REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11215214
Alexsandro Cardoso dos Santos; Cleranir Malveira de Sousa; Helder Zuza Alves de Lima; Shirlei Soares Rodrigues da Silva; Orientadora de Conteúdo: Profª Ms. Laila Moussa; Orientador de Estrutura: Prof. Ms. Davison Resende.
Resumo
O assoalho pélvico (AP) é uma estrutura anatômica complexa e essencial localizada na parte inferior da pelve, composta por músculos, ligamentos e tecidos conjuntivos que tem como principal função a sustentação e balanceamento de pressão das estruturas abdomino-pélvicas, como a bexiga e reto, e em mulheres também vagina e útero, controle de continência urinária e fecal e via de passagem em partos vaginais. O termo Disfunção do Assoalho Pélvico (DAP) é usado para denotar uma variedade de distúrbios que atingem os músculos do assoalho pélvico, evoluindo em níveis de comprometimento que vão de moderado a grave Este trabalho tem a proposta de analisar, através de uma revisão da literatura, quais tratamentos fisioterapêuticos foram utilizados no manejo de DAP em mulheres praticantes de exercícios físicos de alto impacto e atletas. Para sua análise foram selecionados dez artigos nas plataformas PubMed, SCIELO, Google Scholar e Science Direct, datados entre os anos de 2010 a 2020 nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola. Conclui-se que o tratamento fisioterapêutico apresentou bons resultados no tratamento da incontinência urinária por esforço em mulheres praticantes de exercícios de alto impacto.
Palavras-chave: Assoalho pélvico; Fisioterapia; Atleta.
Abstract
The pelvic floor (PF) is a complex and essential anatomical structure located in the lower part of the pelvis, composed of muscles, ligaments and connective tissues whose main function is to support and balance the pressure of the abdomino-pelvic structures, such as the bladder and rectum, and in women also vagina and uterus, control of urinary and fecal continence and route of passage in vaginal births. The term Pelvic Floor Dysfunction (PAD) is used to denote a variety of disorders that affect the pelvic floor muscles, evolving into levels of impairment that range from moderate to severe. This work aims to analyze, through a literature review, which physiotherapeutic treatments were used in the management of PAD in women who practice high-impact physical exercises and athletes. For analysis, ten articles were selected from the PubMed, SCIELO, Google Scholar and ScienceDirect platforms, dated between 2010 and 2020. It is concluded that physiotherapeutic treatment presented good results in the treatment of stress urinary incontinence in women who practice high impact physical exercise.
Keywords: Pelvic floor; Physiotherapy; Athlete.
Introdução
O assoalho pélvico (AP) é uma estrutura anatômica complexa e essencial localizada na parte inferior da pelve, composta por músculos, ligamentos e tecidos conjuntivos (figura 1) que tem como principal função a sustentação e balanceamento de pressão das estruturas abdomino-pélvicas, como a bexiga e reto, e em mulheres também vagina e útero, controle de continência urinária e fecal e via de passagem em partos vaginais (DA SILVA, 2009). As suas principais funções:
Figura 1 – Demonstração do assoalho pélvico feminino (fonte: https://www.vanessacampanholi.com.br/post/41343-assoalhopelvico)
- Suporte estrutural: O assoalho pélvico desempenha um papel crucial no suporte e sustentação dos órgãos pélvicos, incluindo a bexiga, o reto e, nas mulheres, o útero. Essa função de suporte é crucial para manter esses órgãos em suas posições adequadas e prevenir o prolapso, que é o deslocamento ou queda de órgãos devido ao enfraquecimento dos músculos pélvicos.
- Controle muscular: Os músculos do assoalho pélvico têm uma influência direta sobre as funções internas e intestinais. Eles ajudam a controlar a micção (micção) e a defecação (eliminação das fezes) através de sua capacidade de contração e relaxamento. Quando esses músculos estão enfraquecidos, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal, o que significa perda involuntária de urina ou fezes.
- Função sexual: No contexto da função sexual, o assoalho pélvico também desempenha um papel relevante. Em homens, esses músculos estão envolvidos na ereção e na ejaculação. Nas mulheres, os músculos do assoalho pélvico tentaram para a sensação vaginal e ajudam a manter a força durante a relação sexual.
