REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505310024
Ana Cláudia Silva Leite Rodrigues¹
Resumo
Este artigo apresenta um recorte de uma pesquisa realizada sobre as estratégias de ensino da interpretação textual na alfabetização infantil em uma escola municipal de Porto Velho, no ano de 2025. Motivada pela experiência da autora e pela persistente problemática do baixo desempenho dos alunos em interpretar textos, a investigação concentrou-se na análise dos dados obtidos por meio de questionários aplicados a pais, professoras e à coordenadora pedagógica. O objetivo central do estudo é mapear e analisar as percepções desses participantes em relação às estratégias adotadas para o ensino da interpretação textual, bem como as principais dificuldades e as contribuições identificadas no cotidiano escolar. A abordagem metodológica adotada foi quantitativa, utilizando a aplicação de questionários estruturados junto a três turmas do 2º ano do ensino fundamental, suas respectivas professoras, a coordenadora pedagógica e os pais dos alunos. Os resultados indicam que, embora as professoras planejem atividades de leitura e interpretação textual e a maioria dos pais relate envolver-se em práticas de leitura com seus filhos, ainda há limitações no acesso a materiais de leitura e variações no uso de recursos pedagógicos. A coordenadora pedagógica reforça a importância da leitura compartilhada e do diálogo entre escola e família. O estudo, ao abordar a perspectiva quantitativa, contribui com dados relevantes para o aprimoramento das práticas pedagógicas e para a mobilização de esforços em favor do desenvolvimento da interpretação textual desde o início da escolarização.
Palavras-chave: Interpretação textual; Alfabetização; Ensino fundamental; Abordagem quantitativa; Questionário; Estratégias pedagógicas.
Abstract
This article presents a quantitative segment of research conducted on teaching strategies for textual interpretation in early literacy at a municipal school in Porto Velho, Brazil, in 2025. Motivated by the author’s experience and the persistent challenge of students’ low performance in text interpretation, the study focused on the analysis of data obtained through questionnaires administered to parents, teachers, and the pedagogical coordinator. The main objective was to map and analyze participants’ perceptions regarding the strategies adopted for teaching textual interpretation, as well as the main difficulties and contributions identified in the school environment. The methodological approach was quantitative, using structured questionnaires with three second-grade classes, their respective teachers, the pedagogical coordinator, and the students’ parents. The results indicate that, although teachers plan reading and text interpretation activities and most parents report engaging in reading practices with their children, there are still limitations in access to reading materials and variations in the use of pedagogical resources. The pedagogical coordinator emphasizes the importance of shared reading and dialogue between school and family. By highlighting the quantitative perspective, this study contributes relevant data to improve pedagogical practices and foster efforts to strengthen the development of textual interpretation from the beginning of schooling.
Keywords: Textual interpretation; Literacy; Elementary education; Quantitative approach; Questionnaire; Teaching strategies.
1 INTRODUÇÃO
A alfabetização infantil é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento pleno das crianças, pois marca o início da inserção no universo da leitura e da escrita. Entretanto, o processo de aprender a ler não se resume à decodificação de palavras ou à memorização de sons e letras. Envolve, sobretudo, a construção de sentido, a compreensão textual e a capacidade de refletir criticamente sobre as informações apresentadas. As demandas da sociedade contemporânea exigem sujeitos capazes de ler, interpretar e dialogar com múltiplos gêneros discursivos, tornando essencial a formação de leitores autônomos, críticos e proficientes desde os primeiros anos escolares.
Nesse contexto, a interpretação de textos assume papel central, pois é por meio dela que o estudante pode transcender o simples reconhecimento dos códigos gráficos, assumindo uma postura ativa diante do texto. Tal competência não nasce espontaneamente, mas é resultado de práticas pedagógicas intencionais que promovem o desenvolvimento da linguagem, da análise e da reflexão. O desafio maior está em preparar o ambiente escolar, bem como os métodos de ensino, para ir além do ensino mecânico, incentivando a aplicação de estratégias de leitura diversificadas e contextualizadas à realidade dos alunos.
Ao considerar esses aspectos, torna-se imprescindível o envolvimento de toda a comunidade escolar – professores, familiares e demais agentes educativos – na construção de percursos que valorizem a mediação, o diálogo e a experimentação. A compreensão leitora, desde a alfabetização, deve ser trabalhada de forma articulada e significativa, possibilitando que as crianças desenvolvam não apenas habilidades técnicas, mas também atitudes investigativas e criativas frente ao mundo dos textos.
Assim, este artigo propõe uma reflexão aprofundada sobre a importância da interpretação de textos no processo de alfabetização infantil, destacando o papel das estratégias, das práticas pedagógicas inovadoras e da mediação docente no desenvolvimento de leitores competentes. Ao analisar as contribuições de autores consagrados e os desafios enfrentados no contexto escolar brasileiro, busca-se indicar caminhos para o aprimoramento da prática educativa e para a efetiva promoção de uma cultura leitora que seja crítica, autônoma e democrática.
A partir desse panorama, evidencia-se que o compromisso com a leitura de qualidade vai além da técnica: trata-se de um investimento na cidadania, na emancipação e na formação de sujeitos capazes de interagir criticamente com a multiplicidade de discursos presentes na sociedade contemporânea. Por isso, é fundamental repensar e fortalecer as práticas pedagógicas, articulando esforços entre escola, família e comunidade a fim de garantir o direito à leitura e à compreensão dos textos desde os primeiros anos escolares.
