso um escravo do proprietário da casa que morresse, um escravo do construtor também deveria falecer;
d) Se a casa fosse destruída, o construtor deveria restaurar todos os danos por sua própria conta;
e) Se uma moradia fosse construída e estivesse diferente das especificações e uma parede desmoronasse, o próprio construtor deveria reconstruir a parede com recursos dele próprio.
A área de estudo de Patologias tem se destacado cada vez mais no mercado da construção civil e isso leva a uma reflexão sobre o padrão de qualidade de recentes obras no Brasil, como também à regularidade da manutenção de contruções antigas. Quando se trata da qualidade das construções, pode-se avaliar dois quesitos fundamenais: erros de projeto e erros de execução.
Projetar uma estrutura significa resolver seu trinômio fundamental: segurança, funcionalidade e durabilidade, onde todos os termos são igualmente prioritários. Qualquer deles é indispensável ao sucesso do empreendimento. Todos são importantes para assegurar a qualidade final da obra. Negligenciar, que seja parcialmente, um qualquer significa comprometer, com toda a certeza, o resultado final da empreitada. Aos engenheiros que atuam no projeto e na execução de estruturas cabe responsabilidade indeclinável sobre a qualidade da resposta que sua obra dará a este trinômio fundamental (CUNHA; LIMA; SOUZA 1996).
Quando um dos itens do trinômio fundamental é ignorado ou menosprezado durante a fase de projeto, é inevitável que, durante a fase de execução, problemas venham a aparecer. Os erros de projeto podem se dar por estruturas mal dimensionadas, determinação de materiais incompatíveis com o que a edificação exige, erros de cálculo estrutural relacionados à fundação, pilares e lajes, por exemplo. Engenheiros com experiência podem detectar esses erros imediatamente após leitura de um projeto. Como nem todo profissional tem a habilidade de perceber erros provenientes do projeto estrutural, cabe ao engenheiro civil verificar os dados do projeto e analisar se estes atendem a sua obra, caso contrário, a boa conduta pede que o engenheiro responsável pela obra entre em contato com o engenheiro projetista para verificar os dados de projeto e alterá-los, caso necessário.
É notável que engenharia civil molda a sociedade em que vivemos. Um país com grande potencial econômico sempre estará envolvido com grandes obras públicas e privadas. Muitas vezes esse cenário favorável pode gerar consequências no processo construtivo. Com uma alta demanda de obras e uma oferta de profissionais capacitados que não acompanha tal demanda, problemas começam a surgir em diversas obras, independente do seu porte. É comum que um engenheiro gerencie mais duas ou três obras ao mesmo tempo e, dependendo do tamanho dessas, a falta de vistoria constante pode vir a trazer anomalias causadas pela má execução da mão de obra.
É papel do engenheiro civil manter um padrão de qualidade para cada obra, garantindo segurança e conforto para as pessoas que forem usufruir daquele bem. Para garantir tais padrões, a NBR 15575/13 orienta o profissional a respeito do desempenho de estruturas e diz, por exemplo, que, no Brasil, uma estrutura deve permanecer em perfeitas condições por, no mínimo, 50 anos, é a chamada vida útil de projeto.
1.1.4 Durabilidade x Vida Útil x Vida Útil de Projeto
Segundo a NBR 15575/13, durabilidade é a capacidade da edificação ou de seus sistemas de desempenhar suas funções ao longo do tempo, sob condições de uso e manutenção especificadas no Manual de Uso, Operação e Manutenção. Ou seja, o período esperado de tempo em que um produto tem potencial de cumprir as funções a que foi destinado, num patamar de desempenho igual ou superior àquele predefinido. Para tanto, há necessidade de correta utilização, bem como de realização de manutenções periódicas em estrita obediência às recomendações do fornecedor do produto, sendo que as manutenções devem recuperar parcialmente a perda de desempenho resultante da degradação, conforme ilustrado na figura 10.
Figura 10: Recuperação do desempenho após manutenção (NBR 15575).
Já a Vida Útil (VU), segundo a NBR 15575/13, é o período de tempo em que um edifício e/ou seus sistemas se prestam às atividades para as quais foram projetados e construídos, com atendimento dos níveis de desempenho previstos nesta Norma, considerando a periodicidade e a correta execução dos processos de manutenção especificados no respectivo Manual de Uso, Operação e Manutenção (a vida útil não pode ser confundida com prazo de garantia legal ou contratual). Vale ressaltar que existem diversos fatores que podem influenciar a vida útil de uma edificação, como ações inesperadas do meio ambiente, correta manutenção e até mesmo poluição no local da obra, de forma que a vida útil pode acabar menor que o tempo teórico calculado como vida útil de projeto.
Ainda segundo a norma, a Vida Útil de Projeto (VUP) é uma estimativa teórica que compõe a Vida Útil, de forma que pode ser atingida ou não, dependendo do correto uso da construção, da constante manutenção, devendo atender a VUP mínima prevista na Norma, quando não houver indicação, para cada disciplina. A quantidade de anos de vida útil, de acordo com cada tipo de estrutura, é demonstrada na tabela 1.
Tabela 1: Prazos mínimos de vida útil de projeto (NBR 15575).
Ainda na década de 80, SITTER (1984) apresentou a Lei dos Cinco, que relaciona os altos custos às intervenções corretivas. Segundo o autor, durante a fase de projeto, toda medida com a intenção de aumentar a durabilidade e a proteção da estrutura equivale a um fator de custo de valor 1. Já durante a fase de execução, toda e qualquer medida que precise ser tomada para que se atinja a durabilidade e vida útil previamente determinada equivalerá um custo 5 vezes maior a medidas tomadas na fase de projeto. Quando a estrutura já está finalizada e se fazem necessárias intervenções de manutenção preventiva, como pinturas, lavagens e impermeabilizações da superfície, o custo equivalente, em comparação à fase de projeto, é 25 vezes maior. O pior cenário é o da manutenção corretiva, onde não houve manutenção preventiva e a estrutura manifesta diversas patologias evidentes e se faz necessário o reparo, reforço e proteção das mesmas, que perderam a vida útil de projeto. Nesta fase, o custo equivalente, em comparação à fase de manutenção preventiva é 5 vezes maior e 125 vezes maior em relação à fase de projeto. Na figura abaixo pode-se visualizar a curva geométrica exponencial que representa a teoria de Sitter.
Figura 11: Gráfico da Lei da evolução dos custos (SITTER, 1984).
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivos gerais
– Identificar e estudar patologias presentes nos monumentos públicos distribuídos pelo município de Aracaju, a fim de analisar suas possíveis causas e os impactos sociais que a atual situação dessas estruturas podem causar, além de propor soluções técnicas para o tratamento dos mesmos.
1.2.2 Objetivos específicos
– Traçar um histórico do patrimônio cultural e social de Aracaju e identificar as patologias existentes nos monumentos públicos, de forma que seja possível analisar as suas causas.
– Estudar o impacto da falta de manutenção na deterioração dos monumentos de Aracaju.
– Propor soluções para a recuperação desses monumentos e ressaltar a necessidade de manutenção preventiva dos mesmos.
1.2.3 – Organização da monografia
No primeiro capítulo deste trabalho abordou-se um breve histórico de Aracaju, mostrando a relevância de seus monuemtos e conectando-os à sua história e identidade cultural. Além disso, é definido o conceito de Vida útil, Durabilidade e Vida útil de projeto seguido de uma introdução às patologias construtivas, possibilitando ao leitor um melhor entendimento da situação problema apresentada e dos objetivos do trabalho.
O segundo capítulo representa uma revisão bibliográfica dos pontos considerados cruciais para o desenvolvimento deste trabalho, aprofundando o estudo de patologias de forma a entender suas origens e de que forma se manifestam. Além disso, esse capítulo apresenta o conceito de manutenção e de concepção de projeto e qualidade da construção, aspectos imprescindíveis para o entendimento das manifestações patológicas.
O terceiro capítulo aborda a metodologia do trabalho, explanando as técnicas utilizadas para que se atinja os resultados aguardados e métodos de pesquisa.