- Suporte visceral: Além do suporte aos órgãos pélvicos, o assoalho pélvico também oferece suporte aos órgãos internos na cavidade abdominal, ajudando a sustentar o intestino grosso e a bexiga, entre outros órgãos. Isso é essencial para evitar o estresse excessivo sobre as estruturas circundantes e manter uma função adequada desses órgãos.
- Estabilidade postural e respiratória: O assoalho pélvico desempenha um papel na estabilidade postural e na praticante de exercícios. Ele trabalha em conjunto com os músculos abdominais, lombares e diafragma para manter a postura ereta, confiante para a estabilidade do tronco. Durante a inspiração, o assoalho pélvico atua na coordenação com o diafragma para ajudar na regulação da pressão intra-abdominal.
- Parto: Durante o parto vaginal, os músculos do assoalho pélvico se distendem para permitir a passagem do bebê pelo canal de parto. Uma musculatura pélvica saudável e elástica é importante para facilitar esse processo e evitar possíveis complicações, como lesões musculares ou do nervo.
O termo Disfunção do Assoalho Pélvico (DAP) é usado para denotar uma variedade de distúrbios que atingem os músculos do assoalho pélvico, evoluindo em níveis de comprometimento que vão de moderado a grave (LOUIS- CHARLES et al, 2019). Dentre as disfunções do assoalho pélvico, há sete classificações distintas: incontinência crônica (IU), incontinência crônica de esforço (IUE), incontinência crônica de urgência (IUU), incontinência crônica mista (IUM), incontinência fecal ou anal (IA), prolapso de órgãos pélvicos, anormalidades sensoriais e esvaziamento do trato urinário inferior, disfunções defecatórias, disfunções sexuais e dores crônicas na região pélvica (BARACHO et al, 2018).
As DAP têm maior prevalência em indivíduos do sexo feminino e diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento incluindo idade, predisposição genética, atrofia muscular devido a falta de uso ou falta de consciência corporal, histórico de cirurgias pélvicas e obesidade. Durante a gestação, existe uma propensão a recidência de algumas formas de DAP, mas considerando as alterações fisiológicas e morfológicas atreladas ao processo, normalmente a sua gravidade é considerada baixa (MILSOM et al, 2019).
Nos últimos anos, as mulheres têm se destacado em diversas atividades esportivas. Contudo, é importante reconhecer que qualquer prática esportiva está submetida a lesões ou disfunções causadas por uma variedade de fatores com múltiplos níveis de complexidade a prática de exercícios físicos vigorosos (VIRTUOSO et al. 2015). Esportes que envolvem movimentos como saltos, corridas ou outros movimentos de intensidade relativamente moderada nos membros inferiores podem exercer maior estresse nas estruturas do assoalho pélvico (AP) (SORRIGUETA-HERNÁNDEZ et al, 2020) e tem maior impacto no aumento da probabilidade de desenvolvimento de disfunções como a incontinência urinária. Estudos apontam que na faixa e etária de meia-idade aproximadamente 30% das mulheres sofrem de IU e essa incidência sobe para 47% entre as mulheres que se exercitam regularmente (PIRES et al, 2020). Atividades de baixa intensidade não foram descritas como correlacionadas com o aumento da IUE mas as atividades de alto impacto demonstram um aumento significativo nas taxas de incidência da disfunção e estudos comparativos mostram um nível relativamente elevado de IU em atletas, quando comparado a não praticantes de esportes. Além disso a IU ocorre de duas a quatro vezes mais em mulheres do que em homens, sendo que a IUE é mais comum em mulheres que tiveram gestações múltiplas (MAHONEY et al, 2023).
No estudo realizado por KOENIG et al. (2021), são exploradas investigações que evidenciam um aumento na prevalência da incontinência de esforço (IUE) entre jovens atletas sem histórico de parto, registrando uma taxa de 25,9% em diferentes esportes que se caracterizam por atividades de alto impacto. O crossfit, por exemplo, é uma modalidade que atualmente vivenciou considerável popularidade e atraiu uma parcela significativa de adeptos do sexo feminino. No entanto, essa modalidade exige não apenas um nível sólido de cobertura física, mas também uma musculatura do assoalho pélvico (AP) bem condicionada, visto que se trata de uma atividade física vigorosa e de alto impacto. Consequentemente, tal atividade gera um aumento na pressão intra-abdominal acarretando alto nível de estresse no AP (MAHONEY et al, 2023).
