ESTRATÉGIAS PARA A CRIAÇÃO DA ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412170035


Eliane de Oliveira Torres1, Auriélia Coelho Isaque Floriano2, Regina Andrade Silva3, Robério Batista Silva4, Denise Cavalcanti da Silva5, Joselma Lima Pereira6, Maria Eliete Ribeiro de Araújo7, Cláudio Alencar8


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo debater a importância da rotina na Educação Infantil.  Busca trazer como autores da área se posicionam a respeito, apontar quais contribuições a rotina traz para as crianças e professores na instituição escolar e refletir a sua relevância para o processo de ensino e aprendizagem. A abordagem metodológica adotada foi a qualitativa através da revisão bibliográfica como livros, artigos científicos e periódicos centrados no tema. A pesquisa dialoga com estudos de teóricos como: Fazolo (2017), Fraboni (2019), Horn (2009), Kramer (2007), Kuhlmann Jr (2013), Oliveira (2012), Perroti (2010), Vygotsky (2014), Zabala (2019), entre outros. Nesse sentido, acreditamos que o tema em destaque é de grande relevância para o estudo da Educação Infantil, uma vez que a rotina na vida escolar proporciona previsibilidade às crianças, trazendo maior segurança para o processo de construção de conhecimento. Este trabalho tem grande relevância ao discutir a rotina para crianças na Educação Infantil, uma vez que leva os docentes a refletir sobre sua prática docente e a considerar a rotina como parte essencial no processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Rotina. Educação Infantil. Prática Pedagógica.   

ABSTRACT

This work aims to debate the importance of routine in Early Childhood Education. It seeks to bring how authors in the area take a stand on the matter, to point out what contributions the routine brings to children and teachers in the school institution and to reflect its relevance to the teaching and learning process. The methodological approach adopted was qualitative through bibliographic review such as books, scientific articles and periodicals centered on the theme. The research dialogues with studies by theorists such as: Fazolo (2017), Fraboni (2019), Horn (2009), Kramer (2007), Kuhlmann Jr (2013), Oliveira (2012), Perroti (2010), Vygotsky (2014), Zabala (2019), among others. In this sense, we believe that the highlighted theme is of great relevance for the study of Early Childhood Education, since the routine in school life provides predictability for children, bringing greater security to the knowledge construction process. This work has great relevance when discussing the routine for children in Early Childhood Education, as it leads teachers to reflect on their teaching practice and consider routine as an essential part of the teaching and learning process.

Keywords: Routine. Child education. Pedagogical Practice.

1 INTRODUÇÃO

A rotina deve fazer parte da vida da criança desde recém-nascida para que o bebê se sinta seguro naquelas atividades a serem desenvolvidas. Quando não se tem uma rotina estabelecida, a criança sente-se perdida e insegura. Isso pode causar irritação, choro, afetar no sono e na alimentação. Da mesma forma, se sua rotina é quebrada, pode ocasionar comportamentos inesperados.

O referido estudo estabelece como objetivo geral: enfatizar a relevância da rotina escolar na Educação Infantil, proporcionando a criança sentimentos de estabilidade e segurança.  Entre os objetivos específicos, foram definidos três, a saber: mostrar que autores consagrados da área da Educação Infantil abordam a importância da rotina escolar; enfatizar algumas contribuições que a rotina escolar pode proporcionar para os alunos e professores; evidenciar o leitor que a rotina escolar é uma forte aliada no processo de ensino para a aquisição da aprendizagem e confiança do aluno na Educação Infantil.

A motivação para a realização dessa pesquisa se deu em decorrência da afinidade pelo assunto e o interesse de aprender mais. Justificando-se, portanto, que a rotina é algo muito importante na educação infantil, e às vezes não tem a atenção necessária por parte de professores e direção dos Centros de Educação Infantil.

Ao longo da pesquisa também encontramos as contribuições de vários teóricos, mas dentre estes destacamos as contribuições de, Oliveira (2012) que fala sobre a rotina na instituição de Educação Infantil. A rotina oferece uma maior segurança para as crianças. Quando se organiza uma rotina, a criança tende a aprender organizar seu tempo e dar prioridades àquilo que é importante. Isso é importante para o trabalho pedagógico, pois mostra que a rotina não é algo ruim ou pesado para a criança. Ao se estabelecer uma rotina, as crianças sabem o que vai ocorrer no momento seguinte, trazendo, assim, segurança para elas e, consequentemente, um melhor desempenho na escola. Da mesma forma, para o docente, a rotina vai pré-estabelecer o que irá ocorrer e este terá mais controle sobre seu trabalho e os objetivos almejados para aquele dia.

Após a introdução, o trabalho foi dividido em dois capítulos. Na primeira parte abordou-se o histórico da Educação Infantil no Brasil, bem como sua legislação e o conceito de criança perpetuada ao longo dos anos. No segundo capítulo foi apresentado o tema da rotina na Educação Infantil, a adaptação, organização dos espaços e a importância do brincar nessa faixa etária.

A abordagem metodológica adotada neste trabalho foi a qualitativa através da revisão bibliográfica de livros, artigos científicos e periódicos centrados no tema Educação Infantil e rotina escolar. Além disso, realizou-se um levantamento documental da legislação que trata sobre este nível de ensino.

1 BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

Estruturar rotinas ajuda a organizar melhor o tempo e predizer aquilo que vai acontecer em seguida, ajudando na aquisição de conhecimentos e, consequentemente, na formação do seu caráter. A rotina organiza o tempo biológico e fisiológico da criança, contribuindo para aprendizagem de novos hábitos e habilidades, e organizando seu corpo a realizar atividades diárias como estudar, se alimentar e dormir, por exemplo. “A carência destes hábitos produz um grande desgaste emocional em conflitos e discussões, tanto para os pais como para os filhos (FERNANDES, BOEHS e RUMOR, 2012, p. 32). Isso dá ênfase ao fato de que a família também pode, e deve, contribuir também para a aquisição da rotina da criança, criando assim um clima harmonioso entre escola e família.  

