REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202511272022
Shayanne Kelly Soares Machado1
Felipe Anderson Silva de Aquino2
André Luis Rodrigues Mathias3
Ana Paula Mota Ferreira4
Taynah Cunha Bezerra5
RESUMO
As Obras de Arte Especiais, conhecidas como pontes e viadutos, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e crescimento socioeconômico de um país. A falta dessas estruturas viárias acarretam em problemas de mobilidade, modificando toda a vida urbana da região. Em sua maioria, essas obras estão expostas a diferentes tipos de impactos ambientais e carregamentos, exigindo cuidados específicos. O presente estudo de caso, trata-se de uma análise de manifestações patológicas em dois viadutos com alto fluxo de veículos, a partir de ensaios não destrutivos. Os viadutos estudados, foram os viadutos Alcione Nazaré e o da Cohama, localizados na cidade de São Luís – MA. Estes elevados foram escolhidos por serem importantes trechos de mobilidade urbana e por possuírem manifestações patológicas visíveis ao longo da sua estrutura. O estudo foi realizado em três etapas: (1) Registro fotográfico; (2) Realização de levantamento literário; (3) Realização de ensaios. Com isso, identificou-se nos viadutos, patologias como infiltrações, e apesar da degradação, foi apresentada boas resistências superficiais do concreto. Através dos resultados obtidos, foi feito um prognóstico e salientou-se que é de fundamental importância uma avaliação mais abrangente e profunda para a compreensão completa e definitiva de toda a condição estrutural desses dois viadutos. É importante destacar também que após a correção das anomalias, torna-se imprescindível a realização de manutenções, com o intuito de preservar e manter a vida útil dos mesmos.
Palavras-chave: Viadutos; manifestações patológicas; ensaios não destrutivos; condição estrutural; manutenções.
1. INTRODUÇÃO
A urbanização é frequentemente vista como um sinal de progresso em várias formas. Os viadutos são estruturas viárias que desempenham um papel fundamental ao facilitar o trânsito, sobrepondo-se às vias públicas.
O desenvolvimento urbano desprovido de estratégias e práticas de manutenção apropriadas pode acarretar consequências adversas, resultando na diminuição da longevidade e na redução da vida útil dessas estruturas, gerando também as manifestações patológicas nas mesmas.
De acordo com Rocha et al. (2017), as manifestações patológicas são resultantes de falhas no projeto, execução, gestão, uso inadequado e outros fatores, requerem investimentos significativos para diagnóstico e reparo. Embora algumas patologias possam ser identificadas visualmente, outras demandam investigações detalhadas e dispendiosas, causando incômodos para usuários e construtores. A construção civil atualmente dedica recursos substanciais para abordar esses problemas e garantir a durabilidade das estruturas.
SOUTO (2015), afirma que patologias no contexto da construção, trata-se de irregularidades e problemas que podem ser comparados a “doenças” em edificações. Essas questões são frequentemente identificadas em estruturas de edifícios, que estão em contato direto com as pessoas. Quando surgem sinais como fissuras, trincas ou outros sintomas, a preocupação com a segurança e estabilidade dessas edificações é imediata. No entanto, é importante destacar que as “Obras de Arte Especiais”, como pontes, viadutos e passarelas, deveriam receber uma atenção semelhante, uma vez que possuem um número substancialmente maior de usuários e são submetidas a cargas mais elevadas. Infelizmente, não é o que comumente acontece.
Portanto, o presente estudo engloba uma avaliação das principais manifestações patológicas que afetam as estruturas de obras de arte especiais, com foco em dois importantes viadutos rodoviários localizados na área urbana de São Luís/MA. Além disso, investiga-se as origens dessas patologias e suas implicações na durabilidade e integridade dos referidos viadutos.
2. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM ESTRUTURAS DE OBRAS DE ARTES
Obras de artes especiais são estilo de obras de construção civil como pontes, viadutos, túneis e passarelas, garantindo conexões entre pontos distintos. Segundo Araújo (2017), a manutenção em obras de arte especiais compreende intervenções voltadas para a conservação do patrimônio, com o propósito de assegurar e ampliar a integridade estrutural, funcional e a vida útil das obras, com a finalidade de prevenir o surgimento de manifestações patológicas, e mitigar aquelas que se desenvolvem ao longo da vida útil das estruturas. A negligência dessas ações de manutenção pode resultar em manifestações patológicas.
Devido à exposição a uma variedade de ambientes, os viadutos, mesmo sendo estruturas de grande porte, requerem manutenção constante em seus elementos. Toda e qualquer estrutura possui um período efetivo de vida útil, onde este deve atender requisitos do desempenho de projeto, com a finalidade de obter uma durabilidade eficaz da estrutura e seus elementos.
Bolina et al. (2019), explicam que o termo “patologia,” historicamente associado à medicina, também passou a ser utilizado na construção civil para estudar doenças e danos. A patologia das construções busca examinar sistematicamente falhas em materiais, componentes e edificações, visando diagnosticar origens, compreender mecanismos e identificar manifestações, como será conceituado nas próximas seções para viadutos.
2.1 TIPOS COMUNS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM VIADUTOS
A corrosão é um processo natural de degradação de materiais metálicos, sendo causado por ações de atrito quando este metal entra em contato com água ou substâncias corrosivas, como temperaturas, ácidos, umidade e reações eletroquímicas.
De acordo com Souza (2019), a corrosão do concreto é um processo que leva à sua deterioração, resultando em desintegração ou até mesmo desprendimento. Esse fenômeno ocorre principalmente em áreas onde o concreto está exposto à umidade, substâncias agressivas ou em locais com falhas durante sua execução. A corrosão do concreto armado engloba diferentes processos, tais como lixiviação, reação expansiva álcali-agregada, reação expansiva por sulfato e reação iônica.
Ferreira (2018), afirma que a fissura é um tipo de manifestação patológica que dá sensação de insegurança pela razão do seu aspecto antiestético, pelo fato de apresentar risco de acidente. Podem ter causas externas ou internas, e até associação duas ou mais fissuras de forma mapeada, podendo comprometer as propriedades físicas do edifício.
A NBR 15575-2 (ABNT, 2013), define fissuras como um corte ou seccionamento na superfície ou ao longo da seção transversal de um componente estrutural. Essa abertura é de natureza capilar e é causada por tensões normais ou tangenciais. E a NBR 9575 (ABNT, 2003), complementa que uma fissura é uma abertura que ocorre devido à ruptura de um material ou componente, e tem uma largura menor ou igual a 0,5 mm, é possível observar na tabela 1, o tamanho em mm das aberturas e as classificações de acordo com essas medidas.
Tabela 1 – Classificação das fissuras, trincas, rachaduras, fendas e brechas

Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2012).
Oliveira (2012), explica que as fissuras em estruturas podem resultar de várias causas, incluindo movimentação térmica, que ocorre devido a variações de temperatura; movimentação higroscópica, provocada pela absorção de umidade; sobrecargas excessivas que excedem a capacidade da estrutura; deformações excessivas da própria estrutura; recalque de fundações que leva a deslocamentos; e alterações químicas que afetam a integridade do material.
A infiltração é uma outra manifestação patológica que ocorre quando a água penetra do ambiente externo para o interior, ou vice-versa, em forma líquida ou gasosa. Esse processo se manifesta quando a água adentra as lajes através de fissuras, trincas ou por capilaridade. Isso afeta a durabilidade e a eficiência das estruturas, comprometendo o desempenho adequado do concreto, contrapisos, revestimentos e outros elementos construtivos como juntas de dilatação de pontes e viadutos.
Uma junta de dilatação que não foi adequadamente executada ou que apresenta problemas de manutenção pode permitir a entrada de água na estrutura.
A água adentra a abertura da junta de dilatação e penetra na estrutura, causando danos aos dispositivos de apoio e facilitando o crescimento de vegetação nos pontos de apoio, podendo comprometer a integridade estrutural. Além de infiltrar na estrutura, a água também carrega detritos que se acumulam nas juntas de dilatação com deficiências e nos dispositivos de apoio. Esses detritos podem obstruir a movimentação adequada das juntas e, como resultado, comprometer sua função, causando instabilidade à estrutura (SOUTO, 2015).
3. METODOLOGIA
A metodologia empregada neste estudo seguiu uma abordagem técnica, onde inicialmente, conduziu-se uma revisão bibliográfica aprofundada para fundamentar a pesquisa. Isso incluiu uma análise crítica da literatura relacionada a manifestações patológicas em estruturas de concreto armado, particularmente em viadutos, bem como técnicas de reabilitação estrutural. Essa revisão desempenhou um papel crucial na construção da base teórica da pesquisa.
Em seguida, foi programada uma visita de campo aos locais de estudo, que ocorreu em 16 de setembro de 2023 nos viadutos escolhidos. Além da avaliação visual detalhada, procedeu-se à coleta de dados por meio da medição das dimensões das manifestações patológicas e da determinação da extensão das áreas afetadas. Registros fotográficos foram realizados para documentar as manifestações patológicas visíveis.
Posteriormente, após a coleta de dados quantitativos e qualitativos, procedeu-se a uma análise minuciosa das manifestações patológicas identificadas. Isso envolveu a busca por relações de causalidade, identificação dos fatores que contribuíram para o desenvolvimento das manifestações, bem como a avaliação dos impactos potenciais, incluindo possíveis reduções na capacidade de carga e ameaças à integridade estrutural. Este processo foi essencial para compreender em profundidade, as manifestações patológicas e seus efeitos nas estruturas dos viadutos estudados.
Além das etapas mencionadas, este estudo incluiu ensaios de termografia
infravermelha e esclerometria para obter informações essenciais na avaliação das condições das estruturas dos viadutos. A termografia identificou variações de temperatura, crucial para detectar descontinuidades, enquanto os ensaios de esclerometria avaliaram a resistência superficial do concreto, fornecendo dados importantes para a integridade e durabilidade das estruturas.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS VIADUTOS EM SÃO LUÍS
3.1.1 VIADUTO DA COHAMA
O Viaduto localizado no bairro da Cohama é uma importante estrutura viária, situado em um trecho da Avenida Daniel de La Touche, na cidade de São Luís – MA. Ele desempenha um papel crucial como um ponto de conexão intermediária entre os bairros vizinhos do Ipase, Cohama e Olho d’Água. Este viaduto tem uma extensão de aproximadamente 540 metros e uma largura de 13 metros, proporcionando espaço suficiente para a circulação de veículos. Sua estrutura é composta por uma combinação de concreto armado e componentes metálicos, tornando-o assim, resistente e durável. Pode-se observar a vista aérea do viaduto na figura 1.
Figura 1 – Vista aérea do viaduto da Cohama