Desse modo, o desenvolvimento da competência leitora e interpretativa na alfabetização não é um fim, mas um processo contínuo e coletivo, cuja efetividade depende de práticas contextualizadas e de uma abordagem sensível às singularidades de cada estudante. O desafio, portanto, consiste em articular teoria e prática para que o ensino da leitura ultrapasse o caráter instrumental e se afirme como uma experiência de construção de sentido, de diálogo e de transformação social.
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS
A interpretação de textos durante o processo de alfabetização infantil ocupa papel central na formação de leitores críticos, autônomos e proficientes. Não se limita à mera decodificação de signos gráficos, mas engloba a habilidade de atribuir sentido, analisar informações e refletir sobre os conteúdos presentes nos textos. Esse processo demanda um trabalho pedagógico cuidadoso que ultrapassa o ensino técnico das letras, pois requer também a construção de estratégias de compreensão e o desenvolvimento do pensamento crítico. Diversos estudiosos, como Magda Soares (2003) e Isabel Solé (1998), contribuem de forma relevante para a compreensão teórica e prática desse fenômeno.
A renomada professora e pesquisadora Magda Soares (2003) enfatiza que alfabetização e letramento devem caminhar juntos no início da trajetória escolar. Para ela, alfabetizar significa ensinar o sistema de escrita, enquanto letrar implica ensinar a utilizar a leitura e a escrita em situações reais e diversas do cotidiano. “Alfabetizar letrando” é, portanto, garantir que a criança não apenas aprenda a decodificar palavras, mas se aproprie do repertório social, cultural e funcional da linguagem escrita. Essa perspectiva amplia o papel do ensino, integrando aspectos cognitivos e sociais, ao considerar que a compreensão textual se revela quando o estudante constrói sentido ao interagir com os mais variados gêneros textuais.
É importante ressaltar que, diferentemente da aquisição da linguagem oral—que ocorre de maneira espontânea no convívio social—o domínio da leitura demanda um ensino sistematizado, pois envolve desafios que vão além da pronúncia correta das palavras. Nesse contexto, a Política Nacional de Alfabetização (PNA) tem promovido debates sobre abordagens pedagógicas mais eficazes, com base em resultados de pesquisas científicas. A PNA identifica seis componentes indispensáveis para o sucesso nas séries iniciais: consciência fonêmica, instrução fônica sistemática, vocabulário, fluência na leitura oral, compreensão de textos e produção escrita. Cada um desses elementos se articula para formar uma base sólida, favorecendo tanto o reconhecimento de palavras quanto a elaboração de sentidos durante a leitura.
Para compreender de modo mais detalhado como essas habilidades se articulam, é pertinente mencionar o modelo das “Cordas de Scarborough”, frequentemente utilizado para representar a complexidade do ato de ler. Esse modelo propõe que a leitura eficiente resulta do entrelaçamento de múltiplos fios—ou habilidades—agrupados em dois grandes eixos: reconhecimento de palavras e compreensão da linguagem. À medida que esses fios vão sendo fortalecidos pelas experiências escolares, a leitura passa a acontecer de maneira mais fluente e integrada, facilitando a superação de desafios próprios dessa etapa.
Aprofundando ainda mais a discussão, o desenvolvimento da competência leitora exige que o trabalho pedagógico seja planejado de modo a envolver tanto o ensino sistemático de reconhecimento das palavras quanto o estímulo a práticas significativas de compreensão. No cotidiano da sala de aula, isso significa propor atividades que valorizem a construção coletiva de sentido, a ativação de conhecimentos prévios, a mobilização do raciocínio inferencial e a discussão crítica de diferentes interpretações. O estímulo ao diálogo sobre textos diversos, à formação de hipóteses e ao questionamento do sentido das palavras e frases são recursos valiosos nesse processo.
Dessa maneira, investir em práticas pedagógicas que trabalhem de forma integrada essas duas dimensões—decodificação e compreensão—é indispensável para garantir que o aprendizado da leitura seja efetivo e permanente. É preciso promover situações que desafiem os alunos a irem além da leitura superficial, incentivando-os a analisar ideias, argumentar e construir relações entre a leitura e suas próprias vivências.
Em síntese, o ensino da interpretação de textos na alfabetização exige sensibilidade pedagógica, atualização teórica e práticas inovadoras capazes de envolver as crianças em processos reais de construção de sentido. Formar leitores competentes é um desafio que perpassa não apenas a aprendizagem do código escrito, mas, sobretudo, o desenvolvimento da capacidade de ler, compreender e transformar o mundo — objetivo maior da educação.
Quando o assunto é a compreensão leitora, Isabel Solé (1998) desempenha um papel fundamental ao sistematizar estratégias capazes de aprimorar significativamente o processo de leitura. Segundo a autora, compreender um texto demanda mais do que identificar palavras, pois envolve uma série complexa de operações cognitivas. O leitor, além de decodificar, deve ser capaz de construir sentido, relacionando informações novas aos conhecimentos já adquiridos e ativando permanentemente sua capacidade de análise crítica e reflexiva. Tal perspectiva se amplia ao considerar que a compreensão não é apenas o resultado da leitura, mas um processo contínuo que começa antes mesmo do primeiro contato com o texto e se estende ao longo de toda a experiência leitora.
Brandão e Leal (2005) destacam, entretanto, um problema recorrente no contexto escolar brasileiro: o ensino de leitura, muitas vezes, prioriza a abordagem gramatical e estrutural dos textos em detrimento do desenvolvimento das competências de compreensão global. Nessa lógica, os esforços dos docentes concentram-se em “esgotar” conteúdos curriculares e estruturar tecnicamente o texto, relegando a segundo plano o fundamental acompanhamento das interpretações individuais dos alunos. Esse distanciamento acaba por limitar o alcance do trabalho pedagógico, já que compreender ultrapassa a simples análise gramatical ou identificação de temas superficiais.