1.1 Recorte Histórico e Legislação da Educação Infantil no Brasil

Nos primórdios da história, na sociedade medieval tradicional, as crianças precisavam trabalhar desde cedo “[…] para aprender os trabalhos domésticos e valores humanos, mediante a aquisição de conhecimento e experiências práticas” (MENDONÇA, 2012, p. 17). Era dessa forma, perpassando o conhecimento de geração em geração, que as crianças aprendiam a viver em sociedade. Naquela época não havia valorização da instituição família, e crianças e adultos vestiam-se e falavam semelhantemente. O cuidado especial para com os pequenos não existia, a educação era dada em uma mesma sala de aula para vários alunos de faixas etárias diferentes.

Após a Idade Moderna, a ideia do ser criança começou a se modificar, juntamente com o Iluminismo e a Revolução Industrial, em que as crianças mais abastardas eram mais valorizadas que aquelas filhas do proletariado. Com a necessidade de os pais trabalharem, surgiram as primeiras ideias de escola, lugar onde as crianças precisavam ficar enquanto seus pais estavam nas fábricas. As crianças, agora, passaram a ter certa relevância na sociedade, pois foi reconhecido que elas necessitavam de cuidados e tinham necessidades físicas, cognitivas, emocionais e educacionais a serem respeitadas (MENDONÇA, 2012). 

As crianças, então passaram a serem vistas como sujeitos individuais, diferentes dos adultos, pertencentes a uma sociedade e com direitos, mesmo que ainda remotos.

No Brasil, em 1874 foi quando se iniciou os primeiros movimentos pensados no cuidado com as crianças. As Secretarias Municipais no Brasil destinaram financiamento para o cuidado com as crianças mais rejeitadas, como as negras, místicas ou abandonadas. Outra instituição que pensou no cuidado com as crianças foi a Igreja Católica. Ela criou as Rodas dos Expostos ou dos Rejeitados, administrada pela Santa Casa de Misericórdia, a instituição filantrópica espalhou por todo país para assistir as crianças pequenas no século XVIII (MENDONÇA, 2012).

Com o progresso da sociedade capitalista e o consequente aumento do número de fábricas, a demanda por trabalho aumentou, e as mulheres começam a integrar um grupo de trabalhadores à força de trabalho. Segundo Mendonça (2012), uma solicitação nova e urgente é exibida; se os pais estão ausentes, trabalhando, quem cuidará dos filhos? A mulher, que era responsável pelas tarefas domésticas da família até então, entrou no mercado de trabalho com um sério dilema: e onde deixariam seus filhos em segurança enquanto trabalhavam? 

No Brasil, os motivos que levaram à criação de jardins de infância não diferem do contexto global. Mendonça (2021) explica que a creche surgiu no Brasil no século XIX, graças aos processos progressivos de industrialização e urbanização. Com base nos requisitos das famílias que tiveram que trabalhar para atender às suas necessidades, especialmente a necessidade feminina de ajudar nas despesas domésticas.

Apenas no século XX foi que a educação pública ganhou espaço. E a préescola passou por diversas modificações ao longo das décadas. De início, as instituições não eram formalizadas e, para cuidar das crianças, não necessitava de formação específica. “Pessoas se voluntariavam para cuidar essas crianças, mas logo desistiam desse trabalho” (MENDONÇA, 2012, p. 69). 

Inicialmente, as instituições voltadas ao cuidado da criança tinham objetivos preventivos e operavam com o intuito de promover uma reabilitação dessas pessoas que viviam à margem da sociedade e que também eram consideradas perigosas. “O foco não era a criança, mas naquilo que era denominado como menor abandonado e delinquente” (KUHLMANN JR., 2013, p. 94).

Em seguida, no ano 1930 foi instituído no Brasil o Ministério da Educação (MEC) ao longo do governo do presidente Getúlio Vargas. Quarenta anos depois, o Brasil começa a absorver as ideias dos países desenvolvidos em que a educação infantil tinha função assistencialista e compensatória. A educação era voltada para os menos favorecidos, filhos de famílias carentes (MENDONÇA, 2012).

Nos anos 1980, as famílias pressionaram o poder público em busca da ampliação das vagas nas escolas e, em 1988, com a criação da Constituição Federal – CF/1988 –, a Educação Infantil foi incluída no sistema educativo nacional e admitida como um direito inalienável da criança e responsabilidade do Estado.

Este foi o marco legal que traduziu a Educação Infantil como uma instituição importante e necessária para as crianças pequenas. Com as teorias sócio históricas discutidas durante os anos 1990, a concepção de criança ganhou corpo. Nessa concepção, a aprendizagem se dá pela interação dos sujeitos com o meio em quem ela vive. “Essa perspectiva sociointeracionista tem como principal teórico Vygotsky, que enfatiza a criança como sujeito social, que faz parte de uma cultura concreta” (OLIVEIRA, 2012, p. 71).

O ano de 1990 representa um marco nos direitos humanos das crianças, pois neste ano foi sancionado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, através da Lei nº 8.069/90 e, em 1996, através da Lei nº 9.394/96, foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Baseada na CF/1988, a LDB colocou a Educação Infantil como a primeira etapa de ensino da Educação Básica e os municípios ficaram como responsáveis por administrá-las. 