O quarto capítulo apresenta uma discussão da situação problema onde são expostas soluções para as manifestações patológicas já presentes no monumentos abordados, fornecendo, também, uma visão ainda mais ampliada do que consiste a ideia de manutenção preventiva, onde foi apresentada uma rotina de monitoramento e uma planilha de inspeção visual . Além disso, também é questionada a ausência da cultura de manutenção em Aracaju e proposta uma metodologia para que seja possível monitorar e tratar possíveis sintomas patológicos o quanto antes, evitando maiores custos.
O quinto e último capítulo representa as considerações finais a respeito deste trabalho, onde se faz uma reflexão a respeito dos problemas enfrentados pela cidade no âmbito da preservação de seus monumentos e são propostas ações para prevenir a degradação dos monumentos de Aracaju, a modo de manter a identidade cultural da cidade.
1.3 Justificativa
A crescente urbanização da cidade de Aracaju levou a cidade a um descaso cultural a respeito dos seus monumentos históricos. No centro da cidade, observa-se a substituição de antigas edificações, que retratavam a história da cidade, por prédios comerciais, tais como estacionamentos e lojas.
É verdade que tal descaso não é exclusividade da sociedade sergipana, a maior parte dos brasileiros não entende há necessidade de manutenções constantes em qualquer tipo de construção. Entretanto, deve-se ressaltar que permitir que nossos monumentos sejam destruídos e/ou abandonados significa consentir que a identidade cultural se perca no tempo e uma página da história da cidade seja apagada. Ao analisar fotografias das décadas de 1960 a 2000 pode-se constatar o avanço comercial e o abandono de muitos dos monumentos históricos aracajuanos, fato que é ratificado pelo próprio diretor do Arquivo Público de Aracaju.
É fácil perceber que em Aracaju não existe a cultura da manutenção, tanto no universo particular como no público. Em alguns minutos de passeio pela cidade pode-se observar o número de prédios e casas residenciais que apresentam inúmeros casos de patologias, prédios empresariais, prédios públicos e monumentos.
Por isso a importância de se analisar as atuais patologias dos monumentos da cidade, sejam eles novos ou antigos, de forma que seja possível identificá-las e realizar um diagnóstico dessas estruturas, propondo ações de manutenção corretiva e, além disso, uma proposta de cronograma prevendo manutenções preventivas, de forma que os monumentos permaneçam constantemente preservados, evitando, assim, maiores gastos com reparações e preservando a identidade cultural e histórica local. Além disso, tal mudança de comportamento e pensamento, desperta na população a consciência da importância da Engenharia Civil no âmbito sócio-cultural, expandindo a ideia de que desenvolvimento (econômico e cultural) e engenharia caminham juntos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Patologias Construtivas e suas Origens
Designa-se, ainda que genericamente, por patologia das construções o campo da engenharia civil que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação, consequências e mecanismos de ocorrência de falhas. Tais fatores trazem à tona a necessidade de uma adequada sistematização dos conhecimentos nesta área, para posterior diagnóstico e geração de planos de intervenção para resolução das manifestações apresentadas. A resolução de um problema patológico envolve um conjunto complexo de procedimentos a serem feitos, a prática profissional usada na análise destes problemas tem sido muitas vezes caracterizada pela falta de uma metodologia cientificamente reconhecida e comprovada prevalecendo em muitas situações a experiência profissional do engenheiro, obtida ao longo dos anos e a utilização de métodos empíricos de análise prévia, tal fator é relevante quando se mostra necessária uma análise pormenorizada e individualizada do problema, quando estes se mostram mais complexos (DO CARMO, 2003).
Segundo OLIVEIRA (2013), salvo os casos correspondentes à ocorrência de catástrofes naturais, em que a violência das solicitações, aliada ao caráter marcadamente imprevisível das mesmas, será o fator preponderante, os problemas patológicos têm suas origens motivadas por falhas que ocorrem durante a realização de uma ou mais das atividades inerentes ao processo genérico a que se denomina de construção civil, processo este que pode ser dividido, em três etapas básicas: concepção (planejamento / projeto / materiais), execução e utilização.
Uma edificação pode ser comparada ao corpo humano, de acordo com VITÓRIO (2003), associando o esqueleto humano às estruturas, os músculos à alvenaria, a pele aos revestimentos e o sistema circulatório às instalações hidráulicas e elétricas. Estudos comprovam que a maioria das patologias são geradas por falhas na fase de projeto e concepção. No Brasil, a cultura da gambiarra é extremamente presente na construção civil e os contratantes de uma obra, privados ou públicos, costumam espremer o orçamento, procurando produtos de baixa qualidade, por exemplo, o que acarreta em adaptações na fase de execução, principalmente em projetos mais elaborados. As principais causas das patologias são mostradas na tabela abaixo, elaborado pelo mesmo autor:
ETAPA | % |
PROJETO | 40 |
EXECUÇÃO | 28 |
MATERIAIS | 18 |
USO | 10 |
PLANEJAMENTO | 4 |
Tabela 2: Quadro de porcentagem das causas de patologias construtivas (VITÓRIO, 2003).
Na figura 12, nota-se como, mesmo fora do Brasil, as principais causas de patologias construtivas são as mesmas e com o mesmo impacto individual.
Figura 12: Gráfico de causas de patologias, segundo estudos europeus (CONSTRUFACIL).
2.2 Tipos de Patologias
As edificações estão sujeitas a perda de desempenho durante sua vida útil de projeto (VUP), tal processo pode avançar de forma natural ou ser acelerado por diversas razões externas de origem em qualquer uma das etapas do processo construtivo, dentre as mais variadas formas de manifestações patológicas (CREMONINI, 1988).
Para haver entendimento de fenômenos patológicos que ocorrem em uma edificação, normalmente se busca a origem do problema exposto, uma relação de causa e efeito que possa ter gerado tal manifestação. Os problemas patológicos normalmente têm origem em algum erro ou falha cometida em ao menos uma das fases do projeto, as fases onde podem acontecer as causas que têm como efeito possíveis defeitos futuros, são: planejamento, projeto, fabricação das matérias primas, execução e uso, porém, das etapas previamente listadas, algumas são mais contundentes quando se aborda o surgimento de patologias, podendo ressaltar as fases de execução, controle de materiais e uso (HELENE, 2003). De acordo com GNIPPER e MIKALDO JR (2007), podem-se citar como principais agentes causadores de patologias de origem endógena na construção civil, ou seja, originadas por fatores inerentes à própria edificação, falhas decorrentes de projetos 36% a 49%, falhas de execução 19% a 30%, falhas de componentes 11% a 25% e de utilização 9% a 11%.
2.2.1 Fissuração
A fissuração dos elementos que compõem a edificação é um dos tipos de problemas patológicos mais comuns e que mais chamam a atenção dos usuários pelo impacto visual e psicológico. Alguns fatores geradores de fissuração conhecidos, como a retração, variação de temperatura e a agressividade do meio ambiente juntamente com o sentido e ângulo em que a falha se apresenta na superfície da edificação, apontam o tipo de sobrecarga de tração ou compressão da estrutura, auxiliando no entendimento de causa e efeito destas manifestações patológicas (VITÓRIO, 2003).
Ainda de acordo com este autor, o grau de fissuração de uma estrutura divide-se da seguinte forma:
– Como demonstrado na figura 13, uma fissura é uma abertura em forma de linha que aparece nas superfícies de qualquer material sólido, originada a partir da ruptura sutil de parte de sua massa, onde apresenta espessura máxima de até 0,5 mm.
Figura 13: Exemplo de fissuras em piso (SANTOS, 2013).
– Já as trincas são aberturas em forma de linha que aparecem na superfície de qualquer material sólido, proveniente de evidente ruptura de parte de sua massa, como demonstrado na figura 14, e suas espessuras máximas variam de 0,5 mm a 1,00 mm.
Figura 14: Exemplo de trinca em pilar (PRÓPRIA).
– Rachadura é uma abertura expressiva que aparece na superfície de qualquer material sólido, originada a partir de uma acentuada ruptura de sua massa, podendo-se “ver” através dela e cuja espessura varia de 1,00 mm até 1,5 mm. Na figura 15 pode-se observar o quão visível é uma rachadura.
Figura 15: Exemplo de rachadura em estruturas (SANTOS, 2013).
– Por fim, a fenda é uma abertura expressiva que também aparece na superfície de qualquer material sólido, proveniente de acentuada ruptura de sua massa, com espessura superior a 1,5 mm. Na figura 16 pode-se observar um exemplo crítico de uma fenda que levou ao colapso do solo em uma rua.