Solé defende com ênfase o ensino explícito de estratégias de leitura como ferramenta indispensável para potencializar o entendimento dos estudantes. Estratégias como levantar hipóteses, fazer inferências e organizar sínteses não só aprimoram a compreensão, mas também estimulam nos alunos a autonomia para monitorar e ajustar o processo de leitura conforme suas necessidades. Quando os desafios surgem—situação comum nas salas de aula—é fundamental que essas estratégias estejam interiorizadas, pois são por meio delas que o estudante aprende a superar obstáculos e aprofundar sua compreensão, conforme também assinalam Brandão e Leal (2005).
Ampliando a discussão por meio das contribuições de Piaget e Vygotsky, observa-se que ambas as abordagens oferecem ferramentas importantes para o ensino da leitura. Piaget valoriza atividades lúdicas, destacando que o brincar é indispensável ao desenvolvimento do raciocínio e da linguagem, facilitando a aprendizagem ativa através da experimentação e da descoberta. Por outro lado, Vygotsky reforça o papel das interações sociais e do adulto mediador, mostrando que o desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação depende fortemente do diálogo, da cooperação e do apoio durante o processo formativo. Essas concepções embasam práticas pedagógicas mais dinâmicas, participativas e centradas nas necessidades e vivências dos alunos.
No entanto, a implementação efetiva de tais práticas enfrenta diversos desafios práticos, sobretudo no que diz respeito à formação e atualização dos professores. Muitos docentes ainda sentem dificuldade em integrar propostas de letramento às rotinas diárias, especialmente diante de demandas curriculares extensas e da carência de formação continuada que auxilie na organização de estratégias didáticas inovadoras. Embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indique a necessidade de priorizar a leitura e interpretação de textos nos anos iniciais, os caminhos para atingir esse objetivo nem sempre estão claros, tornando imprescindível a reflexão crítica e a revisão constante das metodologias empregadas.
É essencial que o professor diversifique os recursos didáticos utilizados, explorando desde livros e jogos até o uso consciente de tecnologias digitais. O contato com diferentes gêneros textuais permite às crianças ampliarem seu repertório, conhecer múltiplos formatos e, assim, desenvolver uma compreensão mais profunda das características, finalidades e estruturas de cada texto. Além disso, o papel do professor como leitor-modelo, expoente da leitura expressiva em voz alta, é relevante para despertar o interesse das crianças e demonstrar, na prática, como a fluência e a compreensão caminham juntas no processo de alfabetização.
Por fim, as estratégias de leitura devem estar atreladas às funções sociais dos gêneros textuais, como defendem Santos e Mendonça (2007), uma vez que cada gênero demanda abordagens e formas de compreensão diferenciadas. Dessa forma, ensinar interpretação na alfabetização implica ir além da decodificação mecânica: significa propiciar aos alunos o contato com situações de leitura significativas, nas quais possam partilhar sentidos, criar perguntas, argumentar e, progressivamente, construir bases sólidas que lhes permitirão se tornarem leitores críticos e autônomos no futuro.
Portanto, investir em metodologias que promovam o uso de estratégias de compreensão leitora e valorizem as interações lúdicas e sociais é indispensável para ampliar o potencial interpretativo dos alunos. Longe de subestimar as crianças por sua pouca familiaridade com o sistema alfabético, o ideal é favorecer contextos ricos de leitura—com mediação qualificada e ambiente acolhedor—para que a interpretação de textos, ainda que iniciada pelo professor, seja gradualmente apropriada pelos estudantes. Assim, constrói-se um caminho sólido para a formação de leitores críticos, criativos e socialmente engajados.
3 METODOLOGIA
A abordagem metodológica adotada no estudo foi a pesquisa quantitativa. Ela foi desenvolvida em uma escola municipal de Porto Velho, em 2025, com foco na utilização de questionários para investigar estratégias de ensino de interpretação de texto em turmas de alfabetização.
O estudo pode ser caracterizado como uma pesquisa de abordagem quantitativa do tipo descritiva e teve como participantes três turmas do 2º ano do ensino fundamental (aproximadamente 60 alunos), suas respectivas professoras e as coordenadoras pedagógicas da instituição.
O instrumento de Coleta de Dados foi o questionário com perguntas objetivas, por meio do formulário do Google Forms. A coleta de dados quantitativos foi realizada mediante a aplicação de questionários estruturados, compostos por perguntas fechadas e abertas, direcionados a três grupos:
a) Pais ou responsáveis pelos alunos: Para mapear práticas de leitura no ambiente familiar e o acompanhamento do processo de alfabetização.
b) Professoras das turmas: Com o objetivo de levantar as estratégias adotadas em sala de aula para o ensino da interpretação de texto e identificar os principais desafios enfrentados.
c) Coordenadoras pedagógicas: Para obter a percepção sobre as políticas pedagógicas da escola e o suporte dado às práticas de interpretação de texto.
A elaboração dos questionários foi fundamentada em literatura recente sobre o tema da alfabetização e estratégias de interpretação textual, buscando assegurar a validade dos instrumentos.
Os procedimentos de análise se deram da seguinte forma: os dados obtidos por meio dos questionários foram organizados em planilhas e submetidos a análise estatística descritiva, mediante cálculo de frequências, percentuais e comparação entre respostas dos diferentes grupos. Esse procedimento permitiu identificar padrões, convergências e discrepâncias nas percepções dos participantes sobre as práticas de ensino de interpretação de texto.
Neste percurso, as condutas éticas foram de preponderantes, visto a pesquisa envolver seres humanos. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e concordaram em participar voluntariamente, sendo assegurados o sigilo e o anonimato das informações coletadas.
A pesquisa foi estruturada em várias etapas, conforme descrito a seguir:
1° Consentimento para Participação: Inicialmente, foi solicitado o consentimento dos participantes para que pudessem contribuir com a pesquisa. Essa etapa foi fundamental para garantir a ética e a transparência do estudo.
Figura 1 – Asseguramento da ética na pesquisa