A alta prevalência de incontinência urinária (IU) em mulheres jovens e nulíparas pode estar relacionada a danos nos ligamentos e no tecido conjuntivo devido à pressão abdominal aumentada por atividades que exigem esforço físico intenso e tosse crônica. Mulheres sem histórico de gestação podem ter fraqueza genética no tecido conjuntivo e menos fibras musculares no assoalho pélvico, levando à IU. Exercícios extenuantes podem causar fadiga muscular no assoalho pélvico, prejudicando a contração muscular e levando à perda da continência. Atividades físicas de alto impacto podem sobrecarregar o assoalho pélvico e resultar em IU (ALMEIDA e MACHADO et al, 2012).
Visando a reabilitação do AP, a literatura cita que os métodos de avaliação mais realizados durante as sessões de fisioterapia para recuperação pós DAP são: (1) avaliação da força e integridade da musculatura do assoalho pélvico com toque bidigital, exame físico por meio do qual é possível avaliar a contração e o acionamento da MAP, além de graduar a força e a manutenção de contração (Figura 2), além do biofeedback o treinamento de exercícios de resistência utilizando cones vaginais (Figura 3), estimulação elétrica do AP (Figura 4) e uso de dispositivos de biofeedback eletromiográfico (Figura 5) destinam-se a conscientização e a elaboração das funções musculares e ao aprendizado de seu controle.
Figura 2- Toque do Assoalho Pélvico Feminino (fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-1- Avaliacao-dos-musculosdo-assoalho-pelvico-atraves-de-toque-manual-bidigital_fig1_323465186)
Figura 3 – Cones vaginais (fonte:https://lojadafisioterapiapelvica.com.br/product /kit-cones-vaginais-femcone-quark- medical-kit-bolsa/)
Figura 4 – Dualpex 961 PRO – Eletroestimulação ginecológica (fonte:https://www.hbfisio.com.br/dualpex-961-uro- eletroestimulacaoginecologica-pr-108-393794.htm)
Figura 5 – Perina Stim – Eletroestimulação e Biofeedback (fonte:https://www.hbfisio.com.br/perina- stimeletroestimulacao-e-biofeedback-pr-110- 393794.htm)
Arnold Kegel foi o primeiro a descrever e promover estudos com exercícios perineais, na década em 1940. Para avaliar a contração da musculatura perineal, Kegel utilizava o perineômetro, um dispositivo sensível à pressão e que permitia a observação visual do registro de pressão, possibilitando melhor didática de reeducação de contração do AP (figura 5). A vantagem de seu uso está relacionada a sua aplicação não apenas para avaliação funcional do assoalho pélvico, mas também com o intuito terapêutico quando aliado a técnicas de biofeedback. Essa modalidade de tratamento, que é refinada, destina-se à conscientização e à elaboração das funções musculares e ao aprendizado de seu controle (PINHEIRO et al, 2012).
Avaliação Individualizada
A abordagem de Avaliação Individualizada no contexto do fortalecimento do assoalho pélvico em mulheres atletas é de fundamental importância para compreender a complexidade e particularidades de cada indivíduo. A avaliação individualizada requer a aplicação de protocolos clínicos prescritos, englobando métodos de avaliação específicos para o assoalho pélvico, como o já citado toque do assoalho pélvico com a integração de tecnologias como a ultrassonografia transperineal para proporcionar uma visualização em tempo real da musculatura do assoalho pélvico durante a contração e relaxamento, permitindo uma avaliação mais precisa da função muscular.
Através dessa avaliação detalhada, é possível identificar possíveis assimetrias musculares, déficits de força, coordenação e resistência, bem como fatores contribuintes, como a pressão intra-abdominal durante atividades físicas. A compreensão destes aspectos direciona a formulação de um plano de intervenção altamente personalizado, que contempla exercícios e técnicas específicas direcionadas às necessidades individuais do atleta (FEBRASGO,2018).
Exercícios de Kegel
Como as mulheres com incontinência urinaria podem perder urina durante a corrida, os Exercícios de Kegel, nomeados em homenagem ao médico Arnold Kegel, constituem uma intervenção amplamente reconhecida e utilizada na promoção do fortalecimento do pélvico. Fundamentados na premissa da contração e alongamento voluntário dos músculos perineais e pélvicos, esses exercícios visam aprimorar a função muscular, resistência e coordenação dessa região anatômica crítica.