Figura 16: Exemplo de fenda em pavimento (SANTOS, 2013).
SANTOS (2013) complementa esses conceitos, explanando que as fissuras são, de forma geral, superficiais e não implicam necessariamente em diminuição da segurança de componentes estruturais, ou seja, não representam um perigo direto à estrutura. Já as trincas, por representarem a ruptura dos elementos, podem diminuir a segurança de componentes estruturais de um edifício, de modo que mesmo que seja muito pequena e quase imperceptível deve ter a causa ou as causas minuciosamente pesquisadas. As rachaduras, por proporcionarem a manifestação de diversos tipos de interferências, devem ser analisadas caso a caso e serem tratadas antes do seu fechamento e as fendas, por terem causas geralmente não visíveis (como solapamento do subsolo) podem ficar incubando por longo período e manifestar-se de forma instantânea, causando acidentes graves.
Tais aberturas também podem ser divididas em ativas ou passivas, de forma que as fissuras ativas são causadas por ações dinâmicas e de variação térmica, provocando deformações variáveis no concreto. Já as passivas, atingem um nível máximo de atuação, ou seja, em determinado momento, as ações que geraram as anomalias na construção cessam.
VITÓRIO (2003) afirma que os problemas existentes em uma estrutura avariada podem ser vários e muitos complexos. Existem defeitos localizados e de pouca importância que não afetam o resto da estrutura e que podem ser identificados imediatamente, sem depender de maiores estudos e de ensaios de laboratório. Outros defeitos, porém, são de tal ordem que necessitam de um conhecimento global da obra, envolvendo ainda todo o histórico da estrutura, a análise do projeto e todas as informações que possam identificar as causas que motivaram a sua patologia. O estudo dos sintomas apresentados pela estrutura implica na análise das causas que produziram os defeitos ou lesões existentes. Nesse sentido a localização e o tipo de fissuras são da maior importância nessa análise, bastando muitas vezes a observação do quadro de fissuração para se chegar às conclusões que permitam diagnosticar os problemas existentes.
2.2.2 Umidade
O aparecimento frequente de problemas ocasionados por umidade é decorrente de características construtivas adotadas pela arquitetura moderna, assim como os novos materiais e sistemas construtivos empregados nas últimas décadas. Com o uso do concreto armado, as paredes passam a ter como função principal a de vedação e deixam de serem importantes, resultando assim em paredes mais esbeltas. Há também a utilização de pré- fabricados e de novos materiais que trouxeram consigo as juntas. Esse conjunto de materiais de diferentes tipos nas fachadas e coberturas apresenta o problema de desgaste diferencial, pois cada um tem uma durabilidade específica e deste modo o envelope externo fica vulnerável. (PEREZ, 1988).
A origem das patologias oriundas da umidade na construção civil, de acordo com DE SOUZA (2008), são decorrentes da penetração de água ou devido à formação de manchas de umidade. Esses defeitos geram problemas bastante graves e de difíceis soluções, tais como:
– Prejuízos de caráter funcional da edificação;
– Desconforto dos usuários e, em casos extremos, os mesmos podem alterar a saúde dos moradores;
– Danos em equipamentos e bens presentes nos interiores das edificações;
– Diversos prejuízos financeiros.
Ainda segundo o autor, a situações patológicas causadas por umidade podem se manifestar em diversos elementos, como paredes, pisos, concreto armado, dentre outros.
Segundo VERÇOZA (1991) a umidade não é apenas uma causa de patologias, ela age, também, como um meio necessário para que grande parte das patologias em construções ocorra. Ela é fator essencial para o aparecimento de eflorescências, ferrugens, mofo, bolores, perda de pinturas, de rebocos e até a causa de acidentes estruturais, como pode-se observar através das figuras 17, 18 e 19.
Figura 17: Exemplo de perda de camada de tinta causada por umidade (FÓRUM DA CONTRUÇÃO).
Figura 18: Exemplo de patologias causadas por infiltração de água devido a falha na impermeabilização (BLOG REFORMAR, 2011).
Figura 19: Exemplo de bolor gerado por umidade (FÓRUM DA CONSTRUÇÃO).
Além de ser uma cidade litorânea, o que contribui para constante elevada umidade relativa do ar, média anual de 78,2%, Aracaju possui períodos de chuvas intensas, geralmente entre os meses de Abril e Junho. É justamente nesse período que a maior parte das patologias geradas pela umidade são identificadas na cidade.
Dito isto, Perez (1988) ressalta que é importante conhecer o micro clima no qual a edificação está inserida. Devido ao modo e à intensidade que a chuva atua em cada uma das fachadas, estas devem ser projetadas de modo diferentes, sendo as mais afetadas pela ação da chuva com maior estanqueidade.
2.2.3 Corrosão
A corrosão é a deterioração de um material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente aliada ou não a esforços mecânicos. Como consequência da interação entre o material e o meio originam-se alterações prejudiciais indesejáveis que tornam o material inadequado para o uso (GENTIL, 2003).
A interação destrutiva de um material com o ambiente, seja por reação química, ou eletroquímica é conhecida como corrosão. O concreto armado é composto de concreto e barras de aço, combinando suas altas resistências à compressão (concreto) e à tração (aço), fazendo dessa uma estrutura extremamente confiável e resistente. Porém as armaduras de aço do concreto armado passam por dois processos de corrosão: a oxidação e a corrosão propriamente dita.
No caso da corrosão, ocorre a transformação do aço por interação química ou eletroquímica, num determinado meio de exposição, liberando energia e formando produtos de corrosão e normalmente está associada à exposição da armadura num meio no qual existe a presença de moléculas de água, juntamente com o gás oxigênio ou íons de hidrogênio, num meio condutor. Já a oxidação representa a perda de elétrons do elemento, um ataque provocado por uma reação gás-metal, com formação de uma película de óxido. Este caso é extremamente lento à temperatura ambiente e não provoca deterioração substancial das superfícies metálicas, exceto na presença de gases extremamente agressivos na atmosfera. BARBOSA et al. (2012), considera que o fenômeno da corrosão das armaduras é mais frequente do que qualquer outro fenômeno de deterioração das estruturas de concreto armado, comprometendo-as tanto do ponto de vista estético, quanto do ponto de vista da segurança.
A deterioração de inúmeras obras devido à corrosão da armadura é, um dos principais problemas associados à durabilidade do concreto e, tanto a gravidade do problema, como a frequência de ocorrência de corrosão da armadura, evidenciam a necessidade de buscar soluções que contribuam para minimizar a incidência e evolução do processo corrosivo nas estruturas de concreto (VIEIRA, 2003).
Na figura 20 é possível perceber como a corrosão danifica uma estrutura em concreto armado. Geralmente, a ação no aço parte do nível zero da edificação e vai se espalhando ao longo do pilar, corroendo as barras de aço e impregnando-se, também, no concreto. Em ambientes que recebem tubulação de esgoto e água a ocorrência dessas patologias é ainda maior, devido à umidade e possíveis vazamentos. Em alguns casos a corrosão ocorre apenas nas armaduras, já em casos mais avançados, também podem atacar o concreto.
Figura 20: Exemplo de pilar danificado por corrosão (BLOG DA KADOSHI, 2012).
Pode-se considerar os principais tipos de corrosão listados a seguir:
a) Por carbonatação
Esse tipo de corrosão é originado através da penetração do gás carbônico (CO2) no concreto, onde acontece a diluição do gás com a umidade presente, formando o ácido carbônico (H2CO3). Em seguida, o ácido reage com alguns componentes do cimento, entre eles o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), formando o carbonato de cálcio (CaCo3). Apesar de não deteriorar o concreto, o carbonato reduz o pH do material, que normalmente varia de 12,6 a 13,5, e na presença do carbonato cai para 8,5. Devido a isso, a estrutura fica vulnerável e ocorre a despassivação da armadura, como representado na figura 21. São vários os danos causados, como fissuração, destacamento do cobrimento do aço, redução da seção da armadura e perda de aderência desta com o concreto.
Figura 21: Esquema do avanço da carbonatação em estrutura de concreto armado (TULA, 2000).
b) Por ação de cloretos
Forte presença em cidades costeiras, onde existe forte atmosfera salina e maresia. Os sais presente na água ou no vento atuam nas armaduras, despassivando as mesmas, penetrando, em seguida, no concreto, gerando fissuras e eflorescências, ou até mesmo estalactites, como mostrado na figura 22.