2° Preparação dos Questionários: Em seguida, foram elaborados questionários específicos para cada grupo de participantes (pais, professoras e coordenadoras). Os questionários foram projetados para coletar informações detalhadas sobre as estratégias de interpretação de texto utilizadas na alfabetização.
Figura 2 – Preparação dos questionários

3° Aplicação dos Questionários: Após a preparação, os questionários foram aplicados aos participantes. A aplicação foi realizada de forma a garantir que todos os envolvidos pudessem responder de maneira clara e objetiva.
Figura 3 – Uso dos questionários

4° Quantificação dos Dados: Os dados coletados foram quantificados utilizando a plataforma Google Forms, que facilitou a organização e a análise das respostas obtidas.
Figura 4 – Sistematização dos dados

5° Análise dos Dados: Por fim, os dados foram analisados com base no referencial teórico estudado. Essa análise permitiu uma compreensão mais profunda das práticas de alfabetização e das estratégias de interpretação de texto empregadas na escola pesquisada.
Figura 5 – Etapa de entendimento dos dados

4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O presente estudo contou com a participação de 44 pais de alunos, 3 professoras do 2º ano do ensino fundamental e 2 coordenadoras pedagógicas, por meio da aplicação de um questionário. Ressalta-se que, em respeito aos princípios éticos da pesquisa, apenas as profissionais da educação foram devidamente identificadas, conforme os interesses institucionais e éticos envolvidos.
Figura 6 – Perfil dos participantes da escola

A análise da Figura 6 demonstra que as professoras apresentam idade inferior quando comparadas às coordenadoras pedagógicas, além de possuírem um nível de escolaridade mais elevado. Esses dados sugerem um cenário propício para uma troca produtiva de conhecimentos: a vivência acumulada das coordenadoras pode oferecer contribuições valiosas ao desenvolvimento profissional das docentes, enquanto a base teórica sólida das professoras tem potencial para enriquecer a compreensão e o aprimoramento das práticas pedagógicas de ambos os grupos.
Figura 7 – Questão 1 – Planejamento e uso de estratégias de interpretação de texto.

A Figura 7 mostra as respostas das docentes entrevistadas sobre como planejam e aplicam estratégias de interpretação de texto nas turmas de alfabetização. O instrumento de pesquisa incluiu quatro perguntas, cada uma voltada para diferentes dimensões do planejamento e das práticas relacionadas à compreensão textual.
Na primeira questão, investigou-se a adoção de textos variados nas atividades de leitura. Duas das professoras relataram utilizar com frequência esse tipo de recurso em sua rotina escolar. Isso representa 75% do total de docentes consultadas, as quais afirmaram incorporar à alfabetização diferentes gêneros textuais, como poesias, receitas, rimas e outros.
Conforme ressaltam Santos e Mendonça (2007, p. 20):
A leitura e a produção de diferentes textos são tarefas imprescindíveis para a formação de pessoas letradas. No entanto, é importante que, na escola, os contextos de leitura e produção levem em consideração os usos e funções do gênero em questão. É preciso ler e produzir textos diferentes para atender a finalidades diferenciadas, a fim de que superemos o ler e a escrever para apenas aprender a ler e a escrever.
A utilização de diferentes tipos de textos no contexto da alfabetização contribui significativamente para o aprimoramento das competências leitoras dos estudantes, já que cada gênero textual possui características estruturais, vocabulários específicos e objetivos próprios. Essa diversidade prepara os alunos para enfrentar variados desafios de compreensão e interpretação textual ao longo do processo educativo.
Questionadas sobre a elaboração de atividades focadas na interpretação de textos, duas docentes afirmaram que costumam planejar esse tipo de prática frequentemente, sendo que uma delas relatou fazê-lo de forma constante. Esse planejamento direcionado possibilita à professora organizar propostas que desenvolvam habilidades específicas de interpretação, atendendo às particularidades de cada aprendiz e acompanhando de perto as fases do processo de alfabetização.
Quando indagadas sobre o incentivo para que os alunos antecipem o conteúdo de um texto antes da leitura, duas professoras disseram promover tal abordagem ocasionalmente, e uma declarou inseri-la sistematicamente em suas aulas. Como aponta Solé (1998, p. 115), a leitura envolve a formulação e confirmação de hipóteses, processo crucial para a construção do significado textual. Assim, fomentar a previsão ou antecipação contribui diretamente para uma compreensão mais profunda dos textos.
Em relação ao emprego de elementos visuais, como ilustrações, para apoiar a interpretação, as respostas das professoras demonstraram diversidade: uma relatou recorrer a esses recursos de vez em quando, outra afirmou utilizá-los com frequência, e a terceira declarou sempre incluir imagens e figuras nas atividades propostas (Clarindo, 2018, p. 29).
As práticas docentes que buscam ativar conhecimentos prévios dos estudantes a partir de imagens, ilustrações e perguntas são estratégias que possibilitam a interação, a criação de hipóteses e a reflexão entre os leitores e o que estava sendo discutido, contribuindo para a compreensão do texto.
A inserção de recursos visuais em textos voltados para a alfabetização tem se mostrado uma abordagem cada vez mais eficiente, pois desperta o interesse dos alunos para a interpretação textual. As imagens, além de facilitarem a compreensão das informações apresentadas, contribuem para aguçar a criatividade e a imaginação dos leitores durante o processo de leitura.
Figura 8 – Práticas em sala de aula.