A criação da LDB organizou os sistemas de ensino decretando como devem ser organizados, bem como com qual órgão fica a responsabilização das etapas de cada ensino. O art. 29 da LDB faz menção às crianças de zero a seis anos de idade. Ela ressalta a necessidade de trabalhar o processo humanizado da criança, e confere importância a esta primeira etapa de ensino que trará conhecimentos necessários à vida dos sujeitos. Essas experiências iniciais que a criança irá ter nortearão seu processo cognitivo durante todos os anos de sua vida. Nos termos da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a “Educação Infantil fica reservada à faixa etária de zero a seis anos: as creches para a faixa de zero até três anos e as pré-escolas para a faixa de quatro a seis anos” (ZABALZA, 2019, p. 87).

Depois da criança da LDB, em 1998, foi criado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI; este se refere à normatização do trabalho nas instituições que oferecem esse nível de ensino. Portanto, o RCNEI é considerado como uma referência legal que constituiu como precisaria ser trabalhado com as crianças de zero a seis anos de idade. Ele traz uma proposta inovadora no que diz respeito ao ensino das crianças pequenas através do cuidar e o educar.

Este documento constitui-se em um conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam a contribuir com a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras. Sua função é contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais (BRASIL, 1998, p. 13)

As orientações do RCNEI foram divididas em três volumes, a saber: Introdução, Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo. Neles, o MEC norteia o trabalho a ser realizado com as crianças pequenas de forma a respeitar suas etapas de desenvolvimento, favoreçam o desenvolvimento de suas identidades, possam brincar, aprender e serem cuidadas com afeto dentro das instituições. 

De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI), a creche tem como função promover o desenvolvimento geral das crianças, o bem-estar físico, emocional, intelectual, moral e social, melhorar ou intensificar as interações sociais estimular o interesse das crianças nos processos de conhecimento humano, natureza e sociedade. Para que isso aconteça, a creche deve ter um plano de trabalho, para que tudo ocorra dentro de parâmetros previamente estabelecidos (BRASIL, 1998).

Este referencial para a Educação Infantil, de acordo com as definições da LDB, destaca que as creches não devem ser apenas localidades para cuidar de crianças, e também não devem se limitar à preparação para leitura e escrita. Mas, ao contrário, atenção e instrução devem estar integrados desde o início. Isso sugere que o trabalho deve ser dividido em três eixos: diversão, movimento e relações emocionais desenvolvidas pelas crianças. 

A partir desses eixos, as atividades pedagógicas devem atingir cinco áreas diferentes: artes visuais, conhecimento do mundo, linguagem escrita e falada, matemática e música. O RECNEI também propõe o número adequado de crianças por professor para cada idade, e fala sobre o relacionamento da escola com as famílias, incluindo-as no cotidiano e no trabalho da instituição (BRASIL, 1998). 

Ainda segundo o RCNEI, é incumbência da instituição escolar promover intercâmbios entre a família e a escola em variadas áreas. Na saúde a escola deve fazer o acompanhamento, orientação e ajudar as condições sociais de saúde, higiene e desenvolvimento físico das crianças. No que diz respeito à relação com a comunidade, deve manter contato contínuo de divulgação e troca de serviços objetivando a conexão entre a escola e a comunidade. Na área administrativa, deve acolher as solicitações da Secretaria Estadual da Educação e Secretaria Municipal de Educação, dentro dos prazos estabelecidos em parceria com a creche. Na relação com a família é preciso promover palestras de orientação com a coordenadora pedagógica e especialistas, tais como: psicólogos, pediatras, odontologistas e fonoaudiólogos, voltados às necessidades das crianças e famílias. No âmbito pedagógico é preciso atender as crianças dentro de uma proposta sociointeracionista e construtivista nas seguintes áreas de conhecimento: comunicação e expressão; ciências naturais; ciências sociais; matemática; artes; jogos e brincadeiras (BRASIL, 1998). 

Nestes pontos vê-se que o documento contempla todas as funções da creche. Percebe-se que a creche não é um lugar onde a criança é apenas alimentada, banhada e entretida com brincadeiras para mero entretenimento. Sua função vai além, quesitos que contemplam aqueles que convivem com a mesma são igualmente importantes.

Inicialmente as creches públicas eram voltadas para as crianças cujas mães ou pais não podiam ficar com seus filhos em tempo integral, assim como não podiam arcar com os custos de escolas particulares ou babás. Portanto, a creche não era considerada uma instituição para educar todas as crianças, mas apenas uma maneira de substituir as mães, pais e demais familiares que trabalhavam fora. Agora, as instituições de Educação Infantil ganham uma nova roupagem. Além de cuidar das crianças porque os pais precisam trabalhar, ela tem um cunho educativo importante na formação psicomotora, preparando-a para novas aprendizagens.

A Educação Infantil ganhou espaço e respeito após a promulgação dessas leis e diretrizes e a ampliação do acesso a esse nível de ensino na rede pública. Esta etapa de ensino passou a ser considerada fundamental para o desenvolvimento psíquico, social e cognitivo das crianças. As experiências e trocas vividas neste espaço poderão ser decisivas para a construção do processo cognitivo das crianças e permearão por toda sua vida.

1.2 A Creance na Educação Infantil

Destacaremos neste ponto a maneira como a criança é vista na Educação Infantil. Primeiramente, faz mister lembrar que o homem, em todas as fases de sua vida, sempre descobre e aprende coisas novas por meio do convívio com os outros e mediante seu domínio do meio social em que vive. O ser humano aprende desde o seu nascimento, descobre e usa o conhecimento apropriado, do mais simples ao mais complexo, e isso garante a ele sobrevivência e integração na sociedade como um ser participante, crítico e criativo.