Figura 22: Exemplo de forte eflorescência gerada pela ação de íons de cloreto em edificações, com presença, inclusive, de estalactites (PRÓPRIA).
c) Uniforme
De forma resumida, toda a extensão da armadura é contaminada quando exposta ao meio corrosivo, de forma que não apresenta graves danos à estrutura quando comparada a outros tipos de corrosão, apesar de gerar perda de massa da armadura, como mostrado na figura 23.
Figura 23: Exemplo de corrosão uniforme (GENTIL, 2003).
d) Localizada
Também conhecida como corrosão por pite, a corrosão localizada ocorre em pontos específicos da estrutura, como pode-se observar na figura 24, gerando uma cavidade de tamanho considerável em relação ao comprimento e diâmetro da peça. Pode ser considera o pior tipo de corrosão, haja vista que tal cavidade se propaga de forma acelerada e deteriora as características mecânicas da armadura.
Figura 24: Exemplo de corrosão localizada (DAMIÃO, 2016).
2.3 Conceito de Manutenção
Por definição, é um conjunto de ações que colaboram para o bom e correto funcionamento de algo, como um edifício. Também está relacionado à conservação periódica, ou seja, a realização de serviços de reparo e prevenção, com o intuito de preservar uma estrutura, como monumentos públicos. A manutenção deve fazer parte da rotina de qualquer construção, inclusive já finalizadas.
A NBR 5674/99 já estabelecia requisitos para o sistema de manutenção de edificações compatíveis com as recomendações atuais da Norma de Desempenho. A norma defende que, para o sistema de manutenções, deve-se levar em consideração as características gerais das edificações, como o tipo de uso, implicações no entorno, complexidade funcional, por exemplo.
A NBR 5674 (1999) diz:
O sistema de manutenção deve ser orientado por um conjunto de diretrizes que definam: a) padrões de operação que assegurem a preservação do desempenho e do valor das edificações ao longo do tempo;
b) fluxo de informações entre os diversos intervenientes do sistema, incluindo instrumentos para comunicação com o proprietário e os usuários; e
c) atribuições, responsabilidades e autonomia de decisão dos intervenientes (NBR 5674, 1999, p 3).
Ainda segundo a norma, deve-se definir padrões de operação, tais como prazo aceitável entre observação da falha e conclusão do serviço de manutenção e periodicidade de inspeções, de forma que a empresa ou pessoa responsável pelos serviços seja capaz de fornecer estrutura material e financeira a fim de garantir que os serviços previstos e não previstos sejam executados.
Em suma, tais diretrizes servem para que, após os serviços executados, o sistema promova a realização coordenada dos diferentes tipos de manutenção, de forma que venha a minimizar a ocorrência de serviços de grande porte, substituindo a manutenção corretiva pela preventiva, reduzindo, também, custos com tais serviços.
2.4 Concepção de Projeto e Qualidade da Construção Civil
Franco (1992) define o projeto como:
A fase de concepção, na qual se incluem os estudos preliminares, anteprojeto e projeto, exerce papel determinante na qualidade, tanto do produto como do processo construtivo. Assim, um grande avanço na obtenção de melhor qualidade da construção por ser alcançado a partir da melhoria da qualidade dos projetos. Além disso, muitas medidas de racionalização e praticamente todas as medidas de controle da qualidade dependem de uma clara especificação na sua fase de concepção, isto é, não é possível controlar uma atividade ou produto, se suas características não se encontram perfeitamente definidas (FRANCO, 1992, p 116).
Na busca por soluções para a qualidade na construção civil adota-se, em vários casos, a implantação de Sistemas de Gestão de Qualidade. Entretanto, essa máxima ainda não possui unanimidade no que tange qual metodologia que deve ser empregada, ou ainda, qual o sistema da qualidade que deverá ser implantado, sendo que, em alguns casos, ainda é colocado em questão a sua eficácia (SANTOS, 2003).
No setor da construção civil a influência das mudanças decorrentes das preferências dos clientes pode ser verificada através da mudança de concepção de empresas construtoras, uma vez que se busca oferecer produtos com valores acessíveis, que proporcionem uma solução de vida aos clientes, e sobretudo, melhore a qualidade de vida. Para atingir tal meta, as empresas do setor são condicionadas à redução de seus lucros (HUNEMEIER, 2014).
Através da melhoria na gestão da produção, empresas buscam ampliar sua capacidade produtiva, tornando a empresa mais competitiva frente ao mercado consumidor. Dessa forma, a redução de custos diretos e indiretos, torna-se ferramenta fundamental para a produção de produtos com valores acessíveis, mantendo a qualidade (CARDOSO, 1998).
3 METODOLOGIA
Este trabalho tem seu desenvolvimento baseado em uma revisão bibliográfica geral sobre as patologias mais comuns e suas causas, analisando-se as situações a solução dos problemas patológicos encontrados e mostrar as técnicas de recuperação e reforço estrutural possíveis para os casos específicos dos monumentos públicos de Aracaju.
O levantamento de dados e informações se dá por meio de pesquisa eletrônica via internet, livros dos autores mais reconhecidos no ramo da Engenharia Civil, especificamente na área do estudo de patologias, bem como em dissertações, publicações de revistas e boletins técnicos, além da obtenção de fotos “in loco” das patologias presentes nos monumentos da cidade.
Durante o mês de Julho e Agosto de 2016 foram feitos registros fotográficos no centro da cidade, onde foram encontrados vários monumentos com sintomas patológicos graves. A partir daí, foi traçado um histórico da capital sergipana, estudando-se sua origem e a origem dos seus monumentos para melhor compreensão da importância dos mesmos.
Feito isso, foi realizada um estudo geral sobre patologias para então ser possível a análise das causas das patologias existentes nos monumentos da cidade. A partir daí, com base nas normas NBR 5674, 5738, 6118, 6892, 7584, 15575, as soluções para tais problemas puderam ser analisadas e propostas.
Por fim, após determinar as causas e as soluções para a recuperação dos monumentos aracajuanos, foi traçada uma relação do que deve ser feito a partir de então, com sugestões para o bom uso e manutenção desses bens culturais e históricos.
3.1 Roteiro de Ensaios
3.1.1 Ensaio de resistência à tensão do aço
De acordo com a NBR 6892, um corpo de prova é submetido a um esforço que tende a alongá-lo até à ruptura. Geralmente, o ensaio é realizado num corpo de prova de formas e dimensões padronizadas, para que os resultados obtidos possam ser comparados ou, se necessário, reproduzidos. O material é fixado numa máquina de ensaios que aplica esforços crescentes na sua direção axial, sendo medidas as deformações correspondentes. Os esforços são mensurados na própria máquina, e, normalmente, o ensaio ocorre até a ruptura do material (ensaio destrutivo). Com isso, pode-se afirmar que praticamente as deformações promovidas no material são uniformemente distribuídas em toda a sua extensão, pelo menos até ser atingida uma carga máxima próxima do final do ensaio e, como é possível fazer com que a carga cresça numa velocidade razoavelmente lenta durante todo o teste, o ensaio de tração permite medir, satisfatoriamente, a resistência do material. A ruptura sempre se dá na região mais estreita do material, a menos que um defeito interno no material, fora dessa região, promova a ruptura do mesmo, o que raramente acontece. Com os dados do ensaio, pode-se comparar o resultado da amostra com a resistência de projeto.
Figura 25: Aparelho usado para conduzir ensaios de tensão por tração (WIKIPEDIA).
3.1.2 Ensaio de resistência à compressão do concreto
O teste de resistência do concreto é feito pelo método do ensaio de compressão axial, seguindo as recomendações das normas NBR 5738 e NBR 5739. O ensaio de compressão é feito em corpo de prova cilíndrico que deve ser posicionado de modo que, quando estiver centrado, seu eixo coincida com o da máquina de ensaio, de modo que a resultante das forças passe pelo centro. Além da carga de ruptura, interessa saber o tipo de ruptura. A força exercida é dividida pela área de topo da amostra em cm², de onde obtém-se a relação de kgf (exercido pela máquina) por cm², que, para chegar ao valor em MPa, basta dividir este valor por 10.
Figura 26: Máquina compressora e corpo de prova (MARTINS, 2007).
