REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12518443
Cláudia Ferreira de Andrade¹
Resumo
Ansiedade pode ser descrita como aflição, angústia, perturbação ou ainda como estado emocional frente a um futuro incerto e perigoso no qual um indivíduo se sente impotente e indefeso. Durante o atendimento odontológico, crianças podem atingir níveis extremos dessas manifestações, tornando muito difícil a realização de procedimentos pelo cirurgião-dentista. Essas sensações podem ser reduzidas através de estratégias lúdicas no manejo da criança. O uso da bolinha que emite som auxilia na redução da ansiedade e aumenta a confiança no profissional. Sendo assim, essa técnica se apresenta como uma alternativa positiva, causando uma boa impressão na primeira consulta odontopediátrica. Após relatos de literatura, concluiu-se que o uso do lúdico é uma estratégia positiva, sendo assim, a bolinha sonora se apresenta como uma alternativa para tornar o atendimento odontológico mais tolerável para as crianças e, por que não dizer, para adultos que também sofrem com ansiedade frente a um tratamento odontológico.
Palavras–chave: Manejo. Lúdico. Odontopediatria. Ansiedade.
Introdução
O uso de estratégias lúdicas para estabelecer uma boa comunicação entre o dentista e a criança demonstra empatia por parte do profissional e cria um ambiente mais acolhedor para a criança¹. Ao utilizar os órgãos dos sentidos: visão, olfato, tato e audição, cria-se um vínculo com o paciente, em especial com as crianças, portanto, o uso desses recursos é de grande valor no manejo. Sendo assim, é importante dar especial atenção ao ambiente odontológico, pois sons, cheiros, vestuário do profissional e abordagem tátil influenciam as reações emocionais do paciente tanto durante o procedimento odontológico quanto na relação com o dentista². A atuação do cirurgião-dentista deve ir além de uma mera ação curativa; ele deve atuar de modo a promover saúde e bem-estar de seus pacientes. É importante que o profissional utilize técnicas de manejo para que, com isso, possa garantir a boa execução dos procedimentos odontológicos em crianças³.
Revisão de Literatura
Ansiedade
A ansiedade é uma reação do organismo que envolve processos psicológicos, físicos, mentais e hormonais que ocorrem diante da necessidade de adaptação frente a um evento ou situação importante⁴. Tickle et al. (2009) realizaram um estudo de coorte prospectivo inicialmente com 1.404 crianças de 5 anos de idade. Após 4 anos de pesquisa, quando os participantes tinham 9 anos, foi realizada a segunda avaliação, a qual tinha por objetivo mensurar a ansiedade odontológica ao longo do tempo e examinar a relação entre cuidado dental e outros fatores. Os resultados mostraram que a prevalência da ansiedade entre as crianças aumentou de 8,8% para 14,6% ao longo dos 4 anos, e houve associação nas duas avaliações com o nível de ansiedade dos pais, além de um padrão irregular do atendimento odontológico e histórico de extração dentária⁵.
Manejo
No atendimento odontológico a crianças, o manejo constitui-se de técnicas e estratégias que favorecem o controle das emoções e do comportamento, resultando na diminuição do medo e ansiedade². Os métodos de manejo mais usados em odontopediatria são os seguintes:
Comunicação verbal: O profissional expressa verbalmente os procedimentos, dizendo ao paciente o que será realizado em seu tratamento².
Comunicação não verbal: Utiliza o contato, a postura e a expressão facial para orientar o comportamento do paciente².
Dizer-mostrar-fazer: Consiste em apresentar cada instrumento que será utilizado no tratamento, explicando para que serve e como funciona. Apenas depois de compreendido pelo paciente, inicia-se o tratamento².
Controle de voz: Quando o profissional faz uso do controle da voz para exercer sua autoridade no caso de uma conduta imprópria do paciente².
Distração: Mudar o foco da atenção do paciente para evitar um possível desconforto que gere ansiedade².
Linguagem corporal: Método pelo qual a mensagem é recebida para avaliar o nível de conforto e dor².
Modelagem: A criança assiste ao atendimento de outra que seja colaborativa, através de vídeo, ao vivo ou por encenação².