A Educação Infantil é uma fase de grande importância no âmbito emocional, afetivo, motor e sensório do aluno; por isso o professor deve estar atendo a seleção de suas atividades dentro e fora da sala de aula para auxiliar e promover o desenvolvimento e conhecimento do aluno. A escola de Educação Infantil, que tantos nomes recebem, visto hoje estar na esfera pública, particular (esta gerida sob diversas denominações) deixou de encarar o local onde a criança fica – muitas vezes boa parte do dia – como um lugar onde a criança apenas brinca, alimenta-se e é banhada. Com o passar do tempo, a evolução dentro dos estudos educacionais passou a ver a creche como um lugar que pode ensinar e estimular a potencialidade das crianças. 

Tudo o que existe hoje passa por um processo até atingir o patamar em que se encontra. A existência de muitas coisas só é compreensível se seu contexto histórico e cultural for conhecido. Para Fraboni (2019), as concepções acerca da infância são compostas social e historicamente. A inclusão específica das crianças e seus papéis diferem dependendo das formas de organização da sociedade. Portanto, a ideia de infância nem sempre existia da mesma maneira. Por sua vez Fazolo et al (2017, p. 9) ressaltam que: “a criança será percebida pela sociedade de forma diversificada ao longo dos tempos, conforme as determinações das relações de produção vigentes em cada época”.

Dessa forma, podemos dizer que o conceito de infância passou por várias mudanças até chegar ao que temos hoje. Com o avanço tecnológico cada vez mais iminente, a criança está imersa num mundo diferente do que vivia séculos antes. Hoje participa ativamente de diversos seguimentos da sociedade, num ambiente mais voltado para a tecnologia, escola e lazer; vive num mundo vasto de informações que vão muito além da família e escola. Buscar a compreensão da educação infantil juntamente com a interpretação da legislação que a norteia, é de grande relevância, pois é na Educação Infantil que se pode oferecer um espaço de cuidado e educação, na qual haja socialização e troca de conhecimento entre as crianças.

A legalização da criança como pessoa de direitos, estabelecida pela Constituição (BRASIL, 1988), reafirmado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), e pela Lei de Diretrizes e Bases – LDB (BRASIL, 1996), buscou sobrepujar os atendimentos/propostas educativas, elaboradas e acordadas de maneira majoritária nas urgências de mães trabalhadoras e geradas pelo âmbito da atenção e da assistência. Com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI (BRASIL, 2010) estabelecem-se os princípios que norteiam as práticas, ganhando destaque a indivisibilidade das ações de atenção e ensino, o aparelhamento da estrutura das instituições e a formação de docentes, entre outros tópicos também importantes.

Nesse contexto considera-se importante destacar aqui o papel da criança dentro da educação infantil, ou seja, qual a razão para que um indivíduo em tão tenra idade frequente uma instituição de ensino como já dito anteriormente, superou há muito tempo a questão do local onde se tomam conta de crianças enquanto seus familiares trabalham.

Consultando documentos que regem tais diretrizes, é possível verificar diversos pontos-de-vista relativos aos mesmos: 

Uns dirão para socializar a criança (isso para não dizer para submetê-la às regras sociais; para formatá-la e até para domesticá-la; para treiná-la para o trabalho; para que ela aprenda qual é o papel dela na sociedade etc.). Outros dirão: para que ela aprenda muitas coisas. Mas o que ensinamos e quais critérios são usados para definir o que pode ser ensinado a ela? Outros ainda dirão: para que desenvolva suas capacidades. Quais capacidades as práticas pedagógicas que escolhemos ajudam a desenvolver? Quais as capacidades que não permitimos que ela desenvolva? (KRAMER, 2007, p. 25).

Ao contrário do que se tem dentro do lar, onde muitas vezes os responsáveis pela criança, numa tentativa de protegê-la, acabam cerceando uma certa liberdade que poderia ter na manipulação de certos objetos, que tradicionalmente poderiam não ser considerados brinquedos, mas que estimulam seu desenvolvimento afetivo, visual, tátil, auditivo e motor, como areia, massinha de farinha, dentre outros, na escola isso se volta de uma maneira bastante proveitosa. O desenvolvimento das habilidades anteriormente descritas pode e deve ser estimulado na Educação Infantil. Assim, percebe-se que, dentro de certa parcimônia, os educadores podem, e devem estimular a brincadeira de maneiras muitas vezes não convencionais, prezando, acima de tudo, o desenvolvimento global da criança.

A criança necessita, e começa muitas vezes a aprender a se organizar, de rotina. Essa é uma das razões para a evolução daquilo que era no passado era chamado pelo termo “escolinha”. De acordo com Fraboni (2019), tal rotina é considerada bastante importante para que o desenvolvimento da criança dentro daquela microssociedade se inicie. Ela serve para a criança se habituar, situar no tempo e espaço da Educação Infantil e se relacionar com as outras crianças. É fundamental que a escola e seus educadores utilizem da rotina no dia a dia, uma vez que ela cria condições para que aconteça o desenvolvimento das crianças, favorecendo a organização do espaço e do tempo estabelecido para a realização de todas as atividades daquele dia. 

Sobre a questão da rotina, o RCNEI destaca que:

A rotina pode nortear as ações das crianças assim como dos professores, possibilitando a antecipação das situações que irão acontecer. Ela pode ser facilitadora ou cerceadora dos processos de desenvolvimento e aprendizagem (BRASIL, 1998, p. 72). 

A criança deve ser enxergada como um ser em constante transformação. E para isto temos a oportunidade de moldá-la (sem interpretar este termo como algo robótico, engessado, sem que a criança possa ser capaz de expressar suas emoções e desejos) justamente ali, no ambiente da Educação Infantil.