3.1.3 Ensaio esclerométrico do concreto
Consiste em uma técnica de caráter não destrutivo que permite obter “in situ”, com uma correlação adequada, uma estimativa da resistência à compressão, onde os valores obtidos são representativos de uma camada de até 50mm de profundidade. De acordo com a NBR 7584, que rege o método para avaliação da dureza superficial do concreto endurecido, a superfície a ser avaliada deve ser seca ao ar, estar limpa e ser, preferencialmente, plana, haja vista que superfícies irregulares, ásperas, curvas ou talhadas não fornecem resultados homogêneos.
– Esclerômetro
Segundo a Norma, é um aparelho massa-martelo que, impulsionado por mola, se choca através de uma haste, com ponta em forma de calota esférica, com a área de ensaio. A energia do impacto é utilizada, em parte, na deformação permanente da área de ensaio e a outra parte conservada elasticamente, propiciando, ao fim do impacto, o retorno do martelo.
Figura 27: Sequência de ação do esclerômetro (MEHTA & MONTEIRO, 2008).
– Área de ensaio:
– As áreas de ensaio devem se encontrar livres de toda poeira e pó, os quais devem ser removidos a seco;
– A área deve estar localizada nas faces verticais de elementos componentes e peças de concreto, como pilares, paredes, etc;
– A área de ensaio deve estar convenientemente afastada das regiões afetadas por segregação e concetração excessiva de armadura, por exemplo, evitando-se assim bases e topos de pilares e regiões inferiores de vigas.
– A área deve estar no mínimo 50mm dos cantos e arestas;
– A área deve estar compreendida entre 8000mm e 40000mm;
– As áreas devem estar distribuídas geométrica e uniformemente pela região da estrutura a ser analisada;
– Peças com grandes volumes de concreto devem ser avaliadas com no mínimo duas áreas de ensaio, localizadas em faces opostas.
– Impactos:
– Em cada área de ensaio devem ser efetuados no mínimo nove e no máximo dezesseis impactos;
– Os impactos devem estar uniformemente distribuídos na área de ensaio. É recomendável desenhar em reticulado e aplica-se o esclerômetro nas áreas limitadas por ele, identificando a área ensaiada;
– A distância mínima entre os centros de 2 pontos de impactos deve ser de 30mm;
– Deve-se evitar impactos sobre agregados, armadura, etc;
– É proibido mais de um impacto sobre um mesmo ponto. Caso isso ocorra, deve-se desconsiderar o segundo valor lido.
Figura 28: Esquema geométrico da área de ensaio e pontos de impacto (NBR 7584).
Após realizados os impactos, deve-se analisar os resultados dos mesmos, onde se calcula a média artimética do número de golpes (9 a 16) correspondentes a cada área ensaiada, como determina a NBR 7584:
– Deve-se desprezar todo índice esclerométrico individual que esteja afastado em mais de 10% do valor médio obtido e calcular a média aritmética;
– O índice esclerométrico médio final deve ser obtido com no mínimo 5 valores individuais. Quando isso não for possível o ensaio esclerométrico dessa área deve ser abandonado;
– Nenhum dos índices esclerométricos individuais restantes devem diferir em mais do que 10% da média final. Se isso ocorrer, o ensaio dessa área deve ser abandonado;
– Corrigir se necessário o valor médio do índice esclerométrico obtido de uma área de ensaio para um índice correspondente à posição horizontal. Os coeficientes de correção devem ser fornecidos pelo fabricante do esclerômetro.
– O valor obtido denomina-se índice esclerométrico médio da área de ensaio e deve ser indicado por IE.
Através desse índice, pode-se determinar o nível de dureza da estrutura e então é possível decidir pela recuperação ou demolição e reconstrução da mesma.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 A Ausência da Cultura de Manutenção em Aracaju
A capital de Sergipe apresenta desafios para a construção civil devido ao fato de ser uma cidade baixa, ao nível do mar, com grande número de manguezais e alta umidade. Apesar de as empreiteiras e os governos que passaram terem superado a maioria desses desafios, um importante conceito ficou abandonado para os projetos da cidade: a manutenção.
Como já citado anteriormente neste trabalho, a falta de manutenção é a segunda maior causadora de patologias em estruturas. Embora os custos de prevenção sejam menores que os de recuperação estrutural, a prática da manutenção não é comum em boa parte dos empreendimentos da cidade, inclusive privados, que acabam por sofrer um desgaste natural, onde a recuperação será necessária sempre que uma patologia afetar o desempenho estrutural ou de serviço.
Com base nisso, foram selecionados três monumentos para serem analisados e soluções de manutenção corretiva para os mesmos propostas, além de uma metodologia para manutenção preventiva. Os monumentos em questão foram o prédio do Arquivo Público, Coreto da Praça Fausto Cardoso e Arcos da antiga Cascatinha.
4.2 Casos Abordados
4.2.1 Antiga Cascatinha
A Cascatinha era, inicialmente, uma gruta artificial localizada no Parque Teófilo Dantas. Após seu fim, era um ponto de recreação na Praça Olímpio Campos, por onde estudantes e inteiras famílias costumavam passear e usar o local para recreação.
Como se pode ver nas figuras 29, 30 e 31, o atual estado de conservação do monumento é catastrófico. As armaduras encontram-se expostas e completamente oxidadas enquanto o concreto também sofre oxidação e o reboco se desfaz por completo.
Figura 29: Antigo arco da Cascatinha na Praça Olímpio Campos (PRÓPRIA).
Figura 30: Vista de um dos pilares da estrutura (PRÓPRIA).
Figura 31: Vistas de uma das vigas da estrutura (PRÓPRIA).
Caso a prefeitura opte pela restauração deste monumento, primeiramente devese retirar amostras das barras de aço e ser realizado um ensaio de tração. Já no concreto, deve-se rretirar um corpo de prova para que seja realizado um ensaio de compressão e também realizar um ensaio esclerométrico.
4.2.1.1 tratamento
Como o monumento em questão encontra-se com sua armadura exposta, o recobrimento já não existe e o concreto também sofre ação corrosiva, é muito provável que as barras de aço estejam condenadas. Logo, a recuperação dessas já não é possível, recomenda-se então o reforço da estrutura com barras no diâmetro posterior ao do monumento, ou seja, se o aço utilizado origalmente foi de ϕ10.0 mm, deve-se utilizar uma barra de ϕ12.5 mm como reforço. Para isso, é necessário que seja feita a escarificação do concreto, utilizando-se um martelete eletromecânico de no máximo 10 kg e potência de 1.500W, de modo que todo o material ao redor da armadura corroída seja eliminado e os dedos da mão caibam por trás das armaduras, como demonstra a figura 32 abaixo.
Figura 32: Escarificação de área danificada por corrosão (GARCIA, 2014).
A escariicação deve se estender ao longo da altura do pilar e do comprimento da vida, de forma que não haja comprometimento de mais de 20% da estrutura, em casos de estruturas carregas. Geralmente, em pilares, a escarificação ocorre inicialmente ao longo do primeiro metro do pilar, podendo ser encerrada antes dessa altura caso não sejam identificados vestígios de corrosão, ou até mesmo ir além de um metro em casos onde as barras apresentem ferrugem acima dessa cota, mas, neste caso, devesse inicialmente tratar o primeiro metro para depois então continuar a escarificação do segundo metro e assim sucessivamente.
No caso da Cascatinha, após a escarificação, deve-se realizar o lixamento das barras já existentes, como demonstrado na figura 33, removendo os produtos de corrosão, principalmente onde há ações de íons cloreto. Essa limpeza é efetuada manualmente com escovas de aço ou mecanicamente com esmerilhadeiras com disco de aço acoplado ou escova de aço circular acoplada em furadeira, esta última representada pela figura 34.
Figura 33: Limpeza de armaduras por processo mecânico (CUNHA, 2010).
Figura 34: Escovas de aço utilizadas no processo de limpeza manual (CASA DA MÁQUINA).
Depois da limpeza, deve-se medir a perda de seção das barras e, caso seja superior a 15%, se faz necessária a complementação da armadura, o que, por obeservação “in situ”, seria o caso do monumento discutido neste tópico.
As barras devem ser substituídas de acordo com a NBR 6118, por traspasse ou solda.