A Figura 8 expõe os resultados das respostas relacionadas à prática docente em sala, a partir de quatro questões sobre o modo como o planejamento é realizado nas atividades de leitura de textos. Os dois primeiros tópicos investigaram se as professoras fazem perguntas de compreensão literal durante a leitura e se propõem atividades que levem os alunos a realizarem inferências. Duas docentes informaram adotar, constantemente, debates e intervenções que auxiliam na assimilação do texto. Esse aspecto já havia sido mencionado por Clarindo (2018, p. 80), ao destacar:
É importante lembrar que as perguntas iniciais da professora mobilizavam a atenção dos alunos para a leitura e introduziam algumas estratégias leitoras, incentivando as crianças a ativarem seus conhecimentos prévios […]
Observa-se, ainda, que nesse contexto, as professoras organizam o planejamento com o propósito de favorecer a participação ativa dos alunos nas leituras. Na terceira questão – que tratava do estímulo à discussão em grupo para a partilha de interpretações dos textos –, todas as entrevistadas relataram realizar essa prática, embora com frequências variadas entre elas.
A quarta indagação investigou a utilização da leitura em voz alta como recurso no auxílio à compreensão textual. Duas das docentes afirmaram utilizar frequentemente esse método. Conforme Santana (2021, p. 31), ler em voz alta atua como uma estratégia metacognitiva, levando o leitor a assumir uma postura mais ativa e consciente do próprio processo de compreensão.
A autora ainda enfatiza que a leitura em voz alta contribui de forma significativa para o desenvolvimento da autonomia do estudante ao longo de sua aprendizagem.
Figura 9 – Recursos e materiais

A Figura 9 apresenta os resultados referentes às respostas das docentes sobre a utilização de recursos e materiais de apoio no processo de interpretação textual. Foram realizadas três perguntas relativas aos instrumentos empregados nesse contexto.
A primeira questão investigou o uso de materiais auxiliares, como mapas conceituais e quadros de perguntas. Duas professoras destacaram que recorrem frequentemente a esses recursos. É importante enfatizar que o quadro de perguntas, embora seja uma estratégia simples, desempenha um papel relevante na alfabetização, pois contribui para que os alunos se apropriem da leitura e da escrita de maneira mais efetiva.
Na segunda indagação, buscou-se saber sobre a adoção de jogos e recursos lúdicos no ensino da interpretação de textos. Duas docentes revelaram que raramente utilizam esse tipo de atividade, enquanto uma relatou fazer uso dessas propostas.
Cabe destacar a importância das atividades lúdicas no desenvolvimento infantil: é por meio do brincar que a criança explora, experimenta e constrói conhecimento. Ao incorporar esse caráter lúdico à prática da interpretação textual, o momento de aprendizagem se torna mais prazeroso e instigante, potencializando o desenvolvimento global do estudante.
Figura 10 – Avaliação e acompanhamento.

A Figura 10 apresenta os resultados obtidos a partir das respostas sobre métodos de avaliação e monitoramento, abordando três questões relacionadas a esse tema. A primeira indagação investigou a realização de avaliações específicas para aprimorar a capacidade de compreensão textual. Os dados evidenciam que duas professoras adotam essas avaliações, pois elas permitem identificar o nível de entendimento dos alunos e verificar se conseguem captar informações explícitas presentes nos textos.
A segunda questão examinou a prática de fornecer devolutivas individualizadas referentes às respostas dos estudantes em atividades de interpretação. Sobre esse aspecto, duas docentes relataram que frequentemente corrigem e retornam essas atividades para que os alunos possam analisar seu próprio desempenho.
O acompanhamento individual proporcionado pelo professor vai além da simples análise de acertos e erros: ele torna possível observar quais estratégias foram utilizadas e o nível de compreensão demonstrado por cada estudante no processo interpretativo. Desse modo, investir em devolutivas personalizadas nas atividades de leitura contribui para uma educação mais qualificada, focada nas necessidades de cada aprendiz e favorecendo a formação de leitores autônomos e críticos.
Figura 11 – Formação e apoio profissional

A Figura 11 apresenta as respostas das professoras sobre formação e apoio profissional, com duas perguntas relacionadas a esse tema. A primeira pergunta aborda a formação continuada específica em alfabetização e interpretação de texto. Os resultados indicam que as três professoras têm abordagens diferentes, mas participam das formações oferecidas conforme suas possibilidades, visando ampliar seus conhecimentos e práticas.
Biasus (2019, p. 38) aborda a importância da formação do professor nas séries iniciais:
O professor alfabetizador será também o principal motivador da criança em sua primeira fase de aprendizagem. Por isso, deve estar sempre atento às mudanças e à formação continuada, tendo segurança e competência para escolher corretamente a maneira como deve ensinar seus alunos a lerem e compreender as leituras.
Assim, a formação continuada revela-se essencial para o aprimoramento das práticas pedagógicas dos educadores. Reconhecendo essa relevância, os professores que atuam na alfabetização entendem a necessidade de buscar constantemente atualização e aprofundamento em relação aos processos de alfabetização e letramento.
Figura 12 – Participação dos pais (A)