2 A ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
2.1 Adaptação

O ser humano, em todas as etapas de sua vida, sempre descobre e aprende coisas novas e se adapta a novas situações, através do contato com os outros e do domínio do ambiente em que vive.

Portanto, entendemos que o envolvimento de crianças na Educação Infantil, embora seja um período delicado e muitas vezes difícil, é de extrema importância para os alunos, pois nesse ambiente eles costumam ter o prazer de viver, trocar e envolver pessoas na mesma faixa etária.

A adaptação não é algo estático; é um processo que envolve mudança, crescimento e desenvolvimento. É um processo que não começa com as crianças, mas com os pais, porque a entrada da criança na escola é uma mudança na rotina e na vida da criança, de sua família e da própria escola, que deve se organizar para receber a todos da melhor maneira possível (KRAMER, 2007).

Muitos pais têm medo da incerteza quanto aos cuidados que uma escola que oferta a educação infantil pode oferecer ao filho, mesmo que a tenham escolhido. Quando se transmite um sentimento de incerteza para as crianças, tende a tornar as situações corriqueiras mais tensas. A criança e os pais devem se sentir seguros e bem-vindos no novo ambiente e com novas pessoas que se tornarão parte de suas vidas diárias.

Nesse sentido, o primeiro passo na adaptação e socialização das crianças é a adaptação dos pais; devemos mostrar que eles escolheram o ambiente e as pessoas certas para cuidar da criança (KRAMER, 2007).

Após essa primeira fase, é hora de conscientizar os pais de que hoje em dia, devido às necessidades relacionadas ao trabalho, é natural que as crianças passem grande parte do tempo na escola. Eles devem ter calma, cientes de que a escola é um bom motor para o desenvolvimento de seus filhos em vários aspectos, tais como: emocional, social, físico e cognitivo.

A entrada da criança na escola é a sua introdução num contexto social mais abrangente, em que ela se desprenderá, por determinadas horas do seu cotidiano, do ambiente familiar. A criança inclina-se a experimentar novas situações sociais cotidianas como conviver em grupo com seus colegas, compartilhar brinquedos e a atenção dos professores (KRAMER, 2007).

Outro fator que aparece durante esse período é o choro no momento da separação, pelo menos nos primeiros dias de adaptação. Chorar não significa que a criança não quer ficar na escola; geralmente é apenas uma birra ou uma maneira de mostrar aos pais ou professores o que eles querem (PERROTTI, 2010).

A adaptação é um período em que devemos nos acostumar com cada nova situação que enfrentamos na vida. Por estar associado ao encontro do desconhecido, desperta medo, mas também é cheio de expectativas. Com o medo, um número infinito de sentimentos aparece, tanto para a criança quanto para a família, e com as expectativas surge uma série de ideais (PERROTTI, 2010).

Ao longo da história da primeira infância, o processo de adaptação foi frequentemente visto pelos profissionais como um período de tempo e espaço designado pela própria escola e com o objetivo de impedir o choro das crianças.

A adaptação é um processo contínuo de constante mudança, desenvolvimento, marcado por encontros e desencontros; é o momento em que a criança e seus pais começam a criar novas relações emocionais com o novo grupo social: o início da vida da escola da criança. Acontece que a partir daí novos relacionamentos e promove que a criança construa um mundo social mais amplo (PERROTTI, 2010).

A adaptação deve ser entendida como um processo natural e especial de construção de um vínculo entre escola, criança e família. De acordo com Kramer (2007), algumas crianças acham mais difícil separar-se emocional e fisicamente dos pais. Por isso, é necessário que os educadores que começam a perceber o cotidiano dessa criança tenham consciência de que a família e a criança em adaptação compartilham os mesmos medos diante desse novo desafio, que deve garantir a segurança e a atenção de ambos. 

Quando se trata de ingressar na Educação Infantil, estamos falando de momentos delicados e incomuns na vida de um aluno que está apenas começando, porque inclui os sentimentos e as expectativas das pessoas que esperam algo melhor para o futuro. De repente, uma criança deve aprender a viver em um ambiente diferente do que antes, apropriando-se de uma nova realidade, com influências, ideias, amizades e oportunidades que nunca havia encontrado antes (PERROTTI, 2010).

Os primeiros dias são geralmente os mais complicados e os mais importantes. Para Fernandes et al (2012), desgarrar após a família que sempre os protegia e permanecer “abandonado”, “sozinho” em um ambiente completamente diferente, às vezes constitui um grande abismo na mente dos mais jovens. Ao mesmo tempo, esses primeiros momentos permitem que a criança estabeleça um vínculo emocional com outra pessoa próxima a ela, proporcionando segurança e tranquilidade para que possam ser incluídas em um novo ambiente.

O choro da criança, durante o processo de inserção, parece ser o fato que mais provoca ansiedade tanto nos pais quanto nos professores. Mas parece haver, também, uma crença de que o choro é inevitável e que a criança acabará se acostumando, vencida pelo esgotamento físico ou emocional, parando de chorar. […] Deve ser dada uma atenção especial às crianças, nesses momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes (BRASIL, 1998, p.79)  

No entanto, como a citação anterior enfatiza, o choro durante esse período é quase inevitável, geralmente é a única maneira de uma criança expressar o que sente nesse momento.

Entre tantos desafios desse período, outro fator muito importante é que, nesse ambiente, a criança começará a conviver com outras crianças da mesma idade, nas quais terá que compartilhar assuntos, espaço físico e até a atenção do professor. Também deve compartilhar jogos e atividades, ser guiado por outros adultos que não são apenas membros da família, seguir regras previamente estabelecidas, além daquelas que você já conhece. Mas, em troca, neste momento de suas vidas, as crianças encontram a porta para uma vida social mais ampla (FERNANDES et al, 2012).