Em seguida, deve-se proteger a armadura com primers anti-corrosivos específicos, à base de zinco, como o Armatec da marca Vedacit, que impede a corrosão até mesmo em atmosferas bastante agressivas e recobre as armaduras com um filme impermeável de grande aderência, devendo ser aplicado em duas demãos com intervalo de 03 horas entre cada. As figuras 35, 36 e 37 desmontram, passo-a-passo, a evolução desse procedimento.
Figura 35: Armadura oxidada antes do tratamento (PRÓPRIA).
Figura 36: Armadura após limpeza com escova de aço acoplada em esmerilhadeira (PRÓPRIA).
Figura 37: Armadura após aplicação de primer anticorrosivo (PRÓPRIA).
Após substituição e proteção da armadura, deve-se garantir que a estrutura esteja livre de todo e qualquer resquício de poeira e resíduos. A figura 38 mostra como proceder para que se garanta a completa limpeza da estrutura.
Para isso, faz-se uso de jato de água potável com alta pressão (≥ 2500 psi) sobre a superfície escarificada ou ar-comprimido ou até aspirador de pó, este representado pela figura 39.
Figura 38: Exemplo de limpeza do substrato com jato de água (GARCIA, 2014).
Figura 39: Exemplo de compressor de ar utilizado para limpeza do substrato (SOLUÇÕES INDUSTRIAIS).
Após a limpeza do substrato, a superfície deve ser preparada para receber a novo material, que pode ser graute ou argamassa cimentícia. Para tal, utilizase Compound Adesivo, adesivo estrutural bicomponente a base de epóxi que apresenta altas resistências em baixas idades e média fluidez, possibilitando grande facilidade para manuseio. Devem ser feitos furos de um diâmetropadrão acima do diâmetro da barra, próximos aos estribos, e espalhar um pouco do produto entre as barras, como se pode observar na figura 40.
Figura 40: Exemplo de pilar com aplicação de adesivo epóxi (PRÓPRIA).
Por proporcionar alto rendimento e excelente aderência a vários tipos de substratos, é indicado para colagem, mesmo entre si, de concreto, ferro, madeira, pedra, etc, além de oferecer ótima resistência a água, óleo, graxa e meio agressivo, podendo ser aplicado em superfícies úmidas, embora não encharcadas, apresentando resistência inicial em 24 horas e resistência máxima final 7 dias depois da aplicação.
Por fim, deve ser realizado o fechamento da estrutura com produção de formas em madeirite que encaixem na estrutura e isolem perfeitamente a área tratada.
Feito isso, deve-se encher a estrutura com argamassa cimentícia ou groute.
* Tratamento com Argamassa Cimentícia (Tixotrópica)
Durante este processo deve ser utilizada uma argamassa estrutural, que é um material bicomponente à base de cimento e polímeros acrílicos, o que a torna coesa, tixotrópica, de fácil moldagem e com elevada aderência. A figura 41 abaixo permite perceber a alta capacidade de modelagem desse material.
Figura 41: Argamassa estrutural tixotrópica (GARCIA, 2014).
Com o auxílio da figura 42, é possivel compreender melhor a etapa seguinte, que consiste na aplicação logo após o reparo das armaduras, em camadas sequenciais, cuja espessura máxima varia de acordo com as especificações de cada fabricante. A argamassa estrutural é aplicada na superfície seca e limpa, de forma que não haja absorção de água da argamassa por parte do concreto, nem excesso de água sobre a superfície do mesmo. Com o auxílio de luvas, deve-se posicionar e pressionar o material de forma a preencher a região do reparo, devendo-se respeitar o intervalo de duas horas até a aplicação da camada seguinte.A superfície deve estar entre camadas, irregular ou riscada para facilitar a aderência e reduzir os riscos de retração exagerada.
Figura 42: Aplicação da argamassa cimentícia (GARCIA, 2014).
O acabamento deve ser feito com desempenadeira de madeira, seguida de desempenadeira de aço e colher de pedreiro, como mostra a figura 43.
Figura 43: Uso de desempenadeira no acabamento da argamassa estrutural (GARCIA, 2014).
* Tratamento com Groute
Para o caso onde a profundidade média do reparo seja superior a 60 mm, devese colocar fôrmas para a execução do reparo com graute, material de consistência fluida, expansão controlada e que apresenta altas resistências iniciais e finais. As fôrmas devem acompanhar o formato das peças estruturais que estão sendo reparadas, providas de “cachimbo” de preenchimento e saída do ar, sendo sua face superior posicionada a, no mínimo, 10 centímetros acima do corte delimitador superior do reparo, como se pode observar através da figura 44.
Figura 44: Fôrma de preenchimento de graute (GARCIA, 2014).
Após o posicionamento e fixação das fôrmas, deve-se calafetar (selar) os contornos com espuma de poliuretano ou pasta de gesso, para promover a sua estanqueidade, e, sempre que possível, as fôrmas devem ser preenchidas na sua totalidade. A região do reparo deve ser preenchida de forma contínua e ininterrupta, onde qualquer interrupção eventual não deverá superar a marca de 10 minutos. Uma vez que o graute é um material auto-nivelante, não deve haver adensamento com o auxílio de vibradores, porém, por conveniência, pode-se utilizar um martelo de borracha para bater nas laterais das fôrmas, ajudando, assim, no preenchimento de seções densamente armadas. O preenchimento deve ser realizado até completar a fôrma, deixando extravasar pelo menos um litro do material para a remoção da camada mais alta do preenchimento, geralmente mais fraca devido ao ar incorporado (volume do “cachimbo”). O graute deverá ser lançado num prazo máximo de 20 minutos depois de sua mistura, e deve ainda apresentar fluidez adequada ao seu emprego.
A figura 45 mostra o final desse processo, onde decorridas, pelo menos, 24 horas do preenchimento do reparo com graute, deve-se fazer a retirada das fôrmas e, caso sejam observadas pequenas falhas de preenchimento, faz-se o seu complemento pelo emprego de argamassa polimérica de base cimento.
Figura 45: Resultado final após cura do graute (PRÓPRIA).
Feito isso, recomenda-se a fixação de um material retentor de umidade na região do reparo, podendo estes serem mantas ou panos molhados, umedecendo-o periodicamente com água potável por 7 dias, como demonstrado nas figuras 46, 47 e 48. Além disso, evitar que a superfície recém reparada fique diretamente exposta ao sol e ventos fortes.
Figura 46: Aplicação de jato de água para umedecer superfície reparada (GARCIA, 2014).
Figura 47: Aplicação de pano molhado na área tratada (PRÓPRIA).
Figura 48: Manta úmida aplicada em região reparada (GARCIA, 2014).
Por fim, após os 7 dias, deve-se verificar a presença de trincas e de sons cavos que indiquem mal preenchimento da região reparada, por percussão de “martelo de geólogo”. Caso haja fissuração, nas bordas ou no corpo, deve-se refazer o serviço ou preencher as fissuras com adesivo epóxi.
4.2.2 – Prédio do Arquivo Público
Situado na Rua Propriá, o prédio, contruído na década de 30, que um dia já foi da Biblioteca Pública de Aracaju e hoje abriga o Arquivo Público do estado, encontra-se com a fachada bastante danificada, com presença de fungos, fissuras e trincas. As figuras 49 e 50 mostram claramente essa situação.
Figura 49: Fachada do Palácio Carvalho Neto, atual prédio do Arquivo Público do Estado de Sergipe (PRÓPRIA).
Figura 50: Presença de trincas na fachada do Palácio (PRÓPRIA).
4.2.2. tratamento
Para este caso, foram utilizados, como exemplo de recuperação, os serviços realizados na fachada de um edifício residencial na cidade de Aracaju, para melhor ilustrar os procedimentos a serem adotadas na recuperação da fachada do edifício do Arquivo Público de Sergipe.
No que se diz respeito aos fungos presentes na fachada, que dão o visual enegrecido, o tratamento se dá pela lavagem da fachada, com utilização de cloro e jato de água. Primeiramente deve-se raspar as superfícies que se fizerem necessárias, utilizando escova de aço, espátula ou lixa. As figuras 51 e 52 representam as etapas consequintes, onde lava-se as superfícies com solução de cloro, inibidora do mofo, diluído em 1:1 de volume de água, passando esta solução em todas as superfícies com a utilização de rolos, trinchas e escovas para então, enfim, lavar as superfícies com bomba hidrojato com 1200 lbs de pressão, removendo todas as partículas (reboco, tinta) que não estiverem bem fixadas, bem como a remoção do mofo e da sujeira. Através das figuras 53 e 54 pode-se observar o ganho visual imediato que uma estrutura adquire após o processo de lavagem, recuperando o seu valor e a sua beleza.