Lúdico
Segundo Barreto¹², o lúdico é um importante recurso para a compreensão do paciente, não estando limitado aos objetos de jogos e brinquedos, mas passando a desprender-se desses enquanto objetos e assumindo uma postura dotada de sensibilidade e envolvimento, acarretando uma mudança de caráter cognitivo¹². O lúdico tem um papel de fundamental importância na odontopediatria, já que nas crianças as manifestações psíquicas são muito mais intensas do que nos adultos. É muito importante observar as fases de vida das crianças para uma correta compreensão de seu comportamento¹³. Outro benefício em relação ao uso do lúdico é ele ser terapêutico, pois perceber, sentir, brincar e jogar contribuem para o bem-estar, sendo benéfico para a saúde física, mental e psíquica¹⁰. As interações lúdicas por meio de brinquedos ensinam que a resolução de problemas, sobretudo odontológicos, pode ser divertida e necessária. Faz com que o inconsciente grave informações com mais facilidade e também contribui para o aprendizado de outros membros da família. Os jogos e brinquedos, quando respeitam a idade da criança, podem ser mais efetivos que os procedimentos regularmente usados na tentativa de aprendizado da prevenção¹³.
Uso de brinquedos no manejo do paciente odontopediátrico
Com a intenção de melhorar a relação profissional-paciente, o Centro de Pesquisa e Atendimento Odontológico para Pacientes Especiais (Cepae), uma unidade de pesquisa e extensão da FOP-Unicamp, instituiu a figura do mascote, um pequeno animal de brinquedo carregado pelo profissional que atua neste centro e que é apresentado para a criança ainda na sala de espera como uma maneira de estabelecer uma comunicação entre eles. De forma empírica, notou-se uma melhora expressiva no processo de comunicação, proporcionando mais calma e segurança no atendimento odontológico¹⁷. Os resultados do estudo citado acima concluíram que incorporar brinquedos na prática odontológica para estreitar a interação entre paciente e profissional de saúde pode ser um fator importante para que a criança se torne mais colaborativa durante o atendimento odontológico¹⁷.
Discussão
É preciso que a odontologia conheça maneiras e estratégias para evitar o mau comportamento da criança no consultório odontológico². Às vezes, o paciente não consegue expressar o que está sentindo através de sua fala; é nesse momento que entra a atividade lúdica, através da qual a criança pode dar voz aos seus sentimentos¹³. Vários autores preconizam que as atividades lúdicas podem ser introduzidas no atendimento odontológico¹⁰. Livros, equipamentos eletrônicos, videogames e brinquedos são alguns exemplos de atividades lúdicas que podem ser introduzidas no consultório odontológico¹⁰. É importante que o dentista personalize seu consultório com luzes coloridas, músicas e outros detalhes, e ainda recompense a criança pelo seu bom comportamento com adesivos ou presentinhos. Usar um jaleco com estampas coloridas também faz com que a experiência da criança seja mais agradável e menos traumática¹¹.
Conclusão
Conclui-se que, dentre as estratégias lúdicas utilizadas no consultório odontológico para amenizar a ansiedade das crianças, fazer uso de uma bolinha que emite som quando é apertada pelo paciente para que este possa comunicar ao profissional que está sentindo algum tipo de desconforto, demonstra empatia por parte do dentista. A utilização da bolinha é uma forma de fazer com que a criança se sinta mais segura, sabendo que vai ser ouvida e que o dentista se importa e faz questão de saber como ela estará se sentindo durante o procedimento odontológico. Ainda, ao final do tratamento, a criança poderá ganhar a bolinha como forma de um reforço positivo quando ela colaborar para que o tratamento seja concluído com sucesso. Porém, é primordial que se façam mais pesquisas para explicitar a evidência científica forte que valide o impacto da bolinha que emite som para comunicação entre o paciente e o dentista.
Referências
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¹ Graduada pelo Curso de Odontologia da Universidade Paulista UNIP – São Paulo-SP. Pós-Graduada em Ortodontia pelo Núcleo de Estudos Odontológicos NEO – São Paulo-SP.