2.2 Organização dos Espaços

As instituições de Educação Infantil e as escolas que oferece essa etapa de ensino precisam ter espaços adequados para a construção de saberes e experiências dessa faixa etária. 

Esses espaços devem traduzir a concepção de criança, de educação, de ensino e aprendizagem, deve ser atrativo e lúdico. Logo, é certo saber que esses espaços devem receber uma atenção especial dos governantes, gestores, professores, funcionários da escola e de toda a comunidade escolar, ou seja, de todos aqueles que estão diretas ou indiretamente ligados ao processo educacional. Um espaço escolar sem estrutura física adequada, com organização e limpeza precárias e que não é acolhedora não possibilitará um pleno desenvolvimento das aprendizagens de forma satisfatória (MOURA, 2009).

Muito se apontam sobre as dificuldades da educação no Brasil, principalmente da rede pública. As raízes disso estão em vários motivos, desde a política assistencialista até a falta de investimentos e desvio de verbas. Quando falamos da organização dos espaços de Educação Infantil, temos muitos aspectos particulares, pois essas instituições precisam de espaços amplos, diferenciados, de fácil acesso e especializados. Então os objetos, cores das paredes, móveis, rampas e escadas, materiais didáticos, decoração etc. devem ser pensados especificamente para essa faixa etária. Sobre os espaços, Horn (2007, p. 43) defende da seguinte forma: “o espaço reflete a cultura das pessoas que nele vivem de muitas formas e, em um exame cuidadoso, revela até mesmo camadas distintas dessa influência cultural”. 

Por sua vez Moura (2009) defende que o espaço em nenhum momento é neutro (sem definição) e a maneira como este é disposto insinua um determinado sentido. Se este imprime certo sentido, tal significado se constituirá em uma contemplação cultural, que estará em estreita relação ao meio social correspondente. Nestes termos, o contexto escolar deve ter a incumbência refletir de maneira sistemática a respeito dos espaços que se destinam às crianças pequenas, uma vez que são espaços possuidores de cultura e saberes. 

Para que o espaço da Educação Infantil se constitua plausível, é necessário um planejamento dos diversos ambientes: da sala de aula, da área de lazer, dos corredores, do refeitório, do parque, a higiene, iluminação, segurança e climatização desses locais, se existe espaços para as atividades livres, se é aprazível o visual físico, as cores, o ambiente verde, enfim. Vale levar em consideração que: 

Para pensar na organização do espaço na educação infantil é essencial refletir sobre as crianças que frequentarão aquele espaço e em como elas aprendem e se utilizam dele. Assim, para a definição, planejamento e organização desse espaço, em busca da qualidade, a criança é imprescindível não só por ser o foco da ação do professor, mas também pelo fato dessa organização relacionar-se diretamente com a sua aprendizagem e desenvolvimento (HORN, 2007, p. 45).

Na escola e na sala de aula das crianças, o material deve ser adaptado para a faixa etária, a altura do mobiliário deve respeitar a altura dos aprendentes. Cadeiras, mesas, quadro, mural de atividades, vaso sanitário, pias, muretas, batentes etc., toda a estrutura do prédio deve ser pensada para as crianças pequenas. 

A maneira como os materiais são dispostos intervêm diretamente no processo ensino-aprendizagem sendo capaz ou não em dar certo auxílio no desenvolvimento da emancipação, da autoconfiança emocional e da estabilidade emocional do estudante, entre outros pontos também positivos na escolarização (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 2011). 

Compreende-se, então, que ofertar materiais e mobiliários de maneira adequada é um ponto muito importante para um ensino e uma aprendizagem de qualidade.

As instituições que atendem a educação infantil precisam se preocupar com a organização do espaço escolar a favor de uma rotina que favoreça o desenvolvimento das experiências diversas das crianças. Espaços externos O espaço escolar não se restringe às paredes da sala de aula. Os espaços externos são considerados prolongamentos dos espaços internos e precisam ser utilizados numa perspectiva pedagógica. Sendo assim, todos os espaços escolares devem ser considerados. Um espaço externo que merece atenção é o parque, porque proporciona diversas formas de aprendizagem e interações sociais (MOURA, 2009, p. 34). 

Os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006, p. 26) reproduzem de forma categórica como têm de ser os pavimentos (pisos) e os brinquedos dos parques, observando que estes necessitam ter “pisos variados, como, por exemplo, grama, terra e cimento. Havendo possibilidade, deve contemplar anfiteatro, casa em miniatura, bancos, brinquedos como escorregador, trepa-trepa, balanços, túneis, etc.”  

Os espaços edificados para a criança necessitam ser arquitetados numa estreita vinculação de aprendizagem, em decorrência de sua importância na vida escolar do aluno, uma vez que é no espaço escolar que ela também se desenvolve. Além do parque, é interessante se organizar na instituição um pátio coberto e áreas verdes para que as crianças possam explorar ainda mais seu corpo e movimentos.

Para as crianças, quase tudo na vida é brincadeira. Por isso, na Educação Infantil, não faz sentido separar momentos de brincar dos momentos de aprender. Esse sincronismo pede que espaços e rotina da escola sejam planejados de modo a proporcionar uma pluralidade de experiências e contato com todas as linguagens, o tempo todo, mas sem deixar de lado os cuidados com a segurança e a saúde (HORN, 2007, p. 46).

É nesse contexto educacional que as crianças vão socializar-se e ganhar autonomia. Dessa forma, toda a estrutura do prédio e sua ação pedagógica devem pensar nesse ser aprendente e em constante evolução.