A execução correta dos Exercícios de Kegel requer um entendimento claro da localização e sensação dos músculos do piso pélvico e a conscientização e isolamento desses músculos é essencial para maximizar a eficácia dos exercícios. O estabelecimento de uma prática regular e consistente dos Exercícios de Kegel é crucial para obter ótimos resultados. Recomenda-se inicialmente um protocolo com séries de contrações de curta duração (2-3 segundos) intercaladas com períodos de relaxamento, seguidos por séries de contrações sustentadas (10 segundos ou mais). O aumento gradual da intensidade e duração das contrações ao longo do tempo contribui para o fortalecimento progressivo dos músculos do assoalho pélvico (OLIVEIRA et al.,2007).
A incorporação dos Exercícios de Kegel pode ser tanto em repouso quanto durante a realização de atividades físicas, como durante a prática esportiva. Essa aplicação funcional visa aprimorar a capacidade dos músculos do assoalho pélvico em responder a demandas variáveis de força e coordenação, especialmente durante a execução de movimentos vigorosos e de alto impacto.
Biofeedback
A aplicação de técnicas de biofeedback no contexto do fortalecimento do assoalho pélvico representa um avanço significativo na promoção da conscientização e aprimoramento da técnica de contração muscular, especialmente para atletas que podem ter dificuldades em identificar e isolar corretamente os músculos do assoalho pélvico. O biofeedback é uma abordagem terapêutica que utiliza dispositivos tecnológicos para transmitir informações visuais, auditivas ou táteis em tempo real sobre a atividade muscular, permitindo que os atletas tenham uma percepção mais tangível de seus exercícios musculares. As informações coletadas são então simplificadas de forma visual (por meio de gráficos ou ícones que indicam a intensidade da contração) ou auditiva (por meio de sons que variam de acordo com a atividade muscular) (OLIVEIRA et al,2007).
Além de auxiliar na conscientização muscular, o biofeedback também é capaz de quantificar o progresso ao longo do tempo, permitindo que os atletas acompanhem e ajustem seus esforços de fortalecimento. Esse monitoramento contínuo é essencial para adaptar o programa de exercícios e otimizar o desempenho do assoalho pélvico.
Treinamento Funcional
O Treinamento Funcional no contexto do fortalecimento do assoalho pélvico constitui uma abordagem que transcende os exercícios isolados, buscando a integração direta dos exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico aos padrões de movimento característicos das atividades esportivas realizadas pelos atletas. Essa estratégia visa melhorar a funcionalidade dos músculos do assoalho pélvico não apenas em isolamento, mas também durante a realização de movimentos esportivos dinâmicos e exigentes. No entanto, a implementação do Treinamento Funcional requer uma compreensão profunda das exigências biomecânicas dos esportes para atletas. Além disso, é fundamental que a progressão seja gradual, permitindo que os músculos do assoalho pélvico se adaptem gradualmente às novas demandas. A orientação de um fisioterapeuta ou profissional de saúde qualificado é essencial para garantir uma integração segura e eficaz do Treinamento Funcional no programa de fortalecimento do assoalho pélvico das atletas (GLASMAN, 2003).
Treinamento Externo de Resistência
O Treinamento Externo de Resistência constitui uma estratégia estratégica no fortalecimento do assoalho pélvico, envolvendo o uso de acessórios específicos, como cones vaginais ou pesos, para oferecer uma forma intensificada e desafiadora de exercício. Essa abordagem é fundamentada na aplicação de carga externa nos músculos do assoalho pélvico, visando promover um fortalecimento mais profundo e efetivo.
Os cones vaginais, por exemplo, são dispositivos em formato cônico que são inseridos na vagina e desafiando a musculatura do assoalho pélvico para manter a sua sustentação. Esses cones geralmente possuem pesos variáveis, o que permite às atletas aumentar a resistência, proporcionando uma adaptação gradual dos músculos a diferentes níveis de intensidade. Da mesma forma, os pesos vaginais, também conhecidos como pesos de Kegel, são inseridos na vagina e exigem contrações musculares ativas para mantê-los no lugar. Essa resistência adicional exige um esforço mais substancial por parte dos músculos do assoalho pélvico, evoluiu em um fortalecimento mais profundo (OLIVEIRA et al, 2007).