A Figura 12 expõe os dados obtidos a partir das respostas dos pais participantes da pesquisa sobre como acompanham o processo de alfabetização de seus filhos, destacando aspectos ligados ao desenvolvimento da leitura e às estratégias de interpretação textual.
A primeira questão buscou saber se os pais têm o hábito de ler histórias ou livros com seus filhos em casa. Em sua maioria, os respondentes afirmaram realizar essa leitura ocasionalmente, o que demonstra uma prática significativa no ambiente familiar, pois colabora para ampliar o repertório linguístico e cultural das crianças. Sobre esse envolvimento no fomento à leitura, Biasus (2019) ressalta que, mesmo após o ingresso escolar, a responsabilidade dos pais em incentivar a leitura permanece. Sem essa prática inserida no cotidiano familiar, é mais difícil para a escola atrair os alunos para o universo encantador da leitura (Biasus, 2019, p. 40). Atos simples, como contar ou ler histórias diariamente, introduzem a leitura de forma agradável, e o apoio afetivo dos pais fortalece a autoestima dos filhos, encorajando-os a superar os desafios que o processo de alfabetização e letramento apresenta.
A segunda questão direcionou-se aos momentos de diálogo e questionamentos relacionados à leitura feita. Considerando a importância de aprofundar a compreensão do texto, é essencial promover conversas e realizar perguntas sobre a história, permitindo que as crianças expressem e dividam suas percepções.
Já a terceira indagação abordou as dificuldades dos estudantes em relação a palavras e expressões presentes nos textos e se os pais os auxiliam a entender seus significados. A grande maioria afirmou estar sempre disposta a ajudar nesse aspecto, demonstrando que tal suporte é fundamental para minimizar sentimentos de insegurança e desmotivação em relação à leitura. Orientações recebidas em casa, como explicar termos desconhecidos e estimular a formulação de perguntas, contribuem diretamente para a evolução da competência leitora dos pequenos.
A quarta pergunta investigou se os pais estimulam os filhos a partilhar o que compreenderam após a leitura. Os resultados evidenciam que os responsáveis frequentemente encorajam essa troca, permitindo que a criança relate personagens, acontecimentos e até elabore questionamentos sobre a narrativa. Quando os pais participam desse momento e ouvem atentamente, promovem o desenvolvimento integral e incentivam a autonomia leitora.
Por fim, a quinta questão tratou da disponibilidade de materiais de leitura no ambiente familiar. A maior parte dos pais relatou que, às vezes, há livros ou outros recursos de leitura à disposição em casa. É importante destacar que o acesso a esses materiais faz diferença no processo de alfabetização, despertando o interesse e fortalecendo o hábito da leitura desde cedo.
Figura 13 – Participação dos pais (B)

O engajamento dos pais no processo de alfabetização dos filhos é um fator essencial para o êxito escolar das crianças. Ao acompanharem de perto o desenvolvimento dos pequenos, os pais conseguem identificar possíveis dificuldades e oferecer o suporte necessário para superá-las.
A participação ativa dos pais, por meio da leitura de histórias, poemas e outros gêneros textuais, não só amplia o vocabulário e o repertório cultural das crianças, como também contribui para a criação de um ambiente doméstico que valoriza o hábito da leitura e o aprendizado. Esse estímulo contínuo à leitura e à interpretação de textos favorece uma formação mais abrangente das competências linguísticas.
Além disso, manter um diálogo constante com os professores é fundamental, pois permite que os pais entendam o desempenho dos filhos e as metas educativas estabelecidas, ajustando, assim, as formas de apoio oferecidas em casa. A colaboração entre a família e a escola constrói uma rede de apoio que potencializa o processo de aprendizagem, incentivando as crianças a encararem novos desafios com maior segurança.
Essa perspectiva é reforçada por Santos e Mendonça (2007, p. 33), que destacam: “diferentes estudos sobre histórias de vida de professores observaram esse investimento dos familiares numa aprendizagem da escrita antes da entrada das crianças na escola em famílias cujos pais apresentam baixo grau de escolaridade.” Isso evidencia que, mesmo quando os pais possuem menor escolaridade, seu envolvimento no início da trajetória escolar dos filhos pode contribuir de maneira expressiva para o desenvolvimento educacional das crianças.
Em síntese, a atuação efetiva dos pais no processo de alfabetização promove avanços na aprendizagem e fortalece os laços familiares em torno do conhecimento, sendo imprescindível para o pleno desenvolvimento dos estudantes.
Figura 14 – Percepção da Coordenação Pedagógica (A)

A Figura 14 destaca as respostas das coordenadoras pedagógicas sobre as estratégias de interpretação textual na alfabetização, evidenciando a importância de métodos eficazes para o desenvolvimento da compreensão leitora. Conforme Souza (2019, p. 21), a leitura envolve mais do que simplesmente decifrar letras; trata-se de uma atividade complexa que exige estratégias específicas para a produção de sentidos. Isso implica que os educadores devem ir além do ensino tradicional, integrando práticas que envolvam múltiplas linguagens e recursos.
Para aprimorar o ensino da leitura, é fundamental adotar abordagens diversificadas e interativas que engajem os alunos de forma significativa. Souza (2019, p. 147) sugere a exploração de alternativas variadas e o uso de materiais de qualidade para enriquecer as atividades de leitura. Tais estratégias podem incluir histórias multimodais, tecnologia educativa e recursos visuais, que estimulam a participação ativa dos estudantes.
Os educadores também podem pesquisar materiais que não apenas ampliem o repertório dos alunos, mas que ofereçam contextos autênticos e instigantes para a interpretação e a crítica. A escolha de textos que dialogam com as experiências culturais e sociais dos alunos torna o aprendizado mais relevante, despertando a curiosidade e o interesse pelo conhecimento.
Portanto, ao integrar estratégias inovadoras e recursos adequados, preparamos os alunos não apenas para decodificar textos, mas para compreender e interagir criticamente com o mundo ao seu redor.
Além disso, as participantes destacam que as intervenções durante a leitura compartilhada, mediadas pelo professor e acompanhadas de diálogos e perguntas sobre o texto, são bastante enriquecedoras para o processo de compreensão leitora.
Figura 15 – Percepção da Coordenadora Pedagógica (B)

A Figura 15 retrata as opiniões das coordenadoras pedagógicas sobre a realização de rodas de conversa, sobre as estratégias usadas para a interpretação de textos e a respeito das atividades aplicadas para desenvolver essa competência. Os resultados quantitativos revelam que, quanto à efetividade das rodas de conversa, as coordenadoras compartilham pontos de vista semelhantes.
Ao abordar o apoio ao desenvolvimento das estratégias de interpretação, ambas afirmam contribuir por meio do uso de materiais didáticos apropriados. No que diz respeito às atividades mais frequentes para estimular a habilidade de interpretação, uma das coordenadoras destaca a produção de desenhos e resumos posteriores à leitura como predominante, enquanto a outra enfatiza a aplicação de questionários e exercícios de compreensão textual.
Segundo observação direta da pesquisadora, constatou-se também que as professoras promovem leituras em voz alta e debates guiados por rodas de conversa, práticas estas que, de fato, devem ser priorizadas.
É importante lembrar que a escola assume um papel essencial no desenvolvimento dos estudantes enquanto leitores, pois somente através de mediação leitora é possível garantir que adquiram as estratégias e habilidades necessárias para compreender bem os textos (Souza, 2019, p. 25). Assim, as práticas destacadas pela equipe pedagógica confirmam que o ensino da interpretação textual tem sido fundamentado em métodos que promovem a aprendizagem dos alunos.
Figura 16 – Percepção da Coordenadora Pedagógica (C)