Desde a administração da escola até os banheiros, deve-se levar em consideração esse ambiente especializado. Então, para Horn (2007), são necessárias uma boa recepção, secretaria, salas de coordenação e direção, sala de professores e da equipe como um todo, consultório (caso a escola disponha desse tipo de atendimento) e almoxarifado. Na área de serviço, espera-se que tenha um refeitório amplo e adaptado ao tamanho e idade das crianças, cozinha bem equipada, despensa, lavanderia e depósito de lixo.

Se a instituição atender bebês de 0 a 3 anos de idade, além da atenção especial com o espaço físico, também deve-se preocupar com a proteção das quinas das paredes com emborrachado, além de espaços com chão acolchoado para os bebês que estão engatinhando ou aprendendo a andar. Dessa forma, protegerá a integridade física do bebê em caso de queda. É interessante se pensar, também, em uma sala de estimulação, como uma sala de estímulo psicomotor, com todas as proteções devidas.

Salas de descanso também são importantes para os bebês. Pois eles necessitam dos cochilos diários. Então um local com berços e colchonetes também é essencial. O fraldário é indispensável para a troca de fraldas e higiene das crianças. O lactário, espaço reservado para a preparação das mamadeiras e amamentação, quando houver, também é importante. Esse espaço deve ser distante de banheiros e lavanderia. O solário para os bebês tomarem sol também é interessante se ter.

2.3 O Lugar do Brincar na Rotina de Zero a Cinco Anos

A brincadeira na Educação Infantil não pode ser considerada como algo sem valor, superficial, pois, são nelas que a verdadeira e profunda aprendizagem acontece. Segundo Oliveira (2010), são nas brincadeiras que as crianças despertam e vivenciam fantasias, compartilham experiências, se comunicam, se expressam, criam, recriam etc., fatos extremamente importantes para a estruturação e organização do pensamento.

A fantasia e a curiosidade da criança podem se desenvolver através do manuseio ativo de brinquedos, das histórias de faz de conta, das trocas de experiências que as crianças têm oportunidade de vivenciar no mundo, as formas e a qualidade de tudo que existe. A mágica e o sonho vivenciados durante as brincadeiras englobam o imaginário infantil de tal forma, que são traduzidos pelos movimentos espontâneas e ações ingênuas e involuntárias dos pequenos. Mas, para que isso aconteça, é necessário planejamento das atividades e total supervisão do educador.

Todas as capacidades intelectuais, motoras e emocionais do ser humanos são construídas ao longo da vida através de sua interação com o meio e com o outro. É nessa interação que acontece a aquisição da cultura historicamente construída. Além disso, a relação afetiva com esse meio e as pessoas que cercam, são fatores determinantes no processo de mediação e de ensino e aprendizagem.

Vygotsky (2014) confere uma grande importância aos jogos e brincadeiras no desenvolvimento do pensamento infantil. 

É brincando, jogando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos. Logo, é necessário conceber o brinquedo como atividade, com propósitos que direcionam as ações da criança (VYGOTSKY, 2014, p. 56). 

Por meio das brincadeiras as crianças utilizam situações imaginárias que poderão ser consideradas como uma maneira no processo de maturação do pensamento abstrato.

Crianças de zero a cinco anos têm maior desenvolvimento do lado direito do cérebro, responsável pelas funções motoras, principalmente. Então, é nessa faixa etária, chamada fase de ouro, que devem ser mais exploradas as atividades com o corpo e a criatividade. Aprender através de brincadeiras se tornará ainda mais prazeroso esse processo. Mas algo que precisa ser lembrado é que é necessário respeitar as idades e seus marcos do desenvolvimento.

O ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de desenvolvimento proximal. O brinquedo é uma importante fonte de promoção do desenvolvimento, pela qual podemos reconhecer o valor do brincar nas atividades educativas da criança, pois o brinquedo, apesar de não ser o aspecto predominante da infância, exerce enorme influência no desenvolvimento infantil. O momento da brincadeira é uma oportunidade de desenvolvimento para a criança. Através do brincar ela aprende, experimenta o mundo, possibilidades, relações sociais, elabora sua autonomia de ação e organiza suas emoções (VYGOTSKY, 2011, p. 43).

Quando as crianças brincam, os sentimentos se afloram e cada criança faz sua leitura de mundo e aprende a lidar com o universo que as cerca.

Ela cria, recria, repensa, imita, desenvolvendo, assim, aspectos físicos, motores, sensoriais, emocionais e cognitivos, bem como valores sociais e morais, tornando-se cooperativo, sociável e capaz de fazer suas próprias escolhas. Ao ter oportunidade de escolha, ela exercita sua liberdade e, assim, se torna uma criança mais observadora e crítica (VYGOTSKY, 2011, p. 43).

Para o ser humano enfrentar o mundo, são necessárias algumas habilidades básicas como manifestar desejos, expressar opiniões, ser sociável etc., assim, a criança precisa saber seu papel em todos os espaços que habita e convive: em casa, na escola, na rua, no bairro que mora, enfim, na sociedade em geral. 

De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 27):

O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.

Através do brincar e jogar a criança explora, escolhe, angaria, edifica e junta de acordo com seus interesses e suas preferências. Ela aprende neste momento a formar suas próprias análises, planejamentos, autonomia e criatividade, permitindo aprender novas vivências. As brincadeiras cooperam de maneira determinante no desenvolvimento da criança, ajudando a formar um adulto que possa ser confiante em seu potencial (autoestima) e que adquire independências em suas escolhas ao longo de sua vida. Ou seja, de forma lúdica a criança aprende nas mais variadas situações de ensino.