Fonte: Google Earth (2023).
O Viaduto da Cohama oferece duas faixas de tráfego em sentido duplo, o que significa que veículos podem se deslocar nos dois sentidos. Essa característica contribui para o fluxo eficiente de tráfego e facilita a mobilidade dos moradores e visitantes que utilizam essa importante via de ligação entre os bairros. Devido à sua localização estratégica e às suas características técnicas, o Viaduto da Cohama desempenha um papel fundamental no sistema viário da região, contribuindo para a conectividade e o desenvolvimento da cidade de São Luís e proporcionando uma passagem segura e eficiente para os residentes e visitantes que transitam entre esses bairros.
3.1.2 VIADUTO ALCIONE NAZARÉ
O Viaduto Alcione Nazaré é uma estrutura viária essencial localizada no bairro Ivar Saldanha, ao longo da Avenida dos Franceses, na cidade de São Luís – MA. Este viaduto serve como um ponto intermediário de ligação entre os bairros circundantes, incluindo Ipase, Vila Palmeira, João Paulo e Alemanha, podendo ser observado a vista aérea do viaduto na figura 2.
Figura 2 – Vista aérea do viaduto Alcione Nazaré

Fonte: Google Earth (2023).
Com aproximadamente 524 metros de extensão, apresenta uma combinação de elementos de concreto e estrutura metálica. Possuindo duas faixas de tráfego em ambas as direções, torna-se um meio eficiente para a passagem de veículos. Sua localização estratégica e suas características técnicas desempenham um papel fundamental na conectividade e mobilidade da cidade. Além disso, proporciona uma passagem segura e fluída para os residentes e visitantes que transitam entre os bairros, facilitando o fluxo de veículos e contribuindo significativamente para a infraestrutura viária da região.
3.2 ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS REALIZADOS NA ESTRUTURA
3.2.1 ENSAIO DE TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA
A termografia infravermelha, segundo Nascimento (2022), é uma técnica de ensaio não destrutivo que se utiliza de uma câmera termográfica para quantificar a radiação infravermelha emitida pela superfície do material. Isso resulta na produção de uma imagem térmica visual, chamada termograma, que fornece informações sobre a distribuição das temperaturas na superfície.
Conforme Nascimento (2022), na avaliação de estruturas de concreto por termografia infravermelha, a presença de vazios ou anomalias perturba o fluxo de calor, gerando variações visíveis no termograma. Essa técnica é amplamente aplicada na patologia de estruturas de concreto, identificando delaminações, fissuras, infiltrações e outros defeitos, sem a necessidade de destruição da estrutura original.
Estando em concordância, Mendonça, Amaral e Catarino (2010), completam que a imagem infravermelha deve ser complementada com uma medição térmica precisa para representar de maneira adequada às condições reais de um objeto. A análise dos dados resultantes da inspeção termográfica é de importância fundamental e deve ser fundamentada em conhecimento adquirido por meio de formação especializada e enriquecido com experiência acumulada ao longo dos anos.
Foi realizado este ensaio não destrutivo para obter informações e comprovações sobre a temperatura superficial das estruturas de concreto dos viadutos. Foi utilizada a câmera termográfica da marca Flir, modelo C2 (figura 3), e realizado de acordo com a ABNT NBR 16818:2020 – Ensaios não destrutivos – Termografia infravermelha – Procedimento para aplicações do método da termografia infravermelha, com o objetivo de localizar anomalias não aparentes.