A Figura 16 explora as percepções das coordenadoras pedagógicas acerca dos obstáculos encontrados ao trabalhar estratégias de interpretação textual. Ambas são unânimes ao apontar que a maior dificuldade está em adaptar as metodologias às necessidades individuais dos alunos.
Através da observação direta realizada pela pesquisadora, identificou-se que essa dificuldade é influenciada por diversos fatores que afetam o processo de alfabetização, como a presença de transtornos ou deficiências congênitas, altos índices de absenteísmo, falta de acompanhamento por parte da família e questões emocionais — como desmotivação, timidez, insegurança e receio de cometer erros, fatores que frequentemente reduzem o engajamento dos estudantes nas atividades em sala.
Esses desafios, portanto, demandam dos professores sensibilidade e flexibilidade para diversificar suas práticas, criando um ambiente acolhedor e implementando abordagens pedagógicas que respeitem o ritmo e as necessidades específicas de cada criança. Torna-se indispensável investir em formação continuada, fortalecer a parceria com as famílias e fomentar uma cultura escolar baseada no diálogo e na valorização das potencialidades de todos os alunos.
Afinal, como destaca Santos e Mendonça (2007, p. 22), está entre as responsabilidades da escola promover a formação de cidadãos letrados, o que exige a elaboração de estratégias que possibilitem cumprir esse compromisso: alfabetizar letrando.
No que diz respeito ao uso de tecnologias, as coordenadoras apresentaram opiniões opostas: enquanto uma vê o uso das tecnologias como muito benéfico às estratégias pedagógicas, a outra afirma não utilizá-las. Contudo, pesquisas atuais demonstram que as tecnologias são grandes aliadas do processo de ensino-aprendizagem, contribuindo inclusive para o surgimento de novos gêneros textuais (Soares, 2003), como também enfatizam Souza (2019, p. 30) e Santos e Mendonça (2007, p. 147):
O desenvolvimento tecnológico favoreceu o aparecimento de novos gêneros textuais, especialmente devido ao uso constante dessas tecnologias em situações diversas de comunicação.
Diante das transformações provocadas pela tecnologia no mundo contemporâneo, é fundamental que todos reconheçam que, além do letramento tradicional — a habilidade de ler e interpretar palavras e contextos, como propôs Paulo Freire (1982) —, é indispensável o letramento digital, tornando-se também cidadão nas esferas digitais, atualmente um pouco mais acessíveis (Santos e Mendonça, 2007, p. 147).
Dessa forma, defende-se que a integração das tecnologias ao ensino potencializa as estratégias para o desenvolvimento da interpretação textual, dado que, com o surgimento de novos formatos e mídias, é crucial que o estudante esteja preparado para atuar de maneira letrada também no universo digital.
Figura 17- Percepção da Coordenadora Pedagógica (D)