A supervisão de um profissional de saúde ou fisioterapeuta é crucial para determinar o peso e a resistência apropriada, bem como para instruir sobre a técnica correta de uso dos acessórios. Além disso, a escolha do tipo de acessório deve ser personalizada para cada atleta, levando em consideração fatores como o nível de condicionamento, objetivos e possíveis disfunções pélvicas pré- existentes.
Exercícios de Estabilização do Core
Os Exercícios de Estabilização do Core desempenham um papel fundamental no fortalecimento do assoalho pélvico, uma vez que esses dois sistemas musculares estão intimamente interconectados. O core, que compreende os músculos do abdômen, lombar, pelve e diafragma, atua como uma base sólida para a eficácia do assoalho pélvico. Essa relação sinérgica é crucial tanto para o desempenho atlético quanto para a prevenção de disfunções pélvicas. (GLASMAN, 2003).
Para fortalecer essa relação entre o core e o assoalho pélvico, é recomendado incorporar exercícios que visam a estabilizar e fortalecer de ambos os grupos musculares. Exercícios de prancha, por exemplo, promovem a ativação simultânea dos músculos do core e do assoalho pélvico para sustentar a postura. Além disso, exercícios de equilíbrio, como os realizados sobre uma perna só, também exigem um trabalho coordenado entre o núcleo e o assoalho pélvico para manter a estabilidade (GLASMAN, 2003).
Treinamento Respiratório
O Treinamento Respiratório é uma estratégia fundamental no contexto do fortalecimento do assoalho pélvico, uma vez que a coordenação entre a treinada e a ativação dos músculos do assoalho pélvico desempenham um papel crucial tanto no desempenho atlético quanto na prevenção de disfunções pélvicas. Essa abordagem visa ensinar técnicas de procedimentos respiratórios que registram a sincronização eficiente entre a atividade respiratória e a contração dos músculos do assoalho pélvico durante a atividade física.
A relação entre os atletas e os músculos do assoalho pélvico é intrínseca. Durante a inspiração, os músculos do assoalho pélvico tendem a relaxar, permitindo uma expansão adequada do diafragma. Por outro lado, durante a expiração, os músculos do assoalho pélvico se contraem para fornecer estabilidade à região pélvica e sustentar a pressão intra-abdominal gerada durante a atividade física (GLASMAN, 2003).
Progressão Gradual
A abordagem de Progressão Gradual é uma diretriz fundamental no desenvolvimento de um programa de fortalecimento do assoalho pélvico, visando garantir uma adaptação segura e eficaz dos músculos às novas demandas. Essa estratégia envolve iniciar os treinos com baixa intensidade e, gradualmente, aumentar a intensidade, duração e complexidade dos treinos, evitando assim a sobrecarga que poderia levar a lesões ou desconforto.
O princípio da progressão gradual é essencial para permitir que os músculos do assoalho pélvico se adaptem e se fortaleçam de maneira saudável. Começar com exercícios de baixa intensidade permite que os músculos se familiarizem com a ativação e a contração, enquanto minimiza o risco de fadiga precoce ou sobrecarga. À medida que a força e a resistência aumentam, os exercícios podem ser modificados para oferecer maior desafio aos músculos.
A progressão pode ocorrer em várias dimensões:
- Intensidade: Aumentar a intensidade dos exercícios gradualmente, seja através da resistência utilizada, da duração das contrações ou da complexidade do movimento.
- Duração: Incrementar o tempo de execução dos exercícios, prolongando as séries de contrações ou relaxamentos.
- Complexidade: Introduzir variações nos padrões de movimento ou incorporar diferentes tipos de exercícios para envolver grupos musculares múltiplos.
- Carga: utilizando acessórios como cones vaginais ou pesos de Kegel para fornecer resistência adicional aos músculos do assoalho pélvico.
- Frequência: Aumente gradativamente a frequência semanal dos exercícios, permitindo que os músculos se adaptem ao estímulo de fortalecimento.
Objetivos Geral
Revisar a literatura sobre a atuação da fisioterapia nas IU em atletas de diferentes modalidades esportivas.
Objetivos Específicos
- Revisar os instrumentos de avaliação fisioterapêutica.
- Revisar os recursos fisioterapêuticos utilizados.