Figura 51: Aplicação de cloro, que auxilia a remoção de mofo em fachada (PRÓPRIA).
Figura 52: Aplicação de jato de água para remoção de mofo em fachada (MIRANDA PINTURAS).
Figura 53: Fachada antes da lavagem (PRÓPRIA).
Figura 54: Fachada após lavagem (PRÓPRIA).
Uma vez concluído o processo de lavagem das fachadas, o próximo passo é o tratamento de trincas. Utilizando-se uma ferramenta especial (Abretrinca), como mostra a figura 55, ou com auxílio de disco de corte acoplado em emerilhadeira, representado pela figura 56, realiza-se a abertura das trincas, com 10 mm de largura e 8 mm de profundidade, resultando num perfil em forma de V. Tal abertura pode ser observada na figura 57, onde a trinca encontra-se completamente aberta. Em seguida, escova-se a área, removendo-se todo o pó e, em seguida, deve-se preencher a abertura, com o auxílio de uma espátula, com mastique de elasticidade permanente, como mostra a figura 58. Esse material possibilita à estrutura acompanhar a movimentação natural das trincas, suporta grandes dilatações, possui excelente aderência, grande poder de enchimento e não resseca.
Figura 55: Utilização da ferramenta Abretrinca (CECORIENTA).
Figura 56: Abertura de trincas com disco de corte (J’PRADO OBRAS).
Figura 57: Trinca aberta em form de V (J’PRADO OBRAS).
Figura 58: Aplicação da massa elastômera para vedação de trinca (CECORIENTA).
Ao final do tratamento das trincas, nivela-se as partes restauradas com massa acrílica, bem como os cantos quebrados e, em seguida, aplica-se de uma demão de fundo preparador de paredes, material incolor à base de resinas acrílicas e solventes, insaponificável e penetrante, com função de uniformizar a absorção, aglutinar as partículas soltas, selar e aumentar a coesão de superfícies porosas e pinturas calcinadas, nas partes em que se fizerem necessárias. Por fim, sugere-se que seja feita a aplicação de duas demãos de tinta acrílica fosco, tinta impermeável, lavável, que forma um filme elástico, dando maior flexibilidade à dilatação de variações térmicas e consequentemente maiores durabilidade à pintura.
4.2.3 Coretos
Os coretos espalhados pelo centro de Aracaju costumavam receber espetáculos de bandas e artistas locais, bem como servia para que figuras importantes se dirigissem à população em discursos, mas que, ao longo dos anos, foram esquecidos pela população e pela prefeitura.
Figura 59: Coreto na Praça Olímpio Campos, com forte presença de mofo e fungos (PRÓPRIA).
Figura 60: Desplacamento de roboco (PRÓPRIA).
Figura 61: Outro exemplo de desplacamento de reboco no Coreto (PRÓPRIA).
4.2.3.1 tratamento
Como demonstrado pelas figuras acima, esse coreto demonstra presença de mofo em sua estrutura e intensa perda de roboco ao longo da mesma. O serviço de recuperação deste monumento deve ser iniciado pela lavagem do mesmo, como já detalhado no item 4.2.2., utilizando-se cloro e jato de água para remoção efetiva do mofo e da sujeira.
A etapa seguinte consiste na recuperação do reboco, que é iniciada pela remoção da camada danificada desse material, podendo ser realizada com o auxílio de um martelete mecânico ou uma talhadeira (processo manual). Uma vez retirada a camada comprometida, deve-se realizar a recomposição com reboco. Em geral, a alvenaria recebe três camadas de acabamento: chapisco, emboço e reboco, representados pelas figuras 62, 63 e 64 respectivamente. O chapisco facilita a ancoragem do emboço, devido a isso, a argamassa deve ter alta resistência mecânica. Com espessura entre 3 mm e 5 mm, o chapisco cobre a superfície com uma camada de argamassa fina, que torna a base áspera e aderente, uma vez que sua principal função é facilitar o revestimento posterior, garantindo maior aderência, graças a sua superfície porosa.
Figura 62: Aplicação de chapisco em parede alvenaria (PEDREIRÃO).
Já o emboço, com espessura entre 1,5 cm e 2 cm (interno) e de 3 a 4 cm (fachada), corrige pequenas irregularidades, melhorando o acabamento da alvenaria e protegendo-a de intempéries, sendo produzido com argamassa mista (à base de areia, cal e cimento).
Figura 63: Demonstração das camadas de chapisco, emboço e reboco (FAZFACIL).
O reboco, ou massa fina, tem cerca de 5 mm e é a camada final que torna a textura da parede mais fina para receber a pintura, podendo ser substituído pela aplicação de massa corrida. Para o reboco, deve-se usar argamassa de areia e cal com granulometria bem mais fina que a do emboço, que pode ser preparada na obra ou industrializada e sua aplicação é feita com desempenadeira em movimentos circulares.
Figura 64: Uso de desempenadeira para alinhamento do reboco na parede (PEDREIRÃO).
4.3 O Papel da Engenharia Civil na Sociedade
A Engenharia Civil moderna se preocupa com os problemas sociais e os valores inerentes à sociedade em termos de igualdade e solidariedade, requerendo para tal uma abordagem holística que deve ser apreendida e percebida nas Universidades e nos programas de formação profissional, devendo-se insistir que atualmente o modo de encontrar soluções para a resolução de um problema não se resume meramente à opinião de um especialista, mas que é necessário, perante os conflitos reais que existem na sociedade, um trabalho de equipe, de discussão, consenso e aproximação sucessiva.
Neste âmbito, entende-se que é papel da Engenharia estar em harmonia com todos os aspectos que a rodeiam. O engenheiro deve entender que também cabe a ele preservar o ambiente em que ele está inserido, seja uma rua, um bairro ou a cidade por inteiro. Haja vista que a Engenharia Civil está relacionada ao desenvolvimento econômico e, numa cidade em crescimento como Aracaju, se mostra indispensável para a melhoria da qualidade de vida e para os avanços sócio-econômicos.
Abaixo, na figura 65, pode-se perceber a diferença entre um coreto recém recuperado e a situação do coreto representado neste item. Visivelmente, com a recuperação e posterior manutenção, a praça fica mais valorizada e agradável para o uso familiar e para eventos públicos e particulares.
Figura 65: Coreto de Sepetiba, no Rio de Janeiro, construído em 1903, após recente recuperação (O GLOBO).
Com essa perspectiva em mente, o engenheiro civil moderno terá, então, de se preocupar com o funcional, o social e o estético, e também terá de encontrar soluções que sejam aceitáveis do ponto de vista político, econômico, social e ecológico. Para tal, para além dos conhecimentos científicos e tecnológicos necessita de ter dons visuais e emocionais e todos estes ingredientes só podem prosperar em mentes nas quais uma mudança de atitude possa transcender, por meio da consideração do bem-estar social do Homem e da Natureza.
Um grande exemplo a ser seguido pelo Brasil é a Europa. Monumentos como a Catedral de Milão, construída em 1386, o Coliseu de Roma, construído entre 68 e 79 D.C e o Orloj, relógio astronômico, situado em Praga, construído em 1410, encontram-se bem conservados, próximo de seu estado original. Por todo o continente europeu é visível a cultura de manutenção presente nas cidades, seja em edificações públicas ou privadas, o que demonstra o quanto os europeus entendem o que cada um de seus monumentos e antigas edificações representam para sua cultura e sua história, moldando a identidade cultural dos mais novos aos mais velhos, como demonstrado nas figuras 66, 67 e 68.
Figura 66: Catedral de Milão (WIKIPEDIA).
Figura 67: Coliseu de Roma (WIKIPEDIA).
Figura 68: Relógio Astronômico, Orloj, em Praga (BLOGSPOT).