A termografia infravermelha fundamenta-se na perturbação do fluxo de calor, gerado interna ou externamente à peça estrutural. As perturbações produzem desvios na distribuição da temperatura superficial do objeto, os quais são captados pelo equipamento termográfico, gerando uma imagem. A termografia apresenta como vantagem a rapidez e a facilidade de inspeção, pois produz as imagens em tempo real (BOLINA, et al. 2019, p. 175).
Figura 3 – Câmera termográfica de marca Flir, utilizada para o ensaio

Fonte: Autoria própria (2023).
3.2.2 ENSAIO DE ESCLEROMETRIA
De acordo com a ABNT NBR 7584:2012, o ensaio esclerométrico é um método não destrutivo que mede a dureza superficial do concreto fornecendo elementos para a avaliação da qualidade do concreto endurecido. Para fazer este ensaio é necessário o uso de um equipamento chamado esclerômetro de reflexão, que consiste fundamentalmente de uma massa-martelo que, impulsionada por uma mola, se choca, através de uma haste, com ponta em forma de calota esférica, com a área de ensaio.
Foi realizado o ensaio com o esclerômetro de marca Metrotokyo, modelo MTK-1015, de número de série 301529, como mostra figura 4, com calibração válida até julho de 2024. Seguindo os métodos de ensaio apresentado na ABNT NBR 7584:2012 – Concreto endurecido – Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão – Método de ensaio, foi preparada as superfícies de concreto verticais em que foram realizados os ensaios, sendo 01 (um) realizado no pilar de viaduto da Cohama e 01 (um) realizado no pilar do viaduto Alcione Nazaré. Cada área de ensaio foi preparada através de polimento enérgico com um disco de carborundum, que envolveu movimentos circulares para remover poeira e pó superficial a seco, garantindo resultados precisos. Em cada área de ensaio foram efetuados 16 (dezesseis) impactos, uniformemente distribuídos na área do ensaio, com uma distância mínima de 30 cm entre os pontos de impacto.
Figura 4 – Esclerômetro de reflexão de marca Metrotokyo, utilizado no ensaio

Fonte: Autoria própria (2023).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS IDENTIFICADAS
Por meio da visita realizada no dia 16 de setembro de 2023, com uma inspeção de cunho visual realizada nos viadutos apresentados nos tópicos acima, observou-se uma série de defeitos e manifestações patológicas, tais como fissuras, trincas, corrosão, desprendimento de revestimento e degradação do concreto armado.
As fissuras e trincas, em particular, foram identificadas em várias áreas da estrutura, incluindo os pilares de sustentação e as lajes de concreto. Essas manifestações patológicas são indicativas de sobrecargas estruturais, movimentação do solo e/ou problemas de projeto, todos os quais representam riscos significativos para a integridade da infraestrutura, como mostrada na figura 5.
Figura 5 – Fissura e trinca na superestrutura em um pilar no viaduto Alcione Nazaré

Fonte: Autoria própria (2023).
Além disso, foi detectada corrosão em diversas partes metálicas da estrutura, como armaduras de concreto armado e elementos de suporte. A corrosão é um fenômeno que enfraquece a resistência dos materiais e pode comprometer a estabilidade do mesmo.
Na figura 6, podemos observar a corrosão na parte metálica da superestrutura dos viadutos, estando assim, completamente exposta à intempéries. Segundo Gasparoni e Rodrigues (2020), esta é uma corrosão uniforme, também denominada como corrosão generalizada, caracteriza-se por afetar a totalidade da superfície do material de maneira homogênea. Este tipo de corrosão resulta na perda uniforme da espessura da estrutura. Trata-se da forma mais comum de corrosão, sendo facilmente identificada a olho nu, o que possibilita uma pronta intervenção para recuperação ou substituição da área afetada.
Figura 6 – Corrosão generalizada da estrutura metálica dos viadutos no viaduto da Cohama