Metodologia
Estudo teórico através de revisão narrativa da literatura.
As bases de dados científicas utilizadas para pesquisa foram: PubMed, SCIELO, Google Scholar e Science Direct com utilização das palavras-chave relacionadas ao tema central deste trabalho: assoalho pélvico, fisioterapia e atleta 2010 a 2020 nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, seus correspondentes em inglês, agrupados com os operadores “e” ou “ou”.
O presente estudo trata de uma revisão narrativa onde foram localizados estudos relacionados ao tema.
Resultados
Considerados estudos publicados nos últimos anos considerando a análise da fundamentação teórica dos estudos e a observação das características gerais dos artigos, tais como ano de publicação, autor, tipo de estudo, seguidos de métodos e conclusão e para garantir a inclusão de todas as informações pertinentes, foram examinadas as listas de referências dos estudos incorporados a esta revisão, e a funcionalidade de “artigos semelhantes” do banco de dados PubMed foi utilizada.
A busca eletrônica resultou em 142 artigos distintos após a mescla de resultados de todas as plataformas de pesquisa e posteriormente ao uso das medidas de seleção, 02 estudos foram selecionados para análise. A justificativa das exclusões dos artigos estão presentes na Figura 6. Os estudos selecionados para revisão, bem como seus objetivos, metodologia e resultados estão descritos na Tabela 1.
Duas pesquisas foram realizadas para avaliar a eficácia de intervenções fisioterapêuticas em atletas com incontinência urinária de esforço. O estudo de Da Roza et al. (2012) mostrou melhorias estatisticamente significativas na pressão de repouso e contração voluntária máxima do assoalho pélvico, redução das perdas de urina e impacto positivo na qualidade de vida. O estudo de Pires et al. (2020) encontrou melhorias na CVM e redução das perdas urinárias, mas sem melhora na qualidade de vida.
Tabela 1 – Descrição dos estudos selecionados para a revisão.
Autores/ano | Tipo | Amostra | Avaliação | Intervenção | Resultado |
Da Roza et al. (2012) | Estudo clinico piloto | 7 mulheres com a faixa etária média de 20 anos que apresentavam IU enquanto praticavam exercícios como ginástica, trampolim, nado sincronizado, patinação e handebol. | Palpação vaginal foi utilizada para verificar a correta ativação voluntária dos MAP; Perineometria foi utilizada para mensurar a pressão de repouso e CVM durante contrações rápidas e sustentadas por 2 a 3 segundos em decúbito dorsal; Questionário clínico com relação a impactos na qualidade de vida. | O programa de intervenção foi conduzido por 3 fisioterapeutas especializadose Em reabilitação do assoalho pélvico durante 8 semanas, o protocolo consistia em 4 etapas, conduzidas durante 2 semanas cada: (1) consciência do MAP com base no feedback durante a palpação vaginal, (2) contração do MAP em diferentes posições com pesos progressivos adicionados às extremidades inferiores, (3) tentativas de contrair os MAP durante atividades de corrida e caminhada e (4) tentativas de contrair os MAP durante atividades esportivas. | As mulheres mostraram uma melhora estatisticamente significante na pressão de repouso e CVM, redução dos eventos de perdas de urina e impacto positivo na qualidade de vida. |
Pires et al. (2020) | Estudo clinico randomizado. | 13 mulheres com idade média de 22 anos, atletas de vôlei de elite com IUE durante a prática do exercício. | Palpação vaginal bidigital e perineometria para mensurar a pressão de repouso e CVM durante contrações rápidas e sustentadas por 3 segundos em litotomia; Pad-test para quantificar as perdas urinárias; questionário clínico com relação aos impactos na qualidade de vida. | Grupo experimental (n=7): composto por treinos alternados domiciliares e supervisionados de TMAP, com foco em fibras rápidas e lentas, aplicados durante gestos esportivos, além de exercícios de estabilização, durante 16 semanas. O TMAP domiciliar foi realizado com auxílio de um aplicativo. Grupo controle (n=6): não recebeu intervenção. | As mulheres apresentaram melhora significativa da CVM intra e intergrupo, além de redução significativa das perdas de urina, embora não tenha se observado melhora na qualidade de vida. |
Discussão
Em ambos os estudos selecionados é possível observar a escolha de uma faixa etária considerada jovem com queixas de ocorrência IUE durante a prática de atividade física, demonstrando que o desenvolvimento de disfunções do assoalho pélvico devido a exposição à aumentos de pressão intrabdominal de forma contínua independe da idade da atleta, trazendo prejuízo à sua qualidade de vida (HAGOVSKA et al., 2018). Os estudos usaram métodos de avaliação semelhantes, ambos utilizaram técnicas de palpação, perineometria e questionário para verificar o impacto da IU na qualidade de vida. Dentre os estudos que passaram pelo filtro de pesquisa, apenas PIRES et al., 2020, utilizaram o Pad-test, como forma de quantificar a perda de urina durante testes de esforço. Este teste é um instrumento que fornece informações objetivas quanto às queixas, diferentemente questionário clínico convencional que é baseado em auto-relatos do paciente quanto às condições de incontinência.