A Figura 17 evidencia o consenso entre as coordenadoras pedagógicas sobre a importância fundamental do envolvimento da família no processo de alfabetização. Ambas concordam que essa participação é indispensável. Quando questionadas acerca da principal iniciativa que a escola poderia adotar para aprimorar as estratégias de interpretação textual durante a alfabetização, uma das coordenadoras sugeriu a intensificação da integração entre família e escola, enquanto a outra ressaltou o desenvolvimento de projetos de leitura interdisciplinares como o caminho mais relevante.
Embora o apoio familiar seja imprescindível na trajetória de aprendizagem, o presente estudo, fundamentado em referências teóricas, defende que planejar e executar projetos educativos destinados ao fortalecimento das competências leitoras e interpretativas é determinante para a formação de leitores críticos e autônomos. Tais iniciativas têm caráter didático e impactam diretamente o avanço na aprendizagem. Ainda assim, é essencial que a família esteja envolvida nesse processo, seja promovendo a leitura para as crianças, contando histórias ou participando de atividades textuais que estimulem o contato com os livros e o prazer pela leitura.
Nesse contexto, relatos de professoras registrados por Santos e Mendonça (2007, p. 18) destacam que muitas docentes “[…] tiveram o hábito de ouvir histórias e contos por meio de familiares que liam para elas. Essas experiências contribuíram para a construção de uma série de saberes acerca da língua e dos textos trabalhados”.
Assim, fica evidente que o papel da família exerce influência significativa na formação do leitor, inclusive durante a vida adulta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões apresentadas ao longo deste artigo ressaltam a complexidade e os múltiplos desafios envolvidos no ensino da leitura e da interpretação de textos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. As observações e depoimentos revelam que práticas pedagógicas adaptadas às especificidades de cada aluno são indispensáveis para promover uma alfabetização efetiva e significativa. Compreender e acolher as limitações, características e potencialidades de cada estudante é um passo crucial para garantir o desenvolvimento integral das competências leitoras.
Nesse processo, a sensibilidade e a flexibilidade por parte dos educadores tornam-se essenciais. Estratégias diferenciadas, respeito ao tempo de aprendizagem de cada criança e a criação de um ambiente acolhedor são apontados como fatores determinantes para o avanço na aprendizagem. A formação continuada dos professores, aliada ao incentivo à inovação pedagógica, mostra-se fundamental para lidar com as demandas contemporâneas e promover o protagonismo dos alunos.
Ademais, nota-se que a integração entre família e escola desponta como uma peça-chave no processo de alfabetização. O envolvimento dos familiares, seja por meio de atividades de leitura, contação de histórias ou apoio constante, contribui de forma significativa para o desenvolvimento do gosto pela leitura e para a construção de um repertório linguístico diversificado. A parceria entre escola e família potencializa os resultados do trabalho pedagógico e fortalece laços de confiança.
Outro aspecto relevante evidenciado é a importância dos projetos interdisciplinares voltados à leitura e à interpretação textual. Tais projetos, ao proporcionar uma abordagem didática e multidimensional, ampliam as possibilidades de aprendizagem e geram impacto direto na formação de leitores críticos e autônomos. O planejamento de atividades que envolvam diferentes áreas do conhecimento fomenta o diálogo, a criatividade e o pensamento reflexivo dos alunos.
O uso das tecnologias educacionais surge como um elemento de destaque e, mesmo diante de divergências quanto à sua aplicação, torna-se cada vez mais necessária frente aos avanços e às demandas da sociedade contemporânea. As ferramentas digitais, ao ampliarem os formatos e suportes textuais, desafiam os estudantes a desenvolverem novas competências, incluindo o letramento digital, indispensável no cenário atual. A escola, portanto, deve incentivar práticas que aproximem os alunos desse universo, integrando o digital ao cotidiano pedagógico.
Além disso, a pesquisa evidencia que fatores emocionais e contextuais, como autoestima, motivação, insegurança e dificuldades específicas de aprendizagem, impactam diretamente o engajamento dos alunos nas atividades de leitura e interpretação. Cabe ao ambiente escolar, por meio de práticas inclusivas e acolhedoras, criar condições favoráveis para a superação desses entraves. A valorização das experiências prévias e dos saberes dos estudantes contribui para uma aprendizagem mais significativa e duradoura.
Em síntese, o desenvolvimento da competência leitora e da capacidade de interpretar textos exige uma atuação articulada entre escola, família e comunidade, apoiada por práticas pedagógicas inovadoras e sensíveis às necessidades do público escolar. O compromisso com a formação de leitores críticos, capazes de dialogar com os mais diversos gêneros e linguagens, constitui um desafio e uma responsabilidade ética, que deve orientar as ações educativas no contexto da alfabetização e do letramento contemporâneo.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Patricia Lobo de ; SPINELLI, Larissa Silva Freire; DA LUZ, Jackeline Nascimento Noronha. Educação remota no primeiro ano do ensino fundamental anos iniciais: os desafios para a alfabetização com práticas vivenciadas. TCC-Pedagogia, 2020.
BRASIL, Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ministério da Educação, Brasília, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA Política Nacional de Alfabetização/Secretaria de Alfabetização. Brasília: MEC, SEALF, 2019.
BRITO, Vanda Ventura Passos. Metodologia de Ensino. fl. 28. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso). Pedagogia. Faculdade Pitágoras. Governador Valadares, 2021.
CUNHA, Cleudiana Lima da. Os Desafios Da Aprendizagem No Processo De Alfabetização E Letramento Da Escola De Ensino Fundamental Francisco Ordônio. Repositorio de Tesis y Trabajos Finales UAA, 2023.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
LACERDA, Marcele Maria da Silva; DIAS, Ana Cecília Machado. Letramento e Alfabetização: Uma aliança importante. E-Book. In: DNA Acadêmico. Editora Business Graphics, , 2022. p. 58 – 78.
MASSMANN, Letícia Suélen Adrichen. O espaço alfabetizador: a organização dos espaços escolares em um município do Alto Uruguai. 2018.
OLIVEIRA, Vanuza Cecilia de. Avaliação da Aprendizagem: uma Análise Diagnóstica para Ações Pedagógicas no Ensino Fundamental I na Escola Municipal Eduardo Martini– Serra do Ramalho–BA. 2022.
PIAGET, Jean. A formação do simbólico na criança. São Paulo: Editora Gen LTC, 2010.
RODRIGUES, Darlene Coêlho. Aquisição da escrita no processo de ensino aprendizagem: as práticas metodológicas da Educação no Ensino Fundamental I no Município de Alcântara Maranhão–Brasil. 2020.
ROSADO, Lara Oliveira. O trabalho com a leitura nos anos iniciais do ensino fundamental divulgado no “Portal Do Professor” do MEC. fl. 167. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Espírito Santo. 2018.
SANTOS, Carmi; MENDONÇA, Márcia. Alfabetização e Letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
SILVA, Marcela de Menezes. Avaliando o desenvolvimento da escrita da criança por meio da psicogênese: contribuições para o processo de alfabetização. 2019.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. Contexto, São Paulo, 2003. SOISTAK, Maria Marilize. As práticas de leitura no processo inicial de alfabetização em uma escola pública. 2021.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Artmed, Porto Alegre, 1998.
SOUSA, Iasmim Dias Pinto de; XAVIER, Wislorrany Lira; LIMA, Angela Ferreira. A contação de história como recurso pedagógico nas aulas de língua portuguesa dos anos iniciais do ensino fundamental. Research, Society and Development, v. 11, n. 13, p. e592111335892-e592111335892, 2022.
THIOLLENT, Michel. Pesquisa-ação nas organizações. Atlas, São Paulo, 2011.
TRIPP, David. Action Inquiry: Research and Professional Development. Murdock University, Australia, 2005.
VYGOTSKY, Lev. A imaginação e a arte na infância. Relógio D’água, Li
¹Mestranda em Educação pela Universidad de la Integración de Las Américas Escuela de Postgrado
Maestria em Ciencias de la Educacion. E-mail: claudialeyte02@gmail.com