Fonte: Autoria própria (2023).
O desprendimento de revestimento e a degradação do concreto armado contribuem para a exposição das armaduras metálicas, tornando-a ainda mais vulnerável aos efeitos adversos do ambiente, como ação climática e agentes agressivos. É possível observar na figura 7 que foi encontrado diversas partes em que o concreto está desagregado e com armadura totalmente exposta e com corrosão.
Figura 7 – Desintegração do concreto revelando a armadura, que apresenta corrosão severa, no elevado Alcione Nazaré

Fonte: Autoria própria (2023).
As armaduras incorporadas nas estruturas de concreto são inicialmente resguardadas pelo revestimento conforme especificado no projeto, o qual estabelece uma barreira física contra influências externas. A deterioração dessa proteção pode iniciar e acelerar um procedimento corrosivo. A corrosão tem lugar quando o concreto demonstra permeabilidade suficiente para a entrada de íons até alcançar as armaduras (SOARES et al., 2015).
As juntas de dilatação são essenciais para a execução de um viaduto, permitindo sua acomodação e movimentação. No entanto, ao longo do tempo, podem surgir problemas como deterioração, desalinhamento e deslocamento, resultando em fissuras e aberturas. Isso compromete a vedação, causando infiltração de água e eflorescência, como ilustrado na figura 8, prejudicando a integridade do tabuleiro do viaduto.
Figura 8 – Abertura e desagregação do concreto na parte inferior do tabuleiro exatamente na junta de dilatação no elevado Alcione Nazaré

Fonte: Autoria própria (2023).
A figura a seguir ilustra uma manifestação do crescimento de vegetações e líquens que se encontram em um ambiente propício para seu crescimento nas vigas do viaduto, devido às infiltrações decorrentes das aberturas das juntas de dilatação. Tal fato, consequentemente, gera o enfraquecimento do concreto devido à esta infiltração e ao crescimento de vegetação, podendo assim, reduzir a capacidade da estrutura de suportar cargas, o que pode comprometer sua segurança e estabilidade.
Figura 9 – Vegetações e liquens presentes na viga dos viadutos, oriundas da abertura na junta de dilatação.

Fonte: Autoria própria (2023).
4.2 RESULTADOS DOS ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS
4.2.1 ENSAIO DE TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA
Os resultados do ensaio termográfico na viga dos viadutos, como mostra a figura 10, revelam uma situação crítica na estrutura. A análise termográfica identificou a presença de uma significativa concentração de umidade nas áreas da viga, podendo ser observada na imagem com temperatura mais fria (coloração azul), o que representa uma ameaça séria para a integridade das estruturas de concreto e metálica, criando condições propícias para a corrosão da estrutura de metal e degradação do concreto. Essa umidade pode ser resultado de vazamentos, infiltrações ou até mesmo da exposição à intempérie, dependendo das circunstâncias específicas.
Figura 10 – Ensaio termográfico realizado na viga do viaduto da Cohama

Fonte: Autoria própria (2023).
Na figura 11, é possível analisar os resultados do ensaio de termografia infravermelha no pilar do viaduto Alcione Nazaré, onde a imagem termográfica revela forte indício de umidade na base do pilar, o que pode representar um problema em sua integridade estrutural. A umidade pode se infiltrar nos pilares devido a umidade presente no solo, por meio de rachaduras ou fissuras na superfície do concreto, ou até mesmo se a impermeabilização dos pilares e vigas não foi realizada adequadamente ou está deteriorada com o tempo, como também pode ocorrer através de capilaridade, quando a água é absorvida pelo concreto devido à sua porosidade.
Figura 11 – Imagem termográfica capturada na base de um dos pilares do viaduto Alcione Nazaré

Fonte: Autoria própria (2023).
4.2.2 ENSAIO DE ESCLEROMETRIA
Foram conduzidos dois ensaios de esclerometria, um em um pilar do viaduto da Cohama e outro em um pilar do viaduto Alcione Nazaré. Antes de iniciar os testes, foi essencial realizar a preparação das superfícies dos pilares. Essa etapa envolveu a limpeza das superfícies com o auxílio de um disco de carborundum, assegurando a remoção de qualquer sujeira, resíduos ou imperfeições, como ilustrado na Figura 12.
Na mesma Figura 12, é possível visualizar a área de ensaio com os pontos de impacto de acordo com as diretrizes estabelecidas pela ABNT NBR 7584:2012. Durante a execução de um dos ensaios com o esclerômetro, os pontos de impacto foram posicionados na área de ensaio, seguindo os padrões definidos pela norma, a fim de garantir resultados precisos e confiáveis.
Figura 12 – Polimento enérgico com disco de carborundum e limpeza a seco para retirada de pó e poeira.