Referente ao tratamento, destaca-se a utilização do treinamento da musculatura do assoalho pélvico como forma de manejo da IU em mulheres atletas. Este treinamento possui a finalidade de recuperar o controle das micções, através do fortalecimento do componente muscular periuretral, aumentando o tônus e melhorando a transmissão das pressões na uretra. O treino baseado na contração voluntária dos músculos do pavimento pélvico proporciona sua elevação e aproximação, e, como consequência, estimulam o fechamento uretral favorecendo assim os mecanismos de continência destacados nos estudos de Da Roza e col. (2011).
Os dois estudos seguiram protocolos de treinamento dos músculos do assoalho pélvico de acordo com o recomendado pela literatura, trabalhando com diferentes níveis de sobrecarga, posturas e associando a combinação destes fatores com gestos esportivos que colaboravam para a ocorrência de eventos de perda. Com isso, foram observados resultados positivos, como a redução das queixas de perdas urinárias, melhora da pressão uretral de repouso, além de aumento contração voluntária máxima rápida e sustentada.
Pôde-se observar que o estudo de Da Roza et al. (2012) realizou intervenção por 8 semanas, de forma totalmente supervisionada, enquanto o de Pires et al. (2020) realizou a intervenção ora supervisionada, ora domiciliar por 16 semanas. Ambos obtiveram resultados positivos com as intervenções, embora seja preconizado o treino supervisionado para que se tenha resultados mais satisfatórios (Bo, 2015). Uma limitação para os pesquisadores seria identificar quais mulheres conseguem de fato realizar de forma correta as orientações em casa, embora acreditamos que ambas as intervenções tenham sido positivas, visto que o trabalho com atletas seja diferenciado, uma vez que elas já são disciplinadas quanto à prática de atividade física regular. A frequência semanal de sessões não foi relatado em ambos estudos.
Quanto ao impacto das intervenções na qualidade de vida, apenas o estudo de Da Roza et al. (2012) demonstrou melhora significativa. Como discutido no artigo de Pires et al. (2020), o impacto da IU nas mulheres atletas selecionadas para o estudo foi o mínimo negativo inicialmente, não se mostrando estatisticamente significante quando comparado pré e pós-tratamento, embora tivesse uma pequena melhora.
Conclusão
O acometimento de mulheres atletas por DAP é comum e afeta seu desempenho e progressão dentro do esporte, muitas vezes acarretando no abandono à pratica esportiva. As DAP podem desencadear receio do gesto esportivo diante uma possível IU, o que pode gerar diminuição da adesão aos treinos e, subsequente baixa do desempenho esportivo ou abandono por insegurança e constrangimento gerados pelas DAP, sendo um fator de influência psicológica acarretado perante uma disfunção biológica. Perante a análise dos presentes estudos que compõem esta revisão, foi constatado a suma importância da presença de um fisioterapeuta adequadamente especializado para o devido manejo das DAP no contexto esportivo feminino, seja de alto rendimento ou não. Pois sua expertise no tratamento das DAP traz inúmeros benefícios para a prática de desportos advindo do tratamento de primeira linha no manejo das disfunções com abordagem conservadora (não cirúrgica). Como por exemplo o TMAP que visa ganhar funcionalidade adequada dos MAP para assim tratar e prevenir disfunções posteriores e proporcionar uma prática esportiva de melhor qualidade. Embora a prática esportiva feminina tenha crescido de forma exponencial nos últimos tempos, as DAP, em âmbito esportivo, ainda necessitam de mais estudos a respeito.
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