3 CONCLUSÃO

A rotina estabelecida aos indivíduos desde o nascimento traz consigo benefícios importantes no que diz respeito a organização mental e biológica do bebê.

E na escola não é diferente. Ela permite que a criança tenha previsibilidade do que irá acontecer naquele momento e posteriormente. Dessa forma, os pequenos tendem a ter menos momentos de irritação por estarem conscientes das atividades desenvolvidas.

Rotina para bebês e crianças na primeira infância é importante pois envolve as decisões que tomamos sobre o uso do tempo. A rotina é a forma como organizamos nossas atividades durante o dia, de como se organiza o tempo para a realização de toda programação. Por esse motivo, é fundamental que pensemos previamente sobre o que fazer e as decisões que vamos tomar. Pensar sobre rotina é pensar sobre a forma de viver, o que costumamos fazer com o tempo que temos, o que fizemos antes e o que faremos depois. 

A rotina é uma negociação entre o tempo individual, o tempo coletivo e o tempo da instituição. A família, por exemplo, tem uma rotina em seu cotidiano, da mesma forma, a escola também tem, e o indivíduo tem sua rotina estabelecida pessoal e coletiva em diferentes ambientes. Então é importante pensar como adequar a rotina de uma criança pequena à sua família, e também à instituição escola, em sua sala de aula e seus colegas. Essas não são decisões fáceis de tomar, pois necessita do ponto de vista das prioridades e necessidades que temos.

É importante pensar no que fortalece uma criança para ela tomar conhecimento de quem ela é enquanto sujeito subjetivo, que é construído nesta interface do tempo. Sua rotina está muito ligada ao ritmo: ritmo de mamar, de brincar, de tomar banho, de se alimentar, de dormir, de fazer suas necessidades fisiológicas etc. A criança precisa se sentir acolhida em seu ritmo, em seu tempo, em sua rotina. O dia da criança vai sendo preenchido pelos cuidados que precisa ter com ela. Cuidados da escola e cuidados da família para com as crianças. O que une estas instituições é o cuidado, responsável por nos constituir quanto sujeito, por que é a partir do cuidado que o outro tem comigo que eu vou ter noção de quem eu sou como sujeito.

Tudo isso faz parte da construção de um tempo para criança, de uma noção de tempo, E na medida que se organiza a rotina das crianças, desde casa com a família até a escola, estamos ensinando a criança indiretamente como ela vai usar o tempo dela, o que ela prioriza na vida dela. A rotina, nesse sentido, torna-se um conteúdo pedagógico trabalhado na escola, pois a criança aprende utilizar o seu tempo, a dar prioridade ao que é necessário e a organizar a suas atividades de acordo com o que ela precisa fazer. Ela vai entender também quanto tempo precisa para fazer determinada coisa, num ritmo imposto pela sua capacidade de autonomia em relação ao manejo do seu tempo, não pela imposição de outrem. 

Construir uma rotina não é uma tarefa fácil. O tempo permeia todas as nossas relações e por isso precisa ser aprendida a administrar. Pensando na escola, devemos perceber a rotina a partir do acolhimento. As crianças chegam na escola de Educação Infantil com uma rotina já estabelecida de casa, junto a família. A escola deve acolher essa rotina, respeitar seus horários e o seu tempo. A partir daí, aos poucos, essa criança vai se adaptando a rotina institucionalizada. Nesse primeiro momento escolar da vida de uma criança, ela precisa de um adulto referência na escola que ela possa confiar, que ajude a fazer essa ponte afetiva da rotina familiar para a institucional. Da mesma forma que a criança tem um adulto referência em casa que traz segurança, ela também precisa desse adulto na escola. Com ajuda desse educador referência a criança vai dar continuidade da sua rotina na escola e aos poucos aprendendo a rotina coletiva daquele novo grupo que ela faz parte, a escola.

A rotina da traz segurança para criança, o que desconstrói o desenvolvimento de uma criança é a imprevisibilidade. Para a criança, saber que existe uma sequência de atividades a serem realizadas, uma sucessão de acontecimentos é importante e vai trazer segurança e confiança para ela ficar bem na escola.

REFERÊNCIAS

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______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: 1996.

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KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade/ organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Rangel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

KUHLMANN JR, M. Os intelectuais na história da infância.São Paulo: Cortez, 2013. 

MENDONÇA, Fernando Wolff. Teoria e Prática na Educação Infantil. Maringá, PR: UNICESUMAR, 2012.

MOURA, Margarida Custódio. Organização do espaço: contribuições para uma educação infantil de qualidade. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

OLIVEIRA, Vera Barros de (org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

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______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

ZABALZA, Miguel A. Qualidade em educação infantil. São Paulo: Artmed Editora, 2019.


1Licenciatura em História (FAFOPA) e Pedagogia (FAFOPA)

2Licenciatura Plena em Pedagogia (FACITE), Educação Especial (UNIFAVENI) e Artes (UNIFAVENI)

3Licenciatura Plena em Sociologia (UNIP) e Pedagogia (UNIFAVENI)

4Licenciatura Plena em Pedagogia (FACITE), Física (FAFOPA), Educação Especial
(UNIFAVENI) e Letras-Libras (UNIASSELVI); Bacharel em Letras-Libras (ÚNICA)

5Licenciatura Plena em Pedagogia (Fachusc) e Letras (UPE)

6Licenciatura Plena em Pedagogia (FARJ)

7Licenciatura Plena em Geografia (FAFOPA), Pedagogia (FAFOPA) e Letras (UNIFAVENI)

8Mestrado em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido (UNIVASF); Bacharelado em Administração (Cruzeiro do Sul); Licenciatura Plena em Pedagogia (FACITE) e Geografia (Cruzeiro do Sul)