Fonte: Autoria própria (2023)
Conforme especificado na norma ABNT NBR 7584:2012, a obtenção dos resultados requer a aplicação de alguns cálculos para obtenção dos resultados. Inicialmente, calcula-se a média aritmética dos 16 valores individuais dos índices esclerométricos obtidos por meio dos impactos. Nesse cálculo, quaisquer índices esclerométricos individuais que diferirem em mais de 10% do valor médio são excluídos, e uma nova média aritmética é recalculada.
Após obter o índice esclerométrico médio, procede-se ao cálculo do índice esclerométrico efetivo. Isso é feito multiplicando-se o índice esclerométrico médio pelo coeficiente de correção, que é obtido no próprio esclerômetro e possui um valor de 0,996.
Na Tabela 2, apresentam-se os resultados obtidos nos ensaios realizados. Na área de ensaio do pilar do viaduto da Cohama, alcançou-se um valor de 31,27 MPa, enquanto na área de ensaio do pilar do Alcione Nazaré, obteve-se um valor de 38,76 MPa. Esses resultados indicam resistências superficiais satisfatórias do concreto nas áreas ensaiadas.
Tabela 2 – Resultados obtidos através do ensaio esclerométrico

Fonte: Autoria própria (2023).
5. CONCLUSÃO
Ao analisar as manifestações patológicas identificadas nos viadutos da Cohama e Alcione Nazaré, fica evidenciado que os reparos são essenciais, pois inevitavelmente, ao longo de muito tempo, se desenvolvem lesões em determinados pontos da estrutura destes viadutos.
Essas condições patológicas identificadas durante a inspeção representam uma ameaça iminente à integridade dos viadutos, requerendo intervenções de reabilitação e reforço estrutural urgentes. A continuidade da utilização do viaduto nessas condições críticas pode resultar em falha estrutural, colapso e sérios riscos para a segurança pública.
Os resultados obtidos nos ensaios não destrutivos realizados, evidenciam a presença de uma infiltração significativa nas vigas e pilares dos viadutos, o que representa uma potencial fonte de grandes problemas futuros para a estrutura e é recomendável uma avaliação detalhada para identificar a fonte da umidade e implementar soluções eficazes, podendo envolver a reparação de fissuras, a melhoria do sistema de drenagem, a impermeabilização adequada e a proteção dos elementos metálicos contra corrosão.
O ensaio de esclerometria, por sua vez, indicou que, apesar das patologias evidenciadas, a resistência superficial do concreto ainda se mantém em níveis aceitáveis. No entanto, é importante ressaltar que essa análise se limitou à superfície da estrutura, e a verdadeira condição estrutural pode ser mais complexa do que aparenta.
Portanto, embora os resultados iniciais forneçam indícios importantes sobre o estado dos viadutos, é fundamental ressaltar que uma avaliação mais abrangente e profunda é necessária para uma compreensão completa da sua condição estrutural. Além disso, a realização de outros ensaios e uma pesquisa mais detalhada são recomendados para uma avaliação mais precisa. Assim, baseado nessas informações, as autoridades competentes podem tomar medidas adequadas para garantir às estruturas, segurança a longo prazo, evitando potenciais riscos e problemas futuros.
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1Esp. Perícias e Avaliações na Construção e Engenharia Civil (Centro Universitário FACAM). E-mail: shayanneksm@gmail.com
2Prof. Msc Engenharia Civil e Produção (Centro Universitário FACAM). E-mail: aquinofelipe444@gmail.com
3Prof. Msc Engenharia Civil e Produção (Centro Universitário FACAM). E-mail: engandremathias@gmail.com
4Prof. Dra Engenharia Civil e Produção (Centro Universitário FACAM). E-mail: anapaula.facam.tcc@gmail.com
5Esp. Confiabilidade na Manutenção e Engenharia Civil (Centro Universitário FACAM). E-mail: taynah_cunha@hotmail.com