Apenas alguns monumentos brasileiros recebem a atenção devida em respeito a suas manutenções, como por exemplo o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que, por ser um ponto turístico conhecido mundialmente, possui monitoramento constante. Em Aracaju, como já citado anteriormente, os monumentos que mais recebem atenção são a Ponte do Imperador e os Arcos da Orla de Atalaia, os quais, ainda assim, só recebe manutenção depois de sofrer bastante com as intempéries. Enquanto na Europa, independente do tamanho da cidade e da importância de cada monumento, a cultura de manutenção preventiva está presente não só nos profissionais da área, mas também na população em geral, que preserva e valoriza sua rica história, conciliando o progresso, a tecnologia e o crescimento econômico com seu passado.
Os engenheiros devem elaborar um manual de manutenção periódica para cada obra que esse foi responsável e cabe aos outros profissionais das empresas privada e órgãos públicos competentes seguir esse manual, com o auxílio da planilha de inspeção manual, a fim de manter o patrimônio sempre conservado, realizando cada vez mais manutenções preventivas e menos corretivas.
Para isto, é necessário um constante monitoramento dos monumentos, para que qualquer eventual manifestação patológica seja identificada e tratada, uma vez que com os avanços tecnológicos tal trabalho se torna ainda mais fácil com o auxílio de drones e câmeras térmicas, por exemplo. Para tal mudança de comportamento são listadas as seguintes sugestões:
a) Trabalhos de conscientização da população, dos profissionais de engenharia e dos governantes no que diz respeito à valorização da história e cultura local aliada à preservação e manutenção dos monumentos.
b) Desenvolvimento de um sistema de controle de qualidade rígido e atuante, que mapeie e monitore os monumentos públicos de Aracaju, com base na tabela de inspeção visual, proposta no capítulo anterior, tornando possível a constante manutenção desses.
c) Após reucperação dos monumentos, tentar recuperar suas antigas funções sociais, promovendo eventos e aumentando o incentivo ao turismo na região, melhorando a condição sócio-cultural da população, função esta que também deve ser difundidade na engenharia.
4.4 Metodologia para Manutenção Preventiva
Como já citado anteriormente, a Lei de evolução dos custos de Sitter mostra uma relação entre o custo de uma obra de recuperação e o tempo decorrido desde a sua construção até sua última intervenção. Como os monumentos já existem, não é possível fazer alterações no projeto ou durante execução, haja vista que estas etapas já foram concluídas. Restam então dois tipos de intervenção: preventiva e corretiva. Os gráficos abaixo permitem entender que é sempre preferível que se opte pelas manutenções preventivas, não só pela viabilidade econômica mas, também, pela preservação da estrutura. Uma vez que, com o tempo, as estruturas perdem sua vida útil, a presença de ações de reforço e recuperação preventivas garantem que tais monumentos sobrevivam por mais tempo quando comparados a situações onde as intervenções só seriam feitas após total depredação do mesmo, como demonstrado nos gráficos abaixo.
Figura 69: Gráfico da perda de desempenho em função do tempo decorrido, comparado ao desempenho exigido em projeto (PRÓPRIA).
Figura 70: Gráfico do custo de correção em função do tempo decorrido, sobreposto ao de perda de desempenho (PRÓPRIA).
Figura 71: Gráfico do desempenho com ações de manutenção preventiva em função do tempo decorrido (PRÓPRIA).
Com base nestes gráficos e em experiência com obras de recuperação estrutural, pode-se estimar um tempo de manutenção para cada tipo de patologia que possa se manifestar nos monumentos aracajuanos, levando em consideração a alta umidade da cidade, ações externas como depredação humana e animal, chuvas, maresia, etc e também fatores construtivos. Dito isto, a tabela 3 representa o tempo médio estimado para manutenção preventiva dos monumentos localizados em Aracaju, Sergipe. Vale ressaltar que, pela ausência de amostragens, tal metodologia é inédita, o que, no momento, não permite a elaboração de uma fórmula para que se estimem os intervalos de manutenção de forma mais precisa. Consequentemente, esta tabela é uma estimativa de tentativas e erros baseada em experiências anteriores da Cymaco Retrofit, empresa especializada em obras de recuperação estrutural, onde o autor desta monografia trabalha.
Tabela 3: Manual de monitoramento e manutenção preventiva para os monumentos de Aracaju (PRÓPRIA).
Como não é objetivo deste trabalho aprofundar-se no estudo e desenvolvimento de ensaios, como os citados na tabela 3, tais ensaios não foram detalhados, apenas citados como opção para o monitoramento de estruturas.
Para o monitoramento regular dos monumentos, desenvolveu-se uma planilha de inspeção visual, adaptada do checklist de inspeção de fachadas da Cymaco Retrofit, onde um técnico ou engenheiro capacitado poderá identificar as manifestações patológicas que venham a surgir nos monumentos.
5 CONCLUSÕES
Após analise do trabalho, conclui-se que é aguardada uma mudança cultural na engenharia, passando pelos processos de criação, edificação e manutenção, que deverão ter um olhar mais criterioso, desde a concepção, passando pela definição de projeto, elaboração de plano de qualidade do empreendimento e de um manual abrangente de operação, uso e manutenção da edificação, contendo as informações necessárias para orientar estas atividades, da forma mais detalhada possível, na espera de uma produção mais qualificada.
O desafio de lutar pela preservação do patrimônio cultural é grande, haja vista que boa parte da população não entende a importância desse e, inclusive, os profissionais da Engenharia Civil ainda não se atentam o suficiente para essa problemática. Por definição, o engenheiro é responsável por elaborar projetos, fazer cálculos, planejar, projetar e executar. A própria definição não inclui o verbo manter e pode-se entender que, desde o começo da formação profissional, o Engenheiro Civil é levado a não dar a devida atenção à manutenção preventiva e corretiva de obras já existentes, realizando a última apenas quando estritamente necessário.
A qualidade da construção civil tem recebido grande atenção e vem sendo debatida em congressos e outros eventos dentre as empresas e os profissionais da área, na intenção de encontrar uma forma de aperfeiçoar a gestão de qualidade de obras, desde o projeto de concepção até o pós-obra. Entretanto, os erros encontrados nas estruturas aqui analisadas não estão exclusivamente relacionados a falhas técnicas, mas também à falha de organização, gestão e planejamento.
Ressalta-se, novamente, que o manual de manutenção preventiva e a planilha de inspeção visual elaborados neste trabalho representam uma estimativa baseada em experiências com obras de recuperação estrutural ao longo do período de trabalho do autor na Cymaco Retrofit e da base de dados da empresa, representando um método de tentativas e erros. Para que se obtenham valores precisos em relação ao monitoramento e manutenção preventiva dos monumentos é necessário que se observe constantemente os monumentos em questão por um determinado período de tempo, a fim de se obter amostras e observar o tempo de recorrência de manifestações patológicas nesses, levando-se em consideração os fatores externos já citados como depredação humana, umidade, maresia, etc, para que se chegue a uma fórmula que determine a cada quantos anos, em média, deve-se intervir nos monumentos para realização de manutenções preventivas, otimizando, assim, os custos necessários para tal, valorizando a região, promovendo maior apelo turístico e, principalmente, preservando a identidade histórica e cultural de Aracaju.
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APÊNDICES
Apêndice A – Antiga estátua do Cacique, sem identificação e parcialmente destruída.
Apêndice B – Estátua sem identificação nos Arcos da Cascatinha, parcialmente destruída.
Apêndice C – Antigos Banheiros Públicos, agora abandonados.
Apêndice D – Monumento “Eu amo Aracaju”, localizado na Feira do Artesanato, na Orla de Aracaju.
Apêndice E – Um dos Cajus espalhados pela cidade, fruta que, junto às araras, dá origem ao nome da cidade.
Apêndice F – Centro de Arte e Cultura Joaquim Inácio.
Apêndice G – Arcos da Orla de Aracaju.
Apêndice H – Monumento “Ser Feliz Aracaju”.
Apêndice I – Evidências de falta de manutenção e depredação humana no monumento “Ser Feliz Aracaju”, a placa de identificação do mesmo foi roubada.
Apêndice J – Antigo Farol da Farolândia, na Praça Domingues Fontes, inaugurado em 1861, e restaurada em 2012.
Apêndice K – Catedral Metropolitana de Aracaju, construída em 1862.
Apêndice L – Palácio Olímpio Campos.
Apêndice M – Vista aérea do Oceanário de Aracaju, na Orla de Atalaia.
Apêndice N – Ponte Aracaju – Barra dos Coqueiros.